Você está na página 1de 3

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Colégio Recursal - Jales


Jales-SP
Processo nº: 1005305-61.2022.8.26.0297

Registro: 2023.0000037061

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Inominado Cível nº


1005305-61.2022.8.26.0297, da Comarca de Jales, em que é TELEFONICA BRASIL S.A., é
recorrido/recorrente BOA VISTA SERVIÇOS S.A. e Recorrida SOLENIR BELATI.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Turma Cível e Criminal do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:Deram provimento ao recurso. V. U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Juizes ARNALDO LUIZ ZASSO VALDERRAMA


(Presidente), ADÍLSON VAGNER BALLOTTI E RODRIGO FERREIRA ROCHA.

São Paulo, 30 de março de 2023

Arnaldo Luiz Zasso Valderrama


Relator
Assinatura Eletrônica

Recurso Inominado Cível nº 1005305-61.2022.8.26.0297


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Colégio Recursal - Jales
Jales-SP
Processo nº: 1005305-61.2022.8.26.0297

1005305-61.2022.8.26.0297 - Fórum de Jales


RecorrenteTelefonica Brasil S.A.
Recorrido/Recorrente, RecorridoBoa Vista Serviços S.a., Solenir Belati

Recurso inominado Restrição do nome da autora no Serasa Legitimidade do


órgão mantenedor do cadastro (Súmula nº 359 do STJ) Comprovação de
envio da notificação ao endereço informado pela credora a excluir a
responsabilidade do órgão Desnecessidade de comprovação do envio pelo
AR (Súmula nº 404 do STJ) Notificação encaminhada ao endereço da
devedora antes da exibição da restrição Inexistência de comprovação do
pagamento da dívida Não ocorrência dos danos morais Recurso provido
para julgar improcedente a pretensão da autora.

Vistos.

Dispensado o relatório, por aplicação do art. 38 da Lei n.º 9.099/1995.


Trata-se de recurso oferecido pela ré Boa Vista Serviços S/A e Telefônica
Brasil S/A contra a r. sentença de fls.370/379, pela qual foram julgados procedentes os pedidos para
condenar a parte ré, solidariamente: a) a excluir o nome da parte autora dos cadastros de devedores;
b) a pagar indenização por danos morais no valor de R$ 10 mil.
O cerne da questão consiste em aferir se inclusão da restrição do nome da
parte autora se deu antes da sua notificação, se ocorreram danos morais e o valor da indenização.
Respeitada a convicção do culto Juiz prolator da sentença, o recurso merece acolhimento.
A parte autora ingressou com ação de indenização por danos morais,
sustentando que a parte requerida teria negativado seu nome sem a prévia comunicação exigida pelo
art. 43, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor. Pediu a condenação dos réus a excluir a restrição
e ao pagamento de indenização pelos danos morais.
A norma demanda notificação prévia acerca da “abertura de cadastro, ficha,
registro e dados pessoais e de consumo”. Isso incumbe ao órgão mantenedor do cadastro,
independentemente de onde tenham vindo as informações, conforme Súmula 359 do C. Superior
Tribunal de Justiça (“cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação
do devedor antes de proceder à inscrição”).

Recurso Inominado Cível nº 1005305-61.2022.8.26.0297


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Colégio Recursal - Jales
Jales-SP
Processo nº: 1005305-61.2022.8.26.0297

Assim, sempre que houver nova restrição do nome do consumidor, cabe ao


órgão de negativação efetuar a prévia comunicação do fato ao suposto devedor, ainda que a
informação do inadimplemento tenha origem em negativação pública e preexistente.
A ré Boa Vista apresentou comprovante de envio da notificação à
consumidora em 31/08/2020 (fls. 88/92), direcionada à av. 02, s/n, centro, Chapadão do Sul/MS
endereço constante no contrato que a parte autora celebrou com a ré Telefônica (fls. 110/116).
Tal prova é suficiente para demonstrar o cumprimento da obrigação, eis que o
C. STJ, após julgar um Recurso Repetitivo relacionado à matéria, sumulou o entendimento sobre a
desnecessidade de envio de comunicação de negativação de consumidor por intermédio de AR. A
Súmula 404 recebeu esse verbete: "é dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de
comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros".
O cumprimento legal se caracteriza pelo mero envio da comunicação ao
endereço constante do documento, vez que a empresa recorrente não pode ficar à mercê da
veracidade da atualização das informações repassadas pela empresa que determinou a inserção da
restrição. Dito de outra forma, não é a recorrente responsável pelo não recebimento da notificação
pela devedora porque o enviou para o endereço que lhe foi informado.
Assiste razão à Boa Vista Serviços no tocante ao equívoco do Magistrado a
quo quanto às datas considerados para fundamentar a condenação. A dívida datava de 17/04/2020, a
referida notificação foi enviada em 31/08 e a exibição da restrição ocorreu apenas no dia 20/05/2021
(fls.14/15). Portanto, a notificação da requerente ou ao menos a tentativa ocorreu antes da
restrição. Dessa forma, não houve ato ilícito pela recorrente.
Por fim, também não vislumbro a responsabilidade da Telefônica. Extrai-se
da exordial que parte dessa dívida é de 2018 e o restante de meses de abril e junho de 2020 (fl.2).
Todavia, a requerente não apresentou comprovantes de pagamento destas faturas.
Portanto, conclui-se que a inclusão da referida restrição no cadastro de maus
pagadores se deu em razão do exercício regular de um direito e que não ocorreram danos morais.

Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso para o fim de


julgar improcedente a pretensão veiculada na petição inicial.

Recurso Inominado Cível nº 1005305-61.2022.8.26.0297

Você também pode gostar