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SP 1.

4 NCS4 Lívia Cambuí

SP 1.4 – Aperta ou solta

Objetivo 1 – Descrever a fisiopatologia,


diagnóstico e prognóstico das poliposes
• Pólipos
O pólipo intestinal é uma alteração causada pelo
crescimento anormal da mucosa do trato
gastrointestinal. Pode ocorrer de forma
esporádica/isolada (mais comum) ou em síndromes
hereditárias. Os pólipos são classificados como Histológica:
neoplásicos ou não neoplásicos. Seus subtipos são:
1. Pólipos inflamatórios ou pseudopólipos:
hamartomatosos, inflamatórios, hiperplásicos,
serrilhados e adenomatosos. Os pólipos do cólon São constituídos de componentes estromais,
são detectáveis durante o exame de colonoscopia e epiteliais e células inflamatórias com ilhas de
geralmente são assintomáticos, mas podem ulcerar formato irregular de mucosa colônica intacta
e sangrar, causar tenesmo se estiverem no reto e até residual. Podem ser penduculados ou sésseis e não
mesmo obstrução intestinal. sofrem transformação neoplásica.
Começa como pequenas elevações da mucosa, e Os pacientes apresentam a tríade clínica de
esses pólipos são denominados sésseis, sem uma sangramento retal, secreção de muco e lesão
haste. Os pólipos sésseis aumentam, a proliferação inflamatória da parede retal anterior
de células adjacentes à massa e os efeitos de tração
sobre a protrusão luminal podem se combinar para
criar um pedículo. Os pólipos com pedículos são 2. Pólipos hemartomatosos:
denominados pediculados.
São geralmente benignos, constituídos por
elementos de tecido normalmente encontrados
naquele local, mas crescem em uma massa
desorganizada, podendo ser necessária sua excisão
pelo potencial crescimento e desenvolvimento de
sintomas.
Em geral, os pólipos intestinais podem ser
classificados em não neoplásicos ou neoplásicos. O Muitas síndromes de pólipos hamartomatosos são
pólipo neoplásico mais comum é o adenoma, que causadas por mutações de linhagem germinativa em
tem o potencial de evoluir para câncer. Os pólipos genes supressores de tumor ou proto-oncogenes.
não neoplásicos podem ser classificados como • Pólipos juvenis: que são lesões
inflamatórios, hamartomatosos ou hiperplásicos. hemartomatosas em uma lâmina própria e
glândulas císticas dilatadas, sem um
número aumentado de células epiteliais. A
maioria ocorre em crianças com idade
inferior a 5 anos, porém os pólipos tanto
esporádicos quanto sindrômicos podem
surgir em idades mais avançadas
• Pólipos de Peutz-Jeghers: lesão
hemartomatosa do epitélio glandular
sustentado por células musculares lisas que
são contíguas à mucosa muscular.
Classificação: Os pólipos colorretais podem ser • Síndrome de Cronkhite-Canadá: é uma
classificados pela sua histologia e morfologia. doença rara, associada a alopecia, polipose

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gastrointestinal, onicodistrofia, perda de pólipo. Os pólipos neoplásicos mais comuns são


peso e dor abdominal. Os pólipos são adenomas do cólon, que são precursores da maioria
hamartomas e não parecem neoplásicos dos adenocarcinomas colorretais. No entanto, é
patologicamente. As características desse importante reconhecer que qualquer lesão
tipo de pólipo incluem expansão mixóide expansiva neoplásica no trato GI pode produzir um
da lâmina própria e aumento de eosinófilos pólipo.
nos pólipos
Como esses pólipos são precursores do
adenocarcinoma colorretal, recomenda-se uma
vigilância a partir dos 45 a 50 anos. Os indivíduos
3. Pólipos hiperplásicos:
com risco aumentado, incluindo os que têm história
Em geral são encontrados no retossignmoide e são familiar de adenocarcinoma colorretal, são
menores que 5 mm, sem risco de malignidade, normalmente submetidos a rastreamento por
normalmente descobertas na sexta e na sétima colonoscopia pelo menos dez anos antes da menor
década de vida. Eles são compostos de idade em que um parente foi diagnosticado. A
componentes celulares normais, não exibem abordagem preferida para o rastreamento varia,
displasia e sua proliferação ocorre principalmente porém, a colonoscopia constitui a modalidade mais
na porção basal da cripta dos pólipos. Ao exame frequente.
histológico, os pólipos hiperplásicos são compostos
de células caliciformes e absortivas maduras, com
arquitetura de superfície serrilhada, que constitui a
característica morfológica dessas lesões. O
serrilhado limita-se normalmente ao terço superior
da cripta.

• Pólipos Neoplásicos
Adenomas
Os pólipos neoplásicos mais comuns são adenomas
do cólon, que são precursores da maioria dos
adenocarcinomas colorretais. No entanto, é Embora a maioria dos adenomas colorretais
importante reconhecer que qualquer lesão consista em lesões benignas, uma pequena
expansiva neoplásica no trato GI pode produzir um proporção abriga um câncer invasivo por

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ocasião de sua detecção. O tamanho constitui a


característica mais importante correlacionada
Polipose adenomatosa familiar
com o risco de neoplasia maligna.

Classificação dos pólipos adenomatosos u


Adenomas tubulares (85% dos casos):
A. Presença de centenas de pequenos pólipos em todo o cólon,
Em geral, têm pequeno tamanho (não com um pólipo dominante (à direita). B. Três adenomas
tubulares estão presentes no campo microscópico
ultrapassam o diâmetro de 2 cm) e são
pediculados. Apresentam melhor prognóstico. A polipose adenomatosa familiar (PAF) é um
distúrbio autossômico dominante, em que os
Adenomas vilosos (5% a 10% dos casos): são
pacientes desenvolvem numerosos adenomas
maiores do que os tubulares (podem atingir até
colorretais na adolescência. A PAF é causada
10 cm de diâmetro) e geralmente são sésseis
por mutações somáticas no gene da polipose
(não pedunculados). Maior risco de
adenomatosa do cólon, ou APC, que constitui
malignização: os vilosos são os vilões!
um regulador negativo fundamental da via de
Adenomas tubulovilosos (5% a 10% dos sinalização Wnt. Aproximadamente 75% dos
casos): são uma “mistura” desses dois padrões; casos são hereditários, ao passo que o restante
têm prognóstico intermediário. parece ser causado por mutações de novo.
Além disso, os pólipos adenomatosos podem São necessários pelo menos 100 pólipos para o
ser classificados quanto ao grau de displasia na estabelecimento do diagnóstico de PAF
histopatologia: clássica, porém milhares podem estar presente.
Adenomas planos ou deprimidos também são
• Sem displasia.
prevalentes na PAF, e adenomas microscópicos,
• Displasia de baixo grau.
que consistem em apenas uma ou duas criptas
• Displasia de alto grau.
displásicas, são comuns na mucosa de
aparência normal.
O adenocarcinoma colorretal se desenvolve em
100% dos pacientes com PAF não tratados, com
frequência antes dos 30 anos e quase sempre
aos 50. Em consequência, a colectomia
profilática constitui o tratamento padrão. A
colectomia evita o câncer colorretal, porém os
pacientes continuam correndo risco de
neoplasia em outros locais. A ampola de Vater
e o estômago são locais extracolônicos comuns
de adenomas em pacientes com PAF.

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Alguns pacientes com polipose sem perda do acúmulo de mutações em taxas até mil vezes
APC apresentam mutações bialélicas do gene mais altas do que o normal, principalmente em
de reparo de excisão de base MUTYH (também regiões que contêm sequências repetidas curtas,
chamado de MYH). Esse distúrbio autossômico denominadas microssatélites. O genoma
recessivo é denominado polipose associada ao humano contém cerca de 50 a 100 mil
MUTYH, ou PAM. Diferentemente da PAF, a microssatélites, que são propensos a sofrer
PAM caracteriza-se por menos de cem pólipos, expansão durante a replicação do DNA e
que aparecem em idades mais avançadas. O representam os locais mais frequentes de
desenvolvimento do câncer de cólon também é mutações no HNPCC. As consequências da
tardio. deficiência de reparo de mau pareamento e a
instabilidade de microssatélites (MSI,
microsatellite instability) resultante são
Câncer colorretal hereditário sem polipose discutidas a seguir, no contexto do
adenocarcinoma do cólon.
O câncer colorretal hereditário sem polipose
(HNPCC, hereditary non-polyposis colorectal
cancer) é causado por mutações hereditárias em
Adenocarcinoma
genes de reparo de mau pareamento, que
codificam proteínas responsáveis pela O adenocarcinoma do cólon é a neoplasia
detecção, pela excisão e pelo reparo de erros maligna mais comum do trato GI e a principal
que ocorrem durante a replicação do DNA. causa de morbidade e mortalidade no mundo.
O HNPCC, também chamado de síndrome de Patogênese:
Lynch, foi originalmente descrito com base no
agrupamento familiar de cânceres em vários
locais, incluindo cólon, reto, endométrio,
estômago, ovários, ureter, encéfalo, intestino
delgado, trato hepatobiliar, pâncreas e pele.
Acredita-se que o HNPCC seja responsável por
2 a 4% de todos os cânceres colorretais, o que
o torna a forma sindrômica mais comum de
câncer de cólon. Os cânceres de cólon em
pacientes com HNPCC tendem a ocorrer em
idades mais jovens do que os cânceres de cólon
esporádicos e, com frequência, estão
localizados no cólon direito.
A descoberta dos defeitos no HNPCC
esclareceu os mecanismos responsáveis pela
maioria dos casos esporádicos remanescentes.
Existem pelo menos cinco genes de reparo de
mau pareamento, porém a maioria dos
pacientes com HNPCC apresenta mutações em
MSH2 ou MLH1. Os pacientes com HNPCC
herdam um gene mutante e um alelo normal.
Quando a segunda cópia é perdida por meio de A combinação de eventos moleculares que
mutação ou de silenciamento epigenético, os levam ao adenocarcinoma de cólon é
defeitos no reparo de mau pareamento levam ao heterogênea e inclui anormalidades genéticas e

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epigenéticas. Foram descritas pelo menos duas observadas mutações do KRAS em menos de
vias genéticas: a via APC/β-catenina, que é 10% dos adenomas com menos de 1 cm de
ativada na sequência clássica de diâmetro, porém em 50% dos adenomas com
adenomacarcinoma; e a via de MSI, que está mais de 1 cm de diâmetro e em 50% dos
associada a defeitos no reparo de mau adenocarcinomas invasivos, o que indica que se
pareamento do DNA e ao acúmulo de mutações trata de um evento tardio na progressão
em regiões de repetição de microssatélites do neoplásica.
genoma. Ambas as vias envolvem o acúmulo
A carcinogênese também está associada a
sequencial de múltiplas mutações, porém
mutações em genes supressores de tumor, como
diferem nos genes envolvidos e nos
os que codificam SMAD2 e SMAD4, que são
mecanismos pelos quais as mutações ocorrem.
efetores da sinalização do TGF-β. Como a
Os eventos epigenéticos, dos quais o mais sinalização do TGF-β normalmente inibe o
comum é o silenciamento gênico induzido por ciclo celular, a perda desses genes pode
metilação, podem aumentar a progressão ao permitir o crescimento celular descontrolado. O
longo de cada via: gene supressor de tumor TP53 está mutado em
70 a 80% dos cânceres de cólon, porém
A via APC/β-catenina
raramente é afetado nos adenomas, o que
A sequência clássica de adenoma-carcinoma sugere que as mutações do TP53 também
responde por até 80% dos cânceres esporádicos ocorrem em estágios mais avançados da
e normalmente inclui a mutação do APC no progressão da neoplasia. Com frequência, a
início do processo neoplásico. As duas cópias perda da função do TP53 e de outros genes
do gene APC precisam estar funcionalmente supressores de tumor é causada por deleções
inativadas, seja por mutação, seja por eventos cromossômicas, demonstrando que a
epigenéticos, para que ocorra o instabilidade cromossômica constitui uma
desenvolvimento de adenomas. característica fundamental da via APC/ β-
catenina.
A proteína APC liga-se normalmente à β-
catenina e promove a sua degradação; a β- Como alternativa, os genes supressores de
catenina é um componente da via de sinalização tumor podem ser silenciados por meio de
Wnt. metilação de zonas ricas em CpG ou ilhas de
CpG dentro da região 5’, que geralmente inclui
Com a perda da função da APC, a β-catenina o promotor e o sítio de iniciação transcricional
acumula-se e é translocada para o núcleo, onde de alguns genes. A expressão da telomerase
forma um complexo com o fator de ligação do também aumenta à medida que as lesões se
DNA TCF e ativa a transcrição de genes, tornam mais avançadas.
incluindo MYC e a ciclina, que promovem a
proliferação. O papel fundamental da β- A via de MSI
catenina nessa via é demonstrado pelo fato de
Em pacientes com deficiência de reparo de mau
que muitos cânceres de cólon sem mutações do
pareamento do DNA, as mutações acumulam-
APC abrigam mutações de β-catenina que
se em repetições de microssatélites, condição
impedem a degradação dependente de APC,
denominada instabilidade de microssatélites
possibilitando, assim, o acúmulo de β-catenina,
(MSI). Essas condições são chamadas de
que ativa a sinalização Wnt.
neoplasias de MSI alta ou MSI-H. Algumas
Outras mutações se acumulam, incluindo sequências de microssatélites estão localizadas
mutações ativadoras no KRAS, que promovem nas regiões codificantes ou promotoras de
o crescimento e impedem a apoptose. São genes envolvidos na regulação do crescimento

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celular, como o receptor de TGF-β tipo II e a As neoplasias são compostas, em sua maioria,
proteína pró-apoptótica BAX. de células colunares altas, que se assemelham
ao epitélio displásico encontrado nos
Como o TGF-β inibe a proliferação das células
adenomas. O componente invasivo dessas
epiteliais do cólon, a mutação do TGFBR2, que
neoplasias desencadeia uma forte resposta
codifica o receptor de TGF-β tipo II, pode
desmoplásica estromal, que é responsável pela
contribuir para o crescimento celular
sua consistência firme característica.
descontrolado, ao passo que a perda de BAX
pode aumentar a sobrevida de clones
geneticamente anormais.

Embora a morfologia não possa definir de


maneira confiável os eventos moleculares
subjacentes que levam à carcinogênese, certas
correlações foram associadas à deficiência de
reparo de mau pareamento e à MSI. Essas
alterações moleculares são comuns nos
adenomas serrilhados sésseis e nos cânceres
que surgem a partir deles.
Além disso, os carcinomas invasivos com MSI
geralmente apresentam diferenciação mucinosa
proeminente e infiltrados linfocíticos Características clínicas e prognóstico
peritumorais. Essas neoplasias, bem como
A disponibilidade de rastreamento
aquelas com fenótipo de hipermetilação de
endoscópico associada ao conhecimento de que
ilhas de CpG, estão normalmente localizadas
a maioria dos carcinomas surge a partir de
no cólon direito.
adenomas fornece uma oportunidade única para
A MSI pode ser identificada pela ausência de a prevenção do câncer. Infelizmente, os
coloração imuno-histoquímica para proteínas cânceres colorretais desenvolvem-se de modo
de reparo de mau pareamento ou por análise insidioso e podem passar despercebidos por
genética molecular de sequências de longos períodos.
microssatélites.
Os cânceres de ceco e outros cânceres de cólon
Morfologia: do lado direito chamam mais frequentemente a
atenção clínica pelo aparecimento de fadiga e
De forma geral, os adenocarcinomas estão fraqueza devido à anemia ferropriva. Por
quase igualmente distribuídos ao longo de toda conseguinte, é uma máxima clínica que a causa
a extensão do cólon. As neoplasias no cólon subjacente da anemia ferropriva em um homem
proximal com frequência crescem como massas idoso ou em mulheres na pós-menopausa é um
exofíticas polipoides, que se estendem ao longo câncer GI, até que se prove o contrário.
de uma parede do ceco e do cólon ascendente;
essas neoplasias raramente causam obstrução. Os adenocarcinomas colorretais do lado
Em contrapartida, os carcinomas no cólon esquerdo podem produzir sangramento oculto,
distal tendem a ser lesões anulares, que alterações no hábito intestinal ou cólicas e
produzem constrições em “anel de guardanapo” desconforto no quadrante inferior esquerdo do
e estreitamento luminal. abdome. Embora as variantes histológicas
pouco diferenciadas e mucinosas estejam

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associadas a um prognóstico mais reservado, os Sem considerar os tumores de pele não


dois fatores prognósticos mais importantes são melanoma, o câncer de cólon e reto ocupam a
a profundidade da invasão e a presença de terceira posição entre os tipos de câncer mais
metástases para linfonodos. frequentes no Brasil. As maiores taxas de
incidência são observadas na Região Sudeste
A invasão na muscular própria reduz
para homens e mulheres. Nela, é o segundo
significativamente a probabilidade de
mais incidente entre os homens (28,62 casos
sobrevida, que é ainda mais reduzida pela
por 100 mil), assim como no Centro-oeste
presença de metástases em linfonodos. As
(17,25 por 100 mil). Na Região Sul (26,89 por
metástases podem acometer linfonodos
100 mil), é o terceiro tumor mais frequente. Nas
regionais, os pulmões e os ossos; entretanto,
Regiões Nordeste (10,99 por 100 mil) e Norte
como resultado da drenagem portal do cólon, o
(7,05 por 100 mil), ocupam a quarta posição.
fígado constitui o local mais comum de lesões
Entre as mulheres, é o segundo mais frequente
metastáticas a distância.
nas Regiões Sudeste (28,88 por 100 mil), Sul
Esses fatores prognósticos foram originalmente (26,04 por 100 mil) e Centro-oeste (16,92 por
reconhecidos por Dukes e Kirklin e formam o 100 mil). Na Região Norte (7,78 por 100 mil),
cerne do sistema TNM (tumor- é o terceiro câncer mais incidente; e, na Região
linfonodosmetástase). A classificação TNM é Nordeste (13,08 por 100 mil), o quarto (Tabelas
utilizada para definir o estágio da neoplasia. 4, 19, 38, 46 e 55).
Comentários
A estimativa mundial, para o ano de 2020,
apontava mais de 1,9 milhão de casos novos de
câncer de cólon e reto (10,0%), correspondendo
ao terceiro tumor mais incidente entre todos os
cânceres. Entre os homens, ocorreram cerca de
1,1 milhão de casos novos, com um risco
estimado de 23,40 casos a cada 100 mil
homens. Entre as mulheres, 865 mil casos
novos, sendo o segundo tumor mais frequente,
com taxa de incidência de 16,20 casos a cada
100 mil mulheres.
Em termos de mortalidade no Brasil, em 2020,
Objetivo 2 – Identificar a epidemiologia dos ocorreram 20.245 óbitos por câncer de cólon e
tumores colorretais. reto (9,56 por 100 mil). Entre os homens, houve
O número estimado de casos novos de câncer 9.889 óbitos, correspondendo a 9,55 mortes por
de cólon e reto (ou câncer de intestino) para o 100 mil homens. Entre as mulheres, foram
Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, 10.356 mortes, correspondendo a 9,57 óbitos
é de 45.630 casos, correspondendo a um risco por 100 mil mulheres.
estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes, Os cânceres de cólon e reto apresentam alto
sendo 21.970 casos entre os homens e 23.660 potencial para prevenção primária, com a
casos entre as mulheres. Esses valores promoção à saúde por meio de estímulo a
correspondem a um risco estimado de 20,78 hábitos de vida e dietéticos saudáveis, e
casos novos a cada 100 mil homens e de 21,41 secundária, a partir da detecção precoce. Em
a cada 100 mil mulheres.

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razão de sua história natural, são passíveis de ser atribuíveis a diferenças nas exposições
ações de rastreamento e de diagnóstico precoce. dietéticas e ambientais que são impostas sobre
um histórico de suscetibilidade determinada
Bahia
geneticamente.
A Bahia registrou um aumento no número de
A idade é um importante fator de risco para
colonoscopias, exame para detectar o câncer
CCR esporádico. O câncer de intestino grosso
colorretal, em 2021. Foram 11.793
é incomum antes dos 40 anos; a incidência
procedimentos realizados no ano passado, ante
começa a aumentar significativamente entre as
7.660 em 2020, quando a pandemia de Covid-
idades de 40 e 50, e as taxas de incidência
19 iniciou no Brasil. No entanto, com o
específicas por idade aumentam em cada
coronavírus ainda presente, o índice de procura
década subsequente.
para prevenção da doença segue abaixo do
ideal. Em relação a 2019, houve uma queda de Dados mais recentes do banco de dados de
13%. Naquele ano, o número de exames foi de Vigilância, Epidemiologia e Resultados Finais
13.494. (SEER) dos Estados Unidos e outros registros
de câncer ocidentais sugerem que a incidência
Os dados são da regional da Bahia da Sociedade
de CCR está aumentando no grupo de menores
Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
de 50 anos, enquanto está diminuindo nos
Vale lembrar que, entre 2011 e 2021, o estado
grupos mais velhos.4 Nos Estados Unidos, a
liderou o ranking geral de óbitos por câncer
incidência de CCR em homens e mulheres com
colorretal no Nordeste, com 6.599 registros.
menos de 50 anos aumentou constantemente a
Oncologia: princípios e prática uma taxa de 2% ao ano de 1995 a 2016.

O câncer colorretal (CCR) é o terceiro câncer Fatores ambientais e genéticos podem


mais comumente diagnosticado em homens e o aumentar a probabilidade de desenvolver CCR.
segundo em mulheres. As taxas de incidência e Embora a suscetibilidade hereditária resulte no
mortalidade são substancialmente mais altas aumento de risco mais marcante, a maioria dos
em homens do que em mulheres.1 A mais CRCs são esporádicos, e não familiares.
recente estimativa mundial aponta que, nos
Vários distúrbios genéticos específicos, muitos
homens, ocorreram 1 milhão de casos novos de
dos quais são herdados de forma autossômica
câncer do cólon e reto, sendo o terceiro tumor
dominante, estão associados a um risco muito
mais incidente entre todos os cânceres, com um
alto de desenvolver câncer de cólon. A polipose
risco estimado de 26,6/100 mil.2
adenomatosa familiar (PAF) e a síndrome de
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer Lynch (câncer colorretal hereditário não
(INCA), estimam-se, para cada ano do triênio poliposo – HNPCC) são as mais comuns
de 2020-2022, 20.520 casos de câncer de cólon síndromes de câncer de cólon familiar, mas
e reto em homens e 20.470 em mulheres. Esses juntas essas duas condições são responsáveis
valores correspondem a um risco estimado de por apenas cerca de 5% dos casos de CCR.
19,63 casos novos a cada 100 mil homens e
19,03 para cada 100 mil mulheres.2
Globalmente, a incidência regional de CCR
varia mais de 10 vezes. As taxas de incidência
mais altas estão na Austrália e Nova Zelândia,
Europa e América do Norte, e as taxas mais
baixas são encontradas na África e centro-sul
da Ásia. Essas diferenças geográficas parecem

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Objetivo 3 – Identificar os fatores de risco e polipose juvenil, imunossupressão, tabagismo,


prevenção dos cânceres de colorretal álcool e outros.
Obs: complementar estudo com apostila Proliferação celular IV Prevenção
Fonte: Washington Manual: Oncologia; Dynamed
O câncer colorretal é o terceiro câncer mais
Fatores de risco comum no mundo
Os riscos ao longo da vida para o As causas da doença são o acúmulo de
desenvolvimento de CRC são os seguintes: alterações genéticas e epigenéticas. Prováveis
fatores de risco incluem:
População geral 5%.
Dieta, incluindo consumo de carne vermelha e
História pessoal 15 a 20%.
processada, consumo de álcool e baixo
Doença intestinal inflamatória 15 a 40%. consumo de vegetais e frutas sem amido
Câncer colorretal hereditário não polipose Fatores de estilo de vida, incluindo estilo de
(HNPCC) 70 a 80% ou síndrome de Lynch. vida sedentário e tabagismo
HNPCC é caracterizado pelo início precoce de
• Considerações dietéticas
câncer de cólon e adenomas, mas não polipose.
HNPCC é dominante autossômico com 80% de Maior consumo dos seguintes alimentos
penetrância e é ocasionado por mutação nos associados à redução do risco de câncer
genesMMRMLH1, MSH2, MSH6, PMS1, colorretal:
PMS2 e MSH3. As manifestações
extracolônicas incluem câncer endometrial, Alguns vegetais e frutas, incluindo flavonóis
ovariano, gástrico, urogenital, do ducto biliar e totais de frutas e vegetais, leite não fermentado,
glândulas sebáceas (Muir-Torre). peixe, vitaminas e minerais
Uso de vitaminas e minerais específicos
Polipose adenomatosa familiar (FAP) > 95%. associados à redução do risco de câncer
FAP é caracterizada pela presença de milhares colorretal: multivitaminas, vitamina B6,
de pólipos com uma herança dominante cálcio na população em geral, mas não quando
autossômica com alta penetrância e uma usado em combinação com vitamina D em
prevalência de 1em 8.000. O gene supressor mulheres, magnésio para câncer retal em
APC está localizado no cromossomo 5q21, que mulheres, zinco
é importante na adesão celular, transdução de Evidências inconsistentes para determinar se a
sinal e ativação trascricional em sua interação suplementação de ácido fólico está associada à
com beta-catenina e o caminho Wnt. Ciclina D1 redução do risco de câncer colorretal,
e c-myc são alvos derivados. O câncer ocorre aumento da ingestão de fibra
em uma idade média de 39 anos e mais de 90% alimentar associada à redução do risco de
desenvolverão adenomas até os 30 anos. As câncer colorretal na população em geral, mas
manifestações extracolônicas incluem não parece reduzir o risco de câncer colorretal
colangiocarcinomas, carcinoma duodenal, em mulheres adultas
câncer gástrico, tumores desmoides, osteomas,
câncer de tireoide e tumores cerebrais. Intervenção dietética aconselhando aumento do
consumo de frutas e vegetais e redução
da ingestão de gordura na dieta para <20% das
Outros fatores de risco incluem idade > 50 calorias pode não reduzir a incidência de câncer
anos, dieta com alta ingestão de carne vermelha colorretal invasivo em mulheres na pós-
e pobre em fibras, síndrome de Peutz-Jeghers, menopausa

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Dieta vegetariana associada à redução do risco


de câncer colorretal em adultos, atividade
física associada à redução do risco de câncer de
cólon
• Medicamentos
Para o uso de aspirina , embora existam
algumas evidências que sugerem que ela pode
estar associada à redução do risco de câncer
colorretal, a Força-Tarefa de Serviços
Preventivos dos Estados Unidos conclui que as
evidências são inadequadas para recomendar
aspirina em baixas doses para prevenção de
câncer colorretal em doenças cardiovasculares
primárias cenário de prevenção
Terapia de reposição hormonal associada à
redução do risco de câncer colorretal em
mulheres
Uso de metformina associado à redução do
risco de câncer colorretal em pacientes com
diabetes tipo 2.
Objetivo 4 – Caracterizar rastreamento,
diagnóstico e estadiamento do câncer de
colorretal.
A colonoscopia é o exame de eleição para o
diagnóstico de CCR, pois pode localizar e
biopsiar lesões em todo o intestino grosso,
detectar neoplasias sincrônicas e remover
pólipos.
O estadiamento do CCR é mais bem realizado
por exame físico (com atenção especial para
ascite, hepatomegalia e linfadenopatia);
tomografia computadorizada de tórax, abdome
e pelve; e ressonância magnética da pelve para
câncer retal. O uso da tomografia por emissão
de pósitron (PET-CT) não parece adicionar
informações significativas aos exames
anteriores, e pode ser considerado para a
avaliação de pacientes que são candidatos à
ressecção de metástases hepáticas de CCR
isolada.

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