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Patologia Pulpar

RESUMO DO LIVRO por proteínas plasmáticas e


deposição de dentina esclerosada.
A lesão perirradicular é a doença mais 2. Formação de dentina terciária:
recorrente na vida do endodontista. uma forma de a polpa recuar em
Provocado por inflamação no ligamento resposta ao avanço de uma lesão
periodontal, que pode afetar osso e cariosa na dentina, retardando a
cemento (tecs perirradiculares). sua exposição. Isso ocorre como
As principais alterações patológicas que resposta do organismo à
acometem a polpa e os tecidos desmineralização provocada pelos
perirradiculares são de natureza ácidos das bactérias.
inflamatória (resposta da polpa ao Pode se formar dentina reacional
agressor) e de etiologia infecciosa. (abaixo das cáries superficiais ou
Quando a lesão se torna crônica, as de progressão lenta) ou
defesas do hospedeiro acabam limitando reparadora (em casos de lesões
a doença e fazendo com que ocorra cariosas mais avançadas e
destruição tecidual. agressivas).
A agressão pode ter origem biológica, 3. Resposta imune: as bactérias do
física (térmica ou mecânica) ou química. biofilme são as principais
As duas últimas causam inflamação causadoras de inflamação pulpar.
transitória, a biológica é geralmente a Quanto mais próximo da polpa,
mais persistente, pois as bactérias que pior a inflamação. Envolve
estão no canal necrosado estão sendo odontoblastos, células dendríticas,
protegidas pela defesa do hospedeiro. macrófagos pulpares.
A lesão perirradicular é caracterizada por
reabsorção óssea, que permite o osso 1 e 2 envolvem a dentina e dão mais
recuar para longe da infecção, no qual é proteção a polpa. Os três pontos podem
substituído por tecido inflamado. acontecer simultaneamente.

Reação do complexo dentinopulpar à Resposta da polpa à invasão


cárie bacteriana
A cárie é a causa mais comum de A inflamação só é considerada irreversível
agressão ao complexo dentino pulpar, quando as bactérias alcançam a polpa.
pois a dentina fica exposta e os túbulos O tecido pulpar quando é exposto
dentinários se formam um meio de difusão normalmente desenvolve inflamação
de produtos bacterianos. grave seguida de necrose e infecção.
Mecanismos principais de defesa da Ocorre edema por conta da vasodilatação
dentina e da polpa ao estímulo (aumento da pressão intrapulpar), que
bacteriano: pode fazer com que os vasos da polpa
1. Redução da permeabilidade colagem provocando redução ou
dentinária: contra o avanço da fechamento do lúmen, isso promovendo
bactéria até a polpa, por meio de aumento da viscosidade do sangue,
fluido dentinário em direção hipóxia tecidual, concentração de
externa, revestimento dos túbulos produtos tóxicos e queda de pH. Isso
pode causar morte celular com necrose - Frio: dor aguda, rápida,
tecidual. localizada, que passa quando
A necrose pulpar total é resultado do tira o estímulo. A dentina é
acúmulo de focos de necrose, já que num mais sensível ao frio.
foco de necrose é perdido a defesa contra - Elétrico: formigamento ou
a invasão bacteriana e isso vai se sensação de queimação.
alastrando por todo o tecido pulpar indo - Cavidade: evoca dor na polpa
em direção apical. Sequência: vital, é bom em casos de
1. Agressão bacteriana; restaurações extensas.
2. Inflamação; Podem ocorrer um resultado
3. Necrose; falso-positivo (em polpa
4. Infecção. necrosada) e falso-negativo (em
polpa vital)
Pulpite - inflamação da polpa ● Testes perirradiculares:
Classificada de acordo com o prognóstico - Percussão e palpação:
do tratamento: negativo.
● Reversível: quando a polpa pode ● Achados radiográficos: presença
voltar às condições normais após de lesões cariosas ou
retirar o estímulo irritante; restaurações extensas.
● Irreversível: quando a polpa não Tratamento:
vai voltar ao normal só retirando o Remoção da cárie e restauração, em
agressor, precisando de excisão casos mais simples. Em casos de
parcial ou total do tecido pulpar. sintomatologia mais acentuada com cárie
profunda ou restauração
Pulpite reversível defeituosa/extensa, se faz a retirada
Diagnóstico: destas e coloca um curativo de óxido de
● Sinais e sintomas: geralmente zinco e eugenol (analgésico e
assintomática. Mas às vezes o anti-inflamatório), depois de 7 dias
paciente pode ter dor aguda, reavalia e faz a restauração.
localizada, rápida e fugaz, a
estímulos que normalmente não Pulpite irreversível
causam dor, que acaba logo Em casos de inflamação irreversível, a
depois de tirar o estímulo. O frio é polpa progride para necrose, pode ser
a principal queixa. Por a pressão lenta ou rapidamente. Esse processo
pulpar nessa fase ser mais baixa, pode ser retardado pela absorção do
não ocorre dor espontânea, mas exsudato por vasos ou drenagem pela
esse aumento pode diminuir o área de exposição.
limiar de excitabilidade, fazendo a Existem casos de pulpite irreversível sem
dentina ficar mais sensível; exposição pulpar.
● Inspeção: exame visual, se
restaurações ou cárie extensa, Características fisiopatológicas:
sem exposição pulpar; O aumento da pressão hidrostática
● Testes pulpares: tecidual, pode exceder o limiar de
- Calor: pode sentir dor aguda e excitabilidade das fibras nervosas,
imediata, que passa após gerando uma dor pulsátil, excruciante,
retirar o estímulo ou pode se lenta, lancinante e espontânea.
prolongar. Por conta da degeneração das fibras
nervosas, a polpa começa a não
responder aos testes de sensibilidade. o paciente se queixar de dor,
Geralmente só respondem ao calor, que talvez seja irreversível e pode se
por causar vasodilatação, e às vezes o fazer o canal.
frio causa alívio por conta da ● Testes pulpares:
vasoconstrição ou seu efeito anestésico. - Calor: positivo, o calor
A pulsação da pulpite irreversível exacerba a dor;
sincroniza com os batimentos cardíacos - Frio: no início é positivo (pode
(por isso a dor pode aumentar em casos aliviar a dor), nas mais
de esforço físico). avançadas, negativo;
Em casos assintomáticos pode ser por - Elétrico: só responde as altas
conta da menor pressão intrapulpar por correntes;
ter exposição pulpar (drena para cavidade - Cavidade: geralmente
oral). positiva.
Pode acontecer de a inflamação aguda ● Testes perirradiculares:
passar para crônica sem necrosar, - Percussão: usualmente
ocorrendo por diminuição da intensidade negativo, pois a resposta
bacteriana em polpas jovens ou muita inflamatória é localizada e
drenagem do conteúdo para fora do restrita a polpa. Pode ocorrer
canal. Nesses casos crônicos pode dor por alodinia mecânica
demorar muito para necrosar, pode (ativação de
ocorrer fibrose, calcificação e reabsorção mecanonociceptores).
interna. - Palpação: a palpação da
mucosa no nível do ápice gera
Diagnóstico: resposta negativa.
● Sinais e sintomas: geralmente não ● Achados radiográficos: detectado
há queixa de dor. Quando há dor, lesões cariosas e/ou restaurações
ela pode ser provocada, aguda e extensas, geralmente sugerindo
localizada e persistente por um exposição pulpar. Espaço do
tempo depois de tirar o estímulo. ligamento periodontal normal, em
Os pacientes usam analgésico, casos raros pode ter
que pode ajudar ou não. Em casos espessamento ou pequena lesão.
de inflamação pulpar aguda mais Tratamento:
avançada pode haver dor pulsátil, Remoção do tecido pulpar, total (canal
excruciante, lancinante, contínua e convencional) ou parcial (tratamento
espontânea. conservador pulpar).
● Inspeção: exame visual, se
observa cárie ou restauração Necrose pulpar
extensa. Ao remover deve-se É o somatório de alterações morfológicas
observar se há exposição pulpar. que acompanham a morte celular em um
Em casos que essa exposição é tecido.
causada pela cárie, a polpa é Pode ser classificada em:
considerada com inflamação ● Necrose de liquefação: comuns
irreversível, necessitando de uma em áreas de infecção bacteriana.
pulpotomia ou canal. Em casos de Resulta da ação de enzimas
traumas (máximo de 2 dias), a hidrolíticas. As células mortas são
inflamação é reversível (se faz digeridas, transformando o tecido
capeamento direto), pois ainda em um líquido viscoso que, se
não houve colonização; porém se
associado com inflamação aguda, ● Testes perirradiculares:
caracteriza o pus; - Percussão e palpação: podem
● Necrose de coagulação: causada evocar resposta positiva ou
por lesão traumática, com negativa, dependendo do
interrupção do suprimento status dos tecidos
sanguíneo pulpar (rompimento dos perirradiculares.
vasos que passam pelo forame ● Achados radiográficos: presença
apical), causando isquemia de cárie, coroa fraturada e/ou
tecidual. Essa necrose resulta de restauração extensa. Se a for
extensa desnaturação proteica, o necrose traumática a coroa pode
que impede a proteólise e total apresentar-se hígida, fraturada ou
destruição das células. Após a com pequenas restaurações. O
morte das células o tecido pode espaço do ligamento periodontal
ficar firme; pode apresentar-se normal,
● Necrose gangrenosa: Ocorre em espessado ou uma lesão
dentes traumatizados, cujas perirradicular caracterizada por
polpas sofreram necrose de reabsorção óssea pode estar
coagulação asséptica e que se presente.
tornaram infectadas Tratamento:
posteriormente. Os modelos de Remoção de todo o tecido necrosado,
coagulação e liquefação coexistem medicação intracanal e obturação dos
na gangrena pulpar. canais radiculares.
Diagnóstico
● Sinais e sintomas: assintomática, RESUMO DO SLIDE
pode ter episódio prévio de dor. Traumatismo Dentário e dentes hígidos, o
Dependendo do status dos tecidos que poderia ocorrer na polpa dentária
perirradiculares, pode haver dor, p. ● manutenção da polpa viva (com o
ex. em lesão perirradicular tempo > e de forma imprevisível,
sintomática ou abscesso agudo de envelhecimento da polpa) (nódulos
origem endodôntica. pulpares) como também
● Inspeção: exame visual, reabsorção dentária interna.
detecta-se cáries e/ou ● Necrose asséptica - o trauma
restaurações extensas que promove a desnaturação proteica
alcançam a polpa. Em caso de do tecido, perda de água, ficam
necrose traumática a coroa pode coaguladas e sem vida.
até está rígida. Pode ocorrer ● Metamorfose cálcica da polpa -
escurecimento da coroa. lesão pode ser parcial ou
● Testes pulpares: transitória, hipóxia passageira,
- Calor: na grande maioria das perda temporária de nutrientes e
vezes não evoca dor. Em reduz seu metabolismo ao mínimo
casos raros pode ter para a sobrevivência celular.
sensibilidade; Ocorre a subluxação e a
- Frio: sempre negativa; concussão.
- Elétrico: negativo. Pode haver
se ainda tiver fibras tipo C ou Os principais fatores envelhecedores do
em necrose de liquefação, complexo dentinopulpar são os que
com altas correntes; acionam os seus mecanismo de defesa
- Cavidade: negativo.
● Lesão físico-química nos tecidos nervoso de Rashkow e processos
dentários por atrição, sem ou com fibroblásticos;
bruxismo, abrasão, erosão e ● Polpa propriamente dita - é, como
abfração; a zona central, contém os maiores
● Cárie dentária crônica pela vasos e nervos, mais fibroblastos e
invasão de bactérias e seus outras células.
produtos;
● Procedimentos operatórios e Polpa Dental
restauradores; Funções:
● Pequenos e frequentes ● Formativa - odontoblastos;
traumatismos; ● Sensitiva - inervação sensorial
● A doença periodontal inflamatória pulpar - sistema de alarme;
crônica e o tratamento ortodôntico ● Nutrição - fornecendo O²;
não são envelhecedores pulpares ● Defensiva - barreira para irritantes.
eficientes.
Composição: tecido conjuntivo frouxo
Alterações Adaptativas (células matriz extracelular, vasos
DENTINOPULPARS ou próprias do sanguíneos e nervos ).
envelhecimento ● Células características: >
1. Espessura dentária aumentada; odontoblastos, fibroblastos, células
2. Deposição de dentina reacional ou tronco indiferenciadas;
fisiológica secundária; ● Matriz extracelular da polpa:
3. Redução de volume da cavidade proteínas colagenosas (colágeno
pulpar; tipo I e III) e não colagenose
4. Diminuição do diâmetro dos (laminina, fibronectina, tenascina e
túbulos dentinários; proteoglicadas);
5. Esclerose dentinária; ● Contém 10 a 15% de lipídios em
6. Tratos mortos da dentina; sua massa seca.
7. Diminuição da celularidade pulpar;
8. Redução da vascularização e da A proliferação epitelial contínua, origina o
inervação pipar; órgão do esmalte e forma uma
9. Ocorrência de fibrose intersticial e concavidade semelhante a Capuz.
hialinização pulpar;
10. Calcificação distróficas ou nódulos Vascularização: a partir de ramos da
pulpares. artéria infraorbital, da artéria que por sua
vez tem origem da a maxilar, um ramo da
Zonas da Polpa a carótida externa.
● Camada odontoblástica - é a zona ● Fornecimento de O² e nutrientes
mais periférica da polpa, é para as células;
adjacente à pré-dentina; ● Drenar o gás carbônico e resíduos
● Zona rica em célula - alta do metabolismo para fora do
densidade em células tecido;
(fibroblastos, células tronco - ● A pressão de arteríolas capilares e
indiferenciadas e células imunes); vênulas são respectivamente: 43,
● Zona pobre em célula - contém 35 e 19mmHg;
capilares sanguíneos (uma rede ● A polpa 6 a 11 mmHg;
de fibras nervosas, é o plexo
● Caso haja exposição pulpar por e funcionais, pois são estrutural e
cárie, esse mecanismo auxilia a funcionalmente integradas.
diluir os produtos bacterianos.
Envelhecimento ou Alterações
O conceito Funcional de Complexo Adaptativas DENTINOPULPARES
DENTINOPULPAR Importantes fatores prognósticos
● A polpa corresponde ao tecido As principais alterações são de natureza
conjuntivo especializado, mole e inflamatória - a polpa dentária de forma
circundado por dentina na singular no ser humano não dá origem a
estrutura mineralizada de um neoplasias benignas ou malignas;
dente. A dentina é o produto de Além das lesões inflamatórias o complexo
secreção pulpar, e em parte os dentinopulpar modifica com a idade, mas
odontoblastos ficam incluídos na estas mudanças apenas serão
sua composição na forma de significantes quando aceleradas por
prolongamentos citoplasmáticos fatores decorrentes do uso intensificado e
dentro de estruturas tubulares. ou inadequado dos dentes ao longo dos
● A polpa dentária tem aspecto anos como atrição com ou sem bruxismo,
morfológico e funcionais muito abrasão, erosão. abfração e os frequentes
específico e junto com a dentina traumatismos menores como concussão;
constitui o complexo O envelhecimento dos dentes pode ser
dentinopulpar, uma unidade acelerado ainda mais quando os
estrutural e funcional que interage mecanismos de defesa dentinopulpares
com o esmalte e o cemento. são acionados na presença da cárie e
● No ápice a polpa se continua frente às restaurações.
naturalmente com o tecido do ● A idade isoladamente com o uso
ligamento periodontal sem que adequado dos dentes hígidos
uma estrutura ou medida os induz alterações pouco
separem de forma irregular e significativas do ponto de vista
mensurável um do outro, ou seja morfológico, sem alterar muito o
sem limites. seu potencial reacional. dentes
normais tem prevalência de 5,5 a
Conceitos e comentários 7% de nódulos pulpares
● Delinear e prever os limites entre a independentes da idade.
dentina e a polpa, significa ● No entanto em dentes com história
estabelecer parâmetros para de cárie, restaurações e
certas condutas terapêuticas e traumatismos, a prevalência
prognósticas. destes nódulos pulpares eleva
● Substituir incondicionalmente os para 73 a 76%.
termos dentina e ou polpa, pelo ● De fato seria mais apropriado que
termo complexo dentinopulpar é o uso do termo “envelhecimento
inviável do ponto de vista clínico e pulpar” usarmos o termo
terapêutico, pois a dentina e a Alterações Adaptativas da
polpa são tecidos Polpa, pois não há correlação com
topograficamente distintos. O a faixa etária do portador do dente
termo dentinopulpar deve ser analisado.
aplicado principalmente quando ● Por décadas se pensou que
referir-se a questões embrionárias muitas alterações observadas no
CDP eram decorrentes da idade,
hoje sabe-se que não. O principal
envelhecedor da polpa é o uso
inadequado dos dentes ao longo
do tempo.

Nas áreas distróficas, o tecido alterado e


ou necrosado, representa uma forma de
matriz orgânica, que pode ser palco para
deposição de sais minerais que circundam
a região vizinha a partir do líquido tecidual
normal e renovado constantemente pelos
componentes plasmáticos que exsudam
normalmente para os tecidos
vascularizados.
Quando ocorre a mineralização ou
calcificação destas áreas alteradas
previamente identifica-se esta situação
como CALCIFICAÇÃO DISTRÓFICA.

MINERALIZAÇÃO ALTERADA
em área teciduais que atuam como
matriz protéica
Condições locais:
● pH alcalino;
● desequilíbrio iônico;
● ácido graxos livres.
Nessas condições as fosfatases alcalinas
provocam → proteínas desnaturadas →
nucleação → interação Ca e HPO4 →
CALCIFICAÇÃO DISTRÓFICA (não tem
matriz organizada ou elaborada e o
conteúdo mineral é menor).

Fibrosamento e hialinização pulpar, com


baixa celularidade, destacam-se áreas
basofílicas de calcificação distrófica focal
ou nódulos pulpares.
Nódulos Pulpares em forma de agulha,
são atribuídas a calcificações distróficas
em paredes de vasos e nervos que no
envelhecimento tem suas paredes
hialinizadas e podem ser palco para
deposição de sais minerais.

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