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Capítulo 8: Avaliação e alfabetização.

-1 Práticas “tradicionais” de alfabetização:


o quê, como e para que avaliar?:

1. Práticas "tradicionais" de alfabetização


 Métodos sintéticos (alfabéticos, fônicos, silábicos) e analíticos (global,
sentenciação, palavração) como base para a alfabetização.
 A aprendizagem do código alfabético através da memorização de
informações prontas sobre letras e sons.
 A necessidade de "prontidão" dos alunos relacionada ao
desenvolvimento de habilidades perceptivo-motoras para iniciar o
processo de aprendizagem.
2. Controle e garantia de aprendizagem nos métodos tradicionais
 Apresentação das unidades a serem memorizadas em sequência
predeterminada.
 Visão adultocêntrica do que era mais fácil e difícil para os alunos.
 Os alunos só avançavam para novas unidades após memorizarem as
anteriores.
3. Textos superartificiais e controle do repertório de palavras
 Criação de textos controlados nos manuais didáticos para garantir que
os alunos lessem apenas palavras com as unidades já trabalhadas.
4. Depoimento de uma professora alfabetizada na perspectiva tradicional
 Experiência de aprendizado marcada por repetição e memorização.
 Leitura "arrastada" até a 3ª série devido à ênfase na codificação e
decodificação de palavras ensinadas e memorizadas.

1.2 O que era avaliado?


 Inicialmente, eram avaliadas as habilidades "psiconeurológicas" ou perceptivo-
motoras dos alunos, como coordenação motora grossa e fina, discriminação
auditiva e visual, entre outras.
 Após o início do processo de alfabetização, a avaliação se voltava para a
aprendizagem do "código" alfabético, ou seja, a memorização das unidades
ensinadas.
 Os conhecimentos prévios dos alunos sobre a escrita, adquiridos antes de
entrar na escola ou iniciar o processo de alfabetização, não eram considerados
nas avaliações.

1.3 Para que se avaliava?


 A avaliação tinha o objetivo de medir e classificar a aprendizagem dos alunos.
 Inicialmente, era feita uma avaliação das habilidades que tornariam os alunos
"prontos" para iniciar o processo de alfabetização, com o propósito seletivo de
permitir apenas a entrada na série de alfabetização para os alunos aprovados
no teste ou exame de "prontidão".
 Durante a instrução formal em alfabetização, a avaliação era utilizada para
determinar o prosseguimento dos estudos dos alunos, tanto em relação à
apresentação das lições/unidades como em relação aos níveis escolares.
 A prática tradicional de avaliação estava alinhada à prática tradicional de
alfabetização, enfatizando a classificação e medição das aprendizagens dos
alunos.

1.4 Como se avaliava?


 Os alunos eram avaliados por meio de atividades que exigiam a leitura e a
escrita das unidades menores (letras, sílabas) e das palavras ensinadas.
 A ênfase na repetição e memorização das unidades trabalhadas.
 O erro era considerado uma falha, indicando que o aluno não havia
aprendido/memorizado.
 A prática escolar de alfabetização permitia aos alunos ler apenas o que o(a)
professor(a) ensinava, seguindo uma sequência determinada pelo método
utilizado pelo professor.
 Os alunos que se adiantavam nos estudos por já compreenderem o sistema de
escrita precisavam fingir não saber ler e escrever para não serem repreendidos
pela professora.
 As avaliações eram compostas por tarefas com respostas únicas, fechadas,
não permitindo que o raciocínio dos estudantes fosse apreendido pelo
professor.
 As situações em que o aluno era chamado a ler em voz alta eram usadas para
avaliação, onde os alunos repetiam corretamente as palavras ou frases
ensinadas para serem avaliados pelo professor.

2 Práticas "construtivistas" de alfabetização: o quê, como e para que avaliar?


 Crítica às práticas tradicionais de alfabetização e avaliação, que resultavam em
retenção na 1ª série de muitos alunos.
 A justificativa do "déficit cultural" como causa do fracasso escolar foi
questionada.
 Contribuições dos estudos sobre a psicogênese da língua escrita de Ferreiro e
Teberosky.
 Conceitualização da língua escrita como um sistema de notação, não um
"código" a ser memorizado.
 Processo de apropriação do sistema de escrita alfabética, passando pelas
fases pré-silábica, silábica e alfabética.
 Ampliação das expectativas para o ensino alfabetizador: inserção precoce dos
alunos em situações reais de usos da língua escrita, letrando-os e
alfabetizando-os simultaneamente.

2.1 O que se avalia?


 A nova concepção de escrita alfabética e a aprendizagem do Sistema de
Escrita Alfabética (SEA) como aprendizagem de um sistema notacional.
 Avaliação das conquistas dos alunos ao longo do ano escolar, não apenas as
condutas finais.
 O erro como indicador do pensamento dos alunos sobre o conhecimento da
escrita alfabética.
 Registro das observações em "quadros" ou "perfis" que documentem o
progresso dos alunos em questões fundamentais.
 Exemplos de avaliações relacionadas ao domínio da escrita alfabética, como
diferenciação de letras e números, escrita.
 Registro das etapas da apropriação do sistema de escrita e das
correspondências som-grafia conforme a ortografia da língua.
 Acompanhamento das competências de leitura e produção de textos, como
compreensão de textos lidos, elaboração de inferências, interesse em ler,
escrita de textos dos gêneros explorados nas aulas etc.
 Ajuste da avaliação ao que é ensinado e ao repertório de textos que os alunos
experimentaram na escola.

2.2 Para que se avalia?


 A avaliação em uma prática construtivista de alfabetização tem diferentes
objetivos.
 Identificar os conhecimentos já construídos pelos alunos para planejar novas
atividades de ensino de forma ajustada, considerando suas aprendizagens e
lacunas.
 Decidir sobre a necessidade de retomar o ensino de certos itens já ensinados
ou usar estratégias de ensino alternativas com base no que os alunos
aprenderam.
 Decidir sobre a progressão dos alunos para um nível escolar mais avançado.
 A lógica adotada é a de "mapear" os percursos de aprendizagem dos alunos e
avaliar os efeitos das estratégias de ensino para adequá-las às possibilidades
do sujeito-aprendiz.

2.3 Como se avalia?


 Os professores realizam práticas de avaliação de forma processual e contínua
na alfabetização.
 São utilizadas atividades em que os alunos são solicitados a escrever de forma
espontânea para avaliar seus níveis de escrita e compreensão do sistema de
escrita alfabética.
 Os métodos tradicionais, como provas escritas e "dar a lição", são substituídos
por instrumentos mais adequados, como cadernos de registros dos alunos e
portfólios.
 Os alunos são envolvidos na seleção e arquivamento de suas produções,
permitindo que observem seus avanços e pratiquem a autoavaliação.
 A prática de olhar em retrospectiva para a trajetória já percorrida possibilita que
os alunos percebam seus progressos e erros, o que contribui para o
desenvolvimento da aprendizagem.
 Essa abordagem de avaliação favorece a adaptação do ensino aos diferentes
ritmos de aprendizagem dos alunos.

Para concluir...
 Medidas recentes buscam eliminar os efeitos excludentes das práticas
tradicionais de alfabetização.
 A ampliação do ensino fundamental ou sua reorganização em ciclos visa
respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem das crianças.
 É fundamental garantir que as crianças tenham contato com a língua escrita
em situações reais e significativas desde cedo na escola.
 A avaliação das aprendizagens na etapa de alfabetização deve promover a
inclusão.
 O aprendiz e sua família precisam ter voz e participar efetivamente do
processo de avaliação.
 Os pais têm o direito de conhecer as expectativas da escola em relação aos
alunos em cada unidade e série/ano, acompanhando os avanços e lacunas.
 Quando o aluno e sua família estão envolvidos no processo de aprendizagem,
podem participar com mais investimento e autonomia na busca do sucesso na
alfabetização.

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