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Lei N.º 6/2023 quando este requeira a continuação da intervenção para a


promoção e proteção iniciada antes de atingir os 17 anos.
de 1 de Março
2. A intervenção para a promoção e proteção referida no número
Lei de Proteção das Crianças e Jovens em perigo anterior pode ser prorrogada enquanto perdurarem
processos educativos ou de formação profissional e até o
O desenvolvimento de um sistema de proteção integral da jovem atingir os 23 anos.
criança e do jovem impõe um esforço de harmonização de todas
as leis relativas à promoção e proteção dos direitos das crianças 3. A continuação de uma medida de promoção e proteção a
e dos jovens. maiores de 17 anos de idade não pode limitar ou restringir
a capacidade jurídica do jovem.
Em particular, a aprovação de uma legislação específica
centrada na proteção de crianças e jovens em perigo e sensível Artigo 4.º
às suas necessidades, contribui para o estabelecimento de um Definições
sistema de proteção integral, em linha, também, com os
compromissos internacionais assumidos pelo país, em 1. Para efeitos da presente lei, considera-se:
particular, em relação à Convenção sobre os Direitos da Criança,
de 1989, e protocolos facultativos. a) «Acordo de promoção e proteção», compromisso
reduzido a escrito entre os serviços de proteção das
Neste quadro, a Lei de Proteção das Crianças e Jovens em crianças e jovens e os pais, representante legal ou quem
perigo estabelece mecanismos cruciais para a prevenção da tenha a guarda de facto e, ainda, a criança e o jovem
violação e proteção dos direitos das crianças e dos jovens. com mais de 12 anos, pelo qual se estabelece um plano
individual e medidas de promoção e proteção;
O estabelecimento dos requisitos e condições específicas para
as intervenções por entidades civis, administrativas e judiciais, b) «Criança ou jovem», a pessoa com idade inferior a 17
segundo os princípios da intervenção mínima, proporciona- anos;
lidade e audição obrigatória, consolida o sistema de proteção
centrado na vítima. c) «Criança ou jovem com deficiência», a criança ou jovem
com deficiência física, mental, psicossocial, intelectual,
Igualmente, determinando a lei o dever de comunicação de neurológica ou outros impedimentos sensoriais que,
ocorrências suscetíveis de violação dos direitos das crianças em interação com vários obstáculos ambientais,
e jovens às entidades e autoridades competentes, reforça-se o comportamentais ou outros possam obstruir à sua
sistema de proteção integral em desenvolvimento no país. participação plena e eficaz na sociedade em igualdade
de circunstâncias com as demais crianças e jovens;
Finalmente, o desenvolvimento de um marco processual
específico focado na proteção das crianças e dos jovens reforça d) «Entidades com competência em matéria de infância e
as medidas que visam reduzir a vitimização secundária, evitando juventude», as pessoas coletivas públicas ou privadas
a exposição das vítimas a danos adicionais. que desenvolvem a sua atividade com crianças e jovens;

O Parlamento Nacional decreta, nos termos do n.º 1 do artigo e) «Guarda de facto», a relação que se estabelece entre a
95.º da Constituição da República, para valer como lei, o criança ou o jovem e a pessoa que com ele vem
seguinte: assumindo, continuadamente, as funções essenciais
próprias de quem exerce as responsabilidades parentais
CAPÍTULO I de, no interesse da criança e do jovem, velar pela sua
DISPOSIÇÕES GERAIS segurança e saúde, prover o seu sustento e dirigir a
sua educação;
Artigo 1.º
Objeto f) «Medida de promoção e proteção», a providência
A presente lei tem por objeto a promoção dos direitos e a adotada pelos serviços de proteção das crianças e
proteção das crianças e dos jovens em perigo, por forma a jovens ou pelos tribunais, nos termos da presente lei,
garantir o seu bem-estar e o desenvolvimento integral. para promover o bem-estar integral e proteger a criança
e o jovem em perigo;
Artigo 2.º
Âmbito g) «Perigo», qualquer ameaça à vida, integridade física
ou psíquica, segurança, saúde, formação, educação ou
A presente lei aplica-se às crianças e aos jovens em perigo que desenvolvimento da criança ou do jovem;
residam ou se encontrem em território nacional.
h) «Redes de proteção das crianças e jovens», os órgãos
Artigo 3.º colegiais constituídos por representantes dos serviços
Aplicação da lei a maiores de 17 anos de idade sociais, dos serviços de proteção das crianças e jovens,
dos municípios, das comunidades e das entidades com
1. A presente lei aplica-se ao jovem até perfazer 21 anos, competência em matéria de infância ou juventude,
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designadamente na área social, da saúde, da educação, c) É negligenciada por não receber, de forma grave ou
da formação profissional, do emprego, da segurança, reiterada, os cuidados de alimentação, saúde, educação,
da justiça, da cultura e do desporto, e com o âmbito de higiene, vigilância ou a afeição adequada à sua idade e
atuação ao nível municipal ou do posto administrativo; situação pessoal;

i) «Serviços de proteção das crianças e jovens», o serviço d) É obrigada a atividades ou trabalhos excessivos ou
da administração direta do Estado, central e inadequados à sua idade, dignidade e situação pessoal
desconcentrado, com a responsabilidade de proteção ou prejudiciais à sua formação ou desenvolvimento;
das crianças e jovens, que funciona na direta
dependência do ministério com responsabilidade na e) É sujeita, de forma direta ou indireta, a comportamentos
área da solidariedade social, nos termos da respetiva que afetem gravemente a sua segurança, equilíbrio
lei orgânica; emocional, bem-estar ou desenvolvimento;

j) «Sistema de proteção das crianças e jovem», inclui f) Assume comportamentos ou se entrega a atividades
todas as pessoas públicas ou privadas, singulares ou ou consumos que afetem gravemente a sua saúde,
coletivas que contribuem para garantir o bem-estar, segurança, formação, educação ou desenvolvimento
promover os direitos das crianças e dos jovens, prevenir sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a
qualquer violação dos seus direitos e proteger a criança guarda de facto se lhes oponham de modo adequado a
e o jovem, salvaguardando sempre o seu interesse remover essa situação;
superior, nomeadamente:
g) Quaisquer outras situações em que a vida, integridade
i) Os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda física ou psíquica, segurança, saúde, formação,
de facto, bem como todos os elementos do agregado educação ou desenvolvimento da criança ou do jovem
familiar; se encontre em causa.

ii) Os elementos da comunidade; Artigo 5.º


Legitimidade da intervenção
iii) As lideranças comunitárias;
A intervenção para promoção dos direitos e proteção da criança
iv) Os serviços de proteção das crianças e jovens, os e do jovem em perigo tem lugar:
serviços públicos e as entidades públicas com
responsabilidade nas áreas da solidariedade social, a) Quando os pais, o representante legal ou quem tenha a
proteção dos direitos das crianças, educação, guarda de facto da criança ou jovem ponham em perigo a
saúde, segurança, registo civil ou quaisquer outros sua vida, integridade física ou psíquica, segurança, saúde,
cuja missão envolva a promoção ou proteção dos formação, educação ou desenvolvimento;
direitos da criança;
b) Quando o perigo referido na alínea anterior resulte de ação
v) As entidades judiciárias, incluindo os tribunais, ou omissão de terceiros ou da própria criança ou jovem, a
Ministério Público e Defensoria Pública; que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda
de facto da criança ou do jovem não se oponham de modo
vi) As autoridades policiais; adequado a removê-lo.
vii) A Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça;
Artigo 6.º
viii) As instituições de solidariedade social, Princípios orientadores da intervenção de promoção e
organizações da sociedade civil e religiosas; proteção

k) «Situação urgente», a situação de perigo atual ou A intervenção de qualquer entidade para assegurar o bem-
iminente para a vida ou de grave comprometimento da estar, a promoção e proteção dos direitos da criança e do jovem
integridade física ou psíquica da criança ou do jovem, em perigo, obedece aos seguintes princípios:
que exija proteção imediata nos termos previstos na
presente lei. a) Interesse superior da criança e do jovem – todas as decisões
relativas à criança ou jovem devem atender prioritariamente
2. Considera-se em perigo a criança ou o jovem, que, ao seu interesse superior, que é avaliado no seu contexto
designadamente, se encontra numa das seguintes individual, familiar e comunitário, considerando as
situações: consequências de cada decisão, quer imediatas, quer a
longo prazo, e tendo em vista promover o seu bem-estar e
a) Está abandonada ou vive entregue a si própria; desenvolvimento integral;

b) É vítima, direta ou indiretamente, de maus-tratos físicos b) Prevenção – As entidades e serviços competentes devem
ou psicológicos, abusos sexuais, pornografia infantil, atuar de forma concertada para desenvolver iniciativas,
violência doméstica ou qualquer outro crime previsto programas e atividades de prevenção de situações de
na legislação penal; perigo, junto da criança e do jovem, famílias e comunidade;
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c) Privacidade - todas as decisões relativas à criança ou jovem – o acolhimento da criança ou jovem em instituições,
devem respeitar a sua intimidade, direito à imagem e reserva centros ou casas de acolhimento deve ser uma medida
da sua vida privada, nomeadamente através do excecional, de caráter temporário e pelo mínimo período
estabelecimento de garantias adequadas de possível, determinada em função do superior interesse da
confidencialidade e limitação do acesso ao público de criança ou jovem, sempre que não seja possível manter a
informações que permitam identificar a criança ou jovem; criança ou jovem no seu meio natural de vida ou recorrer a
uma solução que privilegie a sua inserção em meio familiar;
d) Intervenção mínima – o sistema de proteção monitoriza e
acompanha situações de necessidade de proteção e m) Subsidiariedade – a intervenção deve ser efetuada
intervém sempre que necessário, devendo a intervenção sucessivamente pelas entidades com competência em
ser exercida exclusivamente pelos serviços, entidades e matéria da infância e juventude, pelos serviços de proteção
instituições cuja ação seja indispensável à efetiva das crianças e jovens e, em última instância, pelos tribunais;
promoção dos direitos e proteção da criança e do jovem
em perigo; n) Igualdade e não discriminação – todas as crianças e jovens
têm direitos iguais, não podendo ser sujeitas a qualquer
e) Intervenção prévia – a intervenção deve ser efetuada logo tipo de discriminação com base em qualquer condição,
que a situação de perigo seja conhecida; nomeadamente na cor, raça, sexo, género, língua, religião,
nacionalidade, origem étnica, orientação sexual, condição
f) Proporcionalidade e atualidade – a intervenção para a física ou mental, posição social ou situação económica,
promoção e proteção deve ser necessária e adequada à opinião política ou ideológica da criança ou jovem, dos
situação de necessidade de proteção em que a criança ou seus familiares ou representantes legais ou de quem tenha
jovem se encontre quando a decisão é tomada e só pode a guarda de facto.
interferir na sua vida e na vida da sua família na medida do
que for estritamente necessário a essa finalidade; CAPÍTULO II
INTERVENÇÃO PARA PROMOÇÃO DOS DIREITOS E
g) Responsabilidade familiar – a família tem a responsabilidade PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO
de proteger e cuidar da criança e do jovem, podendo ser
apoiada sempre que necessário; Secção I
Modalidades de intervenção e entidades competentes
h) Primado da continuidade das relações psicológicas
profundas – a intervenção para a promoção e proteção Artigo 7.º
deve respeitar o direito da criança e do jovem à preservação Entidades competentes
das relações afetivas estruturantes de grande significado
e de referência para o seu saudável e harmónico A promoção dos direitos e proteção das crianças e dos jovens
desenvolvimento, devendo prevalecer as medidas que em perigo cabe, designadamente:
garantam a continuidade de uma vinculação geradora de
segurança; a) Ao Governo, através do ministério com a responsabilidade
da solidariedade social;
i) Prevalência da família – a criança e o jovem têm o direito de
viver no seio da sua família pelo que deve ser dada b) À entidade do Estado responsável pela promoção, defesa
prevalência às medidas de promoção e proteção que e monitorização dos direitos das crianças e dos jovens;
mantêm a criança ou jovem integrado na sua família
biológica, junto de outros familiares ou em situação familiar c) Às entidades com competência em matéria da infância e
estável; juventude;

j) Obrigatoriedade da informação – a criança e o jovem, os d) Às redes de proteção das crianças e jovens;


pais, o representante legal ou a pessoa que tenha a sua
guarda de facto têm direito a ser informados dos seus e) Aos serviços de proteção das crianças e jovens;
direitos, dos motivos que determinaram a intervenção ou
de qualquer outra decisão que afete a criança ou jovem, f) Às autoridades policiais;
bem como da forma como estas se processam;
g) Ao Ministério Público;
k) Audição obrigatória e participação – a criança e o jovem,
em separado ou na companhia dos pais ou de pessoa por h) Aos Tribunais.
si escolhida, em todos os processos administrativos e
judiciais, têm direito a livremente exprimir a sua opinião e a Artigo 8.º
ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida Intervenção do ministério com responsabilidade em matéria
de promoção e proteção, devendo a sua opinião ser tida de solidariedade social
em consideração em todas as questões que lhes digam
respeito, de acordo com a sua idade e maturidade; 1. O ministério com responsabilidade em matéria de solidarie-
dade social é responsável pela gestão e coordenação do
l) Excecionalidade da medida de acolhimento em instituição sistema de proteção das crianças e jovens e desenvolve
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medidas e programas que concretizam as políticas para a 2. Os serviços de proteção das crianças e jovens devem
promoção dos direitos e proteção das crianças e dos promover e integrar parcerias e a elas recorrer, sempre que,
jovens, nomeadamente garantindo a proteção das crianças pelas circunstâncias do caso, a sua intervenção isolada
e dos jovens em perigo, sem prejuízo das competências de não se mostre adequada à efetiva promoção dos direitos e
outros órgãos do Estado. proteção da criança ou do jovem em perigo.

2. O Governo garante que as políticas para a promoção e Artigo 13.º


proteção dos direitos das crianças e dos jovens são Consentimento
implementadas equitativamente e consistentemente em
todo o país. 1. A aplicação das medidas de promoção e proteção, por parte
dos serviços de proteção das crianças e jovens, depende
Artigo 9.º do consentimento expresso dos pais, do representante
Intervenção das autoridades policiais legal ou da pessoa que tenha a guarda de facto.

1. As autoridades policiais intervêm em matéria de promoção 2. A aplicação das medidas de promoção e proteção, por parte
dos direitos e proteção das crianças e dos jovens em perigo dos serviços de proteção das crianças e jovens, depende
através de unidades especialmente vocacionadas para lidar do consentimento de ambos os progenitores, ainda que o
com crianças e jovens. exercício do poder paternal esteja confiado exclusivamente
a um deles, desde que o outro não esteja inibido de exercer
2. As unidades referidas no número anterior são o poder paternal.
regulamentadas por diploma próprio.
3. Quando um dos progenitores que deva prestar
Artigo 10.º consentimento estiver ausente ou, de qualquer modo,
Intervenção das redes de proteção das crianças e jovens incontactável, é suficiente o consentimento do progenitor
presente e contactável, sem prejuízo do dever de os
serviços de proteção das crianças e jovens diligenciarem,
1. As redes de proteção das crianças e jovens têm por missão
comprovadamente e por todos os meios ao seu alcance,
o apoio às famílias e às comunidades na prevenção de
pelo conhecimento do paradeiro daquele, com vista à
situações de perigo e proteção das crianças e dos jovens,
prestação do respetivo consentimento.
de forma coordenada ao nível municipal.
4. Quando tenha sido instituída a tutela, o consentimento é
2. As redes de proteção das crianças e jovens atuam de forma
prestado pelo tutor ou, na sua falta, pelo protutor.
concertada e independente na promoção dos direitos e na
prevenção de situações de perigo para a criança e jovem. 5. Se a criança ou jovem estiver confiada à guarda de terceira
pessoa, nos termos do disposto no Código Civil, ou se
3. As redes de proteção das crianças e jovens são encontrar a viver com uma pessoa que tenha apenas a
regulamentadas por diploma próprio. guarda de facto, o consentimento é prestado por quem tem
a sua guarda, ainda que de facto, e pelos pais, sendo
Artigo 11.º suficiente o consentimento daquela para o início da
Intervenção de entidades com competência em matéria de intervenção.
infância e juventude
6. Se, no caso do número anterior, não for possível contactar
1. As entidades com competência em matéria de infância e os pais apesar da realização das diligências adequadas
juventude intervêm na promoção dos direitos, na prevenção para os encontrar, aplica-se, com as necessárias
de situações de perigo e na proteção da criança e do jovem adaptações, o disposto no n.o 3.
no âmbito das suas atribuições e nos termos da presente 7. Nos casos previstos nos n.os 3 e 5, cessa a legitimidade dos
lei. serviços de proteção das crianças e jovens para a aplicação
das medidas de promoção e proteção, sempre que o
2. A intervenção das entidades com competência em matéria progenitor não inibido do poder paternal se oponha à
de infância e juventude é efetuada de modo consensual intervenção.
com as pessoas de cujo consentimento dependeria a
intervenção dos serviços de proteção das crianças e 8. Caso as pessoas que devam prestar consentimento não
jovens, nos termos da presente lei. saibam ler ou escrever, os serviços de proteção das crianças
e jovens tomam as providências necessárias para garantir
Artigo 12.º a completa informação dessas pessoas, e regista o
Intervenção dos serviços de proteção das crianças e jovens consentimento das mesmas na presença de uma
testemunha.
1. A intervenção dos serviços de proteção das crianças e
jovens tem lugar quando não seja possível às entidades Artigo 14.º
referidas nos artigos 10.º e 11.º atuar de forma adequada e Não oposição da criança ou do jovem
suficiente a remover o perigo em que a criança ou jovem se
encontram. 1. A intervenção das entidades referidas nos artigos 10.º, 11.º
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e 12.º depende, ainda, da não oposição da criança ou do Secção II
jovem, nos termos do número seguinte. Serviços de proteção das crianças e jovens

2. A oposição da criança ou do jovem é considerada relevante Artigo 16.º


de acordo com a sua capacidade para compreender o Objetivos
sentido da aplicação da medida de promoção e proteção.
Os serviços de proteção das crianças e jovens visam promover
Artigo 15.º os direitos da criança e do jovem e prevenir ou pôr termo a
Intervenção judicial situações suscetíveis de afetar a sua vida, integridade física e
psíquica, segurança, saúde, formação, educação ou
1. A intervenção judicial tem lugar quando: desenvolvimento integral.

a) Não seja prestado o consentimento necessário à Artigo 17.º


aplicação da medida pelos serviços de proteção das Competência
crianças e jovens, seja retirado o consentimento
prestado, ou quando o acordo de promoção e proteção 1. Compete, em especial, aos serviços de proteção das crianças
dos direitos seja reiteradamente não cumprido; e jovens:

b) A pessoa que deva prestar consentimento, nos termos a) Informar e sensibilizar a comunidade sobre os direitos
da presente lei, haja sido indiciada pela prática de crime da criança e do jovem e realizar atividades de prevenção;
de violência doméstica, contra a liberdade ou a
autodeterminação sexual que vitime a criança ou jovem b) Receber denúncias de situações de perigo, apreciar as
carecido de proteção, ou quando, contra aquela tenha que tiver conhecimento no exercício das suas funções
sido exercido o direito de queixa pela prática de qualquer e decidir pelo seguimento das mesmas;
dos referidos tipos de crime;
c) Atender a criança e o jovem, os pais, o representante
c) A criança ou o jovem se oponham à aplicação da medida legal ou a pessoa que tenha a sua guarda de facto e a
pelos serviços de proteção das crianças e jovens, nos sua família, explicando os seus direitos e informando
termos da presente lei; dos motivos que determinaram a intervenção e da forma
como esta se processa;
d) Os serviços de proteção das crianças e jovens não
obtenham a disponibilidade de meios necessários para d) Solicitar à criança ou ao jovem, aos pais, ao
aplicar ou executar a medida que consideram adequada, representante legal ou à pessoa que tenha a sua guarda
nomeadamente, por oposição de um serviço ou de facto o consentimento necessário para a sua
entidade; intervenção, nos termos da presente lei;
e) O Ministério Público considere que a decisão dos e) Realizar as diligências necessárias destinadas a
serviços de proteção das crianças e jovens é ilegal ou averiguar a existência de situações de perigo para a
inadequada à promoção dos direitos ou à proteção da criança e jovem;
criança ou do jovem;
f) Na sequência da realização de diligências de proteção f) Solicitar informações e colaboração às entidades com
imediata da criança ou do jovem, no âmbito do competência em matéria de infância e juventude e
procedimento urgente previsto na presente lei; demais entidades, serviços públicos ou parceiros locais;

g) O processo dos serviços de proteção das crianças e g) Arquivar o processo de promoção e proteção quando
jovens seja apensado a processo judicial, nos termos se verifique desnecessidade de intervenção;
da presente lei.
h) Determinar a abertura do processo de promoção e
2. A intervenção judicial tem ainda lugar quando, atendendo proteção;
à gravidade da situação de perigo, à especial relação da
criança ou do jovem com quem a provocou ou ao i) Aplicar, a título cautelar, as medidas de promoção e
conhecimento de anterior incumprimento reiterado de proteção, nos termos da presente lei;
medida de promoção e proteção por quem prestar
consentimento, o Ministério Público, oficiosamente ou sob j) Aplicar as medidas de promoção e proteção, revê-las e
proposta dos serviços de proteção das crianças e jovens, determinar a cessação das mesmas, nos termos da
entenda, de forma justificada, que, no caso, não se mostra presente lei;
adequada a intervenção dos serviços de proteção das
crianças e jovens. k) Remeter os processos de promoção e proteção ao
Ministério Público e efetuar-lhe as comunicações das
3. Para efeitos do disposto nos números anteriores, os serviços situações previstas na presente lei;
de proteção das crianças e jovens remetem o processo ao
Ministério Público. l) Acompanhar a execução dos acordos de promoção e
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proteção, no âmbito das medidas de promoção e protejam e promovam a sua segurança, saúde, formação,
proteção aplicadas; educação, bem-estar e desenvolvimento integral;

m) Realizar as diligências urgentes destinadas a assegurar c) Garantir a recuperação física e psicológica das crianças e
a proteção imediata da criança ou do jovem dos jovens vítimas de qualquer forma de exploração ou
determinadas pelo Ministério Público e sob orientação abuso.
deste;
Artigo 20.º
n) Elaborar e submeter os relatórios sociais às autoridades Medidas
judiciárias e prestar-lhes os esclarecimentos
necessários, nos termos da lei ou sempre que tais lhe 1. As medidas de promoção e proteção são as seguintes:
sejam solicitados por aquelas autoridades;
a) Apoio junto dos pais, do representante legal ou da
o) Acompanhar a execução das medidas de promoção e pessoa que tenha a guarda de facto;
proteção aplicadas pelos tribunais;
b) Apoio junto de outros familiares;
p) Exercer outras competências que lhe sejam cometidas
por lei. c) Apoio junto de pessoa idónea;

2. No exercício das competências referidas no número anterior d) Apoio para a autonomia de vida;
cabe aos serviços de proteção das crianças e jovens
elaborar e manter um registo atualizado, do qual conste a e) Acolhimento familiar;
descrição sumária das diligências efetuadas e respetivos
resultados. f) Acolhimento em instituição;

Artigo 18.º g) Confiança a pessoa selecionada, a família de


Dever de colaboração acolhimento ou a instituição com vista à adoção.

1. Os serviços públicos e as entidades públicas e as 2. As medidas de promoção e de proteção são executadas no


autoridades policiais tem o dever de colaborar com os meio natural de vida ou em regime de colocação, consoante
servicos de proteção das crianças e jovens no exercicio a sua natureza, e podem ser decididas a título cautelar, com
das suas atribuicões. exceção da medida prevista na alínea g) do número anterior.

2. O dever de colaboração incumbe igualmente às pessoas 3. Consideram-se medidas a executar no meio natural de vida,
singulares e coletivas que para tal sejam solicitadas. as previstas nas alíneas a), b), c) e d) do n.º 1, e medidas de
colocação, as previstas nas alíneas e) e f) do mesmo
3. O dever de colaboração abrange o de informação e o de número.
emissão, sem quaisquer encargos, de certidões, relatórios
e quaisquer outros documentos considerados necessários 4. A medida prevista na alínea g) do n.º 1 é considerada a
pelas redes de proteção das crianças e jovens, pelas executar no meio natural no primeiro caso e de colocação
entidades com competência em matéria de infância e no segundo e terceiro casos.
juventude, e pelos serviços de proteção das crianças e
jovens no exercício das suas competências. 5. O regime de execução das medidas consta de legislação
própria.
CAPÍTULO III
MEDIDAS DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS E DE Artigo 21.º
PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E DOS JOVENS Acordo de promoção e proteção

Secção I As medidas de promoção e proteção aplicadas pelos serviços


Das medidas de proteção das crianças e jovens ou em processo judicial, por
decisão negociada, integram um acordo de promoção e
Artigo 19.º proteção.
Finalidade
Artigo 22.º
As medidas de promoção dos direitos e de proteção das Medidas cautelares
crianças e dos jovens em perigo, adiante designadas por
medidas de promoção e proteção, visam: 1. A título cautelar, o tribunal pode aplicar as medidas previstas
nas alíneas a) a f) do n.º 1 do artigo 20.º, nos termos
a) Afastar o perigo em que as crianças e os jovens se previstos para procedimentos judiciais urgentes ou
encontram; enquanto se procede ao diagnóstico social da situação da
criança ou do jovem e à definição do seu encaminhamento
b) Proporcionar às crianças e aos jovens as condições que as subsequente.
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2. Os servicos de proteção das crianças e jovens podem aplicar, estabelecido uma relação recíproca de afetividade,
a título cautelar, as medidas previstas no número anterior, proporcionando-lhe apoio de natureza social, psicopedagógica
enquanto procedem ao diagnóstico social da situação da e quando necessário, apoio à economia familiar.
criança ou do jovem e a definição do seu encaminhamento
subsequente, sem prejuizo da necessidade de celebrac’ao Artigo 27.º
de um acordo de promoção e proteção segundo as regras Medida de apoio para a autonomia de vida
gerais.
1. A medida de apoio para a autonomia de vida consiste em
3. As medidas aplicadas nos termos dos números anteriores proporcionar diretamente ao jovem com idade igual ou
têm a duração máxima de seis meses e devem ser revistas superior a 15 anos apoio de natureza social,
no prazo máximo de três meses. psicopedagógica e económica, nomeadamente através do
acesso a programas de formação profissional, visando
4. Uma vez aplicada pelos serviços de proteção das crianças proporcionar-lhe condições que o habilitem e lhe permitam
e jovens, a medida cautelar deve ser comunicada ao viver por si só e adquirir progressivamente a sua
Ministério Público que imediatamente diligencia junto das autonomia.
autoridades judiciais competentes para que se inicie um
processo de promoção e proteção. 2. A medida referida no número anterior pode ser aplicada a
mães com idade inferior a 15 anos, quando se verifique que
Artigo 23.º a situação aconselha a aplicação desta medida.
Competência para aplicação das medidas
3. A medida referida nos números anteriores apenas é aplicada
1. A aplicação das medidas de promoção e proteção previstas quando nenhuma das medidas de promoção e proteção em
nas alíneas a) a f) do n.º 1 do artigo 20.º é da competência meio natural de vida seja adequada a salvaguardar o
exclusiva dos serviços de proteção das crianças e jovens e interesse superior do jovem e quando o seu perfil e o seu
dos tribunais.
contexto de vida revelem condições para a sua
autonomização.
2. A medida prevista na alínea g) do n.º 1 do artigo 20.º é da
competência exclusiva dos tribunais.
Artigo 29.º
Medida de acolhimento familiar
Secção II
Conteúdo das medidas
A medida de acolhimento familiar consiste na confiança da
criança ou do jovem aos cuidados de uma pessoa ou de uma
Artigo 24.º
família, desde que previamente avaliadas e selecionadas pelos
Medida de apoio à criança ou jovem junto dos seus pais, do
serviços de proteção das crianças e jovens, proporcionando a
representante legal ou da pessoa que tenha a sua guarda de
integração da criança ou jovem em meio familiar e a prestação
facto
dos cuidados adequados às suas necessidades, ao bem-estar
A medida de apoio à criança ou jovem junto dos seus pais, do e à educação necessários ao seu desenvolvimento integral.
representante legal ou da pessoa que tenha a sua guarda de
facto consiste em manter a criança ou o jovem aos cuidados Artigo 30.º
dos seus pais, do representante legal ou da pessoa que tenha Modalidades de acolhimento familiar
a sua guarda de facto, proporcionando-lhe apoio de natureza
social, psicopedagógica e, quando necessário, apoio à 1. O acolhimento familiar é de curta ou de longa duração.
economia familiar.
2. O acolhimento de curta duração tem lugar quando seja
Artigo 25.º previsível o retorno da criança ou jovem à sua família em
Medida de apoio à criança ou jovem junto de outros prazo não superior a seis meses.
familiares
3. O acolhimento de longa duração tem lugar quando é incerto
A medida de apoio à criança ou ao jovem junto de outros o retorno da criança ou jovem à sua família e as
familiares consiste em colocar a criança ou o jovem aos circunstâncias relativas à criança ou jovem exijam um
cuidados de uma pessoa ou de uma família que tenha uma acolhimento de maior duração.
relação de parentesco com ele, proporcionando-lhe apoio de
natureza social, psicopedagógica e, quando necessário, apoio Artigo 31.º
à economia familiar. Medida de acolhimento em instituição

Artigo 26.º A medida de acolhimento em instituição consiste na colocação


Medida de apoio à criança ou jovem junto de pessoa idónea da criança ou do jovem aos cuidados de uma entidade que
disponha de instalações e equipamentos de acolhimento e
A medida de apoio à criança ou jovem junto de pessoa idónea recursos humanos qualificados e permanentes, proporcio-
consiste em colocar a criança ou o jovem aos cuidados de uma nando-lhe condições que permitam assegurar a sua educação,
pessoa que, não pertencendo à sua família, com eles tenha o seu bem-estar e o seu desenvolvimento.
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Artigo 32.º b) Uma equipa educativa que integra preferencialmente
Medida de confiança a pessoa selecionada, a família de colaboradores com formação profissional específica
acolhimento ou a instituição com vista a adoção para as funções de acompanhamento socioeducativo
das crianças ou dos jovens acolhidos e inerentes à
A medida de confiança da criança ou do jovem a pessoa profissão de auxiliar de ação educativa e de cuidados
selecionada, a família de acolhimento ou a instituição com vista de crianças e jovens;
a adoção consiste na aplicação pelo Tribunal das medidas
referidas nos artigos 25.º, 26.º, 29.º e 31.º respetivamente, tendo c) Uma equipa de apoio que integra obrigatoriamente
como objetivo encaminhar a criança ou jovem para adoção. colaboradores de serviços gerais com formação na área
de proteção das crianças e dos jovens.
Secção III
Das instituições de acolhimento 2. Sempre que se justifique, a instituição de acolhimento pode
recorrer às respostas e serviços existentes na comunidade,
Artigo 33.º designadamente nas áreas da saúde e do direito.
Natureza
3. À equipa técnica cabe o diagnóstico da situação da criança
As instituições de acolhimento podem ser públicas ou privadas ou do jovem acolhidos e a definição e execução do seu
sem fins lucrativos, com acordo de cooperação com o Estado, projeto de promoção e proteção, de acordo com a decisão
através do ministério com responsabilidade em matéria de do tribunal ou dos serviços de proteção das crianças e
solidariedade social. jovens.

Artigo 34.º 4. Para efeitos da revisão da medida de acolhimento aplicada,


Funcionamento das instituições de acolhimento a equipa técnica da instituição de acolhimento é
obrigatoriamente ouvida pela entidade decisora.
1. As instituições de acolhimento são organizadas em unida-
des que favoreçam uma relação afetiva do tipo familiar, Secção IV
uma vida diária personalizada e a integração na Acordo de promoção e proteção e execução da medida
comunidade.
Artigo 36.º
2. O regime de funcionamento das instituições de acolhimento Regras do acordo de promoção e proteção
é definido em legislação própria.
1. O acordo de promoção e proteção inclui obrigatoriamente:
3. Os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de
facto podem visitar a criança ou o jovem, de acordo com os a) A identificação do funcionário ou do técnico dos
horários e as regras de funcionamento da instituição de serviços de proteção das crianças e jovens a quem
acolhimento onde se encontra, salvo decisão judicial em cabe o acompanhamento do caso;
contrário.
b) O prazo por que é estabelecido e em que deve ser revisto;
4. O tribunal ou os serviços de proteção das crianças e jovens
podem autorizar outros adultos idóneos, de referência c) As declarações de consentimento ou de não oposição
afetiva para a criança ou jovem, a visitarem-na. necessárias.

5. No âmbito de um processo de promoção e proteção e das 2. Não podem ser estabelecidas cláusulas que imponham
suas competências legais, o Juiz, o Ministério Público, a obrigações abusivas ou que introduzam limitações ao
Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça, a Defensoria funcionamento da vida familiar para além das necessárias
Pública ou o advogado, bem como os serviços públicos e a afastar a situação concreta de perigo.
as entidades públicas com a responsabilidade de defesa
dos direitos das crianças e jovens, podem solicitar Artigo 37.º
informações e visitar as instituições de acolhimento. Acordo de promoção e proteção relativo a medida em meio
natural de vida
Artigo 35.º
Recursos humanos 1. No acordo de promoção e proteção em que se estabeleça
medida a executar no meio natural de vida deve constar,
1. As instituições de acolhimento dispõem necessariamente nomeadamente:
de recursos humanos organizados em equipas articuladas
entre si, designadamente: a) Os cuidados de alimentação, higiene, saúde e conforto
a prestar à criança ou ao jovem pelos pais ou pelas
a) Uma equipa técnica, constituída de modo pessoas a quem sejam confiados;
pluridisciplinar, que integra obrigatoriamente
colaboradores com formação adequada, nas áreas da b) A identificação do responsável pela criança ou jovem
psicologia ou do trabalho social, sendo designado o durante o tempo em que não possa ou não deva estar
diretor técnico de entre eles; na companhia ou sob a vigilância dos pais ou das
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pessoas a quem esteja confiado, por razões laborais ou 2. A informação a que se refere a alínea c) do número anterior
outras consideradas relevantes; deve conter os elementos necessários para avaliar o
desenvolvimento da personalidade, o aproveitamento
c) O plano de escolaridade, formação profissional, trabalho escolar, a progressão em outras aprendizagens, a adequação
e ocupação dos tempos livres; da medida aplicada e a possibilidade de regresso da criança
ou do jovem à família.
d) O plano de cuidados de saúde, incluindo consultas
médicas e de orientação psicopedagógica, bem como o Artigo 39.º
dever de cumprimento das diretivas e orientações Direitos da criança ou jovem em acolhimento
fixadas;
1. A criança ou o jovem acolhido em instituição tem, em especial,
e) O apoio económico a prestar, a sua modalidade, duração os seguintes direitos:
e entidade responsável pela atribuição, bem como os
pressupostos da concessão; a) Manter regularmente, e em condições de privacidade,
contactos pessoais com a família e com pessoas com
f) Se necessário, a frequência de um programa de formação quem tenha especial relação afetiva, sem prejuízo das
pelos pais, representante legal ou quem tenha a guarda limitações impostas por decisão judicial ou pelos
de facto, visando um melhor exercício das serviços de proteção das crianças e jovens;
responsabilidades parentais.
b) Receber uma educação que garanta o desenvolvimento
o o
2. Nos casos previstos na alínea e) do n. 2 do artigo 4. , se o integral da sua personalidade e potencialidades, sendo-
perigo resultar de comportamentos adotados em razão de lhe assegurada a prestação dos cuidados de saúde,
alcoolismo, toxicodependência ou doença psiquiátrica dos formação escolar e profissional e a participação em
pais ou das pessoas a quem a criança ou o jovem esteja atividades culturais, desportivas e recreativas;
confiado, o acordo inclui ainda a menção de que a
c) Usufruir de um espaço de privacidade e de um grau de
permanência da criança ou do jovem na companhia destas
autonomia na condução da sua vida pessoal adequados
pessoas é condicionada à sua submissão a tratamento e
à sua idade e situação;
ao estabelecimento de compromisso nesse sentido.
d) Receber, dependendo da sua situação, o apoio material
3. Quando a intervenção seja determinada pela situação
adequado à sua idade, nomeadamente dinheiro de
prevista na alínea f) do n.o 2 do artigo 4.º, podem ainda
bolso;
constar do acordo diretivas e obrigações fixadas à criança
ou jovem relativamente a meios ou locais que não deva
e) A inviolabilidade da correspondência;
frequentar, pessoas que não deva acompanhar, substâncias
ou produtos que não deva consumir e condições e horários
f) Não ser transferido da instituição, salvo quando essa
dos tempos de lazer. decisão corresponda ao seu interesse;
Artigo 38.º g) Não ser separado de outros irmãos acolhidos, exceto
Acordo de promoção e proteção relativo a medidas de se o seu superior interesse o aconselhar;
colocação
h) Ser acolhido, sempre que possível, em instituição de
1. No acordo de promoção e proteção em que se estabeleça acolhimento próxima do seu contexto familiar e social
medida de colocação devem constar, com as devidas de origem, exceto se o seu superior interesse o
adaptações, as cláusulas enumeradas no artigo anterior e: desaconselhar, nomeadamente quando o contexto
familiar e social de origem foi o desencadeador da
a) A modalidade do acolhimento e a família ou a instituição situação de perigo;
em que o acolhimento terá lugar;
i) Contactar, com garantia de confidencialidade, os
b) Os direitos e os deveres dos intervenientes, serviços de proteção das crianças e jovens, o Ministério
nomeadamente a periodicidade das visitas por parte da Público, o defensor público ou o advogado e a
família ou das pessoas com quem a criança ou o jovem Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça.
tenha especial ligação afetiva, os períodos de visita à
família, quando isso seja do seu interesse, e o montante 2. Os direitos referidos no número anterior constam
da prestação correspondente aos gastos com o necessariamente do regulamento interno das instituições
sustento, educação e saúde da criança ou do jovem e a de acolhimento.
identificação dos responsáveis pelo pagamento;
Artigo 40.º
c) A periodicidade e o conteúdo da informação a prestar Acompanhamento da execução da medida
aos serviços de proteção das crianças e jovens e às
autoridades judiciárias, bem como a identificação da 1. Os serviços de proteção das crianças e jovens executam a
pessoa ou da entidade que a deve prestar. medida nos termos do acordo de promoção e proteção.
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2. A execução da medida aplicada em processo judicial é c) A continuação ou a prorrogação da execução da
dirigida e controlada pelo tribunal que a aplicou. medida;

3. Para efeitos do disposto no número anterior, o tribunal d) A comunicação à entidade legalmente autorizada a
remete cópia da decisão aos serviços de proteção das intervir em matéria de adoção caso se verifiquem os
crianças e jovens territorialmente competentes para o requisitos para a mesma.
acompanhamento da execução da medida.
3. Nos casos previstos no número anterior, a decisão de revisão
Secção V deve ser fundamentada de facto e de direito, em coerência
Duração, revisão e cessação da medida com o projeto de vida da criança ou do jovem.

Artigo 41.º 4. É decidida a cessação da medida sempre que a sua


Duração das medidas no meio natural de vida continuação se mostre desnecessária.

1. Sem prejuízo do disposto no n.o 2, as medidas previstas nas 5. As decisões tomadas na revisão constituem parte integrante
alíneas a), b), c) e d) do n.º 1 do artigo 20.º têm a duração dos acordos de promoção e proteção ou da decisão judicial.
estabelecida no acordo ou na decisão judicial.
Artigo 44.º
2. As medidas referidas no número anterior não podem ter Medida de confiança a pessoa selecionada, a família de
duração superior a um ano, podendo, todavia, ser acolhimento ou a instituição com vista a adoção
prorrogadas até 18 meses se o interesse da criança ou do
jovem o aconselhar e desde que se mantenham os 1. Salvo o disposto no número seguinte, a medida de confiança
consentimentos e os acordos legalmente exigidos. a pessoa selecionada, a família de acolhimento ou a
instituição com vista a adoção, dura até ser decretada a
3. Excecionalmente, quando a defesa do superior interesse da adoção e não está sujeita a revisão.
criança ou jovem o imponha, a medida prevista na alínea d)
do n.o 1 do artigo 20.º pode ser prorrogada mediante acordo 2. A título excecional a medida é revista, nos casos em que a
ou decisão judicial, por existirem, e enquanto durarem, sua execução se revele manifestamente inviável,
processos educativos ou de formação profissional. designadamente quando a criança ou jovem atinja a idade
limite para a adoção sem que o projeto adotivo tenha sido
Artigo 42.º concretizado.
Duração das medidas de colocação
3. Na decisão que aplique a medida prevista no n.º 1, o tribunal
As medidas previstas nas alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo 20.º designa curador provisório à criança ou jovem, o qual
têm a duração estabelecida no acordo ou na decisão judicial. exerce funções até ser decretada a adoção ou instituída
outra medida tutelar cível.
Artigo 43.º
Revisão da medida 4. O curador provisório é a pessoa a quem o menor tiver sido
confiado.
1. Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 22.º, a medida
é obrigatoriamente revista findo o prazo fixado no acordo 5. Em caso de confiança a instituição ou família de acolhimento,
ou na decisão judicial, e, em qualquer caso, decorridos o curador provisório é, de preferência, quem tenha um
períodos nunca superiores a três meses nos casos de contacto mais direto com a criança ou jovem, devendo, a
aplicação de uma medida de colocação e de seis meses nos requerimento da entidade legalmente autorizada a intervir
casos de aplicação de medida a executar no meio natural em matéria da adoção, a curadoria provisória ser transferida
de vida. para o candidato adotante, logo que selecionado.

2. A revisão da medida pode ter lugar antes de decorrido o 6. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a aplicação
prazo fixado no acordo ou na decisão judicial, oficiosamente da medida prevista no n.º 1 não dá lugar a visitas por parte
ou a pedido dos pais da criança ou jovem, do representante da família biológica ou adotante.
legal ou da pessoa que tenha a sua guarda de facto, desde
que ocorram factos que a justifiquem. 7. Em casos devidamente fundamentados e em função da
defesa do superior interesse do adotando, podem ser
3. A revisão da medida aplicada tem lugar sempre que o jovem autorizados contactos entre irmãos.
atinja a maioridade ou a emancipação pelo casamento.
Artigo 45.º
4. A decisão de revisão determina a verificação das condições Cessação das medidas
de execução da medida e pode determinar, ainda:
1. As medidas cessam quando:
a) A cessação da medida;
a) Decorra o respetivo prazo de duração ou eventual
b) A substituição da medida por outra mais adequada; prorrogação;
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b) A decisão de revisão lhes ponha termo; entidades com competência em matéria de infância e
juventude, às entidades policiais, aos serviços de proteção
c) Seja decretada a adoção, nos termos previstos no artigo das crianças e jovens ou às autoridades judiciárias.
anterior;
2. A comunicação é obrigatória para qualquer pessoa que
d) Seja proferida decisão em processo cível que assegure tenha conhecimento de situações que ponham em risco a
o afastamento da criança ou jovem da situação de vida, a integridade física ou psíquica ou a liberdade da
perigo; criança ou do jovem.

e) O jovem atinja a maioridade, sem prejuízo de ter 3. Quando as comunicações sejam dirigidas às entidades
solicitado a continuação da medida de promoção e referidas no n.º 1, estas procedem ao estudo sumário da
proteção, nos termos da lei. situação e proporcionam a proteção compatível com as
suas atribuições, dando conhecimento da situação aos
2. Declarada a cessação da medida aplicada, os serviços de serviços de proteção das crianças e jovens sempre que
proteção das crianças e jovens ou o tribunal notificam a entendam que a sua intervenção não é adequada ou
criança ou jovem, os seus pais, o representante legal ou a suficiente.
pessoa que tenha a sua guarda de facto, o advogado ou o
defensor público. Artigo 49.º
Comunicações dos serviços de proteção das crianças e
3. Após a cessação da medida aplicada, a criança ou jovem e jovens ao Ministério Público
a sua família podem continuar a ser apoiados pelos serviços
de proteção das crianças e jovens, nos termos e pelo período Os serviços de proteção das crianças e jovens comunicam ao
que forem acordados. Ministério Público:
CAPÍTULO IV
a) As situações em que não sejam prestados ou sejam retirados
COMUNICAÇÕES
os consentimentos necessários à sua intervenção, a
aplicação da medida ou à sua revisão, em que haja oposição
Artigo 46.º
da criança ou do jovem, ou em que, tendo estes sido
Comunicação de situações de perigo pelas autoridades
prestados, não sejam cumpridos os acordos estabelecidos;
policiais e judiciárias
b) As situações em que não obtenham a disponibilidade dos
1. As autoridades policiais e as autoridades judiciárias
meios necessários para aplicar ou executar a medida que
comunicam aos serviços de proteção das crianças e jovens
considerem adequada, nomeadamente por oposição de um
as situações de crianças e jovens em perigo de que tenham
serviço ou instituição;
conhecimento no exercício das suas funções.

2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, as autoridades c) As situações em que não tenha sido proferida decisão
judiciárias adotam as providências tutelares cíveis que decorridos seis meses após o conhecimento da situação
sejam adequadas. da criança ou do jovem em perigo;

Artigo 47.º d) A aplicação da medida que determine ou mantenha a


Comunicação de situações de perigo pelas entidades com separação da criança ou do jovem dos seus pais,
competência em matéria de infância e juventude representante legal ou das pessoas que tenham a sua
guarda de facto;
1. As entidades com competência em matéria de infância e
juventude comunicam aos serviços de proteção das e) Os casos em que, por força da aplicação sucessiva ou
crianças e jovens as situações de perigo de que tenham isolada das medidas de promoção e proteção previstas
conhecimento no exercício das suas funções sempre que nas alíneas a) a c), e) e f) do n.º 1 do artigo 20.º, o somatório
não possam, no âmbito exclusivo da sua competência, de duração das referidas medidas perfaça 18 meses;
assegurar em tempo a proteção suficiente que as
circunstâncias do caso exigem. f) As situações em que consideram adequado o encaminha-
mento para adoção, nos termos previstos sobre a confiança
2. As instituições de acolhimento devem comunicar ao a pessoa selecionada, a família de acolhimento ou a
Ministério Público todas as situações de crianças ou jovens instituição com vista a adoção;
que acolham sem prévia decisão dos serviços de proteção
das crianças e jovens ou do tribunal. g) As situações de facto que justifiquem a regulação ou a
alteração do regime de exercício do poder paternal, a
Artigo 48.º inibição do poder paternal, a instauração da tutela ou a
Comunicação de situações de perigo por qualquer pessoa adoção de qualquer outra providência cível,
nomeadamente nos casos em que se mostre necessária a
1. Qualquer pessoa que tenha conhecimento das situações fixação ou a alteração ou se verifique o incumprimento das
previstas no n.o 2 do artigo 4.º, pode comunicá-las às prestações de alimentos.
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Artigo 50.º b) Requeira a apreciação judicial da decisão dos serviços
Participação de crime cometido contra crianças ou jovens de proteção das crianças e jovens, nos termos da
presente lei.
Quando os factos que tenham determinado a situação de perigo
constituam crime, as entidades com competência em matéria 2. No caso previsto na alínea b) do número anterior, o Ministério
de infância e juventude e os serviços de proteção das crianças Público, antes de requerer a abertura do processo judicial,
e jovens devem comunicá-los ao Ministério Público ou às pode requisitar aos serviços de proteção das crianças e
entidades policiais, sem prejuízo das comunicações previstas jovens o processo relativo à criança ou jovem e solicitar-
nos artigos anteriores. lhe os esclarecimentos que tiver por convenientes.

Artigo 51.º Artigo 54.º


Consequências das comunicações Arquivamento liminar

1. As comunicações previstas nos artigos anteriores não O Ministério Público arquiva liminarmente, através de despacho
determinam a cessação da intervenção das entidades e fundamentado, as comunicações que receba quando seja
instituições, salvo quando não tiverem sido prestados ou manifesta a sua falta de fundamento ou a desnecessidade da
tiverem sido retirados os consentimentos legalmente intervenção.
exigidos.
Artigo 55.º
2. As comunicações previstas no presente capítulo devem Requerimento de providências tutelares cíveis
indicar as providências tomadas para proteção da criança
ou do jovem e ser acompanhadas de todos os elementos O Ministério Público requer ao tribunal competente as
disponíveis que se mostrem relevantes para apreciação da providências tutelares cíveis que sejam adequadas, sempre
situação, salvaguardada a intimidade da criança ou do que considere necessário, nomeadamente, nas situações
jovem. previstas na alínea g) do artigo 49.º da presente lei.

CAPÍTULO V Artigo 56.º


INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Requerimento para apreciação judicial

Artigo 52.º 1. O Ministério Público requer a apreciação judicial da decisão


Atribuições dos serviços de proteção das crianças e jovens quando
entenda que a medida aplicada é ilegal ou inadequada para
1. O Ministério Público intervém na promoção e defesa dos promoção dos direitos e proteção da criança ou do jovem
direitos e interesses das crianças e dos jovens em perigo, em perigo.
nos termos da presente lei.
2. O requerimento para apreciação judicial da decisão dos
2. O Ministério Público pode requerer aos pais, ao represen- serviços de proteção das crianças e jovens indica os
tante legal ou a quem tenha a sua guarda de facto os fundamentos da necessidade de intervenção judicial e é
esclarecimentos necessários à promoção e defesa dos acompanhado do processo dos serviços de proteção das
direitos das crianças e dos jovens em perigo. crianças e jovens.

3. O Ministério Público acompanha a atividade dos serviços 3. Para efeitos do disposto no número anterior, o Ministério
de proteção das crianças e jovens, tendo em vista apreciar Público requisita previamente aos serviços de proteção
a legalidade e a adequação das decisões, a fiscalização da das crianças e jovens o respetivo processo.
sua atividade processual e a promoção dos procedimentos 4. O requerimento para apreciação judicial deve ser
judiciais adequados. apresentado no prazo de 15 dias após o recebimento da
comunicação da decisão dos serviços de proteção das
4. Compete, ainda, de modo especial, ao Ministério Público crianças e jovens pelo Ministério Público e dele é dado
representar as crianças e jovens em perigo, propondo conhecimento aos serviços de proteção das crianças e
ações, requerendo providências tutelares cíveis e usando jovens.
de quaisquer meios judiciais necessários à promoção e
defesa dos seus direitos e à sua proteção. 5. O responsável dos serviços de proteção das crianças e
jovens é ouvido sobre o requerimento do Ministério
Artigo 53.º Público.
Iniciativa do processo judicial de promoção e proteção
CAPÍTULO VI
1. O Ministério Público requer a abertura do processo judicial DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS GERAIS
de promoção dos direitos e de proteção quando:
Artigo 57.º
a) Recebidas as comunicações a que se referem os artigos Disposições comuns
47.º, 48.º, 49.º e 50.º, considere necessária a aplicação
judicial de promoção e proteção; As disposições do presente capítulo aplicam-se aos processos
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de promoção dos direitos e de proteção, adiante designados lugar, se as relações familiares ou as situações de perigo em
processos de promoção e proteção, instaurados nos serviços concreto o justificarem.
de proteção das crianças e jovens ou nos tribunais.
Artigo 61.º
Artigo 58.º Apensação de processos de natureza diversa
Carácter individual e único do processo
1. Quando, relativamente à mesma criança ou jovem, forem
O processo de promoção e proteção é individual, sendo instaurados sucessivamente processos de promoção e
organizado um único processo para cada criança ou jovem. proteção ou relativos a providências tutelares cíveis,
devem os mesmos correr por apenso, sendo competente
Artigo 59.º para deles conhecer o juiz do processo instaurado em
Competência territorial primeiro lugar.

1. São competentes para a aplicação das medidas de promoção 2. Para a observância do disposto no número anterior, o juiz
e proteção os serviços de proteção das crianças e jovens solicita aos serviços de proteção das crianças e jovens
ou o tribunal da área da residência da criança ou do jovem que o informe sobre qualquer processo de promoção e
no momento em que é recebida a comunicação da situação proteção pendente ou que venha a ser instaurado
ou instaurado o processo judicial. posteriormente relativamente à mesma criança ou jovem.

2. Se a residência da criança ou do jovem não for conhecida, 3. A apensação a que se refere o n.º 1 tem lugar independen-
nem for possível determiná-la, são competentes os serviços temente do estado ou fase dos processos.
de proteção das crianças e jovens ou o tribunal do lugar
onde aquele for encontrado. Artigo 62.º
Criança ou jovem arguido em processo penal
3. Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, os
serviços de proteção das crianças e jovens ou o tribunal 1. Quando relativamente a uma mesma criança ou jovem
do lugar onde a criança ou o jovem for encontrado realizam correrem simultaneamente processo de promoção e
as diligências consideradas urgentes e tomam as medidas proteção e processo penal, os serviços de proteção das
necessárias para a sua proteção imediata. crianças e jovens ou o tribunal remetem à autoridade
judiciária competente para o processo penal, cópia da
4. Se, após a aplicação da medida de promoção e proteção, a respetiva decisão, podendo acrescentar as informações
criança ou jovem mudar de residência por período superior sobre a inserção familiar e socioprofissional da criança ou
a três meses, o processo é remetido aos serviços de jovem que considere adequadas.
proteção das crianças e jovens ou ao tribunal da área da
nova residência. 2. Os elementos referidos no número anterior são remetidos,
oficiosamente ou a requerimento, após a notificação à
5. Para efeito do disposto no número anterior, a execução da criança ou jovem do despacho que designa dia para a
medida de promoção e proteção de acolhimento não audiência de julgamento.
determina a alteração de residência da criança ou jovem
acolhido. 3. Quando a criança ou jovem seja preso preventivamente, os
elementos constantes do n.º 1 podem ser remetidos a todo
6. Sem prejuízo do disposto no número anterior, as entidades o tempo, por solicitação desta ou do defensor, ou com o
com competência em matéria de infância e juventude com seu consentimento.
competência territorial na área do município de acolhimento
da criança ou jovem prestam aos serviços de proteção das 4. As autoridades judiciárias competentes para o processo
crianças e jovens que aplicou a medida de promoção e penal podem solicitar aos serviços de proteção das crianças
proteção toda a colaboração necessária ao efetivo e jovens relatório social ou informações adicionais
acompanhamento da medida, que para o efeito lhes seja relevantes para a apreciação e decisão da causa.
solicitada.
5. As autoridades judiciárias participam às entidades referidas
7. Salvo o disposto no n.º 4, são irrelevantes as modificações nos artigos 10.º, 11.º e 12.º as situações de crianças ou
de facto que ocorram posteriormente ao momento da jovens arguidos em processo penal que se encontrem em
instauração do processo. perigo, remetendo-lhes os elementos de que disponham e
que se mostrem relevantes para a apreciação da situação,
Artigo 60.º nos termos do n.º 2 do artigo 51.º.
Apensação de processos
Artigo 63.º
Sem prejuízo das regras de competência territorial, quando a Aproveitamento dos atos anteriores
situação de perigo abranger simultaneamente mais de uma
criança ou jovem, pode ser instaurado um único processo e, Os serviços de proteção das crianças e jovens e os tribunais
tendo sido instaurados processos distintos, pode proceder- devem abster-se de ordenar a repetição de diligências já
se à apensação de todos eles ao que foi instaurado em primeiro efetuadas, nomeadamente relatórios sociais ou exames
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médicos, salvo quando o interesse superior da criança ou realizados por pessoal médico devidamente qualificado,
jovem exija a sua repetição ou esta se torne necessária para sendo garantido à criança ou ao jovem o necessário apoio
assegurar o princípio do contraditório. psicológico.

Artigo 64.º 3. Aos exames médicos é correspondentemente aplicável o


Audição da criança e do jovem disposto nos artigos 13.º e 14.º, salvo nas situações
urgentes previstas na presente lei.
1. As crianças e os jovens com mais de 12 anos, ou com idade
inferior quando a sua capacidade para compreender o 4. Os exames têm caráter de urgência e, salvo quando outro
sentido da intervenção o aconselhe, são ouvidos pelos prazo for exigido pela sua natureza, os respetivos relatórios
serviços de proteção das crianças e jovens ou pelo juiz são apresentados no prazo máximo de 30 dias.
sobre as situações que deram origem à intervenção e
relativamente à aplicação, revisão ou cessação de medida 5. Os serviços de proteção das crianças e jovens ou o tribunal
de promoção e proteção, devendo a sua opinião ser tida podem, quando necessário para assegurar a proteção da
em consideração na determinação do seu superior interesse criança ou do jovem, requerer ao tribunal certidão dos
relatórios dos exames efetuados em processos relativos a
2. A criança e o jovem têm direito a ser ouvidos individualmente crimes de que tenham sido vítimas, que possam ser
ou acompanhados pelos pais, pelo representante legal, por utilizados como meios de prova.
advogado da sua escolha ou defensor público ou por
pessoa da sua confiança. Artigo 68.º
Caráter reservado do processo
Artigo 65.º
Audição dos titulares do poder paternal 1. O processo de promoção e proteção é de caráter reservado.

1. Os pais, o representante legal e as pessoas que tenham a 2. Os funcionários e técnicos dos serviços de proteção das
guarda de facto da criança ou do jovem são obrigatoria- crianças e jovens têm acesso aos processos em que
mente ouvidos sobre a situação que originou a intervenção intervenham, sendo aplicável, nos restantes casos, o
e relativamente à aplicação, revisão ou cessação da medida disposto nos n.ºs 1 e 5.
de promoção e proteção.
3. Os pais, o representante legal e as pessoas que detenham
2. Ressalvam-se do disposto no número anterior as situações a guarda de facto podem consultar o processo
de ausência, mesmo que de facto, por impossibilidade de pessoalmente ou através de defensor público ou
contacto devida a desconhecimento do paradeiro, ou a advogado.
outra causa de impossibilidade, e os de inibição do exercício
do poder paternal. 4. A criança ou o jovem podem consultar o processo através
do seu defensor publico ou advogado ou pessoalmente se
Artigo 66.º o juiz ou responsável dos serviços de proteção das crianças
Informação e assistência e jovens o autorizar, atendendo à sua maturidade,
capacidade de compreensão e natureza dos factos.
1. O processo deve decorrer de forma compreensível para a
criança ou jovem, considerando a idade e o grau de 5. Pode ainda consultar o processo, diretamente ou através
desenvolvimento intelectual e psicológico. de defensor público ou advogado, quem manifeste interesse
legítimo, quando autorizado e nas condições estabelecidas
2. Na audição da criança ou do jovem e no decurso de outros em despacho do responsável dos serviços de proteção
atos processuais ou diligências que o justifiquem, os das crianças e jovens ou do juiz, conforme o caso.
serviços de proteção das crianças e jovens ou o juiz podem 6. Os processos dos serviços de proteção das crianças e
determinar a intervenção ou a assistência de médicos, jovens são destruídos quando o jovem atinja a maioridade
psicólogos ou outros especialistas ou de pessoa da ou, no caso da alínea e) do n.º 1 do artigo 45.º, quando
confiança da criança ou jovem, ou determinar a utilização cesse a medida de promoção e proteção.
dos meios técnicos que lhes pareçam adequados.
7. Quando o processo tenha sido arquivado nos termos da
Artigo 67.º alínea g) do n.º 1 do artigo 17.º, é destruído passados cinco
Exames anos após o arquivamento.

1. Os exames médicos que possam ofender o pudor da criança Artigo 69.º


ou do jovem apenas são ordenados quando for julgado Consulta para fins científicos
indispensável e o seu interesse o exigir e devem ser
efetuados na presença de um dos pais ou de pessoa da 1. Os serviços de proteção das crianças e jovens ou o tribunal
confiança da criança ou do jovem, salvo se o examinado o podem autorizar a consulta dos processos por instituições
não desejar ou o seu interesse o exigir. credenciadas no domínio científico, ficando todos aqueles
que lhe tiverem acesso obrigados a dever de segredo
2. Os exames médicos referidos no número anterior são relativamente àquilo de que tomarem conhecimento.
Série I, N.° 8 Quarta-Feira, 1 de Março de 2023 Página 234
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2. A divulgação de quaisquer estudos deve ser feita de modo Artigo 72.º
que torne impossível a identificação das pessoas a quem a Procedimentos judiciais urgentes
informação disser respeito.
1. O tribunal, a requerimento do Ministério Público, quando
3. Para fins científicos podem, com autorização do responsável lhe sejam comunicadas as situações referidas no artigo
dos serviços de proteção das crianças e jovens ou do juiz, anterior, profere decisão provisória, no prazo de quarenta
ser publicadas peças de processos, desde que se e oito horas, confirmando as providências tomadas para a
impossibilite a identificação da criança ou jovem, seus imediata proteção da criança ou do jovem, aplicando
familiares e restantes pessoas nelas referidas, bem como qualquer uma das medidas previstas no n.º 1 do artigo 20.º
de qualquer elemento que permita essa identificação. ou determinando o que tiver por conveniente relativamente
ao destino da criança ou do jovem.
Artigo 70.º
Comunicação social 2. Para efeitos do disposto no artigo anterior, o tribunal procede
às averiguações sumárias e indispensáveis e ordena as
diligências necessárias para assegurar a execução das suas
1. Os órgãos de comunicação social, sempre que divulguem
decisões, podendo recorrer às entidades policiais e permitir
situações de crianças ou jovens em perigo, não podem
às pessoas a quem incumba o cumprimento das suas
identificar, nem transmitir elementos, sons ou imagens que
decisões a entrada, durante o dia, em qualquer casa.
permitam a sua identificação, sob pena de os seus agentes
incorrerem na prática de crime de desobediência. 3. Proferida a decisão provisória referida no n.º 1, o processo
segue os seus termos como processo judicial de promoção
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, os órgãos de e proteção.
comunicação social podem relatar o conteúdo dos atos
públicos do processo judicial de promoção e proteção.
CAPÍTULO VIII
3. Sempre que tal seja solicitado e sem prejuízo do disposto DO PROCESSO NOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO DAS
no n.º 1, o responsável dos serviços de proteção das CRIANÇAS E JOVENS
crianças e jovens ou o juiz do processo informam os órgãos
de comunicação social sobre os factos, decisão e Artigo 73.º
circunstâncias necessárias para a sua correta compreensão. Iniciativa da intervenção dos serviços de proteção das
crianças e jovens

CAPÍTULO VII Sem prejuízo do disposto nos artigos 46.º a 48.º, os serviços de
PROCEDIMENTOS DE URGÊNCIA proteção das crianças e jovens intervêm:

Artigo 71.º a) Por solicitação da criança ou do jovem, dos seus pais,


Procedimentos urgentes na ausência do consentimento representante legal ou das pessoas que tenham a sua
guarda de facto;
1. Quando exista perigo atual ou iminente para a vida ou
integridade física da criança ou jovem e haja oposição dos b) Por sua iniciativa, em situações de perigo de que tiverem
detentores do poder paternal ou de quem tenha a guarda conhecimento no exercício das suas funções.
de facto, os serviços de proteção das crianças e jovens
tomam as medidas adequadas para a sua proteção imediata Artigo 74.º
e solicitam a intervenção do tribunal ou das entidades Informação e audição dos interessados
policiais.
1. Os serviços de proteção das crianças e jovens, recebida a
comunicação da situação de perigo ou depois de proceder
2. A entidade que intervém nos termos do número anterior dá
a diligências sumárias que a confirmem, devem contactar a
conhecimento, de imediato, das situações a que aí se alude
criança ou o jovem, os titulares do poder paternal ou a
ao Ministério Público ou, quando tal não seja possível,
pessoa com quem a criança ou o jovem resida, informando-
logo que cesse a causa da impossibilidade. os da situação e ouvindo-os sobre ela.
3. Enquanto não for possível a intervenção do tribunal, as 2. Os serviços de proteção das crianças e jovens devem
entidades policiais retiram a criança ou jovem do perigo em informar as pessoas referidas no número anterior do modo
que se encontra e asseguram a sua proteção urgente em como se processa a sua intervenção, das medidas que
local adequado ou em instituição de acolhimento referida podem tomar, do direito de não autorizarem a intervenção e
na presente lei. suas possíveis consequências e do seu direito a fazerem-
se acompanhar de advogado ou de defensor público.
4. O Ministério Público, recebida a comunicação efetuada por
qualquer das entidades referidas nos números anteriores, 3. As diligências sumárias referidas no n.º 1 destinam-se à
requer imediatamente ao tribunal competente o obtenção de elementos que possam confirmar ou esclarecer
procedimento judicial nos termos do artigo seguinte. a situação de perigo.
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Jornal da República
Artigo 75.º 5. Havendo dúvida sobre a idade da criança ou jovem,
Falta de consentimento presume-se a sua menoridade até que se prove a sua idade.

Faltando ou tendo sido retirados os consentimentos previstos Artigo 78.º


no artigo 13.º, ou havendo oposição do menor, nos termos do Decisão relativa à medida
artigo 14.º, os serviços de proteção das crianças e jovens
abstêm-se de intervir e comunicam a situação ao Ministério 1. Reunidos os elementos sobre a situação da criança ou do
Público competente, remetendo-lhe o processo ou os elementos jovem, os serviços de proteção das crianças e jovens
que considerem relevantes para a apreciação da situação. apreciam o caso, arquivando o processo quando a situação
de perigo não se confirme ou já não subsista, ou decide,
Artigo 76.º fundamentadamente, aplicando a medida adequada.
Diligências nas situações de guarda ocasional
2. Perante qualquer proposta de intervenção dos serviços de
1. Quando a criança ou jovem se encontre a viver com uma proteção das crianças e jovens, as pessoas a que se referem
pessoa que não detenha o poder paternal, não seja o seu os artigos 13.º e 14.º podem solicitar um prazo, não superior
representante legal, nem tenha a sua guarda de facto, os a oito dias, para prestar consentimento ou manifestar a
serviços de proteção das crianças e jovens devem não oposição.
diligenciar de imediato, por todos os meios ao seu alcance,
no sentido de entrar em contacto com as pessoas que 3. Havendo acordo entre os serviços de proteção das crianças
devem prestar o consentimento, para que estas ponham e jovens e as pessoas a que se referem os artigos 13.º e 14.º
cobro à situação de perigo ou prestem o consentimento no tocante à medida a adotar, a decisão é reduzida a escrito,
para a intervenção. tomando a forma de acordo, nos termos do disposto nos
artigos 36.º a 38.º, o qual é assinado pelos intervenientes.
2. Até ao momento em que o contacto com os pais,
4. Não havendo acordo, e mantendo-se a situação que
representantes legais ou com quem tenha a sua guarda de
justifique a aplicação de medida, os serviços de proteção
facto seja possível e sem prejuízo dos procedimentos de
das crianças e jovens remetem o processo ao Ministério
urgência, os serviços de proteção das crianças e jovens
Público.
proporcionam à criança ou jovem os meios de apoio
adequados, salvo se houver oposição da pessoa com quem
Artigo 79.º
eles residem.
Arquivamento do processo
3. Quando se verifique a oposição referida no número anterior,
Cessando a medida, o processo é arquivado, só podendo ser
os serviços de proteção das crianças e jovens comunicam
reaberto se ocorrerem novos factos que justifiquem a aplicação
imediatamente a situação ao Ministério Público.
de medida de promoção e proteção.
Artigo 77.º
Processo CAPÍTULO IX
DO PROCESSO JUDICIAL DE PROMOÇÃO E
1. O processo inicia-se com o recebimento da comunicação PROTEÇÃO
escrita ou com o registo das comunicações verbais ou dos
factos de que os serviços de proteção das crianças e jovens Artigo 80.º
tiverem conhecimento. Natureza do processo

2. O processo dos serviços de proteção das crianças e jovens O processo judicial de promoção dos direitos e proteção das
inclui a recolha de informação, as diligências e exames crianças e jovens em perigo, doravante designado processo
necessários e adequados ao conhecimento da situação, à judicial de promoção e proteção, é de jurisdição voluntária,
fundamentação da decisão, à aplicação da respetiva medida podendo o tribunal investigar livremente os factos, coligir as
e à sua execução. provas, ordenar os inquéritos e recolher as informações que
considere convenientes, não estando sujeito a critérios de
3. O processo é organizado de modo simplificado, nele se legalidade estrita e devendo adotar, em cada caso, a solução
registando por ordem cronológica os atos e diligências que julgue mais conveniente e oportuna.
praticados ou solicitados pelos serviços de proteção das
crianças e jovens que fundamentem a prática dos atos Artigo 81.º
previstos no número anterior. Tribunal competente

4. Os atos praticados por outra entidade a rogo dos serviços 1. Compete ao tribunal de primeira instância da área da
de proteção das crianças e jovens, designadamente ao nível residência da criança ou do jovem a instrução e o julgamento
da instrução de processos ou de acompanhamento de do processo judicial de promoção e proteção.
medidas de promoção e proteção integram a atividade
processual dos serviços de proteção das crianças e jovens, 2. Para efeitos do disposto no número anterior, é competente
sendo registados como atos de colaboração. o juízo de família e menores ou, não havendo, o juízo cível.
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Jornal da República
3. Sem prejuízo das regras gerais de distribuição dos fases de instrução, debate judicial, decisão e execução da
processos, na distribuição dos processos judiciais de medida.
promoção e proteção deve ser dada preferência, havendo,
à distribuição a um juiz com formação específica em matéria 2. Recebido o requerimento inicial, o juiz profere despacho de
de infância e juventude. abertura de instrução ou, se considerar que dispõe de todos
os elementos necessários, manda notificar o Ministério
Artigo 82.º Público, a criança ou jovem, os pais, o representante legal,
Processos urgentes e quem detiver a guarda de facto da criança ou do jovem,
seguindo-se os demais termos nele previstos.
Os processos judiciais de promoção e proteção são de natureza
urgente, correndo nas férias judiciais. Artigo 87.º
Regras específicas
Artigo 83.º
Assistência jurídica 1. O processo é tramitado de acordo com as regras previstas
no Código de Processo Civil, estando as audições da
1. Os pais, o representante legal ou quem tiver a guarda de criança ou do jovem sujeitas às seguintes regras:
facto podem, em qualquer fase do processo, constituir
advogado ou requerer a intervenção de defensor público a) Devem ser conduzidas com o mínimo de formalidade
que o represente, a si ou à criança ou ao jovem. possível e em linguagem acessível, considerando a
capacidade de compreensão e a idade da criança ou do
2. É obrigatória a nomeação de patrono à criança ou jovem jovem e o objetivo da intervenção, e ser precedidas da
quando os seus interesses e os dos seus pais, prestação de informação clara sobre o significado e
representante legal ou de quem tenha a guarda de facto alcance da mesma;
sejam conflituantes e ainda quando a criança ou jovem
com a maturidade adequada o solicitar ao tribunal.
b) Com apoio de tradução e/ou interpretação para uma
língua que a criança ou jovem compreenda, a ser
3. A nomeação do patrono é efetuada nos termos da lei que
disponibilizado gratuitamente;
regula o exercício da advocacia ou nos termos do Estatuto
da Defensoria Pública.
c) Com a assistência adequada a crianças e jovens com
deficiência, atendendo às suas necessidades especiais;
4. No debate judicial é obrigatória a constituição de patrono
à criança ou jovem.
d) Com salvaguarda da privacidade da criança ou do
jovem, só podendo assistir as pessoas que o tribunal
Artigo 84.º
expressamente autorizar, com exceção da leitura da
Contraditório
decisão.
1. A criança ou jovem, os seus pais, representante legal ou
quem tiver a guarda de facto têm direito a requerer 2. Para efeitos do disposto no número anterior, o juiz pode:
diligências e oferecer meios de prova.
a) Requerer a intervenção e a assistência de médicos,
2. No debate judicial podem ser apresentadas alegações psicólogos, assistentes sociais ou outros especialistas
escritas e é assegurado o contraditório. ou pessoas de confiança da criança ou jovem;

3. O contraditório quanto aos factos e à medida aplicável é b) Ordenar, ex-ofício ou a requerimento, que o magistrado
sempre assegurado em todas as fases do processo, do Ministério Público, o defensor público, o advogado
designadamente tendo em vista a obtenção do acordo e e os funcionários do tribunal não façam uso do traje
no debate judicial. profissional durante a audição, que as instalações sejam
adaptadas por forma a minimizar o desconforto e receio
Artigo 85.º da criança ou jovem;
Iniciativa processual
c) Determinar que a criança ou o jovem não seja colocado
1. A iniciativa processual cabe ao Ministério Público. em contacto direto com o alegado responsável pela
situação de perigo ou qualquer outra pessoa que a
2. Os pais, o representante legal, as pessoas que tenham a possa intimidar, durante a deslocação, enquanto
guarda de facto e a criança ou jovem com idade superior a aguarda e no decorrer da audição, podendo estar
12 anos podem também requerer a intervenção do tribunal acompanhada por pessoa da sua confiança.
no caso previsto na alínea d) no n.º 1 do artigo 15.º.
3. O juiz pode ouvir a criança ou o jovem, individualmente,
Artigo 86.º com a presença do Ministério Público, quando houver
Fases do processo razões para crer que a presença de outras pessoas possa
afetar a sua espontaneidade, o seu bem-estar e o equilíbrio
1. O processo de promoção e proteção é constituído pelas emocional.
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Jornal da República
4. A audição da criança ou do jovem é feita pelo juiz, podendo a) Decide o arquivamento do processo;
o Ministério Público e o advogado ou defensor público
propor a formulação de perguntas adicionais. b) Designa dia para uma conferência com vista à obtenção
de acordo de promoção e proteção; ou
Artigo 88.º
Despacho inicial c) Quando se mostre manifestamente improvável uma
solução negociada, determina o prosseguimento do
1. Declarada aberta a instrução, o juiz designa data para a processo para realização de debate judicial e ordena a
audição obrigatória:
notificação do Ministério Público, da criança ou do
jovem, dos pais, do representante legal e de quem
a) Da criança ou do jovem;
detiver a sua guarda de facto.
b) Dos pais, do representante legal ou da pessoa que
tenha a guarda de facto da criança ou do jovem. 2. Quando a impossibilidade de obtenção de acordo quanto
à medida de promoção e de proteção resultar de
2. No mesmo despacho, o juiz, sempre que o julgar conveniente, comprovada ausência em parte incerta de ambos os
pode designar dia para ouvir os técnicos que conheçam a progenitores, ou de um deles, quando o outro manifeste a
situação da criança ou do jovem a fim de prestarem os sua adesão à medida de promoção e proteção, o juiz pode
esclarecimentos necessários. dispensar a realização do debate judicial.

3. Com a notificação da designação da data referida no n.º 1 3. O disposto no número anterior é aplicável, com as devidas
procede-se também à notificação da criança ou jovem com adaptações, ao representante legal e ao detentor da guarda
idade superior a 12 anos, dos pais, do representante legal, de facto da criança ou do jovem.
de quem detiver a guarda de facto da criança ou do jovem,
para, querendo, requererem a realização de diligências Artigo 92.º
instrutórias ou juntarem meios de prova. Arquivamento

Artigo 89.º O juiz decide o arquivamento do processo quando concluir


Informação ou relatório social que, em virtude da situação de perigo não se comprovar ou já
não subsistir, se tornou desnecessária a aplicação de qualquer
1. O juiz, se o entender necessário, pode utilizar, como meios
medida de promoção e proteção, podendo o mesmo ser reaberto
de obtenção da prova, a informação ou o relatório social
se ocorrerem factos que justifiquem a referida aplicação.
sobre a situação da criança ou do jovem e do seu agregado
familiar.
Artigo 93.º
2. A informação e o relatório social são solicitados pelo juiz Decisão negociada
aos serviços de proteção das crianças e jovens, que o
remetem ao tribunal no prazo de oito e 30 dias, O juiz convoca para a conferência, com vista à obtenção de
respetivamente. acordo de promoção e proteção, o Ministério Público, a criança
ou jovem com mais de 12 anos, os pais, o representante legal
3. O juiz pode ainda ouvir os serviços de proteção das crianças ou quem tenha a guarda de facto da criança ou do jovem e as
e jovens se entender que a informação ou o relatório social pessoas e representantes de entidades cuja presença e
não são claros ou se entender ser necessária informação subscrição do acordo seja entendida como relevante.
complementar.
Artigo 94.º
Artigo 90.º Acordo tutelar cível
Duração
1. Na conferência e verificados os pressupostos legais, o juiz
1. A instrução do processo de promoção e de proteção não homologa o acordo alcançado em matéria tutelar cível,
pode ultrapassar o prazo de quatro meses. ficando este a constar por apenso.

2. O prazo previsto no número anterior pode, oficiosamente


2. Não havendo acordo seguem-se os trâmites previstos na
ou a requerimento devidamente fundamentado, ser
lei tutelar cível.
prorrogado por mais trinta dias.
Artigo 95.º
Artigo 91.º
Encerramento da instrução Acordo de promoção e proteção

1. O juiz, ouvido o Ministério Público, declara encerrada a 1. Ao acordo de promoção e proteção é aplicável, com as
instrução e: devidas adaptações, o disposto nos artigos 36.º a 38.º.

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Jornal da República
2. Não havendo oposição do Ministério Público, o acordo é Artigo 98.º
homologado por decisão judicial. Regime das provas

3. O acordo fica a constar da ata e é subscrito por todos os Para a formação da convicção do tribunal e para a
intervenientes. fundamentação da decisão, sob pena de nulidade, só podem
Artigo 96.º ser consideradas as provas que puderem ter sido contraditadas
Debate judicial durante o debate judicial.

1. Se não tiver sido possível obter o acordo de promoção e Artigo 99.º


proteção, ou tutelar cível adequado, ou quando estes se Documentação
mostrem manifestamente improváveis, o juiz manda notificar
o Ministério Público, a criança ou o jovem com mais de 12 A audiência é sempre documentada e, sempre que os meios
anos, os pais, o representante legal, ou quem detiver a tecnológicos o permitam, a audiência deve ser gravada,
guarda de facto da criança ou do jovem para alegarem, por devendo apenas ser assinaladas na ata o início e o termo de
escrito, querendo, e apresentarem prova no prazo de 10 cada depoimento, declaração, informação, esclarecimento,
dias. requerimento e respetiva resposta, despacho, decisão e
alegações orais.
2. O Ministério Público deve alegar por escrito e apresentar
Artigo 100.º
provas sempre que considerar que a medida a aplicar é
Alegações
uma das previstas nas alíneas e) a g) do n. º 1 do artigo 20.º.
Produzida a prova, o juiz concede a palavra ao Ministério
3. Recebidas as alegações e apresentada a prova, o juiz designa Público e aos advogados ou defensores públicos para
dia para o debate judicial e ordena a notificação das pessoas alegações, por trinta minutos cada um.
que devam comparecer.
Artigo 101.º
4. Com a notificação da data para o debate judicial é dado Decisão
conhecimento aos pais, ao representante legal ou a quem
tenha a guarda de facto da criança ou do jovem das 1. Terminado o debate, o juiz recolhe para elaborar a decisão.
alegações e prova apresentada pelo Ministério Público e,
a este, das restantes alegações e prova apresentada. 2. A decisão inicia-se por um relatório sucinto, em que se
identifica a criança ou jovem, os seus pais, representante
5. Para efeitos de revisão das medidas a que se refere o artigo legal, ou a pessoa que tem a guarda de facto e se procede
43.º não há debate judicial, exceto se estiver em causa: a uma descrição da tramitação do processo.

a) A substituição da medida de promoção e proteção 3. Ao relatório segue-se a fundamentação que consiste na


aplicada; ou enumeração dos factos provados e não provados, bem
como na sua valoração e exposição das razões que justificam
b) A prorrogação da execução da medida de colocação. o arquivamento ou a aplicação de uma medida de promoção
e proteção, terminando pelo dispositivo e decisão.
Artigo 97.º
Organização do debate judicial Artigo 102.º
Leitura da decisão
1. O debate judicial é contínuo, decorrendo sem interrupção
ou adiamento até ao encerramento, salvo as suspensões 1. A decisão é lida pelo juiz, podendo ser ditada para a ata
necessárias para alimentação e repouso dos participantes. imediatamente após o encerramento do debate judicial.

2. O debate judicial não pode ser adiado e inicia-se com a 2. No caso de especial complexidade, o debate judicial pode
produção da prova e audição das pessoas presentes, ser suspenso e designado novo dia para leitura da decisão,
ordenando o juiz as diligências necessárias para que num prazo máximo de três dias.
compareçam os não presentes na data que designar para o
seu prosseguimento. Artigo 103.º
Notificação da decisão
3. A leitura da decisão é pública, mas ao debate judicial só
podem assistir as pessoas que o tribunal expressamente A decisão é notificada ao Ministério Público, à criança ou ao
autorizar. jovem, aos pais, ao representante legal e a quem tiver a guarda
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de facto da criança ou do jovem, contendo informação sobre a b) Instrução do procedimento de promoção e proteção, de
possibilidade, a forma e o prazo de interposição do recurso. acordo com o estabelecido na presente lei.

Artigo 109.º
Artigo 104.º
Regulamentação
Recursos
O Governo aprova a regulamentação necessária à
1. Cabe recurso das decisões que, definitiva ou provisoria- implementação desta lei.
mente, se pronunciem sobre a aplicação, alteração ou
cessação de medidas de promoção e proteção. Artigo 110.º
Entrada em vigor
2. Podem recorrer o Ministério Público, a criança ou o jovem,
os pais, o representante legal e quem tiver a guarda de A presente lei entra em vigor 180 dias após a sua publicação.
facto da criança ou do jovem.

3. O recurso de decisão que tenha aplicado a medida prevista Aprovada em 7 de fevereiro de 2023.
na alínea g) do n. º 1 do artigo 20.º é decidido no prazo
máximo de 30 dias, a contar da data da receção dos autos
O Presidente do Parlamento Nacional,
no tribunal superior.

Artigo 105.º
Processamento e efeito dos recursos Aniceto Longuinhos Guterres Lopes
1. Os recursos são processados e julgados como os agravos
em matéria cível, sendo o prazo de alegações e de resposta
de 10 dias. Promulgada em 21 de fevereiro de 2023.
2. Com exceção do recurso da decisão que aplique a medida
prevista na alínea g) do n.º 1 do artigo 20.º, a qual tem efeito
suspensivo, cabe ao tribunal recorrido fixar o efeito do Publique-se.
recurso.

Artigo 106.º O Presidente da República,


A execução da medida

No processo judicial de promoção e proteção a execução da


medida será efetuada nos termos dos n.ºs 2 e 3 do artigo 40.º. José Ramos-Horta
Artigo 107.º
Direito subsidiário

Ao processo judicial de promoção e proteção são aplicáveis


subsidiariamente, com as devidas adaptações, na fase de debate
judicial e de recursos, as normas relativas ao processo civil de
declaração sob a forma comum. DIPLOMA MINISTERIAL N.º 6/2023

de 1 de Março
CAPÍTULO X
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS APROVA OS DISTINTIVOS DA PNTL

Artigo 108.º O Decreto-Lei n.º 69/2022, de 28 de setembro, que aprovou o


Reavaliação das situações de acolhimento em instituição Estatuto profissional do pessoal com funções policiais da PNTL
(Estatuto) determina no artigo 29.º que o polícia da PNTL tem
No prazo máximo de seis meses após a entrada em vigor da direito ao uso de patentes, insígnias e distintivos próprios da
presente lei, são reavaliados todos as situações e processos PNTL aprovados por diploma ministerial do membro do
de crianças e jovens colocados em instituições de acolhimento, Governo responsável pela área da segurança interna.
pelos serviços de proteção das crianças e jovens e pelo
Ministério Público, com vista a: Por sua vez, o artigo 24.º do Estatuto determina, igualmente,
que os modelos e o uso de uniformes da PNTL, bem como as
a) Identificar medidas em meio natural de vida que possam respetivas dotações de atribuição, são definidos através de
constituir uma alternativa imediata à sua colocação; decreto do Governo.
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