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Neurologia – 2020.

Doenças Desmielinizantes prevalência porque ocorrem menos de 50 casos por


100 mil habitantes.

As áreas de meio risco ou media prevalência com de


Depois dos traumatismos cranianos o que dá mais
50 a 100 casos por 100 mil habitantes, isso inclui o sul
incapacidade em adultos são as doenças
da Europa, dos EUA e a Austrália.
desmielinizantes. E dessas, a mais frequente é a
esclerose múltipla, mas também não é tão comum em As áreas de alto risco, também chamado de alta
nosso meio. prevalência, quando ocorre mais de casos por 100 mil
habitantes, isso inclui o norte dos EUA, da Europa, do
São afecções adquiridas apenas no SNC e cujo alvo é a
canada e da nova Zelândia. Ou seja, essas áreas mais
bainha de mielina. Então, é difícil definir porque não
afastadas do equador, que são mais frias onde tem
existe uma doença que vá atacar só a bainha de
menos sol e ocorre a maior prevalência de casos.
mielina. Quando existe uma causa, ou seja, uma
infecção, uma isquemia, ou um traumatismo que tenha Alguém dessa área de baixa incidência vem morar em
lesado bainha de mielina, não vai ser uma doença uma região mais tropical, o risco diminui? O risco
desmielinizante. Então, tem que ser uma afecção que diminui sim. E quem sai de uma região de baixa e vai
vai atacar a bainha de mielina só no SNC. pra uma área de alto risco, o risco dessa pessoa
permanece o mesmo. Existem muitos trabalhos
Então, elas são definidas através dos seguintes dados
mostrando que a vitamina D está relacionada com a
da patologia: destruição da bainha de mielina e depois
incidência da EM e de alguns tratamentos empíricos.
é que vem a destruição das fibras nervosas, com
Mas não são usadas na pratica clínica.
extensão para os axônios. Assim, existe uma infiltração
de células inflamatórias com distribuição perivascular A genética desenvolve fator de risco na
que são inicialmente na substância branca, em susceptibilidade à EM. Vemos que esses dados da
pequenos focos e que pode se alastrar. epidemiologia sugerem esse risco genético. Esse risco
é de 20 a 40x maior para descendentes de indivíduos
A principal doença desmielinizante que nós temos é a
afetados pela doença e que gêmeos monozigóticos tem
Esclerose múltipla, ela afeta o SNC, é crônica,
um risco de concordância de 20 a 30% quando
inflamatória e degenerativa, tem um caráter
comparados aos gêmeos dizigóticos que é de 4%.
imunológico e envolve cérebro, nervos óticos e
medula, não atingindo SNP. Tem como característica a Essa questão dessas zonas de baixa e alta prevalência,
desmielinização e a consequente lesão axonal. se dois gêmeos monozigóticos são separados, continua
Predominantemente na substancia branca que se morando em zona de alto risco e o outro vem para a de
dissemina no tempo e no espaço. baixo risco, esse que vive na de baixo risco também
tem menor incidência.
O que queremos dizer é que as doenças mielinizantes
têm um caráter flutuante. Antigamente era assim que A genética é importante, mas quando vai para fatores
era diagnosticado  uma pessoa tem um déficit ambientais, ela muda um pouco. Dentro da genética
neurológico, melhora e daqui a algum tempo tem outro temos uma associação dentro do complexo de
déficit em outra localização do SN. Então, precisa de histocompatibilidade maior e sempre está presente
um tempo, e de um espaço que é dentro do SNC. (algum gene que não da para entender) dentro das
populações com EM.
Esclerose Múltipla
Foi descrita por Charcout baseado nos achados Os fatores ambientais: associação com os vírus de
anatomopatológicos como esclerose em placas com os Epstein barr e o herpes vírus.
achados do exame neurológico.
Alta prevalência em altitudes mais elevadas e presença
A esclerose múltipla acomete entre 10 e 50 anos de desses surtos em algumas áreas e ausência de
idade com maior incidência no sexo feminino por volta penetrância completa mesmo em gêmeos
dos 35 aos 40 anos. monozigóticos se separados.
Ela apresenta áreas de baixo risco que são justamente a Portanto, é uma doença com uma resposta imune
América latina, Ásia e África onde está mais próximo aberrante, seguido do ambiente e geneticamente
do equador. Também são chamadas de zona de baixa susceptível agindo com uma lesão na bainha de mielina
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e lesão neuronal posteriormente. Podendo ou não  Pode apresentar dor, diminuição de


ocorrer um processo de degeneração. sensibilidade, parestesia, incontinência, diarreias,
retenção urinaria.
O grande desafio é ter a identificação do fator
 Toda queixa neurológica tem que ser
imunológico que leva ao desencadeamento da reação
valorizada e avaliada.
imunológica aberrante.
Com esse quadro clinico, a manifestação da doença
Geralmente, nos surtos de EM acontecem após uma
pode ser aguda ou insidiosa e a gravidade também é
virose ou após uma vacinação. Ou seja, geralmente
variável.
após uma infecção viral.
Podem ser com alterações da sensibilidade, perda
Quanto à patologia e imunologia, são áreas de perda
visual, diplopia, ataxia e distúrbios esfincterianos.
de mielina dos dentrócitos associado a um infiltrado de
células linfocitárias T e poucas B e macrófagos. E, Essa alteração de sensibilidade o mais comum
assim, a perda de mielina é focal, diferenciando a EM corresponde às parestesias, sensação de formigamento,
de outras Leucodistrofias. de queimação, corpo estranho, ou ate mesmo uma
diminuição de sensibilidade superficial e pode ocorrer
Ocorre a preservação relativa de axônios e de
com uma dor neuropática crônica, como por exemplo,
neurônios inicialmente, que também ajuda a diferenciar
uma neurogia do trigêmeo, que tem como característica
a EM.
poder ser bilateral e acometer mais o ramo 1 do nervo
trigêmeo.

A neurite óptica é a segunda manifestação mais


comum da EM e caracteriza com uma perda visual
unilateral com instalação de horas ou dias e a perda
visual pode ser sutil.

Existe a associação de dor periorbitária durante a


movimentação ocular durante esse quadro de neurite
óptica.

Quanto aos sintomas motores, pode ser só uma


fraqueza apendicular, uma perda da destreza ou
alterações da marcha e esses sintomas eles podem se
instalar em horas ou dias, mas ás vezes o paciente
Quadro Clínico: desperta com déficit motor, simulando um Acidente
Vascular.

Os reflexos motores estão diminuídos e isso pode ser


porque essas placas desmielinizantes ocorrem na
medula, gerando uma diminuição do reflexo.

A diplopia é a visão dupla, causada pela


desconjugação dos movimentos oculares. E o que é
mais comum observado é a oftalmoplegia binuclear,
pois essa placa desmielinizante vai afetar o fascículo
medial que é justamente esse trato que vai unir o
núcleo do nervo abducente com o núcleo do nervo
oculomotor contralateral. Com isso, vai apresentar essa
oftalmoplegia chamada internuclear e vai apresentar
 Qualquer achado neurológico, desde uma um nistagmo compensatório.
fadiga, depressão, humor instável;
Pode apresentar também ataxia e tremor, alteração da
 Comprometimento cognitivo, nistagmo,
marcha é uma coisa comum na EM, isso ocorre porque
neurite óptica, diplopia, desartria, dificuldade de
afeta as vias aferentes e eferentes do cerebelo.
deglutição;
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Disfunção psiquiátrica muito presente. Com A fadiga é o sintoma mais comum da esclerose
comprometimento cognitivo que leva a incapacidade. múltipla. A maioria dos pacientes refere essa sensação
Está presente em mais da metade dos pacientes, de fadiga, de fraqueza.
chegando a ate 60%.
Espasmos do flexor  é outra característica da
Disfunção vesical e intestinal os pacientes muitas doença. São espasmos tônicos de um membro ou da
vezes se queixam de urgência ou até mesmo excitação. face muitas vezes são precedidos por parestesias.

A incontinência intestinal acontece tanto por disfunção A mioquimia facial que são contrações trêmulas
do esfíncter quanto por espasticidade. crônicas do músculo orbicular do olho ou de outros
músculos envolvidos com mímica facial e decorrem
Outro sintoma comum é a vertigem que pode ser a também de uma lesão do nervo facial.
manifestação inicial, mas também pode ocorrer em
qualquer momento do curso da doença. E outros sintomas paroxísticos. Praticamente todas as
manifestações da esclerose múltipla, incluindo o sinal
As alterações da marcha podem acontecer por de Lhermitte, que é quando se flexiona a cabeça e a
fraqueza, ataxia, perda sensitiva ou ainda pelas pessoa tem a sensação de choque descendo por toda a
complicações desses sintomas. coluna vertebral e que pode ir até as pernas.
Quando faz a perda sensitiva, o que vai dar alteração Geralmente quando existe compressão radicular vai
na marcha é quando da uma lesão na sensibilidade apresentar esse sinal. É comum na esclerose múltipla e
na neuromielite óptica, que é outra doença
profunda. Por isso o paciente vai apresentar uma
ataxia, mas não é uma ataxia cerebelar, é por desmielinizante;
diminuição da sensibilidade profunda. Pode ter alterações sensitivas, fraqueza, ataxia,
diplopia. O que chama atenção é que podem ser
Paciente geralmente não sente onde está pisando, o que
leva a quedas frequentes. É comum no idoso, ele se paroxismos transitórios, ou seja, o paciente apresenta e
queixa de tontura, mas a tontura é um desequilíbrio e em seguida melhora. E essa duração pode ser de
quando vamos ver no exame neurológico, há uma minutos ou segundos e pode ser em salvas. Quer dizer,
não apresenta o déficit e permanece, esse déficit pode
diminuição da sensibilidade profunda, vista através do
diapasão. ser transitório, também na esclerose múltipla.

No meio neurológico, quando alguém chega se Como a doença tem essa característica de ser flutuante,
queixando de tontura, nós temos que saber se ele sente que ocorre uma melhora do quadro neurológico, depois
tudo girando, ou seja, vertigem, ou se é um ocorre uma lesão no espaço dentro do sistema nervoso.
desequilíbrio, que é o caso do idoso muitas vezes, por Precisa de um tempo e de um espaço para que ocorra
ataxia sensitiva; outro surto da doença.

A disartria, que pode ser por fraqueza da língua, Com isso, vai ter formas clínicas de como essa doença
devido a uma disfunção da porção inferior do tronco se apresenta  é uma doença altamente variável e tem
encefálico ou a disartria espástica por lesão a presença desses ataques ou surtos. E o ataque ou
corticobulbar ou uma disartria escandida, quando surto é definido como distúrbio neurológico episódico
no qual as lesões causadoras são provavelmente de
ocorre uma lesão cerebelar. Essa última é a voz de
quem está embriagada. natureza inflamatória e desmielinizante.

A disfagia, o comprometimento da deglutição começa A primeira forma, e mais frequente, é a forma Surto-
Remissão (EMSR).
com a dificuldade para deglutir sólidos até a
dificuldade para deglutir líquidos;  Caracteriza-se por ataques agudos,
A fraqueza facial é semelhante à paralisia de Bell. A clinicamente definidos, seguidos de recuperação
paralisia de Bell é a paralisia facial periférica. completa ou parcial em relação ao nível de
incapacidade preexistente, e pela falta de progressão
A perda do paladar, hiperacusia, dor retroauricular e da doença nos períodos interataques (remissões).
movimentos anormais ipsolaterais são características  Os surtos duram em média, de uma a duas
da neuropatia facial periférica, não ocorrendo na semanas e regridem no transcurso de 4 a 8 semanas,
paralisia facial central. com ou sem tratamento. E chega a ser 90% dos casos
de esclerose múltipla, é por surto-remissão.
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A segunda forma é a Primariamente Progressiva


(EMPP).

 A doença apresenta caráter progressivo


(incapacitante) desde o início. Vai piorando, ocorre
um déficit neurológico, ele não melhora, acontece
outro e vai progredindo a incapacidade; Surto-remissão  O paciente tem um surto e volta,
 A perda visual é rara nessa forma; ficando sem incapacidade. Novamente tem outro surto
 Os homens são afetados com frequência e fica sem incapacidade, progressivamente, embora
semelhante à das mulheres só que numa idade mais que é uma doença degenerativa, então ela vai
avançada 40 anos versus 30 anos na forma EMSR; progredir, o paciente termina tendo déficit neurológico
permanente.
A terceira forma é a forma Secundariamente
Progressiva (EMSP). Já essa fase surto-remissão depois secundariamente
progressiva ela começa com surto-remissão, surto
 Ocorre após uma fase inicial de surto-remissão,
remissão e depois ela progride rapidamente para um
desenvolvendo-se, depois, uma fase de progressão da
nível de incapacidade.
doença com ou sem recidivas totais e chega a
acontecer em 10% dos pacientes; Com progressão primária ela sempre vai acumulando
 Os pacientes com esta forma tem uma média os déficits. E a progressão primária com surtos ela vai
de uma crise por ano nessa forma; sempre piorando, mas vai sempre tendo uma piora e
 O tempo médio desde o diagnóstico da forma uma melhora para a incapacidade que ela já tinha.
surtos-remissões para a forma secundariamente
progressiva é de 10 anos; Fatores que influenciam no diagnóstico (no slide diz
prognóstico):
OBS: O diagnóstico de esclerose múltipla não é dado
na primeira consulta. E para dizer a forma clínica vai  Atenção: para pacientes acima dos 40 anos de
ter que acompanhar esse paciente por vários anos para idade quando apresenta o primeiro surto;
dizer que forma clínica ele apresenta. Ocorre  A presença de sintomas motor, cerebelar,
incapacidade para deambular em 15-25 anos. esfincteriano ou sintomatologia polirregional pode
indicar um mau prognóstico;
Temos ainda a forma Progressiva com Surtos-  Uma maior frequência dos surtos nos primeiros
Remissão (EMP-SR). anos de doença;
 Intervalo curto entre os dois primeiros surtos
 Caracteriza-se pela progressão da doença desde
também pode indicar que é um mau prognóstico;
seu início, porém, pontuada de surtos agudos
 Se as remissões são incompletas (forma mais
seguidos por recuperação total ou parcial em relação
progressiva) e essa forma progressiva desde o início
ao nível pré-existente da incapacidade;
ou o tempo curto para o início da fase progressiva;
 Ocorre em apenas 5% dos pacientes;
 Então aquela que é secundariamente
 Alguns estudos tentam mostrar que a história
progressiva se ela rapidamente evolui para uma
natural tanto da esclerose múltipla primariamente
manutenção dos déficits indica um pior prognóstico;
progressiva quanto da esclerose múltipla progressiva
com surto-remissão elas podem ser semelhantes As escalas de classificação  a Escala Expandida
originando dúvidas quanto à separação das mesmas. de Incapacidade
 De repente é uma mesma forma clínica, existe
essa dúvida; Se vocês vão fazer alguma prova de concurso, pode se
referir á esclerose múltipla e sem dizer o estado clínico
do paciente dizer que pela Escala Expandida de
Incapacidade;

Vai quantificar o comprometimento do exame


neurológico com os escores de escala funcional, além
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de considerar a extensão da incapacidade


deambulatória e as limitações nos cuidados pessoais.

Zero é normal e 10 é a morte por esclerose múltipla;

Critérios diagnósticos para dizer que o paciente tem


esclerose múltipla.

Em 1954, Allison e Millar já formularam os primeiros


critérios para diagnóstico de esclerose múltipla.

A partir de 1965 apareceram os critérios de


Schummacher que se baseiam na demonstração da
disseminação no tempo e espaço (surtos com
Professor: saber é que para dizer que o paciente tem
evidências de acometimento de locais distintos do
esclerose múltipla ele tem que ter tido dois surtos e
SNC), na ausência de outro Diagnóstico possível (no
duas lesões em áreas diferentes do SNC. Aí para dizer
better explanation). Ou seja, a questão de a doença ser
que tem esclerose múltipla tem que ter o seguimento e
flutuante e acometimento de vários espaços do SNC,
usar esses critérios.
assim com déficits diferentes.
Propedêutica complementar:
Além dos critérios de Schummacher, em 1983 foi
integrado a RNM dos potenciais evocados A ressonância magnética que entra em 1ª lugar e que
(principalmente somatossensitivos e visuais) e análise revela alterações em 95 a 99% do pacientes com a
do LCR (critérios de Posner). É justamente quando a forma surtos-remissões da doença.
RNM foi instalada e descoberta que era possível fazer
o diagnóstico por ressonância e por ondas  Mas existem doenças que mimetizam essas
eletromagnéticas. Até então só se tinha o RX, já se doenças desmielinizantes.
tinha a tomografia, mas que não via as lesões  Então, portanto, a especificidade RM do
desmielinizantes. encéfalo é apenas de 49 a 65%.
 As imagens em T2 geralmente têm um aspecto
A partir de 2001, Ian McDonald publicou uma nova arredondado ou ovóide, localizadas no corpo caloso e
versão de critérios diagnósticos de EM (2005). na substância branca periventricular e subcortical, são
Fez em 2010 e até esse ano já tem os novos critérios as características dessas lesões de esclerose múltipla
diagnósticos que é de McDonald. O que tem no livro (periventricular, justacortical, infratentorial e na
são os critérios de 2005. O que ele quer que saiba é medula espinhal).
pelo menos o primeiro critério e como vai dar esse  Nas sequências em T1, quando o paciente já
diagnóstico de esclerose múltipla. tem essas lesões, que são as imagens de T2, podem
aparecer lesões mais escuras, chamadas buracos
negros da T1, têm sido associadas a placas de EM
crônica e perda axonal (pelo histopatológico).

Na análise do LCR ele é normal em 85 a 90% dos


pacientes com esclerose múltipla, mas podem
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acontecer evidências de síntese intratecal –


gamaglobulina.

 Assim, pode ser observada elevação da taxa de


imunoglobulina ou pela presença de duas ou mais
bandas oligoclonais no líquor (sem que estas estejam
presentes no sangue) – então aí vai favorecer o
diagnóstico de esclerose múltipla quando há a
presença dessas bandas oligoclonais no líquor.
 Agora em 2017 foi publicado que existem
biomarcadores para acompanhar a doença:
quimiocina CXCL13, fetuína A e neurofilamento de
cadeia leve vão servir para acompanhar o tratamento
da esclerose múltipla. Dar para ver o cerebelo, periventriculares, corpo
 Não é usado para diagnóstico de esclerose caloso. E uma característica que chama a atenção é a
múltipla ainda, mas para acompanhamento (não deve formação desses dedos de Dawson (imagem abaixo),
ser barato). acima do corpo caloso.

Os estudos de potenciais evocados visuais (PEV) são


anormais em 85% dos pacientes com esclerose
múltipla, mas essas anormalidades do potencial
evocado estão presentes em ampla gama de doenças
que afetam o sistema nervoso, e assim limita a sua
utilidade diagnóstica.

É característico da esclerose múltipla o aparecimento


desses dedos de Dawson.

Essas lesões na ressonância: são lesões ovoides,


hipercaptantes (captam contraste gadolíneo), são
subcortais, periventriculares e justacorticais. Também
atacam a medula espinhal, aqui no corpo caloso e
regiões periventriculares. São essas lesões
características hipercaptantes da esclerose múltipla;
Imagem acima: Uma disseminação no tempo e espaço.
Paciente com lesão medular e outra encefálica. E com
a evolução ocorreu uma regressão das lesões iniciais e
aparecimento de novas lesões em 3 meses. Paciente
evoluiu para esclerose múltipla.
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Só pode fechar o diagnóstico se houver progressão? Se


houver progressão. O surto-remissão que é a mais
frequente. Às vezes existem as formas progressivas,
não de EM, mas de outras doenças desmielinizantes.

Por isso Loren A Rolak compilou 100 doenças


neurológicas que podem fazer diagnostico diferencial
com EM.

Resumindo:

I. Se apresentar como uma mielopatia


progressiva, pode suspeitar de uma neoplasia,
malformação arteriovenosa, deficiência de vitamina
No FLAIR, mostrando essas lesões ovoides, B12, sarcoidose, sindromede Sjögren, paraplegia
periventriculares. Em T1 aparece o buraco negro. A espástica hereditária, adrenomielopatia (em
mesma imagem, mas em T1 aparece uma lesão mulheres), sífilis, infecção pelo vírus da
hipocaptante, significando uma perda neuronal. São os imunodeficiência humana (HIV) tipos 1 e 2; pode dar
chamados buracos negros. Onde existia a lesão uma mielopatia progressiva e tem que fazer o
desmielinizante passa a apresentar em T1 essa imagem diagnóstico diferencial de EM;
não captante de constraste. II. Se há um comprometimento cognitivo
progressivo com envolvimento simétrico da
A esclerose múltipla (EM) também pode ser de inicio substância branca, temos as adrenoleucodistrofia,
precoce, como imagem abaixo de uma ressonância de leucodistrofia metacromática, doença de Krabbe,
criança, deficiência de metilenotetra-hidrofolato redutase, a
deficiência de biotinidase, a arteriopatia autossômica
dominante cerebral com infartos subcorticais e
leucoencefalopatia (que é o CADASIL) – vai ter
esses microinfartos e vai formar lesões tipo
desmielinizantes, então vai fazer diagnóstico
diferencial;
III. Neuropatias cranianas:
 Ocorre afecção dos nervos ópticos e o
complexo óculo-motor,além de produzir paresia
facial;
 A síndrome de Behçet deve ser suspeitada em
qualquer paciente com neuropatia craniana e
ulcerações orais;
 A síndrome de Sjögren, que está associada a
xerostomia e xeroftalmia;
Mostra os dedos de Dawson. Evoluíram para formas  A doença de Lyme e a sarcoidose podem
tumefativas, esses dedos de Dawson são lesões causar paresia facial bilateral.
bastante grandes de EM. Porque existem as formas
variantes da EM, existem outras doenças Tratamento
desmielinizantes que podem até simular um tumor.
Objetivos: combater os surtos, modificar o curso da
Há algum tempo ele pegou uma paciente no HU que doença (evitar a progressão) e melhorar o quadro
vinha há um tempo com HD de tumor cerebral, vinha sintomático;
com a RNM. Mas fazia 06 meses e ela ainda estava
viva. Na ressonância tinha o diagnostico de tumor E o arsenal que vamos ter vai ser lançar mão depois da
cerebral, mas era uma lesão desmielinizante. Uma fisioterapia, fonoaudiologia e apoio psicológico, já que
lesão tumefativa com desvio da linha média, paciente 60% desses pacientes apresentam um quadro
tinha apresentado um déficit motor com melhora, mas depressivo.
a lesão estava lá.
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ARSENAL: Corticosteróides, imunoglobulina humana,  Síndrome Radiologicamente Isolada (RIS) –


imunomoduladores e imunossupressores. paciente que vai fazer ressonância por outra causa e
aparece uma lesão desmielinizante;
TRATAMENTO DOS SURTOS
 Síndrome Clinicamente Isolada (CIS) –
Metilprednisolona IV, 1 g/dia ou VO 500mg 12/12hs paciente tem um déficit motor ou neurológico e se
durante 3 a 7 dias (de forma lenta, em 3-4h) OU tem uma lesão desmielinizante;
 Neuromielite Óptica – até 2012 era
Imunoglobulina humana IV (IgIV), 400mg/Kg/dia, considerada uma forma variante de EM, mas desde
durante 5 dias OU então se descobriu que é uma canalopatia porque
existe um anticorpo, aquaporina 4, que tirou a
Plasmaférese nos casos refratários aos corticosteróides.
neuromielite óptica da forma variante da EM e
TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO: passou a ser uma doença específica;
imunomoduladores.  Formas tumefativas ou pseudotumorais –
simula tumor, como a paciente do HU que ele
Escolhe só um (interferon ou acetato) relatou;
 Síndromes Primariamente Progressivas –
Imunoglobulina humana IV (IgIV), 400mg/Kg/dia OU
não são na EM, isso aqui é outra forma fulminante, o
Interferona beta –1a (Avonex) 30mcg IM, semanal OU paciente começa a apresentar lesões desmielinizantes
e evolui rapidamente para o óbito;
Interferona beta –1a (Rebif), 22 mcg ou 44 mcg SC 3  Formas Monofásicas e Fulminantes:
vezes na semana OU
Encefalomielite disseminada aguda (ADEM) –
Acetato de Glatiramer (Copaxone) SC, 20 mg. acomete mais crianças, mas pode acometer adulto,
Diariamente geralmente após uma infecção viral ou vacinação –
ocorre o aparecimento de lesões desmielinizantes no
Quando falha o tratamento pode lançar mão do
sistema nervoso e o embotamento da consciência. É
imunomodulador/imunossupressor que é o Anticorpo
uma doença muitas vezes reversível, mas acontece esse
monoclonal - natalizumab –(Tysibri) Uso IV, 300 mg a
quadro desmielinizante do SNC após uma vacinação. É
cada 30 dias.
comum em criança.
E concomitante pode fazer imunossupressores:
Doença de Marburg, Esclerose concêntrica de Baló,
ciclofosfamida, metrotexato, azotioprina, cladribina,
Doença de Schilder: são lesões desmielinizantes que
ciclosporina, mitoxantrona. Não se faz tudo de uma
acometem mais crianças e são também de forma
vez, mas de uma forma que o paciente está em
fulminantes. Pelo que descrevem é só o tamanho e a
evolução, às vezes no meio faz metilprednisolona, não
forma que essa lesão desmielinizante aparece no SNC
responde, faz plasmaferese e não responde, então vai
e não preenche os critérios para EM.
ter que lançar mão também dos imunossupressores
durante o curso da doença. Síndrome Radiológica Isolada (RIS): um
incidentaloma.
Mas suspende anterior ou associa? Por exemplo, se
associar a imunoglobulina? A imunoglobulina se faz Faz uma RNM por outro motivo e encontra uma lesão
no surto. Geralmente não se faz imunoglobulina de desmielinizante. Então, o diagnóstico de EM envolve
manutenção porque tem os efeitos colaterais graves da quadro clínico compatível, obrigatoriamente. E essa
imunoglobulina, então não faz imunoglobulina. Síndrome Radiológica Isolada estaria relacionada a um
Primeiro corticoide, depois plasmaferese. Às vezes se risco aumentado para desenvolvimento de Síndrome
faz imunoglobulina quando não se tem à disposição a Clinicamente Isolada (CIS) ou mesmo EM.
plasmaferese. Em João Pessoa até dia desses não tinha
onde fazer plasmaferese. Hoje tem, no serviço São lesões gradualmente positivas ou acometimento
particular, não pelo SUS. medular são os preditores de conversão mais
confiáveis que antigamente se chamava que se
Existem as formas variantes de EM, que são as converteu em esclerose múltipla. Hoje nem se usa mais
doenças desmielinizantes inflamatórias idiopáticas. esse termo de conversão.
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Imagem acima: A paciente fez uma lesão, vinha em


tratamento psiquiátrico e fez a ressonância e
apareceram lesões características desmielinizantes. Imagem acima: uma síndrome clínica isolada em uma
Mas não tem outro quadro clinico que diga que é uma paciente jovem, tendo o 1o episódio de neurite óptica
esclerose múltipla. Se apresentar um déficit retrobulbar. Observa uma neurite óptica com uma lesão
neurológico com a lesão correspondente, aí sim vai desmielinizante em T2 e T1 pelo gadolínio e lesões
fechar o diagnóstico. periventriculares e subcorticais. Um ano após, ela
evoluiu para EM, porque houve o surgimento de novas
A Síndrome Clínica Isolada é a apresentação inaugural lesões e o quadro clinico de parestesia em hemicorpo
aguda de processo presumidamente inflamatório direito. Então, o sintoma dela só foi uma parestesia no
desmielinizante; é monofocal ou ocasionalmente corpo.
multifocal, na ausência de eventos desmielinizantes
prévios. Muitas vezes a gente desvaloriza o sintoma de alguém
que fala que sente uma queimação no braço e diz que o
Até 80% desses casos ocorrem a partir de quadro é psicológico. Não pode, tem que valorizar,
manifestações dos nervos ópticos, mas pode ser no precisa acompanhar. Talvez naquele momento não seja
telencéfalo ou da medula espinhal. tão importante, mas às vezes é necessário acompanhar.

A neurite óptica é tipicamente unilateral, com dor à Neuromielite óptica - NMO


movimentação ocular e/ou redução da acuidade visual. É considerada uma variante da EM, é uma doença
independente ou Doença de Devic.
Assim, essa avaliação oftalmoscópica não é necessária
na neurite óptica (retrobulbar). É uma doença crônica rara, inflamatória e
desmielinizante do SNC que se parece com a esclerose
O comprometimento inicial do nervo óptico é o evento múltipla.
inicial da EM 20% dos casos e a remissão completa ou
parcial pode ocorrer. Caracterizada por ataques agudos de neurite óptica
(NO), geralmente bilateral.
A mielite transversa é geralmente parcial nesse caso de
síndrome clínica isolada. E ao mesmo tempo, em poucos dias ou mais raro em
alguns meses, a NO é seguida por mielopatia
E esses pacientes com síndrome clínica isolada não transversa severa (MT).
necessariamente têm esclerose múltipla, mas sim um
risco maior de desenvolver EM. Apenas 20% dos casos da mielite transversa precedem
a neuromielite óptica.
E esses riscos são assim, de 50-75% dos pacientes que
têm lesões encefálicas subclínicas durante o evento Canalopatia que afeta o funcionamento da aquaporina-
inicial (síndrome clínica isolada de alto risco) ou 4 (AQP4) no SNC  Foi á descoberta desse anticorpo
indicando a presença de disseminação espacial do que fez a neuromielite óptica deixar de ser uma
processo desmielinizante (aumenta em 88% o risco variante da EM para ser uma doença independente.
para desenvolvimento de EM).
Foi descrita pela primeira vez por Eugène Devic em
1894, descreveu o caso de uma paciente com 45 anos.
Neurologia – 2020.1

No mesmo ano o seu aluno, Fernand Gault, descreveu encefálica que deu normal, fez ressonância de toda a
mais 17 casos. medula e aí que apareceu uma lesão desmielinizante
extensa cérvico-torácica.
Acchioti em 1907 foi o primeiro a sugerir que
chamasse Doença de Devic e foi descrito pela primeira Qual o diagnóstico? Reação vacinal? Porque com a
vez no Brasil por Aluízio Marques em 1943. historia dessa mielite 30 anos atrás chegaram
suspeitaram de neuromielite óptica, e entrou-se com o
Prevalência menor que a EM e é mais frequente em tratamento com rituximabe apesar do anticorpo AQP4
populações asiáticas e em afrodescendentes. Na EM ter sido negativo. Porque chamo a atenção disso?
acontece o quê? Existem zonas de prevalência. Mais Porque uma doença desmielinizante ás vezes o
prevalente em áreas de maior risco. diagnostico não é nos primeiros episódios.
Já a neuromielite óptica, em populações asiáticas e Não era mielite transversa, porque é quando ocorre
afrodescendentes. Foi considerada por muito tempo realmente uma cisão e o paciente apresenta uma
uma doença monofásica, e hoje se sabe que a forma paraplegia ou uma fraqueza ou ate mesmo uma
recorrente é a mais comum, cerca de 70% dos casos. incontinência urinaria pelo comprometimento medular.
Ela uma flutuação, surto-remissão.
Critérios Diagnósticos
Quadro clínico:
Tem que ter uma mielite longitudinalmente extensa e
 Perda marcante da visão (justamente a neurite óptica bilateral recorrente e excluir
neuromielite óptica). diagnósticos alternativos.
 Alterações da medula da mielite podem ser:
 Alterações de sensibilidade; Esses critérios incluem duas condições clinicas: neurite
 Fraqueza muscular; óptica e mielite aguda, e o auxilio da ressonância
 Espasticidade; magnética e/ou a positividade no soro de anticorpo
 Incoordenação; anti- aquaporina 4 (anti-AQP4).
 Ataxia; Então a neuromielite óptica é definida como neurite
 Incontinência urinaria, fecal e disfunções óptica e mielite aguda, mas pelo menos dois dos três
autonômicas; critérios de apoio tem que ter:
 Recuperação dos ataques da doença de Devic é
tipicamente mais pobre do que nas remissões da EM  Ressonância magnética com evidência de lesão
surto-remissão. medular contínua com extensão maior ou igual a três
corpos vertebrais;
O diagnóstico também é difícil, principalmente no  Ressonância magnética de crânio na instalação
passado, que não se tinha ressonância. da doença que não preenche os critérios diagnósticos
para esclerose múltipla.
Recentemente, um colega apresentou um quadro de
mielite quando estudante de medicina durante seu
internato. Foi internado, ficou na UTI, tomou Quais os critérios que preenchem o diagnóstico para
corticoide, não se tinha ressonância na época no Brasil esclerose múltipla? São as lesões na ressonância
(1983). Foi chegar o primeiro aparelho de ressonância periventricular, justacortical, infratentorial e na
medula espinhal.
em 1986 no Rio de Janeiro. Foi quando eu estava
terminando o curso de medicina, então não se tinha
como dar o diagnostico e ele teve um quadro de mielite  Presença de anticorpo sérico anti-AQP4 (5
transversa. Foi feito na época uma mielografia onde se anos de existência esse anticorpo). Embora que,
injeta contraste no espaço subaracnóideo como se fosse mesmo estando negativo, não exclui a neuromielite
uma raqui e faz o RX. Na ocasião não se viu nada, pelo óptica, pelo menos no Brasil, porque a sensibilidade
menos tumor foi excluído, e depois ele melhorou. na dosagem desse anticorpo é de 70%, é baixo.

Passaram-se mais de 30 anos sem sentir nada e veio


apresentar um quadro de parestesias em toda a coluna
com o sinal de Lhermitte (sensação de choque ao
baixar a cabeça). Esse quadro surgiu depois que ele fez
uma vacina de reforço para hepatite B. Fez ressonância
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Formas e as características clinicas e evolutivas da granulomatoses, Síndrome do Anticorpo


neuromielite óptica. Antifosfolípide (SAAF) e Sjögren.

O paciente com lúpus que apresenta neuromielite


óptica e uma mielite transversa é neuromielite óptica?
Não, porque o diagnóstico de neuromielite óptica para
ser feito tem que excluir outras doenças.

 Doenças infecciosas: Cisticercose e


Esquistossomose porque podem dar mielite, HIV,
HTLV I e II  dá paraparesia espástica tropical, as
Existe a forma monofásica e a recorrente.
Hepatites A, B e C, Herpes vírus 1 e 2, Virus
A monofásica é menos comum, aproximadamente 30% Varicella Zoster, Citomegalovírus, Enterovírus,
e a recorrente é a mais comum, 70%. Adenovírus, Coxsackie, Vírus Epstein Barr,
Sarampo, Caxumba, Tuberculose, Sífilis,
A média de idade da monofásica é 29 anos, da Criptococose e Aspergilose podem mimetizar um
recorrente, 39 anos. quadro de neuromielite óptica;
 Doenças carenciais: Deficiência de vitamina
O sexo é 50% mulheres na monofásica e 80-90%
B12, B1, B6, ácido nicotínico e ácido fólico;
mulheres na recorrente.
 Tóxica: Tolueno, Etanol, Etambutol,
Quanto ao evento inicial, neuromielite óptica ou Etilenoglicol;
mielite é 48% da monofásica e 90% da recorrente.  Vascular: Malformação arterio-venosa, Fístula
dural, Infarto da artéria espinhal anterior;
A neurite óptica bilateral é 17% na monofásica e 8%  Neoplasia: Linfoma, Leucemia e outros
na recorrente. tumores infiltrativos;
A neuromielite óptica com mielite concomitante ocorre  Neuropatia óptica hereditária de Leber e
em 31% da monofásica e zero na recorrente. outras mitocondriopatias.

A monofásica é mais grave que a recorrente, a Atenção: para as neoplasias, em especial a leucemia,
recuperação da monofásica é melhor que a recorrente, que ás vezes casos raros apresentar mielite por
a insuficiência respiratória é rara na monofásica e infiltração leucocitária. Uma paciente na véspera do
ocorre em 1/3 dos casos da recorrente. casamento apresentou uma paraplegia, foi parar no
hospital Santa Isabel, fizeram toda historia clinica e
A mortalidade em 5 anos é 10% na monofásica e 32% quando vem o hemograma, noventa mil leucócitos.
na recorrente. Não durou 1 semana.

Atenção: apesar de ser recorrente, ser menos grave ela Outra paciente na época da minha residência internada
mata muito mais. já com diagnóstico de leucemia, começa a ter uma dor
no olho, começou a inchar, de manhã para de tarde
Prognóstico: houve a saída do olho pela infiltração leucocitária.
A gravidade da neuriomielite óptica está associada a Tratamento:
frequência de recorrência dos eventos e cerca de 50%
dos pacientes são incapazes de deambular sem auxílio Na fase aguda: metilprednisolona IV 1g/dia por 3 a 5
ou apresentam perda visual total em pelo menos um dias  Se não responde, faz plasmaférese como
dos olhos após 5 anos do início da doença. tratamento de resgate. De manutenção, azatioprina ou
rituximabe para prevenção de recidiva.
Diagnóstico diferencial:
Na ressonância magnética, quando tem neuromielite
 Colagenoses/doenças inflamatórias: óptica aguda evidencia captação de contraste na porção
Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM), pré-quiasmática do nervo óptico em 94% dos casos e
Doença de Behçet, Doença mista do tecido hipersinal em T2 em 84%.
conjuntivo (DMTC), Granulomatose de Wegener,
Lúpus eritematoso sistêmico, Sarcoidose e outras As lesões da substância branca são pouco específicas,
mas podem ser observados nas áreas com grande
expressão da AQP4 como região periependimária,
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hipotálamo e tronco cerebral. Com a evolução, pode O tratamento de primeira linha da esclerose múltipla
acometer a substância branca periventicular, em toda a ainda se baseia no uso de drogas imunomoduladoras
sua extensão, com aumento do sinal no corpo caloso. injetáveis, que são os interferons e o acetato de
glatirâmer.
Pode ser confundindo com os achados da esclerose
múltipla, mas isso é durante a evolução porque a AQP4 Os critérios de falha terapêutica da esclerose múltipla
é um receptor do canal de agua localizado justamente são: aumento de surtos e surgimento de lesões novas
na região periependimária e no hipotálamo, então na nos primeiros 2 anos de doença.
evolução vai aparecer lesões desmielinizantes nessas
regiões. O natalizumabe e o fingolimode são medicações
aprovadas para uso na falha terapêutica como
imunomodulador na esclerose múltipla. Devem ser
usados com extrema cautela, sob supervisão de
especialistas, por causa do risco de leucoencefalopatia
multifocal progressiva (LEMP) e complicações
cardíacas fatais.

A mensuração dos novos marcadores liquóricos na


esclerose múltipla como a quimiocina CXCL13,
fetuína A e, principalmente, o neurofilamento de
cadeia leve, demonstrou resultados promissores na
avaliação da doença, provendo informações que, em
Aqui um quadro de neuromielite óptica recorrente com conjunto com dados clínicos e de neuroimagem,
imagens sagitais da medula espinhal. Dá para ver a podem contribuir para melhores decisões terapêuticas.
mielite extensa com mais de 3 corpos vertebrais, quase
6. Portanto, é importante o quadro clínico para fechar o
diagnóstico das doenças desmielinizantes. O
Agora algumas condutas em neurologia: Relembrar diagnóstico específico necessita de dados clínico-
que o Anticorpo AQP4-IgG possibilita o diagnóstico laboratoriais como vimos, e a ressonância magnética
de neuromielite óptica em pacientes com lesões tem importante papel no seguimento, muitas vezes
cerebrais atípicas de esclerose múltipla e com lesões elucidando, com o tempo o diagnóstico definitivo.
cerebrais típicas neuromielite óptica, então o achado
desse anticorpo vem para fazer diagnóstico diferencial.

Existe o anticorpo anti-mielina de oligodendrócitos


(anti-MOG), que é um novo marcador sorológico, mas
com papel diagnóstico e terapêutico incerto e sugere
uma doença desmielinizante idiopática e sua
persistência está associada ao curso recorrente dessas
doenças desmielinizantes.

Um episódio desmielinizante inflamatório grave e


refratário a corticosteroides pode ser tratado com
plasmaférese.

O diagnóstico de neuromielite óptica contraindica o


tratamento com interferons pelo risco de aumento dos
surtos e indica um tratamento imunológico baseado em
imunidade humoral. A saber: corticosteróides,
azatioprina, micofenolato de mofetila, mitoxantrona ou
rituximabe.

Então se tem o diagnostico de neuromielite óptica não


vai fazer interferon, tem que se fazer um
imunossupressor.

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