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Doenças

bacterianas
relacionadas com
a água e alimentos
No Brasil 273,4 mil pessoas foram internadas
por infecções gastrointestinais em 2019

DATASUS/Painel Saneamento Brasil


DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA

● Estabelecer uma relação entre ocorrências de DVH e

qualidade ambiental

● Descrever o cólera: interações entre parasita e hospedeiro,

formas de transmissão e prevenção

● Identificar os fatores ambientais possivelmente envolvidos na

disseminação do cólera
DOENÇAS RELACIONADAS COM A ÁGUA

Perda da qualidade da água

Necessidade de água potável X Veículo de impurezas


DOENÇAS RELACIONADAS COM A ÁGUA
DOENÇAS RELACIONADAS COM A ÁGUA
Vibrio
MICRORGANISMOS DOENÇA HUMANA
Vibrio cholerae Cólera clássico
Grupo O1 (biótipos el tor e clássico) (epidêmico e pandêmico)
Grupo O139

Vibrio cholerae Diarreia leve

Demais grupos

Vibrio parahaemolyticus Gastroenterite

Vibrio vulnificus Infecção em feridas


Sepse
CÓLERA

● Escritos em gregro e sânscrito 500 aC


● Primeira pandemia registrada: 1817-1823 (Irã/Turquia)

- Caravanas comerciais, peregrinações religiosas e


campanhas militares facilitaram a disseminação do cólera.
(Migrações!)

- Condições sanitárias precárias

A Organização Mundial de Saúde estima que apenas 5 a 10%


dos casos de cólera são relatados; o total de incidência de
cólera provavelmente excede um milhão de casos por ano.
V. cholerae

► Bacilos curvos

► Flagelo polar

► Gram-negativo

► Temperatura ótima: ~ 37°C


V. cholerae

► Anaeróbios facultativos

► Fermentadores

► Muitas espécies halofíticas

► Intolerantes ao pH ácido
Fatores de patogenicidade e virulência – Vibrio cholerae

 Fímbrias
 Polissacarídeos extracelulares
 Adesinas (flagelos) – fator acessório
 Mucinase
 Motilidade
 Formação de microcolônias
 Enterotoxina
Cólera

Dose infectante: 108-1010 células


➢ Reduzida com ingestão concomitante de alimentos
➢ Depende do estado nutricional

Incubação: 6 horas a 4 dias

Aderência às células epiteliais do intestino delgado

Multiplicação e produção de toxinas

Infecção não invasiva


Sintomas

• Diarreia leve e aquosa até uma diarreia aguda;


• Fezes com aspecto de água de arroz;
• Cólicas abdominais, náusea, vômito;

Nos casos mais graves...

Desidratação (ação da toxina colérica)


O que a toxina colérica causa no intestino humano?

O tubo digestivo e o lúmen

lúmen

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aparato_Digestivo_(espa%C3%B1ol).png
A toxina colérica liga-se à glicolipídeos no epitélio intestinal
Membrana celular - eucariotos
Ação da toxina colérica

GM1 = Monossialogangliosídeo (glicolipídeo)

Hipersecreção
prolongada de água
e eletrólitos para o
lúmen intestinal
Cólera (casos mais graves)

Diarreia severa

Desidratação: colapso circulatório

Arritmias cardíacas
Hipotensão (=“pressão baixa”)
Insuficiência renal aguda

Óbitos: entre 25 e 50% dos casos não tratados


Transmissão do cólera

Reservatórios: ser humano e o ambiente aquático


Ciclo de transmissão: humano–meio ambiente–humano

• Água contaminada
• Alimentos que entraram em contato com a água contaminada
(peixes, crustáceos, bivalves crus ou mal cozidos, frutas e
vegetais crus).
• Fecal – oral (entre pessoas)
• Moscas
Cólera: prevenção e controle

- Higiene pessoal e dos alimentos


- Saneamento (água e esgoto)
- Cozimento adequado dos alimentos
- Diagnóstico e tratamento
- Excrementos (pacientes) desinfetados
- Acompanhamento dos contatos
- Vacinação: curta duração

Imunidade:

- Poucos meses
Brasil, (2008). ANVISA.
CÓLERA

Introdução de cepa
patogênica de V. cholerae
através de água de lastro?

Fonte: Centers for Disease Control and Prevention


https://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/00036609.htm
O plâncton como reservatório natural de
V. cholerae (?)
CÓLERA
CÓLERA

Exuvia de copépodo colonizada por


V. cholerae
CÓLERA
Quais foram os resultados?

➢ Vibrios associados ao plâncton foram mais abundantes do que


vibrios de vida livre em todos os ambientes estudados.

V. cholerae encontrado em:


➢ 9,5% dos tanques de lastro
➢ 24,2% das amostras de portos
➢ Ausente em outras áreas costeiras de SP
➢ Isolados de V. cholerae O1, envolvidos na doença da cólera,
foram encontradas em amostras de água de lastro (2%) e de
portos (2%).

>> O monitoramento de vibrios e outras bactérias ligadas ao


plâncton é de suma importância nos programas de gestão das
águas de lastro.
Água de lastro: fonte de dispersão de microrganismos patogênicos?

Nature, vol. 408: 49-50. 2000.


O clima influencia na dinâmica do CÓLERA?
El Nino = aquecimento de 1°C
acima do normal das águas
superficiais do Pacífico Central
- Normalmente durante um ano
- 1991 – 1995

Centers for Disease Control and Prevention


Fonte: Laboratório de Análise e
Processamento de Imagens de Satélites
(Lapis), da Universidade Federal de Alagoas
(Ufal)

https://ufal.br/ufal/noticias/2018/11/lapis-
afirma-que-el-nino-afetara-economia-do-
nordeste-em-2019
CÓLERA

Science, vol. 289:1766-1769. 2000.

Efeito do El-Niño na dinâmica do cólera:


O que acontecerá
• Temperaturas mais elevadas no cenário de
• Maior intensidade das inundações mudanças
climáticas?
CÓLERA
CÓLERA

↓ Volume de água
↑ Densidade de células
↑ salinidade
Asadgol et al. 2019 escassez de água
Dispersão de V. cholerae por aves aquáticas
CÓLERA

“Não há evidências de que V.


cholerae cause doenças em
aves.”
PLOS Pathogens | https://doi.org/10.1371/journal.ppat.1007814 August 22, 2019
Rotas possíveis para a dispersão global de V. cholerae
através de aves aquáticas

Laviad-Shitrit S, Izhaki I, Halpern M (2019) Accumulating evidence suggests that some waterbird
species are potential vectors of Vibrio cholerae. PLOS Pathogens 15(8): e1007814.
Table 1. Isolation of V. cholerae strains from waterbird species sampled from different
regions around the world (data from studies published between 1975 and 2018).
Journal of Applied Microbiology124, 1283--1293©2018 The Society for Applied Microbiology
Aves com maior número de amostras positivas para Vibrio

Pinguim-de-magalhães (visitante) Atobá (residente)


Foto: André G Martins

https://commons.wikimedia.org/

https://agencia.fiocruz.br/aves-marinhas-podem-indicar-
contamina%C3%A7%C3%A3o-ambiental Bobo-pequeno (visitante)
SANEAMENTO BÁSICO

 Coleta e tratamento de efluentes domésticos

 Abastecimento de água potável

 Manejo de água pluvial

 Limpeza urbana

 Manejo de resíduos sólidos


Pesquisa Nacional do Saneamento Básico 2017

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101734.pdf
Principais causas da mortalidade na infância no Brasil
FRANCA, Elisabeth Barboza et al . Principais
causas da mortalidade na infância no Brasil,
em 1990 e 2015: estimativas do estudo de
Carga Global de Doença. Rev. bras.
epidemiol., São Paulo, v.20, supl.1, p. 46-60,
May 2017.
Pesquisa Nacional do Saneamento

- A coleta de esgotos tem sido o serviço de


saneamento com maior deficiência no Brasil.

- Embora tenha ocorrido um avanço na rede


coletora de esgotos, a disparidade regional ainda
persiste.
Quais são os custos das DVH? (PNSB 2017)

- 346 mil internações por infecções gastrointestinais


em 2016; 273,4 em 2019 (DataSus);
- Corresponde a 900 mil dias de trabalho perdidos;
- A universalização dos serviços de água e esgoto
possibilitaria uma redução de 23% dos afastamentos
por diarreia, com economia de R$ 258 milhões por
ano;
- Seriam evitadas 74,6 mil internações, R$ 27,3
milhões em gastos com saúde.
- Além disso, a produtividade aumentaria em 13,3%,
favorecendo o aumento da renda.
http://www.saneamentobasico.com.br/portal

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