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Problema 1 – Claudicação na

Infância
• Displasia do desenvolvimento do quadril
(DDQ);
1. Abordar aspectos epidemiológicos de
• Coxa vara;
claudicação na infância;
• Artrite reumatoide juvenil (ARJ);
2. Discutir os diagnósticos diferenciais de
• Neoplasias (osteoma osteoide, leucemia).
claudicação na infância considerando aspectos
clínicos envolvidos; Período escolar – 4 aos 10 anos de idade:
3. Avaliar a história natural da claudicação na
Nessa faixa etária as crianças tendem a ser mais
infância valorizando fatores de risco e
cooperadoras durante o exame e já apresentam
diagnóstico;
padrões mais maduros de marcha, facilitando a
4. Compreender a Doença de Perthes e seus
identificação das desordens. Além disso, as queixas
diagnósticos diferenciais de patologias do
são consideradas importantes nessa fase em que a
quadril como sinovite transitória, artrite
criança está mais interessada em brincar e não tem
séptica, epifisiólise e displasia do
desejo de se afastar de suas atividades habituais.
desenvolvimento do quadril. Discutir a
indicação de exames complementares para o Em virtude da atividade vigorosa durante o dia e da
diagnóstico e abordar aspectos do tratamento. fadiga muscular que a segue, são comuns queixas de
dores noturnas e ao repouso, que genericamente são
chamadas de "dor do crescimento"; no entanto, outras
causas devem ser descartadas antes de se chegar a essa
conclusão.
A claudicação na criança é uma queixa frequente nos
As mesmas doenças já descritas anteriormente para
consultórios dos pediatras, dos ortopedistas
crianças no início da idade da marcha devem ser
pediátricos e nos pronto-socorros. Para melhor
lembradas, principalmente a sinovite transitória, que
abordagem e identificação da queixa, deve-se dividir
é mais frequente na idade entre três e oito anos e que
os pacientes por faixa-etária.
é a causa de claudicação dolorosa mais comum
*OBS: é importante lembrar que as crianças iniciam a durante toda a infância. Além dessas condições, três
deambulação com apoio em torno dos 12 meses e aos outras podem ter seu diagnóstico durante esse
18 meses, em geral, se tornam independentes para a período: a doença de LeggCalvé-Perthes, o menisco
marcha, porém, com movimentos ainda discoide e as discrepâncias de comprimento dos
descoordenados, mantendo um padrão imaturo até membros inferiores.
por volta dos cinco anos de idade e chegam ao padrão
11 aos 15 anos de idade:
adulto aos sete anos.
Pacientes nessa faixa etária comportam-se de forma
Período infantil – de 1 aos 3 anos de idade:
diferente, com informações mais precisas, podendo ser
É um grupo difícil e pouco colaborativo na anamnese colhida uma anamnese direta.
devido à pouca idade. Com isso, torna-se difícil o
Um cuidado que deve haver ao avaliar esses pacientes
diagnóstico de claudicação nesta faixa etária.
é ter em mente sua excessiva e compulsiva vontade de
Entretanto, quando constatado, os mais prováveis
retornar à atividade esportiva, quando, então, tendem
diagnósticos relacionados a esse grupo de crianças
a minimizar o problema; ou, de outra forma,
incluem:
afastarem-se da atividade física, quando então
• Sinovite transitória; maximizam o problema.
• Artrite séptica;
Diagnósticos relacionados a esse grupo de crianças
• Desordens neurológicas (paralisia cerebral
incluem:
(PC) branda e distrofia muscular);
• escorregamento epifisário femoral proximal metafisário alcance a epífise que então precisa
(epifisiólise); receber irrigação de pequenas artérias que
• DDQ; penetram na cápsula articular (assim, a epífise
• Condrólise; acaba se tornando uma região de nutrição arterial
• Síndromes de overuse; precária).
• Osteocondrite dissecante;
• Coalizão tarsal.

Doença de Legg-Calvé-Perthes:

Introdução:

A Doença de Legg-Calvé-Perthes corresponde a uma


osteonecrose asséptica idiopática da cabeça femural,
que resulta de uma interrupção vascular parcial e tem
maior prevalência em crianças do sexo masculino.

O pico de incidência situa-se entre os 4 e 8 anos de


idade (pico máximo aos 6 anos). Atinge
principalmente o sexo masculino, com uma proporção A cabeça femoral é uma epífise totalmente
5 para 1. É uma entidade maioritariamente unilateral; intracapsular, sendo nutrida basicamente pelas artérias
contudo, o envolvimento bilateral ocorre em retinaculares (ou artérias cervicais ascendentes), ramos
aproximadamente 15% dos casos, é normalmente das artérias circunflexas lateral e medial do fêmur.
assimétrico e é mais comum nas meninas. Esses vasos penetram a capsula e correm marginando o
colo femoral até penetrar a cabeça do fêmur.
Fatores de risco:
A isquemia e a necrose da cabeça femoral costumam
• Sexo masculino; ocorrer com a interrupção ou comprometimento das
• Idade entre 4 e 8 anos;
artérias retinaculares do colo femoral. Isto acontece
• Baixo nível socioeconômico;
nas fraturas do colo do fêmur, mas também pode
• Baixo peso ao nascer; ocorrer de forma idiopática, como na doença de Legg-
• As crianças mais afetadas são de baixa estatura
Calvé-Perthes.
e têm idade óssea retardada;
• Filhos de mães fumantes durante a gravidez PORTANTO, esta doença nada mais é que uma
têm maior risco de desenvolver a doença; necrose avascular idiopática da epífise femoral em
crescimento, sendo caracteristicamente autolimitada (é
História natural da doença: a forma infantil de necrose asséptica da cabeça do
Para melhor compreensão desta patologia, é fêmur).
importante a anatomofisiologia da região acometida:
ETIOPATOGENIA:
ANATOMOFISIOLOGIA:
Existem algumas hipóteses de sua etiopatogenia... Um
A doença de Legg-Calvé-Perthes é a grande provável fator causal seria a oclusão trombótica de
representante das doenças epifisárias infantis. pequenas veias de drenagem da cabeça femoral,
propiciada por trauma leve numa criança
Um osso longo é composto por uma diáfise (corpo geneticamente “suscetível”, talvez por certo grau de
do osso) e duas epífises (extremidades do osso trombofilia. O comprometimento da drenagem venosa
recobertas por cartilagem articular). A metáfise é a elevaria a pressão intraepifisária, prejudicando o fluxo
região entre a diáfise e a epífise, apresentando-se arterial e produzindo isquemia e necrose avascular.
mais alargada. Nas crianças, entre a metáfise e a
epífise existe a placa epifisária, a qual constitui Sendo assim, um trauma menor em criança suscetível
uma barreira natural que impede que o sangue desencadearia a formação de pequenos êmbolos
metafisários, elevando a pressão venosa no colo
femoral, propagando-se para a cabeça, onde ocorre o
infarto.

FASES EVOLUTIVAS:

Fase precoce (necrose óssea): é uma fase assintomática


e pode preceder vários meses a fase sintomática. A
isquemia provoca a morte de osteófitos e células da
medula óssea da epífise da cabeça femoral. A morte
óssea mantém a epífise com a mesma densidade
radiográfica (sem suprimento vascular, não há nem Fase de reossificação: é observada 12 a 18 meses após
reabsorção e nem formação de osso novo), mas sem a fase anterior e dura de 1 a 3 anos. Toda a epífise
apresentar crescimento. Como a cartilagem articular e acometida é substituída por osso novo. Durante a
a epífise do lado oposto continuam crescendo, a cabeça neoformação óssea, a epífise ainda está suscetível à
femoral fica um pouco menor que a contralateral e o deformação.
espaço articular levemente maior.

Fase de deformação residual: no fim da reossificação,


Fase de fragmentação: é nessa fase que começam os a cabeça femoral adquire a sua forma final que, sem
sintomas da doença e o período vulnerabilidade tratamento, permanecerá deformada indefinidamente,
mecânica da cabeça femoral. Ocorre uma reação provocando incongruência articular. A subluxação da
vascular ao osso morto, com ossificação da parte da cabeça femoral é um sinal de mau prognóstico.
cartilagem articular que havia crescido e deposição
mineral ósseo nas trabéculas mortas, gerando hiper
densidade ao osso morto. O osso neoformado tem
histologia primitiva e, embora não seja mole do ponto
de vista físico, tem plasticidade biológica, tornando a
cabeça femoral predisposta à deformação. Pela
fraqueza do tecido ósseo, surge uma pequena fratura
patológica no osso subcondral, no local de maior
estresse de peso (porção anterossuperior da cabeça do QUADRO CLÍNICO:
fêmur). Esta fratura causa dor e um pequeno derrame
Os sintomas costumam se apresentar de forma
sinovial (sinovite), iniciando os sintomas da doença. A
subaguda (queixas por mais de 6 semanas), com
reação vascular à fratura provoca reabsorção óssea; a
claudicação (ato de mancar) associada ou não a dor na
combinação de áreas irregulares de reabsorção com
região inguinal ou na face anterior da coxa.
áreas de deposição óssea traz esse aspecto de
Eventualmente, a dor é referida na coxa e no joelho.
fragmentação parcial ou total da epífise. Durante esta
No exame físico, a criança claudica e tem importante
fase, a criança sente dor, manca (claudicação) e, se não
limitação da abdução e da rotação interna do quadril.
for tratada, o peso do corpo sobre a cabeça femoral
causará importante deformidade desta estrutura, tipo A claudicação no início é antálgica “de defesa”, mas
achatamento. pode, com a cronicidade do processo, assumir o
aspecto clínico característico de “balanço do tronco”,
com inclinação do corpo sobre o membro inferior
afetado, que se posiciona em adução e força o valgo do
joelho. Nas sequelas de casos crônicos graves, pode
haver sinal de Trendelenburg positivo devido à
ascensão do trocânter maior e ao desenvolvimento de
coxa vara funcional.

Exames Diagnósticos:

O diagnóstico dessa doença é feito pela combinação de


um quadro clínico sugestivo com exames de imagem.
Devemos ter em mente os principais diagnósticos
diferenciais:

➢ Sinovite transitória do quadril;


➢ Anemia falciforme;
➢ Hemofilia (hemartrose); INCIDÊNCIA DE LAUENSTEIN. Observe na cabeça femoral
➢ Displasia epifisária múltipla. esquerda (1) aumento do espaço articular, (2) tamanho menor
que a cabeça contralateral, (3) linha radioluscente subcondral
Embora RM e cintilografia óssea tenham maior (“sinal do crescente”).
sensibilidade, a radiografia tem se mostrado suficiente
para a maioria dos casos.
Numa fase intermediária, aparece fragmentação
Radiografia simples: epifisária, deformidade epifisária e cistos metafisários
(no colo do fêmur), quando então o diagnóstico torna-
As radiografias em AP e Lauenstein (em posição de
se óbvio.
rã) são suficientes para conduzir o caso.
Ressonância Magnética:
Os sinais radiológicos mais precoces são: diminuição
do núcleo epifisário com aumento do espaço articular Este exame tem maior sensibilidade, sendo indicado
(às vezes, o único sinal presente), hiper densidade, quando a radiografia simples é normal ou duvidosa.
fratura subcondral (radiolucência subcondral em
forma de crescente ou “sinal do crescente”).

Fase precoce (esquerda): hiperdensidade epifisária e “sinal Sinal do crescente na cabeça femoral esquerda.
do crescente” (seta). Fase intermediária (direita):
fragmentação da porção medial epifisária. Cintilografia:

É feita com 99mTc-difosfonato. A epífise afetada


apresenta áreas de hipocaptação do radioisótopo.

Prognóstico:

Esta doença possui uma evolução autolimitada, nas


suas quatro fases e, quando falamos em prognóstico,
nos referimos ao grau de deformidade epifisária e
incongruência articular que permanecerá no final do
processo, predispondo ou não à osteoartrose precoce
do quadril.

O principal fator prognóstico é a idade da doença:


AP: Observe na cabeça femoral esquerda (1) aumento do crianças com menos de 6 anos evoluem melhor, por
espaço articular, (2) tamanho menor que a cabeça
contralateral.
dois motivos: (1) há mais tempo de adaptação da CLASSIFICAÇÃO DE SALTER-THOMPSON:
epífise durante a maturação epifisária; e (2) o acetábulo
Baseia-se na extensão da fratura subcondral (“sinal do
pode se adaptar à deformidade da epífise femoral.
crescente”).
A radiografia auxilia na determinação do prognóstico.
Grupo A – ocupa menos de 50% da superfície
Portanto, existem pelo menos três classificações
epifisária;
prognósticas baseadas nesse exame:
Grupo B – mais de 50%.
CLASSIFICAÇÃO DE CATTERALL:

I - Indivíduos com comprometimento mínimo da


epífise, acometendo até um quarto da cabeça femoral;

II - a extensão do processo envolve até metade da


cabeça femoral;

III - dois terços do núcleo ósseo estão afetados

IV – epífise totalmente afetada.


CLASSIFICAÇÃO DE HERING:

Depende da reabsorção do pilar lateral epifisário.

Grupo A – não acometido, com excelente prognóstico;

Grupo B – acometido menos de 50%, com prognóstico


intermediário;

Grupo C – acometido com mais de 50%, com


prognóstico ruim.

*OBS: Catteral, descreveu, também, cinco sinais


radiográficos que seriam indicativos de mau
prognóstico, e que, por isso, foram chamados de sinais *OBS: o pilar lateral da cabeça do fêmur é o principal
de quadril em risco: calcificação lateral à epífise; lise
responsável pela sustentação do peso nas crianças com
metaepifisária, que é semelhante à lesão em “saca- a doença de LCP. A sua preservação evita a
bocado”, descrita como sinal de Gage ou sinal da subluxação da epífise e previne deformidades graves.
unha; rarefação com geoides metafisários difusos;
horizontalização da placa de crescimento e CLASSIFICAÇÃO RESIDUAL DE STULBERG:
subluxação lateral da epífise.
Classe I: epífise esférica com coxa magna (aumento da
cabeça femoral em relação ao acetávulo);

Classe II: epífise esférica com coxa magna;

Classe III: epífise oval (coxa plana – cabeça e colo


femoral achatados, em forma de cogumelo);

Classe IV: epífise aplainada ou retangular levemente


incongruente;

Classe V: epífise aplainada ou retangular, totalmente


incongruente.
Tratamento: Uma segunda alternativa é a cirurgia. Nesse caso,
indica-se uma osteotomia pélvica ou femoral, visando
No tratamento, o desafio é prevenir a deformidade
acoplar melhor a cabeça femoral ao acetábulo.
residual da epífise femoral, garantindo uma
articulação do quadril pelo menos tipo I, II ou III de Sinovite transitória:
Stulberg.
É uma causa comum de dor e claudicação em crianças,
De forma geral, quanto mais esférica e congruente a
tendo seu pico de incidência entre 3 e 8 anos. A sua
epífise femoral em relação ao acetábulo, melhor o
gênese é desconhecida, mas em 70% dos casos ocorre 7
resultado final. Para tal, utiliza-se o princípio de
a 14 dias após uma infecção viral respiratória. Não há
contenção a cabeça do fêmur, que deve permanecer
nenhuma alteração óssea ou tendinosa; o que existe é
contida dentro do acetábulo para que este funcione
uma sinovite idiopática da articulação do quadril,
como um molde.
geralmente com pouco derrame articular e que tem
A agressividade do tratamento depende dos fatores evolução autolimitada, ao redor de 1-2 semanas.
prognósticos, inclusive a idade da criança.
Clinicamente, a criança se apresenta com dor na região
Em crianças com menos de 6 anos, a conduta costuma anterior do quadril, irradiando para a coxa ou joelho,
ser apenas a observação já que a chance de de início agudo (sintomas há menos de 7 dias), e
deformidade é baixíssima! associação à claudicação. A febre é inexistente ou baixa
(< 38°C) e o exame revela uma criança em bom estado
A terapia definitiva precoce é indicada nos seguintes
geral, com dor à movimentação passiva do quadril,
casos:
mas sem limitação importante dos movimentos. Os
• Idade > 6 anos (> 5 anos em meninas); exames laboratoriais e os exames de imagem
• Reabsorção do pilar lateral; costumam ser normais.
• Perda da contenção da epífise sobre o
O diagnóstico diferencial mais importante é a artrite
acetábulo.
séptica e a osteomielite de quadril. O quadro nessas
A primeira alternativa é o tratamento conservador, entidades é mais dramático, com dor, febre e limitação
utilizando a imobilização inguinomaleolar bilateral em importante da função articular. E caso de dúvida
abdução. A abdução força a cabeça femoral para se diagnóstica, uma artrocentese guiada pela USG está
acoplar ao acetábulo. A imobilização gessada de Petrie indicada. O exame radiológico, RM e cintilografia
e a órtese do Hospital Scottish Rite de Atlanta são as óssea podem ajudar a afastar osteomielite, doença de
mais utilizadas. Legg-Calvé-Perthes e fraturas de quadril.

O tratamento recomendado é o repouso no leito e o


uso de AINE até a resolução da dor, o que geralmente
ocorre em 7 dias. Nas próximas 1-2 semanas, a criança
deve limitar as suas atividades, pois, caso contrário,
poderá ocorrer exacerbação ou a recidiva dos
sintomas.

Artrite séptica do quadril:

Introdução:
Poucas patologias são tão agressivas e de efeitos tão
devasta do res como a artrite séptica do quadril, pois
esta é uma articulação que suporta carga e tem
Imagens A e B - particularidades próprias em seu sistema de
Imobilização de
vascularização. Os prejuízos são mais incapacitantes e
Petrie;
permanentes.
Abaixo – órtese
de atlanta História Natural da doença:
Ocorre distensão mecânica da cápsula e aumento de
pressão interna do es paço articular. Com a diminuição
da vascularização, a epífise sofre isquemia e
consequente necrose.
Quanto à luxação, a causa é o aumento do volume do Exames:
líquido purulento intra-articular em função do Na suspeita de artrite séptica do quadril, o paciente
crescimento bacteriano. Como em muitas patologias deve ser internado para a agilização dos exames
infecciosas, a prevenção da artrite séptica é difícil – ou complementares e o tratamento imediato.
mesmo impossível – de ser realizada.
O diagnóstico de artrite séptica é estabelecido por
Quadro clínico: meio da apresentação de um conjunto de sinais e
Como em todo processo infeccioso ou inflamatório, há sintomas associados aos achados laboratoriais. O teste
hiperemia, responsável pelos primeiros sintomas do padrão-ouro continua sendo a cultura do líquido
paciente, que são dor, limitação de movimentos ativos sinovial para isolamento do patógeno. Havendo
e passivos e aumento de temperatura. Sendo o quadril suspeita de artrite séptica, a punção do derrame
uma articulação pro funda, fica difícil observar edema, articular deve ser obtida rotineiramente.
hiperemia e aumento de temperatura no local, pelo
menos nos primeiros dias de instalação do Se o paciente apresentar-se com suspeita de artrite
processo infeccioso. séptica de quadril, a rapidez para selar o diagnóstico e
o tratamento é fundamental para a obtenção da cura
A dor é progressiva e com aumento rápido de completa.
intensidade. Em curto tempo, é observada piora do Em geral, solicita-se hemograma completo, com
quadro de dor, geralmente acompanhada de aumento velocidade de sedimentação globular.
rápido da temperatura.
A radiografia não mostra alterações nos primeiros
A limitação da mobilidade passiva ou ativa também é dias. Porém, depois pode ser verificado edema
muito intensa, devido ao processo inflamatório intra- periescapular e espessamento da cápsula. Quando
articular. É comum a dor e a temperatura não cederem houver aumento da coleção purulenta dentro da
com analgésicos e cavidade articular, com distensão capsular, pode ser
antitérmicos usuais, sem o tratamento completo e observado aumento do espaço articular. Se houver
adequado. subluxação ou luxação, fica mais evidente o
diagnóstico.
Fatores de risco:
• Doenças crônicas e condições que afetam as A solicitação de radiografia de pelve em posição
articulações - como osteoartrite, gota, artrite anteroposterior deve ser a solicitação inicial para
reumatóide ou lúpus - podem aumentar o comparar com o lado normal.
risco de artrite séptica, assim como uma
articulação artificial, cirurgia articular prévia e O exame mais confiável é a ecografia. O
lesão articular. espessamento da cápsula, as distensões e o
• Uso medicamentos imunossupressores. afastamento da cabeça do fêmur, bem como a
• Fragilidade da pele. As condições da pele, quantidade de líquido purulento, são mais bem
com psoríase e eczema, aumentam o risco de evidenciados e com mais precocidade ao ultrassom.
artrite séptica, assim como as feridas
infectadas de pele. Pessoas que regularmente A RM pode ser utilizada em casos de diagnóstico
injetam drogas também têm um risco maior de difícil, pois evidencia com muita clareza as partes
infecção no local da injeção. moles periarticulares e a quantidade de líquido dentro
• Sistema imunológico fraco. Pessoas com um das cápsulas.
sistema imunológico fraco tem maior risco de
contrair infecção articular. Isso inclui pessoas Tratamento:
com diabetes, problemas renais e hepáticos e O tratamento de pacientes com artrite séptica baseia-se
aqueles que tomam drogas que suprimem seus na antibioticoterapia intravenosa e na drenagem
sistemas imunológicos. articular. A mobilização passiva deve ser feita de
• Trauma articular. Mordidas de animais, forma gradual, seguida de alongamento ativo das
perfurações ou cortes que violem a articulação estruturas periarticulares, evitando, desse modo,
podem causar artrite séptica. restrições na mobilidade articular.
Quadro clínico e diagnóstico:

Existem dois tipos de apresentação clínica:

(1) Aguda - < 3 semanas – geralmente associada a


um trauma do tipo queda
(2) Crônica - > 3 semanas – de curso insidioso e
sem relato de trauma.

No tipo agudo, o paciente apresenta-se com forte dor


referida no quadril, impedindo a deambulação e
dificultando o exame físico.
Epifisiólise do quadril:
No tipo crônico, o primeiro sintoma geralmente é a
Sinônimos: deslizamento da epífise da cabeça femoral; coxa claudicação, na qual a criança manca com rotação
vara do adolescente. externa da coxa e pode sentir dor crônica na região
lateral do quadril, irradiando para a nádega e para o
Introdução:
joelho. Por vezes, o paciente refere dor apenas no
É uma doença que acomete a epífise proximal do joelho.
fêmur. Ocorre um deslizamento da epífise (cabeça do
Ao exame, observa-se que o paciente mantém o
fêmur) em relação ao colo do fêmur, pelo
membro inferior afetado em postura de rotação
enfraquecimento da placa epifisária (cartilagem de
externa. O paciente apresenta limitação da rotação
crescimento). Pelo efeito do peso corporal, a cabeça do
interna, da flexão e da abdução do quadril. Uma
fêmur se desloca para baixo, para trás e faz uma
manobra característica é quando o examinador flete
rotação interna, enquanto o colo do fêmur (e, portanto,
passivamente a coxa da criança, provocando uma
toda a diáfise) desliza para cima, para frente e faz uma
rotação externa e abdução involuntária = sinal de
rotação externa. A lesão original, portanto, é na fise
Drehman.
(mais especificamente na camada hipertrófica).
Diagnóstico:

A confirmação pode ser feita por radiografia simples


em AP e Lauestein (o deslizamento é melhor
observado nesta projeção). Antes mesmo do
deslocamento propriamente dito pode-se observar
sinais prévios (fase do pré-deslocamento), como o
aumento da espessura da placa epifisária, que se torna
lisa e perde o seu aspecto serrilhado. Uma linha
traçada na porção superior do colo femoral no RX em
AP deve atravessar o núcleo epifisário (linha de
Klein); se a linha não atravessar a epífise é porque já
ocorreu o deslizamento (sinal de Trethovan).

Epidemiologia:

É mais comum em meninos (2:1), negros, na fase pré-


adolescência e adolescência, predominando entre os 11
e 15 anos. Nesta faixa etária, a epifisiólise é a causa
mais comum de dor no quadril. A doença é muito rara
antes dos 11 anos de idade.

Existe uma predileção da doença pelo lado esquerdo, e


a bilateralidade ocorre em 20 a 50% dos casos.
• Incongruência articular, provocando
osteoartrose precoce.

Uma vez diagnosticado o escorregamento epifisário


(EEPF), é praticamente um consenso atual que o
tratamento cirúrgico seja instituído imediatamente,
com o objetivo de promover a epifisiodese (promover
o fechamento da placa epifisária, prendendo-se o colo
femoral à epífise) e evitar a progressão do
deslizamento.

Nos pré-deslizamentos (grau I), nos escorregamentos


leves ou mesmo moderados com boa mobilidade
clínica, a fixação in situ da epífise com um único
parafuso canulado é o tratamento de eleição. Os
parafusos são inseridos por radioscopia, pois eles não
podem atravessar a cartilagem articular da cabeça
femoral.

Nos graus II e III, podemos indicar a fixação in situ


com ressecção da “gibosidade” ou osteotomias
corretivas transtorocantéricas ou subtrocantéricas.

*OBS: apesar de ser uma doença geralmente unilateral,


alguns autores recomendam a fixação profilática
contralateral pelo fato da bilateralidade ser frequente,
principalmente em pacientes com idade abaixo do
Na epifisiólise aguda, encontramos o deslocamento
comum (meninas < 12 anos e meninos < 14 anos), com
sem sinais adaptativos de neoformação óssea,
doenças metabólicas associadas e baixo nível social.
enquanto que nos casos crônicos são observadas
alterações de remodelamento ósseo como colo Displasia do desenvolvimento do
encurvado semelhante a um cajado (sinal do cajado).
quadril:

Sinônimo: luxação congênita do quadril; displasia congênita


do quadril.

Introdução:

O termo “displasia” significa um desenvolvimento


anormal de um osso que, durante o processo de
maturação, se torna deformado. Um problema
relativamente comum na ortopedia pediátrica é a
Sob o ponto de vista de gravidade, a epifisiólise da
displasia do acetábulo.
cabeça femoral pode ser classificada em grau I (até 1/3
de deslizamento), grau II (1/3 a 1/2) e grau III (acima Etiopatogenia:
de 1/2). Ocorre um deslizamento supero-posterior.
Muitas crianças ao nascer (1 em cada 100) apresentam
Tratamento: uma instabilidade da articulação do quadril, por
frouxidão ligamentar, predispondo a luxação ou
Quando não tratada, esta doença tende a evoluir com
subluxação subsequente. Este fenômeno é mais
várias complicações, como:
comum nas meninas (9:1) e possui predisposição
• Necrose avascular da cabeça femoral, pela genética. Em outras palavras, dizemos que é
rotura das pequenas artérias retinaculares e relativamente comum o quadril de um RN ser luxável,
epifisárias; mas ainda não luxado.
• Condrólise (necrose da cartilagem articular);
Porém, dependendo da postura em que permanecerá a abduzir o membro inferior afetado. Se a manobra de
criança, a luxação ou subluxação sobrevém em algum ortolani for negativa, o próximo passo é saber se o
momento nos próximos 1-2 meses. quadril do bebê é luxável. Para isso, utiliza-se a
manobra de Barlow, realizada em duas etapas:
*OBS: manter crianças com os MI aduzidos e
estendidos sem dúvida aumenta muito esta chance!!! 1 – com a criança em decúbito dorsal, o examinador
faz uma adução da coxa enquanto força-a para baixo.
Dos casos de instabilidade do quadril, 60% evoluem
Se houver instabilidade, isto provocará uma luxação,
com a estabilização na primeira semana e 90%, nos
sentida pela palpação com o “clique”;
primeiros dois meses de vida. Os 10% restantes
desenvolvem subluxação, displasia ou mesmo luxação, 2 – para reduzir o quadril, faz-se o movimento oposto.
esta última ocorrendo em um a cada mil RN.

Algumas crianças já nascem com o quadril luxado,


recebendo o termo “luxação congênita do quadril”.
Outras crianças apresentam displasia acetabular sem
luxação ou subluxação prévia, os quais recebem a
nomenclatura “displasia congênita do quadril”.

Esta patologia é classificada em dois grupos:

1. Típica – mais comum


2. Teratológica – quando associada a problemas
neurológicos, como a espinha bífida e
artrogripose. Neste caso, a luxação é sempre
congênita e o prognóstico muito pior.

Fatores de risco:

• Apresentação pélvica;
• Gemelares;
• Primogênito; Estes movimentos devem ser sutis para não provocar
• Oligodrâmnio; luxação iatrogênica!
• Joelho estendido intraútero.
De 3 meses a 18 meses:
Diagnóstico:
As manobras não tem mais efeito, agora predominam
Diagnóstico precoce (de 0 a 3 meses): a contratura em adução do quadril. Percebemos uma
O diagnóstico deve ser o mais precoce possível! Desde limitação da abdução e a circundação do quadril, além
que tenha sido realizado antes dos 3 meses, o êxito do de um encurtamento do membro inferior. O sinal de
tratamento tem alta porcentagem de sucesso. Tanto a Galeazzi (ou de Allis) é a altura inferior do joelho do
luxação, a subluxação como a simples instabilidade lado afetado quando a criança está em decúbito com as
articular devem ser prontamente reconhecidos. coxas e os joelhos fletidos, devido ao deslocamento
posterior da cabeça femoral.
Após o nascimento, o primeiro exame a ser feito
verifica se o quadril já está luxado. Para isso, utiliza-se
a manobra de Ortolani (faz-se uma abdução do
quadril – abrir a perna – ao mesmo tempo que
tracionamos a coxa para cima. Se o examinador
observar pela palpação uma espécie de “clique” – que
nada mais é a cabeça femoral voltando para o seu
lugar no acetábulo – o teste é positivo, confirmando o
A manobra de telescopagem costuma ser positiva:
diagnóstico de luxação congênita do quadril).
consiste em segurar firmemente a coxa e o joelho da
No exame físico do quadril luxado podemos ainda criança com uma das mãos e, com a outra no quadril,
observar assimetria das pregas cutâneas dos MI, um realizar uma manobra de puxar e empurrar,
excesso de rotação externa e uma dificuldade em percebendo-se o movimento excessivo do trocânter.
Após 12 meses: O índice acetabular é um ângulo agudo formado pela
linha de Hilgenreiner e uma segunda linha traçada no
Na fase de deambulação, verificaremos alteração da
teto acetabular. Caso este ângulo esteja maior que 30°
marcha, que se apresente claudicante, com gingado de
isto sugere displasia acetabular.
pato (tronco balança para o lado afetado) e o sinal de
Trendelemburg é positivo. O paciente apresentará,
também, excesso de rotação externa do membro
acometido e lordose lombar excessiva.

Radiografia simples:

Nos primeiros 3 meses de via, a epífise femoral é


cartilaginosa e, portanto, radiotransparente. A partir
desta idade começa a aparecer um pequeno núcleo de
ossificação.

➢ Linha de HILGENREINER: linha que passa


sobre a cartilagem trirradiada;
➢ Linha de PERKINS: linha que passa pela borda Ultrassonografia (USG):
lateral do acetábulo;
➢ Quadrantes de OMBREDANE: determinado Em pacientes menores de 3 meses de idades, podemos
pelas duas linhas acima. A cabeça do fêmur lançar mão do USG do quadril. Este exame visualiza
deve estar no quadrante ínfero medial. todas as estruturas que não podem ser vistas no RX
por serem radiotransparentes, além de poder
quantificar e qualificar o comprometimento. Mas é
importante ressaltar que, no período neonatal (0 a 4
semanas), o exame físico é preferível em relação ao
USG pelo elevado índice de exames falso-positivos
nesta faixa etária.

Tratamento:

Recém-nascido:

O objetivo é manter a cabeça centrada no acetábulo


utilizando-se aparelhos fixos (travessão de Frejka) ou
dinâmicos (tirantes de Pavlik).

TRAVESSÃO DE FREJKA

TIRANTES DE PAVLIK
De 1 a 6 meses:

O tratamento de escolha é a utilização dos tirantes de


Pavlik. Se a redução não ocorrer nas próximas 3-4
semanas, a redução incruenta está indicada:
mantemos a criança em tração abdutora por
aproximadamente 1-3 semanas e tenotomia percutânea
dos adutores, após o qual a criança será anestesiada no
CC e uma redução fechada é realizada. Em seguida, é
colocada num aparelho gessado em flexão e ligeira
abdução.

De 6 a 18 meses:

Deve ser tentada a redução incruenta e, caso não tenha


sucesso, está indicada a cirurgia aberta (redução
cruenta). Após a redução, a criança é mantida na
imobilização gessada em abdução por vários meses.

De 18 anos a 8 anos:

Nesses casos, pelo grau de displasia já apresentados, a


redução cruenta está sempre indicada, associada à
tenotomia adutora e uma osteotomia corretiva. Até os
3-4 anos de idade, usa-se mais a osteotomia de Salter
(um tipo de osteotomia inominada da pelve) e, desta
faixa etária em diante (até 8 anos), a osteotomia de
Chiari (deslocamento medial do acetábulo) é
preferível, associada à redução da diáfise femoral
(ostectomia).

O objetivo das osteotomias é modficar a angulação dos


ossos para melhor acoplamento femuroacetabular.
Após a cirurgia, a criança deve usar um aparelho
gessado por 6 a 8 semanas, retomando paulatinamente
às atividades.

Após os 8 anos de idade, a correção da DDQ não tem


mais benefício!

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