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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-AIRR - 446-81.2020.5.09.0242

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Agravante: INSTITUTO LEONARDO MURIALDO
Advogado: Dr. Alberto de Paula Machado
Agravado: JULIANA DE OLIVEIRA
Advogado: Dr. Jonathas Moises de Castro e Souza

GMMHM/mvm

DECISÃO

Insurge-se a parte agravante em face da decisão do TRT que


denegou seguimento ao seu recurso de revista. Sustenta, em síntese, que o seu apelo
trancado reúne condições de admissibilidade.
Dispensada a remessa ao douto MPT (art. 95, § 2°, do RITST).
Examino.
Com efeito, as vias recursais extraordinárias para os tribunais
superiores são restritas e não traduzem terceiro grau de jurisdição. Busca-se,
efetivamente, assegurar a imperatividade da ordem jurídica constitucional e federal,
visando à uniformização da jurisprudência no País.
Tratando-se de recurso de revista, a admissibilidade do apelo só
tem pertinência nas estritas hipóteses jurídicas do art. 896, “a”, “b” e “c”, da CLT,
respeitados os limites rigorosos dos parágrafos 2º, 7º e 9º do mesmo artigo. Pertinência
das Súmulas 266, 333 e 442 do TST.
Eis os termos da decisão agravada:

PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
A presente demanda está tramitando sob o rito sumaríssimo. O recurso
de revista, em tal hipótese, somente tem cabimento por contrariedade a
Súmula da jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho ou a
Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal ou, ainda, por violação direta
à Constituição da República, a teor do artigo 896, § 9º, da Consolidação das
Leis do Trabalho e da Súmula n.º 442 do Tribunal Superior do Trabalho.
TRANSCENDÊNCIA
Nos termos do artigo 896-A, § 6º, da Consolidação das Leis do Trabalho,
cabe ao Tribunal Superior do Trabalho analisar se a causa oferece
transcendência em relação aos reflexos gerais de natureza econômica,
política, social ou jurídica.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR (2567) / INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL
Alegação(ões):
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- violação do(s) incisos II e X do artigo 5º; inciso XXVIII do artigo 7º da
Constituição Federal.
A Recorrente alega que não houve dano pré-contratual, uma vez que
não houve promessa de emprego. Assevera que a Autora foi informada sobre
a impossibilidade da contratação em razão da pandemia da COVID-19.
Fundamentos do acórdão recorrido:
"Incontroverso que a reclamante participou de processo
seletivo junto à reclamada, a fim de ocupar vaga como "atendente
de estacionamento rotativo".
A prova oral e documental produzida demonstra que o
comportamento da reclamada gerou na reclamante a certeza de
que seria contratada.
De início, observe-se que os depoimentos da preposta e da
testemunha confirmam que a reclamante foi convocada para
apresentar documentos pessoais relativos à contratação,
marcando inclusive data para início das atividades (depoimento
da testemunha).
Demonstrado, ainda, que no período de 14/03/2020 a
24/04/2020 a ré manteve a CTPS da autora sob sua guarda, sendo
devolvida apenas em 13/08/2020, e, ainda assim, mediante
depósito na Secretaria da Vara, conforme se observa da certidão
de fl. 71.
Também ficou comprovado que houve a solicitação de
abertura de conta salário por parte da autora, já que a preposta
confessou que o procedimento é padrão na reclamada já quando
da entrega dos documentos pessoais, o que foi providenciado
pela autora (cartão de fl.20).
Ainda que a contratação tenha sido obstaculizada em razão
do "lockdown", conforme comprova o Decreto Municipal 172,
23/03/2020, juntado às fls. 53/54, tanto a preposta, como a
testemunha, confirmaram que após superada a situação mais
crítica de restrições decorrentes da pandemia, as contratações
voltaram a ocorrer, contudo não souberam justificar o porquê de
a autora não teria sido novamente convocada.
A análise da prova oral evidenciou, portanto, que não se
tratou de mera expectativa, mas de plena confiança da
contratação não efetivada, ficando claro que as tratativas
iniciais incutiram na reclamante a certeza de formalização do
contrato de trabalho.
O evento da pandemia do Covid-19 seria óbice legítimo
para a não contratação, desde que a reclamada não detivesse a
CTPS da reclamante para período posterior à realização de novas
contratações, sem contratá-la.
Trata-se, a meu juízo, da violação do princípio da boa-fé
objetiva, no sentido de que os contratos devem ser interpretados

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a partir da confiança norteadora dos comportamentos e
responsabilidades dos contratantes.
No caso, verifica-se, especificamente, a figura do venire
contra factum proprium, em que o empregador, por meio de atos
concretos, faz nascer no empregado a confiança na realização de
nova situação jurídica, vindo, posteriormente a praticar ato
contrário.
De fato a reclamada fez suscitar na reclamante a confiança
de que seria contratada, solicitando e retendo documentos
pessoais, determinando abertura de conta salário, e inclusive
marcando data para início das atividades. A não contratação
contrariou a confiança.
Nesse sentido há diversos precedentes deste E. TRT:
DANO MORAL BOA FÉ OBJETIVA. VENIRE CONTRA
FACTUM PROPRIUM. Os contratos devem ser interpretados com
enfoque na tutela de confiança entre os contratantes. Trata-se do
princípio da boa-fé objetiva nos contratos, descrita no artigo 402
do CCB/02, que impõe aos contratantes o dever de manterem
comportamento marcado pela lealdade, honestidade e
cooperação, inclusive na fase pré-contratual, com o intuito de
preservar a confiança na relação contratual. A ré tem o direito de
contratar ou não determinado candidato ao emprego, mas ao
exercê-lo, não pode exceder seus limites e romper a confiança
que lhe foi depositada pela contraparte, causando-lhe prejuízo.
No caso dos autos, a ré falhou com o dever de conduta no
contrato de trabalho, incidindo na hipótese de ofensa à boa-fé
objetiva chamada pela doutrina de Venire contra factum
proprium. A ré teve um comportamento que gerou na autora a
confiança de que aquele comportamento seria mantido e,
contraditoriamente, realizou um segundo comportamento
contrário ao primeiro, quebrando a confiança e gerando um
prejuízo à autora. Por isso, a existência de culpa no sentido
subjetivo é irrelevante, mas o que importa é uma análise objetiva
da questão. Significa que demonstrado comportamento
contraditório por uma das partes, de forma a lesar a confiança
entre elas no contrato, há o dever de indenizar,
independentemente de culpa no sentido subjetivo. TRTPR-
11690-2013-513-09-00-3-ACO-42436-2014 - 3A. TURMA, Relator:
THEREZA CRISTINA GOSDAL, Publicado no DEJT em 05-12-2014.
PERDA DE UMA CHANCE. COMPENSAÇÃO POR DANOS
MORAIS.A teoria da perda de chance impõe indenização em face
de uma possibilidade, todavia, é necessário que o grau de certeza
do alcance da possibilidade, ou as chances, sejam perceptíveis e
passíveis de avaliação. Desse modo, tem que haver sido negada
ao trabalhador a possibilidade de atingir uma situação mais
vantajosa, a qual muito provavelmente alcançaria não fosse a

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atitude patronal. A responsabilização do empregador decorre da
quebra de confiança e consequente violação do dever de boa-fé
quando das tratativas para a contratação. In casu, ficou
demonstrado que a ré incluiu o autor em processo seletivo de
contratação, solicitando documentos e submetendo-o a exame
admissional, tendo, inclusive, solicitado abertura de conta salário
em instituição bancária, retendo, ainda, a CTPS do trabalhador,
criando a falsa expectativa de contratação, tanto que o
reclamante demitiu-se do emprego que mantinha com outra
empresa. Ao desistir da pactuação após o trâmite do processo
seletivo, a ré frustrou a expectativa legítima do autor quanto à
obtenção de novo emprego, sobressaindo o direito do
trabalhador à indenização. A forma adotada pela ré para a
seleção de empregados denota evidente descaso para com o
candidato autor, impondo-lhe perpassar todas as fases de um
processo seletivo aparentemente seguro e confiável,
fornecendo-lhe informações e dados concretos de iminente
contratação, em seguida negada.
Configurou-se nítido abuso no exercício do direito de
contratar pela ré (arts. 187 do CCB e 8º da CLT), uma vez que feriu
uma expectativa legitimamente criada no reclamante sobre a
contratação anunciada. Recurso ordinário a que se dá
provimento.
0000771-08.2018.5.09.0022 (ROT)-7ª Turma RELATOR:
ROSEMARIE DIEDRICHS PIMPÃO, publicado em 10/11/2020 Da
mesma forma, a jurisprudência do C. TST reconhece o direito de
indenização por dano moral nos casos em que frustrada, de
forma injustificada, a legítima expectativa de contratação - em
prestígio à boa fé-objetiva: (...) III - RECURSO DE REVISTA -
REGÊNCIA PELA LEI N° 13.015/2014 - INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. PROMESSA DE EMPREGO. CONTRATAÇÃO FRUSTRADA. O
entendimento desta Corte é no sentido de que, em prestígio à
boa-fé objetiva, ao vislumbrarem a formação do vínculo
contratual, as partes comprometem-se, desde então, ao
cumprimento de obrigações pertinentes à fase do pré-contrato
razão pela qual, se o empregador não corresponde à expectativa
do trabalhador, deve indeniza-lo por danos morais. Recurso de
revista conhecido e provido. (RR-11623-54.2015.5.01.0011, 8ª
Turma, Relator Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, DEJT
22/03/2019).
REVELIA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PERDA DE UMA
CHANCE. EXPECTATIVA DE EMPREGO. Em decorrência da revelia e
da confissão ficta aplicada à reclamada, bem como em virtude da
inexistência de provas em contrário, o Regional manteve a
sentença, em que se condenou a ré ao pagamento de indenização
por danos morais, por presumir verdadeira a alegação contida na

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exordial de que os requisitos necessários à responsabilização
patronal foram configurados, em razão de o autor ter se
desligado de seu emprego anterior, por acreditar na promessa de
trabalho ofertada pela ora agravante. Nos termos do artigo 844
da CLT, o não comparecimento do reclamante à audiência
importa o arquivamento da reclamação, e o não comparecimento
do reclamado importa revelia, além de confissão quanto à
matéria de fato. Na hipótese dos autos, foi decretada a revelia da
reclamada, em razão da ausência em audiência, reputando-se
verdadeiros os fatos afirmados pelo reclamante na exordial, nos
termos do artigo 344 do novo CPC. Salienta-se que a revelia e a
confissão fazem recair sobre a ré o encargo de desqualificar a
presunção relativa de veracidade das informações contidas na
inicial. No entanto, a agravante não de desincumbiu desse ônus
probatório, motivo pelo qual não se verifica ofensa aos artigos
818 da CLT e 373 do novo CPC. Assim, em face da revelia e
confissão aplicadas à reclamada, está correta a decisão regional
em que se consideraram verdadeiras as alegações contidas na
inicial e, consequentemente, se manteve a condenação da ora
agravante ao pagamento de indenização por dano moral. (AIRR -
10146-13.2015.5.03.0052. Data de Julgamento: 24/04/2018,
Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 27/04/2018).
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA
REGIDO PELA LEI 13.015/2014. RITO SUMARÍSSIMO.
INDENIZAÇÕES POR DANOS MORAIS. PROMESSA DE
EMPREGO.
REALIZAÇÃO DE EXAME MÉDICO ADMISSIONAL.
EXPECTATIVA DE CONTRATAÇÃO FRUSTRADA PELA EMPRESA.
RETENÇÃO DA CTPS.
1. O Tribunal Regional consignou que restaram
comprovados a promessa de contratação, a realização de exame
médico admissional, abertura de conta, agendamento de
treinamento e cancelamento arbitrário da vaga, a par da retenção
da CTPS por prazo superior a trinta dias, considerando que essas
premissas fáticas são suficientes a demonstrar os danos morais
sofridos pelo reclamante. 2. O entendimento desta Corte é no
sentido de que, em prestígio à boa-fé objetiva, ao vislumbrarem a
formação do vínculo contratual, as partes comprometem-se,
desde então, ao cumprimento de obrigações pertinentes à fase
do pré-contrato, de modo que, uma vez frustrada, de forma
injustificada, a legítima expectativa de contratação que infundiu
no empregado, a empresa atrai para si o dever de indenizar os
danos morais decorrentes dessa conduta abusiva. 3. Tratando-se,
outrossim, de um dano in re ipsa, ou seja, que prescinde de
comprovação, basta a demonstração do ato ilícito e do nexo

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causal, os quais restaram evidenciados na hipótese. Intactos,
assim, sob esse enfoque, os arts. 5º, X, e 7º, XXVIII, da Constituição
Federal. Agravo de instrumento parcialmente conhecido e não
provido. (Processo: AIRR - 11108-31.2015.5.03.0183 Data de
Julgamento: 09/11/2016, Relator Ministro: Hugo Carlos
Scheuermann, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/11/2016).
Nesse contexto, correta a decisão de primeiro grau que deferiu
compensação por dano moral, a qual se mantém por seus próprios
fundamentos, conforme permissivo do art. 895, § 1º, IV, da CLT.
No tocante ao valor da indenização, há que se considerar que o
ofendido tem que receber uma soma que compense o dano, tendo em vista
os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, para que se possa
atingir uma indenização justa, proporcionando a certeza de que o ato ofensivo
não fique impune e, ainda, sirva de desestímulo à reincidência de
comportamento similar, por parte do empregador, que venha causar dano
moral a outros empregados. Diante do exposto, considero razoável e
proporcional o valor de R$ 5.000,00 fixado na origem.
Nada a reparar"
De acordo com os fundamentos expostos no acórdão “A análise da
prova oral evidenciou, portanto, que não se tratou de mera expectativa, mas
de plena confiança da contratação não efetivada, ficando claro que as
tratativas iniciais incutiram na reclamante a certeza de formalização do
contrato de trabalho”, não se vislumbra possível violação literal e direta aos
dispositivos da Constituição Federal invocados.
Denego.

Inicialmente, cumpre esclarecer que se trata de processo


submetido ao rito sumaríssimo, cujo conhecimento do recurso de revista somente é
possível por contrariedade à súmula do TST, súmula vinculante do STF, ou por violação
direta da Constituição Federal, nos termos de art. 896, § 9º, da CLT e da Súmula 442 do
TST, pelo que não cabe a apreciação de violação ou contrariedades alheias aos limites
delineados pelo referido dispositivo.
No presente caso, o recurso de revista mostra-se inviável,
porquanto, no tocante ao tema “dano moral – expectativa de contratação frustrada”,
emergem como obstáculo à admissibilidade do recurso de revista as diretrizes
consubstanciadas nas Súmulas 126, 333 e 442 do TST e no art. 896, §§ 7º e 9º, da CLT.
Com relação ao tema “dano moral – expectativa de contratação
frustrada”, a agravante aponta afronta aos arts. 5º, II, X; 7º, XXVIII, da Constituição
Federal; 186, 188 e 927 do Código Civil e 223-B, da CLT.
Alega que a Corte regional “condenou a empresa reclamada sem
que houvesse qualquer negociação preliminar frustrada, haja vista que a autora foi
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informada sobre a impossibilidade da contratação, como bem destacado no v. acórdão, em
razão da pandemia do Coronavirús”. Sustenta que “não houve expectativa de contratação
por parte da reclamante, pois restou comprovado que a recorrente entrou em contato
informando que não seria possível efetivar o contrato, o que demonstra, além da boa-fé da
parte demandada, em observância ao artigo 113 do Código Civil, que a reclamante tinha
plena consciência da impossibilidade da contratação no momento”.
Analiso.
De plano, após analisar as razões do apelo, constata-se que não
há afronta à Constituição Federal nem contrariedade a Súmula do Tribunal Superior do
Trabalho.
No caso, o quadro fático registrado pelo Tribunal Regional revela
que, a reclamada criou uma fundada expectativa na reclamante, já que adotou
procedimento para uma efetiva contratação, pelo que a frustração imprevista excedeu
seu poder diretivo, configurando-se o ato ilícito. Tais premissas fáticas não comportam
revisão por esta Corte, na medida em que eventual conclusão diversa depende de
revolvimento de fatos e provas, procedimento obstado nesta instância extraordinária, a
teor da Súmula 126 do TST.
Nesse sentido, citam-se os seguintes julgados desta Corte:

RECURSO DE REVISTA. SUMARÍSSIMO. DANO MORAL.


INDENIZAÇÃO. PROMESSA DE EMPREGO. ÔNUS DA PROVA. 1. O e.
TRT entendeu que -no caso em apreço há prova irrefutável de que
houve a seleção e o recorrido nela foi considerado apto sendo
que o rompimento da fase pré-contratual, com a frustamento ao
trabalhador, de obter um emprego e assim, adquirir cidadania e
tranquilidade para si e sua família- foi -fato suficiente a provocar
dano moral, abalo psicológico no trabalhador e ofensa à sua
honra-. Dessa forma, o Colegiado considerou, uma vez
configurado o dano, o dolo e o nexo causal-, procedente o
pagamento de indenização por danos morais no montante de
R$5.000,00. 2. É impertinente, à análise do recurso, a indicação de
ofensa aos arts. 7º, XXVIII e 170, da Lei Maior, uma vez que não
versam sobre a matéria em debate, qual seja, indenização por
danos morais em razão da promessa de emprego feita à
reclamante. Recurso de revista não conhecido, no tema.(...). (RR -
1015-19.2013.5.08.0125, Relator Ministro: Hugo Carlos
Scheuermann, 1ª Turma, DEJT 10/10/2014);

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


PRÉ-CONTRATO DE TRABALHO. CONTRATAÇÃO FRUSTRADA.
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CARACTERIZAÇÃO DE DANO MORAL. DECISÃO DENEGATÓRIA.
MANUTENÇÃO. A circunstância de o empregador, na fase que
antecede à formalização do contrato de trabalho, gerar no
trabalhador séria e consistente expectativa de efetivação do
pacto, sendo que, na sequência, acaba por não efetivá-lo, enseja a
condenação ao pagamento de indenização por dano moral, além
dos danos materiais evidenciados ou razoavelmente aferidos (art.
5º, V e X. CF; art. 186, CCB). Desse modo, não há como assegurar o
processamento do recurso de revista quando o agravo de
instrumento interposto não desconstitui os fundamentos da
decisão denegatória, que subsiste por seus próprios
fundamentos. Agravo de instrumento desprovido.
(AIRR-848-28.2010.5.09.0594, Relator Ministro Mauricio Godinho
Delgado, 3ª Turma, DEJT 31/01/2014);

Nesse contexto, em que restou evidenciado o dano, a conduta


culposa do empregador e o nexo causal entre ambos, a decisão do Tribunal Regional
está em consonância com a jurisprudência desta Corte, incidindo como óbice o disposto
na Súmula 333 do TST e do art. 896, § 7.º, da CLT.
Acrescente-se que a presente controvérsia não é alcançada pela
decisão proferida pelo Ministro Gilmar Mendes no RE nº 960.429/RN, com Repercussão
Geral admitida - Tema 992: Discussão quanto à competência para processar e julgar
controvérsias nas quais se pleiteiam questões afetas à fase pré-contratual de seleção e
de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame, em face de pessoa jurídica de
direito privado -, por meio da qual determinou a suspensão, em âmbito nacional, de
todos os processos em tramitação que versem sobre o mesmo tema.
A análise dos fundamentos contidos na decisão que reconheceu
a existência de repercussão geral revela que a discussão original teve origem em
acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte a respeito de eventual
colisão de competência com a Justiça Estadual, por envolver a aplicação de normas de
Direito Administrativo, voltadas à regência dos atos praticados pela Administração
Pública.
Não há, no presente feito, o suposto descompasso entre normas
de cunho administrativo ou trabalhistas de modo a afetar a competência desta Justiça,
já que se trata de empregador privado.
Destarte, observa-se que a parte agravante não obteve êxito em
desconstituir os fundamentos da decisão ora agravada, razão pela qual adoto tais
fundamentos como razões de decidir.

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Cumpre salientar que a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal admite a denominada fundamentação "per relationem", técnica pela qual se faz
referência ou remissão às alegações de uma das partes, a precedente ou a decisão
anterior nos autos do mesmo processo, porquanto atende a exigência constitucional da
fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, da CF/88).
Nesse mesmo sentido, cito os seguintes precedentes do STF: HC
130860 AgR, Relator Ministro Alexandre de Moraes, Primeira Turma, DJe-247 de
27/10/2017; HC 142435 AgR, Relator Ministro Dias Toffoli, Segunda Turma, DJe-139 de
26/6/2017; RHC 120351 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJe-091
de 15/05/2015 PUBLIC 18-05-2015 e MS 28160, Relatora Ministra. Rosa Weber,
Tribunal Pleno, DJe-207 de 17/10/2013.
Frise-se, ainda, que o Supremo Tribunal Federal, ao examinar o
Tema 339, concluiu que o art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou a
decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o
exame pormenorizado de cada uma das alegações da parte.
Assim, incólumes os dispositivos legais e constitucionais
invocados.
Ademais, restam preclusas as matérias não renovadas no agravo
de instrumento.
Por fim, registre-se, por oportuno, que a oposição de embargos
de declaração ou a interposição de recurso está passível de penalidade, se constatado o
caráter manifestamente protelatório da medida, consoante os arts. 1.026, § 2º, do CPC e
793-B, VII, e 793-C da CLT, respectivamente.
Ante o exposto, com fundamento nos arts. 932, III e IV, c/c 1.011,
I, do CPC/2015 e 118, X, do RITST, nego seguimento ao agravo de instrumento.
Publique-se.
Brasília, 30 de maio de 2022.

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MARIA HELENA MALLMANN


Ministra Relatora

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