• Em cada época da história da humanidade é estabelecido um modelo
de pensar que dá certa homogeneidade ao modo do homem ser no mundo. Esse modelo -- composto por crenças e valores – é denominado paradigma e permite a produção de conhecimento através dos tempos (Cardoso, 1995). • No entanto, uma vez instaurado, um paradigma só se mantém enquanto ele servir para explicar a realidade. Quando certos fenômenos observados no mundo não conseguem ser explicados pelo paradigma vigente, instala-se uma crise que leva a uma mudança profunda no pensamento, percepção e valores que formam a visão da realidade determinada por aquele paradigma vigente. Assim, surge um novo paradigma. • Não é que o paradigma anterior esteja errado, mas ele não corresponde mais às novas exigências históricas e não mais consegue apresentar soluções para os problemas. Entretanto, o antigo paradigma não desaparecerá, pois é dentro dele que se forma o novo paradigma. • Uma vez que o paradigma permite a produção de conhecimento através dos tempos, é ele que define o modelo de ciência vigente em cada época, na medida em que os pensadores se unem para que o consenso sobre o que é ciência se instaure. É nesse sentido que Kuhn (citado em Cardoso, op. cit.) define paradigma científico como um conjunto de princípios, regras e padrões compartilhados por alguma comunidade científica. Assim, quando uma pesquisa é realizada a partir de um paradigma científico aceito, ela é classificada como ciência normal, e é a produção de conhecimento realizada dentro desse paradigma que vai diferir o que é ciência do que não é. • Porém, quando os cientistas descobrem que há dificuldades com o paradigma, ele entra em crise: seu arcabouço de ideias e regras passa a não mais resolver as anomalias que surgem – isto é, as violações da natureza às expectativas paradigmáticas vigentes. Essa crise no paradigma científico, que leva à mudança do mesmo, é o que Kuhn (citado em Cardoso, op. cit.) chamou de Revolução Científica: aquilo que traz um salto de qualidade no processo evolutivo da ciência.
• No entanto, a transição de um paradigma para outro é cheia de percalços, de
dificuldades. Enquanto alguns cientistas percebem a necessidade da renovação de suas concepções, os mais aferrados às antigas crenças veem seus esforços de décadas de estudos questionados e assim resistem a essas novas concepções. Instaura-se então um grande desconforto na comunidade científica. Cardoso (op. cit.) considera essas resistências como positivas por preservarem o rigor do pensamento científico, que a ciência emergente precisa alcançar para chegar ao status de ciência normal. • É interessante observar que as inovações e descobertas científicas inéditas, que antecedem o surgimento de um novo paradigma, não se dão pelos métodos científicos tradicionais da ciência em crise, pelos seus padrões aceitos. A mudança de paradigma, portanto, não apenas leva a comunidade científica a ver os fenômenos de outra forma, com outros olhos, mas também leva a passar a trabalhar em um outro mundo. A identificação de um paradigma pode ser feita a partir de respostas a três questões fundamentais: 1) Qual é a natureza da realidade e o que podemos conhecer da mesma? (Questão Ontológica) 2) Qual é a natureza da relação entre indivíduo que conhece e o que pode ser conhecido? (Questão Epistemológica) 3) Como pode o investigador descobrir o que ele considera que possa ser conhecido? (Questão Metodológica)