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DOSSIÊ SAÚDE RECIFE/ PROPOSTAS DE MELHORIAS

O Saúde Recife vive a maior crise de sua história. À deriva, seus/suas usuários(as),
servidores(as) da Prefeitura do Recife, enfrentam dificuldades sem que providências reais
com relação aos graves problemas enfrentados sejam solucionadas: despesas maiores
que a receita; congelamento da contribuição do governo Municipal; e os abaixo
elencados. Em vista desse quadro, o Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da
Rede Oficial do Recife - Simpere decidiu elaborar o Dossiê Saúde Recife identificando os
problemas, suas repercussões e propondo soluções, a partir da escuta dos(as)
usuários(as). O documento está dividido em três seções: (A) Aporte de recursos; (B)
Deficiências na prestação de serviços; e (C) Inadequação do novo sistema.

A) APORTE DE RECURSOS

Os recursos que mantêm o Saúde Recife, provenientes de duas fontes – Prefeitura


da Cidade do Recife (PCR) e servidores(as) da PCR que fazem adesão a Assistência de
saúde ao servidor, por meio de desconto de taxa mensal – encontram-se hoje em claro
desequilíbrio, caracterizando-se o desinvestimento da PCR e a oneração dos(das)
servidores(as).

1.Quanto às novas adesões


Muito embora haja negativa para ingresso no plano Saúde Recife, o servidor tem
direito líquido de aderir ao Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Município
do Recife, quando foi promulgada a Lei Municipal n. 17.082/2005, instituindo tal sistema.
Conforme se depreende da leitura dos dispositivos legais, é direito do servidor público
municipal ser beneficiário:

Art. 1º Esta Lei trata da instituição de sistema de saúde destinado aos servidores do
Município do Recife da Administração Direta e Indireta.
Art. 3º Podem ser beneficiários do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do
Município do Recife - SAÚDE-RECIFE, os servidores do Município do Recife, da
Administração Direta e Indireta, na condição de titulares, bem como os seus dependentes
econômicos e os dependentes suplementares.
Art. 4º São beneficiários titulares:
I - os seguintes agentes públicos municipais da Administração Direta, Autárquica e
Fundacional e da Câmara Municipal do Recife:
a) titulares de cargo efetivo, ativos ou aposentados (inativos);
b) titulares exclusivamente de cargo em comissão; e
c) contratados por tempo determinado na forma prevista no inciso IX do art. 63 da
LOMR, durante a vigência do contrato.
II - os pensionistas dos servidores públicos municipais, titulares de cargo efetivo, da
Administração Direta, Autárquica e Fundacional;
III - os empregados e aposentados das empresas públicas e sociedades de economia
mista municipais, na forma de Regulamento contido em Decreto do Poder Executivo
Municipal; (Redação dada pela Lei nº 17.527/2009)
IV - os pensionistas dos empregados das empresas públicas e sociedades de
economia mista municipais inscritos no sistema, na forma desta Lei.

Proposição: Liberar novas adesões ao Saúde Recife. Fica, então, patente que é direito
de titular de cargo efetivo, como a parte autora, de ser beneficiária do Sistema de Saúde
instituído por lei e destinado aos servidores do Município do Recife da Administração
Direta e Indireta. Portanto, negativa de adesão de servidor ao sistema constitui ofensa
direta à Lei Municipal n. 17.082/2005.
Ressalte-se, ademais, que eventual desequilíbrio interno do sistema não pode
servir de óbice ao exercício do direito de adesão dos agentes públicos. Trata-se tal
pretexto de argumento extrajurídico, o qual deve ser resolvido tão somente pela
Administração, através de mudanças econômicas, como a alteração do montante da
contribuição.

Outrossim, denegar a entrada de novos servidores no sistema constitui infringência


direta ao Princípio da Isonomia, insculpido no caput do art. 5º da Constituição Federal,
uma vez que implicaria a existência de duas categorias de servidores públicos no
Município de Recife, aqueles que conseguiram aderir ao sistema e estão acobertados e
os demais, os quais, por terem entrado no serviço público posteriormente, não podem ser
beneficiários, por razões puramente econômicas

2.Duplo desconto para servidores/as com duas matrículas

A cobrança do Saúde Recife encontra-se regida pelo art. 11, §3º, da Lei Municipal
nº 17.082/2005, que determina a incidência do aludido recolhimento sobre as
remunerações do servidor que possui mais de um vínculo com o serviço público
municipal. Dispõe a indigitada norma:
Art. 11. O SAÚDE-RECIFE será custeado pelas seguintes fontes de receita:(…)
§ 3º O servidor detentor de mais de um vínculo com o serviço público Municipal, o
aposentado, bem como no caso de pensionista titular de mais de uma pensão, a
contribuição será descontada em cada uma das respectivas remunerações, respeitado o
limite previsto no § 6º deste artigo.
Tal “contribuição” dupla, não possui natureza tributária, sendo ilegítima em sua
duplicidade. Referida “contribuição” ao SAÚDE-RECIFE, sendo mero preço público, deve
submeter-se ao Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade, bem como ao Princípio
da Igualdade, insculpido no caput do art. 5º da Constituição Federal.
Explique-se.
Sendo a “contribuição” ao SAÚDE-RECIFE mero preço público referente a serviço
de utilização voluntária, a ser pago pela contraprestação de cobertura ao servidor por um
sistema de saúde, não deve se submeter a princípios típicos de Direito Tributário das
contribuições sociais, como o da Solidariedade.

O Princípio da Solidariedade é a denominação deste elo social participativo em prol


dos direitos, tendo fundamento constitucional expresso no inciso I, do art. 3º, da
Constituição Federal, que estabelece como objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária. Também está de
acordo com o disposto no inciso III, do mesmo artigo, que trata da meta de erradicação da
pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais. Portanto, em Direito Tributário,
tal princípio está umbilicalmente ligado ao dever fundamental de pagar tributo, um dos
pouquíssimos deveres fundamentais do cidadão no Estado Liberal, ao lado dos de prestar
o serviço militar, compor o júri e servir à justiça eleitoral.
Assim, em face da facultatividade na adesão ao SAÚDE-RECIFE, o qual possui
caráter fundamentalmente de contraprestação, não há que se falar em Princípio da
Solidariedade aqui. Destarte, como a contribuição ao SAÚDE-RECIFE não é contribuição
social em sua natureza, mas mero preço a ser pago, voluntariamente, pela
contraprestação de ser o servidor acobertado por um sistema de saúde, não deve incidir
no caso o Princípio da Solidariedade.
Considerar-se legítima a dupla cobrança feriria de morte os Princípios da Igualdade
e da Razoabilidade e Proporcionalidade, insculpidos no art. 5º, caput, e inciso LIV, da
Constituição Federal. Veja-se um exemplo que ilustra tal assertiva, levando-se em conta,
mais uma vez, que a “contribuição” ao SAÚDE-RECIFE não é tributo.
Um professor que tenha um vínculo com o Município e receba R$ 1.000,00 de
remuneração, contribuirá com R$ 45,00 e terá em troca a cobertura do serviço. Outro
professor, que tenha dois vínculos e trabalhe o dobro de horas, recebendo o mesmo R$
1.000,00 por vínculo, contribuirá com R$ 90,00, recebendo a mesma cobertura do outro
professor. Ou seja, o que paga R$ 90,00 não receberá mais cobertura do que o que
contribui com R$ 45,00. Claramente, duas pessoas iguais

Proposição: Descontar o Saúde Recife com referência no CPF.

3.Regime de coparticipação
Com esse regime, o/a usuário/a paga, além do valor mensal do plano ou da assistência,
uma taxa cada vez que utiliza os serviços prestados (consultas médicas, exames e
hospitalização). Em razão da inexistência de informações sobre o emprego dessa taxa e
de não se observar nenhuma melhoria dos serviços do Saúde Recife, propomos a
extinção da coparticipação.

Proposição: Reavaliar o regime de coparticipação.

B) DEFICIÊNCIAS NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

As inúmeras deficiências nos/dos serviços prestados pelo Saúde Recife formam um


círculo vicioso de causa e efeito a lembrar uma ciranda, cuja causa primeira de todos os
males da Assistência de saúde ao servidor, inequivocamente, remete ao desinvestimento
da PCR, em acordo com a política neoliberal que rege a atual gestão municipal.
1. Limitação do número de consultas mensais
O quantitativo de duas consultas mensais comprova-se inviável por diversas razões, a
exemplo da não aprovação de exames em tempo hábil à sua apresentação na consulta
da volta a que têm direito os(as) pacientes, concorrendo para agravar a situação de
adoecimento que acomete a categoria.

Proposição: Liberar o número de consultas mensais, de acordo com a necessidade dos


usuários.

2. Descredenciamento de médicos(as)as, laboratórios, clínicas e hospitais


A falta de pagamento a médicos(as)as, laboratórios, clínicas e hospitais conveniados(as),
notadamente na Região Metropolitana do Recife e, em especial, no Recife, implica
constantes constrangimentos aos(às) usuários(as) do Saúde Recife, que têm seu
tratamento de saúde interrompido e/ou suspenso, ocorrendo até perda de vidas. Pela
gravidade do problema, reivindicamos urgentemente sua solução.

Proposição: Atualizar e negociar o pagamento da rede credenciada, substituir de forma


imediata ex-conveniados(as)as, aumentar a rede credenciada especialmente no Recife.

3. Número reduzido de laboratórios


A redução do número de laboratórios de exames clínicos, de imagens e de alta
complexidade concorre para a demora e/ou não realização desses exames,
comprometendo prazos e, portanto, tratamentos de saúde.

Proposição: Ampliar o número de laboratórios na Região metropolitana especialmente


em Recife

4. Demora para autorização de exames de média e alta complexidade


O prazo para autorização de exames de maior complexidade, obrigatória, de acordo com
a Lei, tem se estendido e, em muitos casos, tem levado os(as) usuários(as) a perderem
sua consulta de volta, tendo que realizar novo agendamento, comprometendo suas duas
consultas mensais, causando piora no quadro de Saúde.

Proposição: Acelerar os processos de autorizações desses exames.

5. Insuficiência de médicos(as) especialistas


O descredenciamento de médicos(as) tem maior incidência dentre os(as) especialistas e,
consequentemente, ocorre um maior tempo de espera (de até dois ou três meses) para
agendamento de consultas de usuários(as).

Proposição: Promover o credenciamento de médicos/as especialistas, inclusive


pediatras.

6. Insuficiência de médicos/as especialistas em saúde mental


Em consonância com o item anterior, mas agravado, tem-se a insuficiência de
psicólogos/as e psiquiatras para atender pacientes adultos/as e, em especial, crianças.

Proposição: Ampliar o credenciamento de psicólogos(as) e psiquiatras para atendimento


de crianças e adultos.
7. Inexistência de especialistas em práticas integrativas complementares de Saúde
Como corolário aos itens anteriores, à insuficiência sobrepõe-se a inexistência de
profissionais especialistas em práticas integrativas complementares de saúde (PICS),
como biodança, acupuntura, ioga, reike, e entre outros. Práticas essas já reconhecidas,
inclusive, no SUS.

Proposição: Incluir no credenciem especialistas em práticas integrativas.

8.Número reduzido de serviços de fisioterapia


Outra especialidade em que o Saúde Recife se revela deficitário é o da fisioterapia, tão
necessária aos/às trabalhadores/as em educação, sujeitos/as a acidentes de trabalho e
atrofias decorrentes de esforços repetitivos por uso frequente de computador.

Proposição: Ampliar os serviços de fisioterapia, incluindo fisioterapia aquática, pilates e a


acupuntura.

9.Dificuldade de atendimento a pacientes com transtorno espectro autista (TEA),


transtorno de déficit e hiperatividade (TDHA).
Usuários/as (crianças e adultos) do Saúde Recife com transtornos do espectro autista e
de outra natureza encontram dificuldade de atendimento e acompanhamento por razões
diversas, com realce à insuficiência de profissionais especializados(as).

Proposição: Garantir atendimento e acompanhamento de qualidade a crianças e adultos


com espectro autista e outros transtornos.

10. Redução do atendimento de emergência


Na capital, o Saúde Recife tem, hoje, em funcionamento, apenas uma emergência 24
horas (Hospital de Ávila), cujo atendimento está colapsado. O hospital CEMUB,
praticamente sem funcionar, atende até às 18h. Na região metropolitana, a situação
também é precária. Ao não encontrar pronta emergência, os(as) pacientes têm sua saúde
e qualidade de vida comprometidas, e, em última instância, perda de suas vidas.

Proposição: Credencia maior número de hospitais com atendimento de emergência na


região metropolitana, especialmente no Recife.

11. Redução de procedimentos cirúrgicos hospitalares


O descredenciamento geral e irrestrito da rede de serviços do Saúde Recife deságua em
sua face mais perversa, ao tocar na interface vida x morte de seus/suas usuários/as: a
demora para agendamento de cirurgias, adiamentos e cancelamento de cirurgias já
agendadas.

Proposição: Ampliar o atendimento hospitalar para procedimentos cirúrgicos.

12. Dificuldade na liberação de material hospitalar para realização de cirurgias


Nas cirurgias de emergência, é comum a demora e mesmo a não liberação de material
hospitalar, repercutindo em atraso e/ou adiamento desses procedimentos, implicando
sofrimentos, constrangimentos e perda de vidas de pacientes.

Proposição: Agilizar a liberação de material hospitalar para cirurgias.


C) Inadequação do novo sistema
Vários problemas detectados – suspensão de atendimentos, computados como
atendimentos realizados; mudança do número da carteira sem aviso prévio –
constrangem e mesmo inabilitam os(as) usuários/as do Saúde Recife, confirmam falhas
do sistema, apontando para sua inadequação.

Proposição: Adequar o novo sistema do Saúde Recife.

Avaliar a situação de usuários(as) do Saúde Recife que não realizam o pagamento ao


Saúde Recife, quebrando o princípio da solidariedade.

Sistematização: Carmem Dolores Alves (Simpere)

Sindicatos que assinam:

Simpere
Sindguardas
SIMEVEPE
SEEPE
SINDACS
SINDMUPE
SIMEVEPE
SINDASTB
AVISAR

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