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Iniciaremos esta unidade com a compreensão dos fatos históricos que ocorreram para
que as
cozinhas profissionais obtivessem a organização e a distribuição das tarefas que
são utilizadas
nos dias atuais.
Os acontecimentos que envolvem a alimentação vêm datados desde o início da história
da
humanidade. Com o surgimento das primeiras práticas de coletas e de caças à
posterior descoberta do fogo, em que os alimentos crus começaram a passar por algum
processo de cocção,
as civilizações de todo o mundo deixaram grandes marcas nas descobertas de novas
técnicas e
culturas em torno da alimentação e, desde então, o ato de se alimentar deixou de
ser somente
uma necessidade e passou a ter significativa importância na vida social de todas as
pessoas.
Vamos pular alguns anos na história e entender que o grande crescimento de
profissionais
cozinheiros foi inevitável, bem como a proliferação de estabelecimentos que
forneciam alimentos e bebidas mediante alguma forma de pagamento, os conhecidos
restaurantes. É sabido
que a Revolução Francesa (1789 – 1799) contribuiu para o grande “boom” dos
restaurantes,
ultrapassando os muros de Paris e se alastrando por todo o mundo, pois dois fatos
muito pontuais ocorreram nessa época: o primeiro foi a saída da aristocracia dos
grandes centros. Com
essa fuga dos nobres, os seus serviçais cozinheiros perderam suas ocupações e
tiveram que
trabalhar por conta própria. O segundo foi que as guildas (uma espécie de
associação de ajuda
aos trabalhadores da época e que regulamentava suas atividades) foram extintas, ou
seja, não
havia nada que controlasse a prática de atividades comerciais, assim, cada um podia
produzir e
comercializar o que bem desejava.
Desse momento em diante, muitos restaurantes se estabeleceram e grandes nomes da
gastronomia mundial se tornaram referência, porém, mesmo com o alto padrão ditado
pela
gastronomia francesa, esse crescimento foi, de certa forma, desordenado e rápido,
pois as
pessoas perceberam que comercializar alimentos era uma forte oportunidade de
crescimento
econômico, assim, não demorou para que muitos aventureiros se colocassem nesse
mercado,
situação muito presente até os dias de hoje.
Assim, convido você, aluno(a), ao estudo da unidade I, que será bastante
informativa e
esclarecedora quanto ao conceito de Garde Manger
Brigada de Cozinha:
Conceito e Dimensão
O grande crescimento e a propagação de restaurantes pelo mundo
afora estava acontecendo como um processo estocástico, fato que
causava aos grandes nomes do momento certo incomodo. Diante
desse cenário e em busca de melhorias e padronização dentro das
cozinhas foi que o grande Chef Francês Georges Auguste Escoffier,
falecido em 1935 com 89 anos, implantou alguns procedimentos
e deixou grandes contribuições que utilizamos até hoje. Além de
estabelecer disciplina, foi ele quem dividiu a cozinha em sistema de brigadas, em
que cada departamento da cozinha teria um
Chef responsável, conhecido como “Chef de Partie” ou Chef de
Partida, ou seja, cada setor de produção dentro de uma cozinha
seria de responsabilidade de um determinado Chef ou cozinheiro
especializado.
Brigada de Cozinha:
Conceito e Dimensão
E deve ser esse o nosso ponto de partida,
caro(a) aluno(a); para conhecermos o setor e o
trabalho de um Garde Manger, faz-se necessário
o total conhecimento da estrutura organizacional da cozinha, como as tarefas são
divididas,
quem são os profissionais que atuam em cada
bancada e formam a grande brigada de uma
cozinha profissional.
A brigada de um restaurante se divide em
Brigada de Cozinha, em alguns lugares chamada
de Brigada de Produção, e a Brigada de Salão,
conhecida também como Brigada de Serviço,
compreensível se pensarmos que na prática é isso
mesmo, a cozinha produz para que o salão possa
servir. De acordo com Teichmann (2000, p.69),
A preparação dos alimentos é assegurada em restaurantes importantes por
um conjunto de cozinheiros chamado
de BRIGADA. Esta brigada está distribuída em setores de acordo com suas
responsabilidades, e esses setores são
chamados de PRAÇAS.
Quero ainda complementar que, na linguagem do mercado, para se referir aos setores
dentro da cozinha, pode-se utilizar a expressão
PRAÇAS ou BANCADAS, as duas são coerentes
e muito utilizadas.
Na foto acima, é possível visualizar a atuação de cada profissional em sua bancada,
desenvolvendo as atividades específicas de cada
Chef de Partie.
Vamos, agora, visualizar o organograma
padrão de uma cozinha profissional completa,
em que a brigada está segmentada e bem organizada por bancadas
Vale lembrar que cada estabelecimento deve definir qual é a melhor forma de compor
a sua brigada, levando em consideração alguns pontos:
• Tamanho do restaurante.
• Capacidade de atendimento (número de
comensais).
• Tipo de cardápio.
• Espaço físico da cozinha.
• Equipamentos e utensílios disponíveis
para produção de alimentos.
• Tipo de serviço oferecido.
• Nível de posicionamento de mercado do
restaurante.
Após a análise detalhada desses pontos, define-
-se o tamanho, a composição e a qualificação
dos profissionais que irão integrar a brigada de
um determinado restaurante. Mas vale lembrar
que, mesmo com o estudo desses aspectos, é
natural que ajustes sejam necessários e feitos
até que seja encontrada a brigada que atenderá
com qualidade as expectativas da empresa e
dos clientes.
É inegável que essa divisão de trabalho
dentro da cozinha, o sistema de brigadas, trouxe
alguns benefícios para o setor, como uma melhor
organização das atividades dentro da cozinha; a
delegação de responsabilidades para cada Chef/
cozinheiro, criando um melhor clima organizacional, em que cada um sabe e assume o
seu
papel; a redução do tempo de espera pelos comensais; a otimização dos insumos,
entre outras.
Garde Manger:
O Profissional e o Setor
da Cozinha Fria
Observando o organograma apresentado anteriormente, vemos
em destaque o Garde Manger, que é o assunto central deste livro.
Ele ocupa dentro da brigada um lugar de destaque, em virtude dos
importantes preparos que realiza em sua praça.
O termo Garde Manger, no jargão da gastronomia atual, é
utilizado sem nenhuma distinção para se referir ao pessoal ou ao
setor de trabalho/bancada/praça. Mas, em tempos antigos, era
utilizado para se referir às dispensas localizadas nos subsolos dos
castelos e das residências dos nobres, lugar mais seco e fresco onde
os alimentos eram acondicionados.
Termo de origem francesa, garde = guarda,
manger = comer, o termo literalmente
significa “guardar para comer”, mas é interpretado como “guarda comida”. Com
o conceito de um lugar frio onde os alimentos
podiam ser armazenados e mantidos por mais
tempo, o setor da cozinha fria e o profissional
responsável por essas preparações passaram,
também, a utilizar esse nome: Garde Manger.
Quando designado ao profissional, o termo
está relacionado ao colaborador que desenvolve
suas funções voltadas às preparações frias, o
que engloba essencialmente mise-en-place e
preparo de:
• molhos frios: emulsões como vinagretes
e maioneses, de queijos, coulis, aspic e
outros, que estudaremos com detalhes
na página 35 da unidade II;
• sopas frias;
• saladas simples e compostas;
• terrines, galantines e roulades, preparos que serão aprofundados a partir da
página 71;
• conservas: curas, os defumados e as
salmouras;
• entradas frias;
• decorações para pratos e buffets.
Em alguns estabelecimentos, o Garde Manger
pode ser ainda o responsável por:
• sanduíches;
• preparos de queijos simples ou pratos à
base de queijos;
• manter organizadas todas as câmaras
frias;
• abastecer diariamente as demais bancadas da cozinha, ou seja, ele é quem
requisita e retira os insumos alimentícios
do estoque e distribui na cozinha, para
que a produção daquele dia de trabalho
esteja assegurada e que nada tenha que
ser retirado do estoque no meio da jornada. Esse abastecimento pode ser tanto de
matérias-primas secas, frescas, refrigeradas ou congeladas. O dimensionamento
desse abastecimento é definido com o
Chef de cozinha e é realizado baseado
na produção diária, adicionado de uma
margem de segurança.
• limpeza, cortes, desossa e porcionamento de carnes, executando o pré-preparo
para outras praças;
• preparo de marinadas e outros
condimentos.
Em estabelecimentos de grande porte, como
uma churrascaria rodízio que serve muitos
clientes, o Garde Manger pode ser auxiliado
por “boucher” (açougueiro), profissional que
manipula carnes cruas, ou em um grande hotel
com muitos apartamentos, ele pode ser auxiliado por um chefe de frios, que será
responsável por manter fatiados e bem abastecidos os
buffets de frios (com queijos e fiambres) tanto
do café da manhã como do buffet de frios das
principais refeições.
Vamos conferir atenção especial à praça
do Garde Manger nos estabelecimentos que
oferecem o sistema self-service e disponibilizam aos seus comensais um extensivo
buffet
de saladas e antepastos, expostos em grandes
balcões com pista fria (módulo refrigerado).
Nesse cenário, a operação do Garde Manger é
bastante volumosa e pode chegar à composição
de um Buffet com mais de 50 variedades de
saladas e preparos frios.
O setor de Garde Manger pode ser ocupado
por um Chef Garde Manger ou um Cozinheiro
Garde Manger, que, nesse caso, estará sob a
supervisão do Chef, a depender da complexidade dos preparos dessa praça e do nível
do
restaurante, podendo apresentar, ainda, mais
de um profissional dedicado exclusivamente à
bancada de Garde Manger, além dos commis,
quando houver a necessidade.
Apesar do seu trabalho estar focado na cozinha fria, o Garde Manger não se isenta
de
conhecer e saber executar com propriedade
outras técnicas de cozinha, como todos os
métodos de cocção, tipos de cortes e preparos
quentes.Percebemos, então, que a atuação do
Garde Manger não é nada simples, e desse
profissional se exige conhecimento técnico,
postura profissional e vocação.
Organização do Espaço
Físico, Equipamentos e
Utensílios do
Garde Manger
A organização do espaço físico de uma cozinha está diretamente
ligada ao planejamento da produção, que, por sua vez, está ligado
ao cardápio. Desde o projeto, deve-se planejar como deverá funcionar a cozinha,
respeitando os fluxos: de pessoas, de insumos e
de lixo. Com esses fluxos bem definidos, evita-se a contaminação
cruzada dos alimentos, a exposição desnecessária dos insumos e
a dificuldade de circulação das pessoas dentro da cozinha.
Incluindo a bancada do Garde Manger, o ambiente da cozinha, além de ser funcional,
respeitar os fluxos e permitir a adequada
circulação, deve ter instalações adequadas à
legislação vigente e seguir algumas referências.
Segundo explica Monteiro (2013), devemos considerar em uma cozinha:
• Paredes: as paredes devem ser revestidas
de material resistente e não poroso, para
facilitar a limpeza e a desinfecção.
• Pisos: os pisos devem ser antiderrapantes, fáceis de limpar, resistentes e
impermeáveis. A caída de água deve garantir
que não acumule água no piso, com ralos
dotados de grelhas para evitar a entrada
de insetos e de roedores.
• Iluminação: deve-se combinar a luz
natural e artificial que possibilite a
visão clara dos alimentos e da limpeza
da cozinha. As lâmpadas localizadas
dentro da cozinha devem ser preferencialmente as fluorescentes, protegidas
por capa de acrílico ou outro material,
evitando acidentes e a contaminação
dos alimentos em caso de explosões
ou quebra.
• Portas: as portas das áreas de produção
devem possuir dispositivos ou molas que
as mantenham sempre fechadas; devem
estar a 1 cm de distância do piso e ter
proteção contra a entrada de roedores
e de insetos.
• Janelas: considerando que todo o ar
quente produzido pelas cocções tende a
subir, as janelas devem estar localizadas
na parte superior das paredes, pois, além
da troca de ar, possibilita a iluminação
natural, sem incidência direta sobre os
alimentos.
• Tetos: indica-se as telhas de barro para
os telhados, os forros de gesso e os revestimentos sem rachaduras, umidade
ou bolor; devem ser de fácil higienização
e que não propaguem o fogo.
• Instalações: em ambientes de preparo
de alimentos, deve-se ter atenção especial nas instalações elétricas, gás, água
e esgoto.
• Ergonomia: em virtude da jornada de
trabalho em uma cozinha ser pesada,
deve-se pensar em uma disposição e
instalação que levem em consideração
também as questões ergonômicas, as
bancadas, por exemplo, devem ter de
0,85 a 0,90 cm de altura.
• Temperatura: a temperatura ideal e aceitável para uma cozinha está entre 22ºC
e 26ºC.
• Sistema de Exaustão: devem ser eficientes e auxiliar na manutenção da temperatura
ideal da cozinha, possuir telas
removíveis para correta higienização e
extração da gordura acumulada e evitar
a entrada de insetos e roedores.
A bancada do Garde Manger
A bancada do Garde Manger, fisicamente falando, pode estar inserida no complexo da
cozinha
de duas formas:
1. Quarto Frio: também conhecido como
sala fria, é a situação ideal, mas pouco
presente nas cozinhas. O quarto frio é
como se fosse uma dependência da cozinha, um ambiente fechado, totalmente
refrigerado, na maioria das vezes, separado por paredes metade alvenaria e
metade vidro, o acesso se dá por portas
de vai e vem de PVC flexível com visor
transparente. Essa situação propicia que
o Garde Manger manipule todos os seus
preparos sem a preocupação da exposição dos insumos perecíveis à temperatura
ambiente por um período maior
de tempo.
2. Integrado à cozinha: muito ocorrente
nas cozinhas profissionais. Nessa situação, a bancada do Garde Manger está
integrada às demais bancadas, no mesmo
complexo. Deve estar mais distante dos
preparos quentes, chegando, às vezes, a
ser dividida por uma meia parede.
Equipamentos e Utensílios
Independentemente de sua posição física, Teichmann (2000) pontua que,
para a perfeita execução das tarefas do Garde Manger, deve-se considerar,
primeiramente, que a sua bancada deve atender todas as exigências já citadas
anteriormente, como iluminação, ventilação, piso, paredes, escoamento etc.
Além da infraestrutura, essa bancada deve conter:
• Bancada de aço inox.
• Cubas.
• Balcões refrigeradores.
• Pista Fria para
mise-en-place.
• Freezers.
• Equipamento de
refrigeração rápida.
• Descascador de legumes.
• Picador multifuncional.
• Cortador de frios.
• Batedeira.
• Liquidificador.
• Processador de alimentos.
• Mixer.
• Balança.
• Tábuas de corte.
• Suporte para tábuas.
• Facas variadas.
• Cortadores e aros em
vários formatos.
• Formas de vários
tamanhos e formatos.
• Boleador.
• Descaroçador de azeitonas.
• Pincéis.
• Bowls em vários tamanhos.
• Fuets.
• Espátulas.
• Termômetro.
• Abridor de lata e
de garrafa.
• Silpat.
• Pegadores.
• Peneiras.
• Rolo.
• Jarras e Copos
medidores.
• Ralador.
• Tesoura.
• Funil.
• Mandolin.
• Bicos e Saco de
Confeiteiro.
• Maçarico.
O uniforme do Garde Manger segue o padrão adotado por cada restaurante
para vestir a sua brigada. Basicamente, ele é composto por calça, dólmã, avental,
sapatos e chapéu. O chapéu de Chef profissional é chamado de “toque”,
que vem do francês “toque blanches”, auxiliares e outros cozinheiros usam
uma touca, que é popularmente conhecida como bibico.
Chegamos ao final da nossa primeira
unidade do livro de Garde Manger.
Até aqui, familiarizamos-nos com o
nosso objeto de estudo, cumprindo o
nosso objetivo de formar uma base de conhecimentos sólidos sobre este setor e este
profissional: o Garde Manger.
Nesta unidade, compreendemos que a organização da cozinha em sistemas de brigada
trouxe
muitos benefícios à dinâmica dos restaurantes,
pois mostrou que cada um tem um papel importante dentro da cozinha, com
responsabilidades
e funções específicas, mas que, independentemente disso, somos todos uma única e
grande
brigada, trabalhando em prol de um mesmo objetivo: a satisfação total do nosso
cliente. Por
isso, além das atividades específicas que cabem
a cada bancada, deve-se ter conhecimento geral
das habilidades básicas de uma cozinha.
No que diz respeito ao profissional Garde
Manger, observamos que ele é o responsável por
todos os preparos frios, que vão dos molhos às
entradas, passando pelas saladas, terrines e as
conservas. Mas cabe a cada estabelecimento
estabelecer sua rotina de tarefas e preparos, que
será baseada no cardápio e no planejamento da
produção diária.
O seu ambiente de trabalho, assim como
de todas as bancadas em uma cozinha, deve
ser organizado fisicamente, propiciando a
boa execução dos pratos, com espaço de
bancada disponível, pistas refrigeradas para
mise-en-place, equipamentos e utensílios
específicos do Garde Manger. E é fundamental que tudo esteja, sempre, em ótimas
condições de uso.
Agora que você conhece quem é e como
trabalha o Garde Manger, podemos iniciar
detalhadamente os estudos das preparações
de responsabilidade dessa bancada, assunto
que será conteúdo das duas unidades que
seguem.
Agora responsa essas perguntas:
1. São atividades do Garde Manger:
I- Preparação de molhos frios.
II- Preparação de saladas simples e compostas.
III- Preparação das proteínas e a cocção delas.
IV- Preparação de guarnições, como arroz, massas e verduras salteadas.
V- Preparação de entradas frias e terrines.
Estão corretas as alternativas:
a- I, II e IV.
b- I, II, III e V.
c- I, II e V.
d- II, III e V.
e- Todas as alternativas.
2. Como se deu e quais foram as vantagens da organização da cozinha em
sistema de brigada?
3. Cite 3 equipamentos ou utensílios essenciais à bancada do Garde Manger
CONCLUSÃO
A gastronomia, como sabemos, está em alta. Virou
assunto de muitas rodas e uma paixão que vem conquistando adeptos das mais diversas
áreas e ganhando
espaço em todos os lugares, das universidades às prateleiras das livrarias, dos
programas de TV às cozinhas
de todas as casas. E a importância, responsabilidade
e reconhecimento dos profissionais da gastronomia
crescem concomitantemente a essa “descoberta” do
prazer da gastronomia. Portanto, para quem deseja
seguir profissionalmente nessa área, é indispensável o
aprofundamento nos conceitos, nos fatos históricos e
no aprendizado das técnicas da cozinha profissional.
Este livro de Garde Manger, aliado aos demais
materiais e disciplinas deste curso e às experiências
práticas, funcionará como uma ferramenta importante
no processo de sua formação.
Comentamos, ao longo do livro, que a bancada
do Garde Manger se consolidou desde que Escofier
organizou a cozinha em sistema de brigadas e cada
Chef passou a ter sua bancada e os preparos de sua
responsabilidade. Isso trouxe muitos benefícios tanto
para os estabelecimentos quanto para os clientes,
pois a organização dos processos de produção da
cozinha ganhou padronização e os resultados chegaram às mesas.
Nessa sistematização de Escofier, o Garde Manger
é o chef de partie responsável pelos preparos frios e,
por esse motivo, a sua bancada deve estar distante fisicamente das praças quentes
e, em alguns restaurantes,
ocupa um espaço isolado e refrigerado, que chamamos
de quarto frio. Esse profissional deve contar com uma
bateria de equipamentos e de utensílios que possibilitem a perfeita execução dos
preparos frios.
Os molhos frios são destinados para uso em saladas, dips e acompanhamentos de
outros pratos do
cardápio. Dividem-se em molhos emulsionados, à base
de laticínios e aspic. As técnicas devem ser executadas
com precisão, pois, a partir do domínio das técnicas
básicas, o Garde Manger pode ter uma evolução com
resultados surpreendes na preparação desses molhos.
As sopas frias, muito consumidas nas estações
mais quentes do ano, ganham espaço nos serviços de
fingerfood e entradas como as clássicas “vichyssoise”
e “gaspacho”, receitas, respectivamente, francesa e
espanhola presentes nos cardápios dos restaurantes
do mundo todo.
O preparo de saladas deu ao Garde Manger notoriedade e fama e, nos dias de hoje, a
expressão
Garde Manger é rapidamente associada à produção
de saladas. Neste grupo, incluímos saladas verdes
(para acompanhamento) e compostas e fica a cargo
desta bancada explorar as inúmeras possibilidades de produzir saladas das mais
triviais às mais
inusitadas.
É importante, aluno(a), que sejam compreendidos todos os métodos de conservação
existentes há
muitos anos, época em que conservar alimentos era
a única alternativa de manter o alimento próprio ao
consumo por um período mais longo, ou ainda, na
busca de ter um determinado alimento disponível em
épocas sazonais. Atualmente, na era da tecnologia,
com tantas possibilidades de refrigeração, a salga, a
defumação, a conservação em gordura e outros tipos
de conservas passaram a ter um papel puramente
gastronômico. A oferta do sabor dos alimentos conservados representa um teor único
e indispensável
nas cozinhas modernas.
Ainda no que tange às responsabilidades do
Garde Manger,o livro relata os tipos e os processos
de montagem de terrines. Ainda que menos presentes nas mesas dos restaurantes, as
terrines têm lugar
garantido nos buffets e nos eventos, sua textura tão
original caracteriza a obra do Garde Manger.
Sempre apreciadas pelos comensais, as entradas
são tão importantes quanto o prato principal. A
harmonização de sabores, texturas e a apresentação
visual devem impressionar e provocar no cliente
momentos de deleitamento e grande expectativa do
que vem adiante. Do simples couvert ao fingerfood
mais elaborado, o hors-d’oeuvre, como chamam os
franceses, deve ser convidativo e de sabor notável.
Se até agora falamos das preparações de incumbência do Garde Manger, findaremos com
a convicção de que, se desejamos proporcionar ao comensal
uma experiência única, é elementar a relevância da
apresentação visual dos pratos, a consideração dos
aspectos estudados na unidade III e o planejamento
de todos os detalhes de como o prato chegará ao
comensal. É comum que o Garde Manger faça o
rascunho do prato que imagina servir, assim, ele
o desenha em papel e simula as diversas possibilidades de apresentação, seleciona
as que mais lhe
agradam e que sejam compatíveis com o conceito
do restaurante, executando o prato de acordo com a
ficha técnica. O prato pronto deve traçar o percurso
exato que ele fará para chegar ao comensal (da cozinha ao salão), somente após o
prato estar na mesa
é que se pode avaliar se ele chega ao seu destino
final com a mesma apresentação que foi planejada.
É comum, por exemplo, que pratos montados em
pirâmide cheguem aos comensais já desmontados
e o inconveniente é que o comensal nunca saberá
qual era a real proposta do Chef.
Assim, a escolha do modelo de montagem e do
garnish correto confere ao prato uma autenticidade
e um respeito que serão percebidos pelo cliente.
Encerro este livro feliz por ter contribuído, por
meio do conteúdo trabalhado, com a sua formação
nesse processo de construção dos conhecimentos
gastronômicos. E, mais do que isso, desejo que todos
nós, profissionais e futuros profissionais da gastronomia, tenhamos sempre a
compreensão de que
a necessidade do mercado hoje, além de grandes
talentos na cozinha, é de pessoas comprometidas
com uma gastronomia técnica, séria e profissional.
Foi um grande prazer e espero nos encontrarmos
outras vezes.