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Disfunção psiquiátrica muito presente. Com A fadiga é o sintoma mais comum da esclerose
comprometimento cognitivo que leva a incapacidade. múltipla. A maioria dos pacientes refere essa sensação
Está presente em mais da metade dos pacientes, de fadiga, de fraqueza.
chegando a ate 60%.
Espasmos do flexor é outra característica da
Disfunção vesical e intestinal os pacientes muitas doença. São espasmos tônicos de um membro ou da
vezes se queixam de urgência ou até mesmo excitação. face muitas vezes são precedidos por parestesias.
A incontinência intestinal acontece tanto por disfunção A mioquimia facial que são contrações trêmulas
do esfíncter quanto por espasticidade. crônicas do músculo orbicular do olho ou de outros
músculos envolvidos com mímica facial e decorrem
Outro sintoma comum é a vertigem que pode ser a também de uma lesão do nervo facial.
manifestação inicial, mas também pode ocorrer em
qualquer momento do curso da doença. E outros sintomas paroxísticos. Praticamente todas as
manifestações da esclerose múltipla, incluindo o sinal
As alterações da marcha podem acontecer por de Lhermitte, que é quando se flexiona a cabeça e a
fraqueza, ataxia, perda sensitiva ou ainda pelas pessoa tem a sensação de choque descendo por toda a
complicações desses sintomas. coluna vertebral e que pode ir até as pernas.
Quando faz a perda sensitiva, o que vai dar alteração Geralmente quando existe compressão radicular vai
na marcha é quando da uma lesão na sensibilidade apresentar esse sinal. É comum na esclerose múltipla e
na neuromielite óptica, que é outra doença
profunda. Por isso o paciente vai apresentar uma
ataxia, mas não é uma ataxia cerebelar, é por desmielinizante;
diminuição da sensibilidade profunda. Pode ter alterações sensitivas, fraqueza, ataxia,
diplopia. O que chama atenção é que podem ser
Paciente geralmente não sente onde está pisando, o que
leva a quedas frequentes. É comum no idoso, ele se paroxismos transitórios, ou seja, o paciente apresenta e
queixa de tontura, mas a tontura é um desequilíbrio e em seguida melhora. E essa duração pode ser de
quando vamos ver no exame neurológico, há uma minutos ou segundos e pode ser em salvas. Quer dizer,
não apresenta o déficit e permanece, esse déficit pode
diminuição da sensibilidade profunda, vista através do
diapasão. ser transitório, também na esclerose múltipla.
No meio neurológico, quando alguém chega se Como a doença tem essa característica de ser flutuante,
queixando de tontura, nós temos que saber se ele sente que ocorre uma melhora do quadro neurológico, depois
tudo girando, ou seja, vertigem, ou se é um ocorre uma lesão no espaço dentro do sistema nervoso.
desequilíbrio, que é o caso do idoso muitas vezes, por Precisa de um tempo e de um espaço para que ocorra
ataxia sensitiva; outro surto da doença.
A disartria, que pode ser por fraqueza da língua, Com isso, vai ter formas clínicas de como essa doença
devido a uma disfunção da porção inferior do tronco se apresenta é uma doença altamente variável e tem
encefálico ou a disartria espástica por lesão a presença desses ataques ou surtos. E o ataque ou
corticobulbar ou uma disartria escandida, quando surto é definido como distúrbio neurológico episódico
no qual as lesões causadoras são provavelmente de
ocorre uma lesão cerebelar. Essa última é a voz de
quem está embriagada. natureza inflamatória e desmielinizante.
A disfagia, o comprometimento da deglutição começa A primeira forma, e mais frequente, é a forma Surto-
Remissão (EMSR).
com a dificuldade para deglutir sólidos até a
dificuldade para deglutir líquidos; Caracteriza-se por ataques agudos,
A fraqueza facial é semelhante à paralisia de Bell. A clinicamente definidos, seguidos de recuperação
paralisia de Bell é a paralisia facial periférica. completa ou parcial em relação ao nível de
incapacidade preexistente, e pela falta de progressão
A perda do paladar, hiperacusia, dor retroauricular e da doença nos períodos interataques (remissões).
movimentos anormais ipsolaterais são características Os surtos duram em média, de uma a duas
da neuropatia facial periférica, não ocorrendo na semanas e regridem no transcurso de 4 a 8 semanas,
paralisia facial central. com ou sem tratamento. E chega a ser 90% dos casos
de esclerose múltipla, é por surto-remissão.
Neurologia – 2020.1
Resumindo:
No mesmo ano o seu aluno, Fernand Gault, descreveu encefálica que deu normal, fez ressonância de toda a
mais 17 casos. medula e aí que apareceu uma lesão desmielinizante
extensa cérvico-torácica.
Acchioti em 1907 foi o primeiro a sugerir que
chamasse Doença de Devic e foi descrito pela primeira Qual o diagnóstico? Reação vacinal? Porque com a
vez no Brasil por Aluízio Marques em 1943. historia dessa mielite 30 anos atrás chegaram
suspeitaram de neuromielite óptica, e entrou-se com o
Prevalência menor que a EM e é mais frequente em tratamento com rituximabe apesar do anticorpo AQP4
populações asiáticas e em afrodescendentes. Na EM ter sido negativo. Porque chamo a atenção disso?
acontece o quê? Existem zonas de prevalência. Mais Porque uma doença desmielinizante ás vezes o
prevalente em áreas de maior risco. diagnostico não é nos primeiros episódios.
Já a neuromielite óptica, em populações asiáticas e Não era mielite transversa, porque é quando ocorre
afrodescendentes. Foi considerada por muito tempo realmente uma cisão e o paciente apresenta uma
uma doença monofásica, e hoje se sabe que a forma paraplegia ou uma fraqueza ou ate mesmo uma
recorrente é a mais comum, cerca de 70% dos casos. incontinência urinaria pelo comprometimento medular.
Ela uma flutuação, surto-remissão.
Critérios Diagnósticos
Quadro clínico:
Tem que ter uma mielite longitudinalmente extensa e
Perda marcante da visão (justamente a neurite óptica bilateral recorrente e excluir
neuromielite óptica). diagnósticos alternativos.
Alterações da medula da mielite podem ser:
Alterações de sensibilidade; Esses critérios incluem duas condições clinicas: neurite
Fraqueza muscular; óptica e mielite aguda, e o auxilio da ressonância
Espasticidade; magnética e/ou a positividade no soro de anticorpo
Incoordenação; anti- aquaporina 4 (anti-AQP4).
Ataxia; Então a neuromielite óptica é definida como neurite
Incontinência urinaria, fecal e disfunções óptica e mielite aguda, mas pelo menos dois dos três
autonômicas; critérios de apoio tem que ter:
Recuperação dos ataques da doença de Devic é
tipicamente mais pobre do que nas remissões da EM Ressonância magnética com evidência de lesão
surto-remissão. medular contínua com extensão maior ou igual a três
corpos vertebrais;
O diagnóstico também é difícil, principalmente no Ressonância magnética de crânio na instalação
passado, que não se tinha ressonância. da doença que não preenche os critérios diagnósticos
para esclerose múltipla.
Recentemente, um colega apresentou um quadro de
mielite quando estudante de medicina durante seu
internato. Foi internado, ficou na UTI, tomou Quais os critérios que preenchem o diagnóstico para
corticoide, não se tinha ressonância na época no Brasil esclerose múltipla? São as lesões na ressonância
(1983). Foi chegar o primeiro aparelho de ressonância periventricular, justacortical, infratentorial e na
medula espinhal.
em 1986 no Rio de Janeiro. Foi quando eu estava
terminando o curso de medicina, então não se tinha
como dar o diagnostico e ele teve um quadro de mielite Presença de anticorpo sérico anti-AQP4 (5
transversa. Foi feito na época uma mielografia onde se anos de existência esse anticorpo). Embora que,
injeta contraste no espaço subaracnóideo como se fosse mesmo estando negativo, não exclui a neuromielite
uma raqui e faz o RX. Na ocasião não se viu nada, pelo óptica, pelo menos no Brasil, porque a sensibilidade
menos tumor foi excluído, e depois ele melhorou. na dosagem desse anticorpo é de 70%, é baixo.
A monofásica é mais grave que a recorrente, a Atenção: para as neoplasias, em especial a leucemia,
recuperação da monofásica é melhor que a recorrente, que ás vezes casos raros apresentar mielite por
a insuficiência respiratória é rara na monofásica e infiltração leucocitária. Uma paciente na véspera do
ocorre em 1/3 dos casos da recorrente. casamento apresentou uma paraplegia, foi parar no
hospital Santa Isabel, fizeram toda historia clinica e
A mortalidade em 5 anos é 10% na monofásica e 32% quando vem o hemograma, noventa mil leucócitos.
na recorrente. Não durou 1 semana.
Atenção: apesar de ser recorrente, ser menos grave ela Outra paciente na época da minha residência internada
mata muito mais. já com diagnóstico de leucemia, começa a ter uma dor
no olho, começou a inchar, de manhã para de tarde
Prognóstico: houve a saída do olho pela infiltração leucocitária.
A gravidade da neuriomielite óptica está associada a Tratamento:
frequência de recorrência dos eventos e cerca de 50%
dos pacientes são incapazes de deambular sem auxílio Na fase aguda: metilprednisolona IV 1g/dia por 3 a 5
ou apresentam perda visual total em pelo menos um dias Se não responde, faz plasmaférese como
dos olhos após 5 anos do início da doença. tratamento de resgate. De manutenção, azatioprina ou
rituximabe para prevenção de recidiva.
Diagnóstico diferencial:
Na ressonância magnética, quando tem neuromielite
Colagenoses/doenças inflamatórias: óptica aguda evidencia captação de contraste na porção
Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM), pré-quiasmática do nervo óptico em 94% dos casos e
Doença de Behçet, Doença mista do tecido hipersinal em T2 em 84%.
conjuntivo (DMTC), Granulomatose de Wegener,
Lúpus eritematoso sistêmico, Sarcoidose e outras As lesões da substância branca são pouco específicas,
mas podem ser observados nas áreas com grande
expressão da AQP4 como região periependimária,
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hipotálamo e tronco cerebral. Com a evolução, pode O tratamento de primeira linha da esclerose múltipla
acometer a substância branca periventicular, em toda a ainda se baseia no uso de drogas imunomoduladoras
sua extensão, com aumento do sinal no corpo caloso. injetáveis, que são os interferons e o acetato de
glatirâmer.
Pode ser confundindo com os achados da esclerose
múltipla, mas isso é durante a evolução porque a AQP4 Os critérios de falha terapêutica da esclerose múltipla
é um receptor do canal de agua localizado justamente são: aumento de surtos e surgimento de lesões novas
na região periependimária e no hipotálamo, então na nos primeiros 2 anos de doença.
evolução vai aparecer lesões desmielinizantes nessas
regiões. O natalizumabe e o fingolimode são medicações
aprovadas para uso na falha terapêutica como
imunomodulador na esclerose múltipla. Devem ser
usados com extrema cautela, sob supervisão de
especialistas, por causa do risco de leucoencefalopatia
multifocal progressiva (LEMP) e complicações
cardíacas fatais.