Aula 01: Endodontia no traumatismo dentário.
Histórico do acidente:
Data: 17/10/2023.
Referências: Lopes & Siqueira – Capítulo 23.
O traumatismo dentário é bem comum dentro do
consultório odontológico, ele se configura como
pequenas fraturas ou prejuízos a estrutura
dentária, tecidos moles e ossos da face que podem
ou não acarretar na perda do elemento dentário.
1. Incidência:
▪ Pode ocorrer em qualquer idade.
▪ Mais comum em meninos, porém atualmente já
existem estudos que afirmam que o índice é
igual para ambos os sexos.
▪ Comum em dentes permanentes de crianças de
8 a 12 anos.
▪ Acomete mais incisivo central superior,
segundo lateral superior, centrais e laterais
inferiores.
Todas as pessoas passam por uma fase onde a
maxila é mais ``para frente/proeminente´´ do que
a mandíbula (Maloclusão II), assim não existindo
selamento labial.
O lábio é responsável por amortecer o impacto
quando caímos, mas como não existe selamento,
os dentes ficam sem essa ``barreira´´. Assim,
quando as crianças caem, as fraturas acabam
sendo mais frequentes nos anteriores superiores.
2.
Como, quando e onde ocorreu o acidente devem
ser descritos, pois tem grande importância para
resolução do problema.
a) Quando (tempo): Caso demore muito ou o
armazenamento do dente após a avulsão seja feito
da maneira errada, teremos o ressecamento das
fibras do ligamento, contaminação com a saliva e
formação de coágulos.
b) Como: Pode ajudar a localizar injúrias
específicas.
c) Onde: Necessidade de profilaxia contra tétano.
É importante perguntar aos pais ou paciente se
algum atendimento ou tratamento foi realizado,
pois o dente que já foi reimplantado ou
reposicionado pelo paciente pode aparentar
normalidade, e isso irá influenciar no prognóstico
e sequência do tratamento.
Quando o paciente chega ao consultório com um
quadro desse nível é necessário realizar um bom
exame clínico para proceder da melhor forma, e
assim alcançar um bom prognóstico.
1. Queixa principal:
Com exceção de dor e sangramento podem haver
queixas específicas como ``os dentes não estão
encaixando´´ e o clínico deve suspeitar de
deslocamento ou fratura óssea.
Dor apenas quando o paciente trinca os dentes
pode indicar fraturas coronárias, radiculares ou
ósseas e deslocamentos.
É indispensável que realizemos outros exames,
como:
2. Exame neurológico: Por vezes o paciente pode
apresentar complicações neurológicas, então é
ideal analisar:
▪ Comunicação do paciente.
▪ Dificuldade em focar ou movimentar os olhos.
▪ Dificuldade pra respirar.
▪ Zumbido no ouvido.
▪ Dor de cabeça, sonolência, tonteiras ou
vômitos.
▪ Tempo entre trauma e tratamento:
3. Exame clínico:
a) Exames externo:
Procurar sinais externos de injúria.
Palpação dos ossos e tecidos, registrando qualquer
área amolecida, com edema ou equimose
(vermelhidão), bochechas, pescoço e lábios.
Procurar evidências grosseiras de injúrias
b) Exame dos tecidos moles intraorais:
Avaliar lábios, bochechas, língua, mucosa jugal,
palato e assoalho bucal.
Em relação aos elementos, deve–se:
▪ Avaliar mobilidade dos elementos em questão.
▪ Observar exposição pulpar.
▪ Realizar testes de sensibilidade, todavia os testes
térmicos não são confiáveis inicialmente,
porém devem ser realizados para comparações
com testes de acompanhamento
No máximo o tratamento deve ser feito em 1 hora,
passou disso é uma tentativa.
Nas primeiras 48h ocorre uma reação inicial
proliferativa de no máximo 2mm de profundidade
de inflamação pulpar.
Depois de 48 horas as chances de contaminação
bacteriana direta aumentam de acordo com o
nível de inflamação.
Dessa maneira, quando mais tempo passar,
menores são as chances de sucesso e manutenção
da polpa saudável.
4. Exame radiográfico:
Busca por fraturas radiculares, coronárias
subgengivais, fraturas ósseas, reabsorção ou
presença de um corpo estranho.
Deve-se radiografar também tecidos moles para
identificar possíveis corpos estranhos.
Realizar várias tomadas com angulações
diferentes.
Podemos ter fraturas coronárias, coroa-raiz,
radiculares e injúrias por luxação. Vamos analisar
cada uma delas:
1. Fratura Coronária:
Podem ser: trincas de esmalte, fratura complicada
e fratura não complicada.
O objetivo é manter a vitalidade do dente.
a) Trincas de esmalte – fraturas incompletas ou
rachaduras do esmalte sem perda de estrutura
dentária. Nesses casos o risco de necrose pulpar é
baixo.
Caso haja sensibilidade podemos tratar, mas na
maior parte dos casos fazemos um
acompanhamento por cinco anos.
b) Fraturas não complicadas – Sem exposição
pulpar.
c) Fratura coronária complicada: Exposição
pulpar se não tratada resulta em necrose.
Pode ocorrer tanto em dentes imaturos, maduros e
imaturos necrosados com apicificação.
O tratamento irá depender:
▪ Estágio de desenvolvimento do dente.
▪ Tempo de exposição: Depois de 48 horas as chances
de contaminação são altas.
▪ Plano de tratamento restaurador
Tratamento para dentes imaturos com exposição
pulpar é conservador - Capeamento pulpar,
pulpotomia parcial e pulpotomia total:
Pulpotomia parcial – Remoção do tecido pulpar
coronário.
Usa hidróxido de cálcio PA + Dical + Cimento de
ionômero de vidro + resina composta.
Pulpotomia total: Remoção total da polpa coronária.
1. Anestesia, isolamento, desinfecção.
2. Cavidade profunda a nível de cervical usa broca
diamantada estéril (evita curetas).
3. Controle de sangramento com soro fisiológico.
4. Secagem com algodão estéril.
5. Usa hidróxido de cálcio PA + Dical + Cimento de
ionômero de vidro + resina composta.
Quando o dente é imaturo devemos tentar
manter a vitalidade até sua formação completa,
por isso é interessante optar por uma
tratamento conservador.
Tratamento para dente imaturo necrosado e com
apicificação: Dente com ápice aberto.
Nesses casos é impossível obturar o canal, por isso
devemos estimular o fechamento radicular para
posterior obturação.
1. Desinfecção e limpeza radicular com leve
instrumentação.
2. Boa irrigação.
3. Aplicação de pasta de hidróxido de cálcio na
cavidade e condensa na regão apical e preenche o
restante da cavidade e sela.
4. Acompanhamento de 6 a 18 meses.
Em casos de remoção do material deve-se aplicar
novamente, porém isso não pode ser recorrente.
Assim que constatar a formação da barreira
mineralizadora, realizamos a obturação.
2. Fratura coroa-raiz: O dente deve ser tratado
periodontalmente para permitir a colocação da
restauração coronária adequada.
3. Fratura Radicular:
Envolve cemento, dentina e polpa.
Esse tipo de injúria é relativamente incomum,
ocorrendo em menos de 3% dos casos. Raízes
incompletamente formadas com polpas vitais
raramente fraturam horizontalmente.
Quando uma raiz fratura horizontalmente o
segmento coronário é deslocado em um grau
variável, mas normalmente o segmento apical não
se desloca, assim não ocorre a necrose no
segmento apical.
Desse modo, a necrose pulpar no segmento
coronário é mais comum, e no segmento apical
mais raro.
Quanto mais próximo do terço cervical e
longitudinal pior o prognóstico.
a) Características clínicas:
A apresentação clínica é muito semelhante as
injúrias por luxação.
Quanto maior o deslocamento e mobilidade, pior
o prognóstico → A localização da fratura é
indicada pela extensão de deslocamento no
segmento coronário, ou seja, pode ser nenhum
deslocamento simulando uma injúria por
concussão (Fratura apical), como também pode
ser uma luxação extrusiva (cervical).
b) Tratamento:
Em alguns casos pode ser feito o reposicionamento
do fragmento e esplintagem semirrígida por 2 a 4
semanas.
Tratamento endodôntico no segmento coronário
usando, na maior parte dos casos, hidróxido de
cálcio para estimular a formação de barreira
apical.
Proservação e acompanhamento radiográfico.
4. Injúrias por luxação:
Dentro das injúrias por luxação temos os
seguintes conceitos:
Concussão - Subluxação - Luxação lateral
Luxação extrusiva - Luxação intrusiva
a) Concussão: Sem deslocamento e mobilidade,
porém o elemento fica sensível a percussão, pois
os tecidos de sustentação são lesionados.
b) Subluxação: Sem deslocamento, mobilidade
aumentada e sensibilidade a percussão. Em alguns
casos pode apresentar sangramento no sulco
gengival.
c) Luxação lateral: Deslocamento para vestibular,
lingual, distal ou mesial.
d) Luxação extrusiva: Deslocamento na direção
coronária.
e) Luxação intrusiva: Deslocamento em direção
apical, dentro do alvéolo.
Tendo isso em vista, vamos estudar mais a fundo
as injúrias por luxação:

A luxação pode ser definida como o deslocamento
dos elementos dentário, as injúrias por luxação
são as mais comuns das injúrias dentárias.
▪ Consequências biológicas:
Dente pode anquilosar.
Danos ao cemento e ligamento periodontal.
Suprimento pulpar pode ser comprometido, assim
podendo alterar ou perder a vitalidade da polpa.
Pode ocorrer reabsorção inflamatória interna ou
externa a longo ou curto prazo.
Infecção pulpar.
Obliteração dos canais radiculares.
É importante acompanhar para observar se
ocorrer alguma alteração, caso necessário deve
ser feito um tratamento endodôntico e medicar
com hidróxido de cálcio tanto para dentes
imaturos ou maduros.
1. Concussão:
O dente não apresenta mobilidade e
deslocamento, porém tem dor à percussão. A
princípio o teste de vitalidade pode ser negativo,
por isso deve ocorrer o acompanhamento com
radiografias.
Importante checar a oclusão para verificar se
possui alguma extrusão.
a) Acompanhamento: Três semanas → 3, 6 e 12
meses e anualmente.
A maior preocupação é com a necrose pulpar, por
isso a necessidade dos testes e acompanhamento.
b) Tratamento: Antes de realizar o tratamento é
importante realizar os testes de vitalidade,
percussão e radiografia, esperar um período e
refaze-los, pois os resultados podem ser falsos
negativos.
Caso o dente perda a vitalidade, realiza o
tratamento endodôntico, porém se o dente é
imaturo usa hidróxido de cálcio.
2. Subluxação:
Sem deslocamento, porém apresenta mobilidade e
sensibilidade a percussão.
Pode também apresentar sangramento ao nível do
sulco gengival.
Em casos de mobilidade acentuado posso fazer a
contenção com fio ortodôntico (contenção
flexível) ou fio 0,25 (Semi-rígido)
Tanto o acompanhamento como o tratamento são
iguais a da concussão.
3. Luxação extrusiva:
Deslocamento em direção coronária, podendo
haver deslocamento em direção lingual.
Em alguns casos ocorre ruptura das fibras do
ligamento d feixe vasculonervoso ao nível apical.
Sensibilidade a percussão.
Grande mobilidade horizontal e vertical.
Aumento do ligamento periodontal.
Em algumas situações o dente pode ser
reposicionado manualmente, essa manobra leva o
nome de reposicionamento digital, e logo após isso
deve ser feita uma contenção semirrígida
(Flexível)por 2 ou 4 semanas.
Verificar a oclusão, acompanha com teste e
radiografias.
Se necessário, realiza o tratamento endodôntico
com uso da medicação do hidróxido de cálcio.
4. Luxação lateral:
Dente apresenta deslocamento para oclusal e
vestibular, lingual, distal ou mesial, porém é mais
comum para lingual.
Por se tratar de um trauma mais intenso, além da
mobilidade pode ocorrer ruptura do feixe
vasculonervoso ao nível apical.
Normalmente não ocorre sensibilidade à
percussão.
Dor à palpação.
Radiograficamente o dente parece encurtado.
a) Tratamento: Reposicionamento bidigital
Delicadamente o dente deve ser reposicionado de
modo manual.
Esplintagem rígida durante 3 a 4 semanas.
Teste de vitalidade pode dar negativo, por isso
deve ter o acompanhamento com os testes e
radiografias.
Em caso de endodontia, realiza a aplicação do
hidróxido de cálcio.
5. Luxação intrusiva:
Deslocamento apical para dentro do alvéolo.
Apresenta som metálico ao teste de percussão e
infraoclusão.
Necrose é bem comum.
Dentes imaturos reerupcionam espontaneamente.
a) Tratamento: Ortodontia se a erupção não for
completa.
Em dentes maduros, deve ocorrer
reposicionamento de modo imediato.
Realiza a esplintagem semirrígida por 2 a 4
semanas.
Acompanhar evolução com testes de vitalidade.
Acompanhar a oclusão.
Se necessário, endodontia com aplicação do
hidróxido de cálcio.
O dente deve estar limpo e sua superfície radicular
sem danos para permitir o reimplante.
O dente deve ser armazenado em leite, saliva, soro
fisiológico ou água até a chegada no consultório.
É importante manter as células hidratadas para
manter sua viabilidade durante o reimplante,
células danificadas por ressecamento geram uma
resposta inflamatória sobre a superfície radicular.
Dessa forma, o osso irá se inserir sobre a raiz,
causando toda a substituição por osso.
2. Tratamento no consultório:
1° Primeiramente é necessário avaliar o estado do
o
dente e como ele foi armazenado.
2° História médica e do acidente.
3° Limpeza do alvéolo com soro fisiológico.
4° Avaliação do alvéolo: Nesse momento, caso o
alvéolo esteja seco é necessário estimular um
pequeno sangramento no mesmo.
5° Avaliação das estruturas adjacentes: Observar
a presença de fratura no osso e dentes adjacentes.

Em alguns casos o dente é totalmente deslocado do

3. Tratamento se caso o dente já tenha sido
alvéolo, nesses casos a injúria recebe o nome de
reimplantado:
avulsão.
1° Limpa a região com soro ou clorexidina.
2° Sutura regiões laceradas.
:
3. Verificar posição do dente e ajustar (se
A avulsão consiste no deslocamento total do dente necessário).
em seu alvéolo, corresponde entre 1% e 16% das
injúrias traumáticas. 4° Esplintagem semirrígida de 2 a 4 semanas.
Nessas situações, pode ser feito o reimplante do 5° Prescrição antibiótica e verifica a proteção do
dente, porém tudo irá depender da condição do paciente contra tétano.
elemento, armazenamento e tempo de reimplante.
Nesses casos, na maior parte, ocorre necrose
pulpar e por isso deve ser feito o tratamento Apesar do dente ser reimplantado e ter ocorrido
endodôntico. Caso o tratamento não seja feito, tudo dentro do esperado é necessário que o
pode ocasionar a reabsorção radicular. paciente retorne entre 7 – 10 dias para fazer
tratamento endodôntico:
O tratamento pode variar em função do tempo,
▪ Importante fazer uso do hidróxido de cálcio.
condição de armazenamento e estágio de
▪ Obturar apenas após a remoção da contenção.
amadurecimento do dente.
▪ Acompanhamento radiográfico e proserva.
1. Tratamento de emergência:
Deve ser realizado para evitar a necrose do
ligamento periodontal remanescente.
4. Tratamento para dente com rizogênese
completa mantido seco ou bem acondicionado
com tempo menor que 60 minutos:
Raiz deve ser irrigada e depois submersa com
solução salina para remoção de detritos.
Limpeza do alvéolo com soro.
Reimplante delicadamente com ligeira pressão
digital.
Sutura regiões laceradas se necessário.
Ajuste de posição se necessário.
Esplintagem semirrígida por 2 a 4 semanas.
5. Tratamento para dente com rizogênese
completa por um tempo maior que 60 minutos:
Remove o ligamento periodontal raspando com
bisturi ou gaze e soro.
Realiza o preparo químico-mecânico e aplica
medicação com hidróxido de cálcio por 7-10 dias.
Limpeza do alvéolo com soro fisiológico e delicada
curetagem.
Reimplanta delicadamente.
Sutura regiões laceradas se necessário.
Ajuste de posição se necessário.
Prescrição antibiótica e proteção contra o tétano.
Esplintagem semirrígida 2 a 4 semanas.
Obturação após remoção da contenção.
Acompanhamento radiográfico.
6. Tratamento para dente com rizogênese
incompleta caso já tenha sido reimplantado:
Limpa a região com soro e clorexidina.
Sutura as regiões laceradas.
Ajuste de posição se necessário.
Esplintagem semirrígida 2 a 4 semanas.
Prescrição antibiótica e proteção contra o tétano.
É importante acompanhar o caso para avaliar
sinais de revascularização, caso haja necrose ou
sinais de infecção inicial realiza endodontia, com
aplicação de hidróxido de cálcio por um longo
período para estimular formação de barreira
mineralizadora.
Acompanhamento radiográfico.
7. Tratamento para dente com rizogênese
incompleta – Bem acondicionado ou mantido seco
por menos de 60 minutos:
Raiz deve ser irrigada e depois submersa com
solução salina para remoção de detritos.
Limpeza do alvéolo com soro.
Reimplante delicadamente com ligeira pressão
digital.
Sutura regiões laceradas se necessário.
Ajuste de posição se necessário.
Esplintagem semirrígida por 2 a 4 semanas.
Acompanha para ver sinais de infecção e
revascularização.
Caso de necrose ou infecção inicial realizado
endodontia, com aplicação de hidróxido de cálcio
por um longo período para estimular formação de
barreira mineralizadora.
Acompanhamento radiográfico.
8. Tratamento para dente com rizogênese
incompleta – Bem acondicionado ou mantido seco
por maior de 60 minutos:
Remoção do ligamento periodontal raspando com
bisturi ou gaze e soro.
Realiza o preparo químico-mecânico e aplica
medicação com hidróxido de cálcio por 7-10 dias.
Limpeza do alvéolo com soro fisiológico e delicada
curetagem.
Reimplanta delicadamente.
Antibióticos sistêmicos – Amoxicilina 08h/8h – 7
dias e esquema vacinal.
Bochecho com clorexidina 0,12% por pelo menos
2 semanas.
Dieta macia por pelo menos 2 semanas.
Escove os dentes com uma escova macia após cada
refeição. Em dentes decíduos não podemos fazer o
reimplante para não atrapalhar o
desenvolvimento do germe.