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Pneumonia
Pneumonia e outras infecções
Patofisiologia pulmonares – Joel T Katz
Mecanismos de defesa do hospedeiro
Transmissão de organismos para os pulmões
Respostas teciduais Última revisão: 16/12/2013
Epidemiologia e etiologia
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Pneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida no hospital
Pneumonia em pacientes imunossuprimidos
Diagnóstico
Aspectos clínicos Joel T. Katz, MD, FACP
Exames laboratoriais Assistant Professor of Medicine, Harvard Medical School, Division of Infectious Diseases,
Exames invasivos Brigham and Woman's Hospital and Dana-Farber Cancer Institute, Boston, MA
Diagnóstico de pneumonia associada à ventilação
Diagnóstico diferencial
Tratamento
Pneumonia adquirida na comunidade Artigo original: Katz JT. Pneumonia and other pulmonary infections. ACP Medicine.
Regime 2009;1-16.
[The original English language work has been published by DECKER INTELLECTUAL
PROPERTIES INC. Hamilton, Ontario, Canada. Copyright © 2011 Decker Intellectual
Properties Inc. All Rights Reserved.]
Agradecimentos: O autor deseja agradecer a Harvey B. Simon, MD, FACP, por suas
contribuições para a edição anterior deste capítulo, que serviram de base para esta
atualização.
Tradução: Soraya Imon de Oliveira.
Revisão técnica: Dr. Rodrigo Antônio Brandão Neto.
Pneumonia
Embora os índices gerais de internação estejam caindo, o número de internações por
infecções agudas do trato respiratório inferior vem aumentado de maneira estável desde
1980, em particular entre os idosos. Juntas, a pneumonia e a gripe ocupam o 6º lugar entre
as principais causas de morte nos Estados Unidos1 e são a principal causa infecciosa de
morte não só nesse país como em todo o mundo. Os antibióticos e a disponibilização da
ventilação mecânica modificaram bastante a história natural da pneumonia e promoveram
uma diminuição da sua letalidade. Ao mesmo tempo, o uso amplamente disseminado dos
agentes antimicrobianos levou à emergência de cepas fármaco-resistentes e, assim, alterou e
expandiu a gama de patógenos responsáveis pela pneumonia, especialmente entre os
pacientes internados. O crescimento da população de pacientes com doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) e outras doenças debilitantes, bem como o uso da terapia
respiratória e dos fármacos imunossupressores contribuíram para a incidência crescente de
pneumonias nosocomiais e oportunistas, que estão associadas a uma mortalidade
significativamente alta.
Patofisiologia
Respostas teciduais
Depois que os organismos conseguem escapar dos mecanismos de defesa do hospedeiro e
chegar aos alvéolos, uma variedade de respostas teciduais são iniciadas, dependendo da
natureza do patógeno e da integridade da resposta inflamatória do hospedeiro. Embora a
resposta inflamatória seja essencial ao controle da infecção, pode produzir danos teciduais,
comprometer a ação ciliar e impedir a fagocitose.
A resposta inflamatória ao Streptococcus pneumoniae ou Haemophilus influenzae muitas
vezes promove consolidação lobar. Entretanto, estas infecções raramente resultam em
necrose tecidual. Em contraste, os estafilococos e muitos bacilos gram-negativos
frequentemente causam necrose, e esta pode levar à cavitação e até à formação de um
franco abscesso. Uma distribuição peribronquial é característica, mas pode haver
consolidação lobar. Os vírus geralmente produzem inflamação intersticial bilateral e edema
associado, em vez de exsudatos alveolares. Respostas tissulares similares podem ser
iniciadas por espécies de Mycoplasma, Chlamydophila e Legionella; bacteremia gram-
negativa (pulmão em choque); e outras causas de síndrome da angústia respiratória aguda.
Micobactérias e fungos tipicamente evocam uma reposta granulomatosa lenta, que muitas
vezes se dissemina pelo tecido pulmonar de modo independente da anatomia lobar.
Epidemiologia e etiologia
Diagnóstico
Aspectos clínicos
A pneumonia é um diagnóstico clínico sugerido pela presença de tosse com ou sem
produção de escarro, dor torácica pleurítica, febre, calafrios, dispneia e hipóxia. As
pneumonias não bacterianas e bacterianas podem exibir diferentes manifestações clínicas,
embora nenhum achado clínico ou radiológico isolado seja suficiente para predizer com
acurácia o patógeno. Em geral, as pneumonias não bacterianas são mais comuns em
crianças maiores e adultos jovens. Os pacientes com pneumonias causadas por vírus,
micoplasma ou clamídia muitas vezes se queixam de uma severa tosse curta, seca e
intermitente, contudo a produção de escarro é incomum. A produção de escarro também é
mínima em pacientes com doença dos legionários, porém geralmente o estado destes
pacientes é mais doentio do que o estado dos pacientes com pneumonia não bacteriana [ver
7:X Infecções causadas por Haemophilus, Moraxella, Legionella, Bordetella e
Pseudomonas].
Os pacientes com pneumonias bacterianas são mais propensos a apresentar uma copiosa
produção de escarro – bem como uma doença de início abrupto, febres altas, calafrios e
desenvolvimento de efusões pleurais significativas – em comparação aos pacientes com
pneumonias não bacterianas.
Ao exame físico, um paciente com pneumonia bacteriana geralmente parece estar mais
doente do que um paciente com pneumonia não bacteriana. O exame respiratório pode
revelar estertores, roncos ou sons respiratórios bronquiais, bem como embotamento à
percussão sobre os segmentos envolvidos do pulmão. As efusões pleurais podem
acompanhar a pneumonia.
Em contraste, o exame torácico dos pacientes com pneumonias não bacterianas tipicamente
mostra apenas sibilos expiratórios ou estertores finos, e muitas vezes os achados físicos são
menos extensivos do que as anormalidades radiológicas. A radiografia torácica deve ser
predeterminada em todos os casos de pacientes com suspeita de pneumonia, para confirmar
o diagnóstico e excluir os achados associados, como a presença no pulmão de uma massa,
abscesso ou adenopatia que possa ajudar a explicar a manifestação.
Exames laboratoriais
Uma avaliação da oxigenação por oximetria de pulso deve ser realizada em cada paciente
com suspeita de pneumonia. Se a radiografia mostrar consolidação lobar ou segmentar,
formação de abscesso ou efusão pleural significativa, é mais provável que o paciente tenha
pneumonia bacteriana. Um infiltrado irregular pode estar presente em qualquer processo,
mas a observação de um verdadeiro infiltrado intersticial sugere uma etiologia não
bacteriana. A ausência de anormalidades radiográficas não deve suplantar o julgamento
clínico no tratamento dos pacientes com suspeita de pneumonia.15,32 A tomografia
computadorizada (TC) de torax pode ser útil no diagnóstico de infecções complexas, mas é
desnecessária na maioria dos casos.
Embora o exame do escarro seja tradicionalmente o ponto-chave do diagnóstico etiológico
da pneumonia, o alto índice de sucesso da terapia empírica para pacientes com pneumonia
adquirida na comunidade diminuiu a importância do exame de escarro de rotina. Mesmo
assim, o exame microscópico e a cultura de uma boa amostra de escarro33 podem ser úteis
para a escolha de uma terapia antimicrobiana apropriada,34 em particular no caso de
pacientes com doença severa ou que tenham riscos epidemiológicos ou ambientais
incomuns, como a exposição a bactérias antibiótico-resistentes, tubérculo ou fungos
endêmicos. Se o paciente não consegue expectorar espontaneamente, a amostra pode ser
obtida utilizando-se fisioterapia pulmonar, ventilação com pressão positiva intermitente e ar
umidificado, ou sucção nasotraqueal. É comum a coloração pelo método de Gram do
escarro de pacientes com pneumonia bacteriana revelar a presença de leucócitos
polimorfonucleares abundantes e muitas vezes revela os patógenos primários. Pacientes
com pneumonia não bacteriana ou doença dos legionários geralmente produzem apenas
quantidades mínimas de um escarro ralo. Na pneumonia por influenza, o escarro pode estar
sanguinolento. A coloração pelo método de Gram do escarro de pacientes com pneumonia
causada por agentes atípicos revela a ausência de bactérias e uma fraca resposta celular. Em
pacientes com pneumonia causada por micoplasma, pode haver predominância de células
mononucleares.35 É especialmente desafiador interpretar os resultados da coloração e da
cultura de amostras de escarro provenientes de pacientes com pneumonias nosocomiais. A
internação prolongada, a administração de antibióticos e a terapia ventilatória predispõem à
colonização por organismos que não só contaminam as amostras de escarro como também
são capazes de causar pneumonia. O lavado broncoalveolar é efetivo em termos de
identificação do patógeno responsável.36
Atualmente, são disponibilizados kits de detecção de ácidos nucleicos de espécies de
Legionella, Mycoplasma e micobactérias em amostras de escarro. Além disso, testes à base
de reação em cadeia da polimerase em breve serão disponibilizados para detecção de outros
patógenos.37 Os ensaios para detecção de antígenos na urina podem ser úteis para
estabelecer o diagnóstico das pneumonias causadas por Legionella38 e pneumococos.39
Contudo, estes ensaios ainda não podem fornecer informações sobre a suscetibilidade
destes patógenos aos antibióticos. Isto limita o uso de tais testes. Embora as hemoculturas
tenham valor limitado no tratamento de pacientes individuais com pneumonias adquiridas
na comunidade, dada a baixa sensibilidade, devem ser obtidas em casos de pacientes que
estejam doentes o bastante para necessitar de internação, com o propósito de identificar os
indivíduos que apresentam maior risco de desenvolver complicações e também para rastrear
a resistência antibiótica na comunidade.40
Exames invasivos
Em pacientes imunocomprometidos, numerosos agentes oportunistas podem causar
pneumonia, e talvez seja necessário usar técnicas agressivas para se obter uma amostra
satisfatória. Embora os procedimentos invasivos raramente sejam necessários em casos de
pacientes imunocompetentes, podem ser requeridos em casos de pacientes que apresentam
aspectos incomuns, doença grave ou falha em responder à terapia convencional. A
broncoscopia (às vezes incluindo biópsias transbronquiais), o escovado brônquico e as
drenagens pulmonares percutâneas podem ser necessários. A obtenção do lavado
broncoalveolar é uma técnica particularmente útil e em geral bem tolerada.41 Quando estas
técnicas menos invasivas falham em produzir um diagnóstico, o exame de uma biópsia de
pulmão aberta deve ser considerado.
Diagnóstico diferencial
As doenças não infecciosas podem mimetizar as infecções do trato respiratório. A bronquite
asmática e a pneumonite por hipersensibilidade são exemplos comuns. A DPOC, incluindo
o enfisema e a bronquiectasia, podem causar confusão, diante da indisponibilidade de
exames prévios de radiografia. Atelectasia, infarto pulmonar, edema pulmonar e tumores de
pulmão também podem ser confundidos com pneumonia. As reações de hipersensibilidade
– em forma de aerossóis de toxinas, fármacos sistêmicos ou compostos químicos –
produzem doenças clínicas e infiltrados pulmonares que simulam aqueles observados na
pneumonia infecciosa. A pneumonite por radiação, sarcoidose, vasculite, pneumonite
urêmica, hemorragia pulmonar, pneumonia eosinofílica, pneumonia em organização e
pneumonite lipoide estão incluídas no diagnóstico diferencial [ver 14:V Doença pulmonar
infiltrativa difusa crônica].
Uma das considerações primárias em casos de pacientes com infecção no trato respiratório
inferior é a distinção entre pneumonia e bronquite aguda, que é bem mais comum e em
geral dispensa antibióticos. A distinção é essencialmente anatômica, em vez de etiológica,
pois existe uma sobreposição dos organismos que podem causar as duas síndromes [ver
Bronquite aguda, adiante].
Tratamento
Certos princípios gerais são úteis no tratamento de todos os pacientes com pneumonia.
Hidratação adequada é importante para ajudar a depurar as secreções. A hidratação pode ser
feita por meio da administração sistêmica de líquidos e umidificação das vias aéreas locais.
Os expectorantes, como a guaifenesina, podem ser úteis para amolecer o escarro. Embora
os estudos clínicos tenham demonstrado que a fisioterapia torácica não acelera a resolução
da pneumonia, esta modalidade terapêutica tradicional pode proporcionar benefícios
sintomáticos aos pacientes com secreções copiosas nas vias respiratórias. Em geral, o
reflexo da tosse não deve ser suprimido em pacientes com infecções bacterianas, pois a
tosse é um mecanismo importante de depuração das secreções. Se os paroxismos de tosse
severos produzem fadiga respiratória ou dor severa, porém, é possível obter alívio
temporário com pequenas doses de codeína. Havendo hipóxia, pode ser administrado
oxigênio. Indivíduos com DPOC e que retêm dióxido de carbono devem ser monitorados
intensivamente porque a terapia de oxigênio pode causar depressão respiratória.
A terapia antimicrobiana específica depende do agente etiológico. Enquanto a cultura e os
testes de sensibilidade demoram pelo menos 24 a 48 horas para fornecer informações
definitivas, o início da terapia deve ser imediato. Mesmo sem um diagnóstico
microbiológico definitivo, uma escolha razoável para terapia antimicrobiana inicial pode
ser feita com base nos aspectos epidemiológicos. A terapia empírica sempre deve ter
atividade contra os patógenos atípicos mais comuns (p. ex., M. pneumoniae e C.
pneumoniae). A modificação do tratamento deve ser baseada nos resultados
microbiológicos, tão logo estes sejam disponibilizados.
Nota do editor: Início de antibióticoterapia apos 8 horas da chegada em serviço de
emergência é associada com pior prognóstico, em pacientes com circunstâncias clínicas
como choque séptico e neutropenia febril o objetivo é a introdução de antibióticoterapia em
até uma hora da chegada do paciente no serviço.
Em todos os casos, a terapia antibiótica deve ser ajustada de acordo com os resultados da
cultura e dos testes de sensibilidade, resposta clínica e ocorrência de efeitos colaterais.
Muitos pacientes que necessitam de antibióticos IV a princípio podem mudar para a terapia
oral dentro de 3 dias,61 facilitando a antecipação da alta hospitalar.62 Na maioria dos
pacientes com pneumonia pneumocócica sem complicação, os antibióticos podem ser
suspendidos após 3 dias sem febre. A maioria dos pacientes com outras pneumonias
bacterianas é tratada por 7 a 14 dias, enquanto a maioria das pneumonias atípicas é tratada
por 10 a 21 dias. Fármacos mais modernos, como tigeciclina e cetromicina, podem exercer
algum papel em certos pacientes.63
As imunizações podem ajudar a prevenir a pneumonia adquirida na comunidade. A cada
outono, a vacina contra a gripe deve ser ofertada aos pacientes com idade entre 6 meses e
18 anos, pacientes com idade igual ou superior a 50 anos e outros indivíduos vulneráveis
[ver capítulo de Infecções respiratórias virais]. A vacina à base de polissacarídeo
pneumocócico deve ser ofertada a indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos e
também àqueles que apresentam risco aumentado64 [ver 7:I Infecções devidas a cocos gram-
positivos]. Os pacientes que se recuperaram de um ataque de pneumonia podem ser
beneficiados pelas duas vacinas.12 A vacinação pneumocócica foi associada à diminuição da
doença pneumocócica invasiva, como, por exemplo, bacteremia e mortalidade na UTI.65,66
Epidemiologia e etiologia
Desde que foi identificada pela 1ª vez, em 1976, a doença dos legionários passou a ser
reconhecida como causa comum de pneumonias adquiridas tanto na comunidade como nos
hospitais. Segundo as estimativas, a cada ano, 8.000 a 18.000 pessoas são internadas com
doença dos legionários nos Estados Unidos, sendo que cerca de 20% dos casos relatados
estão associados a uma viagem.71 A doença dos legionários é causada por L. pneumophila,
um bacilo gram-negativo aeróbico, flagelado, filamentoso e fastidioso. O organismo pode
ser cultivado em ágar com extrato de carvão-levedura, sendo que o crescimento ótimo
ocorre a uma temperatura de 35°C, em atmosfera com 5% de dióxido de carbono.
Entretanto, o crescimento é lento, e a formação das colônias demora 3 a 6 dias.
Existem pelo menos 9 sorogrupos de L. pneumophila. A maioria dos isolados clínicos
pertence ao sorogrupo 1. As espécies não Pneumophila também causam pneumonia
humana, sobretudo em pacientes imunocomprometidos. O uso de técnicas especiais de
coloração permite identificar grandes números de organismos em cortes de tecidos oriundos
dos alvéolos, tanto dentro dos macrófagos como no meio extracelular. Foram identificados
os fatores de virulência de L. pneumophila e várias enzimas secretadas pelo organismo. L.
pneumophila consegue sobreviver intracelularmente, no interior dos leucócitos do
hospedeiro. Os anticorpos não são protetores, mas imunidade celular promove a
recuperação e previne a reinfecção.
Na natureza, L. pneumophila sobrevive principalmente na água e, em menor extensão, no
solo. A doença humana é adquirida principalmente por inalação de aerossóis contaminados
com organismos. A transmissão por contato interpessoal não foi comprovada. Os sistemas
de água contaminados têm sido responsáveis pelos surtos de doença adquirida na
comunidade e nos hospitais [ver 7:X Infecções causadas por Haemophilus, Moraxella,
Legionella, Bordetella e Pseudomonas].
A incidência dos ataques de doença dos legionários parece ser maior entre idosos e
indivíduos com condições subjacentes, como DPOC, doença neoplásica, órgão
transplantado e insuficiência renal.
Diagnóstico
Aspectos clínicos. A doença dos legionários é caracterizada por 1 dia de pródromo com
mialgias, mal-estar e cefaleia leve após um período de incubação de 2 a 10 dias. Em
seguida, observa-se o aparecimento agudo de febre alta, calafrios com tremores, tosse não
produtiva, taquipneia e, muitas vezes, dor pleurítica. Subsequentemente, a tosse pode se
tornar produtiva, contudo o escarro não é purulento. Obtundação ou encefalopatia tóxica
são comuns, porém não há meningite franca. Dor abdominal, vômito e especialmente
diarreia podem estar presentes. Os sinais de consolidação não são observados com
frequência ao exame dos pulmões, no entanto os estertores comumente são ouvidos. As