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Medicina – UniFG
SP 1.4 NCS4 Lívia Cambuí
• Pólipos Neoplásicos
Adenomas
Os pólipos neoplásicos mais comuns são adenomas
do cólon, que são precursores da maioria dos
adenocarcinomas colorretais. No entanto, é Embora a maioria dos adenomas colorretais
importante reconhecer que qualquer lesão consista em lesões benignas, uma pequena
expansiva neoplásica no trato GI pode produzir um proporção abriga um câncer invasivo por
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Alguns pacientes com polipose sem perda do acúmulo de mutações em taxas até mil vezes
APC apresentam mutações bialélicas do gene mais altas do que o normal, principalmente em
de reparo de excisão de base MUTYH (também regiões que contêm sequências repetidas curtas,
chamado de MYH). Esse distúrbio autossômico denominadas microssatélites. O genoma
recessivo é denominado polipose associada ao humano contém cerca de 50 a 100 mil
MUTYH, ou PAM. Diferentemente da PAF, a microssatélites, que são propensos a sofrer
PAM caracteriza-se por menos de cem pólipos, expansão durante a replicação do DNA e
que aparecem em idades mais avançadas. O representam os locais mais frequentes de
desenvolvimento do câncer de cólon também é mutações no HNPCC. As consequências da
tardio. deficiência de reparo de mau pareamento e a
instabilidade de microssatélites (MSI,
microsatellite instability) resultante são
Câncer colorretal hereditário sem polipose discutidas a seguir, no contexto do
adenocarcinoma do cólon.
O câncer colorretal hereditário sem polipose
(HNPCC, hereditary non-polyposis colorectal
cancer) é causado por mutações hereditárias em
Adenocarcinoma
genes de reparo de mau pareamento, que
codificam proteínas responsáveis pela O adenocarcinoma do cólon é a neoplasia
detecção, pela excisão e pelo reparo de erros maligna mais comum do trato GI e a principal
que ocorrem durante a replicação do DNA. causa de morbidade e mortalidade no mundo.
O HNPCC, também chamado de síndrome de Patogênese:
Lynch, foi originalmente descrito com base no
agrupamento familiar de cânceres em vários
locais, incluindo cólon, reto, endométrio,
estômago, ovários, ureter, encéfalo, intestino
delgado, trato hepatobiliar, pâncreas e pele.
Acredita-se que o HNPCC seja responsável por
2 a 4% de todos os cânceres colorretais, o que
o torna a forma sindrômica mais comum de
câncer de cólon. Os cânceres de cólon em
pacientes com HNPCC tendem a ocorrer em
idades mais jovens do que os cânceres de cólon
esporádicos e, com frequência, estão
localizados no cólon direito.
A descoberta dos defeitos no HNPCC
esclareceu os mecanismos responsáveis pela
maioria dos casos esporádicos remanescentes.
Existem pelo menos cinco genes de reparo de
mau pareamento, porém a maioria dos
pacientes com HNPCC apresenta mutações em
MSH2 ou MLH1. Os pacientes com HNPCC
herdam um gene mutante e um alelo normal.
Quando a segunda cópia é perdida por meio de A combinação de eventos moleculares que
mutação ou de silenciamento epigenético, os levam ao adenocarcinoma de cólon é
defeitos no reparo de mau pareamento levam ao heterogênea e inclui anormalidades genéticas e
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epigenéticas. Foram descritas pelo menos duas observadas mutações do KRAS em menos de
vias genéticas: a via APC/β-catenina, que é 10% dos adenomas com menos de 1 cm de
ativada na sequência clássica de diâmetro, porém em 50% dos adenomas com
adenomacarcinoma; e a via de MSI, que está mais de 1 cm de diâmetro e em 50% dos
associada a defeitos no reparo de mau adenocarcinomas invasivos, o que indica que se
pareamento do DNA e ao acúmulo de mutações trata de um evento tardio na progressão
em regiões de repetição de microssatélites do neoplásica.
genoma. Ambas as vias envolvem o acúmulo
A carcinogênese também está associada a
sequencial de múltiplas mutações, porém
mutações em genes supressores de tumor, como
diferem nos genes envolvidos e nos
os que codificam SMAD2 e SMAD4, que são
mecanismos pelos quais as mutações ocorrem.
efetores da sinalização do TGF-β. Como a
Os eventos epigenéticos, dos quais o mais sinalização do TGF-β normalmente inibe o
comum é o silenciamento gênico induzido por ciclo celular, a perda desses genes pode
metilação, podem aumentar a progressão ao permitir o crescimento celular descontrolado. O
longo de cada via: gene supressor de tumor TP53 está mutado em
70 a 80% dos cânceres de cólon, porém
A via APC/β-catenina
raramente é afetado nos adenomas, o que
A sequência clássica de adenoma-carcinoma sugere que as mutações do TP53 também
responde por até 80% dos cânceres esporádicos ocorrem em estágios mais avançados da
e normalmente inclui a mutação do APC no progressão da neoplasia. Com frequência, a
início do processo neoplásico. As duas cópias perda da função do TP53 e de outros genes
do gene APC precisam estar funcionalmente supressores de tumor é causada por deleções
inativadas, seja por mutação, seja por eventos cromossômicas, demonstrando que a
epigenéticos, para que ocorra o instabilidade cromossômica constitui uma
desenvolvimento de adenomas. característica fundamental da via APC/ β-
catenina.
A proteína APC liga-se normalmente à β-
catenina e promove a sua degradação; a β- Como alternativa, os genes supressores de
catenina é um componente da via de sinalização tumor podem ser silenciados por meio de
Wnt. metilação de zonas ricas em CpG ou ilhas de
CpG dentro da região 5’, que geralmente inclui
Com a perda da função da APC, a β-catenina o promotor e o sítio de iniciação transcricional
acumula-se e é translocada para o núcleo, onde de alguns genes. A expressão da telomerase
forma um complexo com o fator de ligação do também aumenta à medida que as lesões se
DNA TCF e ativa a transcrição de genes, tornam mais avançadas.
incluindo MYC e a ciclina, que promovem a
proliferação. O papel fundamental da β- A via de MSI
catenina nessa via é demonstrado pelo fato de
Em pacientes com deficiência de reparo de mau
que muitos cânceres de cólon sem mutações do
pareamento do DNA, as mutações acumulam-
APC abrigam mutações de β-catenina que
se em repetições de microssatélites, condição
impedem a degradação dependente de APC,
denominada instabilidade de microssatélites
possibilitando, assim, o acúmulo de β-catenina,
(MSI). Essas condições são chamadas de
que ativa a sinalização Wnt.
neoplasias de MSI alta ou MSI-H. Algumas
Outras mutações se acumulam, incluindo sequências de microssatélites estão localizadas
mutações ativadoras no KRAS, que promovem nas regiões codificantes ou promotoras de
o crescimento e impedem a apoptose. São genes envolvidos na regulação do crescimento
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celular, como o receptor de TGF-β tipo II e a As neoplasias são compostas, em sua maioria,
proteína pró-apoptótica BAX. de células colunares altas, que se assemelham
ao epitélio displásico encontrado nos
Como o TGF-β inibe a proliferação das células
adenomas. O componente invasivo dessas
epiteliais do cólon, a mutação do TGFBR2, que
neoplasias desencadeia uma forte resposta
codifica o receptor de TGF-β tipo II, pode
desmoplásica estromal, que é responsável pela
contribuir para o crescimento celular
sua consistência firme característica.
descontrolado, ao passo que a perda de BAX
pode aumentar a sobrevida de clones
geneticamente anormais.
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razão de sua história natural, são passíveis de ser atribuíveis a diferenças nas exposições
ações de rastreamento e de diagnóstico precoce. dietéticas e ambientais que são impostas sobre
um histórico de suscetibilidade determinada
Bahia
geneticamente.
A Bahia registrou um aumento no número de
A idade é um importante fator de risco para
colonoscopias, exame para detectar o câncer
CCR esporádico. O câncer de intestino grosso
colorretal, em 2021. Foram 11.793
é incomum antes dos 40 anos; a incidência
procedimentos realizados no ano passado, ante
começa a aumentar significativamente entre as
7.660 em 2020, quando a pandemia de Covid-
idades de 40 e 50, e as taxas de incidência
19 iniciou no Brasil. No entanto, com o
específicas por idade aumentam em cada
coronavírus ainda presente, o índice de procura
década subsequente.
para prevenção da doença segue abaixo do
ideal. Em relação a 2019, houve uma queda de Dados mais recentes do banco de dados de
13%. Naquele ano, o número de exames foi de Vigilância, Epidemiologia e Resultados Finais
13.494. (SEER) dos Estados Unidos e outros registros
de câncer ocidentais sugerem que a incidência
Os dados são da regional da Bahia da Sociedade
de CCR está aumentando no grupo de menores
Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
de 50 anos, enquanto está diminuindo nos
Vale lembrar que, entre 2011 e 2021, o estado
grupos mais velhos.4 Nos Estados Unidos, a
liderou o ranking geral de óbitos por câncer
incidência de CCR em homens e mulheres com
colorretal no Nordeste, com 6.599 registros.
menos de 50 anos aumentou constantemente a
Oncologia: princípios e prática uma taxa de 2% ao ano de 1995 a 2016.
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