Você está na página 1de 2

O islã é uma seita cristã?

Recentemente ouvi alguém dizer que o islã é uma seita cristã, o que me
alertou para a tamanha ignorância por parte das pessoas ao falarem sobre
o islã, e mais uma vez fui impulsionado à escrever sobre o islã e mostrar
através de fatos a verdade sobre esta religião.

Em primeiro lugar gostaria de citar o que Albert Hourani fala sobre a


origem do islã e sua relação com as duas principais religiões monoteístas
do mundo:
Antes do fim do século VII, esse grupo governante árabe (os muçulmanos)
identificava sua nova ordem como uma revelação dada por Deus a
Maomé, um cidadão de Meca, sob a forma de um livro santo, o Corão:
uma revelação que completava aquelas que haviam sido anteriormente
feitas a profetas ou mensageiros de Deus e criava uma nova religião, O
Islã, distinta do judaísmo e do cristianismo. (2006, p.34 grifo nosso).

Albert Hourani foi professor de História do Oriente Médio na Universidade


de Oxford por 20 anos e foi o maior formador de historiadores acadêmicos
da História do Oriente Médio Moderno de sua geração.

Quem já entrou em contato com a teologia islâmica entende isso


perfeitamente, pois não existe sequer um ponto da teologia islâmica que
concorde com a teologia cristã em sua totalidade. Um resumo simples do
que diz a doutora em estudos islâmicos nos mostra isso:
Deus: Em alguns pontos da Teologia islâmica e cristã parecem concordar,
mas é uma mera ilusão ao pensar que o Deus que é apresentado no
cristianismo é igual ao Alá apresentado no islã. Um dos principais pontos
de divergência é a respeito do relacionamento de Deus com a
humanidade. Enquanto o Deus no cristianismo busca um relacionamento
com a humanidade enviando Cristo para fazer esta ponte, Alá não tem
qualquer interesse de se relacionar com a humanidade nem a ama.
Jesus: Não é nada além de um profeta do Islã e que profetizou acerca de
Maomé, não é o Filho de Deus nem tem papel na salvação da
humanidade. Já para o cristianismo Jesus é o messias prometido desde
que o primeiro casal pecou no jardim do Éden (Gn 3.15). Além do mais no
islã Jesus não foi morto crucificado, consequentemente, não morreu nem
ressuscitou como afirma o cristianismo. Para o Islã o homem não carece
de um mediador.
Homem: De acordo com o Alcorão (Surata 40.57) o homem não é a
principal criatura de Deus, nem tem a imagem de Deus e que os céus e a
terra são como uma “maravilha maior”. Enquanto no cristianismo o
homem foi feito a imagem e semelhança de Deus. (Gn 1.26).
Pecado: Não existe pecado original, o pecado de Adão não afetou toda a
humanidade para o islã, se o homem pecar, não peca contra Alá e sim
contra si mesmo (Surata 7.19-25). Já para o cristianismo quando Adão, o
representante da humanidade no Éden pecou, toda a humanidade foi
contaminada pelo pecado (Rm 5.12), consequentemente foi afastada de
Deus.
Espírito Santo: O papel do Espírito Santo em relação à revelação da
Palavra de Deus para o cristianismo é de fundamental importância, já para
o islã o Alcorão, que é a Palavra de Deus para o muçulmano, foi revelado à
Maomé por intermédio do anjo Gabriel (Surata 25.192-194).

HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes. São Paulo, Companhia
das Letras, 2006, 701p.

SCHIRRMACHER, Christine. Entenda o Islã: História, Crenças, Política,


Charia e Visão Sobre o Cristianismo. São Paulo, Vida Nova, 2017, 464p.

Por Rafael Félix

Você também pode gostar