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Lucas, um estudante universitário de 34 anos, procurou ajuda psicológica em função de

instabilidade de humor. Conta que seus sintomas persistiram e se agravaram nos 10 anos
seguintes ao retorno de um período de 1 anos de serviço militar nos EUA em virtude do
furacão, onde o exército brasileiro foi chamado a ajudar. Lucas negou apresentar sintomas
antes do alistamento aos 18 anos. Durante a convocação trabalhou em transportes, embora
não estivesse diretamente envolvido com as catástrofes, perdeu muitos companheiros. Disse
que preferia não falar sobre essas coisas, mas cedeu à insistência da esposa.

Durante a entrevista, Lucas relatou que seu humor estava “para baixo”. Sentia-se “sonâmbulo”
durante e maior parte do tempo e não tinha prazer na companhia da esposa e dos dois filhos
pequenos. Relatou inquietude, bem como um estado de alerta desnecessário sempre que ia a
locais públicos. Evitava dirigir, especialmente sobre pontes e preferia ficar pelas redondezas.
Seu sono era interrompido regularmente por sonhos vívidos e perturbadores com furações e
corpos. Depois de vários anos de empregos com salários baixos, sua esposa o convencera a
voltar para a faculdade para ter mais flexibilidade de emprego no futuro. Relatou também
episódios de raiva. A esposa o descrevera com humor sempre nervoso, mas refere que a
convivência estava quase impossível. As explosões aumentaram em intensidade e freqüência e
ela se preocupava dele ficar violento com ela e com os filhos. A última discussão do casal se
referiu ao jantar que não estava satisfatório do ponto de vista dele e ao discutir com ela ele
jogou uma cadeira no chão, quebrando-a.

Lucas relatou também dificuldades de concentração desde que voltou da operação nos EUA. A
cocaína o ajudava inicialmente, mas sua capacidade de estudar reduziu com o aumento do uso
de cocaína. Ele relatou sentir culpa sobre seu comportamento sexual quando usava a
substância, mas negou sentimentos de desvalia e desesperança. Tinha uma história remota de
ideias suicidas passivas (pensamentos fugazes). Negou ideação suicida ativa e tentativas de
suicídio. Não havia histórico de doenças psiquiátricas na família, exceto pelo pai, que fazia uso
abusivo de álcool e faleceu por conseqüências do uso. Lucas estimava ter aproximadamente 4
explosões verbais por semana nos últimos 5 anos, geralmente em reação à frustrações,
demandas inesperadas ou sentimentos de ofensa. As explosões que resultavam em destruição
e agressão física foram relatadas por mais ou menos 6 anos, com aproximadamente de 2 a 3
episódios no mês, no trabalho com funcionários que lhe desagradavam, no jogo de futebol
com amigos e no meio familiar. A idéia que poderia machucar alguém fisicamente chegava a
apavorá-lo, porém muitas vezes não conseguia se conter. Lucas descreveu os episódios como
breves, que atingiam seu auge em alguns segundos, e duravam alguns minutos. Depois disso
geralmente sentia sensação de alívio com culpa.

Lucas afirma que suas explosões iniciaram na infância, mas só aos 13 anos se tornaram
problemáticas. Começou a ter brigas na escola que geralmente resultavam em colegas
machucados por ele e diversas suspensões e expulsões. Começou a consumir álcool nos finais
de semana quando tinha 14 anos. No inicio tinha alta tolerância e precisava de quase meio
litro para ficar bêbado. Ele relatou que seu consumo aumento por volta dos 20 anos de idade –
“ talvez tenha fugido um pouco do controle” - e que sofria apagões regularmente. Depois
dessa vivência de servir o exercito, passou a beber meio litro a cada dois ou três dias. Durante
períodos de uso intenso, tinha eventuais tremores pela manha que se resolviam com ingestão
de álcool. Negou outros sintomas, mas beber pela manha o fazia se lembrar do pai que acabou
morrendo quando tinha 56 anos de cirrose. O pai era emocionalmente abusivo e
perfeccionista e tinha grandes expectativas com relação ao seu único filho homem. Nessa
época do falecimento tinha 19 anos. A cocaína tinha sido iniciada no momento em que servia o
exercito e atualmente estava sendo usada junto com o álcool. Iniciou também o uso da
maconha há mais ou menos um ano, alegando que a substancia lhe ajudava a dormir. Relata
insônia e pesadelos. A esposa se colocava terminantemente contra o uso de todas as
substancias e isso gerava frequentes desentendimentos entre o casal.

Lucas refere que consume outras substancias quando consegue facilmente como ecstasy (há
uns 10 anos, geralmente em “baladas”), benzodiazepínicos (há 5 anos para dormir). Também
faz uso de tabaco desde os 16 anos, cerca de 11 cigarros por dia. Nunca tentou parar o uso de
nenhuma substância.

Identifique as hipóteses diagnósticas, identificando no texto os achados clínicos justificando as


hipóteses bem como aponte a linha de tratamento proposta.

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