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Síndrome de Down

A SD é a anomalia cromossômica mais frequente nos


seres humanos e a causa mais prevalente de
deficiência intelectual.
As pessoas com SD apresentam potencial de se
desenvolver pela ampla neuroplasticidade que pode
ser estimulada desde os primeiros meses de vida pela
família, profissionais de saúde e educação.
Diagnóstico
Diagnóstico clínico
O diagnóstico clínico de SD baseia-se no
reconhecimento de características físicas. A segurança
do diagnóstico clínico aumenta quanto mais
características específicas da SD forem identificadas
na criança e descritas como sinais cardinais de Hall,
estabelecendo que 100% dos recém-nascidos com SD
apresentam pelo menos quatro destes sinais e 89%
terão seis destes sinais.

Síndrome de Turner

A SD tem sua apresentação clínica explicada por um


desequilíbrio da constituição cromossômica, a
trissomia do cromossomo 21, que pode ocorrer
principalmente por trissomia livre, translocação ou (genótipo) não determina as características físicas
mosaicismo. Apesar de existirem três principais (fenótipo) e o desenvolvimento da pessoa com SD.
possibilidades do ponto de vista citogenético, a SD
A constatação da trissomia não tem valor no
apresenta um fenótipo com expressividade variada.
prognóstico, nem determina o aspecto físico mais ou
Entendendo-se genótipo como a constituição
menos pronunciado ou uma maior ou menor
cromossômica do indivíduo e por fenótipo
capacidade intelectual.
características observáveis no organismo que resultam
da interação da expressão gênica e de fatores As diferenças de desenvolvimento são características
ambientais. individuais decorrentes da herança genética,
estimulação, educação, meio ambiente, problemas
O diagnóstico da SD é baseado no fenótipo e deve ser
clínicos, dentre outros. Em caso de suspeita clínica de
estabelecido logo após o nascimento.
SD deve-se sempre solicitar o exame confirmatório
O conjunto dos sinais presentes no neonato, permite pelo estudo citogenético (cariótipo) e encaminhar a
firmar o diagnóstico clínico em quase todos os casos. família para aconselhamento genético com médico
Quanto mais características específicas da SD forem geneticista.
identificadas, aumenta a segurança do diagnóstico
clínico.
Nas crianças com mosaicismo (46,XY/47,XY + 21 ou
46,XX/47,XX + 21), correspondentes a apenas 2% dos
casos, o fenótipo pode ser atenuado, dificultando o
reconhecimento ao nascimento. A dificuldade surge
pela existência de alguns sinais do fenótipo SD,
também presentes em neonatos sem a síndrome,
estimado em 5% da população.
Além disso, a presença de edema periorbital logo
após o nascimento, pode dificultar a identificação dos
sinais morfológicas da área ocular e outros sinais como
hipotonia e reflexo de Moro diminuído, também são
verificados em prematuros sem a SD devido à
imaturidade neurológica.

A deficiência intelectual está presente em 100% das


pessoas com SD, em geral leve a moderada. Entre
outras alterações, citam-se alterações:
• Auditivas (75%)
• Ortodônticas (80%)
• Visuais (60%)
• Cardíacas (40% a 50%)
Crianças com SD evoluem com déficit de • Endocrinológicas (15% a 70% e tireoidopatia em 4%
desenvolvimento psicomotor, intelectual e pôndero- a 18%)
estatural e quanto mais precoce são instituídas as
medidas preventivas melhor o prognóstico. • Dos aparelhos locomotores (15%, com instabilidade
atlantoaxial em 1% a 2%)
O pediatra precisa considerar que o cariótipo não é
obrigatório para o diagnóstico da SD, mas é • Digestivo (12%, com doença celíaca em 5%) •
fundamental para orientar o aconselhamento genético Sistemas neurológico (8%, com convulsões em 1% a
da família. O cariótipo identifica o mecanismo 13% e autismo em 5% a 18,2%)
genético da síndrome – trissomia livre, mosaicismo ou • Hematológico (anemia 3%, leucemia 1%, transtorno
translocação. Igualmente, o resultado do cariótipo mieloproliferativo transitório 10%),
• Deficiência de ferro (10%)
• Apneia obstrutiva do sono (50% a 75%).
• Diversas alterações do sistema imunológico
conferem a essas pessoas maior suscetibilidade a
infecções e doenças autoimunes.

O fenótipo da SD se caracteriza principalmente por:


• Pregas palpebrais oblíquas para cima

Diagnóstico laboratorial • Epicanto (prega cutânea no canto interno do olho)

O cariótipo é a representação do conjunto de • Sinófris (união das sobrancelhas)


cromossomos presentes no núcleo celular de um • Base nasal plana
indivíduo. O fenótipo característico da SD
normalmente é secundário à triplicata de uma região • Face aplanada
do cromossomo 21.
• Protusão lingual
• Palato ogival (alto)
• Orelhas de implantação baixa
• Pavilhão auricular pequeno
• Cabelo fino
• Clinodactilia do 5º dedo da mão (5º dedo curvo)
• Braquidactilia (dedos curtos), afastamento entre o 1º
e o 2º dedos do pé
• Pé plano
• Prega simiesca (prega palmar única transversa)
• Hipotonia
• Frouxidão ligamentar
• Excesso de tecido adiposo no dorso do pescoço
• Retrognatia
• Diástase (afastamento) dos músculos dos retos
abdominais e hérnia umbilical.
Nem todas essas características precisam estar
presentes para se fazer o diagnóstico clínico de SD. Da
mesma forma, a presença isolada de uma dessas
características não configura o diagnóstico, visto que
5% da população podem apresentar algum desses
sinais.
Em caso de dúvida não menospreze sua suspeita
diagnóstica, solicite avaliação de outros colegas,
exames complementares ou encaminhe ao especialista
em genética clínica. As pessoas com SD apresentam
déficit de desenvolvimento psicomotor, intelectual e
pondero-estatural. Existe um conjunto de alterações
associadas à SD que exigem especial atenção e
necessitam de exames específicos para sua
identificação, são elas: cardiopatia congênitas,
alterações oftalmológicas, auditivas, do sistema
digestório, endocrinológica, do aparelho locomotor, Síndrome congênita pelo Zika vírus
neurológicas, hematológicas e ortodônticas. Estudos
nacionais revelam também, alta prevalência de doença
celíaca (5,6%) em crianças com SD, que em caso de
suspeita devem ser acompanhados por especialistas.

O vírus zika (ZIKV) é um arbovírus, gênero


Flavivírus, família Flaviridae. O principal vetor
Síndrome de Edwards nas américas é o mosquito Aedes aegypti, mas há
outras formas de transmissão possíveis:
transmissão vertical, pelo contato sexual ou por
hemotransfusão. O vírus já foi isolado em diversos
líquidos corporais. A passagem transplacentária
pode levar ao estabelecimento de uma infecção
congênita.

Síndrome de Patau
30,54 cm em meninos e menor que 30,24 cm
meninas.
Diversas alterações neurológicas, além da
microcefalia, já foram descritas, tais como:
● Hipertonia: algum grau de hipertonia é comum
nos primeiros dois ou três meses de vida, mas as
crianças com a infecção congênita pelo ZIKV
podem apresentar uma hipertonia mais acentuada;
hipertonia apendicular
● Persistência ou exagero dos reflexos
primitivos: esperado o desaparecimento de vários
reflexos primitivos ao longo dos primeiros meses
de vida. As crianças acometidas podem ter
reflexos exagerados e que persistem, o que é um
achado patológico;
● Desproporção craniofacial: é interessante
Manifestações clínicas notar que nem todas as crianças terão
microcefalia, mas podem ter algum grau de
comprometimento do seu crescimento craniano
evidenciado por uma desproporção craniofacial
(discrepância entre o tamanho da face e do
crânio). Algumas crianças podem apresentar uma
protuberância na região occipital, com
redundância de pele na região;
● Outras alterações neurológicas: epilepsia ou
espasmos; irritabilidade /hiperexcitabilidade;
atrasos do desenvolvimento;
Além de ser neurotrópico, o vírus parece ● Alterações visuais (por alterações na retina ou
apresentar tropismo por outros órgãos, como o no SNC) e alterações auditivas.
coração e o fígado. A infecção da grávida pode
ser leve, mas as consequências para o feto são ● Malformação articular dos membros
potencialmente graves. (artrogripose).

Além da ocorrência de microcefalia e outros ● Dificuldades de deglutição: Deglutir, mastigar


danos cerebrais, há associação com morte fetal, e sugar são atos motores que também são
insuficiência placentária, restrição de crescimento coordenados pelo cérebro. Crianças com
fetal e outras malformações. malformações cerebrais e outras lesões, como as
que ocorrem na síndrome congênita do vírus Zika,
Para a avaliação do perímetro cefálico, a medida podem apresentar comprometimento da sucção e
deve ser feita nas primeiras 24 horas de vida (as deglutição (disfagia), com aumento no risco de
medidas do perímetro cefálico idealmente devem pneumonia aspirativa.
ser feitas na sala de parto, e repetidas quando a
criança completar 24 horas). Os principais sinais e sintomas associados à
síndrome congênita do vírus Zika foram
Atualmente, a recomendação é de que para a
determinação da presença de microcefalia sejam  Microcefalia
usados os valores das tabelas de InterGrowth.  calcificações parenquimatosas ou
cerebelares
Por essas tabelas, considera-se microcefalia, nas  ventriculomegalia
crianças com 37 semanas, a presença de um PC <  hipoplasia ou atrofia do SNC
 artrogripose  sistemas neurológico, osteoesquelético e
 achados oftálmicos principalmente visual, embora a síndrome possa afetar
 mancha pigmentar focal da retina outros sistemas orgânicos.
 atrofia coriorretiniana e/ou Coloboma Achados:
 palidez
 atrofia (a) sistema neurológico:
 escavação aumentada ventriculomegalia, calcificação
 hipoplasia e/ou coloboma do nervo óptico parenquimatosa ou cerebelar, microcefalia,
e função visual anormal e baixo peso ao hipoplasia ou atrofia do córtex cerebral,
nascer para a idade gestacional. cerebelo e tronco cerebral, formação cortical
 Distúrbios gastrointestinais, incluindo anormal, anomalia do corpo caloso,
hepáticos, alterações intestinais e disfagia. hidrocefalia, hipertonicidade e convulsões ; 
 A disfagia pode aumentar o risco de
(b) sistema osteoesquelético:
broncoaspiração, resultando em
pneumonia por aspiração ou morte por artrogripose e pé torto; 
asfixia, exigindo gastrostomia nas crianças
(c) no sistema visual:
afetadas.
 Alterações estruturais no AGU como alterações oftálmicas nos segmentos posterior e
comprometimento da bexiga e possível anterior e função visual anormal.
dano renal, como capacidade vesical muito
baixa, hiperatividade vesical com Exames de imagem
consistência aumentada, alta pressão Nas crianças com microcefalia ou outras
vesical durante a fase de enchimento e alto altercações, os seguintes exames são indicados:
volume residual pós-miccional (VVP) e/ou
infecção recorrente do trato urinário foram ● US-TF: está indicada para crianças com
relatados em crianças mais velhas.  fontanela ainda aberta, o que se verifica
 Anomalias cardiovasculares como geralmente até os seis meses de idade. Esta deve
cardiomiopatia, hiperecogenicidade da ser a primeira opção, dada a alta carga de radiação
válvula aórtica, válvula mitral e raiz associada com o exame tomográfico;
aórtica, cardiopatia congênita complexa, ● TC de crânio (sem contraste): será indicada
anormalidades ecocardiográficas e nos casos em que o tamanho da fontanela
sobrecarga cardíaca. impossibilite a ultrassonografia e para os casos em
 As alterações pulmonares foram menos que, após a ultrassonografia, ainda persista dúvida
comuns, detectadas principalmente por diagnóstica. Os achados de neuroimagem incluem
autópsia e, portanto, tendendo a ser mais calcificações corticais, subcorticais, malformações
graves. corticais, padrão simplificado de giro, alterações
 hidrotórax e paralisia diafragmática migratórias, hipoplasia do tronco cerebral,
 A maioria dessas crianças apresenta cerebelo e ventriculomegalia.
disfunção motora grave, atraso no
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS
desempenho funcional, dificuldades para
comer e dormir, anormalidades visuais e Os exames específicos atualmente disponíveis
auditivas, convulsões, disfunção de são: teste de rápido IgM/IgG (método de
deglutição, anormalidades de movimento e imunocromatografia qualitativa), que é um teste
epilepsia. de triagem; sorologia IgM e IgG (método ELISA);
 As complicações associadas a infecções PCR para RNA viral (teste padrão-ouro), que
respiratórias, disfagia e epilepsia podem poderá ser realizado em sangue, soro ou urina.
ser fatais para os lactentes mais
SÍNDROME DA TOXOPLASMOSE
gravemente afetados.
CONGÊNITA
 A síndrome congênita do Zika engloba
várias malformações principalmente nos
Depois de replicar-se ativamente na placenta, a
parasitemia atinge praticamente todos os sistemas
orgânicos do feto, com exceção da hemácia. Os
locais mais acometidos são as túnicas oculares e o
sistema nervoso central. No cérebro, encontramos
Tríade de Sabin: hidrocefalia, calcificações
áreas de necrose, acompanhadas de processos
intracranianas e coriorretinite
inflamatórios perivasculares, que sofrem
 Tétrade – deficiência intelectual notada calcificação precoce.
com o passar dos anos
Manifestações Clínicas
A toxoplasmose é uma zoonose produzida pelo
A maior parte das crianças infectadas intraútero é
Toxoplasma gondii, parasita intracelular
assintomática ao nascer. As manifestações clínicas
obrigatório, que ocorre naturalmente em vários
no RN, se presentes, são em sua grande maioria
animais. A infecção congênita ocorrerá após
viscerais, neurológicas ou oftalmológicas.
infecção materna primária durante a gestação,
podendo eventualmente resultar da reativação da Lesões do SNC
infecção latente em mulheres imunodeprimidas. A
Geralmente são resultantes de uma infecção nas
reinfecção de mulheres imunocompetentes durante
fases iniciais da gestação. São encontradas
a gestação é incomum. O Brasil está entre os
alterações liquóricas, calcificações
países de maior risco para toxoplasmose
intracranianas, hidrocefalia, convulsões e
congênita. É fundamental a detecção das gestantes
microcefalia.
com infecção aguda para instituição do tratamento
apropriado, o que pode reduzir o risco de
transmissão e infecção fetal.

A hidrocefalia tipo obstrutiva é considerada a


Investigar crianças com teste do pezinho manifestação neurológica clássica mais
Fisiopatologia comumente encontrada na toxoplasmose
congênita.
Ao adquirir a infecção primária, a mãe infecta o
seu feto em 17-65% das vezes pela via As crises convulsivas podem fazer parte da
transplacentária. Quanto mais precoce a IG, menor clínica destes pacientes, podendo também ocorrer
é a probabilidade de transmissão, porém mais retardo do crescimento, opistótono, dificuldade de
grave é o quadro clínico. deglutição e paralisia de membros. As alterações
liquóricas são identificadas em pelo menos 50%
O contrário ocorre no final da gestação, quando das crianças com a infecção congênita e o achado
há uma maior probabilidade da infecção, porém de proteinorraquia > 1 g/dl é um marcador de
com consequências menos graves. As diferenças doença neurológica grave.
nos riscos de transmissão e nos desfechos
relacionam-se com o fluxo placentário, com a Lesões oculares
virulência e inóculo do parasita e também com a Aceita-se que todos os indivíduos com infecção
capacidade imune da mãe e do feto de limitar a intraútero que não sejam adequadamente tratados
parasitemia. vão evoluir com lesões oftalmológicas até a idade
adulta.
As lesões são localizadas na retina e na coroide, • Síndrome nefrótica
podendo complicar com iridociclite, catarata,
glaucoma, estrabismo, nistagmo e • Alterações ósseas
descolamento de retina.
A coriorretinite (retinocoroidite) é o
comprometimento clássico mais frequente na
toxoplasmose congênita, sendo uni ou bilateral. As
lesões ativas podem curar com ou sem tratamento
em poucas semanas ou meses, mas tendem a ser
recidivantes e podem levar a sequelas graves.

Avaliação complementar
 No feto
Quando há infecção aguda da gestante,
recomenda-se a investigação da infecção fetal.
Esta investigação é possível através dos seguintes
exames:
● Ultrassonografia fetal: pode revelar
anormalidades fetais inespecíficas que sugerem a
Coriorretinite infecção congênita, tais como hidrocefalia,
A doença ocular é recorrente e progressiva. Em calcificações cerebrais e hepáticas,
crianças mais velhas, a retinocoroidite pode hepatoesplenomegalia, ascite, cardiomegalia e
envolver apenas um olho e pode ser a única anormalidades placentárias;
manifestação da doença. ● Reação em (PCR) em líquido amniótico: a
A microftalmia ocorre quando as lesões são amniocentese deverá ser realizada entre 17 e 21
muito graves. O estrabismo e nistagmo podem semanas com envio da amostra do líquido para
ocorrer como sinais precoces e persistentes. detecção do DNA do toxoplasma pelo método de
PCR. A sensibilidade é de até 70%, especificidade
e valor preditivo positivo de 100%.
 No RN
Avaliação sorológica
Há vários testes sorológicos disponíveis. No
Brasil, o teste de ELISA de captura de IgM é
considerado o de melhor sensibilidade e deve ser
Outras alterações preferencialmente utilizado. A triagem neonatal
Podemos encontrar: no teste do pezinho é feita pela identificação da
IgM.
• Hepatoesplenomegalia
A avaliação sorológica do RN esbarra em uma
• Linfadenopatia dificuldade: a presença de anticorpos IgG pode
• Icterícia representar tão somente a passagem de anticorpos
maternos pela placenta. Como os anticorpos da
• Trombocitopenia classe IgM não passam pela placenta, seu achado
indica a infecção quando identificado no RN, mas
• Anemia
a detecção desta forma será possível apenas em
• Pneumonite 75% dos casos.
• Miocardite
Quando a infecção tiver ocorrido muito no início ● Avaliação auditiva;
da gestação ou quando a gestante tiver recebido
● Hemograma: linfocitose com eosinofilia (até
tratamento, a sensibilidade será menor. Além
20%), embora inespecíficas, são as alterações
disso, um resultado reagente sempre deverá ser
mais comuns do hemograma. Pode haver também
confirmado (incluindo o resultado na triagem
anemia e trombocitopenia;
neonatal).
● Análise do liquor: indicada em crianças com
A detecção de IgA antitoxoplasma também é
toxoplasmose congênita comprovada e em filhos
possível e sua interpretação segue a mesma lógica
de mulheres com toxoplasmose aguda
daquela do achado de IgM. Nos casos em que não
comprovada ou provável durante a gestação.
se detecta IgA e/ou IgM, o diagnóstico poderá ser
Quando alterado, o liquor terá aspecto
estabelecido pelos incrementos dos títulos de IgG
xantocrômico, com elevados valores de proteínas
ao longo do primeiro ano de vida ou persistência
e baixos níveis de glicose. A citometria revela
de anticorpos após o momento esperado para o
pleocitose à custa de células linfomonocitárias,
desaparecimento da IgG materna.
além de elevada contagem de eosinófilos. Podem
Exames de imagem estar presentes anticorpos específicos contra o
toxoplasma e a PCR pode ser positiva. O achado
● Radiografia simples de crânio: as
de hiperproteinorraquia e pleocitose persistente
calcificações intracranianas difusas, sem
podem ser as únicas alterações liquóricas
localização característica, constituem-se em um
presentes, e já são suficientes para definir o
achado característico da toxoplasmose congênita.
acometimento neurológico;
Essas calcificações aparecem a partir do terceiro
mês em aproximadamente 30% dos pacientes, ● Avaliação de função hepática.
sendo a maior parte diagnosticada até os dois anos
ESCARLATINA
de vida.
● TC de crânio e ultrassonografia
transfontanela: são importantes para um
diagnóstico mais preciso das lesões. Evidenciam
melhor a atrofia cortical e as dilatações
ventriculares, além de revelarem calcificações não
diagnosticadas na radiografia. A ultrassonografia
está indicada em todos os casos suspeitos de
infecção congênita. A tomografia estará indicada
nas crianças com toxoplasmose congênita
comprovada e em filhos de mulheres com Comum dos 5-15 anos
toxoplasmose aguda comprovada ou provável
durante a gestação.
● Outros: nódulos calcificados poderão ser
localizados em vísceras como fígado e baço. As
alterações de ossos longos são inespecíficas
(zonas transversais e/ou estrias transversais
radiotransparentes nas metáfises e irregularidades
na linha de calcificação provisória). Assim como
na sífilis congênita, pode ser encontrado
placentomegalia à ultrassonografia obstétrica.
Sinais patognomônicos (exantema
Outros exames micropapular): Filatov e Pastia
Na suspeita de toxoplasmose congênita, as
seguintes avaliações estão indicadas:
● Avaliação oftalmológica (fundoscopia ocular);
Saburra branca com papilas linguais
hiperemiadas e hipertrofiadas

Filatov (região mais pálida, faz o biquinho)

Língua em morango vermelho e sinal de


Filatov (palidez perioral)

Descamação laminar importante (mão de


mecânico)

INFECÇÕES CAUSADAS PELO


ESTREPTOCOCO DO GRUPO A
Pele áspera. Pescoço de ganso e exantema
O estreptococo do grupo A (GAS), também
chamado de Streptococcus pyogenes, é o
responsável por diversas manifestações clínicas,
tais como faringites, impetigos, piodermites,
erisipelas, escarlatina, síndrome do choque
tóxico estreptocócico, fasciíte necrotizante,
entre outras.
O GAS também pode relacionar-se a
complicações supurativas (abscesso peritonsilar
Vitropressão sem clareamento - Pastia
ou periamigdaliano) e não supurativas (febre
(acentuação do exantema em áreas de pregas)
reumática e a GNPE) a partir de uma infecção
local.
Os GAS responsáveis pelo desenvolvimento do
exantema típico da escarlatina produzem uma
toxina chamada exotoxina pirogênica (ou toxina
eritrogênica), que pode ser do tipo A, B ou C.
Como os anticorpos produzidos são também
toxina-específicos, uma criança pode apresentar
escarlatina mais de uma vez, desde que sejam
provocadas por exotoxinas diferentes. O homem é
um reservatório natural do GAS. Trabalhos
realizados demonstram que as crianças são as A doença tem início agudo com febre alta (39 a
principais portadoras sadias da bactéria na 40°C), calafrios, vômitos, cefaleia, prostração,
orofaringe se comparadas aos adultos. amigdalite e dor abdominal.
Contudo, estes carreadores crônicos sadios não O exantema surge após 24 a 48 horas, com
parecem exercer papel importante na transmissão aspecto eritematoso e micropapular, dando à
intradomiciliar da infecção. A transmissão da pele uma textura áspera semelhante à “lixa”.
infecção do trato respiratório parece ocorrer
O rash se inicia na região superior do tórax e
através de gotículas de saliva e de secreções
tronco e se dissemina para os membros, poupando
nasais eliminadas pelo doente.
palmas e plantas.
As bactérias se fixam à mucosa da oro e da
Na face, a fronte e as bochechas ficam
nasofaringe, iniciando a colonização e infecção. A
hiperemiadas enquanto a região perioral torna-se
aglomeração e o contato próximo são fatores
pálida (sinal de Filatov).
epidemiológicos que favorecem sobremaneira a
infecção. Nas regiões flexurais, o exantema é mais intenso,
levando à formação de linhas transversais (sinal
Locais como creches, escolas, quartéis militares
de Pastia).
e residências com grande número de pessoas
são meios em que a propagação bacteriana é O rash começa a desaparecer após a 1ª semana,
maior. iniciando-se pela face e pescoço, deixando uma
descamação fina. Os pés e as mãos são os últimos
O indivíduo infectado deixa de transmitir a
a descamar e o fazem de modo mais intenso. O
infecção 24 horas após o início de tratamento com
processo se completa ao final de três semanas em
antibiótico adequado. O mecanismo exato da
média.
transmissão cutânea não é completamente
compreendido, mas acredita-se que o contato As amígdalas frequentemente estão edemaciadas,
próximo pessoa-pessoa seja a forma de hiperemiadas e recobertas por um exsudato.
carreamento da bactéria até a pele.
A úvula também pode estar hiperemiada, com
A infecção ocorre sempre que existe uma lesão de petéquias, e edemaciada com aspecto gelatinoso.
continuidade com perda da integridade cutânea,
seja por trauma local, escoriação, coçadura ou A língua, no primeiro dia da infecção, apresenta-
picada de inseto. se com aspecto de “morango branco” em função
das papilas hipertrofiadas e saburra branca
As unhas e a região perianal são locais recobrindo sua superfície. No terceiro dia, a língua
preferenciais para a colonização pelo estreptococo adquire um aspecto de “morango vermelho” ou
do grupo A. “framboesa”, pois a saburra desaparece e as
papilas linguais avermelhadas tornam-se
O período de incubação do S. pyogenes para o
evidentes.
surgimento de faringite é de dois a cinco dias e de
impetigo é de sete a dez dias.
ESCARLATINA - SEGUNDA DOENÇA
EPIDEMIOLOGIA
A escarlatina é uma doença exantemática mais
encontrada em pré-escolares e escolares, na faixa
etária de 5 a 15 anos. Ocorre mais frequentemente
associada à faringite e, raramente, com piodermite
ou ferida cirúrgica infectada.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

dd
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é clínico, especialmente diante do
exantema típico.
Nos casos duvidosos, a suspeita de infecção pelo
S. pyogenes pode ser confirmada por testes
laboratoriais para uma abordagem terapêutica
mais adequada.
A cultura de orofaringe em meio ágar-chocolate
através da realização de swab é ainda o método
padrão-ouro para o diagnóstico da presença do
estreptococo, com sensibilidade de 90-95%. A
grande desvantagem da cultura é a demora para MONONUCLEOSE INFECCIOSA
obtenção do resultado e a não diferenciação entre
“Doença do beijo”  Doente em 40 dias pós
estado de portador e infecção aguda.
carnaval (semana santa)
Os testes rápidos de detecção de antígeno são mais
imediatos, porém com menor sensibilidade e
maior custo.
O aumento nos títulos dos anticorpos
estreptocócicos (ASO e anti-DNAse B) entre a
fase aguda e a fase de convalescença também é
útil na realização da confirmação da infecção de
forma retrospectiva.
Um aumento de duas vezes ou mais na titulação
entre a fase aguda e a fase de convalescença é um
indício favorável à ocorrência da infecção.
A ASO é um bom exame para detecção da
infecção faríngea, tendo menos utilidade para o
diagnóstico de impetigo. Sinal de hoagland: edema palpebral

A anti-DNAse B, por sua vez, apresenta boa


correlação tanto para infecção de faringe quanto
de pele. Leucocitose com desvio para a esquerda é
um achado inespecífico observado na escarlatina.

EPIDEMIOLOGIA
A mononucleose infecciosa, uma síndrome clínica
causada pelo Epstein-Barr Vírus (EBV), era
conhecida no passado como a doença do beijo ou
a doença das mil faces, em virtude das formas
variadas de apresentação clínica.
No geral, queixas sistêmicas como fadiga, mal-
estar, febre e odinofagia são relatadas pela maioria
dos pacientes; linfadenopatia generalizada é um A lise das células da mucosa oral correlaciona-se
achado possível no exame físico. clinicamente com a faringite.
Uma série de outros agentes infecciosos pode Logo após, os novos virions disseminam-se para
causar uma síndrome mononucleose-like, como as glândulas salivares, sistema linforreticular
CMV, Toxoplasma gondii, vírus de hepatite, (linfonodos distantes, baço e fígado) e linfócitos
adenovírus, HIV e vírus da rubéola. B.
O EBV é responsável por 90% dos casos de Assim como os demais vírus da família
síndrome de mononucleose, enquanto os demais Herpesviridae, o EBV possui a capacidade de
patógenos respondem por apenas 10% da permanecer latente nas células epiteliais da
etiologia. orofaringe e nos linfócitos B de memória, o que
lhes permite reativar a replicação a qualquer
Cerca de > 95% da população mundial já foi
momento, garantindo, assim, a eliminação para o
infectada pelo EBV. Nos países em
meio ambiente e transmissão para outras pessoas.
desenvolvimento, a infecção ocorre durante as
fases iniciais da vida, como lactância e pré- O potencial oncogênico do EBV é uma
escola. constatação epidemiológica para várias síndromes
linfoproliferativas benignas e malignas.
A síndrome clássica da mononucleose não é
comum antes de quatro anos, fase em que grande QUADRO CLÍNICO
parte das infecções ou se passa de forma
O período de incubação da mononucleose
assintomática ou o faz de modo indistinguível das
infecciosa é de 30 a 50 dias em adolescentes, mas
demais doenças virais da infância.
pode ser menor em crianças pequenas.
A tríade clássica da mononucleose (fadiga +
O início dos sintomas pode ser súbito ou, mais
faringite + linfadenopatia) é mais comumente
comumente, gradativo.
identificada entre os adolescentes e adultos jovens
durante a primoinfecção pelo EBV, ocorrendo em Na maior parte dos casos, os sintomas se
50% dos casos. desenvolvem ao longo de vários dias e persistem
por período variável, resolvendo-se gradualmente
ETIOPATOGENIA
em torno de duas a quatro semanas.
O EBV, um herpesvírus DNA, é transmitido
Nos pacientes sintomáticos, as principais
através de gotículas de saliva e pelo intercurso
manifestações são:
sexual.
• Fadiga
A contaminação por fômites não parece ser uma
via importante de transmissão. • Febre aguda ou prolongada (por mais de uma
semana)
Os infectados podem eliminar o vírus por cerca de
até seis meses após a doença aguda, e de forma • Mal-estar
intermitente durante a vida.
• Odinofagia
A reativação da replicação viral dentro das células
da mucosa oral ou cérvice uterina ocorre de modo • Náuseas
assintomático e, nestes períodos, o indivíduo • Dores abdominais
torna-se infectante.
• Mialgia
As reativações periódicas podem ocorrer em
pessoas saudáveis em 30% dos casos, sendo mais Ao exame físico, podemos encontrar,
frequentes dentro do grupo dos imunodeprimidos, classicamente, a presença de:
constatando-se em até 60- 90% dos indivíduos. As • Linfadenopatia generalizada (90% dos
partículas virais penetram nas células epiteliais da pacientes)
orofaringe ou cérvice uterina e iniciam sua
replicação. • Esplenomegalia (50%)
• Hepatomegalia (10%) mês. Pode apresentar-se com teste de Coombs
direto positivo. Uma complicação incomum (<
Uma peculiaridade que sugere o diagnóstico é a
0,5%), porém muito temida pela gravidade, é a
presença de linfadenopatia epitroclear.
rotura esplênica secundária a trauma. Este
A faringite apresentada por estes pacientes é fenômeno é descrito mais frequentemente durante
bastante semelhante a uma faringite estreptocócica a segunda semana de doença, sendo menos
e cursa com aumento amigdaliano, com ou sem comum em crianças do que em adultos.
exsudato, e petéquias no palato.
A síndrome de Duncan é uma imunodeficiência
O edema das pálpebras é outra alteração descrita e congênita herdada por uma alteração genética
recebe o nome de sinal de Hoagland. ligada ao X e com comportamento recessivo que
cursa com infecção sistêmica e fatal pelo EBV. A
Cabe assinalar que o aumento esplênico pode maioria dos pacientes pertence ao sexo masculino
ocorrer de forma rápida e levar ao surgimento de e vem a falecer ainda na infância.
dor no QSE do abdome.
DIAGNÓSTICO
Um dado interessante é a forte associação do
desenvolvimento de um exantema após o uso de As manifestações clínicas típicas descritas,
amoxicilina ou ampicilina. somadas à linfocitose atípica, sugerem o
diagnóstico de mononucleose infecciosa. Seu
O exantema pode estar presente em até 3- 15% de diagnóstico é confirmado por métodos
todos os pacientes, porém, se desenvolve em um sorológicos.
percentual maior dos pacientes que usam algum
destes antimicrobianos. → TESTES INESPECÍFICOS Leucocitose (>
10.000-20.000 céls/mm³) é observada em mais de
A síndrome de Gianotti-Crosti é também causada 90% dos pacientes, dos quais 2/3 são linfócitos. A
pela infecção por EBV e caracteriza-se por um atipia linfocitária (linfócitos T CD8+ ativados),
exantema papular eritematoso localizado em compreendendo de 20 a 40% do total dos
bochechas, extremidades e nádegas, com linfócitos, ocorre em geral na segunda semana de
tendência a coalescência e duração de 15 a 50 doença, sendo um achado característico da
dias. mononucleose infecciosa. Trombocitopenia leve
Pode assemelhar-se a uma dermatite atópica. (50.000 a 100.000 plaquetas/mm³) é encontrada
em mais de 50% dos casos. Um aumento das
COMPLICAÇÕES transaminases hepáticas também é visto em
A obstrução das vias aéreas por edema do tecido metade dos pacientes.
linfoide tonsilar, levando a sintomas como → SOROLOGIAS
estridor e dispneia, é descrita em menos de 5%
dos casos. - Anticorpos heterófilos

Certas complicações neurológicas também podem - Anticorpos específicos anti-EBV


ocorrer. A cefaleia é vista em cerca de metade dos HERPANGINA
pacientes. Convulsões e ataxia estão presentes
em 1-5% dos casos. Uma síndrome muito
peculiar, conhecida como “Alice no país das
maravilhas”, é caracterizada por uma
metamorfopsia, ou seja, distorção visual da
forma, tamanho e noção espacial dos objetos.
Meningite asséptica, mielite transversa e síndrome
de Guillain-Barré também podem acontecer,
porém mais raramente.
A anemia hemolítica apresenta-se em 3% dos
casos, geralmente iniciada nas primeiras duas
semanas de doença e com resolução dentro de um
● Os enterovírus são pequenos vírus de RNA de
cadeia única positiva, não envelopados. Eles são
capazes de sobreviver em uma ampla faixa de pH
e retêm a infectividade em temperaturas de até 50
C. Essas características os tornam capazes de
sobreviver no ambiente por períodos
relativamente longos. Os humanos são os únicos
hospedeiros naturais desses vírus.
● Os enterovírus são normalmente disseminados
pela via fecal-oral. A transmissão também pode
resultar da ingestão de saliva infectada, gotículas
→ É mais frequentemente provocada pelo
respiratórias ou contato direto com fluido de
coxsackievirus A. Caracteriza-se por febre alta
vesículas.
(até 41°C), disfagia, dor de garganta e
irritabilidade. Crianças maiores poderão ● O período de incubação varia de 3 a 5 dias.
apresentar dor abdominal e vômitos. Ao exame,
● A disseminação viral pode ocorrer mesmo em
são vistas pequenas úlceras e vesículas com halo
pacientes assintomáticos.
eritematoso na região posterior da orofaringe:
tonsilas, pilares, úvula e palato mole. A febre ● A eliminação viral respiratória pode persistir por
dura, em média, um a quatro dias, e o restante dos até 3 semanas e nas fezes por até 8 semanas. Os
sintomas se resolve com uma semana. pacientes são mais contagiosos nas primeiras 1 a 2
semanas de infecção.
● De todos os enterovírus envolvidos na causa da
herpangina, o enterovírus 71 está emergindo como
um importante problema de saúde pública,
causando doenças graves, encefalite,
encefalomielite e possivelmente morte em recém-
nascidos e crianças pequenas.
Herpangina é uma infecção viral que se - Epidemiologia
manifesta clinicamente como uma doença febril
aguda com pequenas lesões ulcerativas ou ● Ocorre mais frequentemente na população
vesiculares na orofaringe posterior. pediátrica em pacientes com menos de 10 anos de
idade.
✧ Epidemiologia e etiologia
● As crianças são frequentemente infectadas por
- Etiologia exposição em creches ou escolas.
● A doença é causada por 22 sorotipos de ● Adolescentes e adultos são afetados com menos
enterovírus e é mais comumente associada ao frequência.
sorotipo do vírus Coxsackie B.
● RN, imunocomprometidos e pacientes grávidas
● O enantema febril da herpangina é causado por podem desenvolver doença mais grave.
múltiplos enterovírus pertencentes à família
Picornaviridae, mas os agentes etiológicos mais ● Nenhum dos sexos é mais comumente
comumente implicados incluem o vírus coxsackie infectado.
B, vírus coxsackie A16, sorotipos do vírus ● Nos EUA, a maioria das infecções ocorre
enterovírus. durante os meses de verão e outono em climas
● Outros agentes mencionados por várias fontes temperados, mas pode ocorrer durante todo o ano
incluem ecovírus, adenovírus, parechovírus e em climas tropicais.
vírus herpes simplex. ● Em climas tropicais, essas doenças geralmente
ocorrem durante as estações chuvosas.
✧ Quadro clínico (sinais e sintomas) - Uma variante da herpangina causada pelo
sorotipo do vírus Coxsackie A10 é a faringite
- O quadro clínico geralmente é assintomático, linfonodular aguda. Essa condição é caracterizada
mas pode haver febre com início súbito, dor de por lesões nodulares na mesma localização e
garganta, cefaleia, disfagia, anorexia e dor no distribuição que as lesões de herpangina, mas não
pescoço. Crianças podem apresentar vômitos. apresentam vesiculação ou ulceração. Um
- Dentro de 2 dias após o início, até 20 pápulas subconjunto de pacientes pode desenvolver uma
cinzentas (ou seja, 4 a 5 por paciente) de 1 a 2 mm erupção cutânea no corpo com lesões que podem
de diâmetro se desenvolvem e se tornam vesículas ser maculares, maculopapulares, vesiculares,
com aréola eritematosa. Estas ocorrem mais papulovesiculares, papulopustulosas,
frequentemente nos pilares das tonsilas, mas morbiliformes ou petequiais. As taxas de
também no palato mole, nas tonsilas, na úvula, ou ocorrência da erupção cutânea e as características
na língua. Durante as 24 horas seguintes, as lesões específicas variam, dependendo do subtipo do
se transformam em úlceras rasas, raramente com > vírus responsável. Achados do exame físico
5 mm de diâmetro, que se curam em 1 a 7 dias. neurológico, como rigidez ou paralisia do
pescoço, podem estar presentes se o paciente tiver
- A herpangina está associada a um enantema desenvolvido complicações como meningite,
doloroso que geralmente ocorre no palato mole, paralisia flácida aguda, encefalite ou
nas amígdalas e na faringe posterior. Geralmente é encefalomielite. A desidratação é uma
caracterizada por hiperemia da faringe com complicação comum da herpangina, e sinais como
discretas máculas eritematosas que evoluem para boca seca e diminuição do turgor da pele podem
vesículas e eventualmente ulceram centralmente. ser observados
As lesões geralmente são menores que 5 mm e
podem ocasionalmente aparecer na parede bucal e DIAGNÓSTICO
posterior da língua. Eles persistem por até uma A identificação dos quadros menos típicos pode
semana. Outros achados do exame físico incluem ser auxiliada por exames complementares, como
faringite e linfadenopatia cervical. - Na técnicas de isolamento viral, de detecção de
herpangina, não há o acometimento gengiva. Após DNA viral ou sorologias.
dois a três dias, as lesões podem aparecer também
nas palmas das mãos e solas dos pés. - Sintomas
inespecíficos
● Febre alta (38,9-40 ºC) ou até mais
● Convulsões secundários a febre alta
(especialmente em crianças)
● Falta de apetite
● Náusea, vômitos O diagnóstico da herpangina é feito clinicamente,
com base na aparência e localização típicas do
● Inquietação
enantema oral (menos de 10 papulovesículas
● Irritabilidade hiperêmicas amarelas/branco-acinzentadas nos
pilares anteriores das fauces, palato mole,
● Mal estar
amígdalas e úvula) e altos níveis associados de
● Dor de cabeça febre. A confirmação etiológica normalmente não
é necessária, mas pode se utilizar de amostras de
● Dor abdominal
garganta, fezes e líquido vesicular para cultura de
● Dor de garganta células ou amplificação de ácido nucléico (por
exemplo, reação em cadeia da polimerase). Para
● Dor para engolir amostras de todos os locais, a amplificação de
● Rigidez de nuca (especialmente em adultos) ácido nucleico é preferida à cultura de células por
causa do aumento da sensibilidade e da velocidade
● Dor nas costas (especialmente em adultos)
com que um resultado pode ser obtido (horas O liquor circula unidirecional e lentamente por
versus dias). O diagnóstico diferencial de meio do sistema ventricular até o espaço
herpangina inclui outras condições associadas a subaracnóideo, no qual é absorvido pelas
lesões orais, incluindo: Doença de mão, pé e boca: granulações aracnoides e drenado para os seios
geralmente se apresenta com queixas de dor na venosos e circulação sistêmica.
boca ou na garganta (em crianças verbais) ou
Nesse modelo, a hidrocefalia é consequência da
recusa em comer (em crianças não-verbais).A
obstrução anatômica ou funcional dentro do
febre, se presente, geralmente é inferior a 38,3°C.
sistema ventricular, do espaço subaracnóideo
Os sintomas prodrômicos geralmente estão
ou dos seios venosos.
ausentes. Quando relatados, incluem febre,
agitação, dor abdominal, êmese e diarreia. Dentro do sistema ventricular, uma
Achados do exame — Os achados cardinais da malformação obstrutiva ou gliose pode causar
DMPB são o enantema oral ( figura 1A-B ) e o bloqueio do fluxo liquórico, assim como
exantema (pele). No entanto, o enantema pode inflamação e fibrose subaracnóideo e pressões
ocorrer sem o exantema e o exantema pode elevadas dentro dos seios venosos.
ocorrer sem o enantema. Enantema oral — As
lesões orais da DMPB são anteriores aos pilares CLASSIFICAÇÃO
fauciais, mais comumente na língua e mucosa Hidrocefalia congênita: presente ao nascimento,
bucal (figura 1A-B); menos comumente no sulco sem causa extrínseca identificada. Porém diversas
gengivolabial e nos palatos mole e duro; e formas genéticas podem não estar presentes ao
ocasionalmente na úvula, lábios e amígdalas. nascimento e somente se desenvolver com o
HIDROCEFALIA tempo. Pode ser sindrômica ou não sindrômica,
conforme a presença ou não de outras
DEFINIÇÃO malformações associadas. Mais comumente, a
hidrocefalia congênita é idiopática, mas pode estar
A hidrocefalia tem sido amplamente definida
relacionada também à presença de infecções
como o acúmulo de liquor dentro do crânio,
intrauterinas como enterovírus, toxoplasmose e
incluindo edema cerebral e aumento do
citomegalovirose.
tamanho dos ventrículos, causando crescimento
acelerado do PC e que pode necessitar de Outras possíveis causas estão relacionadas ao uso
intervenção cirúrgica. de determinadas medicações durante a gestação,
notadamente misoprostol, metronidazol e
A definição mais abrangente descreve “distensão
antidepressivos, como a isotretinoína.
atividade do sistema ventricular resultando na
passagem inadequada de LCR desde o seu local Hidrocefalias extrínsecas ou adquiridas: estão
de produção dentro dos ventrículos cerebrais relacionadas a infecções, hemorragias e
até o local de absorção dentro da circulação neoplasias, lembrando que infecções e
sistêmica”. hemorragias também podem ocorrer ainda no
período intrauterino.
Com base nesta definição, é importante
ressaltar a noção de hidrocefalia como processo Outra classificação utilizada separa:
progressivo, mas não necessariamente rápido o
suficiente para causar sintomas ou demandar Formas obstrutivas ou não comunicante:
correção cirúrgica. geralmente se desenvolve por causa de
anormalidades no aqueduto de Sylvius ou lesão
FISIOPATOLOGIA em 4º ventrículo. A estenose aquedutal é associada
com ramificações ou bifurcações do caminho, que
Em relação à fisiopatologia, segundo o modelo
pode ser herdada como característica recessiva
clássico do fluxo cerebroespinhal, o liquor é
ligada ao gênero, associada à neurofibromatose,
produzido primariamente no plexo coroide,
resultado de uma meningite neonatal ou
que é uma estrutura secretora presente nos 3º,
hemorragia subaracnóidea em bebê prematuro,
4º e ventrículos laterais.
infecções virais intrauterinas, entre outras causas.
• Estenose aquedutal Na maioria dos estudos, isso só ocorre na minoria
de casos, limitando o conhecimento das causas
• Infecção
dessa malformação.
• Ligada ao x
Isso pode ser verificado pela forte evidência de
• Mitocondrial agregação familiar da hidrocefalia congênita, o
que sugere contribuição de fatores genéticos ainda
• Autossômica recessiva desconhecidos.
• Autossômica dominante QUADRO CLÍNICO
• Mutações l1cam O QC da hidrocefalia congênita progressiva
• Malformação de chiari engloba:

• Malformação de dandy-walker • Aumento expressivo do PC, da diástase de


suturas, do alargamento das fontanelas
• Síndrome de klippel-feil anterior e posterior.
• Lesões de massa • Olhar de “sol poente”.
• Abscesso • Sinais e sintomas neurológicos diversos:
• Hematoma hipotonia, convulsões, atraso significativo do
desenvolvimento motor e cognitivo, além de
• Tumores e distúrbios neurocutâneos paralisias ou paresias diversas e deficiência visual
• Malformação da veia de galeno e auditiva.

• Síndrome de walker-warburg • Pode haver prejuízo dos reflexos de sucção e


deglutição com dificuldade nos processos de
Formas comunicantes: em que não há nenhum alimentação e crescimento ponderoestatural.
ponto definido de obstrução. Resulta da
obliteração das cisternas subaracnóideas ou da
disfunção dos vilos da aracnóide tem livre trânsito
do líquor. É comumente associada com HSA que
resulta de hemorragia intraventricular em bebê
prematuro. Também pode ocorrer pelo exsudato
da meningite pneumocócica tuberculosa ou a
partir de infiltrados leucêmicos que obstruem as
cisternas e o espaço subaracnóideo.
• Acondroplasia
A apresentação clínica depende de idade,
• Impressão basilar
natureza da lesão, duração e da PIC.
• Aumento benigno do HSA
Antes do fechamento das suturas (menos de 2
• Papiloma do plexo coróide (aumento da anos de idade), o quadro clínico é a
produção de LCR) macrocefalia e a taxa acelerada de crescimento
da cabeça. A fontanela anterior é bem aberta,
• Malignidade meníngea
saliente e as veias do escalpo são dilatadas. A
• Meningite fronte fica larga e os olhos podem se desviar no
sentido inferior (sinal do olho em “sol poente”).
• Pós hemorragia
É comum a hiperreflexia, a espasticidade, o
Quando se exclui uma causa extrínseca, é clônus (principalmente em MMII) e sinal de
importante avaliar sinais clínicos e exames de Babinski presente, por causa de ruptura das
imagem para identificar uma síndrome genética fibras do trato corticoespinhal. → No recém-
específica. nascido, a irritabilidade, letargia, vômitos e um
crescimento anormalmente rápido da calota Também já é possível diferenciar a forma
craniana são os achados mais comuns. A aguda da crônica. A forma aguda tem evolução
aferição periódica do perímetro cefálico é rápida e progressiva, com deterioração do nível
muito importante na suspeita de hidrocefalia, de consciência, convulsões e o próprio
lembrando que estudos radiológicos têm papiledema. Já a forma crônica tem cefaleias
mostrado que existem casos que a dilatação ocasionais que vão se tornando mais
ventricular anormal e aumento da pressão frequentes, vômitos matinais, deterioração da
intracraniana podem preceder a macrocrania. marcha, atraso do desenvolvimento
Já em crianças mais velhas (a partir dos 2 neuropsicomotor, alteração gradual de
anos), por falta de complacência nas estruturas personalidade e deterioração da produção
cranianas, ocorre irritabilidade, letargia, falta escolar. Alguns pacientes apresentam
de apetite e vômito (isso pode ocorrer também progressivo comprometimento da acuidade
em crianças menores), e dor de cabeça, visual, podendo evoluir para cegueira
podendo evoluir para coma. Papiledema, irreversível. A presença de sequelas
paralisia do nervo abducente e sinais neurológicas varia de acordo com a faixa etária
piramidais são aparentes em muitos casos. → e velocidade de instalação da hidrocefalia.
No lactente e até o final do 2º ano de vida, uma
CISTO TIREOGLOSSO X CISTO
cuidadosa observação do paciente pode
BRANQUIAL
levantar fortes suspeitas de hidrocefalia
descompensada. Uma desproporção → CISTO TIREOGLOSSO
craniofacial, abaulamento da fontanela
independente da posição do paciente, congestão • Doença típica de ocorrência exclusivamente
venosa superficial no couro cabeludo e face na região cervical.
(foto), sinal do sol poente e estrabismo • Cisto = lesão com cavidade, geralmente com
convergente são achados bastante indicativos. líquido dentro (diferencial da lesão sólida).
• Anomalia congênita mais comum da região
cervical.
EMBRIOLOGIA
A primeira glândula endócrina a se desenvolver no
embrião é a tireoide. Conforme essa glândula em
desenvolvimento cresce, ela desce da base da
língua pelo pescoço, cruzando ventralmente o
osso hióide e as cartilagens laríngeas em
formação. Nesse período, a tireoide encontra-se
→ Uma fontanela anterior ampla, tensa e conectada ao forame cego da língua por um tubo,
abaulada, na posição sentada ou de pé, em um o ducto tireoglosso. Geralmente, a glândula ocupa
paciente tranquilo, levanta uma forte suspeita seu espaço definitivo no pescoço na 7ª semana de
de hipertensão intracraniana. Ainda vida intrauterina, e o ducto se atrofia e desaparece
observando a cabeça do paciente, podem ser por volta da 10ª semana. Porém, há casos em que
encontrados afastamento das suturas ele persiste, podendo ser preenchido por secreção
cranianas, o sinal do “pote rachado” salivar (visto que apresenta conexão com o forame
(percussão craniana - Sinal de Mecewen), cego) ou pelo produto do próprio epitélio
hipertonia e diminuição da mobilidade dos escamoso glandular que reveste as paredes do
membros inferiores. O peso anormal da cabeça, ducto, tornando-se assim um cisto.
hipotonia cervical e o atraso neuropsicomotor
podem interferir no controle da posição da
cabeça, assim como no desenvolvimento da
marcha.
O osso hióide, que se origina do segundo e
terceiro arcos traqueais, está intimamente
envolvido com o ducto tireoglosso. Como
resultado, o ducto pode estar localizado
anteriormente, na sua substância (com passagem
dentro da estrutura óssea) ou atrás do osso hióide.
EPIDEMIOLOGIA
O cisto do ducto tireoglosso é a mais comum Trata-se de uma afecção que acomete
massa cervical benigna, atrás apenas das exclusivamente a região cervical, não podendo
adenopatias cervicais benignas, e representa 70% ocorrer em outras partes do corpo. Manifesta-se
das doenças congênitas cervicais. Essa doença tem como uma massa em linha média que se eleva
prevalência de 7% na população, e geralmente se diante da protrusão da língua e da deglutição.
apresenta antes dos 5 anos de idade, mas há Pode ter várias apresentações: nódulo firme
relatos de evolução do quadro até 80 anos. Em implantado entre o milohióide, um abaulamento
cerca de 75% dos casos o cisto apresenta-se paramediano, que parece estar sobre a tireóide,
abaixo do osso hióide ou sobreposto a ele. enormes tumefações de pele tensa, na região
anterior do pescoço. Diante disso, tudo que não é
nitidamente lateral, e que está situado no istmo da
tireóide deve ser considerada lesão suspeita. Em
algumas situações o cisto pode drenar, inclusive,
intraoralmente. Geralmente, não existe sintoma
específico que define o Cisto do Ducto
Tireoglosso
A principal manifestação clínica é a massa
palpável na região do pescoço, na linha média, de
consistência relativamente amolecida. Apesar da
possibilidade de complicações, o quadro pode ser
completamente assintomático por muitos anos ou
até por toda a vida do paciente. Por outro lado,
pode também ocorrer o aumento gradativo da
lesão com o tempo ou após a ocorrência de
quadros repetidos de Infecções das Vias Aéreas
Superiores(IVAs). No caso de suspeita de cisto do
ducto tireoglosso, é importante diferenciar o cisto
de tecido tireoidiano ectópico, embora apenas
10% dos casos de tireóide ectópica sejam
encontrados no pescoço. Histologicamente,
encontramos um canal unido ao cisto,
intimamente relacionado ao corpo do osso hióide
e revestido por epitélio escamoso glandular. Em
casos de infecção repetida, o epitélio pode estar
APRESENTAÇÃO CLÍNICA E ausente. Em alguns cistos, encontramos ilhas de
HISTOLÓGICA tecido tireoideano associadas à malformação
alguns cistos, encontramos ilhas de tecido
tireoideano associadas à malformação.
COMPLICAÇÕES
Como o ducto tireoglosso apresenta íntima relação
com a língua e com a faringe, pode ocorrer a
infecção do cisto, a qual geralmente é
acompanhada de sinais flogísticos (dor, calor,
edema e rubor) e de dificuldade para deglutição.
Com a evolução do processo inflamatório, o cisto
pode perfurar, levando à formação de uma fístula
(saída de secreção pelo cisto). Ademais, a
fistulização leva à uma indefinição dos planos
anatômicos pelo derramamento de líquido
contaminado sobre os tecidos do pescoço,
dificultando uma intervenção cirúrgica de fato
resolutiva.

Os cistos branquiais são tumores congênitos


laterais, resultantes de defeitos de
desenvolvimento embrionário que afetam os arcos
branquiais. Representam remanescentes do
aparato branquial, que deveria desaparecer durante
o crescimento e a gênese das estruturas cervicais.
DIAGNÓSTICO Sua apresentação clínica ocorre sob a forma de
É majoritariamente clínico, mas deve ser cistos ou de fístulas, geralmente congênitas, mas
confirmado por Ultrassonografia de Pescoço, a que podem se manifestar ao longo da vida. Os
qual revela características importantes sobre a cistos podem se manifestar tardiamente, mas as
massa cervical: se é sólida ou não, se tem líquido fístulas são, quase sempre, diagnosticadas ao
dentro, ou não, além de tamanho e localização nascimento ou na infância. Cistos são mais
exata da lesão. frequentes que as fístulas. Processos inflamatórios
de repetição podem alterar a consistência da lesão
→ CISTO BRAQUIAL e tornar o quadro mais evidente. Muitos pacientes
percebem a lesão quando ela aumenta após uma
infecção de vias aéreas superiores. Um cisto
infectado pode progredir para um franco abscesso,
com subseqüente ruptura, e drenagem para a pele,
com formação de um trato permanente, ou um
cisto recorrente.
QUADRO CLÍNICO
Lesão cística, móvel, indolor, na região lateral pescoço após passar sob a aorta à esquerda ou sob
do pescoço, anterior ao músculo a artéria subclávia à direita e tendo o orifício
Esternocleidomastóideo ou lesão fistulosa na interno no esôfago cervical.
mesma posição.
TUBERCULOSE GANGLIONAR
DEFINIÇÃO
Como o próprio nome indica, a tuberculose
ganglionar acomete os gânglios linfáticos. Os
microrganismos do complexo Mycobacterium
tuberculosis alcançam os alvéolos pela via
respiratória, multiplicam-se e migram para os
linfonodos regionais, causando assim, a TB
ganglionar. Não é raro que esse patógeno
permaneça inativo no organismo por um longo
tempo, sem apresentar nenhum sintoma. Mas
quando há queda da imunidade a proliferação
bacteriana é favorecida e a doença se manifesta.
DIAGNÓSTICO
Apesar do mecanismo fisiopatológico ser
O diagnóstico é primariamente clínico, mas a praticamente o mesmo da tuberculose pulmonar
ultra-sonografia pode auxiliar no diagnóstico (mudando apenas o sítio de instalação bacteriana),
diferencial de um cisto branquial. Anomalias a transmissão não é igual. O paciente com
do primeiro arco branquial: Devem-se tuberculose ganglionar não precisa ficar em
diferenciar os cistos do primeiro arco branquial isolamento, pois os bacilos não estão presentes nas
dos cistos ou sinus pré-auriculares. Estes são gotículas da via aérea, ou seja, não é
sempre laterais ao trajeto do nervo facial e não transmissível. Alguém com TB pulmonar
têm relação com o conduto auditivo externo. transmitiu os bacilos para uma pessoa, e esta
Orifícios fistulares pré-auriculares ou pequenos manifestou a TB na forma ganglionar encerrando
restos proeminentes localizados na região aqui o ciclo de contágio.
superior do pescoço e da face, terminando no
EPIDEMIOLOGIA
meato auditivo externo. Anomalias do segundo
arco branquial: 90% dos casos, os mais Pessoal, em geral a TB extrapulmonar ocorre em
comuns. Apresentam-se ao longo da borda 10 a 40% dos pacientes com tuberculose, e destes,
anterior do músculo esternocleidomastóideo, 35% se referem a TB ganglionar que acomete
no seu terço médio. Pode haver fístula especialmente crianças e pacientes infectados pelo
completa, incompleta interna e incompleta HIV. É mais comumente observada na faixa etária
externa. O trajeto segue a bainha carotídea, de 20 a 40 anos no sexo feminino.
cruzando o nervo hipoglosso, entre as artérias
carótidas externas e internas, chegando à QUADRO CLÍNICO
tonsila faríngea. Orifícios fistulares na borda A linfadenite pode ser a única manifestação da TB
anterior e no terço inferior do ou, com mais frequência, nos indivíduos
esternodeidomastóideo, terminam na fosseta infectados pelo HIV, pode acompanhar a TB
amigdaliana. Anomalias do terceiro arco pulmonar. A forma clássica de apresentação da
branquial: O orifício externo pode se localizar maioria dos casos é a linfadenopatia periférica
na mesma posição das fístulas de segundo arco. isolada, sendo que no início da doença, os
O trajeto posterior à carótida interna, sobre o linfonodos são bem discretos, mas podem evoluir
nervo hipoglosso e segue o nervo laríngeo para uma massa com trajeto fistuloso.
superior até o seio piriforme. Anomalias do quarto
arco branquial: São consideradas como uma Os linfonodos cervicais e supraclaviculares são
possibilidade teórica, embora existam relatos de os mais frequentemente envolvidos, podem ser
casos. Seu trajeto seria descendente junto a artéria acometidos uni ou bilateralmente, cursando com
carótida comum até o tórax, recorrendo ao aumento subagudo, indolor e assimétrico. No
exame físico você pode encontrar os gânglios ● Aleitamento artificial: o aleitamento materno
endurecidos ou amolecidos à palpação, aderentes comprovadamente reduz os casos de OMA em
entre si e aos planos profundos, e nos casos mais crianças;
avançados há um processo de fistulização
● Tabagismo passivo;
espontânea, formando o que se chama de escrófula
ou escrofuloderma, com a inflamação da pele ● Exposição a outras crianças: irmãos,
adjacente. permanência em creches e escolas;
OTITE MÉDIA AGUDA ● Anomalias congênitas: anomalias craniofaciais,
como fenda palatina e síndrome de Down,
INTRODUÇÃO
concorrem para um prejuízo ao funcionamento
A Otite Média Aguda (OMA) é uma das doenças adequado da tuba auditiva;
mais frequentes na criança. A maior prevalência
● Ausência da vacina antipneumocócica e anti-
da OMA ocorre durante os dois primeiros anos de
influenza. Imunodeficiências, como
vida. Cerca de 80% das crianças abaixo de três
hipogamaglobulinemia, deficiência de subclasses
anos terão pelo menos um episódio de OMA. A
de IgG, deficiência de IgA.
recidiva também é um aspecto epidemiológico
frequente na doença entre as crianças pequenas, ETIOLOGIA
estimando-se que até 50% delas terão mais de um
episódio. A incidência de OMA declina após os Os agentes etiológicos frequentemente
dois anos. Os principais fatores de risco para identificados nos casos de otite média aguda
OMA são: são:

● Idade: as crianças menores de dois anos • S. pneumoniae


apresentam maior risco de desenvolver OMA, • H. influenzae não tipável
devido à imaturidade imunológica e à própria
anatomia da tuba auditiva, que é mais curta e mais • Moraxella catarrhalis
horizontal nesta faixa etária, prejudicando os seus Aceita-se que o pneumococo e o hemófilo sejam
mecanismos antirrefluxo e de drenagem da orelha os responsáveis pela maior parte dos quadros e
média. A ocorrência do primeiro episódio de OMA que o papel da Moraxella seja menos importante.
antes dos seis meses é um fator de risco Em lactentes jovens que estão hospitalizados e em
importante para a recorrência das OMA. Além neonatos, outras bactérias podem causar OMA,
disso, a hipertrofia das tonsilas adenoidianas tais como: Streptococcus do grupo A,
localizadas próximo ao óstio de drenagem da tuba Staphylococcus aureus e Gramnegativas. Muitos
pode também contribuir para a obstrução ao fluxo vírus, especialmente o rinovírus e o VSR, são
de saída proveniente da orelha média, aumentando comumente encontrados nos exsudatos da orelha
assim o risco de retenção de coleção e média, algumas vezes em associação com
desenvolvimento de infecção; bactérias. Ainda não se sabe ao certo o seu papel
● Sexo: meninos são um pouco mais afetados que etiopatogênico na inflamação da orelha média, ou
meninas; seja, se sozinhos já seriam capazes de produzir a
OMA, ou se facilitariam a adesão de bactérias e
● Etnia: há controvérsias na literatura, embora prejudicariam a função imune local.
alguns trabalhos mostrem preponderância em
brancos; PATOGÊNESE

● Perfil socioeconômico: a pobreza é considerada A maioria dos episódios são complicações de


um fator de risco, na medida em que favorece a infecções do trato respiratório superior. A base
existência de aglomerações, higiene inadequada, fisiopatológica é a disfunção da tuba auditiva,
menor acesso ao sistema de saúde e pior perfil condição fundamental para o desenvolvimento da
nutricional; otite. Acredita-se que com a tuba auditiva
obstruída, a ventilação da orelha média esteja
prejudicada. Nesse momento, cria-se uma pressão
negativa nesta câmara, estimulando a secreção de
muco por seu epitélio. O muco acumula-se na flutuante. Por outro lado, a clínica pode não ser
orelha média, agora um espaço totalmente tão evidente em crianças menores de dois anos,
fechado. A infecção viral da tuba também pode justamente a faixa etária em que a doença é mais
contribuir diretamente para a formação deste prevalente. Estas podem apresentar sinais
muco. Episódios intermitentes de aspiração, indiretos de otalgia, como: levar a mão até o
refluxo ou insuflação da tuba podem lançar as ouvido, irritabilidade, choro intenso, dificuldade
bactérias colonizadoras da nasofaringe na para dormir. A febre da OMA pode ser baixa ou
cavidade da orelha média. Algumas dessas alta. Crianças menores também podem apresentar
bactérias encontram o meio ideal para se sintomas gastrointestinais inespecíficos (anorexia,
proliferarem, produzindo a reação inflamatória náuseas e vômitos). Um dado fundamental na
piogênica que se manifesta como uma OMA. O história da doença é a presença de um episódio
acúmulo de pus na orelha média funciona como prévio de resfriado comum antecedendo as
um “abscesso”, provocando abaulamento da manifestações acima descritas. Otorreia, fluida ou
membrana timpânica, que cursa com intensa purulenta, pode ocorrer em um terço dos casos, e
otalgia, o principal sintoma da OMA. Se a OMA neste caso o diagnóstico torna-se evidente.
não for tratada, após alguns dias, a tendência é que
→ SINAIS
o pus na orelha média encontre uma via de saída
(autodrenagem), através de uma pequena OTOSCOPIA
perfuração na membrana timpânica. Nesse
momento, a otalgia melhora e a criança elimina O exame otoscópico é uma ferramenta
secreção purulenta pelo ouvido (otorreia). Fatores fundamental para o diagnóstico da OMA, e deve
mais importantes relacionados à gênese da OMA: ser sempre realizado diante de um quadro clínico
típico ou nas crianças pequenas com sintomas
● Resfriado comum: este é o principal fator inespecíficos (choro, irritabilidade, vômitos)
predisponente de OMA, sendo está a iniciados após um quadro de resfriado comum. A
complicação mais comum do resfriado (5- 30% membrana timpânica normal é levemente côncava,
dos casos). A liberação de citoquinas e transparente (cabo do martelo bem visualizado),
mediadores inflamatórios leva à obstrução e brilhante (reflexo luminoso, chamado de
disfunção da tuba auditiva, com acúmulo de “triângulo luminoso”) e móvel à insuflação
secreção dentro da orelha média, a qual pneumática. Na OMA, a otoscopia revela uma
funciona como um meio de cultura para membrana timpânica hiperemiada, convexa e
bactérias; abaulada, de coloração alterada (hiperemia difusa,
opacificação e pontos esbranquiçados) e com
● Hipertrofia da adenoide: a adenoide é a
perda da mobilidade. O abaulamento é o dado
tonsila faríngea, descrita como uma massa
mais específico para o diagnóstico de OMA. As
linfoide “esparramada” na parede posterior e
alterações na otoscopia nem sempre são de fácil
no teto da nasofaringe. Em crianças entre seis
visualização, especialmente em lactentes menores,
meses a três anos de idade, a adenoide atinge o
nas quais o quadro clínico pode evoluir
seu maior crescimento, sofrendo um processo
rapidamente para complicações intracranianas. A
natural de involução após esta faixa etária, até
hiperemia isolada da membrana timpânica não
praticamente desaparecer na adolescência.
deve ser considerada com alteração suficiente para
Algumas crianças apresentam a adenoide bem
definir o diagnóstico de OMA, pois outras
hipertrofiada, o que provoca obstrução do óstio
condições não patológicas podem cursar com
tubário e predispõe à OMA de repetição.
vermelhidão e congestão, como, por exemplo, o
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS choro e a irritabilidade durante o exame. A
miringite bolhosa é uma forma incomum de
→ SINTOMAS
OMA, caracterizada pela presença de bolhas e
Os sintomas variam de acordo com a idade da eritema na membrana timpânica, causada pelas
criança. Geralmente, em maiores de dois anos, a mesmas bactérias. A miringite bolhosa também
suspeita clínica é fundamentada na queixa da dor pode fazer parte da infecção pelo Mycoplasma
de ouvido (otalgia) pela própria criança, associada pneumoniae, um germe causador de pneumonia
a febre, astenia, inapetência e hipoacusia atípica.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de OMA é feito com base nas
características clínicas abaixo:
● Otorreia não provocada por otite externa; ou
● Sinais de efusão na orelha média + sinais de
inflamação. O achado mais significativo no
diagnóstico da OMA é o abaulamento da MT,
com sensibilidade de 67% e especificidade de
97%. O diagnóstico não deve ser estabelecido
se não for evidenciada presença de efusão na
orelha média

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