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RESUMO
FLEXIBILIDADE
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É a capacidade e a característica de um atleta de executar movimentos de
grande amplitude, ou sob forças externas, ou ainda que requeiram a movi-
mentação de muitas articulações (WEINECK; CARVALHO; BARBANTI, 1999,
p. 470).
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Além das propriedades musculares supracitadas, no contexto da flexibilidade, a plas-
ticidade tem se mostrado como um componente essencial, sendo caracterizada como a
propriedade de deformação permanente do material (tecido) quando a carga aplicada ul-
trapassa o limite elástico (FORTUNADO et al., 2020). No caso dos músculos esqueléti-
cos, essas adaptações podem ocorrer no comprimento ou na secção transversa (ROCHA;
CAVALLIERI, 2007). Em outras palavras, a plasticidade tem sido reconhecida como uma
deformação muscular com o objetivo de ganho de flexibilidade. Realmente, segundo Aguiar
e Aguiar (2009, p. 105), o músculo esquelético “[...] exibe alta plasticidade, o que habilita
este tecido alterar suas características morfológicas, metabólicas e funcionais, em resposta
a estímulos específicos”.
A elasticidade, a extensibilidade e a plasticidade estão associadas, principalmente,
aos componentes da unidade musculotendínea. Esses componentes apresentam-se ricos
em elastina e colágeno, propriedades estruturais que permitem transmissões de forças
e a realização de grandes deformações (FORTUNADO et al., 2020). Contudo, embora a
elasticidade, a extensibilidade e a plasticidade sejam essenciais para o desenvolvimento da
flexibilidade, autores salientam que a mobilidade articular também é uma estrutura essencial
nesse processo1 (FORTUNATO et al., 2020; FOX; BOWERS; FOSS, 1991; MARCHAND,
2002; WERLANG, 1997). Portanto, a flexibilidade não se limita à mobilidade articular, tam-
pouco podem ser vistas como sinônimos.
Essa confusão, pode estar associada ao fato de que, na maioria das vezes, a flexibi-
lidade tem sido testada por meio do movimento articular, o que pode reforçar a confusão
entre essa terminologia e a mobilidade (ACHOUR JUNIOR, 2009). Por exemplo, a flexibili-
dade dos músculos isquiotibiais pode ser avaliada como o alcance do movimento de flexão
de quadril ou de extensão do joelho. Isso acontece, pois esse grupamento muscular cruza
duas articulações.
Verdadeiramente, o sistema muscular e o articular têm funções dependentes, de modo
que uma alteração em um deles modifica em maior ou menor grau o outro (ACHOUR JUNIOR,
2012). Essa relação permite referir-se à flexibilidade “como um sistema musculoarticular”
(ACHOUR JUNIOR, 2012). Por exemplo, um músculo nunca será capaz de se alongar
em toda a sua extensão se a articulação não permitir que ele se mova o suficiente. Nesse
contexto, a flexibilidade tem sido classificada em estática, dinâmica, funcional e balística
(Quadro 1) (ALTER, 2010).
1 Werlang (1997) menciona que a maleabilidade também é uma estrutura essencial para o desenvolvimento da flexibilidade, sendo a
capacidade de extensibilidade da pele, de modo que, quanto maior, menor a incapacidade de mobilidade.
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Quadro 1. Classificação da flexibilidade.
Classificação Definição
Refere-se à amplitude de movimento da articulação ao final de um único movimento, sem qualquer ênfase na
Estática
velocidade do gesto. Assim, a ênfase é no ângulo formado ao final do movimento, com a articulação estática.
Refere-se à amplitude de movimento obtida durante um movimento de interesse, sendo realizado em
Dinâmica
uma velocidade lenta ou rápida.
Refere-se à realização de movimentos articulares rítmicos e contínuos. Por exemplo, quando se estende e
Balística
flexiona ativamente a articulação do quadril por um determinado tempo e número de vezes.
Refere-se à amplitude de movimento dinâmica, bem como à amplitude de movimento ideal para realizar
ações motoras específicas, como, por exemplo, um gesto técnico em determinado esporte. Assim, o ob-
Funcional
jetivo não é determinar a maior amplitude de movimento, mas identificar e interpretar a amplitude de
movimento ideal para à ação motora.
Fonte: Adaptado de Fortunado et al. (2020).
2 A utilização desse termo não é consenso entre os estudiosos dessa temática. Por exemplo, Fortunato et al. (2020) destacam que
esse termo é internacionalmente desconhecido, de modo que se deve utilizar somente a palavra alongamento, pois é mais próxima
do conceito de “stretching”, amplamente utilizado na literatura internacional. Assim, para esses autores, o alongamento já incluiu
tanto os exercícios para manutenção dos níveis de flexibilidade, quanto exercícios para o desenvolvimento dessa capacidade física
(FORTUNATO et al., 2020).
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o flexionamento deve ser adotado quando o exercício for realizado em uma intensidade
máxima, com estímulo relevante à articulação (DANTAS; CONCEIÇÃO, 2017).
O American College of Sports Medicine (ACSM) (2014) tem classificado os alonga-
mentos em quatro categorias, a saber: alongamento estático ativo e passivo, alongamento
dinâmico e facilitação neuromuscular proprioceptiva. Inicialmente, no alongamento estático,
deve-se alongar os músculos e manter essa posição por um determinado tempo (ACSM,
2014). O alongamento estático ativo ocorre quando a manutenção da posição é realizada
pela contração do(s) músculo(s) agonista(s). Já o alongamento estático passivo ocorre com
a manutenção da posição sem o envolvimento dos músculos agonistas, podendo ser utiliza-
do o auxílio de um parceiro ou acessório (ACSM, 2014). O alongamento dinâmico envolve
a realização de movimentos lentos e repetidos, com aumento progressivo da amplitude
(ACSM, 2014). Por fim, na facilitação neuromuscular proprioceptiva, a contração isométrica
é seguida por um alongamento dinâmico (ACSM, 2014).
Compreendendo a importância da flexibilidade para a saúde e condicionamento físico,
Bushman (2016) descreveu algumas recomendações para essa capacidade física, dentre as
quais: (a) realizar o treinamento de flexibilidade pelo menos duas ou três vezes por semana;
(b) alongar ativamente antes e passivamente após a prática de exercício físico; (c) priorizar
as maiores articulações corporais, como, por exemplo, pescoço, ombros, cotovelo, quadril,
joelho, tornozelo, coluna torácica e lombar; e (d) completar 60 segundos de alongamento
para cada exercício, por meio de repetições de duas a quatro vezes.
Em especial, Bushman (2016) destaca que podem ser incluídos alongamentos estáti-
cos, dinâmicos, balísticos e facilitação neuromuscular proprioceptiva. Nesse caso, recomen-
da que o alongamento estático seja mantido de 15 a 30 segundos; contudo, ressalta que
adultos poderiam ter maiores benefícios se realizassem a manutenção do exercício de 30
a 60 segundos (BUSHMAN, 2016). A facilitação neuromuscular proprioceptiva poderia ser
realizada com 3 a 6 segundos de contração, seguida de 10 a 30 segundos de alongamento
assistido, isto é, com um auxílio externo (BUSHMAN, 2016).
Essas recomendações são orientações gerais, de modo que as especificidades do
beneficiário devem ser levadas em consideração na prescrição dos exercícios. Para além do
trabalho de flexibilidade, por meio dos exercícios de alongamento e flexionamento, deve-se
trabalhar concomitantemente com os exercícios de mobilidade. Assim, a mobilização articu-
lar tem sido indicada para segmentos com hipomobilidade e encurtamento identificados na
amplitude final dos movimentos (ACHOUR JÚNIOR, 2017). Segundo Achour Júnior (2017, p.
1), a mobilização articular pode ser aplicada “[...] a qualquer estratégia ativa ou passiva para
aumento da amplitude de movimento nos componentes periarticulares entre as superfícies
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articulares”. Compreendendo as especificidades da mobilidade articular, essa variável será
discutida em detalhes no próximo tópico.
MOBILIDADE
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Compreendendo a classificação das articulações, é possível entender a definição de
mobilidade articular. Dessa forma, a mobilidade pode ser definida como a capacidade que
uma articulação tem de se movimentar ativamente, na maior amplitude de movimento pos-
sível, antes de ser restringida pelos componentes articulares e/ou periarticulares (ACHOUR
JUNIOR, 2017). A mobilidade também leva em consideração os componentes do sistema
nervoso, em especial, do controle motor. É necessário reiterar que a mobilidade e a flexi-
bilidade apresentam uma relação de interdependência (ACHOUR JUNIOR, 2009, 2012,
2017). De fato, segundo Simmonds, Miller e Gemmell (2012), a mobilização articular não
está limitada à articulação, mas envolve a musculatura e o invólucro fascial, interconectada
à fáscia profunda e a outros tecidos, como tendões e ligamentos.
O trabalho de mobilidade produz vários efeitos benéficos, incluindo a inibição de dor
via mecanorreceptores periféricos, aumento da nutrição sinovial articular, restauração da
função articular e realimento do tecido conjuntivo periarticular (ACHOUR JÚNIOR, 2017).
Segundo Achour Júnior (2017), os exercícios de mobilização seguidos pelos exercícios de
alongamento podem suprimir a restrição na amplitude de movimento e desenvolver a flexi-
bilidade com segurança (ACHOUR JÚNIOR, 2017).
O fato de se empregar o trabalho de mobilidade articular associada ao alongamento
não significa que a mobilização articular envolva somente a articulação e que o alongamento
seja exclusivamente muscular, mas dependendo do comprometimento, um desses compo-
nentes pode estar mais restrito do que o outro (ACHOUR JÚNIOR, 2017). Realmente, “tanto
o movimento articular influencia os músculos daquela articulação como a normalização do
excesso de tônus ou a supressão do encurtamento tem um efeito importante na articulação”
(ACHOUR JÚNIOR, 2017, p. 16).
Embora imprescindível para a manutenção das funções corporais, a mobilidade não
deve ser trabalhada de maneira isolada; torna-se importante trabalhá-la em associação com
a estabilidade, visto que cada articulação possui necessidades de treinamento particulares
(BOYLE, 2015, 2018). O próximo capítulo apresentará elementos essenciais para a com-
preensão do treinamento de mobilidade associado à estabilidade.
MOBILIDADE E ESTABILIDADE
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estabilidade articular funcional é a condição que permite um desempenho normal da articula-
ção ao longo de uma atividade/movimento funcional, sendo resultado dos fatores contribuintes
da estabilidade mecânica (geometria da articulação e propriedades mecânicas dos tecidos)
associados às forças que agem sobre a articulação (ALENCAR; ROLLA; FONSECA, 2006).
Explicar o treinamento de mobilidade e estabilidade não é uma tarefa fácil. Contudo,
compreendendo que as articulações corporais apresentam funções específicas, Boyle (2015,
2018), um dos principais estudiosos de treinamento funcional do mundo, criou uma abor-
dagem que denominou de articulação por articulação (do inglês: joint by joint). Nessa abor-
dagem, o corpo pode ser descrito como uma pilha de articulações, na qual cada uma delas
tem uma função predominante de mobilidade ou estabilidade, conforme a Figura 1.
Nesse sentido, cada articulação tem uma necessidade específica que deve ser treina-
da, e cada uma delas tem níveis previsíveis de disfunção. Segundo o autor, os problemas
em determinada articulação se revelam na forma de dor na articulação acima ou abaixo.
Para explicar essa relação, Boyle (2015) utiliza como exemplo a lombalgia (dor na coluna
lombar). A dor lombar pode ser causada pela perda de função na articulação dos qua-
dris. Ou seja, a disfunção articular afeta a articulação local e a articulação acima. Em outras
palavras, se os quadris, designados pela mobilidade, não conseguem se mover, a coluna
lombar, designada pela estabilidade, irá fazê-lo (BOYLE, 2015).
Quando a articulação que era para ser móvel apresenta uma hipomobilidade, a articu-
lação estável é forçada a se movimentar em compensação (hipermobilidade), tornando-se
menos estável e desencadeando alguns problemas, como, por exemplo, as disfunções ar-
ticulares (BOYLE, 2015). O processo é simples: perca mobilidade de tornozelo e ganhe dor
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no joelho, perca mobilidade de quadril e ganhe uma dor lombar, perca mobilidade torácica
e ganhe dor na cervical e no ombro ou lombalgia (BOYLE, 2015).
É importante compreender que todas as regiões da cadeia cinética requerem níveis ade-
quados de estabilidade e mobilidade, de modo que ambas as funções devem ser respeitadas
e, respectivamente, condicionadas em cada região da cadeia cinética, o que dependerá da
sua função (OSAR, 2017). Nesse contexto, a disfunção ocorrerá quando articulações que
requerem maior estabilização se tornam hipermóveis e, em contrapartida, quando articula-
ções que requerem maior mobilidade se tornam hipomóveis (OSAR, 2017).
Nesse sentido, como ilustrado na Figura 2, se uma pessoa apresenta uma pronação
acentuada no pé, é possível que compense esse padrão aumentando a abdução do joelho
(geno valgo). O geno valgo pode favorecer a adução do quadril, que por sua vez, favorece
uma assimetria pélvica, desencadeando desvios posturais na coluna. Estes desvios podem
favorecer a depressão do ombro e consequentemente a inclinação cervical. Embora apre-
sentado de maneira global, esses processos podem acontecer em apenas alguns segmentos
da cadeia cinética (BOYLE, 2015).
Compreendendo a abordagem apresentada, o objetivo das estratégias de treinamen-
to será mobilizar as regiões hipomóveis, estabilizar as regiões hipermóveis e aplicar uma
estratégia de exercícios corretivos e compensatórios que respeite a relação entre as re-
giões (OSAR, 2017).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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BOYLE, M. O novo modelo de treinamento funcional de Michael Boyle. 2ª ed. Porto
Alegre: Artmed, 2018.
BUSHMAN, B. A. Flexibility exercises and performance. ACSM’s Health & Fitness Jour-
nal, v. 20, n. 5, p. 5-9, 2016.
FOX, E. L.; BOWERS, R. W.; FOSS, M. L. Bases fisiológicas da educação física e dos
desportos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
SIMMONDS, N.; MILLER, P.; GEMMELL, H. A theoretical framework for the role of fascia
in manual therapy. Journal of Bodywork and Movement Therapies, v. 16, n. 1, p. 83-
93, 2012.
WERLANG, C. Flexibilidade e sua relação com o exercício físico. In.: SILVA, O. J. Exer-
cícios em Situações Especiais I. Florianópolis: UFSC, 1997. p. 51-66.
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