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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ

PROCESSO Nº: 414457/14


ASSUNTO: ATO DE INATIVAÇÃO
ENTIDADE: PARANAPREVIDÊNCIA
INTERESSADO: DINORAH BOTTO PORTUGAL NOGARA, ELIAS DOS ANJOS
RODRIGUES, POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ, RAFAEL
IATAURO, SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO E
DA PREVIDÊNCIA, SUELY HASS
PROCURADOR: ALESSANDRA GASPAR BERGER, ANA PAULA KUCANIZ,
ANDREA CRISTINE ARCEGO, ANDREIA BRIZOLA DE OLIVEIRA
FURINI, ANTONIA ALCESIA MIRANDA BARBOZA, CAROLINE
FANTIN MARSARO, CLEUSA NANCI NOGUEIRA, DAIANE
MARIA BISSANI, DANIELA DOS SANTOS TAVARES, EDUARDO
BARRETO DE SOUZA, ESTHER CASADO GOMES, FABIANO
JORGE STAINZACK, GERSON BUDNEY, HELOISA MARIA
ZETOLA MARTINS, HELOYSE CONTADOR ROCHA MAZIERO
JAKIEMIV, ISABELLE GIONÉDIS GULIN, ISAC TEIXEIRA DE
LIMA, IURI FERRARI COCICOV, JANAINA DE ASSIS, JANETE
VIANNA FONTOURA, JEFFERSON RENATO ROSOLEM ZANETI,
JOÃO PAULO OPUSZKA MACHADO, JOCELEI MACIEL
FERREIRA, JOSUE PALESTINO, LUCIANA DE OLIVEIRA FELIX
BORGES, LUZIA ANAIR RIBAS MASSUQUETTO, MARCIA
NAYRA LISE APARECIDA SEIFERT, MARCIO PINTO, MARCO
ANTONIO DE FREITAS, MARLY APARECIDA ORNELA PEREIRA,
MICHELE CORREA, PATRICIA KAVETSKI SABADIN, PAULA
CRISTINA MARTELLI GLAZA, RAFAEL AUGUSTO CASSOU,
RAFAEL FORNECK BAHIENSE GOMES, RENATA GUERREIRO
BASTOS DE OLIVEIRA, RITA DE CASSIA RIBAS TAQUES,
SCHEILA MARA BELEM RIBAS, SUZANE MARIE ZAWADZKI,
VIVIAN PIOVEZAN SCHOLZ TOHME, WELLINGTON NEVES
SALMAZO
RELATOR: CONSELHEIRO FERNANDO AUGUSTO MELLO GUIMARÃES

ACÓRDÃO Nº 4452/17 - Primeira Câmara


Ementa. Reserva remunerada proporcional. Inclusão no
acervo, de licença especial contada em dobro, cujo período
aquisitivo não atende à exigência ex pressa do art. 144, da
Lei/PR 1.943/57. Ressalva e Det erminação. Contagem de
serviço prestado à iniciativa privada com recolhimentos ao
Regime Geral de P revidência Social. Expressa previsão
legal contida no art. 2º da Lei nº 7634/82 e exegese do art.
42, §1º c/c art. 201, § 9º da Constituição Federal. Negativa
de registro e determinação.

1. RELATÓRIO

DOCUMENTO E ASSINATURA(S) DIGITAIS


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Tratam os presentes autos do exame da legalidade de ato de


transferência para a reserva remunerada, com proventos proporcionais, do militar
ELIAS DOS ANJOS RODRIGUES, no Posto de Cabo da Polícia Militar. O benefício foi
concedido segundo a Resolução nº 11615/2014 (peça 11), de 04/02/2014, publicada no
DOE 0146, de 13/02/2014 (peça 12), da Secretaria de Estado da Administração e da
Previdência, com fundamento no art. 45, § 6º da Constituição Estadual, no art. 113 da
Lei Estadual nº 12.398/98 e no art. 157, § 4º, III, da Lei Estadual nº 1.943/54.
A despeito das manifestações contidas no Parecer nº 1472/16 – DICAP
(Peça 24), e no Parecer Ministerial nº 4673/16 – SMPjTC (Peça 26), pela legalidade e
registro do ato, por intermédio do Despacho nº 289/16 (Peça 26) determinei a
intimação do órgão previdenciário para apresentar certidão de tempo de contribuição
do interessado, o que foi atendido, nos termos do peticionamento acostado à Peça 31.
Em reanálise do feito, reiterou a COFAP seu opinativo pela
regularidade e registro do ato de inativação, consoante Parecer nº 5100/16 (Peça 32),
posicionamento este integralmente corroborado pelo Parquet, nos termos do Parecer
Ministerial nº 6263/16 – SMPjTC (Peça 33).
Inobstante o posicionamento uníssono da unidade téc nica e do órgão
ministerial, por intermédio do Despacho nº 871/16 (Peça 34) determinei nova intimação
do órgão previdenciário com vistas à adoção das seguintes medidas: (i) consideração
do tempo de serviço prestado à iniciativa privada para fins de cálculos dos proventos,
em conformidade com a previsão do art. 2°, da Lei/PR 7.634/82; e (ii) retificação da
certidão de tempo de contribuição e, consequentemente dos cálculos dos proventos,
relativamente ao período aquisitivo de licença especial em contrariedade a expressa
disposição do art. 144, da Lei/PR 1.943/57.
A Paranaprevidência, em 09 de agosto de 2016, manifestou-se
requerendo a prorrogação, por ao menos 30 dias, do prazo para manifestação,
noticiando que estaria aguardando opinativo do PMPR (Diretoria de Pessoal), acerca
da contagem de tempo de serviço prestado pelo militar à iniciativa privada com
utilização no concessório de inatividade, e também acerca da retificação da certidão de
tempo de contribuição que acolheu contagem de licença especial não usufruída em
contrariedade a disposição do art. 144 da Lei/PR n° 1943/57.
Nos termos do Despacho nº 1090/16 (Peça 44), foi deferido o prazo de
60 dias para manifestação do ente previdenciário, o qual, contudo, além de deixar
transcorrer in albis o prazo concedido, não tornou a pronunciar-se nos autos até a
presente data.
Retornando à unidade técnica, após o decurso de prazo, esta opinou
pelo retorno do expediente ao Relator, para fins de decisão acerca de abertura de nova
oportunidade de manifestação à Origem, sob pena de negativa de registro da revisão
da pensão previdenciária, impedimento de emissão de certidão liberatória e aplicação
de multa ao gestor, nos termos do art. 87, I, b, da Lei Complementar nº 113/2005

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É o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO1

Preliminarmente, entendo que não é o caso de acolher a sugestão da


unidade técnica de reabertura do prazo ao órgão previdenciário para manifestação
acerca dos questionamentos constantes do Despacho nº 1090/16. O ente
previdenciário teve já duas oportunidades de manifestação abertas para esta
finalidade, e mesmo após decorrido período significativamente superior ao concedido a
pedido, não tornou a pronunciar-se nos autos.
O processo encontra-se instruído adequadamente, contando com toda
a documentação requerida normativamente, bem como com as manifestações técnica
e ministerial conclusivas, atendendo neste aspecto às exigências regimentais.
Ademais, os autos, de registro de ato de reserva, encontram -se em
trâmite neste Tribunal desde o exercício de 2014, não se justificando a abertura de
novo prazo e novas manifestações, que implicariam sensível e indevida ampliação de
tramitação do feito, já bastante extensa.
Passando à apreciação do mérito, em que pesem os opinativos técnico
e ministerial conclusivos favoráveis ao registro, entendo que o ato de reserva
remunerada em exame encontra-se em desconformidade com as disposições de lei
aplicáveis à carreira militar, bem como em desconformidade com o entendimento deste
Tribunal, não estando em condições de receber registro.
Consta da documentação que o interessado, Sr. Elias dos Anjos
Rodrigues, na data da concessão do benefício, contava com 30 anos, 3 meses e 5 dias
de contribuição, sendo 25 anos e 18 dias de tempo de contribuição ao Estado do
Paraná (peça 03), e 05 anos, 2 meses e 15 dias corresponde aos períodos de 22/05/85
a 24/12/85; 05/02/86 a 04/04/89 e 31/05/89 a 12/11/90, laborados para diferentes
empregadores, com recolhimento de contribuição ao regime geral de previdência social
(peça 05).
Os períodos de contribuição ao Regime Geral de Previdência,
inobstante registrados em seu histórico funcional, não foram computados para fins
de cálculo da proporcionalidade dos proventos a que teria direito, uma vez que,
ao invés de lhe ser concedida aposentadoria integral, ante a proporcionalidade
30/30 anos de contribuição, foi fixada proporcionalidade de 25/30 avos (peça 11,
p. 02).
Dos cálculos apresentados pelo órgão previdenciário, evidencia-se que
foi excluído o tempo de serviço prestado junto à iniciativa privada, em desrespeito
ao expressamente contido no art. 2º, da Lei nº 7.634, de 13 de julho de 1982, que deve

1
Responsável Técnica: Vivian F. Cetenareski (TC 514640)

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ser lido à luz do artigo 42 da Constituição Federal, que prevê expressamente a


aplicabilidade, aos militares, do que vier a ser fixação em lei específica:
“Art. 42. Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14,
§ 8.°; do art. 40, § 9.°; e do art. 142, §§ 2.° e 3.°, cabendo a lei estadual
específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3.°, inciso X, sendo as
patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores.” (grifamos)

Assim, a lei estadual nº 7.632/82, norma válida e eficaz, e sobre a qual


não paira, no momento, nenhum questionamento judicial, determina:
“Art. 1º. O tempo de serviço prestado em atividade regida pela Lei Federal nº
3.807, de 26 de agosto de 1960 - Lei Orgânica da Previdência Social será
computado, para efeito de aposentadoria por invalidez, por tempo de serviço
e compulsória, em favor do funcionário público estadual, inclusive do
magistrado, após completar 5 (cinco) anos de efetivo serviço prestado ao
Estado do Paraná.
(...)
Art. 2º. As disposições desta lei aplicam-se aos integrantes da Polícia
Militar do Estado, para efeito de reforma por invalidez, por tempo de
serviço e compulsória, e transferência para a reserva remunerada.”
(grifamos)

A norma jurídica em questão, veiculada mediante lei de natureza


específica, dispõe sobre a contagem de tempo de serviço prestado em atividade
privada e determina o cômputo do tempo de contribuição ao regime geral de
previdência também para as inativações de servidor militar “por tempo de serviço”, e
deve ser interpretada conjuntamente com o art. 157, §4º, III, da Lei estadual nº
1.943/54, que assim preceitua:

“Art. 157. Será transferido para a reserva remunerada compulsoriamente, o


oficial que conte ou venha contar com 35 (trinta e cinco) anos de serviço
público, ou que atingir a idade limite estabelecida nesta lei e o que
permanecer afastado da atividade militar ou policial por mais de 8 (oito) anos
contínuos ou não.
§ 4º. Poderá ser transferido, a pedido, para a reserva remunerada, o militar
que conte mais de:
I - 30 anos de serviço público, na forma do art. 158, da Constituição Estadual,
independentemente de inspeção de saúde e com os proventos integrais;
II - 25 (vinte e cinco) anos de serviço efetivo prestado à Corporação, com 10
(dez) pelo menos, como músico, corneteiro, rádio telegrafista, rádio técnico de
serviço de telecomunicação, de operação direta com Raios "X" ou
substâncias rádio-ativas, cujos proventos serão integrais.
III - 25 anos de serviço público, 15, pelo menos, prestados ao Estado do
Paraná, com proventos proporcionais à razão de 1/30 avos ... vetado ... do
vencimento do posto ou graduação da atividade e por ano de serviço.”

Lidos sistemática e contextualmente os dois dispositivos, tem-se que o


militar somente poderá ser transferido para a reserva remunerada com 30 anos de
serviços prestados à Corporação, nesse caso, com proventos integrais.

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Por outro lado, cumprido o período mínimo de 25 anos de serviços


prestados ao Estado do Paraná, tem direito também à reserva remunerada, mas com
proventos proporcionais. E, tendo em conta o que prescreve o art. 2º da lei estadual nº
7.632/82, no cálculo da proporcionalidade dos proventos, deverão ser computados os
anos de serviço prestados à iniciativa privada, com contribuição ao Regime Geral de
Previdência Social.
Portanto, inobstante a lei específica não permita a redução do tempo
mínimo de carreira exigido como requisito para a transferência para a reserva, 25 anos,
determina um acréscimo de até 5/30 avos no cálculo do benefício previdenciário
correspondente, quando houver contribuição previdenciária correspondente ao regime
geral de previdência social.
Essa é a dicção da lei em consonância com o princípio da
contributividade, e que vem e deve continuar sendo aplicada por este Tribunal.
Contudo, com vistas a dirimir possíveis questionamentos, considero
relevante refutar a afirmação do ente previdenciário, apresentada em outros
procedimentos similares, que aos policiais militares deve ser aplicada (somente) a lei
específica da carreira (Lei nº 1943/54), nos termos do art. 42, §1º c/c art. 142, §3º, X da
Constituição Federal além do que prescrevem as Leis Estaduais nº 6417/73 e 6774/76,
até que nova lei venha a disciplinar sobre a matéria 2.
Improcede a argumentação. Em sentido diverso, veja-se a utilização
concomitante da Lei Estadual nº 7862/1984 que, mesmo não fazendo parte do Código
Militar, é aplicada para permitir a contagem do tempo de 1 (um) ano de curso superior,
para cada 5 (cinco) anos de tempo de serviço prestado à Corporação, situação
expressamente acolhida por este Tribunal, como se vê, a título exemplificativo, no
Acórdão nº 1086/17 – S2C.
Por outro lado, também é certo que nas transferências para a reserva
remunerada, compulsórias e por invalidez, tem sido computado o tempo de serviço
prestado junto à iniciativa privada com recolhimentos ao INSS para fins de fixação da
proporcionalidade do benefício previdenciário, o que causa ainda mais estranheza na
medida em que nem a Constituição Federal, nem a Constituição Estadual nem
tampouco a lei estadual estabelecem tal diferenciação.
Ao contrário, a transferência para reserva remunerada, permitindo o
cômputo de tempo de serviço prestado com contribuições ao Regime Geral de
Previdência Social na proporcionalização dos proventos dos militares encontra
respaldo na Constituição Federal, na Constituição Estadual 3 e na legislação
infraconstitucional vigente.

2
A Lei/PR nº 1.943/54 contém o Código da Policia Militar; a Lei/PR nº 6. 417/ 73 dispõe sobre o Código
de Vencimentos da Policia Militar e a Lei/P R nº 6.774/ 76 prescreve acerca da organização básica da
Corporação (Peça 31 p. 3)
3
Art. 45. São militares estaduais os integrantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar.
(...)

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Ademais, a Constituição Federal de 1988 prevê expressamente a


possibilidade de contagem recíproca de tempos de serviço, assim como o dever de
compensação financeira entre regimes, para todas as categorias profissionais, nos
termos de seu art. 201, § 9º 4. Enquanto para os servidores civis, a previsão de
contagem recíproca se encontra no art. 40, § 9º, incluído na Carta da República pela
Emenda 20/98 5, para os servidores militares, tal contagem encontra respaldo
constitucional no art. 42, da Constituição Federal, que, além de determinar o cômputo
do tempo de contribuição federal, estadual ou municipal, determina a aplicação, à
categoria, do que vier a ser fixado em lei.
Mesmo que a Lei nº 1943/54 6, em seu art. 2957, não estabeleça de
forma expressa a contagem de tempo de serviço prestado com recolhimento ao
Regime Geral de Previdência, referida norma é consideravelmente anterior à Lei n°
3.807, de 26 de agosto de 1960, que criou a Lei Orgânica de Previdência Social -
LOPS, unificando a legislação referente aos Institutos de Aposentadorias e Pensões.
Portanto, não era mesmo de se esperar que a legislação de 1954 fizesse referência à
possibilidade de cômputo de tempo de serviço/contribuição realizado na iniciativa
privada, com recolhimentos ao regime geral de previdência.
Cumpre referir ainda que nem da Lei nº 3807/1960, nem tampouco da
Lei nº 8213/91 que a substituiu, dispondo sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social, consta qualquer tipo de vedação ou impedimento ao cômputo de
tempo geral para fins de reserva de servidores militares.

§ 9º. Aplica-se aos militares estaduais, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições dos art.s
14, § 8º, 40, § 9º, 142, §§ 2º e 3º da Constituição Federal, cabendo a lei estadual espec ífic a dispor sobre
as matérias do art. 142, § 3º, X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelo Governador do Estado.
4
“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de carát er contributivo e
de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá,
nos termos da lei, a:
(...)
§ 9º Para ef eito de aposent adoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na
administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos
regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em
lei”.
5
§ 9º - O tempo de contribuição federal, estadual ou municipal será contado para efeito de
aposentadoria e o tempo de serviço correspondente para efeito de disponibilidade.
6
Lei esta que, em 23 de Junho de 1954 estabeleceu o Código da Polícia Militar do Paraná.
7
Art. 295. Na apuração do tempo de serviço do militar, são computados:
a) o tempo de serviço efetivo prestado à Corporaç ão, a partir da data do ingresso no s erviço ativo até a
data da exclusão, da transferência para a reserva ou reforma, deduzidos os períodos em que o militar
passar em gozo de licença para tratar de interesses particulares, como desertor ou cumprindo pena
privativa da liberdade pessoal imposta por sentença judiciária passada em julgado;
b) o tempo em que permanec er em operações de guerra ou em serviço delas dependentes ou
decorrentes, ou tomar parte em expedição para restabelecer a ordem gravement e perturbada, cujo
cômputo é feito em dôbro;
c) o tempo de licença especial não gozada também é contado em dobro, na forma prevista no § 1º do
art. 144 deste Código; e
d) o tempo de serviço público prestado à União, E stados e Municípios .

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Ainda, a Lei nº 1943/54 expressamente prevê a possibilidade de


cômputo de tempo de serviço público prestado à União, Estado ou Município,
dispositivo este também constante da atual Constituição Federal, nos termos de seu
art. 42, §1º, que faz referência ao art. 40, § 9º, afastando qualquer argumentação no
sentido de que para a inativação como policial militar somente poderiam ser
computados períodos de trabalho em atividades estritamente vinculadas às atividades
próprias da polícia militar.
Dessa feita, atendendo-se ao que determina o art. 157, § 4º, III, da
Lei/PR nº 1.943/54, combinado ao art. 2º da lei estadual nº 7.632/82, que fixam as
condições da transferência para a reserva por tempo de serviço, deve
necessariamente ser observada a contagem de tempo de serviço prestado à
iniciativa privada, com recolhimentos ao regime geral de previdência social, para
fins de fixação da proporcionalidade do benefício previdenciário, o que não tendo
ocorrido no presente caso, torna irregular o ato de reserva e impede o respectivo
registro.

Segunda restrição apontada em detrimento do registro do ato de


inativação diz respeito à necessidade de retificação da certidão de tempo de
contribuição e, consequentemente dos cálculos dos proventos, relativamente ao
período aquisitivo de licença especial em contrariedade a expressa disposição do art.
144, da Lei/PR 1.943/57.
Depreende-se do Histórico Funcional do militar (Peça 31), que foram
incluídos na contagem de tempo de servidor dois anos de serviço em razão de acervo
não usufruído e computado em dobro como tempo de serviço. O período aquisitivo
considerado em relação ao primeiro período foi de 14/11/1990 até 13/11/2000, num
total de dez anos, e para o segundo, de 13/11/2000 até 12/11/2009, num total de
apenas nove anos (peça 31, p. 03).
Houve, portanto, aplicação equivocada do contido no art. 144, da
Lei/PR 1.943/57, que prevê que o benefício é devido ao militar que não se afastar de
suas funções pelo “período de dez anos consecutivos”, sendo indevida a utilização do
acervo referente à licença especial adquirida antes do decurso desse interstício
temporal, e contada em dobro, conforme § 1° do mesmo dispositivo legal.
Porém, considerando que o requerimento de aposentadoria foi
formulado em 22/11/2013, e concedido o benefício em 13/02/2014, de modo que, a
priori, seria possível a conversão da segunda licença um ano depois (período no qual
foi mantida a contribuição previdenciária), a questão não deve afetar nem o direito à
inativação nem deve ter impacto no cálculo dos proventos, razão pela qual, no presente
caso, apenas ressalvo meu entendimento pessoal quanto à situação.
Proponho, contudo, a emissão de determinação à Secretaria de Estado
da Administração e da Previdência e à Polícia Militar do Paraná, para que promovam a

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imediata adequação da contagem de tempo de serviço para fins de concessão do


benefício previsto no art. 144 da Lei/PR 1.943/57.

3. VOTO

Nestes termos, proponho a este Tribunal, com fundamento no art. 1º,


inciso IV da Lei Complementar Estadual nº 113/2005:
3.1. negar registro ao ato de reserva remunerada proporcional do
militar ELIAS DOS ANJOS RODRIGUES, no Posto/Patente de Cabo da polícia militar,
concedida segundo a Resolução nº 11615/2014 (peça 11), de 04/02/2014, da
Secretaria de Estado da Administração e da Previdência, em razão da ausência de
cômputo do tempo prestado ao regime geral de previdência social, conforme expressa
determinação contida no art. 2º da Lei estadual n.º 7.634/82;
3.2. determinar à Secretaria de Estado da Administração e da
Previdência e à Paranaprevidência que adotem providencias no sentido de cumprir, em
todos os atos de inativação, o determinado pelo art. 2º da Lei estadual nº 7.634/82,
assim como o art. 201, § 9º, da Constituição Federal de 1988;
3.3. determinar à Secretaria de Estado da Administração e da
Previdência e à Polícia Militar do Paraná, que adotem providencias no sentido de
corrigir a forma de cômputo do tempo de serviço prestado para fins de aquisição de
licença especial ao que prescreve o art. 144, da Lei/PR 1.943/57, que prevê que o
benefício é devido ao militar que não se afastar de suas funções pelo “período de dez
anos consecutivos”, sendo indevida a utilização do acervo referente a licença especial
adquirida antes do decurso desse interstício temporal.
3.4. determinar à Paranaprevidência que, no prazo de 30 dias,
comprove o atendimento do presente julgado, mediante retificação dos atos devidos e
comunicação do servidor interessado acerca da matéria.

VISTOS, relatados e discutidos,


ACORDAM

OS MEMBROS DA PRIMEIRA CÂMARA do TRIBUNAL DE CONTAS


DO ESTADO DO PARANÁ, nos termos do voto do Relator, Conselheiro FERNANDO
AUGUSTO MELLO GUIMARÃES, por maioria absoluta (vencido o Auditor SÉRGIO
RICARDO VALADARES FONSECA):

I. negar registro ao ato de reserva remunerada proporcional do militar


ELIAS DOS ANJOS RODRIGUES, no Posto/Patente de Cabo da polícia militar,
concedida segundo a Resolução nº 11615/2014 (peça 11), de 04/02/2014, da
Secretaria de Estado da Administração e da Previdência, em razão da ausência de
cômputo do tempo prestado ao regime geral de previdência social, conforme expressa
determinação contida no art. 2º da Lei estadual n.º 7.634/82;

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II. determinar à Secretaria de Estado da Administração e da


Previdência e à Paranaprevidência que adotem providencias no sentido de cumprir, em
todos os atos de inativação, o determinado pelo art. 2 º da Lei estadual nº 7.634/82,
assim como o art. 201, § 9º, da Constituição Federal de 1988;
III. determinar à Secretaria de Estado da Administração e da
Previdência e à Polícia Militar do Paraná, que adotem providencias no sentido de
corrigir a forma de cômputo do tempo de serviço prestado para fins de aquisição de
licença especial ao que prescreve o art. 144, da Lei/PR 1.943/57, que prevê que o
benefício é devido ao militar que não se afastar de suas funções pelo “período de dez
anos consecutivos”, sendo indevida a utilização do acervo referente a licença especial
adquirida antes do decurso desse interstício temporal.

IV. determinar à Paranaprevidência que, no prazo de 30 dias,


comprove o atendimento do presente julgado, mediante retificação dos atos devidos e
comunicação do servidor interessado acerca da matéria.

Votaram, nos termos acima, os Conselheiros NESTOR BAPTISTA e


FERNANDO AUGUSTO MELLO GUIMARÃES e o Auditor SÉRGIO RICARDO
VALADARES FONSECA.
Presente a Procuradora do Ministério Público junto ao Tribunal de
Contas ELIZA ANA ZENEDIN KONDO LANGNER.

Sala das Sessões, 24 de outubro de 2017 – Sessão nº 39.

FERNANDO AUGUSTO MELLO GUIMARÃES


Conselheiro Relator

NESTOR BAPTISTA
Presidente

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