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Quando fazemos uma restauração visamos: Recuperar o dente; Restaurar a função do dente;
Manter a estabilidade do tecido pulpar; Proporcionar vitalidade e longevidade ao dente.
O complexo dentinopulpar é tão interligado que já existem algumas teorias dizendo que quando
temos uma cárie apenas em esmalte, já temos agressão tanto na polpa quanto na dentina, ainda
que pouca.
DENTINA
A dentina é o maior protetor do tecido pulpar, então todas as formas de conservação e proteção
da dentina, estarão protegendo e conservando a polpa também. Essa forma de conservação
envolve o preparo mais conservador e menos traumático.
- Tipos de dentina
Os diferentes tipos de dentina irão apresentar diferentes permeabilidades e isso vai ser uma das
coisas a se considerar ao fazer a proteção do complexo dentinopulpar.
Dentina normal: é a dentina que nasce com o dente, ou seja, presente no dente irrompido,
inicialmente do tipo primária e depois se torna secundária. É uma dentina que não foi atacada.
Primária: vem junto com o dente irrompido; quando a formação da dentina acontece junto
à formação do dente;
Secundária: vai ser formando de uma forma homogênea sem que tenha ocorrido um
trauma ou tenha tido um sinal maior; dentina formada após o dente ter irrompido e estar
em contato com o meio externo.
Dentina terciária: dentina que se forma em função de um trauma, como a cárie dentária, por
exemplo, bem diferente da do tipo primária e secundária. Com o tempo, a polpa se retrai e acima
dela surge à formação da dentina terciária. Quando uma dentina passa a se formar na linha de
zona de cárie, os odontoblastos migram e acima da zona de cárie, tentam deter a doença a partir
da formação da dentina terciária. Normalmente em radiografias ela se mostra mais radiolúcida,
podendo causar confusão com presença de cárie. Esse tipo de dentina pode ser uma reparadora
ou reacional.
Reparadora: dentina formada pelo odontoblasto primário, mas não é igual à dentina
primária/secundária (normal);
Reacional: dentina formada pelo odontoblasto secundário, esta não tem as mesmas
características da dentina reparadora, possui uma qualidade inferior com poucos túbulos
dentinários.
Dentina esclerosada: é uma dentina secundária com túbulos mais obliterados. Ainda que não
haja cárie, é uma tendência do prolongamento dentinoblástico retrair e aonde isso ocorre esses
prolongamentos vão se fechando (obliterando/calcificando) com o passar do tempo, mas a
dentina esclerosa acontece frente a uma zona de agressão. Normalmente, ao se fazer um
tratamento restaurador, esse tipo de dentina não precisa de proteção por conta da obliteração dos
túbulos.
Dentina afetada: é um tipo de dentina que fica abaixo da zona de cárie. Na zona de cárie temos
a dentina infectada (cheia de microrganismos, ácidos, começando a se decompor) e logo abaixo
tem a dentina afetada, esta é uma dentina que desmineralizou devido à chegada de ácidos, assim
ela amoleceu (perdeu a hidroxiapatita), mas ainda possui a trama de fibra colágena. Esse tipo de
dentina é o que mais necessita de proteção, porque nesse caso, o recomendado é escolher um
material de proteção que lacre essa dentina para que ela possa se recuperar e o tecido pulpar
possa a remineralizar.
- Sensibilidade dentinária
Lembrando que essa condição não é considerada normal, devemos prestar atenção na condição
da pulpar - já que essa movimentação dos fluidos pode repuxar a polpa - e pressupor que se
existe um número alto de túbulos e estes estão gerando uma pressão tecidual muito alta,
podendo afetar seriamente a polpa.
- Permeabilidade da dentina
Existem alguns fatores que vão influenciar na permeabilidade dentinária, que são:
Tipo de dentina - afetada, esclerosada, normal ou terciária;
Espessura - o quantidade de dentina que existe separando o fundo da cavidade com a
polpa, quanto maior for essa espessura melhor;
Localização - a dentina mais próxima da polpa (parede pulpar ou de fundo) possui uma
maior permeabilidade devido a maior quantidade de túbulos e ao seu maior diâmetro,
quando comparada a que fica mais próxima da junção amelodentinária (parede axial). A
dentina na parede de fundo tem um tipo de orifício, e dentina na parede axial, possui outro,
nesta os orifícios se assemelham a uma ameba;
Idade do paciente - ocorre migração do tecido pulpar;
Ação de substâncias ácidas - a utilização de ácido fosfórico em uma dentina muito próxima
da polpa pode causar necrose pulpar. Hoje é mais utilizado o adesivo autocondicionante
para que evite o condicionamento com ácido fosfórico em dentina, existe o ácido,
entretanto este é de baixa intensidade. Lembrando que não se utiliza ácido em cavidades
profundas e muito profundas.
POLPA
É um tecido conjuntivo vascularizado que pode responder a estímulos e essa resposta em boa
parte dos casos é indicada por uma inflamação. Essa inflamação pode ser to tipo reversível ou
irreversível, o que vai condicionar o tratamento.
* Muitos pacientes relatam maior dor durante o período da noite, ao se deitar, isso se deve ao fato
de que a posição em decúbito gera uma maior pressão na cabeça e consequentemente no tecido
pulpar, aumentando essa pressão, a dor também aumenta.
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O tecido pulpar se encontra em uma cavidade que não estende, durante o processo inflamatório
há a ocorrência de edema, com isso a polpa começa a “bater” na parede, gerando ao paciente
uma dor pulsante.
Obs.: Qual a diferença de dor pulpar e dor dentinária?
- Funções da polpa
Quando se faz uma curetagem pulpar, parte da polpa é cortada e sua regeneração só ocorre
desde que não tenha inflamação (com pH normal), promovendo a formação de odontoblastos
secundários que possam regenerar esse tecido lesionado.
Quando se tem uma dor pulpar, a dor relatada pelo paciente é espontânea, isto é, não precisa de
estímulo, e pulsante devido à formação de edema, sendo essa dor um indicativo de inflamação
irreversível1. Isso é diferente da dor dentinária, que normalmente é um caso de sensibilidade
dentinária, dor que surge com presença de estímulos e cessa logo após sua retirada e com
analgésicos, sendo um indicativo de inflamação reversível.
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A inflamação pode chegar a ser tão intensa que ao final do canal radicular encontra-se uma
constricção apical na qual nem sangue, nem líquido entram ou saem no tecido pulpar,
desencadeando no que chamamos de “congestão pulpar” que leva a morte da polpa / necrose
pulpar.
Zona acelular: também chamada de zona pobre em células ou zona de Weil, é a camada que
contém capilares sanguíneos, uma rica rede de fibras nervosas (formando o plexo de Rashkow) e
processos fibroblásticos.
Zona celular: é uma zona com muitas células, como fibroblastos, células-tronco indiferenciadas e
células imunes. Ela é mais proeminente na polpa coronária que na radicular.
Zona de camada profunda: local onde existem as células mesenquimais diferenciadas. Quando a
camada odontoblástica perde odontoblastos por ele não ter capacidade de regeneração, a célula
mesenquimal diferenciada migra até a zona onde o odontoblasto primário foi destruído, devido a
um trauma na polpa - curetagem, cárie, etc. - e se transforma em odontoblasto secundário. O
secundário que surge não é tão bom quanto o odontoblasto primário, mas ele é capaz de formar a
dentina terciária que nesse caso será a do tipo reparadora. Mas em casos em que a polpa não é
cortada - como no capeamento direto -, a transformação ser em odontoblasto primário que
formará dentina reparadora.
Cárie
Preparo cavitário
Desidratação
Geração de calor
Lama dentinária
Interferência oclusal
Esse contato indevido por gerar calcificação distrófica (também chamado de metamorfose
cálcica), que é quando a polpa vai recebendo estímulos de baixa intensidade por um período e
aos poucos a polpa vai se calcificando até que todo o tecido se torna calcificado. Isso ocorre com
maior frequência nos dentes anteriores.
Procedimentos restauradores
Ataques ácidos (condicionamento ácido) por muito tempo na dentina ou em uma dentina mais
profunda, além disso, deve-se tomar cuidado com os pacientes que apresentam sintomatologia
dolorosa, uma vez que, a utilização de ácido pode piorar o quadro inflamatório da polpa.
CÁRIE DENTÁRIA
Até a média onde o tecido pulpar não esteja muito volumoso, uma técnica adesiva já resolve a
questão da proteção do CDP.
As demais são mais complexas devido a sua proximidade da polpa, o que significa uma maior
presença de túbulos dentinários com maiores diâmetros, o que não permite uma secagem
adequada dessa região. Nessas duas últimas regiões se dá preferência ao uso do hidróxido de
cálcio, mas pode ser também o MTA ou o biodentine.
Quanto mais próximos a camada de esmalte, menos túbulos de dentinários e estes com menores
diâmetros, o que permite fazer o uso de técnicas adesivas (adesivo = material selador) nessa
região.
Manter a refrigeração da polpa; usar brocas novas a fim de gerar menos trauma, uma vez que,
terá menos calor, menos atrito e menos vibração.
O local onde é necessária a remoção total da cárie são as paredes circundantes do dente, mas
nas paredes de fundo (axial e pulpar) basta a remoção do tecido desorganizado (dentina afetada)
com a cureta.
Lama dentinária (smear layer): existem preparos em que se aproveita essa lama, embora ela não
possa estar com muito detrito, já que a proteção será feito por cima. Normalmente se é feito uma
limpeza, pode esta ser desmineralizante ou não desmineralizante.
É importante ressaltar que o ataque ácido na dentina, mesmo que por poucos segundos, com a
finalidade de remover a camada de smear layer, aumenta a permeabilidade dentinária e sua
sensibilidade, podendo interferir também no selamento dessa região.
Resumidamente, faz-se um capeamento pulpar direto. Primeiro lavar a cavidade com soro
fisiológico e caso tenha em mãos o Otosporin (medicamento de ouvido - corticosteroide, mas que
possui corticóide na sua composição e diminui a inflamação pulpar) pode aplicar sobre a polpa,
reduzindo o processo inflamatório há grandes chances de que essa polpa acidentalmente exposta
se regenere.
Tomar cuidado para não deixar cimento de hidróxido de cálcio nas paredes circundantes, uma
vez que, ele é hidrossolúvel e pode permitir o surgimento de microinfiltrações, portanto esse
material deve ser utilizado apenas nas paredes de fundo como forramento, em locais de maior
profundidade e por cima colocar o CIV.
- Técnicas usadas na proteção do complexo dentinopulpar
Proteção pulpar indireta: representa a aplicação de agentes seladores, forradores e/ou bases
protetoras nas paredes cavitárias com o objetivo de proteger o complexo dentino/pulpar das
diferentes tipos de injúrias; manter a vitalidade pulpar; inibir o processo carioso; reduzir a
microinfiltração e estimular a formação de dentina esclerosada, reacional e/ou reparadora.
Proteção pulpar direta: caracteriza-se pela aplicação de um agente protetor diretamente sobre o
tecido pulpar exposto, com a finalidade de manter sua vitalidade e conseqüentemente promover o
restabelecimento da polpa; estimular o desenvolvimento de nova dentina e proteger a polpa de
irritações adicionais posteriores.
Os adesivos devem ser usados em pares de hidrofílico e hidrofóbico, a parte hidrofílica é a que
combina com água, já que a dentina precisa de um pouco de água, essa parte vai fazer ligação
com a outra parte a ser colocada, a hidrofóbica, que é o verniz que recobre melhor por repelir a
água.
O adesivo deve ser aplicado de forma ativa (com força e tempo), em duas aplicações e com o
pincel no ângulo zero.
A eleição do tipo de adesivo depende de alguns fatores como a composição 1, o número de
frascos e a forma de aplicação, mas o adesivo ideal é aquele que faz menos penetração na
dentina e muda pouco a sua permeabilidade, lembrando que o condicionamento ácido em dentina
aumenta a permeabilidade e dificulta o selamento dessa região.
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Adesivos com partícula de carga para melhorar o selamento da dentina.
Camada híbrida: o adesivo penetra a dentina e tende a interagir quimicamente com microfibrinas
de colágeno, além da sua interação mecânica, com isso essa camada passa a ser chamada de
híbrida.
Hidróxido de cálcio em pó: é colocado em contato direto com a polpa, logo acima. Esse material
vai desencadear uma necrose para que abaixo dessa linha de necrose tenha a formação do
odontoblasto secundário e dentina reacional. Mas hoje o ideal é que o material em contato com a
polpa não cause reação nenhuma, então o hidróxido de cálcio não é mais tão bem visto.
Biodentine: tem como principal característica a absorção de água da dentina, isolando o meio e
permitindo que a polpa se recupere. Pode ser usado em contato direto com a polpa exposta.
Base - pode fazer uma base com uma camada de CIV de 2 mm e por cima fazer a
restauração, mas já existem resinas que podem fazer essa camada base, seguida de
adesivo autocondicionante e por fim a restauração;
Antes se acreditava que o forramento era a proteção pulpar devido a agressividade da amálgama
e da resina, porém o maior dano que se pode causar à polpa é a microinfiltração. Quando o
paciente, após o procedimento restaurador, apresenta queixa de dor e sensibilidade,
provavelmente a cavidade não foi lacrada/isolada corretamente, tendo infiltrações e
desencadeando a sintomatologia dolorosa.
A adesão do CIV à dentina é bem menor que o da resina composta a dentina, por conta disso
está se repensando o seu uso, é mais indicado em casos de restauração temporária. Outro
cuidado a se ter com o CIV é que, em cavidades com pouca permeabilidade, pouco líquido e
mais profunda, ele não adere bem, tendo uma maior taxa de contração que leva o paciente a
ter dor e sensibilidade por falta de selamento.
Capeador - é aquele material que pode ser usado na dentina pouco espessa. Usa o
hidróxido de cálcio e cimentos dentinários bioativos (MTA).
Lembrando que esse tratamento só é válido quando a polpa ainda tem capacidade de
regeneração, ou seja, dente com dor espontânea e pulsante não é mais indicado o tratamento
expectante, assim como dentes com mobilidade e alterações no tecido pulpar, porque isso já
pode ser um indicativo de abscesso.
Curetagem + Pulpotomia + Capeamento direto = tipos de proteção direta à polpa: nessas técnicas
o odontoblasto secundário é o responsável pela remineralização da dentina, que nesse caso será
a dentina terciária do tipo reacional.
Capeamento direto: essa técnica consiste na colocação direta na polpa de um material protetor
pulpar, geralmente hidróxido de cálcio PA, não é muito indicada em pacientes mais velhos devido
à baixa capacidade reacional da polpa, entretanto, é preciso analisar. O paciente pode ter idade
mais avançada, contudo, o seu dente foi pouco mexido ao longo da vida, logo, sua capacidade
reacional pode estar suficiente o bastante para a realização da técnica.
Curetagem pulpar: medida tomada em caso maior exposição acidental da polpa, nessa técnica se
faz a remoção parcial da polpa coronária.
Pulpotomia: quase o mesmo que a curetagem pulpar, mas nesse caso, faz-se a remoção total da
polpa coronária. É feita a remoção do tecido cariado, remove-se o teto da câmara pulpar e retira
toda a polpa coronária, lava a cavidade com soro fisiológico, faz a homeostasia e secagem da
cavidade, aplicação de otosporin. Em seguida aplicação de HC PA, CIV e restauração, podendo
ser provisória ou imediata.