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SUMÁRIO

CONHECIMENTO E ORGANIZAÇÃO................................................. 3

APRENDIZADO E CONHECIMENTO TÁCITO.......................................8

APRENDIZAGEM EM REDES INTERORGANIZACIONAIS...................15

COMPETÊNCIAS GERENCIAIS E A
APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL.............................................23

GESTÃO DO CONHECIMENTO EM MERCADOS INTERNACIONAIS.....28


CONHECIMENTO E
ORGANIZAÇÃO
O novo horizonte da gestão ocorre através da organização que aprende.

O presente capítulo abordará o conhecimento No Brasil, desde 1924, se percebe uma verda-
e as organizações, pois para se manterem com- deira revolução nas organizações. Esta situação
petitivas as empresas precisam empregar novos vem ao encontro do que estão passando as orga-
conhecimentos na gestão operacional, adminis- nizações no mundo todo com o advento da tec-
trativa e humana. nologia da informação. O ambiente tecnológico
forçou uma nova cultura nas empresas, como, por
No atual contexto do mercado de trabalho a exemplo, o papel da própria instituição bancária,
economia da informação tem seu papel primor- onde antigamente o cliente era obrigado a dirigir-
dial e de grande força para ser gerenciado pelos se a alguma agência bancária para realizar paga-
gestores das organizações. De acordo com Fleury mentos, transferências e outras atividades finan-
et al (2008, p. 51) alguns futuristas prevêem que ceiras; hoje em dia, todo esse processo pode ser
a organização hierarquizada da economia indus- feito diretamente pelo cliente através da internet.
trial ou da “segunda onda” dará lugar às orga-
nizações “planas”, as corporações “vazias”, as A partir de tantas mudanças impostas pelo
empresas “virtuais” ou as comunidades “eletrô- ambiente externo é necessário cada vez mais que
nicas” da “terceira onda”. as organizações utilizem da sua habilidade parti-
cular para usufruir do conhecimento, conseqüen-
A terceirização e a subcontratação cada vez temente simplificando a estrutura interna. Perce-
mais serão as responsáveis nas organizações pelo be-se que na maioria das organizações há uma
processo de enxugamento. Estamos numa era em dificuldade muito grande no gerenciamento do
que a organização formal está deixando espaço conhecimento, do topo para a base assim como
aos mercados que se auto-organizam. Como nos da base para o topo. O que causa o lamento de
Estados Unidos, que tiveram uma trajetória de muitos gestores por não conseguirem aproveitar
fusões envolvendo trilhões de dólares. Vejamos a riqueza de conhecimento que possuem na sua
na figura 1 algumas grandes fusões. própria organização.
Figura 1 – Gigantescas Fusões

Constatamos diante de tantas fusões, incorpora-


ções e concordatas que grandes empresas estão
enfrentando inúmeras dificuldades.

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Gestão do Conhecimento

A gestão do conhecimento deve ser aplicada meio de processos internos, seja por meio de pro-
nas organizações como forma de adquirir resul- cessos externos às empresas. A tabela 1 resume e
tados em termos de desempenho superior. Fleury antecipa, a partir de modelos “ideais e opostos”,
et al (2008, p. 19) conceituam a gestão do co- algumas das mudanças que estão ocorrendo na
nhecimento como a tarefa de identificar, desen- economia e no interior das organizações a partir
volver, disseminar e atualizar o conhecimento es- da gestão do conhecimento. (TERRA, 2005, p.
trategicamente relevante para a empresa, seja por 59).

Tabela 1 – Os princípios da organização baseada no conhecimento

PARADIGMA DA ERA PARADIGMA DA ERA DO


ITEM
INDUSTRIAL CONHECIMENTO
Pessoas Geradores de custos ou recur- Geradores de receitas
sos
Fonte de poder dos geren- Nível hierárquico na organi- Nível de conhecimento
tes zação
Luta de poder Operários versus capitalistas Trabalhadores do conheci-
mento versus gerentes
Principal responsabilidade Supervisionar os subordina- Apoiar os colegas
da gerência dos
Informação Instrumento de controle Ferramenta para comunica-
ção; recurso
Produção Operários processando recur- Trabalhadores do conheci-
sos físicos para criar produtos mento convertendo co-
tangíveis nhecimento em estruturas
intangíveis
Fluxo de informação Através da hierarquia organi- Através de redes colegia-
zacional das
Gargalos na produção Capital financeiro e habilida- Tempo e conhecimento
des humanas
Fluxo de produção Direcionado pelas máquinas; Direcionado pelas idéias,
seqüencial caótico
Efeito tamanho Economia de escala no pro- Economia de escopo das
cesso de produção redes
Relações com os clientes Unidirecional através dos Interativa através de redes
mercados pessoais
Conhecimento Uma ferramenta ou recurso O foco do negócio
entre outros
Conhecimento e Organização

Propósito do aprendizado Aplicação de novas ferramen- Criação de novos ativos


tas
Valores de mercado (de Devidos, em grande parte, Devidos, em grande parte,
ações) aos ativos tangíveis aos ativos intangíveis
Economia Baseada em retornos decres- Baseada em retornos cres-
centes centes e decrescentes

Fonte: Terra, 2005, p. 60

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Gestão do Conhecimento

Tecnologia as coisas, em vez de apenas falar sobre elas no


abstrato. Desde os primórdios no mundo do tra-
Diante da realidade de que a tecnologia está balho, as pessoas têm as mais variadas versões
evoluindo cada vez mais, devemos lembrar que os sobre o mesmo. Para alguns, o trabalho é castigo;
investimentos nesta área também são muito ele- para outros, é um dever social, e, para muitos, é
vados. De acordo com Fleury et al (2008, p. 59), apenas uma fonte de renda para seu sustento e da
é plausivelmente argumentado que as incríveis família.
energias criativas do século dezenove são menos
evidentes na indústria, na ciência ou nas artes do Para a maioria das pessoas, embora o tra-
que nos novos tipos de instituições sociais que balho seja indubitavelmente importante
desenvolveram. As universidades de pesquisa são para a formação de identidade, há, todavia,
referências nas instituições que foram em busca duas razões para questionar se a empresa é
de inovação e conhecimento para serem aplica- a preocupação central. (Fleury et al, p. 67).
dos. No contexto da busca pelo avanço de co-
nhecimento, as Universidades apresentam o seu Os conhecimentos técnicos muitas vezes se
papel de grande relevância, principalmente em chocam com os conhecimentos teóricos. Os fun-
busca do conhecimento científico. cionários das organizações muitas vezes já pos-
suem uma bagagem de conhecimentos de teorias
Há uma relação entre as organizações e as tec- vindas de outras empresas. Esta situação pode
nologias que empregam, sendo que a revolução tornar difícil a idéia de trabalhar num consenso
dos meios de comunicação envolveu as estruturas com as atividades afins.
e os processos internos nas empresas.
Nas organizações, nos casos de contratação,
há necessidade da relação de trabalho do novato
“Embora as tecnologias de comuni- com o veterano. Apesar de trabalharem na mes-
ma comunidade empresarial, podem em determi-
cação tenham dispersado o poder e o nado momento ter conflito de idéias, dependen-
controle em alguns setores, em outros do do grau de conhecimento de cada um.
é clara sua tendência à centralização
e à concentração”. (FLEURY ET AL, É necessário que na estrutura organizacional
2008, p. 60). Podemos exemplificar haja um aproveitamento das fontes de esponta-
através das empresas Wal-Mart, Fe- neidade que os profissionais novatos disponibi-
lizam para o sistema da organização com uma
dEx e Benetton que usam a tecnologia visão compartilhada. Nesse processo é funda-
para centralizar a tomada de decisão mental que os profissionais mais experientes,
e retirar o poder anteriormente des- bem como a alta gestão, saibam entender estas
centralizado. contribuições, filtrá-las e aplicá-las, pois elas
são produtos de grande valor que podem gerar
um diferencial. Em relação a este aspecto, Fleury
(2008, p. 73) diz que o alinhamento de processos,

Conhecimento
com uma troca explícita de conhecimento, possui
apenas valor limitado, a menos que você trabalhe

e o Indivíduo
para alinhar as práticas básicas.

No mercado de trabalho, podemos identificar


que alguns gestores estão empregando as políti-
Conhecimento e Organização

cas da espontaneidade, aceitando as sugestões e a


Há necessidade de uma participação dos funcionários, conforme afirma-
exploração maior entre do pelo gestor Carlos Alberto de Almeida, geren-
o conhecimento e a te geral do Novotel São Paulo Center Norte, que
afirma fazer parte do papel do gestor a contri-
organização. buição para o aprendizado de futuros profissio-
nais e o aproveitamento dos conhecimentos que
eles podem oferecer tanto nas áreas operacionais
Segundo o filósofo Gilbert Ryle, o conheci- como administrativa (HAYES, 2005, p. 44).
mento disponível confere a habilidade de um in-
divíduo responder às situações reais e de fazer

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Intermediação do dade em termos da visão de mundo moldada pela

conhecimento
prática de outras comunidades (FLEURY, 2008,
p.76).

O maior desafio das organizações é interme- Os tradutores não precisam fazer parte da co-
diar o conhecimento que irá alinhar as práticas. munidade, podem ser consultores externos ou
Existem três tipos de intermediações: mediadores, mas devem dominar o conhecimen-
to da comunidade em que estão. Fleury (2008, p.
76) acrescenta ainda sobre o papel dos tradutores:

A mera presença do tradutor pode servir


como catalisador, ao tornar evidente o
grau de desinteligência entre os grupos en-
volvidos, revelando aos participantes que
as idéias estão deixando de fluir não sim-
plesmente em virtude do comportamento
obtuso ou da não-cooperação (acusações
padronizadas), mas porque as visões de
mundo dos participantes são mutuamen-
te ininteligíveis, mesmo com as melhores
das intenções. Desse modo, a interrupção
da comunicação pode ser instrutiva e uma
catálise para romper a barreira.

Neste contexto é preciso também que a comu-


nidade tenha confiança no tradutor e na sua con-
duta da negociação em todas as direções.
Intermediação por Participação
Existe nas organizações sobreposição entre as Intermediação mediante objetos de
comunidades, pois algumas pessoas pertencem a
várias comunidades. Razão pela qual estas pes- fronteira
soas podem intermediar o conhecimento entre
várias comunidades. Os objetos de fronteira são os objetos físicos,
tecnologias, processos administrativos, portões
Esta identidade múltipla faz com que estas de fase ou técnicas compartilhadas entre diferen-
pessoas tenham condições de trabalhar e perce- tes comunidades.
ber os interesses de todos.
É um processo que pode ser considerado um
A grande vantagem da intermediação por par- ajuste implícito, recíproco, considerando que as
ticipação fortalece os canais informais nas comu- comunidades para tal precisam atuar em práticas
nidades ao mesmo tempo em que deve haver um entrosadas. Trata-se de uma negociação, então se
cuidado com os canais secundários, que podem pode dizer que se trata de decisões.
ser os responsáveis pelo vazamento de informa-
ções formais quando às vezes deveriam estar cen-
tralizadas. Quando a negociação informal não é
Conhecimento e Organização

possível a negociação formal é neces-


Ao mesmo tempo as informações informais sária para solucioná-la.
podem construir caminhos produtivos, fortale-
cendo as atividades a serem desenvolvidas nas
organizações. Normalmente quando não existe uma nego-
ciação informal que traga resultados há necessi-
dade de uma negociação formal.
Intermediação por Tradução
Em uma organização, em que os contratos
Tradutores organizacionais são aqueles que raramente exercem seu papel, formulários, me-
podem estruturar os interesses de uma comuni- morandos, declarações de missão bem como os

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Gestão do Conhecimento

planos, programações e outros documentos orga- pois o perfil das organizações mudou em
nizacionais tornam-se objetos de fronteira signi- virtude do advento da tecnologia.
ficativos (FLEURY, 2008, p. 78).
( ) Percebe-se que na maioria das organiza-
Nas organizações há necessidade de se valo- ções há uma dificuldade muito grande no
rizar o conhecimento considerando uma análise gerenciamento do conhecimento, apenas
de hierarquia x mercado, organização x indi- da base para o topo.
víduo e estrutura x espontaneidade. É primor-
dial que os gestores definam claramente o papel ( ) O conhecimento, no paradigma da era do
do conhecimento nas organizações e o papel da conhecimento, se refere a ser visto como
organização no conhecimento. recurso e, não como foco.

Referências
( ) O conhecimento adquirido em outras or-
ganizações, não deve ser aplicado pelos

Comentadas
funcionários em outras organizações, de
forma a não gerar conflito.

FLEURY, Maria Tereza Leme; OLIVEIRA JR., ( ) O maior desafio das organizações é inter-
Moacir de Miranda (org.). Gestão Estratégica mediar o conhecimento que irá alinhar as
do Conhecimento: integrando aprendizagem, práticas através da intermediação por par-
conhecimento e competências. 1 ed. São Paulo: ticipação, por tradução e por objetivos de
Atlas, 2008. fronteiras.

O tema Gestão do Conhecimento emergiu Gabarito: V, F, F, F, V


na última década das discussões fechadas entre

Bibliografia
pesquisadores e profissionais de Planejamento e
Desenvolvimento (P&D) das empresas, para des-
pontar como um dos assuntos mais polemizados
e menos compreendidos. Procurando avançar FLEURY, Maria Tereza Leme; OLIVEIRA JR.,
nessa questão e trazer uma contribuição signi- Moacir de Miranda (org.). Gestão Estratégica
ficativa não só para o mundo acadêmico, mas, do Conhecimento: integrando aprendizagem,
principalmente, para as empresas brasileiras, conhecimento e competências. 1 ed. São Paulo:
esta coletânea foi organizada. Reúne artigos de Atlas, 2008.
pesquisadores internacionais e nacionais sobre
temas como Gestão do Conhecimento, Aprendi- HAYES, David k; NINEMEIER, Jack D. Gestão
zagem Organizacional, Competências Essenciais de Operações Hoteleiras. Tradutores Vivian Fiti-
e apresenta o resultado de estudos realizados em paldi e Beth Honorato. São Paulo: Pearson Pren-
diferentes países. tice Hall, 2005.

Autoestudo
TERRA, José Cláudio Cyrineu. Gestão do Co-
nhecimento: o grande desafio empresarial. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2005.
1. Você foi convidado por uma revista de negó-
cios a escrever uma matéria sobre gestão do
conhecimento nas organizações. Com base
no que foi apresentado neste capítulo, escreva
Conhecimento e Organização

uma página sobre o assunto colocando o seu


parecer.

2. Responda as questões abaixo utilizando as


alternativas “V” para verdadeiro e “F” para
falso.

( ) No atual contexto do mercado de trabalho


a economia da informação tem seu papel
primordial e de grande força para ser ge-
renciado pelos gestores das organizações,

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APRENDIZADO E
CONHECIMENTO TÁCITO
“Apesar de usarmos o termo “criação de conhecimento organizacional”, a orga-
nização não pode criar conhecimento sozinha, sem a iniciativa dos indivíduos e
das interações que acontecem em equipe.”
I. Nonaka & H. Takeuchi
O presente capítulo abordará o aprendizado e
o conhecimento tático, apresentando também a
utilização da criatividade como forma de estimu-
lar a geração de conhecimento.

É essencial o somatório dos principais con-


ceitos e teorias sobre aprendizado, acrescentando
a criatividade individual e o conhecimento hu-
mano, para dizermos que os gestores estão atuan-
do com a gestão do conhecimento.
Segundo Terra apud Tereza Amabile (2005,
p. 67) a criatividade individual depende da con-
Organizações aprendem através de jugação de três elementos:
indivíduos que aprendem. A aprendi-
Expertise (conhecimento técnico ou intelec-
zagem individual não garante a apren- tual específico): que define o campo de explora-
dizagem organizacional, mas sem ela ção intelectual.
nenhuma aprendizagem organizacio-
nal acontece. Habilidades de pensamento criativo: seme-
lhante aos conceitos introduzidos por Guilford.
Nas “organizações que aprendem” as
pessoas expandem continuamente Motivação: emoção dedicada ao tema, desa-
sua capacidade de criar os resultados fio ou problema.
que elas realmente desejam ou manei-
ras novas e expansivas de pensar são Quando tratamos de expertise e habilidades
de pensamento criativo, estamos nos referindo à
encorajadas, onde a aspiração cole-
“matéria-prima” que cada indivíduo possui. O
tiva é livre, e onde as pessoas estão que cada indivíduo realiza podemos dizer que é o
constantemente aprendendo a apren- desafio e a emoção dedicada, então estamos tra-
der coletivamente. tando de motivação. Quando queremos aumentar
o potencial criativo, o nosso foco deve estar vol-
Peter Senge tado para a motivação.

Dentro do princípio da pirâmide das neces-


Há necessidade de compreendermos a mente sidades de Maslow, podemos dizer que a criati-
humana; não podemos esquecer que, nas orga- vidade está ligada ao desenvolvimento de uma
nizações, interagem as mentes e os corações das pessoa, relacionando-a, assim, ao estágio de au-
pessoas. to-realização conforme vemos na Figura 1.

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Gestão do Conhecimento

Figura 1 – Hierarquia das necessidades de Maslow

Fonte: Kotler e Keller, 2006, p. 184

De acordo com Terra apud Peter Senge (2005, No contexto da teoria gerencial de Mitzen-
p. 68), a angústia é como “tensão criativa”: uma berg, um dos primeiros teóricos organizacionais,
força resultante da tendência natural dos indi- o aprendizado individual e a intuição são os as-
víduos em buscar uma solução para as tensões pectos relevantes por ele abordados. Nos seus
encontradas, que surgem em função da discre- estudos, apresentam que a intuição ou o conheci-
pância entre a realidade percebida e a realidade mento implícito tem um papel fundamental para
desejada. a tomada de decisão dos gestores. Segundo as ci-
ências médicas, o cérebro humano apresenta dois
Para as organizações é fundamental que se te- hemisférios distintos.
nha o caminho da tensão criativa para se resolver
os problemas. Este caminho é através da persis- Analisando o hemisfério direito do cérebro,
tência, paciência, compromisso com a verdade encontraremos o processamento simultâneo, ho-
e a utilização de forças do subconsciente. Este lístico e relacional que é utilizado pelos gestores
caminho direciona para o domínio pessoal, o que diariamente nas suas tomadas de decisões. No
torna as pessoas mais preparadas para atingir os hemisfério esquerdo, encontraremos a forma li-
resultados. near, seqüencial e lógica; é considerado por Terra
(2005, p. 72) o lado explicitável, enquanto aquele
No processo de inovação, o conhecimento tá- “mais sombrio”,adquirido pelo lado direito, vem
cito ou inconsciente está associado aos seguintes a ser o implícito.
propósitos:
Conhecimento Tácito

No contexto e tipo de conhecimento devemos


• Solução de problemas; lembrar que conhecimento não é commodity.
Aprendizado e

Transferir conhecimento é uma tarefa difícil, pois


• Identificação de problemas; falamos de situações abstratas e intuitivas. Exis-
tem alguns tipos de conhecimento passíveis de
• Predição e antecipação de problemas. transmissão através de sistemas de informações,
de fórmulas e de processos.

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Gestão do Conhecimento

Vamos averiguar as características dos indi- Quanto às características dos ambientes, estas
víduos, pois quando falamos em transferência podem influenciar no processo de transferência
de conhecimento verificamos que a capacitação do conhecimento. As empresas que têm missões,
individual, a formação pessoal e a atitude são os visões e valores mais “nobres” possuem uma
influenciadores no processo. adaptação melhor. Nas empresas em que o apren-
dizado é fomentado de forma coletiva, onde há
A capacidade de articulação escrita e falada investimento para mecanismos informais para a
possui papel relevante dentro das características troca de idéias, os conflitos oriundos dos símbo-
dos indivíduos, pois as mensagens, escritas ou los de status são menos freqüentes.
faladas são aceitas e absorvidas por outros.
O conhecimento no atual contexto está cada
vez mais diluído entre as pessoas que fazem par-
Pessoas com melhor formação, perso- te da equipe de trabalho, pois as fontes de infor-
nalidade flexível e capacidade de ouvir mações, a preparação através de treinamentos e
e articular bem suas questões tem me- busca e conhecimentos são muito mais assíduos.
lhor possibilidade de absorver e incor-
Para um melhor processo de transferência de
porar novos conhecimentos.
conhecimento há a necessidade de investimentos
em estruturas humanas e tecnologia.

Figura 2 – Processo de Transferência de Conhecimento

Conhecimento Tácito
Aprendizado e

Fonte: Terra (2008, p. 77)


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Gestão do Conhecimento

O conhecimento é baseado através de proces-


sos de conversão e memorização de forma implí- mento”, ou seja, desenvolveriam um conhe-
cita e explícita. cimento operacional. Os autores identificam
este processo com os conceitos das learning
Uma das bases para o processamento é organizations.
o comprometimento pessoal envolvendo o indi-
víduo até o grupo, a organização e o ambiente. Figura 3 – Modos de Conversão do
Vejamos abaixo os modelos de conversão de co- conhecimento
nhecimento conforme Terra (2008, p. 82):

1. Socialização: é o processo pelo qual experi-


ências são compartilhadas e o conhecimento
tácito ou modelos mentais e habilidades téc-
nicas são criadas. Na prática da vida das em-
presas, ocorreria com atividades como treina-
mento no local de trabalho, sessões informais
e brainstorms, interações com os clientes etc.
Na tradição da literatura ocidental, esse con-
ceito seria próximo ao da cultura organizacio-
nal.

2. Externalização: este seria o modo de conver-


são mais importante, porque permite a cria- Fonte: Terra apud Nonaka e Takeuchi (2008)
ção de novos e explícitos conceitos. Envolve,
no caso das empresas japonesas, a articulação Na criação do conhecimento organizacional,
do conhecimento tácito ou explicito pelo uso a alta administração tem um papel importante a
freqüente de metáforas, analogias, conceitos, desempenhar, podendo citar as seguintes práticas
hipóteses e modelos. Esta prática seria impor- gerenciais:
tante por facilitar a comunicação dos conheci-
mentos tácitos que, normalmente, são de difí- • Conceitualização de uma visão sobre o
cil verbalização. Nonaka e Takeuchi incluem, tipo de conhecimento que deve ser desen-
em sua obra, vários exemplos de metáforas volvido na empresa;
e analogias utilizadas por empresas japone-
sas em seu processo de inovação, como por • No caso de grandes desafios, uso constan-
exemplo: Automibile Evolution e The Sphere te de metáforas;
(Honda), Aluminum Beer Can (Canon), Hotel
Bread (Matsushita) etc. Este processo, na opi- • Analogias e modelos para direcionar os
nião desses autores, estaria faltando na prática esforços dos funcionários;
e na teoria organizacional ocidental.
• Verbalização de conceitos, até certo ponto
3. Combinação: este seria o processo preferido ambíguos, que permitam o aparecimento
no Ocidente, na medida em que se baseia na de novos significados e maneiras de se
troca de informações explícitas e no paradig- pensar as coisas;
ma da tecnologia de informação. Envolve,
pois, bastante o uso de mídias como docu- • Criação de um constante sentido de urgên-
mentos, reuniões formais, conversas telefô- cia para aumentar a tensão criativa;
nicas e, também, o de redes computadoriza-
das. A educação formal, da mesma maneira, • Estímulo a variada através, por exemplo,
se encaixaria neste tipo de conversão. É neste de freqüentes mudanças da estrutura orga-
ponto do processo de criação de conhecimen- nizacional;
Conhecimento Tácito

to que surgiram os primeiros protótipos e mo-


delos reais. Estímulo ao compartilhamento de informa-
Aprendizado e

ções baseado no apoio ao trabalho de equipes


4. Internalização: este último método seria se- multidisciplinares com alto grau de autonomia.
melhante ao do learning by doing em que os
membros da organização passariam a viven- Segundo Terra (2008, p. 85), a vantagem
ciar o resultado prático do novo “conheci- competitiva das empresas se baseia no capital hu-

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Gestão do Conhecimento

mano ou ainda no conhecimento tácito que seus 1. Visão e estratégia – nesta dimensão apresenta
funcionários possuem. o papel indispensável da alta administração
que define os campos de conhecimento onde
A gestão do conhecimento das organiza- os funcionários deverão focar os seus esforços
ções está na capacidade de aproveitar as fontes e de aprendizagem.
os tipos de conhecimento, podendo assim desen-
volver competências específicas e chegar ao que 2. Cultura Organizacional – a cultura organiza-
a empresa precisa, ou seja, capacidade inovadora. cional deve estar direcionada para a inovação,
experimentos, foco no aprendizado continuo
Utilizando todos os potenciais de conhe- visando os resultados de longo prazo e bus-
cimento existentes na organização pode resultar cando a otimização em todas as áreas.
em:
3. Estrutura Organizacional – As novas estrutu-
ras organizacionais estão baseadas no desen-
volvimento das atividades em equipes multi-
disciplinares com elevado grau de autonomia
nas mais diversas empresas.

4. Políticas de Recursos Humanos – A busca de


novas práticas voltadas a recursos humanos
deve focar conhecimento interno e externo,
envolvendo a preparação através de difusão
e armazenamento de conhecimento. Pode-se
destacar como iniciativas os seguintes aspec-
tos: atrair e manter pessoas com competências
e habilidades, o que se obtém através de um
processo seletivo eficiente e um bom sistema
de desenvolvimento; focar para comporta-
mentos alinhados tanto no aprendizado indi-
vidual como coletivo; optar por remuneração
associada à avaliação de competências indivi-
duais e ao desempenho da equipe.
Na gestão do conhecimento os gestores em-
pregam, para o desenvolvimento de suas ativi- 5. Sistemas de Informação – As mudanças nas
dades, vários planos e dimensões que podem ser tecnologias afetam diretamente os processos
analisados na figura 4. de informação. Mas ainda há necessidade

Figura 4 – Planos de dimensões relacionados à gestão do conhecimento

Conhecimento Tácito
Aprendizado e

Fonte: Torres (2008)

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Gestão do Conhecimento

do contato pessoal e do conhecimento táci- são mais aprofundada do modelo das sete dimen-
to como também um ambiente de confiança, sões da Gestão do Conhecimento e ampliação do
transparência e colaboração para o sucesso conteúdo, com novas análises e atualização de in-
das atividades. dicadores, novos casos, conceitos e ferramentas.
Na ‘era do conhecimento’ é necessário ser mais
6. Mensuração de resultados - Nesta dimensão criativo, participativo, envolvido e determinado.
podemos frisar a importância da avaliação de Apesar de isso ser de conhecimento comum, a
várias dimensões do capital intelectual. implementação desses conceitos é bastante di-
fícil. Este livro discute casos práticos e mostra
7. Aprendizado com o ambiente – É fundamen- caminhos e formas inovadoras e criativas de or-
tal que as empresas realizem um processo de ganização que permitem um fôlego novo às em-
aprendizado com o ambiente, por meio de presas e dão base para o crescimento sustentado.
alianças corporativas e com o relacionamento

Autoestudo
com os clientes.

Em relação aos planos e dimensões da prática


gerencial que relacionamos à gestão do conheci- 1. Em nosso capítulo vimos uma frase de Peter
mento, Terra (2008, p. 88) afirma que: Senge que diz:

Elaborar sobre a lógica, coerência e cará- “Organizações aprendem através de in-


ter sistêmico das proposições associadas divíduos que aprendem. A aprendizagem
a cada um dos planos e dimensões cita- individual não garante a aprendizagem
dos, representaria um exercício infindável. organizacional, mas sem ela nenhuma
Postula-se, entretanto, que existe uma su- aprendizagem organizacional acontece.
perposição na direção das análises “mi-
cro” (indivíduos e grupos), “meso” (or- Nas “organizações que aprendem” as
ganização) e “macro” (ambiente), ou seja: pessoas expandem continuamente sua ca-
que o aprendizado e a criação individual pacidade de criar os resultados que elas
incluem a capacidade de combinar dife- realmente desejam ou maneiras novas e
rentes inputs e perspectivas; que o apren- expansivas de pensar são encorajadas,
dizado organizacional demanda uma visão onde a aspiração coletiva é livre, e onde
sistêmica do ambiente e a confrontação de as pessoas estão constantemente apren-
modelos mentais distintos; e, finalmente, dendo a aprender coletivamente.
que o processo de inovação requer, cres-
centemente, a combinação de diferentes Comente esta frase dando exemplos reais do
habilidades, conhecimentos e tecnologias meio organizacional.
de campos distintos do conhecimento e
mesmo de diferentes setores econômi- 2. Responda as questões abaixo utilizando as
cos. alternativas “V” para verdadeiro e “F” para
falso.
E, acima de qualquer dimensão, deve
prevalecer o capital humano, formado pelos valo- ( ) A criatividade individual depende da con-
res e normas individuais e organizacionais, adi- jugação do conhecimento técnico ou inte-
cionado pelas competências, habilidades e atitu- lectual específico, habilidades de pensa-
des (CHA) de cada funcionário, como propulsor mento criativo e inovação.
da geração do conhecimento.
( ) No contexto e tipo de conhecimento, de-

Referências
vemos lembrar que conhecimento é com-
modity.

Comentadas
Conhecimento Tácito

( ) No contexto e tipo de conhecimento pode-


mos dizer que o mesmo é composto ape-
Aprendizado e

TERRA, José Cláudio Cyrineu. Gestão do Co- nas pelos processos, infra-estrutura e ca-
nhecimento: o grande desafio empresarial. Rio racterísticas do ambiente.
de Janeiro: Elsevier, 2005.
( ) O modelo de conversão do conhecimento
‘Gestão do Conhecimento’, com uma discus- é composto pela socialização, externaliza-

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Gestão do Conhecimento

ção, combinação e internalização.

( ) Na criação do conhecimento organizacio-


nal a alta administração tem um papel im-
portante a desempenhar, pois eles devem
aumentar a tensão criativa dos indivíduos.

Gabarito: F, F, F, V, V

Bibliografia
FLEURY, Maria Tereza Leme; OLIVEIRA JR.,
Moacir de Miranda (org.). Gestão Estratégica
do Conhecimento: integrando aprendizagem,
conhecimento e competências. 1 ed. São Paulo:
Atlas, 2008.

KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Admi-


nistração de Marketing. Tradução Mônica Rosen-
berg, Brasil Ramos Fernandes, Cláudia Freire.
12. Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

TERRA, José Cláudio Cyrineu. Gestão do Co-


nhecimento: o grande desafio empresarial. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2005.

Conhecimento Tácito
Aprendizado e

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APRENDIZAGEM
EM REDES
INTERORGANIZACIONAIS
Construindo o conhecimento entre as organizações.

A constante busca por estratégias inovadoras das bem como a melhora dos procedimentos
fez surgir novas formas de gestão. Uma das for- das competências existentes faz com que ex-
mas encontradas são as redes interorganizacio- periências com outras sejam menos atraentes.
nais, onde empresas compartilham de objetivos Encontrar o equilíbrio adequado torna-se par-
comuns, aprendizado, interação e coordenação. ticularmente difícil pelo fato de que os mes-
O aprendizado em rede é a aprendizagem no mos problemas ocorrem no nível individual,
contexto de grupos ou pares de organizações que organizacional e social. O uso da exploração
estão propensos a cooperarem, segundo Knight em determinadas situações pode não trazer
(2002). O presente capítulo apresenta a teoria retorno esperado, porque o que pode ser bom
sobre o processo de aprendizagem em redes in- em determinado momento histórico pode não
teorganizacionais. ser bom em outro momento, bem como o que
pode ser bom em longo prazo pode não ser

Aprendizagem
apropriado no curto prazo. O aprendizado das
organizações através da experiência divide os
recursos entre exploração e aproveitamento.
A aprendizagem organizacional é considerada A certeza, rapidez, proximidade e clareza no
por Ortenblad (2001, p. 126) como atividade ou retorno são os pilares do aproveitamento, re-
processo de aprendizagem que ocorre nas organi- sultando em retorno mais rápido e preciso do
zações sem nenhum esforço, como algo natural. que a exploração (MARCH, 1991);
Envolve o processamento de informações que pos-
sibilita a inovação de produtos/ serviços e é o meio • Envolvimento de diferentes níveis de
pelo qual as empresas alcançam a renovação estra- aprendizagem do indivíduo, do grupo e da
tégica (CROSSAN, LANE E WHITE, 1999). As organização;
premissas básicas para que o processo da aprendi-
zagem organizacional ocorra se refere a: • Desenvolvimento de um processo que
abrange a intuição (experiências, imagens e
• Criação do ambiente da aprendizagem orga- metáforas), interpretação (linguagem, mapa
nizacional, que envolve uma tensão entre a cognitivo, conversação/diálogo), integração
exploração de novas aprendizagens (explo- (compreensões compartilhadas, ajuste mú-
ration) e a aprendizagem já aprendida (ex- tuo e sistemas interativos) e institucionali-
ploitation). Nos estudos organizacionais, o zação (rotinas, sistemas de diagnósticos, re-
problema de equilibrar exploração e aprovei- gras e procedimentos) do conhecimento e;
tamento está exposto na distinção entre o uso
de uma tecnologia já existente e a invenção • Cognição que afeta a ação e vice-versa.
de uma nova. É observado que a exploração
de novas alternativas reduz a velocidade com Este processo dinâmico da aprendizagem
que as competências existentes são melhora- pode ser visto na figura 1.

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Gestão do Conhecimento

Figura 1- Aprendizagem Organizacional como um processo dinâmico

Fonte: Crossan, Lane e White (1999)

Este processo surgiu como forma das empre- de as empresas deixarem de ficar presas a sua le-
sas deixarem de ficar presa a sua legitimidade, gitimidade, rejeitando assim oportunidades para
rejeitando assim oportunidades para a aprendiza- a aprendizagem. O processo de alimentação do
gem. O processo de alimentação do aprendizado aprendizado vai do nível individual, passando
vai do nível individual, passando pelo grupo até pelo grupo até chegar à organização, onde nes-
chegar à organização, onde neste ponto o apren- te ponto o aprendizado será institucionalizado e
dizado será institucionalizado e dará um impacto promoverá um impacto (retorno) ao aprendizado
(retorno) ao aprendizado individual e do grupo. individual e do grupo. É um processo contínuo.
É um processo continuo.
Outra investigação realizada por Ziets-
Outra investigação realizada por Ziets- ma et AL (2002) procuraram uma compreensão
ma et AL (2002) procuraram uma compreensão melhor do modelo proposto por Crossan, Lane
melhor do modelo proposto por Crossan, Lane e White (CLW). Os autores encontraram que
e White (CLW). Os autores encontraram que enquanto o modelo de CLW incidia na intuição
enquanto o modelo de CLW incidia na intuição no nível do individuo, descrito como uma etapa
no nível do individuo, descrito como uma etapa subconsciente e pré-verbal, as evidências mostra-
subconsciente e pré-verbal as evidências mostra- ram outro processo, o que os autores chamaram
ram outro processo o que os autores chamaram de “Attending (atendimento)”. Este processo de
de “Attending (atendimento)”. Este processo de informações mais ativo é oriundo do ambiente.
informações mais ativa é oriundo do ambiente. Outro ponto apresentado se refere à interpreta-
Outro ponto apresentado se refere à interpreta- ção individual, onde os autores encontraram um
ção individual, onde os autores encontraram processo paralelo, chamado “experimenting (ex-
um processo paralelo, chamado “experimenting perimentação)”. Os indivíduos e os grupos ex-
(experimentação)”. Os indivíduos e os grupos perimentam, e os resultados das suas ações dão
experimentam, e os resultados das suas ações subsídios às suas interpretações cognitivas. O
dão subsídios as suas interpretações cognitivas. resultado de uma experimentação má sucedida
Aprendizagem em Redes

O resultado de uma experimentação má sucedi- pode ser usado para ajustar as interpretações, en-
da pode ser usado para ajustar as interpretações, quanto os resultados de sucesso da experimenta-
Inteorgarnizacionais

enquanto os resultados de sucesso da experi- ção podem auxiliar na intuição dos indivíduos,
mentação podem auxiliar na intuição dos indi- na integração e na institucionalização do apren-
víduos, na integração e na institucionalização dizado. A figura 2 mostra o modelo de CLW
do aprendizado. A figura 2 mostra o modelo de adaptado com as melhorias propostas por Ziets-
CLW adaptado com as melhorias propostas por ma et AL.
Zietsma et AL: Este processo surgiu como forma

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Figura 2- Esquema conceitual aprimorado da alimentação do processo de aprendizagem

Fonte: Zietsman et AL (2002)

As grandes equipes são organizações que et AL (2204) é um conjunto de nós e laços que
aprendem, através dos indivíduos e dos grupos representam a relação, ou falta de relacionamen-
que o compõem. Sua capacidade de criar, e a to entre os nós. Os nós são agentes (indivíduos,
verdadeira aprendizagem “está intimamente rela- unidades de negócios ou organizações). O conte-
cionada com o que significa ser humano” (Sen- údo específico das relações é representado pelos
ge, 1990, p. 22). Dessa forma, as organizações laços pelos quais é limitado pela imaginação do
devem desenvolver cada vez mais os processos pesquisador.
de aprendizagem para se tornarem cada vez mais
competitivas no ambiente mercadológico. As redes de cooperação surgem como uma
necessidade de mercado; Verschoore (2004) afir-

Redes
ma que os consumidores do século XXI exigem
competências além daquelas que uma empresa

Interorganizacionais
isoladamente pode desenvolver. Com esse tra-
balho mútuo as empresas podem ter acesso ao
conhecimento e aprendizado, redução de custos
As organizações modernas estão vivendo um e maior ampliação de escala. Ações que são tra-
período em que a competição e a cooperação balhadas para o benefício de todos e não em prol
configuram as relações econômicas, pois confor- de uma ou outra empresa, como Verchoore apud
me Balestrin e Verschoore (2008, p. 34): Olson (2004) afirma:

A cooperação se desenvolve quando for- Uma característica importante dos objeti-


necedores, companhias e compradores vos buscados através da cooperação é que
unem-se para elevar o valor gerado na ca- eles, assim como os bens públicos, difi-
deia produtiva. A competição por sua vez, cilmente podem ser apropriados por um
ocorre no momento de dividir o bolo. Isto associado de forma exclusiva. “O simples
é, as empresas definem estratégias compe- fato de uma meta ou propósito ser comum
Aprendizagem em Redes

titivas e colaborativas simultaneamente, a um grupo significa que ninguém no gru-


visto que o locus das competências distin- po ficará excluído do proveito ou satisfa-
Inteorgarnizacionais

tivas não está mais na empresa de forma ção proporcionada por sua consecução”
isolada, mas em toda a sua rede de relacio- (Olson, 1999).
namentos.
Os principais atributos das redes que pa-
Para conseguir estabelecer esta cooperação é recem essenciais dentro de uma perspectiva es-
preciso trabalhar em rede, que conforme Brass tratégica são apresentados por Balestrin e Vargas

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apud Marcon & Moinet (2002): altas barreiras que podem proteger os atores inte-
grantes da rede.
a) Fluidez – significa a capacidade de flexibili-
dade e adaptabilidade das redes. As redes se As principais vantagens das redes de coope-
adaptam melhor às novas dimensões do am- ração são de acordo com RIBAULT et al. (1995):
biente. Essa propriedade fundamental per-
mite às redes efetuarem quatro tipos de inter- • Cada uma das empresas de uma rede pode
relações: 1) dentro do espaço – a rede permite aprofundar uma especialização. É em ní-
colocar em relação subconjuntos ou unidades vel do conjunto de rede que se faz a pere-
geograficamente dispersas; 2) dentro do tem- nidade de todo o know how das atividades;
po – a rede assegura a permanência das liga-
ções entre atores; 3) dentro do ponto de vista • As empresas de uma rede podem, desse
social – a rede permite colocar em relação modo, tornar-se o reflexo da atividade eco-
atores em condições diferentes, sem implicar nômica dessa rede. Essa é uma maneira de
na mudança dessa condição; e, 4) dentro do pôr em prática o modelo da cadeia de valor
ponto de vista organizacional – a rede pode de Porter;
tornar-se uma alternativa à forma de organi-
zação burocrática; • As empresas escolhem-se por afinida-
de. Podem constituir uma rede profunda-
b) Finalidade – é a razão de ser política, religio- mente original relativamente às empresas
sa, filosófica, científica, econômica, cultural concorrentes, conferindo a si próprias um
e social das redes. Essa finalidade se encontra grau elevado de exclusividade.
por vezes incorporada dentro dos membros
da rede. No entanto, ela é necessária e orienta • Dentre os vários aspectos apresentados na
habitualmente as escolhas da dimensão ética formação de redes interorganizacionais
dentro da qual evolui a rede e inspira seus pro- um ponto que é salientado pelos diversos
jetos. autores é o aprendizado que ocorre entre
as empresas que fazem parte da rede. Com
c) Capacidade de realizar economias relacionais base nisso vamos analisar a seguir como
- a rede reduz a dispersão de esforços e permi- ocorre o processo de aprendizagem em re-
te um ganho de tempo. A interconexão entre des interorganizacionais.
os atores significa agilidade.

d) Capacidade de aprendizagem - a aprendiza- Aprendizagem


Organizacional
gem não é uma exclusividade das redes, mas
as condições de aprendizagem dentro do con-

em Redes
texto específico das redes são particulares. A
aprendizagem coletiva apresenta a lógica do

Interorganizacionais
ciclo de aprendizagem, ou seja, cada um evo-
lui em função do outro.

Para que redes interorganizacionais possam As redes inteorganizacionais são estruturas


alcançar e sustentar vantagens competitivas, cooperadas que surgem como forma de trabalhar
Ebers & Jarrillo (1998) relacionam os seguintes em conjunto para atingir objetivos individuais de
requisitos: a) elas poderão ser produzidas por cada empresa.
aprendizado mútuo, o que levará a melhor supor-
tar o desenvolvimento de produtos; b) elas pode- Um dos pontos que difere o aprendizado or-
rão ser alcançadas a partir de uma estratégia de ganizacional do aprendizado organizacional en-
coespecialidade pela qual firmas membros tor- tre firmas é o caráter do conhecimento, que não
Aprendizagem em Redes

nam-se lucrativas em novos nichos de produtos e fica restrito ao nível individual, mas que pode ser
mercados; c) elas poderão resultar de um melhor aplicado em outros níveis conforme apresentado
Inteorgarnizacionais

fluxo de informação e melhor coordenação do por Knight (2002).


fluxo de recursos entre os atores da rede; d) elas
poderão originar-se de economia de escala que A figura 3 apresenta que a aprendizagem ini-
pode ser encontrada através de esforços conjun- cia pelo nível individual, passa pela aprendiza-
tos de pesquisa básica e outros esforços de P&D; gem do grupo de indivíduos e pela organização
e, e) elas poderão resultar, também, a partir de até chegar à aprendizagem da rede de empresas,

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apesar de todos os atores aprenderem com todos acelera a taxa de inovação tecnológica; a crença
conforme apresentado na tabela 1. na colaboração potencialmente gera transforma-
ção em todos participantes e a colaboração pro-
Figura 3 – Níveis de aprendizagem priamente torna-se uma dimensão competitiva.
Esta nova lógica de organização, através da cola-
boração, é vista uma estratégia para ter acesso a
novos conhecimentos (aprendizagem), conexão a
uma rede interorganizacional e forma de ingresso
em uma comunidade (POWELL, 1998).

O processo de formação de uma aliança e


a evolução do aprendizado entre as organizações
é apresentado por Iyer (2002) através das fases de
sensibilização e seleção de parceiros, exploração,
expansão e comprometimento da relação.

Fase 1 – Sensibilização e seleção de parcei-


ros: Esta fase inicial reconhece que a parceria é
essencial para ganhar vantagem competitiva. As
Fonte: Knight, 2002 empresas gastam esforço considerável para en-
contrar parceiros compatíveis que possam com-
O aprendizado pela colaboração em redes in- plementar recursos e criação de capacidades
terorganizacionais permite o acesso a pesquisa para explorar novas oportunidades de negócio.
e exploração de tecnologias emergentes, pois a A aprendizagem é iniciada, nesta fase, mas é em
colaboração pode servir como porta de entrada grande medida unilateral; as empresas come-
(elimina barreiras); a cooperação entre firmas çam a aprender as intenções estratégicas, apti-

Tabela 1 – Contexto da aprendizagem


Nível de Individual (I) Grupo (I) Organizacional (O) Diádica (D) Interorganiza-
Aprendizagem cional (I – O)
Individual (I) Individuo Individuo Individuo aprende Individuo Individuo
aprende sozinho aprende dentro dentro de uma aprende dentro aprende
de um grupo organização de uma díade dentro da rede

Grupo (G) Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem de Aprendizagem de Aprendizagem


de grupo é de Grupo Grupo dentro de Grupo dentro de de Grupo
influenciada pelo através da uma organização uma díade dentro da rede
individuo interação intra-
grupo
Organização (O) Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem
Organizacional é organizacional Organizacional Organizacional Organizacional
influenciada pelo é influenciada através da dentro de uma dentro da rede
individuo por um grupo interação intra- díade
organização
Diádica (D) Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem
diádica é diádica é diádica é diádica através diádica dentro
Aprendizagem em Redes

influenciada pelo influenciada por influenciada pela da interação da rede


individuo um grupo organização intra-díade
Inteorgarnizacionais

Rede (R) Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem Aprendizagem


em rede é em rede é em rede é da rede é em Rede
influenciada pelo influenciada por influenciada pela influenciada pela através da
individuo um grupo organização díade interação
intra-rede

Fonte: Knight, 2002


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Gestão do Conhecimento

dões e competências que os potenciais parceiros Outra perspectiva para o processo de


possuem. Além disso, as empresas começam a aprendizagem entre as empresas é apresentada
explorar informação explícita sobre as compe- no modelo de Hjalager (1999) que identifica qua-
tências e os objetivos que os parceiros podem tro tipos:
possuir.
P – aprendizagem: sistema de aprendizagem
Fase 2 – Exploração: Nesta fase, os parceiros profissional;
começam a interagir timidamente e começam a
preparar uma aliança de longo prazo. Aprender T-aprendizado: aprendizado imbricado na
é ainda largamente unilateral e experimental, no tecnologia;
entanto, elementos da aprendizagem mútua co-
meçam a surgir. O parceiro do ambiente interno D-aprendizado: sistemas dualistas de apren-
torna-se uma importante área de exploração, as- dizagem;
sim como os objetivos. A aprendizagem mútua é
iniciada para sanar a lacuna de compatibilidade S-aprendizado: aprendizagem em redes so-
entre os parceiros. ciais ou clãs.

Fases 3 e 4 – Expansão e comprometimento O modelo na tabela 2 é composto por dois eixos,


da relação: Essas duas fases apresentam muitas um horizontal que descreve as condições relaciona-
características comuns. Elas são caracterizadas das com a produção e o eixo vertical que inclui o
por uma elevada interdependência, uma maior mercado e a concorrência. Assim, a figura ilustra
confiança, e aumento de investimento para bene- as atitudes interorganizacionais que são requeridas
fício mútuo. Há também uma maior percepção para determinar a aprendizagem organizacional.
da congruência das metas e cooperativismo. A
aprendizagem unilateral abre caminho para a O eixo horizontal caracteriza a tecnologia e
aprendizagem mútua e recíproca de capacidades, métodos de produção, a esquerda é considerada
o que é particularmente evidente na fase IV. Os “flexibilidade estática” e a direita do eixo “flexi-
esforços dos parceiros são reorientados para o bilidade dinâmica”, indicando diferenças na taxa
desenvolvimento mútuo e aquisição de novos co- de mudança no ambiente, e as correspondentes
nhecimentos para a aliança. respostas de atitudes.

Tabela 2 – Atitudes do aprendizado interorganizacional


Alta
T-Learning D-Learning
Sensibilidade
ao preço Aprendizado imbricado na Sistemas dualistas de
tecnologia aprendizagem

Baixa P-Learning S-Learning


Sensibilidade
ao preço Sistema de Aprendizagem Aprendizagem em redes sociais
Aprendizagem em Redes

Profissional ou clãs
Inteorgarnizacionais

Flexibilidade Estática Flexibilidade Dinâmica

Fonte: Hjalager, 1999

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Gestão do Conhecimento

Em “flexibilidade estática”, a evolução é co- Editora Best Seller, 1990.


nhecida, pelo menos em termos probabilísticos, e
os riscos podem ser calculados. Os decisores têm Nesta obra, Senge mostra de que forma o con-
um conjunto de oportunidades bem determina- ceito de “organização que aprende” é o principal
das, e as regras estão disponíveis continuamente meio de alavancagem nos processos de mudan-
e eficazmente a integrar novos desafios. ça. A partir de entrevistas com praticantes de seu
método, o autor reforça o estímulo ao trabalho
Na situação de “flexibilidade dinâmica”, é ne- em equipe e revela as estratégias adotadas pelas
cessário que as organizações reajam a ambientes grandes empresas para aplicá-las no dia a dia.
em que se obtenha escassez e informações insufi-

Autoestudo
cientes. Os processos de decisão têm que confiar
na aprendizagem intensiva por explorar, apren-
der-por-experimentação e de aprendizagem-por-
fazer. 1. Nenhuma organização trabalha sozinha, há
sempre uma interação com outras organiza-
O eixo vertical consiste na dicotomia de ques- ções. Como funciona o processo de aprendi-
tões de mercado. A extremidade inferior do eixo zagem entre a empresa que você trabalha com
ilustra uma situação de limitação da sensibilida- outra organização?
de aos preços. Organizações poderiam abordar
esta situação, quer através do dispositivo de pro- 2. Responda as questões abaixo utilizando as
teção contra a influência da concorrência ou atra- alternativas “V” para verdadeiro e “F” para
vés de inovação contínua e rápida para mantê-las falso.
em uma posição vantajosa. Ambas as estratégias
possuem o foco na existência e manutenção de ( ) A aprendizagem organizacional é uma
conhecimentos e adaptação à aprendizagem es- atividade ou processo que ocorre nas or-
tratégias. ganizações com muito esforço, como algo
proposto pela alta direção.
Alta sensibilidade aos preços ocorre quando
concorrentes ou consumidores são munidos com ( ) As grandes equipes são organizações que
informações substanciais. Alternativamente, alta aprendem, através dos indivíduos e dos
sensibilidade aos preços também ocorre quando grupos que o compõem.
os produtores possuem acesso fácil a informa-
ções sobre questões operacionais. ( ) Os principais atributos das redes que pare-
cem essenciais dentro de uma perspectiva

Referências
estratégica são fluidez, finalidade, capaci-
dade de realizar economias relacionais e

Comentadas
capacidade de aprendizagem.

( ) Um dos pontos que difere o aprendizado


BALESTRIN, Alsones; VARGAS, Lilia Maria. organizacional do aprendizado organiza-
Evidências Teóricas para a Compreensão das cional entre firmas é o caráter do conheci-
Redes Interorganizacionais. In: ENCONTRO mento, que fica restrito ao nível individual
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Recife. Anais... Recife: Observatório da Realida-
de Organizacional: PROPAD/UFPE: ANPAD, ( ) O processo de aprendizagem em redes so-
2002. 1 CD. ciais é chamado de D-aprendizado.

O relacionamento colaborativo com fornece- Gabarito: F, V, V, F, F


dores, clientes e até mesmo concorrentes é uma
Aprendizagem em Redes

Bibliografia
das estratégias mais eficazes para a competitivi-
dade no atual mundo dos negócios. Calcados em
Inteorgarnizacionais

uma década de pesquisas sobre o tema, Alsones


Balestrin e Jorge Verschoore oferecem nesta obra BALESTRIN, Alsones; VARGAS, Lilia Maria.
uma visão aprofundada dos temas das redes de Evidências Teóricas para a Compreensão das
colaboração e um ferramental prático de gestão. Redes Interorganizacionais. In: ENCONTRO
DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS, 2., 2002,
SENGE, Peter M. A quinta disciplina. São Paulo: Recife. Anais... Recife: Observatório da Realida-

21
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Gestão do Conhecimento

de Organizacional: PROPAD/UFPE: ANPAD, RIBAULT, M.; MARTINET, B. & LEBIDOIS,


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COMPETÊNCIAS GERENCIAIS
E A APRENDIZAGEM
ORGANIZACIONAL
“Empresas devem ser pensadas como um conjunto de competências essenciais, ou
seja, habilidades e tecnologias que permitem a uma empresa oferecer benefícios aos
clientes”.
Hamel & Prahalad

O presente capítulo abordará questões re- cial como relacionalmente, ou seja, nas relações
lacionadas com as competências gerenciais e a com os clientes, fornecedores e empregados.
aprendizagem organizacional. Também será tra-
tado o agir x pensar voltado para o ambiente or- Nos últimos anos o tratamento de requisito da
ganizacional. mudança tem seguido a seguinte configuração:

As organizações têm buscado implantar cada


vez mais projetos de melhoria e algumas vezes Necessidade de adotar estratégias e méto-
apresentam dificuldades para prosseguir confor- dos de mudança, visando melhorar o desem-
me estipulado e até mesmo para engajar a organi- penho da organização, a fim de manter-se /
zação como um todo. Fleury apud Ruas (2008, p. fortalecer-se no mercado.
243) sobre este assunto diz que:

Na tentativa de explicar essas dificulda-


des, têm-se, muitas vezes, detido em fato-
res tais como a inadequação do programa Fixação de objetivos e metas nos quais se
adotado ou da maneira de implementá-lo. expressam novas performances organizacio-
Outras vezes, têm-se buscado as causas nais, grupais e individuais.
em fatores mais específicos à organização,
como a falta de comprometimento da alta
direção ou das gerências médias; outras,
em razões macroeconômicas, como a ins- Iniciativas de formação e treinamento com
tabilidade do mercado ou a falta de “quali-
o meio de criar condições para o desenvolvi-
ficação” da mão-de-obra”.
mento de melhores performances.
E o que se tem percebido no âmbito empre-
sarial, é que cada vez menos se tem atribuído
as dificuldades à falta de competências geren-
ciais adequadas às mudanças. Salientando que as Desenvolvimento de novas competências
competências se referem neste aspecto à sua for- gerenciais, como resultado esperado do
ma dinâmica, ou seja, à competência em forma
treinamento.
de atitude. Os responsáveis pelas organizações
precisam empregar estratégias que implicam em
mudanças na forma de pensar e agir tanto geren- Fonte: Fleury, 2008, p. 243

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Gestão do Conhecimento

Este pode ser considerado um esquema ideal Mudanças


Organizacionais e
apesar de seus resultados não estarem sendo o es-
perado, principalmente na questão de formação

Aspectos Relevantes a
e treinamento, a qual deveria ser a propulsora de
novos padrões de performance ou desempenho.

Competências
O que ocorre é que os programas de formação
e desempenho não focalizam sua relação com a
noção de competência.
Dimensões das Competências
O processo de transformação e efetivação
como forma de competência pode ser proporcio-
nado pelas experiências e vivências exploradas
nos programas de formação e/ou treinamentos.

Nas organizações gera-se uma expectati-


va muito grande para promoção de dirigentes ou
gestores baseada na sua formação e treinamen-
tos, o que muitas vezes pode resultar em surpre-
sas diante do fato de que estes profissionais nem
sempre estão aptos a desempenharem as funções A terminologia competências tem sido em-
dentro das expectativas dos dirigentes das orga- pregada de várias formas no âmbito empresarial
nizações. e acadêmico. Uma das mais abrangentes está
no conceito utilizado por Prahalad e Hammel
Existem dois eixos que são considerados (1990), as chamadas competências essenciais, as
referência para alcançar um autêntico up gap, sen- quais expressam uma dimensão organizacional
do um vinculado à noção de competência geren- de competências. Outra modalidade são as com-
cial, e o outro está voltado para princípios e méto- petências funcionais, que são aplicadas nas áreas
dos da abordagem organizational learning. vitais das empresas, como, por exemplo, compe-

Quadro 2 - Dimensões Organizacionais da Competência

Dimensões organizacio- Noções Abrangência


nais da competência
Essenciais São as competências que Devem estar presentes em
diferenciam a empresa todas as áreas, grupos e
perante concorrentes e pessoas da organização,
clientes e constituem a razão embora em níveis
de sua sobrevivência. diferenciados.
Funcionais São as competências Estão presentes entre os
específicas a cada uma das grupos e pessoas de cada
áreas vitais da empresa área.
e a Aprendizagem Organizacional

(vender, produzir, conceber,


por exemplo).
Individuais São as competências Apesar da dimensão
Competências Gerenciais

individuais e compreendem individual, podem exercer


as competências gerenciais importante influência
no desenvolvimento das
competências dos grupos ou
até mesmo da organização.
É o caso das competências
gerenciais.
Fonte: Fleury, 2008, p. 248.

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Gestão do Conhecimento

tências para vender e competências para produ- Figura 2 – Eixos de Competências


zir. Quando citamos competências individuais,
estamos falando de competências gerenciais, en-
quanto competência na dimensão de grupos trata
do conhecimento da equipe em geral.

De acordo com o Quadro 2 percebemos que as


competências estão relacionadas com a interação.
De um lado as pessoas e seus conhecimentos e ca-
pacidades e, de outro, as organizações com suas
demandas de processos essenciais e relacionais.
As competências aparecem como uma forma de
pensar o papel e a perfomance do trabalho nas
organizações, não se tratando de formação edu-
cacional ou profissional e nem dos conhecimen- Podemos citar como exemplo o caso do sis-
tos adquiridos, pois está voltada à capacidade de tema Toyota, onde se pode constatar que a cria-
mobilizar e aplicar os conhecimentos, sendo isto tividade para novos conhecimentos depende do
uma condição particular que será aplicada con- aproveitamento dos insights silenciosos e, em ge-
forme cada situação especificamente. ral, altamente subjetivos, das intuições e dos pal-
pites dos funcionários individualmente, de tornar
Segundo Fleury apud Boterf (2008, p. 249) tais insights disponíveis para teste e uso pela em-
a cada dia a experiência mostra que até mesmo presa como um todo (FLEURY apud NONAKA,
profissionais que dispõem de amplos e reconhe- 2008, p. 251).
cidos conhecimentos e capacidades, em algumas
circunstâncias especiais de trabalho, não conse- A partir da década de 90 começou a ser difun-
guem mobilizar suas capacitações de maneira dida no Brasil a Aprendizagem Organizacional
adequada e pertinente. (Learning Organization – LO), que se refere ao
aprendizado planejado e administrado, ocorren-
Para que ocorra a competência são ne- do de uma forma rápida, sistemática e alinhada
cessárias algumas ações voltadas aos seguintes aos objetivos da empresa (FLEURY apud GAR-
recursos: VIN ET AL, 2008, p. 252).

• Conhecimento; Os processos de aprendizagem ocorrem de


forma individual ou coletiva, sistematizados ou
• Capacidades cognitivas; não. O quadro abaixo apresenta as práticas orga-
nizacionais que oportunizam aprendizagem.
• Capacidades Relacionais;

• Capacidades Integrativas. Exemplos de Práticas Organizacionais


que Oportunizam Aprendizagem
Adaptado de Fleury, 2008, p.249
• Planejamento e Planejamento Es-
Quando falamos em competências ainda pre- tratégico (De Geus, 1998)
valecem nas organizações os três grandes eixos,
• Solução de Problemas (Garvin,
conforme apresentado na Figura 2:
e a Aprendizagem Organizacional

1993, Kolb, 1997 e Argyris, 1996)

Desenvolvimento • Implantação de uma nova estraté-


gia de gestão, como Qualidade To-
Competências Gerenciais

Organizacional - tal (Senge, 1998)

Competências • Desenvolvimento de um projeto de


novo produto (Nonaka e Takeuchi,
Desde os anos 70 a questão da aprendizagem 1997)
nas organizações é uma preocupação relevante. • Benchmarking (Aprendizagem com
O sucesso das organizações depende da capaci- os outros) (Garvin, 1993)
tação gerencial e do desenvolvimento organiza-
cional. Fleury, 2008, p. 253

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Gestão do Conhecimento

pressuposto simples: o modo pelo qual compre-


Para obter efeito no processo de aprendiza- endemos as coisas hoje pode ser aprimorado
gem há necessidade da apropriação e internaliza- amanhã. Fonte: Silva (2005, p. 75)
ção de conhecimentos e habilidades.

Aprendizado Prático
Ser e agir (competências) devem estar
associados a novos princípios e práti- A rede Benetton foi criada a partir de um
processo de tentativa e erro – experimentando e
cas de gestão.
registrando as operações – a cada etapa do desen-
volvimento da empresa. Por exemplo, Luciano
Benetton não tinha fé na prospecção de mercado

Tipos de Aprendizagem
convencional. Acreditava que aprenderia mais
sobre o mercado abrindo uma loja do que lendo
volumes de estudo.
O processo do aprendizado nas organizações
pode ocorrer de forma teórica e prática. Vejamos A sua filosofia de administração estru-
abaixo o detalhamento de cada um desses apren- turou-se em três princípios claros: “ O que é ver-
dizados. dadeiramente essencial é pouco; é importante
ser criativo; não devemos ter medo de cometer
erros”. Isso é simples, mas muito poderoso.
Aprendizado Teórico
Os processos de aprendizagem pela prá-
O gerente geral de uma das unidades empre- tica, como o que é utilizado na Benetton, come-
sariais de uma grande organização alemã assistia çam com a incorporação de novas informações
a um workshop de três dias sobre reestruturação a um corpo de conhecimentos já existentes. Isso
dos processos de administração. No meio do indica uma relação causal e é em função dela
seminário, disse: “Certo, mudanças suficien- que se tomam e se implementam as decisões de
tes já foram propostas. Agora vamos parar de atribuição dos recursos. Então, os resultados são
falar e voltar a trabalhar” e cancelou o resto do comparados com as expectativas e são revistas as
workshop. causas de alguns desvios. Os novos conhecimen-
tos produzidos por esse processo são utilizados
O que ele queria dizer com trabalhar? para atualizar o corpo de conhecimentos existen-
Queria dizer que tentar compreender como as te.
coisas funcionam não é trabalho? Ou que con-
duzir uma equipe talentosa na direção certa não Mas isso não significa que não há aná-
é trabalho? Ele acredita que a cooperação é algo lise antes da tomada de decisões, ao contrário.
ruim ou que aprender é algo a ser evitado? Talvez Na Benetton, as opiniões são cuidadosamente se-
tenha medo de que os subordinados pensem? paradas da informação e as relações causais são
revistas mediante a análise e a aprendizagem pela
Esse tipo de evento não deveria ser con- prática. Os dois processos são repetitivos e com-
siderado perda de tempo. O trabalho em grupo, plementares. Fonte: Silva (2005, p. 76)
quando bem organizado, permite partilhar dados,
informação, idéias e conhecimentos sobre as me- Há necessidade, em qualquer processo
lhores práticas de administração. As organiza- de tomada de decisões, de encontrar o equilíbrio
e a Aprendizagem Organizacional

ções aprendem quando os grupos de pessoas que entre a teoria e a prática. Existem as pessoas nas
as integram são capazes de aprender em conjunto organizações que pensam em ritmo mais lento e,
– é assim que adquirem suas competências essen- ao mesmo tempo, aquelas que “correm” demais.
Competências Gerenciais

ciais. Precisamos questionar:

Um exemplo particularmente interes- Quando parar?


sante é o da Benetton, uma empresa italiana de
confecção. A história da pequena empresa que Quando pensar?
chega a multinacional se resume na sua recusa
em aceitar o conhecimento estabelecido como a Quando iniciar a ação?
verdade absoluta. Em vez disso, procurou sem-
pre o aprimoramento constante, baseado em um Nas organizações os gestores devem aprender

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Gestão do Conhecimento

com a prática e alimentar os conhecimentos e seu as competências essenciais, funcionais e


processo de tomada de decisões com as apren- individuais.
dizagens percebidas durante o seu trabalho. Há
necessidade de dois processos: o da qualidade ( ) Aprendizagem Organizacional ou Lear-
da informação e o processo de reflexão. Veja na ning Organization refere-se ao aprendiza-
Figura 3 o esquema do circuito contínuo da refle- do contínuo.
xão e prática.
( ) O gestor contemporâneo deve dosar o
Em qualquer contexto não pode haver divisão aprendizado teórico com o prático.
entre a formulação de estratégias e sua imple-
mentação. Salientamos que é de extrema relevân- ( ) Os eixos que envolvem as competências de
cia a dicotomia pensamento/prática, ou seja, há um gestor são atitudes, conhecimentos e
uma conexão do pensamento com o fato de agir. pró-atividade.

A natureza nos dá a inteligência que precisa- Gabarito: F, V, F, V, F


mos para o nosso auto-desenvolvimento. Cabe a

Bibliografia
nós termos o cuidado para administrar o nosso
desenvolvimento. Não podemos esperar por as-
sistencialismo e nem por paternalismo.
ASSUMPÇÃO, Alfredo José. Fraldas Corporati-
vas: desenvolvendo hoje o líder de amanhã. São
Paulo: Saraiva, 2009.
VOCÊ DEVE ADORAR O QUE FAZ!
FLEURY, Maria Tereza Leme; OLIVEIRA JR.,

Referências
Moacir de Miranda (org.). Gestão Estratégica
do Conhecimento: integrando aprendizagem,

Comentadas
conhecimento e competências. 1 ed. São Paulo:
Atlas, 2008.

SILVA, Edison Aurélio da; OLIVEIRA, Jayr Fi- SILVA, Edison Aurélio da; OLIVEIRA, Jayr Fi-
gueiredo de; PRADO, Jonas. Gestão de Negó- gueiredo de; PRADO, Jonas. Gestão de Negó-
cios. São Paulo: Saraiva, 2005. cios. São Paulo: Saraiva, 2005.

Este livro resgata a importância da ação admi-


nistrativa, além de temas relacionados às evolu-
ções administrativas no ambiente organizacional;
a administração no futuro; o planejamento; uma
retrospectiva do pensamento administrativo; o
processo de negociação, entre outros assuntos.

Autoestudo
1. Como o gestor pode desenvolver da melhor
forma possível, com a sua equipe, o ser e agir?
e a Aprendizagem Organizacional

2. Responda as questões abaixo utilizando as


alternativas “V” para verdadeiro e “F” para
Competências Gerenciais

falso.

( ) O processo de transformação e efetivação


como forma de competência não pode ser
proporcionado pelas experiências e vivên-
cias exploradas nos programas de forma-
ção e/ou treinamentos.

( ) As dimensões das competências englobam

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GESTÃO DO
CONHECIMENTO
EM MERCADOS
INTERNACIONAIS
“A criação de vantagens fundamentadas no conhecimento por meio da ex-
pansão sinérgica das bases do conhecimento organizacional além-fronteiras
transformou-se, também, em foco das pesquisas sobre estratégias internacio-
nais e comportamento organizacional”.
Klaus Macharzina, Michael-Jörg Oesterle e Dietmar Brodel

O presente capítulo abordará a gestão do co- íses liberalizados da Europa Central. [...]
nhecimento relacionado a mercados internacio- Segundo, os países em desenvolvimento
nais, apresentando o funcionamento do processo têm tradições e estruturas organizacionais
de aprendizagem em joint ventures e multinacio- diferentes das multinacionais dos países
nais. desenvolvidos. Nos ex-países socialistas,
as empresas estatais controlavam a maio-

Aprendizagem em Joint
ria das atividades econômicas e estavam
sujeitas a planejamento, determinação de

Ventures Internacionais
preço e metas de produção definidos pelo
governo. [...]Terceiro, os países em de-
senvolvimento têm grande oportunidade
A partir de um cenário onde as organizações de desenvolver novas capacitações e de
estão atuando de forma global é necessário cada aprender com os países desenvolvidos e
vez mais entender como funciona o processo da com as empresas multinacionais (e tam-
aprendizagem organizacional em empresas es- bém de ensinar-lhes)”
trangeiras e joint ventures internacionais.
A figura 1 apresenta os aspectos da aquisição
Mas antes de entendermos o processo de de conhecimento que ocorre nas economias de
aprendizagem precisamos compreender como transição.
funciona a economia em desenvolvimento, pois
de acordo com Lyles (in Fleury, 2008, p. 273), Há necessidade de os conhecimentos serem
primeiro: discutidos, pois cada um pode apresentar suas
próprias experiências que levam à aprendizagem
“[...}os países em desenvolvimento in- organizacional mais significativa. A aquisição
cluem as economias em transição, que de conhecimento poderá ser um processo aber-
representam quase metade da população to, para tanto há necessidade de se dar sentido e
mundial, desde que a lista inclua a China, aplicabilidade ao que é aprendido.
a Rússia, o Vietnã e, recentemente, os pa-

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Gestão do Conhecimento

Figura 1 – Aquisição de conhecimento nas economias em transição

Fonte: Lyles (in Fleury, 2008, p. 278)

Não podemos esquecer que no passado foram As empresas locais valorizam as empresas
criadas as rotinas e regras, o que tornou a organi- estrangeiras como reservas de conhecimento téc-
zação num modelo burocrático. A flexibilidade nico e gerencial, além de fontes de investimento
nas organizações permite a inovação. direto (Lyles in Fleury 20098, p. 280 apud Child
e Markoczy, 1993; Hirisch e Szirmai, 1993; Lyles
É fundamental que nas economias em desen- e Baird, 1994).
volvimento, podemos avaliar os processos e es-
truturas que possuem o foco no conhecimento. Os conhecimentos dos funcionários locais
poderão servir de base para os gerentes parcei-
Quando olhamos sob o ponto de vista tradi- ros que juntando as culturas e os conhecimentos
cional, percebemos que a administração tem sido se tornam parceiros envolvidos e inovadores no
a hierarquia na qual se dá ênfase na figura de au- processo.
toridade e formalidade. Na aquisição de conhe-
cimento o papel da administração precisa estar Nas economias em desenvolvimento as mo-
ligado à aquisição de conhecimento, nas redes de dernas tecnologias normalmente vêm das matri-
conhecimento e nos pontos de troca. A adminis- zes estrangeiras, assim como também o capital
tração tem que ser estar interligada com a busca humano pode ser melhor desenvolvido através
de conhecimento. dos investimentos dos países desenvolvidos.

Quando falamos da aquisição de conhecimen- Percebe-se globalmente que a transferência do


em Mercados Internacionais

to nas economias em desenvolvimento podemos conhecimento torna-se uma tarefa árdua, sendo
Gestão do Conhecimento

citar as joint ventures internacionais. As empre- um grande desafio para a formação de joint ven-
sas domésticas vêem os parceiros estrangeiros tures internacionais (JVI). Há necessidade de que
como fonte de conhecimento necessária em re- se tenha confiança e compartilhamento de conhe-
lação a tecnologia, processos de tomada de de- cimento para o sucesso das organizações quando
cisão, marketing, suporte global e know how ge- se trata de aquisições estrangeiras. Considerando a
rencial (Lyles in Fleury 20098, p. 280 apud Lyles importância da aprendizagem de matrizes estran-
e Salk, 1996; Pearce e Branyiczki, 1997; Yan e geiras podemos mencionar as afirmações de Lyles
Gray, 1994). (in Fleury, 2008 apud Lyles e Salk 1996):

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Gestão do Conhecimento

Em estudo isolado sobre esse tipo de


aprendizagem, foram encontradas metas novo conhecimento sobre essa tecnologia. Quan-
articuladas para a JVI em relação à pro- to mais familiar for o assunto, mais fácil será a
visão de treinamento, tecnologia e assis- aceitação sobre novo conhecimento ou tecnolo-
tência gerencial pelas matrizes estrangei- gia.
ras por estarem associadas à aquisição de

Aprendizagem em
conhecimento. O processo de aquisição de
conhecimento da matriz estrangeira está

multinacionais
positivamente relacionado ao desempenho
da JVI.

A facilitação da aprendizagem é identifica- A contar do período da Segunda Guerra Mun-


da através de quatro processos (Lyles in Fleury, dial há uma revolução significativa das operações
2008 apud Inkpen, 1997): internacionais.

Negociação além-fronteiras faz parte


do mundo dos negócios

Fazer negociações com empresas estrangei-


ras exige a ambientação das culturas negociais
dos países envolvidos. Existem diferentes tipos
de clientes, empregados, fornecedores, sistemas
governamentais que influenciam direta e indire-
tamente nas negociações.

Fazer negócios nos mais variados países ofe-


rece oportunidades para a ampliação de nego-
ciação, mas exige um processo de aprendizagem
muito diferenciado do que quando a empresa se
limita às negociações no âmbito nacional. As
organizações que operam em contextos multina-
cionais devem aprender com especialistas na área
para assim poderem enfrentar as características
típicas dos processos de negociações internacio-
nais.

Quando falamos em gestão devemos lembrar a


diversidade e da complexidade de gerenciar uma
organização qualitativamente diferente e com os
mais variados tipos de negócios. Distâncias geo-
Neste processo percebe-se uma falha, pois o gráficas representam distâncias culturais, sendo
estudo limita-se à aprendizagem desenvolvida assim a necessidade da busca do conhecimento
pela matriz estrangeira e não desenvolve o rela- para resultá-las em operações internacionais com
cionamento entre a aprendizagem e o desempe- resultados satisfatórios.
nho da joint venture internacional.
em Mercados Internacionais

As informações relacionadas com posturas


Gestão do Conhecimento

No processo do conhecimento cada organiza- comportamentais voltadas para as organizações


ção possui a habilidade de aprender com outras da empresa em muitos momentos direcionam
organizações, o que se denomina capacidade de para uma reestruturação. Questiona-se como a
absorção do conhecimento. Algumas empresas internacionalidade pode melhorar os conheci-
possuem maior facilidade de absorção de conhe- mentos existentes para que se tenha uma gestão
cimento do que outras, o que é uma habilidade única.
desenvolvida por uma determinada organiza-
ção que conhece uma tecnologia específica, por Muitas questões estão interligadas, mas para
exemplo, desta forma fica mais fácil adquirir cada situação diferenciada há necessidade de

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Gestão do Conhecimento

competências específicas que, em seu conjunto, A transferência interna de conhecimento nor-


enriquecem o mercado. malmente está acompanhada de investimentos ex-
ternos e necessita de uma transmissão de conhe-
Salientamos que a transferência internacional cimentos. O conhecimento pode ser transferido
de conhecimento não está vinculada somente à nas organizações sendo aplicado uniformemente
gestão, mas também à dimensão operacional, ra- e adaptada aos contextos culturais. Convém lem-
zão pela qual há necessidade de conhecimento brar que estes conhecimentos deverão ser aplica-
técnico e teórico para a transferência de conheci- dos de forma a se obter produtividade.
mentos cabíveis a cada processo.
Quando analisamos sob os aspectos sociais
O aprendizado organizacional e o conheci- voltados para o conhecimento, podemos dizer
mento são considerados facilitadores nos proces- que as convenções estruturais que interpretam o
sos da internacionalização. As empresas quando comportamento humano são baseadas em nor-
pretendem fazer operações no exterior precisam mas, esquemas interpretativos e definições atra-
primeiramente ir em busca de informações que vés de poder.
começam pela cultura, língua e economia das na-
ções pretendidas. De acordo com Caves, 1971, p. Há necessidade de adaptações de regras ins-
4 (in Tanure e Duarte, 2006, p. 115): titucionais de acordo com as fronteiras culturais.
em Mercados Internacionais

Regras institucionais do tipo técnicas e gestão ou


Gestão do Conhecimento

“Qualquer vantagem inerente a conheci- rotinas organizacionais podem ser vistas como
mento, informação ou técnica que produza práticas sociais que incorporam convenções es-
retorno positivo aos custos diretos no mer- truturacionais sobre como organizar, trabalhar ou
cado onde essa vantagem seja inicialmente gerenciar pessoas (TANURE E DUARTE, 2006,
comprovada pode, potencialmente, produ- p. 118).
zir o mesmo retorno em outros mercados
sem que haja necessidade da empresa in- Normalmente há êxito no procedimento orga-
correr novamente nos custos irrecuperá- nizacional de transferência de práticas gerenciais
veis a sua descoberta inicial.” de uma empresa para outra. No contexto multina-

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Gestão do Conhecimento

cional, o desempenho dos negócios depende das e suas decisões são tomadas pela voz da experi-
práticas gerenciais compatíveis com a realidade ência.
da organização.
Quando do início de uma exportação, para
Através de pesquisa podemos afirmar que as reduzir a incerteza há necessidade de testar o
atividades das empresas japonesas transferidas mercado antes de qualquer investimento de alto
para os Estados Unidos e Europa resultaram em risco. Segundo um grupo de acadêmicos suecos
múltiplos híbridos no sistema de gestão adaptado da Universidade de Uppsala, a internacionaliza-
neste contexto. ção das operações em negócios é considerada um
processo experiencial. Convém sempre se fazer

Teoria Comportamental
uma seqüência de experimentações antes da de-
finição da negociação em grande volume.

no Contexto Quando lidamos com os diferentes mer-

Internacional
cados estrangeiros há necessidade de constante
aprendizado, pois as mudanças ocorrem de for-
ma súbita, o que exige do gestor um acompanha-
Nas teorias comportamentais o conceito pri- mento desta evolução.
mordial é a aprendizagem. O processamento de

Referências
informações desenvolvido com eficácia conduz à
evolução do conhecimento.

Há necessidade de se ter a exclusão de infor- Comentadas


mações ultrapassadas para uma reciclagem de
conhecimentos e atualização nas organizações. TANURE, Betânia; DUARTE, Roberto Gonza-
Lembramos que as teorias comportamentais en- lez (Org.) Gestão Internacional. São Paulo: Sa-
focam as características individuais e interpesso- raiva, 2006.
ais, pois as organizações estão sempre em busca
de soluções de problemas coletivos e individuais. Neste livro, os aspectos do intricado processo
de globalização são abordados por pensadores
Os gestores nas organizações desenvolvem as de escolas norte-americanas, européias e brasi-
suas atividades com constante tomada de deci- leiras, como Havard, Insead, London Business
são, quando tratamos de processos internacionais School, Stuttgart Institute of Management and
as informações precisas são fundamentais para o Technology, Universidade de Bremen, Universi-
atingimento dos objetivos. dade de Hohenheim, USP, Coppead/UFRJ, PUC-
MG, FGV e Fundação Dom Cabral. Os assuntos
Quando tratamos de processos de internacio- analisados vão desde as estratégias utilizadas
nalização, devemos lembrar que estamos tratan- pelas empresas em seus processos de expansão
do de argumentos econômicos, sociais e cultu- para o exterior até o papel dos recursos huma-
rais. Nas organizações multinacionais os gerentes nos na conquista do ambiente global, passando
costumam evitar riscos ao invés de enfrentá-los, ainda pela relação entre matriz e subsidiária e
entre diversidade cultural e gestão internacional.
Há, ainda, um estudo conduzido por pesquisado-
res da Fundação Dom Cabral sobre o processo
de internacionalização de empresas brasileiras,
de grande valia para os executivos que planejam
esse destino.
em Mercados Internacionais
Gestão do Conhecimento

Autoestudo
1. Pesquise um artigo ou case de uma multi-
nacional e analise quais os critérios que esta
empresa adotou relacionado com os aspectos
econômicos, sociais e culturais no seu novo
contexto internacional.
Fonte: Tanure e Duarte, 2006.

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2. Responda as questões abaixo utilizando as


alternativas “V” para verdadeiro e “F” para
falso.

( ) O processo de aprendizagem em joint ven-


tures é um processo aberto, para tanto há
necessidade de se dar sentido e aplicabili-
dade ao que é aprendido.

( ) Capacidade de absorção do conhecimento


ocorre quando uma empresa possui a ha-
bilidade de aprender com outras organiza-
ções.

( ) Um dos aprendizados iniciais em empre-


sas multinacionais começa com a ambien-
tação das culturas negociais dos países en-
volvidos.

( ) A transferência internacional de conheci-


mento está vinculada somente à gestão.

( ) Os gestores nas organizações desenvolvem


as suas atividades com constante tomada
de decisão, para isso precisam de informa-
ções precisas quando se trata de processos
internacionais.

Gabarito: V, V, V, F, V

Bibliografia
FLEURY, Maria Tereza Leme; OLIVEIRA JR.,
Moacir de Miranda (org.). Gestão Estratégica
do Conhecimento: integrando aprendizagem,
conhecimento e competências. 1 ed. São Paulo:
Atlas, 2008.

TANURE, Betânia; DUARTE, Roberto Gonza-


lez (Org.) Gestão Internacional. São Paulo: Sa-
raiva, 2006.
em Mercados Internacionais
Gestão do Conhecimento

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