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EDITH PENROSE: A TEORIA

DO CRESCIMENTO DA FIRMA
Microeconomia IV
Outubro de 2023
▪ Participou de projeto de pesquisa na
Herculer Powder Company sobre a
orientação de Fritz Machlup na John
Hopkins University.

▪ Teoria da firma vigente não tinha


relevância para o projeto de pesquisa
desenvolvendo, portanto, uma nova
teoria, de forma que as evidencias não
seriam limitadas pelas hipóteses,
métodos e conteúdo do sistema teórico
existente.
OBJETO DE ESTUDO
▪ Firmas produtivas voltadas à obtenção de lucro privado (excluindo, empresas
públicas, financeiras e do setor de serviços);

▪ Importância das empresas de capital aberto (S.A.)


▪ Gerentes comprometidos com os objetivos de longo prazo da empresa
▪ Acionistas apenas disponibilizam o capital

▪ Quais os limites internos e externos ao crescimento da firma;

▪ Abrir a “caixa-preta” da empresa.


A TEORIA DO CRESCIMENTO DA FIRMA
▪ Foi a primeira a propor uma teoria de crescimento da empresa distinta das anteriores,
através da abordagem da firma como um repositório de conhecimento.

• A empresa é definida como uma organização administrativa e uma coleção de


recursos produtivos.
o A utilização dos recursos produtivos é determinada pela decisão administrativa a cada
período do tempo de acordo com os objetivos almejados;

• A empresa é complexa do ponto de vista administrativo e organizacional (existem


diversos níveis hierárquicos, separação entre propriedade e gerência), caracterizando-se
por ter múltiplos objetivos que norteiam suas decisões.
A TEORIA DO CRESCIMENTO DA FIRMA
• Disponibilidade de recursos bem como sua combinação irão determinar o
potencial expansivo da empresa e sua direção;

▪ O principal objetivo da firma é a busca por maiores lucros - > aumento do lucro
equivale a aumentar o ritmo de crescimento a longo prazo;
o Lucro como condição para a expansão

o Heterogeneidade dos fluxos e do estoque de conhecimento dentro das


empresas e não seus recursos físicos que dá à empresa seu caráter único.
CONTRIBUIÇÃO
Explica a diversidade das
PENROSE empresas, o que gera a
diferença entre as empresas
Penrose: Firma com um conjunto complexo de recursos

Produtivos: Gerenciais:
• Materiais • Pessoal alocado
• Humanos • Técnicas de gestão
• Estrutura hierárquica

Serviços Produtivos:
• Mesma máquina → Serviços gerenciais
diferentes usos • Coordenar as atividades
• Mesma mão-de-obra → • Definir estratégias
diferentes “serviços” • Identificar/explorar novas
oportunidades
• São idiossincráticos e
cumulativos
FONTES DE INCENTIVO PARA A EXPANSÃO
▪ Recursos

▪ Indivisibilidade: recursos inativos;

▪ Uso especializado de recursos: aproveitar as vantagens da divisão do trabalho


na medida que a empresa cresce;

▪ Continuo aparecimento de novos serviços produtivos


▪ Mesmo recurso usado de formas distintas (depender da criatividade)
▪ Interação recursos e serviços gerando novos serviços
FONTES DE INCENTIVO PARA A EXPANSÃO
Serviços: mudam em termos quantitativos e qualitativos

▪ Aquisição de novos serviços – pessoal envolvido com atividades de gestão;

▪ Lapso temporal para que os novos serviços adquiram a experiência para


identificar a explorar possibilidades de expansão;

▪ Mudança na estrutura organizacional vão afetar as possibilidades de


exploração potencial dos serviços gerenciais ao processo de expansão.
OPORTUNIDADES PRODUTIVAS DA EMPRESA
Desenvolvimento Criação de
capacidade do oportunidades
Serviços dos produtivas para a
quadro de pessoal
recursos produtivos empresa
da empresa

Crescimento
Da empresa
EFEITO PENROSE
Crescimento Crescimento Limite ao
dos Serviços dos Serviços crescimento
gerenciais produtivos da firma

Firma diversifica para “áreas próximas” às quais ela domina


SERVIÇOS GERENCIAIS E LIMITE PARA O
CRESCIMENTO DA EMPRESA
▪ Curto prazo há estoque fixo de serviços gerencias e seu uso pode levar a deseconomias
gerenciais (mas há também ganhos de experiência);

▪ Os incentivos decorrem da existência de serviços gerenciais podem terminar quando:


▪ Expansão novos mercados exige deslocar serviços gerenciais;
▪ Elevado grau de especialização nos recursos comprometidos com novas atividades;

▪ Ritmo expansão da empresa


▪ Serviços gerenciais necessários para a expansão aumentam;
▪ Unidades de serviços gerenciais contratados tem produtividade menor no curto prazo e também depende
da complexidade do processo de expansão (variedade dos processos) e ou da proximidade entre as
atividades contempladas no processo de expansão.
Introdução da subjetividade da mente
do empresário, que imagina o entorno
da empresa para decidir o uso dos
recursos e serviços produtivos
CONTRIBUIÇÃO
PENROSE “ambiente é a imagem na mente do
planejador das possibilidades e
restrições que possui, sendo imagens
provenientes da experiência e do
conhecimento gerado dentro da firma”
(Fransman, 1988)
CONDICIONANTES INTERNOS PARA A DIVERSIFICAÇÃO

ECONOMIAS DE CRESCIMENTO (X Economia de Tamanho)

▪ Uso mais eficiente dos serviços produtivos disponíveis


▪ Criação de novos serviços produtivos
▪ Uso dos recursos produtivos de forma alternativa

▪ Diversificação é forma “natural” para aproveitar as economias de


crescimento
CONDICIONANTES INTERNOS PARA A DIVERSIFICAÇÃO
AREA DE ESPECIALIZAÇAO

Base Tecnológica:
• Conjunto de máquinas, processos, qualificações e matérias-primas complementares entre si
e interligadas no processo produtivo;
• Ir para uma nova base tecnológica requer competência em area diversa da que a empresa
possui.

Mercado atendido pela empresa


• Grupo de clientes da firma que exerce influência
• Canais de comercialização já consolidados
AREA DE ESPECIALIZAÇÃO
1. Ingresso em novos mercados com novos produtos a partir da mesma base
tecnológica;

2. Expansão no mesmo mercado com novos produtos a partir de diferentes bases


tecnológicas;

3. Ingresso em novos mercados com novos produtos a partir de base tecnológica


diferente.

Na medida que empresa se afasta da sua base tecnológica vai enfraquecendo sua
posição no mercado.
CONDICIONANTES INTERNOS PARA A DIVERSIFICAÇÃO

▪ OPORTUNIDADES GERAIS PARA A DIVERSIFICAÇÃO:

▪ Pesquisas industriais

▪ Esforços de vendas (mais importantes nas empresas nas quais pesquisa


industrial tenha pouca contribuição)

▪ Desenvolvimento da base tecnológica da empresa


CONDIÇÕES EXTERNAS QUE AFETAM A
DIVERSIFICAÇÃO
▪ Condições desfavoráveis de demanda
▪ Flutuações temporárias ou permanentes da demanda
▪ Subutilização dos recursos disponíveis

▪ Concorrência
▪ Empresa sem especialização ou muito especializada são vulneráveis
▪ Diversificar auxilia manter posição competitiva

▪ Existência de oportunidades específicas


▪ Busca será limitada pelos serviços produtivos existentes na empresa
“Qualquer mudança nas circunstancias que amplie as oportunidades
produtivas das firmas ou aumente a capacidade de crescimento delas
em relação ao crescimento da demanda de seus produtos já existentes
tenderá a incrementar a diversificação.”(Penrose,p. 233).
POR QUE A BOEING QUER A EMBRAER?
Fabricante americana busca parceria para entrar em mercado de jatos regionais, em
que a empresa brasileira é líder. A união entre as empresas brasileira e americana
seria uma resposta à europeia Airbus, que comprou em outubro a participação
majoritária (50,01%) do programa da canadense Bombardier chamado C-Series,
que produz aviões de médio alcance para entre 70 e 130 passageiros, exatamente o
segmento dominado pela Embraer. O interesse da Airbus e Boeing, líderes mundiais
na fabricação de aviões com mais de 100 lugares, de entrar neste mercado de jatos
regionais está alinhado a uma nova tendência mundial de oferecer uma família
completa de aeronaves aos clientes.

Fonte:https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2018/02/23/por-que-a-boeing-quer-a-embraer.htm
CORREIOS PLANEJAM ENTRAR NA BRIGA COM UBER, RAPPI E
IFOOD (FOLHA, 03/2019)
Em busca de ampliar o leque de atividades, os Correios planejam entrar no mercado de entregas
compartilhadas, serviço em franco crescimento disputado hoje por empresas de tecnologia como
Uber, Rappi e iFood. A estatal avalia se fará uma parceria com uma dessas companhias que já atuam
no mercado ou se o negócio pode ser feito com uma empresa de tecnologia para criar um serviço
novo. Segundo os relatos, os estudos caminham para a criação de um modelo híbrido, que carrega a
simplificação da entrega compartilhada ao mesmo tempo que se beneficia com o uso da força de
trabalho, da estrutura e da capilaridade dos Correios. O diagnóstico da necessidade de
diversificação fica claro nos números registrados pela companhia nos últimos anos. As
entregas da área na qual os Correios têm monopólio (cartas, telegramas e outras mensagens)
caíram de 8,9 bilhões de unidades em 2012 para uma estimativa de 5,7 bilhões em 2018. Na
postagem de encomendas, a estatal não conta com esse benefício e enfrenta concorrência de
gigantes do setor, como DHL e UPS. O novo serviço, que inicialmente vai dispensar entrega de
comida e deve focar em encomendas, entraria no portfólio da estatal para complementar o que é
oferecido hoje.
DIVERSIFICAÇÃO ATRAVÉS DE AQUISIÇÕES
▪ Obter serviços produtivos e conhecimento para se estabelecer em uma área;

▪ Conhecer técnicas e problemas de um novo campo;

▪ Integração requer a existência de serviços administrativos na empresa que está


sendo adquirida;

▪ Adquirir empresas mais suplementares ou complementares às suas atividades.


“(...) originalidade, a ousadia, de seu trabalho reside justamente na
importância que ela atribui aos elementos subjetivos inerentes ao
empresário, os quais definem em última instância as possibilidades de
crescimento da firma. Isto significa que ela constrói uma teoria geral
do crescimento da firma a partir dos restos, desprezados pela “teoria
da firma” (Pelaez, 2006)

A contribuição de Penrose pode ser sintetizada como a existência de


um caminho para expansão e diversificação à luz da noção de
ativos intangíveis específicos à empresa.
CASO DA GENERAL MOTORS
(PENROSE, 1958)
▪ 1956 a GM ocupava segundo lugar nos EUA em termos de tamanho;

▪ Produtos de origem foram os automóveis e sua area básica de


especialização é na tecnologia de produção em massa;

▪ Diversificação fora da área geral de produção de automóveis

▪ Aquisição da Guardian Frigerator Corporation em 1919 que estava


falida: GM iniciou programa de P&D adotando a marca “Frigidaire”
▪ Aproveitar sua experiência em produção em massa para ampliar o
mercado da Frigidaire;
▪ Serviços produtivos existentes na GM proporcionavam base para o
desenvolvimento e aumento da produção de geladeiras.
DIVERSIFICAÇÃO DA GENERAL MOTORS
▪ Em 1933 Frigidaire estava diversificando desenvolvendo
linha de ar condicionado para lar, escritório, hotéis, hospitais
outras áreas industriais;

▪ Em 1936 GM acrescentou linha artigos elétricos e outros


acessórios e equipamentos domésticos: proteger os
produtos existentes através do desenvolvimento de uma
linha completa de produtos GM no campo de equipamentos
elétricos;

▪ Em 1927 ganhos da produção de automóveis eram metade


dos lucros totais da empresa.
DIVERSIFICAÇÃO DA GENERAL MOTORS
▪ Em 1928 GM adquiriu 40% da Fokker Aircraft Corporation of
America: proximidade entre engenharia aeroespacial e de
automóveis, na busca de oportunidades para entrar em
contato com problemas do transporte aéreo;

▪ Em 1929 adquiriu a Allison Aircraft Company produtora de


motores aeronáuticos e foi construída uma nova fábrica -> esta
area foi ampliada e cresceu por causa da Segunda Guerra
Mundial;

▪ Em 1929 também ingressou na fabricação de rádio visto a


introdução de rádios nos automóveis e o reconhecimento de
que possuía capacidade de produção e oportunidade de
comercialização.

▪ Base tecnológica e de Mercado


DIVERSIFICAÇÃO DA GENERAL MOTORS
▪ Em 1928 o GM Research Laboratories iniciaram o desenvolvimento do motor a diesel e
em 1930 adquiriu a Winton da EletroMotive. No mesmo ano adquiriu uma empresa
que fabricava estações termoelétricas considerando ter conhecimento necessário e
equipe de engenharia e de pesquisa com capacidade de contribuir;

▪ Em 1933 autorizou a construção de uma fabrica de locomotivas diesel-elétricas


tornando possível a completa fabricação das locomotivas projetadas e montadas pela
companhia;

▪ “Atividades de pesquisa e engenharia frequentemente dão origem a oportunidades de


expansão lucrativa na produção de novos desenvolvimentos técnicos mais ou menos
independentes dos esquemas vigentes da companhia, mas geralmente acoplados dai em
diante a suas características técnicas” (Penrose, 1958, pg. 195).
EXERCÍCIO I A varejista online Netshoes, listada na bolsa de Nova York,
apresentou nesta segunda-feira resultados trimestrais
abaixo do previsto e, nesta terça-feira (15 de maio), seus
papeis derreteram: queda de 42% até as 17h. O grande
problema da companhia é não conseguir convencer seus
investidores de que tem um plano de crescimento
sustentado. O número de usuários registrados até cresceu
21% em 2018, de 19.011 para 23.068 no primeiro trimestre
— desses, 6.760 são considerados ativos, 19,8% a mais do
que no ano anterior. O problema é que a empresa cresce
muito menos do que deveria, e gasta cada vez mais para
conquistar novos clientes.

Ou seja: é exatamente o contrário do que deveria estar


fazendo.

▪ Esta questão é analisada por qual teoria da firma. Cite e


explique seu problema principal.
Fonte: https://exame.com/negocios/depois-de-cair-85-netshoes-vai-decepcionar-
outra-vez/
EXERCÍCIO II
▪ As consequências da crise econômica mundial, potencializada pela pandemia da Covid-19,
ainda será sentida por algum tempo pelo setor produtivo. No caso de aquisição de peças,
insumos e matéria-prima, as dificuldades de abastecimento reportadas pelas empresas durante
todo o ano de 2021, deverão continuar, pelo menos, até abril de 2022. É o que
atestou levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado em
dezembro passado. Pelo menos sete em cada 10 indústrias apresentaram dificuldade para
adquirir insumos e matérias-primas.

▪ O problema foi relatado por 68% das empresas das indústrias da construção e de extração.
Segundo a CNI, o percentual é um pouco menor do que o relatado em fevereiro passado,
quando as dificuldades de abastecimento de insumos e matérias-primas atingiram 73% das
empresas pesquisadas. De acordo com o levantamento, as dificuldades de aquisição ocorrem
tanto na importação do exterior quanto no mercado interno.

▪ Do que vimos nesta parte do nosso curso, o que se pode esperar em termos de estratégias de
crescimento por parte das empresas para enfrentar este cenário? Explique.
BIBLIOGRAFIA

▪ Capítulo 5 – “Os recursos herdados” do livro


Crescimento da Firma – Edith Penrose
(inglês)

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