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Oncologia – Problema 5 fechamento 1 Como a doença nas crianças se apresenta muitas vezes

Fonte: “DIAGNÓSTICO PRECOCE: SINAIS E SINTOMAS DE com sintomas inespecíficos, semelhantes às doenças
ALERTA PARA O CÂNCER NA CRIANÇA E NO comuns da infância, pode levar a retardo no diagnóstico
ADOLESCENTE” da Sociedade Brasileira de Pediatria. e no início do tratamento apropriado. Infelizmente no
Brasil, baseado nos dados dos registros de câncer
Livros: Hoff, Bogliolo, Robbins e Tratado de Pediatria, da atualmente consolidados, muitos pacientes ainda são
SBP, 4ª edição encaminhados aos centros de tratamento com a doença
Sites do INCA, oncoguia e unicamp em estádio avançado. Neste sentido, é importante a
detecção precoce da doença, melhorando assim as
“O diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil e a chances de cura, a sobrevida e a qualidade de vida do
atenção básica” do Instituto Ronald McDonald paciente/família. O pediatra tem papel essencial na
suspeita diagnóstica do câncer, sendo assim
Objetivo 1: A importância da fundamental que os pais ou responsáveis realizem as
consultas pediátricas regulares com seus filhos/filhas,
atenção primária no diagnóstico
visando o diagnóstico precoce da doença, bem como o
precoce de câncer infantil
encaminhamento para os centros oncológicos
A atenção básica é caracterizada como porta de entrada pediátricos de referência.
preferencial do SUS. Assim, sua articulação cm outros
pontos da rede de saúde é primordial para a atenção Quais são os sinais e sintomas de alerta
integral dos usuários. para o câncer?
A atenção básica integra e articula a RAS,  Reflexo branco na pupila (menina dos olhos) que
interconectando serviços que são ofertados de forma
pode ser visível no dia a dia, ou em fotografias. A
fragmentada. Para que a AS possa articular a RAS, é
preciso que a equipe reconheça as demandas da saúde coloração normal do reflexo é avermelhada;
da população sob sua responsabilidade. Desse modo, os  Estrabismo (olho vesgo), que surge
profissionais da AB devem estar aptos a reconhecer os repentinamente;
sinais e sintomas que podem indicar o câncer  Aumento de volume em qualquer região do corpo
infantojuvenil e realizar a adequada referência aos (caroços ou inchaços), principalmente indolor e sem
serviços de média e alta complexibilidade. febre, com ou sem sinais de inflamação, como dor
Além do diagnóstico precoce, a atenção básica também ou vermelhidão: pode sugerir crescimento tumoral e
deve estar apta para fornecer cuidados nas alterações necessitar avaliação;
físicas, psicológicas e sociais impostas pela doença, tanto  Manchas roxas pelo corpo em regiões pouco
o paciente quanto a família. Os profissionais da AB são
frequentes. Enquanto que manchas roxas nas pernas
responsáveis pela orientação da família sobre o
diagnóstico e tratamento do câncer infantojuvenil. são frequentemente associadas a trauma (batida),
manchas no tórax, costas ou até mesmo abdome
devem chamar atenção, principalmente quando não
Objetivo 2: Sintomas de alerta associadas a algum tipo de traumatismo;
para o diagnóstico precoce do  Dores persistentes: nos ossos, nas articulações e
câncer infantojuvenil nas costas. Fraturas, sem trauma;
 Sinais precoces de puberdade: acne, voz grave,
Os tumores malignos nas crianças e nos adolescentes
ganho excessivo de peso, pelos pubianos ou
crescem mais rapidamente do que os dos adultos e
aumento do volume mamário nas meninas com
tornam-se invasivos, porém, respondem melhor ao
menos de 8 anos de idade e nos meninos com
tratamento. Diferentemente do adulto, o câncer na
menos de 9 anos de idade devem ser avaliados pelo
criança e no adolescente geralmente afeta as células do
pediatra;
sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação,
 Cefaleia persistente e progressiva, (em especial
enquanto que, no adulto, compromete as células do
pela manhã ou com piora ao longo dos dias)
epitélio, que recobre os diferentes órgãos.
associada ou não a vômitos, alterações ao caminhar,
Nas crianças e adolescentes os cânceres mais frequentes desequilíbrio ou alterações na fala, além de perda
são as leucemias, os tumores do sistema nervoso central de habilidades desenvolvidas (por exemplo, a
e os linfomas. criança deixa de ficar em pé, piora da letra) e
alterações no comportamento;
 Febre prolongada, perda de peso, palidez ou b) linfócito B: célula tronco dá origem à celula linfoide
cansaço persistente inexplicados. comum, que se diferencia em linfoblasto, que se
 Palidez, hematomas ou sangramento. diferencia em pró linfócito B, que dará origem aos
linfócitos B.

Objetivo 4: hemograma na c) células natural killer: célula tronco dá origem à celula


criança linfoide comum, que se diferencia em pró célula NK, que
se diferencia em célula NK.
As células mieloide comum dará origem a outros 2
caminhos distintos, dependendo da unidade formadora
Objetivo 5: Hematopoiese e de colônia, a unidade formadora de colônia dos
leucemias agudas eritrócitos e dos megacariócitos, que dá origem às
hemácias e plaquetas; e a unidade formadora de colônia
Hematopoese é a formação de células sanguíneas de granulócitos e monócitos, que dará origem aos
(plaquetas, eritrócitos e leucócitos). Começa no saco granulócitos (eosinófilos, basófilo, neutrófilos) e aos
vitelínico da 3ª semana até o 2º mês de gestação, depois monócitos (macrófago).
passa a acontecer no fígado, com o auxílio do baço a
a) hemácias: a célula tronco se diferencia em mieloide
partir do 4º mês e, por fim, a medula óssea é formada no
comum, em proeritroblasto, em eritroblasto basófilo,
quinto mês e passa a ser responsável pelo processo.
em eritroblasto policromático, em eritroblasto
A medula óssea é dividida entre medula vermelha e ortocromático, reticulócito e, por fim, hemácias.
medula amarela. A vermelha é onde ocorre a formação
b) plaquetas: celula mieloide comum se diferencia em
das células sanguíneas, principalmente no esqueleto
megacarioblasto, em megacariócito basófilo, em
axial e ossos longos. Caso a medula óssea se torne
megacariócito acidófilo, em megacariócito. Os
incapaz de produzir as células sanguíneas, o fígado e o
megacariócitos, por sua vez, vão sofrer prolongamentos
baço retomam essa responsabilidade.
nos vasos sanguíneos, se fragmentando. Esses
No período pós-natal, a medula óssea constitui o único fragmentos dos megacariócitos são as plaquetas.
local de produção da porção celular do sangue, isto é, de
c) Monócito: célula tronco se diferencia em célula
eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Apesar de essas três
mieloide comum, que se diferencia, a partir das
linhagens celulares serem distintas umas das outras, elas
unidades formadoras de colônia de monócitos e
são oriundas de uma célula-mãe única, chamada célula
granulócitos em monoblasto. O monoblasto se
pluripotente. Na medula óssea, as células pluripotentes
diferencia em monócitos, que podem sofrer diapedese,
proliferam-se e podem ser estimuladas tanto a
entrando em algum tecido, e forma o macrófago.
autorrenovar-se quanto a dar origem a células
progenitoras diferenciadas. Essas células, que originam d) granulócitos: célula tronco se diferencia em mieloide
as distintas linhagens de células sanguíneas, são comum, em mieloblasto, em promielócito, em mielócito
chamadas de células comprometidas. Elas possuem um neutrófilo, em metamielócito neutrófilo, neutrófilo
maior grau de diferenciação, sendo assim unipotentes, imaturo, com núcleo de bastonete e, por fim, neutrófilo
isto é, capazes de originar apenas uma determinada maduro.
linhagem sanguínea.
Célula tronco se diferencia em mieloide comum que, a
Na medula, contém as células tronco totipotentes que, partir da unidade formadora de mielócito se diferencia
sob influência de interleucinas e fatores de crescimento, em mieloblasto, que se diferencia em promielócito, em
irão se diferenciar ou em células mieloides comum, ou mielocito eosinófilo, em metamielócito eosinófilo e, por
em células linfoides comum, que são as células fim, eosinófilo.
comprometidas.
Célula tronco se transforma na mieloide comum que,
As células linfoides comuns, no final do processo de com a unidade formadora de mielócito se transforma em
hematopoese, irão formar linfócito b, linfócito T e as mieloblasto, que se diferencia em promielócito basófilo,
células NK. em mielócito basófilo, em metamielócito basófilo e, por
fim, basófilo adulto.
a) linfócito T: as células linfoides comuns se diferenciam
em linfoblasto, que se diferenciam em pró linfócito T,
que se diferencia em linfócito T.
Leucemias agudas se reproduzem de forma um pouco mais lenta e podem
ter mantidas algumas de suas funções.
O termo leucemia designa um conjunto de cânceres que
A etiologia ainda é desconhecida, mas existem fatores de
atingem as células brancas do sangue (leucócitos), que
risco diretamente relacionados às leucemias na infância:
são produzidas pela medula óssea. Uma célula que
ainda não atingiu a maturidade sofre uma mutação .
genética que a transforma em uma célula cancerosa ou
As leucemias linfoides agudas (LLA) são as mais comuns,
leucêmica, como pode ser chamada. Essa célula
correspondendo de 75 a 80% dos casos, seguidas pelas
anormal, além de não funcionar de maneira adequada,
leucemias mieloides agudas (LMA), entre 15 e 20%. A
multiplica-se mais rápido e morre menos do que as
leucemias mieloides crônicas (LMC) são incomuns,
células normais, fazendo com que as células saudáveis
variando de 2 a 5% na infância e adolescência.
da medula sejam progressivamente substituídas.
Dessa forma, além de perderem a função de defesa do
Objetivo 5: Leucemia linfoide
organismo, os leucócitos doentes produzidos
descontroladamente reduzem o espaço na medula
aguda na criança
óssea para a fabricação das outras células que As leucemias são doenças clonais originárias da
compõem o sangue. Adicionalmente, os glóbulos transformação neoplásica de células progenitoras
brancos não se desenvolvem por completo e caem na hematopoéticas da medula óssea, que adquirem
corrente sanguínea antes de estarem preparados, não alterações genéticas que lhe conferem uma vantagem
exercendo assim as suas funções corretamente. Esses proliferativa e de sobrevivência ou um prejuízo da
leucócitos anormais que atingem a corrente sanguínea diferenciação e apoptose. Esse clone neoplásico
podem também invadir outros órgãos, tais como fígado, prolifera-se até substituir o parênquima medular
baço, linfonodos, rins e cérebro. normal, com prejuízo da hematopoese e posterior
Resumidamente, nas leucemias há uma produção disseminação pelo organismo.
inadequada das células de defesa, o que predispõe o A LLA é uma neoplasia maligna com origem na medula
organismo a infecções. Em adição, o acúmulo de células óssea, decorrente de uma expansão clonal de células
anormais na medula óssea prejudica a produção de progenitoras, associada a mutações que inibem a
outros tipos celulares, predispondo o indivíduo a apoptose. Em consequência à multiplicação
anemia e hemorragias, entre outros sintomas. desordenada de células anormais (linfoblastos), ocorre
As leucemias são classificadas de acordo com o tipo de uma diminuição na produção de precursores de
leucócitos que afetam. Baseando-se neste critério, eritrócitos, leucócitos normais e plaquetas.
temos dois grandes grupos de leucemias, separados O risco de desenvolver leucemia linfoide aguda é maior
segundo a linhagem de células brancas acometida. Uma em crianças de até 5 anos. Após essa idade, o risco
leucemia é chamada linfocítica, linfoblástica ou declina lentamente até a faixa dos 20 anos, começando a
linfoide quando atinge as células linfoides, isto é, aumentar lentamente após os 50 anos. Cerca de 40%
aquelas derivadas do precursor linfoide (células NK, dos casos de leucemia linfoide aguda acontecem em
linfócitos T, linfócitos B e plasmócitos). Quando uma adultos.
leucemia é classificada como mieloide ou mioloblástica,
significa que as células alteradas são as mieloides, O risco de uma pessoa desenvolver leucemia linfoide
derivadas do precursor mieloide (mastócitos, basófilos, aguda é inferior a 0,1%. Esse risco é ligeiramente maior
neutrófilos, eosinófilos e monócitos). em homens do que em mulheres e maior em pessoas
caucasianas do que negras.
Além disso, as leucemias podem também se apresentar
de duas outras maneiras distintas, diferindo agora em A maioria dos casos de leucemia linfoide aguda ocorre
relação não mais ao tipo celular acometido, mas sim em crianças, mas a maioria das mortes pela doença
quanto a velocidade de reprodução celular e da ocorre em adultos. Isso acontece devido às diferenças da
evolução da doença. Nas leucemias agudas observamos própria doença nas distintas faixas etárias, assim como
o rápido crescimento de células imaturas, que não do tipo de tratamento, uma vez que o organismo das
desempenham seu papel como deveriam e que se crianças, muitas vezes, pode lidar melhor do que o dos
multiplicam aceleradamente. Nas leucemias crônicas há adultos com um tratamento mais agressivo, ou mesmo
um aumento de células maduras, porém anormais. Elas devido a alguma combinação terapêutica diferente.
Fatores de risco Quadro clínico
As leucemias da infância resultam da combinação entre O quadro clínico da LLA depende da repercussão
susceptibilidade genética e fatores ambientais. Uma decorrente da infiltração leucêmica na medula óssea e
sequência variável de eventos mutagênicos, ocorridos em outros órgãos. Anemia, trombocitopenia e
em diferentes intervalos de tempo, terminaria por neutropenia são muito prevalentes, sendo os dois
desencadear a doença. primeiros encontrados em mais de 75% dos casos.
Metade dos doentes tem leucometria acima de
Para a leucemia de lactentes menores de 12 meses,
10.000/mm³ e 20% apresentam leucócitos acima de
agravos relevantes e mutações consequentes ocorrem
50.000/mm³. Células leucêmicas são habitualmente
principalmente na vida intrauterina. Para as crianças
reconhecidas no sangue periférico embora possam ser
maiores, acredita-se que um primeiro evento
confundidas com linfócitos atípicos. Cerca de 20% dos
mutagênico ocorra na vida intrauterina e,
pacientes não apresentam linfoblastos no hemograma.
posteriormente, um segundo evento desencadeie a
doença. Na maioria dos casos, a neoplasia é esporádica, Os sinais e sintomas da LLA são decorrentes da
mas doenças congênitas como anemia de Fanconi, infiltração neoplásica (linfoblastos) na medula óssea e da
síndromes de Bloom, Down, Kostmann e Blackfan- disseminação dessas células pela corrente sanguínea,
Diamond podem favorecer o seu surgimento. para outros órgãos e sistemas. Geralmente, a história é
aguda, com duração de dias ou semanas, referindo-se
A exposição a campos eletromagnéticos (linhas de alta
palidez, astenia, manifestações hemorrágicas e febre. A
frequência) durante a vida intrauterina tem potencial
perda de peso é rara.
carcinogênico, assim como a exposição intraútero ou
pós-natal a benzeno, pesticidas, álcool, cigarros e drogas A dor óssea é frequente, em geral ocorre em membros,
ilícitas. principalmente inferiores, e pode tornar-se muito
intensa, impedindo a deambulação. Ocorre em qualquer
As infecções também têm sido implicadas na etiologia da
horário, diurno ou noturno, e é de difícil controle com
LLA. Duas hipóteses apontam que uma resposta anormal
analgésicos habituais. Artralgias e eventualmente
às infecções virais comuns da infância pode ter um papel
artrites, resultantes de infiltrações articulares, podem
relevante na origem da LLA, mas nenhum mecanismo
ser confundidas com doenças reumatológicas.
dependente de vírus para a gênese de LLA foi
identificado até o momento. Alguns pacientes podem apresentar dor em
determinado segmento de coluna vertebral,
Existem dados conflitantes a respeito da influência da
geralmente toracolombar, e, à radiografia, pode ser
história gestacional materna no surgimento de leucemia
observado colapso vertebral. Pelo componente de
da infância. Perdas fetais prévias, idade dos pais acima
medula óssea vermelha em diversos ossos durante a
de 40 anos, peso de nascimento acima de 4.000g e
infância, mais de 50% das crianças com leucemia
ausência de aleitamento materno são incluídos nas
apresentam anormalidades no esqueleto, entretanto,
variáveis de risco.
esse fato ocorre em menos de 10% nos pacientes
• radiação ionizante: exposição pré-natal a radiografias, adultos. Embora o diagnóstico da doença seja feito por
irradiação terapêutica; meio de punção de medula óssea, as lesões ósseas
• agentes quimioterápicos: alquilantes e podem preceder os achados clínicos.
epipodofilotoxinas aumentam o risco para leucemia As artrites verdadeiras são raras. Linfadenopatias e
mieloide aguda; hepatoesplenomegalia são frequentes ao exame físico.
• condições genéticas: síndrome de Down (incidência 20 A radiografia simples de tórax pode revelar
vezes maior), neurofibromatose tipo 1, síndrome de alargamento do mediastino. Sintomas neurológicos
Klinefelter, síndrome de Kostmann, anemia de Fanconi; decorrentes da invasão de sistema nervoso central são
raros na LLA. Alterações metabólicas graves como
• tabagismo paterno e materno
hiperuricemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia e
Níveis séricos de folato e polimorfismos gênicos de hiperpotassemia, podem ser encontradas,
enzimas dependentes do folato também têm sido especialmente em crianças com acentuada
correlacionados a vários tipos de câncer, incluindo LLA. visceromegalia, leucometria acima de 50.000/mm³ ou
infiltração renal ao diagnóstico.
Doença testicular raramente é demonstrada citoplasmática e de superfície, podem ser indicados os
clinicamente ao diagnóstico e, em geral, manifesta-se três estágios de maturação de precursor B, ou seja, pró-
como aumento de volume indolor, sendo mais B, pré-B e B maduro. O antígeno CD10 (CALLA: antígeno
frequente unilateral. Quando há suspeita clínica, indica- comum da LLA), presente em 90% das leucemias pró-B e
se biópsia bilateral. 95% das pré-B, indica bom prognóstico. Os antígenos
CD2, CD3, CD5 e CD7 estão presentes nas leucemias de
células T, com prognósticos mais reservados.
Diagnóstico
O diagnóstico de LLA é firmado pela punção e análise do
esfregaço de medula óssea (mielograma), que revela Tratamento
25% ou mais de substituição do parênquima medular por As crianças com LLA são classificadas e tratadas de
linfoblastos. acordo com grupos de risco para recaída da doença (a
O hemograma revela várias alterações sugestivas da saber: risco baixo, intermédio e alto), que são definidos
doença. A anemia é evidente em praticamente todos os por características clínicas e biológicas apresentadas ao
casos e, em geral, é normocrômica, normocítica, com diagnóstico, e que possuem correlação com o
diminuição do número de reticulócitos. Pode ser leve, prognóstico da doença.
moderada ou grave. a) idade: Crianças entre um e nove anos de idade têm
O número de leucócitos é quase sempre aumentado, melhor sobrevida livre de eventos que crianças maiores
não sendo rara leucopenia. Em algumas crianças, pode de 10 anos, adolescentes e lactentes menores de 12
ser observada hiperleucocitose, acima de 50.000/mm3, meses.
o que indica maior gravidade. Os blastos (linfoblastos) Os adolescentes geralmente apresentam-se com
quase sempre são descritos em porcentagens variadas. leucometria acima de 50.000/mm³, leucemia derivada
Linfocitose pode ocorrer e, em um grande número de de células T ou alta frequência da fusão BCR/ABL, que
pacientes, observa-se neutropenia. Considera-se são características reconhecidas como de mau
neutropenia grave quando a contagem absoluta de prognóstico. Os adolescentes de 16 a 21 anos de idade
neutrófilos está abaixo de 500/mm3, estando têm melhores resultados de sobrevida quando tratados
relacionada a um maior risco de infecção grave. Os com protocolos de tratamento de LLA para crianças do
outros tipos de leucócitos normais (eosinófilos, que com protocolos para adultos, porque os protocolos
monócitos e basófilos) geralmente estão diminuídos ou de adultos são mais leves e destinados a pessoas de até
ausentes. 60 anos, cuja tolerância às drogas é menor.
A trombocitopenia ocorre na maioria dos pacientes e, A LLA dos lactentes menores de 12 meses tem um
em aproximadamente 75% dos casos, a contagem é prognóstico desfavorável em relação às crianças
inferior a 100.000 plaquetas/mm3. maiores. Seus linfoblastos são mais resistentes à
Na primeira avaliação, devem ser solicitados ureia, quimioterapia, têm alta frequência de anormalidades no
creatinina, eletrólitos, ácido úrico, gasometria, enzimas cromossomo 11q23, que causa anormalidades no gene
hepáticas, albumina, desidrogenase lática e sorologias. MLL (mixed lineage leukemia), são de imunofenótipo B
Caso o paciente tenha histórico de febre, também muito imaturo (pró-B) e apresentam grande quantidade
devem ser solicitadas hemoculturas, uroculturas e de doença ao diagnóstico (alta leucometria,
proteína C reativa. A radiografia de tórax deve ser feita visceromegalia).
em todos os pacientes, e a do esqueleto, em situações b) Celularidade ao diagnóstico: A celularidade elevada ao
mais específicas de acordo com as queixas dolorosas. diagnóstico é um fator de risco para os pacientes com
O diagnóstico é confirmado pelo mielograma, LLA derivada de linfócitos B. A leucometria de
avaliando-se as características citomorfológicas dos 50.000/mm3 é geralmente o ponto de corte entre bom
blastos. Para o diagnóstico de LLA, devem ser e mau prognóstico. Leucometrias elevadas se associam a
observados, no mínimo, 25% de linfoblastos na medula alterações genéticas desfavoráveis.
óssea. Existem três subtipos de blastos: L1, L2 e L3. O c) Envolvimento do sistema nervoso central ao
subtipo L1 é o mais comum. diagnóstico: O acometimento do sistema nervoso central
A imunofenotipagem realizada pela citometria de fluxo (SNC) pelos blastos linfoides pode ter importância no
permite confirmar o diagnóstico e detectar doença prognóstico. De acordo com a presença ou ausência de
residual mínima. Pela expressão de imunoglobulina
blastos no líquor e o número de células são definidas as A hiperdiploidia (> 50 cromossomos) é um fator
seguintes situações: favorável, pois torna os linfoblastos muito sensíveis à
quimioterapia e propensos à apoptose espontânea.
•• SNC1: menos de cinco células e ausência de blastos;
Pacientes com idade e leucometria favoráveis,
•• SNC2: menos de cinco células e presença de blastos; associadas à trissomia dos cromossomos 4, 10 ou 17
•• SNC3: cinco ou mais células e presença de blastos. também têm bom prognóstico.

Crianças com LLA e invasão de SNC ao diagnóstico A hipodiploidia (< 45 cromossomos) está presente em
(SNC3) têm maior risco de falha terapêutica quando menos de 1% das crianças com LLA. São pacientes com
comparadas àquelas sem invasão. Pacientes com SNC2 grandes chances de falha terapêutica, que pioram
têm risco maior de recidiva em SNC, fato que depende conforme diminui o número de cromossomos, com
do esquema terapêutico aplicado. Qualquer fator que perspectiva de sobrevida ao redor de 38,5% ± 4,4%.
aumente o risco de recaída na situação de SNC2 pode e) Velocidade de resposta ao tratamento: O
ser superado com a aplicação de quimioterapia desaparecimento das células leucêmicas do sangue no
intratecal mais intensiva oitavo dia de tratamento e da medula óssea no 15o e
A punção lombar traumática ao diagnóstico leva blastos 35o dia de tratamento, mensurado por técnicas de
ao SNC, e parece estar associada a um pior prognóstico. citologia, citometria de fluxo real-time PCR é importante
fator na definição do risco de recaída da doença.
d) Sexo e raça: O prognóstico das meninas é levemente
melhor que o dos garotos em alguns estudos. A f) Grupos de risco: São classificados como de risco básico
sobrevida de crianças negras ou latinas é levemente (ou baixo risco de recaída) aqueles pacientes com idade
pior. Essa controvérsia talvez se deva ao esquema entre um e nove anos e que apresentam uma
terapêutico empregado. Crianças asiáticas e caucasianas leucometria menor que 50.000/mm³ ao diagnóstico. Os
têm maior sobrevida, mas a causa não é bem conhecida demais são classificados como de alto risco para recaída.
e nem pode ser explicada pelos reconhecidos fatores de Tratamento
prognóstico.
Indução da remissão
e) Características da célula leucêmica Nessa fase, o objetivo é eliminar mais de 99% das células
Imunofenotipagem: A imunofenotipagem é essencial leucêmicas e restaurar a hematopoese normal e o
para o diagnóstico de LLA, pois permite a determinação estado clínico do paciente. Geralmente, essa fase inclui
da linhagem celular, do estágio de diferenciação e da o uso de glicocorticoides (dexametasona, prednisona),
origem clonal da célula leucêmica. É útil também para vincristina e pelo menos um terceiro agente, como a
acompanhar a resposta terapêutica e o desaparecimento asparaginase ou uma antraciclina, ou ambos. O uso de
do clone leucêmico durante o tratamento. Atualmente, pelo menos três ou mais drogas na fase de indução evita
utiliza-se o citômetro de fluxo e anticorpos monoclonais o surgimento de células resistentes e resulta em melhora
para se determinar os antígenos celulares característicos na sobrevida.
de cada grupo imunofenotípico das leucemias. A dexametasona é mais eficiente que a prednisona na
Os linfoblastos da LLA podem ser de linhagem linfoide B prevenção de recaídas isoladas em SNC em pacientes de
ou T, em vários estágios de diferenciação: pró-B, pré-B, baixo risco, mas causa maior toxicidade a curto e longo
pré-B de transição, B madura e T. prazo.

Os pacientes com LLA B-derivada e idade entre um e A fase de indução resulta em remissão completa da
cinco anos têm sobrevida livre de eventos ao redor de doença em aproximadamente 98% das crianças tratadas.
80%. Para os pacientes com LLA T-derivada, o
Intensificação e consolidação tardia
prognóstico não tem relação com a idade e a sobrevida
Essa fase se inicia quando a hematopoese é restaurada
livre de eventos é de aproximadamente 58% na referida
e muito contribui para a melhora da sobrevida livre de
faixa etária entre um e cinco anos.
eventos. Methotrexate em altas doses e 6-
Citogenética e genética molecular: A presença de mercaptopurina, altas doses de asparaginase e
determinadas translocações nas células leucêmicas tem esquemas semelhantes à indução são utilizados.
implicações no prognóstico e pode ser utilizada para
definir um grupo de pacientes que requer tratamento
Manutenção
Após a intensificação, os pacientes com LLA devem
mais agressivo.
receber terapia de manutenção por 18 a 30 meses,
constituída da combinação de 6-mercaptopurina e correspondem a um risco estimado de 1,52 casos novos
methotrexate, administrados à máxima tolerância. A a cada 100 mil homens e de 0,95 para cada 100 mil
inclusão de “pulsos” periódicos de vincristina e mulheres.
glicocorticoides durante a fase de manutenção aumenta
O linfoma de Hodgkin pode acometer tanto crianças
a sobrevida de crianças de baixo risco tratadas com
como adultos, mas é mais comum no início da idade
protocolos que não incluem uma intensificação tardia.
adulta (especialmente na faixa dos 20 anos). O risco de
Transplante alogênico de medula óssea linfoma aumenta novamente no final da vida adulta
Essa modalidade terapêutica poderia beneficiar alguns (após os 55 anos). Em geral, a idade média do
pacientes de muito alto risco, como aqueles com a fusão diagnóstico é 39 anos.
BCR-ABL, rearranjos 11q23, lactentes menores de 12 O linfoma de Hodgkin é raro em crianças de até 5 anos.
meses com leucometria > 100.000/mm³ ou CD10 Mas é o câncer mais comumente diagnosticado em
negativo, leucemia T de alto risco ou os doentes com
adolescentes entre 15 e 19 anos.
falha de resposta ao início do tratamento.

Tratamento do sistema nervoso central O papel do vírus Epstein-Barr no LH


Com a introdução de tratamento profilático específico Proteínas e ácidos nucleicos do EBV têm sido
para o SNC com quimioterapia intratecal e radioterapia identificados em células RS de um subgrupo de pacientes
craniana combinadas, o número de recaídas isoladas em com LH clássico.
SNC foi reduzido a cerca de 5%. Os pacientes com O EBV é reconhecido como a causa da mononucleose
leucemia de células T, alta leucometria ao diagnóstico, infecciosa. O risco de LH EBV-positivo foi quatro vezes
anormalidades genéticas como as translocações t(9;22) maior em pacientes com mononucleose confirmada
(q34;q11) e t(4;11)(q21;q23) e a presença de células sorologicamente, enquanto não houve aumento do risco
leucêmicas no líquido cérebro-espinal ao diagnóstico de LH EBVnegativo. O tempo mediano entre o
têm maior chance de recaída em SNC. diagnóstico de mononucleose e o desenvolvimento de
A radioterapia do SNC é uma técnica muito eficiente na LH EBV-positivo foi de aproximadamente 4 anos.
prevenção e tratamento da invasão de SNC pela LLA, Mesmo que apenas alguns dos genes do vírus sejam
mas pode desencadear complicações tardias como expressos nas células RS, eles podem ter um papel muito
deficiência cognitiva, distúrbios de crescimento e importante. Duas proteínas de membrana, LMP1 e
segundas neoplasias. Por isso, hoje em dia, seu uso é LMP2a são expressas, além do EBNA1 (antígeno nuclear
restrito àqueles pacientes com alto risco de recaída em 1 do EBV), o qual é essencial para a replicação do
SNC. genoma viral durante a proliferação celular. A LMP1 é
Nos demais, pode ser substituída pela tripla muito semelhante a um receptor de CD40 ativado, e a
quimioterapia intratecal (methotrexate/citarabina/ LMP2a, a um B-cell receptor (BCR). Dessa maneira, o EBV
dexametasona) e quimioterapia sistêmica intensiva consegue simular duas sinalizações que são
(methotrexate e citarabina em doses elevadas). fundamentais para a sobrevivência de células B do
centro germinativo - as quais, acredita-se, seriam a
“versão nomal” da célula de RS. Assim, células B do
Objetivo 6: Linfomas de Hodgkin centro germinativo que estariam “condenadas” à
no adulto apoptose podem sobreviver e em alguns casos originar
células RS pela expressão de LMP2a.
O Linfoma de Hodgkin (LH) é uma neoplasia linfo-
proliferativa, descrita em 1832 por Thomas Hodgkin,
caracterizada histopatologicamente pela presença de Atualmente, o LH é classificado em duas entidades
células malignas denominadas Reed-Sternberg (RS), distintas, o LH nodular, com predominância linfocitária
envolvidas em substrato celular de aspecto inflamatório (LHPL), e o LH clássico; este é subdividido em esclerose
e que apresenta clinicamente, em mais de 90% dos nodular (LHCEN), rico em linfócitos (LHCRL),
casos, uma linfadenomegalia periférica indolor. celularidade mista (LHCCM) e depleção linfocitária
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para (LHCDL). Compreender a classificação do linfoma de
cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no Hodgkin auxilia no entendimento de sua implicância
Brasil 2.640 novos casos de linfoma de Hodgkin (1.590 clínica e prognóstica.
em homens e 1.050 em mulheres). Esses valores
Nodular: Predomínio linfocitário (LHCPL)
A apresentação clínica é tipicamente localizada e mais
comumente envolve linfonodos periféricos, cervicais,
axilares ou inguinais. A doença afeta pacientes de todas
as idades, com pico de incidência na 4ª década de vida,
homens mais frequentemente que mulheres, e
apresenta um comportamento clínico indolente.
Sintomas sistêmicos como febre, perda de peso e de
crescimento nodular, de modo que o LHCPL pode evoluir
para um processo quase indistinguível do linfoma B de
grandes células rico em T e histiócitos.
Há intensa proliferação de linfócitos pequenos com Linfoma de Hodgkin, esclerose nodular. Bandas espessas
distribuição vagamente nodular, em meio aos quais se de colágeno separando os nódulos tumorais.
encontram células linfocítico-histiocíticas (L&H). Estas,
ao contrário da célula RS, expressam CD20 e CD45, mas
são negativas para CD15 e CD30. Os pequenos linfócitos
agregados em torno das células L&H têm imunofenótipo
Histopatologia e tipos de LH
T; os demais linfócitos pequenos apresentam A célula neoplásica do LH
imunofenótipo B. Este tipo de linfoma não tem O LH é uma neoplasia sui generis no fato de que as
associação com o EBV. células neoplásicas constituem uma população
minoritária nos linfonodos afetados (cerca de 1%). A
Linfoma de Hodgkin clássico subtipo
célula clássica de Reed-Sternberg é pouco vista; células
esclerose nodular
que exibem um fenótipo similar, porém características
O LH esclerose nodular (LHCEN) apresenta algumas
morfológicas variadas, são mais comuns – sendo
características peculiares. Adultos jovens são mais
chamadas coletivamente de células de Hodgkin/ RS
frequentemente acometidos que idosos e esse subtipo é
(HRS).
mais comum em países desenvolvidos, de modo que ele
é o responsável pelo pico de incidência mais precoce O LH é uma neoplasia caracterizada por proliferação das
visto em populações ocidentais. Ele difere dos outros células RS e suas variantes em um substrato
subtipos de LH clássico também por ser mais comum em inflamatório. A célula RS, ou célula diagnóstica, é uma
mulheres que em homens, e menos frequentemente célula grande, com citoplasma amplo, binucleada ou
associado à infecção pelo EBV. multinucleada, com nucléolo evidente e eosinofílico, e
cromatina perifericamente condensada. As células de
Do ponto de vista clínico, o envolvimento mediastinal é
Hodgkin, variantes da RS, são mononucleadas com
mais comum no LHCEN do que em qualquer outro
nucléolos evidentes. A célula RS isolada não dá
subtipo de LH clássico. Há uma proximidade com o
diagnóstico de linfoma de Hodgkin, deve estar junto com
linfoma de grandes células B primário de mediastino:
linfócitos.
ambos não apresentam expressão de imunoglobulina e
expressão funcional de MHC de classe I, além de
mostrarem anormalidades citogenéticas comuns. Ainda,
a existência de linfomas mediastinais de zona cinzenta
(com características morfológicas e imunofenotípicas
comuns a ambos os tipos) reforça essa proximidade.
A principal característica histológica é a proliferação de
faixas de tecido fibroso colagênico delimitando nódulos
celulares irregulares, formados em maior ou menor grau
por linfócitos, eosinófilos, plasmócitos e células RS,
principalmente da variante lacunar. Pode ser subdividido
em dois tipos: tipo 1, pobre em células neoplásicas, com
predomínio de linfócitos; tipo 2, no qual mais de 50% do
Célula RS.
nódulo são constituídos por células neoplásicas.
As células RS estão sempre circundadas por células
inflamatórias reacionais, geralmente linfócitos T.
As HRS e as células LP do linfoma de células não Hodgkin
são derivadas de células B do centro germinativo,
apresentando mutações somáticas nos genes da
imunoglobulina. Entretanto, apesar de sua origem, as
células HRS apresentam uma perda global da expressão
gênica de células B, uma vez que não produzem
imunoglobulina e não têm um BCR funcional.
De maneira geral, mutações desse tipo em células B do
centro germinativo interrompem a diferenciação e Células de Reed-Sternberg. CD30+ em padrão de
levam à apoptose. O fato de que as células HRS membrana com reforço na região do complexo de Golgi.
continuam a proliferar, apesar dessas mutações
Se um diagnóstico definitivo não pode ser fechado com
deletérias, sugere que de alguma maneira elas adquirem
esses marcadores, a adição de fascina, CD791, CD45,
a capacidade de interromper o processo de apoptose,
hibridização in situ para RNA de EBV (EBER), PAX-5 e os
sobreviver e continuar a proliferação. Interromper a
fatores de transcrição de células B Oct2, BOB1, PU1
apoptose parece ser o evento oncogênico mais
podem auxiliar.
significativo na linfomagênese do LH clássico, evento
esse, possível através de várias estratégias: ativação A associação com EBV no linfoma de Hodgkin esclerose
constitutiva do fator de transcrição NFkB de maneira nodular é ausente, enquanto nos clássicos é presente
autônoma, pelo EBV ou por inativação dos seus em grande porcentagem dos casos.
inibidores; inativação da via do receptor de morte
CD95/FasR39; alteração da regulação da família de
proteínas bcl-240, entre outras.
As células HRS também produzem citocinas que têm a
finalidade de auxiliar a sobrevivência e a proliferação
celular, atuando como fatores parácrinos ou autócrinos,
e que resultam no infiltrado inflamatório típico da
histologia do LH clássico.

Imunofenotipagem
As células HRS podem ser caracterizadas por marcadores
linhagem-específicos, marcadores de ativação e fatores
de transcrição. Um painel de anticorpos mínimo que
geralmente resulta num diagnóstico confiável de LH
clássico inclui CD15, CD30, CD20 e CD3. Em
aproximadamente 85% dos casos, CD15 é positivo,
enquanto CD30 é expresso quase universalmente.
No LH clássico, os marcadores linfoides podem ser
negativos, e, caracteristicamente, as células são CD45–
e CD30/CD15+. O LH com predomínio linfocitário
nodular é doença indolente, com células RS do tipo
linfocítico-histiocítico que, imunofenotipicamente,
expressam marcadores de células B e do antígeno
leucocitário comum (CD45), diferentemente do tipo
clássico.
A maioria dos marcadores de linhagem B estão ausentes,
porém o CD20 é fracamente expresso em cerca de 50%
dos casos de LH clássico.
Assim, as células HRS possuem núcleo uni ou Manifestações clínicas
multilobulado, com, além de nucléolo grande e
eosinófilo e citoplasma abundante. Positivo para CD30 e Os LH originam-se praticamente apenas em linfonodos,
CD15, ou na membrana ou Golgi, possivelmente positivo diferente do Não Hodgkin, que é sistêmico. Em geral, os
para CD20 e EBV. linfonodos mais comprometidos são os cervicais,
embora os linfomas possam iniciar-se em qualquer
Linfoma de Hodgkin clássico rico em cadeia linfonodal. Os linfonodos comprometidos
linfócitos (LHCRL) apresentam aumento da consistência à palpação,
Destaca-se uma abundância de linfócitos normais, com redução da mobilidade, diminuição ou ausência de dor e
as células malignas encontradas em meio a um sensibilidade à manipulação. Em geral, o volume do
ambiente rico em células B nas zonas do manto e órgão aumenta progressivamente, embora às vezes
marginal de folículos reativos. lentamente.
As células neoplásicas têm o fenótipo clássico da célula Uma das primeiras manifestações da doença é aumento
HRS, porém são menores e podem ser confundidas com de um único grupo de linfonodos, geralmente na região
células LP, por isso a importância da avaliação cervical. Os linfonodos apresentam superfície de corte
imunoistoquímica para o diagnóstico preciso. homogênea e com consistência macia, tornando-se
Clinicamente, o LHCRL difere do LHCEN por raramente mais firme com o aumento da proliferação fibrosa. Em
apresentar envolvimento mediastinal e idade mais muitos casos, os linfonodos tornam-se aderentes e, às
avançada ao diagnóstico. O prognóstico é excelente. vezes, são vistas áreas de necrose. Em jovens, é
frequente o comprometimento do mediastino,
Linfomas de Hodgkin clássicos geralmente no tipo esclerose nodular.
celularidade mista e depleção linfocitária Quando há manifestações gerais, além do aumento do
Em contraste ao LHCEN, os subtipos LHCCM e LHCDL são
tamanho dos linfonodos ou do comprometimento de
associados a classes sociais mais baixas, maior
órgãos extranodais, fala-se que o paciente apresenta
prevalência em homens, infecção latente pelo EBV nas
sintomas B. As manifestações B são importantes, pois
células neoplásicas e um padrão típico de disseminação
sua presença pode indicar prognóstico menos favorável
pelo sistema linfático, poupando o mediastino e o timo.
que nos pacientes sem elas (denominados A).
Ambos os subtipos repartem características clínicas,
epidemiológicas e biológicas, diferindo principalmente As manifestações B incluem: (a) febre, geralmente
quanto ao grau de depleção dos linfócitos normais, a vespertina, sem outra causa aparente, superior a 38º C;
histologia e o comprometimento imunológico do (b) sudorese noturna abundante; (c) perda de mais de
hospedeiro. 10% do peso em menos de seis meses, sem causa
evidente. Alguns autores incluem prurido como
O subtipo LHCCM exibe um padrão de incidência
manifestação.
bimodal, sendo responsável pela maioria dos casos de
LH clássico na infância e aumentando sua incidência a Os sintomas B aparecem, em sua maioria, nos linfomas
partir da 6ª década - padrão semelhante ao da infecção clássicos, enquanto a incidência na esclerose nodular é
pelo EBV, visto nas crianças e idosos. LHCDL e LHCCM menor que 20%.
são histologias associadas a pior prognóstico, mesmo No linfoma de Hodgkin deve haver sequenciação das
atualmente, com tratamentos mais modernos. adenopatias, ou seja, não tem como ter adenopatia
O tipo celularidade mista constitui o segundo tipo mais cervical e depois abdominal, deve ter cervical, axilar e
comum e caracteriza-se por aspecto celular abdominal, sequencia.
heterogêneo, com numerosos eosinófilos, plasmócitos,
neutrófilos e macrófagos, menor número de linfócitos e
grande quantidade de células RS. Pode ou não
apresentar fibrose difusa, irregular, não formando faixas.
Este é o tipo que mais se associa ao EBV.
Radiografia do tórax mostrando alargamento do
mediastino por massa linfonodal.

Diagnóstico
Em vista da suspeita clínica de linfoma, a conduta é o
estudo histopatológico do linfonodo aumentado ou do
órgão comprometido por meio de biópsia, que pode ser
complementada com estudos imunológicos ou
moleculares

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