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O Parlamento Nacional decreta, nos termos do n.º 1 do artigo e) «Guarda de facto», a relação que se estabelece entre a
95.º da Constituição da República, para valer como lei, o criança ou o jovem e a pessoa que com ele vem
seguinte: assumindo, continuadamente, as funções essenciais
próprias de quem exerce as responsabilidades parentais
CAPÍTULO I de, no interesse da criança e do jovem, velar pela sua
DISPOSIÇÕES GERAIS segurança e saúde, prover o seu sustento e dirigir a
sua educação;
Artigo 1.º
Objeto f) «Medida de promoção e proteção», a providência
A presente lei tem por objeto a promoção dos direitos e a adotada pelos serviços de proteção das crianças e
proteção das crianças e dos jovens em perigo, por forma a jovens ou pelos tribunais, nos termos da presente lei,
garantir o seu bem-estar e o desenvolvimento integral. para promover o bem-estar integral e proteger a criança
e o jovem em perigo;
Artigo 2.º
Âmbito g) «Perigo», qualquer ameaça à vida, integridade física
ou psíquica, segurança, saúde, formação, educação ou
A presente lei aplica-se às crianças e aos jovens em perigo que desenvolvimento da criança ou do jovem;
residam ou se encontrem em território nacional.
h) «Redes de proteção das crianças e jovens», os órgãos
Artigo 3.º colegiais constituídos por representantes dos serviços
Aplicação da lei a maiores de 17 anos de idade sociais, dos serviços de proteção das crianças e jovens,
dos municípios, das comunidades e das entidades com
1. A presente lei aplica-se ao jovem até perfazer 21 anos, competência em matéria de infância ou juventude,
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designadamente na área social, da saúde, da educação, c) É negligenciada por não receber, de forma grave ou
da formação profissional, do emprego, da segurança, reiterada, os cuidados de alimentação, saúde, educação,
da justiça, da cultura e do desporto, e com o âmbito de higiene, vigilância ou a afeição adequada à sua idade e
atuação ao nível municipal ou do posto administrativo; situação pessoal;
i) «Serviços de proteção das crianças e jovens», o serviço d) É obrigada a atividades ou trabalhos excessivos ou
da administração direta do Estado, central e inadequados à sua idade, dignidade e situação pessoal
desconcentrado, com a responsabilidade de proteção ou prejudiciais à sua formação ou desenvolvimento;
das crianças e jovens, que funciona na direta
dependência do ministério com responsabilidade na e) É sujeita, de forma direta ou indireta, a comportamentos
área da solidariedade social, nos termos da respetiva que afetem gravemente a sua segurança, equilíbrio
lei orgânica; emocional, bem-estar ou desenvolvimento;
j) «Sistema de proteção das crianças e jovem», inclui f) Assume comportamentos ou se entrega a atividades
todas as pessoas públicas ou privadas, singulares ou ou consumos que afetem gravemente a sua saúde,
coletivas que contribuem para garantir o bem-estar, segurança, formação, educação ou desenvolvimento
promover os direitos das crianças e dos jovens, prevenir sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a
qualquer violação dos seus direitos e proteger a criança guarda de facto se lhes oponham de modo adequado a
e o jovem, salvaguardando sempre o seu interesse remover essa situação;
superior, nomeadamente:
g) Quaisquer outras situações em que a vida, integridade
i) Os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda física ou psíquica, segurança, saúde, formação,
de facto, bem como todos os elementos do agregado educação ou desenvolvimento da criança ou do jovem
familiar; se encontre em causa.
k) «Situação urgente», a situação de perigo atual ou A intervenção de qualquer entidade para assegurar o bem-
iminente para a vida ou de grave comprometimento da estar, a promoção e proteção dos direitos da criança e do jovem
integridade física ou psíquica da criança ou do jovem, em perigo, obedece aos seguintes princípios:
que exija proteção imediata nos termos previstos na
presente lei. a) Interesse superior da criança e do jovem – todas as decisões
relativas à criança ou jovem devem atender prioritariamente
2. Considera-se em perigo a criança ou o jovem, que, ao seu interesse superior, que é avaliado no seu contexto
designadamente, se encontra numa das seguintes individual, familiar e comunitário, considerando as
situações: consequências de cada decisão, quer imediatas, quer a
longo prazo, e tendo em vista promover o seu bem-estar e
a) Está abandonada ou vive entregue a si própria; desenvolvimento integral;
b) É vítima, direta ou indiretamente, de maus-tratos físicos b) Prevenção – As entidades e serviços competentes devem
ou psicológicos, abusos sexuais, pornografia infantil, atuar de forma concertada para desenvolver iniciativas,
violência doméstica ou qualquer outro crime previsto programas e atividades de prevenção de situações de
na legislação penal; perigo, junto da criança e do jovem, famílias e comunidade;
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c) Privacidade - todas as decisões relativas à criança ou jovem – o acolhimento da criança ou jovem em instituições,
devem respeitar a sua intimidade, direito à imagem e reserva centros ou casas de acolhimento deve ser uma medida
da sua vida privada, nomeadamente através do excecional, de caráter temporário e pelo mínimo período
estabelecimento de garantias adequadas de possível, determinada em função do superior interesse da
confidencialidade e limitação do acesso ao público de criança ou jovem, sempre que não seja possível manter a
informações que permitam identificar a criança ou jovem; criança ou jovem no seu meio natural de vida ou recorrer a
uma solução que privilegie a sua inserção em meio familiar;
d) Intervenção mínima – o sistema de proteção monitoriza e
acompanha situações de necessidade de proteção e m) Subsidiariedade – a intervenção deve ser efetuada
intervém sempre que necessário, devendo a intervenção sucessivamente pelas entidades com competência em
ser exercida exclusivamente pelos serviços, entidades e matéria da infância e juventude, pelos serviços de proteção
instituições cuja ação seja indispensável à efetiva das crianças e jovens e, em última instância, pelos tribunais;
promoção dos direitos e proteção da criança e do jovem
em perigo; n) Igualdade e não discriminação – todas as crianças e jovens
têm direitos iguais, não podendo ser sujeitas a qualquer
e) Intervenção prévia – a intervenção deve ser efetuada logo tipo de discriminação com base em qualquer condição,
que a situação de perigo seja conhecida; nomeadamente na cor, raça, sexo, género, língua, religião,
nacionalidade, origem étnica, orientação sexual, condição
f) Proporcionalidade e atualidade – a intervenção para a física ou mental, posição social ou situação económica,
promoção e proteção deve ser necessária e adequada à opinião política ou ideológica da criança ou jovem, dos
situação de necessidade de proteção em que a criança ou seus familiares ou representantes legais ou de quem tenha
jovem se encontre quando a decisão é tomada e só pode a guarda de facto.
interferir na sua vida e na vida da sua família na medida do
que for estritamente necessário a essa finalidade; CAPÍTULO II
INTERVENÇÃO PARA PROMOÇÃO DOS DIREITOS E
g) Responsabilidade familiar – a família tem a responsabilidade PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E JOVENS EM PERIGO
de proteger e cuidar da criança e do jovem, podendo ser
apoiada sempre que necessário; Secção I
Modalidades de intervenção e entidades competentes
h) Primado da continuidade das relações psicológicas
profundas – a intervenção para a promoção e proteção Artigo 7.º
deve respeitar o direito da criança e do jovem à preservação Entidades competentes
das relações afetivas estruturantes de grande significado
e de referência para o seu saudável e harmónico A promoção dos direitos e proteção das crianças e dos jovens
desenvolvimento, devendo prevalecer as medidas que em perigo cabe, designadamente:
garantam a continuidade de uma vinculação geradora de
segurança; a) Ao Governo, através do ministério com a responsabilidade
da solidariedade social;
i) Prevalência da família – a criança e o jovem têm o direito de
viver no seio da sua família pelo que deve ser dada b) À entidade do Estado responsável pela promoção, defesa
prevalência às medidas de promoção e proteção que e monitorização dos direitos das crianças e dos jovens;
mantêm a criança ou jovem integrado na sua família
biológica, junto de outros familiares ou em situação familiar c) Às entidades com competência em matéria da infância e
estável; juventude;
1. As autoridades policiais intervêm em matéria de promoção 2. A aplicação das medidas de promoção e proteção, por parte
dos direitos e proteção das crianças e dos jovens em perigo dos serviços de proteção das crianças e jovens, depende
através de unidades especialmente vocacionadas para lidar do consentimento de ambos os progenitores, ainda que o
com crianças e jovens. exercício do poder paternal esteja confiado exclusivamente
a um deles, desde que o outro não esteja inibido de exercer
2. As unidades referidas no número anterior são o poder paternal.
regulamentadas por diploma próprio.
3. Quando um dos progenitores que deva prestar
Artigo 10.º consentimento estiver ausente ou, de qualquer modo,
Intervenção das redes de proteção das crianças e jovens incontactável, é suficiente o consentimento do progenitor
presente e contactável, sem prejuízo do dever de os
serviços de proteção das crianças e jovens diligenciarem,
1. As redes de proteção das crianças e jovens têm por missão
comprovadamente e por todos os meios ao seu alcance,
o apoio às famílias e às comunidades na prevenção de
pelo conhecimento do paradeiro daquele, com vista à
situações de perigo e proteção das crianças e dos jovens,
prestação do respetivo consentimento.
de forma coordenada ao nível municipal.
4. Quando tenha sido instituída a tutela, o consentimento é
2. As redes de proteção das crianças e jovens atuam de forma
prestado pelo tutor ou, na sua falta, pelo protutor.
concertada e independente na promoção dos direitos e na
prevenção de situações de perigo para a criança e jovem. 5. Se a criança ou jovem estiver confiada à guarda de terceira
pessoa, nos termos do disposto no Código Civil, ou se
3. As redes de proteção das crianças e jovens são encontrar a viver com uma pessoa que tenha apenas a
regulamentadas por diploma próprio. guarda de facto, o consentimento é prestado por quem tem
a sua guarda, ainda que de facto, e pelos pais, sendo
Artigo 11.º suficiente o consentimento daquela para o início da
Intervenção de entidades com competência em matéria de intervenção.
infância e juventude
6. Se, no caso do número anterior, não for possível contactar
1. As entidades com competência em matéria de infância e os pais apesar da realização das diligências adequadas
juventude intervêm na promoção dos direitos, na prevenção para os encontrar, aplica-se, com as necessárias
de situações de perigo e na proteção da criança e do jovem adaptações, o disposto no n.o 3.
no âmbito das suas atribuições e nos termos da presente 7. Nos casos previstos nos n.os 3 e 5, cessa a legitimidade dos
lei. serviços de proteção das crianças e jovens para a aplicação
das medidas de promoção e proteção, sempre que o
2. A intervenção das entidades com competência em matéria progenitor não inibido do poder paternal se oponha à
de infância e juventude é efetuada de modo consensual intervenção.
com as pessoas de cujo consentimento dependeria a
intervenção dos serviços de proteção das crianças e 8. Caso as pessoas que devam prestar consentimento não
jovens, nos termos da presente lei. saibam ler ou escrever, os serviços de proteção das crianças
e jovens tomam as providências necessárias para garantir
Artigo 12.º a completa informação dessas pessoas, e regista o
Intervenção dos serviços de proteção das crianças e jovens consentimento das mesmas na presença de uma
testemunha.
1. A intervenção dos serviços de proteção das crianças e
jovens tem lugar quando não seja possível às entidades Artigo 14.º
referidas nos artigos 10.º e 11.º atuar de forma adequada e Não oposição da criança ou do jovem
suficiente a remover o perigo em que a criança ou jovem se
encontram. 1. A intervenção das entidades referidas nos artigos 10.º, 11.º
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e 12.º depende, ainda, da não oposição da criança ou do Secção II
jovem, nos termos do número seguinte. Serviços de proteção das crianças e jovens
b) A pessoa que deva prestar consentimento, nos termos a) Informar e sensibilizar a comunidade sobre os direitos
da presente lei, haja sido indiciada pela prática de crime da criança e do jovem e realizar atividades de prevenção;
de violência doméstica, contra a liberdade ou a
autodeterminação sexual que vitime a criança ou jovem b) Receber denúncias de situações de perigo, apreciar as
carecido de proteção, ou quando, contra aquela tenha que tiver conhecimento no exercício das suas funções
sido exercido o direito de queixa pela prática de qualquer e decidir pelo seguimento das mesmas;
dos referidos tipos de crime;
c) Atender a criança e o jovem, os pais, o representante
c) A criança ou o jovem se oponham à aplicação da medida legal ou a pessoa que tenha a sua guarda de facto e a
pelos serviços de proteção das crianças e jovens, nos sua família, explicando os seus direitos e informando
termos da presente lei; dos motivos que determinaram a intervenção e da forma
como esta se processa;
d) Os serviços de proteção das crianças e jovens não
obtenham a disponibilidade de meios necessários para d) Solicitar à criança ou ao jovem, aos pais, ao
aplicar ou executar a medida que consideram adequada, representante legal ou à pessoa que tenha a sua guarda
nomeadamente, por oposição de um serviço ou de facto o consentimento necessário para a sua
entidade; intervenção, nos termos da presente lei;
e) O Ministério Público considere que a decisão dos e) Realizar as diligências necessárias destinadas a
serviços de proteção das crianças e jovens é ilegal ou averiguar a existência de situações de perigo para a
inadequada à promoção dos direitos ou à proteção da criança e jovem;
criança ou do jovem;
f) Na sequência da realização de diligências de proteção f) Solicitar informações e colaboração às entidades com
imediata da criança ou do jovem, no âmbito do competência em matéria de infância e juventude e
procedimento urgente previsto na presente lei; demais entidades, serviços públicos ou parceiros locais;
g) O processo dos serviços de proteção das crianças e g) Arquivar o processo de promoção e proteção quando
jovens seja apensado a processo judicial, nos termos se verifique desnecessidade de intervenção;
da presente lei.
h) Determinar a abertura do processo de promoção e
2. A intervenção judicial tem ainda lugar quando, atendendo proteção;
à gravidade da situação de perigo, à especial relação da
criança ou do jovem com quem a provocou ou ao i) Aplicar, a título cautelar, as medidas de promoção e
conhecimento de anterior incumprimento reiterado de proteção, nos termos da presente lei;
medida de promoção e proteção por quem prestar
consentimento, o Ministério Público, oficiosamente ou sob j) Aplicar as medidas de promoção e proteção, revê-las e
proposta dos serviços de proteção das crianças e jovens, determinar a cessação das mesmas, nos termos da
entenda, de forma justificada, que, no caso, não se mostra presente lei;
adequada a intervenção dos serviços de proteção das
crianças e jovens. k) Remeter os processos de promoção e proteção ao
Ministério Público e efetuar-lhe as comunicações das
3. Para efeitos do disposto nos números anteriores, os serviços situações previstas na presente lei;
de proteção das crianças e jovens remetem o processo ao
Ministério Público. l) Acompanhar a execução dos acordos de promoção e
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proteção, no âmbito das medidas de promoção e protejam e promovam a sua segurança, saúde, formação,
proteção aplicadas; educação, bem-estar e desenvolvimento integral;
m) Realizar as diligências urgentes destinadas a assegurar c) Garantir a recuperação física e psicológica das crianças e
a proteção imediata da criança ou do jovem dos jovens vítimas de qualquer forma de exploração ou
determinadas pelo Ministério Público e sob orientação abuso.
deste;
Artigo 20.º
n) Elaborar e submeter os relatórios sociais às autoridades Medidas
judiciárias e prestar-lhes os esclarecimentos
necessários, nos termos da lei ou sempre que tais lhe 1. As medidas de promoção e proteção são as seguintes:
sejam solicitados por aquelas autoridades;
a) Apoio junto dos pais, do representante legal ou da
o) Acompanhar a execução das medidas de promoção e pessoa que tenha a guarda de facto;
proteção aplicadas pelos tribunais;
b) Apoio junto de outros familiares;
p) Exercer outras competências que lhe sejam cometidas
por lei. c) Apoio junto de pessoa idónea;
2. No exercício das competências referidas no número anterior d) Apoio para a autonomia de vida;
cabe aos serviços de proteção das crianças e jovens
elaborar e manter um registo atualizado, do qual conste a e) Acolhimento familiar;
descrição sumária das diligências efetuadas e respetivos
resultados. f) Acolhimento em instituição;
2. O dever de colaboração incumbe igualmente às pessoas 3. Consideram-se medidas a executar no meio natural de vida,
singulares e coletivas que para tal sejam solicitadas. as previstas nas alíneas a), b), c) e d) do n.º 1, e medidas de
colocação, as previstas nas alíneas e) e f) do mesmo
3. O dever de colaboração abrange o de informação e o de número.
emissão, sem quaisquer encargos, de certidões, relatórios
e quaisquer outros documentos considerados necessários 4. A medida prevista na alínea g) do n.º 1 é considerada a
pelas redes de proteção das crianças e jovens, pelas executar no meio natural no primeiro caso e de colocação
entidades com competência em matéria de infância e no segundo e terceiro casos.
juventude, e pelos serviços de proteção das crianças e
jovens no exercício das suas competências. 5. O regime de execução das medidas consta de legislação
própria.
CAPÍTULO III
MEDIDAS DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS E DE Artigo 21.º
PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E DOS JOVENS Acordo de promoção e proteção
5. No âmbito de um processo de promoção e proteção e das 2. Não podem ser estabelecidas cláusulas que imponham
suas competências legais, o Juiz, o Ministério Público, a obrigações abusivas ou que introduzam limitações ao
Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça, a Defensoria funcionamento da vida familiar para além das necessárias
Pública ou o advogado, bem como os serviços públicos e a afastar a situação concreta de perigo.
as entidades públicas com a responsabilidade de defesa
dos direitos das crianças e jovens, podem solicitar Artigo 37.º
informações e visitar as instituições de acolhimento. Acordo de promoção e proteção relativo a medida em meio
natural de vida
Artigo 35.º
Recursos humanos 1. No acordo de promoção e proteção em que se estabeleça
medida a executar no meio natural de vida deve constar,
1. As instituições de acolhimento dispõem necessariamente nomeadamente:
de recursos humanos organizados em equipas articuladas
entre si, designadamente: a) Os cuidados de alimentação, higiene, saúde e conforto
a prestar à criança ou ao jovem pelos pais ou pelas
a) Uma equipa técnica, constituída de modo pessoas a quem sejam confiados;
pluridisciplinar, que integra obrigatoriamente
colaboradores com formação adequada, nas áreas da b) A identificação do responsável pela criança ou jovem
psicologia ou do trabalho social, sendo designado o durante o tempo em que não possa ou não deva estar
diretor técnico de entre eles; na companhia ou sob a vigilância dos pais ou das
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pessoas a quem esteja confiado, por razões laborais ou 2. A informação a que se refere a alínea c) do número anterior
outras consideradas relevantes; deve conter os elementos necessários para avaliar o
desenvolvimento da personalidade, o aproveitamento
c) O plano de escolaridade, formação profissional, trabalho escolar, a progressão em outras aprendizagens, a adequação
e ocupação dos tempos livres; da medida aplicada e a possibilidade de regresso da criança
ou do jovem à família.
d) O plano de cuidados de saúde, incluindo consultas
médicas e de orientação psicopedagógica, bem como o Artigo 39.º
dever de cumprimento das diretivas e orientações Direitos da criança ou jovem em acolhimento
fixadas;
1. A criança ou o jovem acolhido em instituição tem, em especial,
e) O apoio económico a prestar, a sua modalidade, duração os seguintes direitos:
e entidade responsável pela atribuição, bem como os
pressupostos da concessão; a) Manter regularmente, e em condições de privacidade,
contactos pessoais com a família e com pessoas com
f) Se necessário, a frequência de um programa de formação quem tenha especial relação afetiva, sem prejuízo das
pelos pais, representante legal ou quem tenha a guarda limitações impostas por decisão judicial ou pelos
de facto, visando um melhor exercício das serviços de proteção das crianças e jovens;
responsabilidades parentais.
b) Receber uma educação que garanta o desenvolvimento
o o
2. Nos casos previstos na alínea e) do n. 2 do artigo 4. , se o integral da sua personalidade e potencialidades, sendo-
perigo resultar de comportamentos adotados em razão de lhe assegurada a prestação dos cuidados de saúde,
alcoolismo, toxicodependência ou doença psiquiátrica dos formação escolar e profissional e a participação em
pais ou das pessoas a quem a criança ou o jovem esteja atividades culturais, desportivas e recreativas;
confiado, o acordo inclui ainda a menção de que a
c) Usufruir de um espaço de privacidade e de um grau de
permanência da criança ou do jovem na companhia destas
autonomia na condução da sua vida pessoal adequados
pessoas é condicionada à sua submissão a tratamento e
à sua idade e situação;
ao estabelecimento de compromisso nesse sentido.
d) Receber, dependendo da sua situação, o apoio material
3. Quando a intervenção seja determinada pela situação
adequado à sua idade, nomeadamente dinheiro de
prevista na alínea f) do n.o 2 do artigo 4.º, podem ainda
bolso;
constar do acordo diretivas e obrigações fixadas à criança
ou jovem relativamente a meios ou locais que não deva
e) A inviolabilidade da correspondência;
frequentar, pessoas que não deva acompanhar, substâncias
ou produtos que não deva consumir e condições e horários
f) Não ser transferido da instituição, salvo quando essa
dos tempos de lazer. decisão corresponda ao seu interesse;
Artigo 38.º g) Não ser separado de outros irmãos acolhidos, exceto
Acordo de promoção e proteção relativo a medidas de se o seu superior interesse o aconselhar;
colocação
h) Ser acolhido, sempre que possível, em instituição de
1. No acordo de promoção e proteção em que se estabeleça acolhimento próxima do seu contexto familiar e social
medida de colocação devem constar, com as devidas de origem, exceto se o seu superior interesse o
adaptações, as cláusulas enumeradas no artigo anterior e: desaconselhar, nomeadamente quando o contexto
familiar e social de origem foi o desencadeador da
a) A modalidade do acolhimento e a família ou a instituição situação de perigo;
em que o acolhimento terá lugar;
i) Contactar, com garantia de confidencialidade, os
b) Os direitos e os deveres dos intervenientes, serviços de proteção das crianças e jovens, o Ministério
nomeadamente a periodicidade das visitas por parte da Público, o defensor público ou o advogado e a
família ou das pessoas com quem a criança ou o jovem Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça.
tenha especial ligação afetiva, os períodos de visita à
família, quando isso seja do seu interesse, e o montante 2. Os direitos referidos no número anterior constam
da prestação correspondente aos gastos com o necessariamente do regulamento interno das instituições
sustento, educação e saúde da criança ou do jovem e a de acolhimento.
identificação dos responsáveis pelo pagamento;
Artigo 40.º
c) A periodicidade e o conteúdo da informação a prestar Acompanhamento da execução da medida
aos serviços de proteção das crianças e jovens e às
autoridades judiciárias, bem como a identificação da 1. Os serviços de proteção das crianças e jovens executam a
pessoa ou da entidade que a deve prestar. medida nos termos do acordo de promoção e proteção.
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2. A execução da medida aplicada em processo judicial é c) A continuação ou a prorrogação da execução da
dirigida e controlada pelo tribunal que a aplicou. medida;
3. Para efeitos do disposto no número anterior, o tribunal d) A comunicação à entidade legalmente autorizada a
remete cópia da decisão aos serviços de proteção das intervir em matéria de adoção caso se verifiquem os
crianças e jovens territorialmente competentes para o requisitos para a mesma.
acompanhamento da execução da medida.
3. Nos casos previstos no número anterior, a decisão de revisão
Secção V deve ser fundamentada de facto e de direito, em coerência
Duração, revisão e cessação da medida com o projeto de vida da criança ou do jovem.
1. Sem prejuízo do disposto no n.o 2, as medidas previstas nas 5. As decisões tomadas na revisão constituem parte integrante
alíneas a), b), c) e d) do n.º 1 do artigo 20.º têm a duração dos acordos de promoção e proteção ou da decisão judicial.
estabelecida no acordo ou na decisão judicial.
Artigo 44.º
2. As medidas referidas no número anterior não podem ter Medida de confiança a pessoa selecionada, a família de
duração superior a um ano, podendo, todavia, ser acolhimento ou a instituição com vista a adoção
prorrogadas até 18 meses se o interesse da criança ou do
jovem o aconselhar e desde que se mantenham os 1. Salvo o disposto no número seguinte, a medida de confiança
consentimentos e os acordos legalmente exigidos. a pessoa selecionada, a família de acolhimento ou a
instituição com vista a adoção, dura até ser decretada a
3. Excecionalmente, quando a defesa do superior interesse da adoção e não está sujeita a revisão.
criança ou jovem o imponha, a medida prevista na alínea d)
do n.o 1 do artigo 20.º pode ser prorrogada mediante acordo 2. A título excecional a medida é revista, nos casos em que a
ou decisão judicial, por existirem, e enquanto durarem, sua execução se revele manifestamente inviável,
processos educativos ou de formação profissional. designadamente quando a criança ou jovem atinja a idade
limite para a adoção sem que o projeto adotivo tenha sido
Artigo 42.º concretizado.
Duração das medidas de colocação
3. Na decisão que aplique a medida prevista no n.º 1, o tribunal
As medidas previstas nas alíneas e) e f) do n.o 1 do artigo 20.º designa curador provisório à criança ou jovem, o qual
têm a duração estabelecida no acordo ou na decisão judicial. exerce funções até ser decretada a adoção ou instituída
outra medida tutelar cível.
Artigo 43.º
Revisão da medida 4. O curador provisório é a pessoa a quem o menor tiver sido
confiado.
1. Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 22.º, a medida
é obrigatoriamente revista findo o prazo fixado no acordo 5. Em caso de confiança a instituição ou família de acolhimento,
ou na decisão judicial, e, em qualquer caso, decorridos o curador provisório é, de preferência, quem tenha um
períodos nunca superiores a três meses nos casos de contacto mais direto com a criança ou jovem, devendo, a
aplicação de uma medida de colocação e de seis meses nos requerimento da entidade legalmente autorizada a intervir
casos de aplicação de medida a executar no meio natural em matéria da adoção, a curadoria provisória ser transferida
de vida. para o candidato adotante, logo que selecionado.
2. A revisão da medida pode ter lugar antes de decorrido o 6. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a aplicação
prazo fixado no acordo ou na decisão judicial, oficiosamente da medida prevista no n.º 1 não dá lugar a visitas por parte
ou a pedido dos pais da criança ou jovem, do representante da família biológica ou adotante.
legal ou da pessoa que tenha a sua guarda de facto, desde
que ocorram factos que a justifiquem. 7. Em casos devidamente fundamentados e em função da
defesa do superior interesse do adotando, podem ser
3. A revisão da medida aplicada tem lugar sempre que o jovem autorizados contactos entre irmãos.
atinja a maioridade ou a emancipação pelo casamento.
Artigo 45.º
4. A decisão de revisão determina a verificação das condições Cessação das medidas
de execução da medida e pode determinar, ainda:
1. As medidas cessam quando:
a) A cessação da medida;
a) Decorra o respetivo prazo de duração ou eventual
b) A substituição da medida por outra mais adequada; prorrogação;
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b) A decisão de revisão lhes ponha termo; entidades com competência em matéria de infância e
juventude, às entidades policiais, aos serviços de proteção
c) Seja decretada a adoção, nos termos previstos no artigo das crianças e jovens ou às autoridades judiciárias.
anterior;
2. A comunicação é obrigatória para qualquer pessoa que
d) Seja proferida decisão em processo cível que assegure tenha conhecimento de situações que ponham em risco a
o afastamento da criança ou jovem da situação de vida, a integridade física ou psíquica ou a liberdade da
perigo; criança ou do jovem.
e) O jovem atinja a maioridade, sem prejuízo de ter 3. Quando as comunicações sejam dirigidas às entidades
solicitado a continuação da medida de promoção e referidas no n.º 1, estas procedem ao estudo sumário da
proteção, nos termos da lei. situação e proporcionam a proteção compatível com as
suas atribuições, dando conhecimento da situação aos
2. Declarada a cessação da medida aplicada, os serviços de serviços de proteção das crianças e jovens sempre que
proteção das crianças e jovens ou o tribunal notificam a entendam que a sua intervenção não é adequada ou
criança ou jovem, os seus pais, o representante legal ou a suficiente.
pessoa que tenha a sua guarda de facto, o advogado ou o
defensor público. Artigo 49.º
Comunicações dos serviços de proteção das crianças e
3. Após a cessação da medida aplicada, a criança ou jovem e jovens ao Ministério Público
a sua família podem continuar a ser apoiados pelos serviços
de proteção das crianças e jovens, nos termos e pelo período Os serviços de proteção das crianças e jovens comunicam ao
que forem acordados. Ministério Público:
CAPÍTULO IV
a) As situações em que não sejam prestados ou sejam retirados
COMUNICAÇÕES
os consentimentos necessários à sua intervenção, a
aplicação da medida ou à sua revisão, em que haja oposição
Artigo 46.º
da criança ou do jovem, ou em que, tendo estes sido
Comunicação de situações de perigo pelas autoridades
prestados, não sejam cumpridos os acordos estabelecidos;
policiais e judiciárias
b) As situações em que não obtenham a disponibilidade dos
1. As autoridades policiais e as autoridades judiciárias
meios necessários para aplicar ou executar a medida que
comunicam aos serviços de proteção das crianças e jovens
considerem adequada, nomeadamente por oposição de um
as situações de crianças e jovens em perigo de que tenham
serviço ou instituição;
conhecimento no exercício das suas funções.
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, as autoridades c) As situações em que não tenha sido proferida decisão
judiciárias adotam as providências tutelares cíveis que decorridos seis meses após o conhecimento da situação
sejam adequadas. da criança ou do jovem em perigo;
1. As comunicações previstas nos artigos anteriores não O Ministério Público arquiva liminarmente, através de despacho
determinam a cessação da intervenção das entidades e fundamentado, as comunicações que receba quando seja
instituições, salvo quando não tiverem sido prestados ou manifesta a sua falta de fundamento ou a desnecessidade da
tiverem sido retirados os consentimentos legalmente intervenção.
exigidos.
Artigo 55.º
2. As comunicações previstas no presente capítulo devem Requerimento de providências tutelares cíveis
indicar as providências tomadas para proteção da criança
ou do jovem e ser acompanhadas de todos os elementos O Ministério Público requer ao tribunal competente as
disponíveis que se mostrem relevantes para apreciação da providências tutelares cíveis que sejam adequadas, sempre
situação, salvaguardada a intimidade da criança ou do que considere necessário, nomeadamente, nas situações
jovem. previstas na alínea g) do artigo 49.º da presente lei.
3. O Ministério Público acompanha a atividade dos serviços 3. Para efeitos do disposto no número anterior, o Ministério
de proteção das crianças e jovens, tendo em vista apreciar Público requisita previamente aos serviços de proteção
a legalidade e a adequação das decisões, a fiscalização da das crianças e jovens o respetivo processo.
sua atividade processual e a promoção dos procedimentos 4. O requerimento para apreciação judicial deve ser
judiciais adequados. apresentado no prazo de 15 dias após o recebimento da
comunicação da decisão dos serviços de proteção das
4. Compete, ainda, de modo especial, ao Ministério Público crianças e jovens pelo Ministério Público e dele é dado
representar as crianças e jovens em perigo, propondo conhecimento aos serviços de proteção das crianças e
ações, requerendo providências tutelares cíveis e usando jovens.
de quaisquer meios judiciais necessários à promoção e
defesa dos seus direitos e à sua proteção. 5. O responsável dos serviços de proteção das crianças e
jovens é ouvido sobre o requerimento do Ministério
Artigo 53.º Público.
Iniciativa do processo judicial de promoção e proteção
CAPÍTULO VI
1. O Ministério Público requer a abertura do processo judicial DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS GERAIS
de promoção dos direitos e de proteção quando:
Artigo 57.º
a) Recebidas as comunicações a que se referem os artigos Disposições comuns
47.º, 48.º, 49.º e 50.º, considere necessária a aplicação
judicial de promoção e proteção; As disposições do presente capítulo aplicam-se aos processos
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de promoção dos direitos e de proteção, adiante designados lugar, se as relações familiares ou as situações de perigo em
processos de promoção e proteção, instaurados nos serviços concreto o justificarem.
de proteção das crianças e jovens ou nos tribunais.
Artigo 61.º
Artigo 58.º Apensação de processos de natureza diversa
Carácter individual e único do processo
1. Quando, relativamente à mesma criança ou jovem, forem
O processo de promoção e proteção é individual, sendo instaurados sucessivamente processos de promoção e
organizado um único processo para cada criança ou jovem. proteção ou relativos a providências tutelares cíveis,
devem os mesmos correr por apenso, sendo competente
Artigo 59.º para deles conhecer o juiz do processo instaurado em
Competência territorial primeiro lugar.
1. São competentes para a aplicação das medidas de promoção 2. Para a observância do disposto no número anterior, o juiz
e proteção os serviços de proteção das crianças e jovens solicita aos serviços de proteção das crianças e jovens
ou o tribunal da área da residência da criança ou do jovem que o informe sobre qualquer processo de promoção e
no momento em que é recebida a comunicação da situação proteção pendente ou que venha a ser instaurado
ou instaurado o processo judicial. posteriormente relativamente à mesma criança ou jovem.
2. Se a residência da criança ou do jovem não for conhecida, 3. A apensação a que se refere o n.º 1 tem lugar independen-
nem for possível determiná-la, são competentes os serviços temente do estado ou fase dos processos.
de proteção das crianças e jovens ou o tribunal do lugar
onde aquele for encontrado. Artigo 62.º
Criança ou jovem arguido em processo penal
3. Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, os
serviços de proteção das crianças e jovens ou o tribunal 1. Quando relativamente a uma mesma criança ou jovem
do lugar onde a criança ou o jovem for encontrado realizam correrem simultaneamente processo de promoção e
as diligências consideradas urgentes e tomam as medidas proteção e processo penal, os serviços de proteção das
necessárias para a sua proteção imediata. crianças e jovens ou o tribunal remetem à autoridade
judiciária competente para o processo penal, cópia da
4. Se, após a aplicação da medida de promoção e proteção, a respetiva decisão, podendo acrescentar as informações
criança ou jovem mudar de residência por período superior sobre a inserção familiar e socioprofissional da criança ou
a três meses, o processo é remetido aos serviços de jovem que considere adequadas.
proteção das crianças e jovens ou ao tribunal da área da
nova residência. 2. Os elementos referidos no número anterior são remetidos,
oficiosamente ou a requerimento, após a notificação à
5. Para efeito do disposto no número anterior, a execução da criança ou jovem do despacho que designa dia para a
medida de promoção e proteção de acolhimento não audiência de julgamento.
determina a alteração de residência da criança ou jovem
acolhido. 3. Quando a criança ou jovem seja preso preventivamente, os
elementos constantes do n.º 1 podem ser remetidos a todo
6. Sem prejuízo do disposto no número anterior, as entidades o tempo, por solicitação desta ou do defensor, ou com o
com competência em matéria de infância e juventude com seu consentimento.
competência territorial na área do município de acolhimento
da criança ou jovem prestam aos serviços de proteção das 4. As autoridades judiciárias competentes para o processo
crianças e jovens que aplicou a medida de promoção e penal podem solicitar aos serviços de proteção das crianças
proteção toda a colaboração necessária ao efetivo e jovens relatório social ou informações adicionais
acompanhamento da medida, que para o efeito lhes seja relevantes para a apreciação e decisão da causa.
solicitada.
5. As autoridades judiciárias participam às entidades referidas
7. Salvo o disposto no n.º 4, são irrelevantes as modificações nos artigos 10.º, 11.º e 12.º as situações de crianças ou
de facto que ocorram posteriormente ao momento da jovens arguidos em processo penal que se encontrem em
instauração do processo. perigo, remetendo-lhes os elementos de que disponham e
que se mostrem relevantes para a apreciação da situação,
Artigo 60.º nos termos do n.º 2 do artigo 51.º.
Apensação de processos
Artigo 63.º
Sem prejuízo das regras de competência territorial, quando a Aproveitamento dos atos anteriores
situação de perigo abranger simultaneamente mais de uma
criança ou jovem, pode ser instaurado um único processo e, Os serviços de proteção das crianças e jovens e os tribunais
tendo sido instaurados processos distintos, pode proceder- devem abster-se de ordenar a repetição de diligências já
se à apensação de todos eles ao que foi instaurado em primeiro efetuadas, nomeadamente relatórios sociais ou exames
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médicos, salvo quando o interesse superior da criança ou realizados por pessoal médico devidamente qualificado,
jovem exija a sua repetição ou esta se torne necessária para sendo garantido à criança ou ao jovem o necessário apoio
assegurar o princípio do contraditório. psicológico.
1. Os pais, o representante legal e as pessoas que tenham a 2. Os funcionários e técnicos dos serviços de proteção das
guarda de facto da criança ou do jovem são obrigatoria- crianças e jovens têm acesso aos processos em que
mente ouvidos sobre a situação que originou a intervenção intervenham, sendo aplicável, nos restantes casos, o
e relativamente à aplicação, revisão ou cessação da medida disposto nos n.ºs 1 e 5.
de promoção e proteção.
3. Os pais, o representante legal e as pessoas que detenham
2. Ressalvam-se do disposto no número anterior as situações a guarda de facto podem consultar o processo
de ausência, mesmo que de facto, por impossibilidade de pessoalmente ou através de defensor público ou
contacto devida a desconhecimento do paradeiro, ou a advogado.
outra causa de impossibilidade, e os de inibição do exercício
do poder paternal. 4. A criança ou o jovem podem consultar o processo através
do seu defensor publico ou advogado ou pessoalmente se
Artigo 66.º o juiz ou responsável dos serviços de proteção das crianças
Informação e assistência e jovens o autorizar, atendendo à sua maturidade,
capacidade de compreensão e natureza dos factos.
1. O processo deve decorrer de forma compreensível para a
criança ou jovem, considerando a idade e o grau de 5. Pode ainda consultar o processo, diretamente ou através
desenvolvimento intelectual e psicológico. de defensor público ou advogado, quem manifeste interesse
legítimo, quando autorizado e nas condições estabelecidas
2. Na audição da criança ou do jovem e no decurso de outros em despacho do responsável dos serviços de proteção
atos processuais ou diligências que o justifiquem, os das crianças e jovens ou do juiz, conforme o caso.
serviços de proteção das crianças e jovens ou o juiz podem 6. Os processos dos serviços de proteção das crianças e
determinar a intervenção ou a assistência de médicos, jovens são destruídos quando o jovem atinja a maioridade
psicólogos ou outros especialistas ou de pessoa da ou, no caso da alínea e) do n.º 1 do artigo 45.º, quando
confiança da criança ou jovem, ou determinar a utilização cesse a medida de promoção e proteção.
dos meios técnicos que lhes pareçam adequados.
7. Quando o processo tenha sido arquivado nos termos da
Artigo 67.º alínea g) do n.º 1 do artigo 17.º, é destruído passados cinco
Exames anos após o arquivamento.
CAPÍTULO VII Sem prejuízo do disposto nos artigos 46.º a 48.º, os serviços de
PROCEDIMENTOS DE URGÊNCIA proteção das crianças e jovens intervêm:
2. O processo dos serviços de proteção das crianças e jovens O processo judicial de promoção dos direitos e proteção das
inclui a recolha de informação, as diligências e exames crianças e jovens em perigo, doravante designado processo
necessários e adequados ao conhecimento da situação, à judicial de promoção e proteção, é de jurisdição voluntária,
fundamentação da decisão, à aplicação da respetiva medida podendo o tribunal investigar livremente os factos, coligir as
e à sua execução. provas, ordenar os inquéritos e recolher as informações que
considere convenientes, não estando sujeito a critérios de
3. O processo é organizado de modo simplificado, nele se legalidade estrita e devendo adotar, em cada caso, a solução
registando por ordem cronológica os atos e diligências que julgue mais conveniente e oportuna.
praticados ou solicitados pelos serviços de proteção das
crianças e jovens que fundamentem a prática dos atos Artigo 81.º
previstos no número anterior. Tribunal competente
4. Os atos praticados por outra entidade a rogo dos serviços 1. Compete ao tribunal de primeira instância da área da
de proteção das crianças e jovens, designadamente ao nível residência da criança ou do jovem a instrução e o julgamento
da instrução de processos ou de acompanhamento de do processo judicial de promoção e proteção.
medidas de promoção e proteção integram a atividade
processual dos serviços de proteção das crianças e jovens, 2. Para efeitos do disposto no número anterior, é competente
sendo registados como atos de colaboração. o juízo de família e menores ou, não havendo, o juízo cível.
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3. Sem prejuízo das regras gerais de distribuição dos fases de instrução, debate judicial, decisão e execução da
processos, na distribuição dos processos judiciais de medida.
promoção e proteção deve ser dada preferência, havendo,
à distribuição a um juiz com formação específica em matéria 2. Recebido o requerimento inicial, o juiz profere despacho de
de infância e juventude. abertura de instrução ou, se considerar que dispõe de todos
os elementos necessários, manda notificar o Ministério
Artigo 82.º Público, a criança ou jovem, os pais, o representante legal,
Processos urgentes e quem detiver a guarda de facto da criança ou do jovem,
seguindo-se os demais termos nele previstos.
Os processos judiciais de promoção e proteção são de natureza
urgente, correndo nas férias judiciais. Artigo 87.º
Regras específicas
Artigo 83.º
Assistência jurídica 1. O processo é tramitado de acordo com as regras previstas
no Código de Processo Civil, estando as audições da
1. Os pais, o representante legal ou quem tiver a guarda de criança ou do jovem sujeitas às seguintes regras:
facto podem, em qualquer fase do processo, constituir
advogado ou requerer a intervenção de defensor público a) Devem ser conduzidas com o mínimo de formalidade
que o represente, a si ou à criança ou ao jovem. possível e em linguagem acessível, considerando a
capacidade de compreensão e a idade da criança ou do
2. É obrigatória a nomeação de patrono à criança ou jovem jovem e o objetivo da intervenção, e ser precedidas da
quando os seus interesses e os dos seus pais, prestação de informação clara sobre o significado e
representante legal ou de quem tenha a guarda de facto alcance da mesma;
sejam conflituantes e ainda quando a criança ou jovem
com a maturidade adequada o solicitar ao tribunal.
b) Com apoio de tradução e/ou interpretação para uma
língua que a criança ou jovem compreenda, a ser
3. A nomeação do patrono é efetuada nos termos da lei que
disponibilizado gratuitamente;
regula o exercício da advocacia ou nos termos do Estatuto
da Defensoria Pública.
c) Com a assistência adequada a crianças e jovens com
deficiência, atendendo às suas necessidades especiais;
4. No debate judicial é obrigatória a constituição de patrono
à criança ou jovem.
d) Com salvaguarda da privacidade da criança ou do
jovem, só podendo assistir as pessoas que o tribunal
Artigo 84.º
expressamente autorizar, com exceção da leitura da
Contraditório
decisão.
1. A criança ou jovem, os seus pais, representante legal ou
quem tiver a guarda de facto têm direito a requerer 2. Para efeitos do disposto no número anterior, o juiz pode:
diligências e oferecer meios de prova.
a) Requerer a intervenção e a assistência de médicos,
2. No debate judicial podem ser apresentadas alegações psicólogos, assistentes sociais ou outros especialistas
escritas e é assegurado o contraditório. ou pessoas de confiança da criança ou jovem;
3. O contraditório quanto aos factos e à medida aplicável é b) Ordenar, ex-ofício ou a requerimento, que o magistrado
sempre assegurado em todas as fases do processo, do Ministério Público, o defensor público, o advogado
designadamente tendo em vista a obtenção do acordo e e os funcionários do tribunal não façam uso do traje
no debate judicial. profissional durante a audição, que as instalações sejam
adaptadas por forma a minimizar o desconforto e receio
Artigo 85.º da criança ou jovem;
Iniciativa processual
c) Determinar que a criança ou o jovem não seja colocado
1. A iniciativa processual cabe ao Ministério Público. em contacto direto com o alegado responsável pela
situação de perigo ou qualquer outra pessoa que a
2. Os pais, o representante legal, as pessoas que tenham a possa intimidar, durante a deslocação, enquanto
guarda de facto e a criança ou jovem com idade superior a aguarda e no decorrer da audição, podendo estar
12 anos podem também requerer a intervenção do tribunal acompanhada por pessoa da sua confiança.
no caso previsto na alínea d) no n.º 1 do artigo 15.º.
3. O juiz pode ouvir a criança ou o jovem, individualmente,
Artigo 86.º com a presença do Ministério Público, quando houver
Fases do processo razões para crer que a presença de outras pessoas possa
afetar a sua espontaneidade, o seu bem-estar e o equilíbrio
1. O processo de promoção e proteção é constituído pelas emocional.
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4. A audição da criança ou do jovem é feita pelo juiz, podendo a) Decide o arquivamento do processo;
o Ministério Público e o advogado ou defensor público
propor a formulação de perguntas adicionais. b) Designa dia para uma conferência com vista à obtenção
de acordo de promoção e proteção; ou
Artigo 88.º
Despacho inicial c) Quando se mostre manifestamente improvável uma
solução negociada, determina o prosseguimento do
1. Declarada aberta a instrução, o juiz designa data para a processo para realização de debate judicial e ordena a
audição obrigatória:
notificação do Ministério Público, da criança ou do
jovem, dos pais, do representante legal e de quem
a) Da criança ou do jovem;
detiver a sua guarda de facto.
b) Dos pais, do representante legal ou da pessoa que
tenha a guarda de facto da criança ou do jovem. 2. Quando a impossibilidade de obtenção de acordo quanto
à medida de promoção e de proteção resultar de
2. No mesmo despacho, o juiz, sempre que o julgar conveniente, comprovada ausência em parte incerta de ambos os
pode designar dia para ouvir os técnicos que conheçam a progenitores, ou de um deles, quando o outro manifeste a
situação da criança ou do jovem a fim de prestarem os sua adesão à medida de promoção e proteção, o juiz pode
esclarecimentos necessários. dispensar a realização do debate judicial.
3. Com a notificação da designação da data referida no n.º 1 3. O disposto no número anterior é aplicável, com as devidas
procede-se também à notificação da criança ou jovem com adaptações, ao representante legal e ao detentor da guarda
idade superior a 12 anos, dos pais, do representante legal, de facto da criança ou do jovem.
de quem detiver a guarda de facto da criança ou do jovem,
para, querendo, requererem a realização de diligências Artigo 92.º
instrutórias ou juntarem meios de prova. Arquivamento
1. O juiz, ouvido o Ministério Público, declara encerrada a 1. Ao acordo de promoção e proteção é aplicável, com as
instrução e: devidas adaptações, o disposto nos artigos 36.º a 38.º.
3. O acordo fica a constar da ata e é subscrito por todos os Para a formação da convicção do tribunal e para a
intervenientes. fundamentação da decisão, sob pena de nulidade, só podem
Artigo 96.º ser consideradas as provas que puderem ter sido contraditadas
Debate judicial durante o debate judicial.
2. O debate judicial não pode ser adiado e inicia-se com a 2. No caso de especial complexidade, o debate judicial pode
produção da prova e audição das pessoas presentes, ser suspenso e designado novo dia para leitura da decisão,
ordenando o juiz as diligências necessárias para que num prazo máximo de três dias.
compareçam os não presentes na data que designar para o
seu prosseguimento. Artigo 103.º
Notificação da decisão
3. A leitura da decisão é pública, mas ao debate judicial só
podem assistir as pessoas que o tribunal expressamente A decisão é notificada ao Ministério Público, à criança ou ao
autorizar. jovem, aos pais, ao representante legal e a quem tiver a guarda
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de facto da criança ou do jovem, contendo informação sobre a b) Instrução do procedimento de promoção e proteção, de
possibilidade, a forma e o prazo de interposição do recurso. acordo com o estabelecido na presente lei.
Artigo 109.º
Artigo 104.º
Regulamentação
Recursos
O Governo aprova a regulamentação necessária à
1. Cabe recurso das decisões que, definitiva ou provisoria- implementação desta lei.
mente, se pronunciem sobre a aplicação, alteração ou
cessação de medidas de promoção e proteção. Artigo 110.º
Entrada em vigor
2. Podem recorrer o Ministério Público, a criança ou o jovem,
os pais, o representante legal e quem tiver a guarda de A presente lei entra em vigor 180 dias após a sua publicação.
facto da criança ou do jovem.
3. O recurso de decisão que tenha aplicado a medida prevista Aprovada em 7 de fevereiro de 2023.
na alínea g) do n. º 1 do artigo 20.º é decidido no prazo
máximo de 30 dias, a contar da data da receção dos autos
O Presidente do Parlamento Nacional,
no tribunal superior.
Artigo 105.º
Processamento e efeito dos recursos Aniceto Longuinhos Guterres Lopes
1. Os recursos são processados e julgados como os agravos
em matéria cível, sendo o prazo de alegações e de resposta
de 10 dias. Promulgada em 21 de fevereiro de 2023.
2. Com exceção do recurso da decisão que aplique a medida
prevista na alínea g) do n.º 1 do artigo 20.º, a qual tem efeito
suspensivo, cabe ao tribunal recorrido fixar o efeito do Publique-se.
recurso.
de 1 de Março
CAPÍTULO X
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS APROVA OS DISTINTIVOS DA PNTL