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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

Docente: Alex França


Discente: Cecília Teixeira Ribeiro.

Estudo Dirigido (1)

Disciplina: Literatura e Outras Linguagens

A relação entre o corpo e a sociedade é um tema complexo e multifacetado.


Na análise feita pela autora Leda Tucherman, é lançada uma luz sobre essa
relação em dois momentos-chave: a Antiguidade Clássica e a tradição judaico-
cristã. Ao observar esses períodos, pode-se compreender melhor como as
concepções sobre o corpo foram moldadas e como influenciaram as visões
contemporâneas. Além disso, é possível tomar consciência de como a crise do
corpo na sociedade atual é resultado dessas raízes históricas que ecoam até
os dias atuais.
Na Antiguidade Clássica, o corpo era idealizado e modelizado com base em
princípios externos, valorizando a beleza física, principalmente a masculina .
Esse período promoveu a admiração pelo corpo nu e belo, associando-o à
civilização. Por outro lado, com a chegada da tradição judaico-cristã, o corpo
passou a ser visto como feito à imagem e semelhança de Deus, mas também
como portador do pecado original. Isso trouxe uma visão ambivalente do corpo,
associando-o à vergonha e ao sofrimento. Esses discursos e narrativas
moldaram a percepção e a relação das pessoas com seus próprios corpos ao
longo da história.
Observando essas perspectivas, é perceptivel como esses discursos
reverberam nas concepções de corpo dos dias atuais, já que contribuiram para
a idealização de um corpo perfeito, proporcional e que deve ter suas
sensualidades cobertas. Os impactos desses padrões são infindos, desde as
intervenções cirúrgicas para mudar características físicas a uma certa
vergonha e pudor aos prazeres do corpo, já que o mesmo deveria ser o reflexo
da imagem de Deus.
Existem diversas formas de intervenções cirúrgicas e não-cirúrgicas para que
ocorram mudanças e as pessoas alcaçem padrões sociais, além de ter muito
incentivo para que essas intervenções sejam feitas e mantidas. Entretanto,
coloca-se uma questão nesse momento do texto: E quanto ao que não pode
ser mudado? Nesses casos, o que ocorre é a exclusão desses corpos, a
marginalização e o despejo de ataques que findem sua existência, sendo assim
perpetuam-se as desigualdades sociais
Quando se coloca que o corpo humano foi feito à imagem e semelhança de
Deus, é comum que, socialmente, espere-se uma santidade e negação à
sexualidade por parte do humano, quando essa expectativa é transgredida,
gera-se, novamente, uma exclusão e uma marginalização dos corpos
“transgressores”. Uma grande reflexão feita acerca desse moralismo (seletivo),
foi feita por Caetano Veloso, em sua música Geni e o Zepelim, quando em um
de seus versos escreve: “Seu corpo é dos errantes”, ou seja, a autonomia de
ter seu próprio corpo tido como “seu” é negada à Geni ao transgredir o que a
sociedade vê como correto. Portanto, ao falar de corpo, temos que falar de
desejo, liberdade de ser e fazer, relações de poder e questionar a diferentes
posições dos corpos na sociedade.

Claro que o corpo não é feito só para sofrer,


mas para sofrer e gozar.
Na inocência do sofrimento
como na inocência do gozo,
o corpo se realiza, vulnerável
e solene.
- Drummond de Andrade

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