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Mirella Alvino Bastos - Ciências Sociais e Educação
Mirella Alvino Bastos - Ciências Sociais e Educação
¹ Cidadania inclusiva: A nenhum adulto com residência pennanente no país e sujeito a suas leis podem ser
negados os direitos disponíveis para os outros e necessários às cinco instituições políticas: funcionários eleitos,
eleições livres, justas e frequentes, liberdade de expressão, fontes de informação diversificadas, autonomia para
as associações. (Dahl, Robert. (1998), Sobre a Democracia. Editora UnB, pág 100)
que o costume coloca-se como uma armadilha educadora à natureza humana, o
desenvolvimento da individualidade através da constante racionalização das ações retoma a
integridade das capacidades mentais do ser humano. Nota-se no argumento de Mill, que a
educação racional e autônoma é chave central para a conservação do bem-estar social em uma
democracia, pois à medida em que se nega o costume, partindo da racionalidade, adquire-se a
autonomia de decidir o que é bom para si e assim, portanto, estimulando a capacidade de
autogovernança já e igualdade civil. À vista disso, para a obtenção e conservação de um campus
mais democrático, na perspectiva de Mill, bastaria apenas a promoção de uma educação liberal,
visando a constante liberdade de racionalização à qualquer ação para assim distanciar-se de
qualquer estrutura tirânica.
Em complementaridade à perspectiva de liberal de Mill, o sociólogo Seymour Lipset,
em sua obra “Alguns requisitos sociais da democracia: desenvolvimento econômico e
legitimidade política”, também responsabiliza a educação como estrutura essencial para o
desenvolvimento e conservação da democracia. No entanto, para que tal fato ocorra, o
sociólogo enumerou uma sequência de fatores que segue do início do processo de urbanização
até o desenvolvimento econômico de um país, fundando a teoria da modernização. Para ele,
esta sequência de casualidades estaria relacionada à permanência de um campus social mais
democrático. Em síntese, o principal argumento da teoria da modernização resume-se em
quanto maior o desenvolvimento econômico “maior segurança econômica e estudos
superiores, possibilitando o desenvolvimento de perspectivas de longo prazo e de pontos de
vista políticos mais complexos e reformistas.”(Lipset, Seymour. (1959), “Alguns Requisitos
Sociais da Democracia”,pag.216). De uma maneira ainda mais geral, Lipset creditou à
educação, especificamente à alfabetização, a habilitação para as tarefas de uma sociedade
moderna, desde o desenvolvimento de habilidades em setores microssociais, como o trabalho,
até a criação de instituições políticas. Desta forma, quanto mais “alfabetizada” uma sociedade
mais capaz de desenvolver-se economicamente e interessar-se politicamente ela se torna, já
que a igualdade de acesso à informação se torna mais frequente.
Em geral nos argumentos tratados até agora, a educação, visando a autonomia e
igualdade de condições, é suficiente para a conservação de uma democracia. Todavia, autores
como Carole Pateman e Louis Althusser argumentam contra esta perspectiva, para eles a
educação liberal, pautada no desenvolvimento das habilidades individuais, não é insuficiente
para o desenvolvimento e conservação de sistemas mais igualitários. Iniciando por Althusser,
o qual constrói a sua tese a partir do pensamento marxista, a conservação da democracia só se
torna possível a partir da transformação da realidade social. O autor identifica a escola como
um aparelho ideológico, em que: "aprendem-se portanto saberes práticos e [...] também regras
dos bons costumes, isto é, o comportamento que todo agente da divisão do trabalho deve
observar, segundo o lugar que está destinado a ocupar” (Althusser, Louis. (1970), Ideologia
e Aparelhos Ideológicos do Estado, pág 21). Desta forma, em uma sociedade em que vigora-
se o sistema capitalista a ideologia dominante em todo o campus social, inclusive na escola,
atua para permanência dos saberes práticos e costumes necessários para o desenvolvimento de
um sistema capitalista. Em outras palavras, a ideologia dominante do sistema capitalista atua
para adequação de indivíduos à indústria moderna, ou seja, nas escolas os cidadãos são
formados para atuar em respectivas carreiras. Neste caso, a educação não é o principal fator
para a apreensão e conservação de ambientes democráticos, mas sim uma força repressiva que
amplia ainda mais as desigualdades sociais.
Ainda pensando na sociedade capitalista, a filósofa Carole Pateman, em sua obra
Participação e Teoria democrática, retoma a importância da autonomia do indivíduo para a
conservação de ambientes democráticos. Segundo a autora, “para o funcionamento de uma
política democrática a nível nacional, as qualidades necessárias aos indivíduos somente
podem se desenvolver por meio da democratização das estruturas de autoridade em todos os
sistemas políticos” (Pateman, Carole. (1970), Participação e Teoria Democrática, pág 51),
entendendo desta forma, a conservação da democracia só se dá pela manutenção constante da
forças de autoridade, ou seja, a partir da participação dos indivíduos nas estruturas de poder,
como por exemplo a participação nas decisões pessoais ou coletivas em ambientes de trabalho.
Para isto, a autora propõe o estímulo à uma educação participativa, colocando o indivíduo não
como subordinado à educação, mas sim como autoridade atuante, de tal modo que a
participação dos estudantes na tomada de decisões nas escolas “de algum modo torna o
indivíduo psicologicamente melhor equipado para participar ainda mais no futuro” (Pateman,
Carole. (1970), Participação e Teoria Democrática, pág 65). Em suma, segundo a autora, a
experiência de uma educação participativa contribui para o reconhecimento da importância da
participação individual no processo de escolhas no campus social:
Referencias bibliográficas
Dahl, Robert. (1998), Sobre a Democracia. Editora UnB.
Lipset Seymour. (1959), “Alguns Requisitos Sociais da Democracia”.
Mill, John Stuart. (1859), Sobre a Liberdade. Martins Fontes, 2000.
Pateman, Carole. (1970), Participação e Teoria Democrática. Paz e Terra, 1992
Althusser, Louis. (1970), Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. Martins Fontes,