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e uma profunda aquosa (fase sol).

A ação ciliar
RINOSSINUSITE AGUDA move a camada em direção ao óstio natural do
Os seios maxilares e etmoidais estão seio e então para nasofaringe. O
presentes desde o nascimento. O esfenoide e restabelecimento da camada mucosa é um
frontal aparecem entre 2 e 3 anos de idade. O processo contínuo.
desenvolvimento completo dos seios ocorre aos O transporte mucociliar funciona como
18 anos de idade. uma barreira para infecção por remover
O seio etmoidal é separado da órbita por bactérias e partículas inaladas. A camada aquosa
uma fina camada de osso, a lâmina papirácea. abaixo da camada mucosa contém
As células etmoidais anteriores drenam para o imunoglobulinas como IgA secretória, IgG e
meato médio e as células posteriores para o IgM e outras moléculas que contribuem na
meato superior. O óstio do seio etmoide tem 1 a defesa do hospedeiro.
2 mm. Existem 3 fatores fundamentais para a
O óstio do seio maxilar drena no meato fisiologia dos seios paranasais: a patência dos
médio e mede cerca de 2,5mm. O óstio óstios, a função ciliar e a qualidade das
acessório, quando presente, está no infundíbulo secreções nasais.
ou na região membranosa da parede medial do O mais importante fator na patogênese da
mesmo. rinossinusite é a patência do óstio dos seios. O
O esfenoide drena para o recesso tamanho do óstio varia para os diferentes seios,
esfenoetmoidal mas pode ser tão pequeno quanto 1 a 2 mm, que
é o diâmetro do óstio do seio etmoidal. Devido
O seio frontal varia muito em tamanho.
ao óstio estreito, o seio etmoidal é
Cerca de 10% dos adultos têm o frontal
provavelmente o mais susceptível à obstrução
rudimentar ou hipopneumatizado. O ducto
do óstio e infecção.
frontonasal se abre no meato médio, no recesso
frontoetmoidal ou na fossa nasal dependendo da Enquanto obstrução do óstio do seio na
inserção do processo uncinado. rinossinusite aguda é mais frequente devido ao
edema de mucosa, na rinossinusite crônica, uma
anormalidade anatômica que interfere na
drenagem através do óstio está frequentemente
presente.
Obstrução do óstio sinusal, parcial ou
completa, resulta em estagnação de secreções,
queda do pH e da tensão de oxigênio dentro do
seio. Estas alterações favorecem o crescimento
bacteriano. Secreção estagnada e infecção
bacteriana causam inflamação mucosa.
Subsequentemente há prejuízo ao epitélio
mucoso devido a enzimas proteolíticas liberadas
pelos leucócitos.
Com o edema adicional da mucosa, a
obstrução do óstio sinusal é completa. Tensão
de oxigênio dentro do seio pode chegar a zero,
promovendo crescimento anaeróbio e bactérias
A chave para função normal sinusal é o facultativas, que têm importante implicação na
sistema de transporte mucociliar, sendo o rinossinusite crônica. Mecanismos de defesa do
nariz e os seios paranasais revestidos por hospedeiro são prejudicados pelas condições de
epitélio ciliado colunar pseudoestratificado. baixa tensão de oxigênio com a geração de
Células caliciformes e glândulas seromucosas e radicais livres por leucócitos, dificultando a
mucosas produzem uma camada que tem dois resolução do processo infeccioso.
componentes: uma superficial mucosa (fase gel)
É um processo inflamatório da mucosa de Obs.: não se pede TC de rotina, pede-se apenas
revestimento da cavidade nasal e dos seios em casos de complicação para ver se há invasão
paranasais. periorbital.
Quando há secreção nos seios nasais isso  Na criança, inclui-se tosse, no adulto
não quer dizer nada num quadro de rinossinusite não é tão comum.
aguda, pois pode acontecer no indivíduo
alérgico, nos resfriados.
SUGEREM INFECCÇÃO BACTERIANA
Classificação:
Pelo menos 3 dos:
 Aguda: menos de 12 semanas
 Febre acima de 38ºC;
(desaparecendo completamente após
 Dupla piora – paciente está com
tratamento)
rinossinusite aguda, há melhora dos
 Viral (resfriado comum): menos de
sintomas e com alguns dias ele volta
10 dias;
pior do que o início, com sintomas
 Pós-viral – quando os sintomas
mais intensos e diferentes, ao contrário
aumentam após 5 dias ou são
da pós-viral (em que o paciente não
persistentes por mais de 10 dias;
melhora, apenas há exacerbação dos
Existem sinais que podem sugerir sintomas). Muito comum;
infecção bacteriana, mas se o paciente mantém  Doença intensa geralmente unilateral –
os mesmos sintomas, apenas há exacerbação ou pressão na face quando se movimenta,
persistência, considera-se pós-viral e há conduta que é a secreção presa nos seios
conservadora sem uso de antibiótico. É um paranasais, normalmente;
quadro autolimitado, assim como a rinossinusite  Dor intensa – pressão na face quando
viral. movimenta o roso, que é a secreção
 Recorrente: ≥ 4 episódios por ano com presa nos seios paranasais;
intervalos livres de sintomas – pensar  PCR/VHS aumentados.
se o paciente tem algum  Muco com coloração alterada – a
comprometimento de imunidade ou secreção muda de coloração e fica mais
cronicidade; espesso por recrutamento celular e pela
 Crônica: sintomas que duram ≥ 12 estase (geralmente de manhã é mais
semanas – melhora de 90% dos espesso e amarelado).
sintomas após tratamento, mas mantém Nem toda RS bacteriana precisa de
algum sintoma. Pode ter períodos de antibioticoterapia, porém em quadros mais
agudização, mas o paciente geralmente exacerbados, utiliza-se para evitar
mantém um platô com algum sintoma. complicações, que podem ser orbitárias (mais
comuns, 60-75% das complicações,
SINTOMATOLOGIA
predominam em crianças), intracranianas e
Dois ou mais sintomas: ósseas.

 Obstrução/congestão nasal ou EPIDEMIOLOGIA


descarga nasal anterior/posterior
(obrigatório); Afecção comum;
 Pressão/dor facial – crianças podem Adultos – 2 a 5 episódios de RSA
não reclamar de dor frontal, pois os viral/ano;
seios ainda não são tão desenvolvidos;
Crianças (idade escolar) – 7 a 10 episódios
 Redução/perda de olfato;
de RSA viral/ano
 Sinais endoscópicos de pólipos ou
descarga mucopurulenta e/ou De 0,5 a 2% das RSA virais evoluem para
edema/obstrução mucosal e/ou infecção bacteriana.
alterações de TC; Estima-se que a incidência anual de
complicações RS seja de aproximadamente 1
complicação para cada 12.000 casos em  Rinoscopia anterior: hiperemia e
crianças, enquanto para adultos esse número é edema na mucosa, secreção purulenta,
de 1 complicação para cada 32.000 casos. Além pólipos (pensar mais em RSC);
disso, em crianças, as complicações geralmente  Endoscopia: edema ou palidez da
advêm de um processo agudo (rinossinusite mucosa, secreção purulenta, pólipos
aguda – RSA), ao passo que, em adultos, as (pensar mais em RSC);
complicações estão mais comumente associadas  Cultura, biópsia, citologia:
a episódios de rinossinusite crônica (RSC)  Aspiração sinusal em pacientes
que não responderam à terapia
FISIOPATOLOGIA
empírica antimicrobiana;
É de causa multifatorial, advém da  Culturas guiadas por endoscópio
diminuição da capacidade mucociliar. podem ser consideradas como
alternativa em adultos.
Nos quadros infecciosos há espessamento
do muco, diminuição do batimento ciliar.
EXAME DE IMAGEM
Não se sabe se há relação direta entre
atopia e RSA, porém o que causa estase de Em casos não complicados não há
secreção leva a maior proliferação de patógenos. indicação de ser feito exame de imagem.

Edema da mucosa (obstrução dos óstios). O RX não tem valor diagnostico, é


controverso e discutível (baixa acurácia) – pega
Obstruções físicas causadas por variações
apenas uma parte dos seios nasais, pode ser
morfológicas/anatômicas, por exemplo um
pega uma região que não há secreção e pode
desvio de septo acentuado que favorece o
pegar apenas a coriza de uma RSA viral;
acumulo de secreção, hipertrofia da concha
média dos cornetos. TC: exame de escolha – em caso de
complicações, sempre deve ser pedido, para
Obs.: pode ser usado rinossoro por no máximo 5
avaliar a lâmina papirácea (avaliar migração da
dias em quadros de RSA, pela presença de
secreção para dentro da orbita). Para ver coleção
vasoconstritor que ajuda a diminuir o edema.
de abcesso ósseo, tem que ser pedido TC com
Microbiologia: contraste.
 Maioria viral RNM: avaliação de complicações regionais
 Bacteriana: Streptococcus e intracranianas; diagnóstico diferencial com
pneumoniae, Haemophilus influenzae, processos neoplásicos; suspeita de rinossinusite
Moraxella catarrhalis, menos comuns fúngica.
são Staphylococcus aureus e
anaeróbios. TRATAMENTO

DIAGNÓSTICO  Solução fisiológica nasal:


 Melhora da atividade ciliar com a
Baseado nos achados clínicos e na duração lavagem;
da sintomatologia.  Diminuição dos sintomas
Presença de bloqueio/congestão/obstrução respiratórios;
nasal; rinorreia ou gotejamento pós nasal; dor  Aumento da qualidade de vida
ou pressão facial; cefaleia; hipo/anosmia. durante a infecção;
 Frequência durante a infecção é
Dor de garganta, disfonia, tosse – sugere
maior, deve ser feita sempre que o
gripe ou resfriado, infecção viral.
paciente sentir necessidade ou de
Mal estar e febre. 2-4x/dia.
Questionar histórias previas, presença de  Corticoides nasais e anti-histamínicos;
alergias, recorrência.  Adjuvantes no tratamento
empírico, particularmente em
pacientes com história de
EXAME FÍSICO
rinite alérgica;
 Se o paciente já tem a queixa  Exames de imagem.
de plenitude aural (ouvido
tampado), evita-se anti-
histamínico, pois espessa a
secreção;
 Anti-histamínico espessa a
secreção e pode propiciar
complicações
 Corticoide nasal entra na linha
da tuba auditiva e auxilia na
sensação de plenitude aural
 Descongestionantes tópicos ou orais
 Pode ser utilizado por curto
período (no máximo 5-7 dias),
se o paciente já tem uso
crônico prefere-se evitar.
 Corticoides orais:
 Poucos estudos;
 Curto período de tempo;
 Usa-se em pacientes com
dores faciais muito intensas –
diminui o edema;
 Avaliar contraindicações,
como DM descompensada,
glaucoma.

Padrão ouro é amoxicilina, pode usar dose


dobrada quando o paciente é resistente. Se fez
uso recente, tentar fazer com clavulanato ou
trocar o antibiótico.
Falha no tratamento:
 Piora nos sintomas após 48-72h do
inicio da terapia microbiana ou não
melhora após 3-5 dias – pensar em
agente resistente, anormalidades
estruturais ou outras causas de falha.
 Cultura por punção ou material colhido
em endoscopia;

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