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Carla Bertelli – 6° Período

Considera-se como CE todo material orgânico ou


inorgânico introduzido no organismo, por vias naturais ou
não, de maneira acidental ou consequente a doenças O caminho percorrido pelo CE, no momento em que ele
e/ou procedimentos cirúrgico. vence a resistência cutânea, depende de suas
características. Os projéteis descrevem trajetórias às
Nessas circunstâncias, são enquadrados os CE ingeridos vezes tão complexas que podem ser de difícil
por via oral, aspirados para a árvore respiratória, compreensão. Os demais são perfeitamente previsíveis.
introduzidos por via anal, penetrados pela pele e os O leitor interessado deverá recorrer aos tratados de
esquecidos durante o ato cirúrgico traumatologia, que se ocupam das lesões produzidas
• Situação comum ao Departamento de Emergência/ pelos CE no seu trajeto.
Pronto Socorro
• Ocasionam trauma ao tegumento e aos tecidos
vizinhos (trajeto gerado);
• Invasão pele, cavidade ocular, oral, vaginal, anal,
abdominal, torácica, . . A capacidade reativa do tecido condiciona o
desenvolvimento de alterações locais peculiares. De
• Maioria deve ser removida  Risco de reação local
maneira geral, as reações observadas atuam no sentido
ou infecção;
de expulsar, destruir ou isolar o CE; é a segregação, por
• Projéteis e adereços metálicos costumam ser inertes
meio de reação tecidual intensa, do tipo inflamatório e,
e não causar complicações. Demais, ocasionam
mais tardiamente, do tipo fibrótico. Com isto, o CE é
reações e alto índice de infecção.
isolado do organismo, originando massa pseudotumoral
cuja evolução dependerá do local e da vizinhança tecidual
que a abriga. Essa massa pode transformar-se em fístula
que, reduzindo seu volume e mantendo o trajeto,
eliminará secreções de diferentes características, em
Embora possa ocorrer penetração por diferentes vias
geral purulentas. É a fístula-sentinela, denunciadora de
(mucosa bucal, vaginal, anal etc.), é na pele que
reação orgânica e material estranho
encontramos, com maior frequência, o orifício de
entrada. A pele e os tecidos subjacentes oferecem As peculiaridades inerentes ao CE dizem respeito à sua
resistência mecânica à penetração, daí a predominância importância como veículo de infecções (supurativas,
absoluta de CE pontiagudos (agulhas, espinhos, pregos, tetânicas etc.) e, em menor escala, à sua natureza
alfinetes etc.) ou aqueles que os atingem animados de (corpos estranhos inertes ou biodegradáveis). Toda ferida
força viva muito grande (projéteis). na qual o CE esteja incluído traz consigo a expectativa
de contaminação. É evidente que, em algumas situações
As lesões cutâneas produzidas, denominadas,
(agulhas estéreis de injeção), essa expectativa é
respectivamente, perfurantes (perfurocortantes), quando
praticamente nula, ao passo que, em outras (espinhos,
produzidas por objetos pontiagudos, com bordas
fragmentos de madeira, injeção subcutânea de silicone
cortantes (vidros, facas, lâminas de aço etc.), e
líquido em diversas regiões do corpo etc.), a
perfurocontusas (instrumentos rombos de madeira,
contaminação é a regra. A gravidade da infecção daí
farpas de madeiras etc.), são geralmente pequenas e
resultante tem relação, entre outras, com a natureza do
seriam desprovidas de importância não fosse a possível
CE, a par de maior contaminação na qual os CE, não
extensão das lesões subjacentes. Ocasionalmente, nas
inertes (madeira, espinhos etc.), estão geralmente
feridas contusas, pode ocorrer penetração de
associados, acrescidos da maior irritação local que eles
pedregulhos (queda sobre o joelho etc.) ou de
induzem. Consequentemente, o processo pode
fragmentos de objeto contundente (pedrada).
restringir-se à inflamação banal, caminhar para a
formação de abscesso e, ocasionalmente, até de fleimão,
além das possíveis complicações gerais ou regionais que
podem surgir.
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Seja qual for a intensidade do processo infeccioso, a Agulhas


tendência é quase sempre de expulsar o CE juntamente
A agulha quebra, quando bate contra o metal do
com o exsudato formado. A retenção do objeto, após a
anteparo, ao ser tracionada pela vítima ao sentir a dor do
eliminação do pus, impede a cura da ferida,
ferimento. Ocorre, frequentemente, transfixação da unha
caracterizando a formação de uma fístula, cujo trajeto
e, ocasionalmente, do próprio osso, ao qual a agulha se
cada vez mais se definirá à medida que se perpetua o
fixa firmemente
processo. Não é raro que, nas fístulas, se intercalem
períodos em que, pelo fechamento espontâneo do
orifício de drenagem, haja retenção da secreção, que
posteriormente virá a ser eliminada, com reabertura do
orifício original.
Às vezes, tardiamente, forma-se, em torno do CE que
evoluiu sem complicações, um abscesso, geralmente em A palpação revela frequentemente presença do objeto
decorrência de trauma e reativação de bactérias do foco. e serve de orientação na determinação de sua posição.
Quando não há infecção, o envolvimento do objeto por As lesões produzidas no seu trajeto são pouco
tecido fibroso é a regra, sendo discreto nos objetos significativas, e, a não ser pelas complicações infecciosas
inertes (agulhas, metais) e mais exuberante nos demais que podem aparecer, teriam pouca importância. A
(madeira, espinhos etc.). Nestes últimos, em algumas expectativa de complicações sépticas, após retirada de
ocasiões, pode desenvolver-se processo inflamatório agulha que penetrou em uma articulação, sugere a
crônico hiperplásico, que poderá simular neoplasia e que necessidade de novas observações.
contenha o CE.
Ocasionalmente, o tecido fibroso que envolve o CE fixa
Espinhos Vegetais
tendões, impedindo sua movimentação natural. Quando
localizado dentro ou próximo de tendões, o CE costuma Como CE, pode-se encontrá-lo superficial ou
determinar peritendinite ou tenossinovite aguda ou profundamente situado e, em consequência, fácil ou
crônica, irritativa ou infecciosa. dificilmente palpável. Como de hábito, o paciente não
pode afirmar se o espinho que o feriu persiste, a não ser
quando em contato com nervo ou na sua intimidade,
que esteja evidente à inspeção ou à palpação.
pode determinar lesão neural, neuropatia ou neuroma
Complicações sépticas são a regra, e o risco de tétano
traumático. Outras vezes, essa fibrose é sequela de
não pode ser menosprezado. As vezes necessita de
infecções anteriores. Daí a maior gravidade dos acidentes
exame de imagem para ser visualizado
que envolvem a penetração de CE em estruturas de
maior complexidade anatomofuncional, como mãos, • A presença de uma ferida que não cura e que,
punhos, tornozelos etc. contínua ou intercaladamente, elimina pus tem como
causa um CE.
A expectativa de infecção tetânica está exacerbada
principalmente nas feridas provocadas por espinhos
vegetais, nas quais, além da maior incidência de
contaminação com os esporos, as condições são mais Fragmentos de Madeira
favoráveis para o seu desenvolvimento. Dimensões variadas, as pequenas farpas que se alojam
Fenômeno curioso é o da migração dos CE. Casos na pele, quase sempre paralelas à sua superfície ou sob
relatados na literatura médica demonstram a possibilidade as unhas, provocando dor intensa, particularmente neste
de que, provavelmente sob a ação do movimento último caso. O paciente mesmo pode remover, ou o
muscular e de seu próprio peso, objetos pontiagudos corpo se desfaz através de material supurativo que o
venham a se deslocar por distâncias razoáveis. elimina.
Os fragmentos não acessíveis ao exame palpatório
exigem utilização de método de imagem. Particularmente
nos fragmentos de madeira recobertos de tinta, em
decorrência de metais pesados entre os elementos que
a compõem, sua contrastação torna-se facilitada
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Não raramente pequeno, fragmento de madeira não localizado em áreas de difícil remoção.
identificado por métodos radiográficos convencionais
pode evoluir com formação de fístula cutânea

Dentre os fatores que mais interferem na opção


Projéteis de Arma de Fogo e Espingarda de terapêutica, três são os mais importantes: natureza do
Ar Comprimido CE, órgão atingido e ocorrência de complicações tardias.
O maior interesse médico em torno dos projéteis de
arma de fogo reside nas lesões provocadas em seu Clínico
trajeto. A determinação do orifício de entrada, do orifício
de saída ou, quando este não existe, da localização e Clinicamente, podemos lançar mão de analgésicos,
posição do projétil pelo exame radiográfico visa, antibióticos, antitetânicos, repouso do segmento
principalmente, a reconstituir o seu percurso e as acometido e sua drenagem postural para diminuir o
prováveis lesões sofridas. O mesmo se pode dizer com edema (elevação do membro atingido).
relação aos numerosos projéteis de cartucheira. O calor
A possibilidade de infecção piogênica ou tetânica da
gerado à detonação e pelo atrito com o ar atmosférico
ferida é particularmente exacerbada, a não ser que a
torna tais objetos praticamente estéreis, justificando a
remoção precoce do CE e dos tecidos lesados a torne
baixa ocorrência de complicações infecciosas quando
uma ferida comum. O estado imunitário relativo ao
outros fatores não interferem. O chumbo de espingarda
tétano, condicionado por vacinações anteriores, orientará
de ar comprimido quase sempre penetra pouco nos
quanto às medidas profiláticas específicas.
tecidos, sendo fácil encontrá--lo à palpação. Nos demais
casos, a radiografia o identifica de imediato. O uso de antibióticos, a não ser com a finalidade de inibir
o desenvolvimento do bacilo tetânico em pacientes não
vacinados adequadamente, deve ser limitado. Não se
Fragmentos de Metal justifica seu emprego como substituto de outras medidas
terapêuticas mais eficazes.
Quase sempre, tais CE decorrem de acidentes de
trabalho. A “palha de aço”, muito usada para raspagem de A antibioticoterapia não impede a infecção na presença
assoalhos de madeira, é causa comum desses acidentes. de tecidos desvitalizados ou de coleções líquidas
Geralmente sua presença é visível através da pele. Na (hematomas etc.) em neocavidades fechadas e,
indústria, o trabalho com metais, vez por outra, consequentemente, também não as cura (abscessos).
desprende fragmentos que se transformam em projéteis Tais eventualidades encontram nos procedimentos
equivalentes aos de arma de fogo. cirúrgicos (desbridamentos, evacuação de coleções
líquidas) sua única e eficaz terapêutica.

Vidros
Diante de um corte por vidro, não é raro algum(ns) dos Tratamento Cirúrgico
seus fragmentos ficar(em) incluído(s) na ferida. Nos
A maioria dos ferimentos com penetração de CE
ferimentos superficiais, é fácil afastar tal possibilidade. Nos
apresenta lesão superficial mínima, que geralmente não
profundos, provocados por vidros pontiagudos, só o zelo
é valorizada pelo médico no momento do trauma. O
do cirurgião poderá evitar sua permanência no local.
tecido tende a ocluir o trajeto, dificultando a identificação
Nunca é bom esquecer o papel prejudicial do da porta de entrada. Suspeitar é fundamental para definir
sangramento dificultando a visualização do vidro, o diagnóstico. A combinação de suspeição clínica,
principalmente quando este é incolor. conhecimento básico de exames diagnósticos, habilidade
e experiência do cirurgião diminuem o risco cirúrgico de
Fragmentos menores que 2 mm, entretanto, podem iatrogenia, se comparado ao risco inerente de retenção
não ser identificados. Merece que mencionemos, ainda, de CE.. É por meio de procedimentos cirúrgicos que
que o vidro provoca maior sensação da presença de CE podemos resolver especificamente a maioria dos
do que outros materiais. Como material inerte, pode não problemas gerados pelo CE. Por envolver riscos maiores
ser retirado caso não produza sintomas, ou se estiver
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para o paciente e também possibilidades de fracasso, a do tumor para exame posterior. Só assim obtêm-se,
abordagem cirúrgica do CE é mais difícil de ser assumida. numa só intervenção, o diagnóstico e o tratamento.

• “Se a operação que se propõe fazer pode A dor é um elemento que sugere a necessidade de
potencialmente ser mais lesiva do que a presença do remoção de um CE que, não fosse assim, ficaria incluído
CE, o melhor é deixá-lo ficar.” definitivamente nos tecidos, sem o menor transtorno.
Além disso, deve-se lembrar de que a mente humana
Nos abscessos subungueais, a conduta inicial deve ser
rejeita o CE tão mais intensamente quanto mais palpável,
conservadora e só remover toda a unha quando o pus
quando então sua remoção se torna fácil e desejável.
se difundir por todo o leito ungueal; caso contrário,
quando o pus se restringir a uma área mais distal da unha, A conduta perante CE vistos tardiamente quando na
esta deverá ser removida em triângulo sobre a área vigência de “complicações” gera poucas dúvidas no
correspondente espírito do médico. Tal não acontece, entretanto, quando
o paciente procura auxílio do cirurgião logo após o
Nas fístulas em que não foi possível demonstrar a
acidente. Nessa fase, os riscos da presença de CE são
presença do CE por outros métodos diagnósticos, a
apenas potenciais e dependem principalmente da
intervenção atende a essa necessidade, ao mesmo
capacidade de eles produzirem infecção, irritação local
tempo que promove a cura ao removê-lo quando
ou resposta imunitária. Tais potencialidades estão
encontrado. Às vezes, a simples e suave dilatação do
intimamente relacionadas com a natureza do CE e com
orifício, auxiliada pela aspiração da secreção, revela a sua
o órgão ou segmento atingido
presença, e, com algum cuidado, o CE pode ser retirado
A compressão sobre a área onde está alojado o corpo
estranho coincide com maior eliminação de secreção
pelo orifício de drenagem, servindo como primeira
orientação nos trajetos fistulosos recentes ou antigos e Independentemente da natureza do CE, as normas
fibróticos, cuja direção não seja evidente à inspeção. A e os procedimentos relatados a seguir são
introdução de uma pinça hemostática curva, que deve extremamente úteis para a sua remoção:
penetrar suavemente e pelo seu próprio peso através
1 – Utilizar sistematicamente anestesia segmentar
do trajeto fistuloso, orientará de maneira segura a sua
(troncular, bloqueio regional etc.) ou geral
direção.
2 – Impedir previamente o sangramento
A incisão cutânea a partir do orifício de drenagem, e na
direção sugerida pelo guia, permitirá melhor exposição 3 – Programar a operação
do trajeto. A incisão deve ser suficientemente ampla para
permitir exposição mesmo nos planos mais profundos,
evitando assim lesões de elementos nobres, ao mesmo
tempo que deverão ser evitados os cortes passíveis de
evoluir para cicatrizes retráteis prejudiciais. A incisão Estão intimamente relacionados com a natureza do CE
sobre o trajeto fistuloso e de encontro à pinça permitirá e, consequentemente, com as características do acidente
que esta penetre um pouco mais em direção ao objeto,
Agulha de Máquina de Costura – Devem ser
até encontrá-lo. Nos trajetos fistulosos antigos e
sempre removidas de imediato, considerando sua
fibróticos, o objeto deve ser removido juntamente com
localização, facilidade de sua remoção e condição de
o orifício de drenagem, desde que isso não incorra em
ferida “fechada”. Ocorrendo transfixação da unha, deve-
riscos significativos. São geralmente recomendáveis a
se proceder à ressecção de um fragmento desta, em
drenagem da área operada e a síntese parcial da pele,
forma de triângulo, o qual deverá conter o orifício de
quando a incisão for demasiadamente ampla.
entrada, no sentido de expor a agulha, permitindo sua
A reação inflamatória crônica hiperplásica com aspecto retirada e transformando em aberta uma ferida fechada.
tumoral decorrente de CE involui com a sua retirada. Essa medida evita a necessidade de reintervenções
Como a presença do objeto nem sempre é detectada futuras por complicações infecciosas. Tal procedimento
pré-operatoriamente, recomenda-se a remoção integral é recomendável mesmo que, após a realização da
anestesia do dedo, tenha sido possível a extração da
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agulha por tração sobre um segmento externo dela ou com frequência, ocorrem tais acidentes. Quando for
nas circunstâncias em que, já livre da agulha, o paciente razoável, é sempre bom expor todo o leito onde estava
evolui com hematoma subungueal. Não havendo alojado o espinho e proceder à lavagem ou
hematoma, a indicação cirúrgica é mais restrita. desbridamento, considerando--se que algumas espécies
de espinhos apresentam uma “penugem” que pode ficar
Agulha de Costura Manual – Nas raras
retida na ferida. Também a extremidade do espinho pode
circunstâncias em que a agulha é introduzida junto com
estar partida, tornando-se muito difícil a sua remoção
o fio, este servirá de guia na sua procura e de apoio na
após a retirada do fragmento principal.
sua tração.
Fragmento de Madeira – Chamamos a atenção
Quando a agulha for introduzida perpendicularmente à
aqui para a importância da exposição do leito onde se
pele e for palpável sob esta, podemos lançar mão do
aloja o fragmento em face do risco comum de
método de Rees, o qual se aplica também para espinhos
permanência de fragmentos secundários, quando os CEs
e fragmentos de madeira nas mesmas circunstâncias.
são retirados simplesmente por tração. Sua remoção
Rees, muito a propósito, sugere que a incisão sobre o imediata, juntamente com os tecidos que o envolvem,
orifício de entrada deverá interessar apenas a epiderme permite a síntese cutânea como se fora uma ferida
e derme, numa extensão suficiente para permitir boa comum, diminuindo em muito a morbidade. As farpas
exposição do tecido gorduroso subjacente. Uma vez incluídas na derme, paralelamente à superfície cutânea,
atingido esse plano, as bordas da pele devem ser devem ser removidas juntamente com retalho cutâneo
descoladas do tecido subjacente, utilizando-se lâmina elíptico que as contém, e a ferida deve ser suturada. Não
afiada para evitar distorções, numa distância de mais ou se pode justificar, apenas por motivos estéticos, o risco
menos 1 cm, na dependência da profundidade do objeto. de deixar uma ferida contaminada, possivelmente até
As bordas da ferida são então separadas com os dedos, com esporos tetânicos, quando uma simples ampliação
ao mesmo tempo que é exercida uma pressão da ferida cirúrgica afasta as complicações. As “farpas”
moderada contra a ferida, provocando extrusão do subungueais devem ser tratadas atendendo aos mesmos
tecido subjacente através da incisão e carregando princípios: remoção em cunha de fragmento da unha e
consigo o CE, que poderá então ser removido sem do CE subjacente.
muita manipulação
Os espinhos ou CE de qualquer natureza, quando não
Agulha de Injeção – Embora a expectativa de palpáveis, são sempre responsáveis por grandes
complicações sépticas seja desprezível, a agulha é quase dificuldades, que só poderão ser diminuídas se as normas
sempre palpável, facilitando assim a sua remoção, que apropriadas forem respeitadas
estará perfeitamente justificada se atentarmos para a
Projéteis – A importância dos ferimentos por arma
ansiedade normal que atinge os envolvidos no acidente.
de fogo é muito grande, mas reside essencialmente nas
É quase sempre adequado utilizar um dos métodos de
lesões ocorridas em seu trajeto no organismo. A não ser
Rees.
quando o chumbo se aloja nas mãos, na região dos
Espinhos Vegetais – A pequena lesão do punhos, nos pés, na região dos tornozelos ou intra-
tegumento deve-se paradoxalmente à gravidade de um articular, a necessidade imediata de operar decorre
grande número de CE, em particular os espinhos, uma principalmente da presença de lesões que ponham em
vez que o paciente não se impressiona suficientemente risco a vida do paciente. Nas quatro primeiras estruturas
para procurar ajuda e, quando o faz, o médico costuma a que nos referimos, o chumbo aloja-se, quase
restringir-se à terapêutica medicamentosa, por duvidar obrigatoriamente, no subcutâneo ou em meio ao
de sua presença e pelo temor de uma operação compacto conjunto de tendões, bainhas, vasos e nervos
desnecessária. que caracterizam essas regiões. Independentemente do
tratamento das lesões provocadas no seu trajeto, a
Esquece-se de que é exatamente nas feridas de
remoção imediata do projétil implica a antecipação de
pequeno orifício de entrada, pelas condições de
intervenção futuramente inevitável, com a vantagem
anaerobiose que podem desenvolver-se, que mais
adicional de estar contribuindo no sentido de evitar ou
necessária se torna a intervenção cirúrgica para retirar o
diminuir a gravidade de complicações infecciosas.
espinho ou, pelo menos, desbridar e limpar a ferida,
deixando-a aberta, principalmente na região plantar, onde,
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Evidentemente, tal conduta só será cogitada diante de Outra maneira de desprender um anzol, principalmente
pacientes cujas condições sejam satisfatórias e por quando este penetrou pouco os tecidos, é manipular sua
profissionais qualificados para atuarem nessas áreas. base externa de maneira a transmitir à sua ponta uma
força em sentido contrário ao do “gancho”, ao mesmo
Quando se tratar de ferimentos por projéteis de
tempo que se procura extraí-lo pelo orifício de entrada
cartucheira em que as estruturas supramencionadas
foram atingidas, e em face das dificuldades naturais que
a multiplicidade de CE implica, é indispensável inventário
completo das lesões do trajeto. Tal conduta visa a definir
prioridades, uma vez que, além da intervenção cirúrgica
indispensável (lesões ósseas, articulares etc.), a remoção
dos projéteis torna-se imperativo natural.
A necessidade imediata de extrair os pequenos projéteis
de espingarda de ar comprimido diz respeito, como no
caso dos anteriores, à região atingida. O chumbo, quando
incluído em massas musculares volumosas, e quando não
palpável, acarreta dificuldades excepcionais para a sua
extração, as quais deverão ser devidamente
consideradas pelo médico que se propõe a retirá-lo.
Fragmentos de Metal – Os pequenos fragmentos
de “palha de aço” incluídos quase sempre
horizontalmente na pele devem ser sempre retirados
com aquela que os envolve, pois isto evitará
complicações futuras causadas pela contaminação
intensa que ocorre em tais acidentes.
Vidros – As características das feridas por vidro
induzem naturalmente à investigação em toda a
profundidade do corte. Não se justifica desprezar esse
cuidado por não se querer ampliar uma ferida que não
permita exposição adequada. Muitas vezes é apenas por
meio dessa conduta que são constatadas lesões
importantes despercebidas ao exame funcional. Se, como
pode ocorrer, algum fragmento permanecer, o médico
pode ficar tranquilo por ter lançado mão de todos os
cuidados recomendáveis. Além disso, sabe-se que os
vidros costumam ser inertes e podem ser deixados
(salvo na presença de sintomas ou infecções) quando sua
extração for muito difícil.
Anzóis – A retirada de anzóis, presos por perfuração
ou transfixação, assume características peculiares pela
presença, junto à sua extremidade, de um “gancho” que
promove a sua autofixação nos tecidos e dificulta sua
retirada por tração simples. Quando transfixante, a
secção da ponta exposta permite a retirada do
fragmento restante pelo orifício de entrada. Recomenda-
se também, nos demais casos de feridas perfurantes,
transformá-las em transfixantes por meio da progressão
da ponta do anzol. Procede-se, então, como no caso
anterior

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