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→ A CE estatutária
É usual a distinção entre CE estatutária e CE programática. A CE estatutária é formada
por um conjunto de princípios e normas precetivos, estatutários ou de garantia que
incidem sobre a vida económica, visando a proteção das caraterísticas básicas de um
sistema económico definido, através de disposições ora garantisticas (de manutenção do
que está), ora modificativas (no sentido da consolidação de tal sistema): são os casos
das normas consagradoras dos direitos económicos fundamentais clássicos e de todas as
demais que com elas concorrem para definir o conteúdo e limites desses direitos, bem
como de quase todos os princípios fundamentais constantes do art.80 CRP.
Segundo, J.J. Gomes Canotilho, os princípios políticos constitucionalmente
conformadores são os explicitam as valorações políticas fundamentais do legislador
constituinte, já os princípios-garantia visam instituir direta e imediatamente uma
garantia, possuindo um elevado grau de abstração.
→ A CE programática
Consiste num quadro de diretivas de política económica, num verdadeiro programa de
realizações económico-sociais que tem como destinatários os órgãos politico-
legislativos e que visa a transformação da economia em ordem à prossecução de fins de
índole social e político-económicos pré-concebidos. Segundo J.J. Gomes Canotilho,
estamos neste caso perante princípios constitucionais impositivos, que impõem aos
órgãos do estado, sobretudo ao legislador, a realização de fins e a execução de tarefas.
São exemplos paradigmáticos de princípios deste tipo que integram a CE, as
incumbências prioritárias do estado, constantes no art.81º CRP.
→ CE formal
Texto composto pelos normativos que ostentam uma superioridade formal relativamente
à lei ordinária: assim, todas essas disposições, e unicamente essas disposições, são
constituição, ainda que o seu conteúdo não seja fundamental á luz da noção de
constituição. O texto constitucional constitui deste modo o vértice da pirâmide
normativa, verdadeiro e definitivo “fecho” do sistema jurídico que assim garante
unidade formal deste e, por conseguinte, a unidade do próprio estado.
A ideia de CE material compatibiliza-se hoje, por isso com a teste da força normativa da
constituição, ou seja, entende-se caber ao texto constitucional uma tarefa histórica de
conformação (material) da comunidade política concreta, conferindo-lhe unidade de
sentido e garantindo-a. A CE material há-de operar por isso através de um texto, onde se
manifestem e formulem as opções de valor jurídicas e politicas da comunidade- um
texto que já não esgota nas suas palavras a CRP; um texto que seja depositário dos
valores constituintes aceites e que sirva de base para a descoberta das soluções jurídico-
constitucionais concretos; um texto que garanta a permanência das opções comunitárias
contra a leviandade das opiniões politicas do momento e contra a especulação abstrata
do subjetivismo conservantista ou utópico.
O princípio democrático tal como esta expresso na CRP, no art.1º, onde se diz que é a
vontade dos eleitores que legitima o poder político e os governantes a limitarem
aquando necessário a sua liberdade económica e nessa medida esta legitimação tutelar
do poder politico começa por ser o grande principio da constituição económica. Levanta
a questão da relação do legislador constituinte com o legislador ordinário porque a
constituição pode autorizar o legislador ordinário a restringir direitos de natureza
económica, mas é o legislador que tem de escolher a extensão da medida dessa
restrição, sendo aferida à luz da CRP. Estas diretrizes muitas vezes inserem-se na
constituição programática, objetivos que o legislador traça para o estado, sendo por
vezes difícil aferir a proporcionalidade das medidas adotadas em relação a um programa
mais vago.
A CRP de 1976 desdobra a “clausula de estado social” numa extensa e detalhada lista
de direitos fundamentais “económicos, sociais e culturais”:
Este princípio encara o princípio da igualdade em termos reais e não formais, isto é,
sendo certo perante a lei que todos os cidadãos são iguais perante a lei, a verdade é que
as coisas não são bem assim, traduzindo-se nos princípios de igualdade de género,
sexual, raça, etc. sendo nem sempre respeitada. É preciso que o estado tome medidas
proativas para punir os comportamentos contra art.13º, se assim é, também é preciso
que o estado intervenha para corrigir as desigualdades económico sociais, criando
condições para essas condições formais se tornem reais. Isto faz-se através da política
fiscal e através do princípio geral de redistribuição de rendimento, em que a última é
uma obrigação do estado no sentido em que só através da ação publica é possível que a
acumulação de capital por parte das empresas e quem tem mais oportunidades possa
beneficiar quem não teve acesso a essas oportunidades.
NOTA: o estado nunca está num momento histórico concreto obrigado à satisfação
integral correspondente destes direitos, a garantir o resultado (ex.: o caso do direito à
habitação, apesar de consagrado na CRP, o estado não garante uma casa para cada
português); mas isso não o dispensa de aplicar a diligencia, a competência e o interesse
adequados à satisfação dessas necessidades. Isto, porque a realização daqueles direitos,
na medida em que em maior ou menor medida se traduz sempre “em prestações que
representam elevadas despesas por parte do estado”, depende da “acumulação dos
recursos da sociedade num momento concreto, recursos esses que por definição são
escassos” (princípio da reserva do possível).
Nos termos do ART.61 CRP, “a iniciativa económica privada exerce-se livremente nos
quadros definidos pela constituição e pela lei e tendo em conta o interesse geral”. Este
preceito consagra um genérico direito de livre iniciativa económica privada de que as
restantes iniciativas previstas nos nº2 a 5 do mesmo artigo constituem formas
particulares de exercício que são objeto de especificas previsao e proteção.
Para alem do ART.61º, temos consagrado nas alíneas b) e c) do ART.80º um princípio
de liberdade de iniciativa e de organização empresarial no âmbito de uma economia
mista (c) e a coexistência do setor publico, privado e cooperativo e social de
propriedade dos meios de produção, reforçando o ART.82º esta última garantia.
Todavia, Luís Cabral de Moncada sublinha esta neutralidade é mais aparente do que
real, o “modelo económico europeu é de uma economia de mercado aberto, sendo a
livre concorrência e o mercado os princípios ordenadores da decisão económica” que
acentua os princípios gerais constantes da CE interna.
Assim, podendo o setor publico “estender-se para alem dos limites dos setores básicos”,
está, todavia, excluída a hipótese de um governo de índole socialista tornar a economia
maioritária ou predominantemente publica.
Não pode ser identificada com a mera empresarialização de um serviço publico que
perdure como atividade materialmente publica, como atividade cuja execução o estado
continue responsável nos termos da lei. A ideia de iniciativa económica publica implica,
pois, a prossecução de uma atividade de mercado, em que a empresa publica opere num
contexto concorrencial.
Essa iniciativa de criação de empresas publicas, competirá apenas ao estado, regiões
autónomas e ainda às autarquias locais (se tarte da prossecução de interesses próprios
das populações respetivas- ART.235º/2). Impõe-se a constatação na matéria em causa
de que não prescreve a letra da CRP explicitamente qualquer restrição à iniciativa
económica publica.
É evidente que este poder de iniciativa económica publica, como qualquer poder
publico, não pode desconhecer outros limites implícitos decorrentes de todo o texto
constitucional.
As alíneas c) e b) do ART.81º:
• Liberdade de iniciativa e de organização empresarial no âmbito de uma
economia mista: princípio este que, todavia, não consubstancia um verdadeiro
direito subjetivo negativo ou de liberdade, mas antes um poder discricionário de
criação de empresas publicas destinadas a atuar num mercado concorrencial e
em condições de igualdade relativamente aos demais operadores económicos
• Coexistência do setor publico, do setor privado e só setor cooperativo e social de
propriedade dos meios de produção: tem como objeto e destinatários tambem as
atividades económicas empresariais
Distinção:
• Setor publico administrativo: constituído pelas entidades e serviços
administrativos não-empresariais
• Setor publico empresarial: constituído pelas empresas publicas
É isso mesmo que o nº2 do ART.82º retira expressamente. Desta forma, as unidades
produtivas de titularidade publica, mas de gestão privada integram setor privado. O
mesmo acontece com as empresas intervencionadas, mantem-se por isso no setor
privado, mesmo durante o período da intervenção publica na respetiva gestão.
E pela mesma ordem e razões, tambem nas sociedades de capitais mistos a titularidade
privada de uma parte do capital social não obsta à integração da empresa dominada pelo
socio publico no setor publico. Com efeito, os parceiros privados estão, em última ratio,
submetidos ao interesse publico ligado aos meios de produção em causa e prosseguindo
pelos parceiros públicos seus proprietários, que em hipótese de conflito prevalece sobre
o referido escopo lucrativo.
No caso das cooperativas e das comunidades locais isso acontece por assegurar, os
princípios que enformam os respetivos regimes uma propriedade e uma gestão
democráticas e igualitárias. No caso dos coletivos de trabalhadores em autogestão, por
maximizar esta modalidade de gestão empresarial uma participação dos trabalhadores
no governo das unidades produtivas do setor publico que a CRP acarinha por princípio
(ART.89º); no caso das entidades- associações e fundações- por prosseguirem fins não
lucrativos e de solidariedade social.
Todo o setor cooperativo e social merece, da parte do estado, uma particular “proteção”
(ART.80º/f).
1. Subsetor cooperativo
Constitui uma figura intermedia entre a associação e a sociedade comercial. Exige-se a
observância dos princípios cooperativos internacionalmente consagrados, sob pena de
não poderem beneficiar os seus titulares da tutela da norma consagradora do direito de
livre iniciativa económica cooperativa (ART.61º/2). Os mais importantes princípios
cooperativos serão apenas os da porta aberta, da filiação voluntaria, da organização
democrática, da limitação da taxa de juro a pagar pelo capital social e da repartição
equitativa de eventuais excedentes ou poupanças.
2. Subsetor comunitário
As “comunidades locais” referidas no ART.82º/4/b) não são as categorias
constitucionalmente identificadas e consagradas das autarquias locais (ou suas
associações) e das comissões de moradores que constituem manifestações do poder
local: esta previsao pretendeu proteger os baldios.
3. O subsetor autogestionário
Resulta ele de uma das modalidades do direito à livre iniciativa económica reconhecido
a entidades privadas pelo ART.61º CRP. A gestão de uma empresa pelo coletivo dos
seus trabalhadores, sendo um direito reportado à qualidade destes de assalariados,
implica, por definição, que não são estes os seus proprietários, mas terceiras entidades;
ora, reconhecer aos primeiros um tal direito, sem mais implicaria a negação do direito
de livre iniciativa económica e do direito da propriedade dos titulares da empresa em
autogestão.
Não foi até hoje aprovado um regime legal de autogestão de empresas (publicas), apesar
do que dispõe o ART.61º/5: “é reconhecido o direito de autogestão, nos termos da lei”.
E bem se percebe porquê: esta figura é tributaria de um texto fortemente ideologizado,
na sua versão originaria, sobrevivendo hoje no articulado como uma relíquia de outros
tempos, que deixou de ter qualquer correspondência na cultura político-administrativa
dos nossos dias.
4. O subsetor solidário
É constituído pelos “meios de produção possuídos e geridos por pessoas coletivas sem
carater lucrativo, que tenham como principal objetivo a solidariedade social,
designadamente entidades de natureza mutualista (ART.82º/4/d). supomos que tal se
deve a uma solidariedade estatutariamente circunscrita aos próprios associados e não,
em rigor, a uma atividade ad extra, em benefício de terceiros. E tambem à maior
amplitude do leque de escopos a que tradicionalmente se dedicam as mútuas.
Com efeito, o ART.63º incumbe ao estado de apoiar 8e fiscalizar), nos termos da lei, “a
atividade e o funcionamento das instituições particulares de solidariedade social e de
outras de reconhecido interesse publico sem carater lucrativo, com vista à prossecução
de objetivos de solidariedade social consignados, nomeadamente neste artigo, na al.b)
do nº2 do artigo 67º, no artigo 69º, na alínea e) do numero 1 do artigo 70º e nos artigos
71º e 72º.”
2.4.4. A possibilidade de vedação de setores básicos da economia à iniciativa
económica privada (art.86º, nº3)
Recorde-se por fim que o direito comunitário não coloca entraves à existência de
monopólios públicos industriais. Desde logo, e como vimos, no plano da CE
comunitária não há, em princípio, uma imposição relativamente aos regimes de
iniciativa económica e de propriedade, nomeadamente a favor da iniciativa e da
propriedade privadas; e quanto à especifica questão da reserva publica de setores de
atividade, limita-se o ART.37º TFUE a prescrever uma adaptação dos monopólios
públicos de natureza comercial à liberdade fundamental comunitária de circulação de
mercadorias.
Importa, pois, averiguar em que medida ou até que ponto, “a constituição recebe um
quadro legal de caracterização do direito fundamental, que reconhece” - o que na
verdade, e ainda que tao só nessa estrita medida, torna a lei definidora daqueles quadros,
mais do que uma lei meramente restritiva, uma lei conformadora do conteúdo do direito.
Pois, é hoje pacifico que só serão qualificáveis como “básicos”, para alem dos
chamados serviços públicos essenciais aquelas atividades hodiernamente tidas como de
interesse económico geral e que a doutrina italiana tradicionalmente reconduz ao
conceito de serviço publico objetivo. Todavia, é forçoso admitir que algumas atividades
se situem numa zona de dúvida, não devendo as opções tomadas pelo legislador nessa
zona marginal ser objeto de reexame judicial. Os “quadros definidos pela lei” nos quais
se exerce a iniciativa económica privada. Serão destarte apenas aqueles que resultam da
própria constituição.
A primeira divisão nesta matéria passa pelo diferente papel que o plano assume, por um
lado, nos sistemas socialistas, de direção e planificação centrais da economia, e por
outro lado nos sistemas de economia de mercado.
Na fórmula socializante, o plano é imperativo não apenas para os poderes públicos, mas
tambem para o setor económico privado. Já nas fórmulas mais liberalizantes ou mesmo
liberais, onde predomina o setor privado, o plano é meramente indicativo tornando-se
“num instrumento de orientação da economia e de correção dos critérios dominantes do
mercado”.
Foi ainda levada a cabo pela revisão de 2004 uma alteração significativa no domínio da
“coesão económica, social e territorial”, tambem claramente inspirada pelo direito
comunitário.
Consistiu tal alteração no acrescento, na parte inicial da alínea d) do ART.81º, da
expressão “promover a coesão económica e social de todo o território nacional, ...” e
ainda da especificação da dicotomia “interior/litoral” na descrição das assimetrias
carentes de correção que a norma já formulava na sua redação anterior.
À partida qualificável tao só uma tarefa e um fim do estado da alínea g) do ART.9º, que
compete ao estado a “tarefa fundamental” de “promover o desenvolvimento harmonioso
de todo o território nacional” e na anterior redação da alínea d) do ART.81º, algo
substancial muda no texto constitucional. O constituinte criou a nosso ver um novo
princípio fundamental da nossa CRP económica interna, que vem reforçar o princípio
homologo da CE comunitária e que é o princípio da coesão territorial nos domínios
económico e social.
Não é apenas uma solidariedade entre cidadãos, mas tambem e ainda entre regiões,
visando corrigir desigualdades. Esta reconduz-se tambem e ainda à prioritária
incumbência dos poderes públicos de zelar pela subsistência dos pressupostos da
própria unidade política e jurídica do estado. A unidade do estado não é apenas
garantida pela integração política e jurídica do território, mas igualmente por uma sua
integração económica e social.
Não deixando de constituir uma necessidade expressa da lei “promover a correção das
desigualdades derivadas da insularidade das regiões autónomas e incentivar a sua
progressiva integração em espaços económicos mais vastos, no âmbito nacional ou
internacional” alínea e) do ART.81º CRP.
Assim, o TUE no seu ART.3º/3, proclama hoje a coesão territorial nos domínios
económico e social como objetivo prioritário “A União promove a coesão económica,
social e territorial e a solidariedade entre os estados-membros”.
Deparamos sempre, pois, em cada ordenamento com algo que constitui uma decisão
previa da respetiva CRP: mesmo os chamados sistemas mistos ou de economia mista,
que procuram juntar “o melhor dos dois mundos”, acabam por assentar, basicamente, no
modelo económico do mercado e da concorrência. Os sistemas de economia social de
mercado, como o nosso, baseiam-se na autonomia privada, no sentido de um direito ao
livre e auto responsável exercício do domínio económico, sendo a autonomia privada
por definição “acompanhada de liberdades objetivas de circulação, que garantem a livre
circulação de mercadorias, a livre prestação de serviços, a livre circulação de
trabalhadores e a livre circulação de capitais”.
A autonomia privada e as liberdades objetivas de circulação são juridicamente
asseguradas pelo direito geral de liberdade e pelos tradicionais direitos subjetivos
económicos- o que acontece entre nos com as liberdades de profissão e de empresa e
ainda com o direito de propriedade privada.
Com efeito, o contexto real em que as empresas desenvolvem a sua atividade nos nossos
dias não é de concorrência perfeita: o mesmo é dizer que são possíveis desvios mais ou
menos acentuados ao funcionamento das regras da concorrência através de
comportamentos de coligação e concertação empresariais e de abusos de posições de
domínio no mercado que visem a maximização de vantagens económicas e financeiras
dos seus autores com prejuízo para os consumidores e em geral para o são
funcionamento do mercado.
As normas jurídicas visam por meios artificiais a salvaguarda das normas económicas
da concorrência, assim, o assegurar uma estrutura e comportamento concorrenciais dos
vários mercados no pressuposto de que é o mercado livre, que selecionando os mais
capazes, logra orientar a produção para os setores suscetíveis de garantir uma melhor
satisfação das necessidades dos consumidores e, ao mesmo tempo, a mais eficiente
afetação dos recursos económicos disponíveis, que é como quem diz, os mais baixos
custos e preços (Luís Moncada).
1. LIBERDADE DE PROFISSÃO
Esta deslocação aproximou este direito da figura dos direitos de personalidade. Assim,
este direito é considerado um direito de personalidade que tem enorme importância em
vários níveis:
➢ Tal como o direito ao trabalho, a liberdade de profissão é um corolário ao direito
à vida (em princípio, para que alguém possa sustentar a sua vida pessoal e
familiar, tem de prestar este tipo de atividade)
➢ Esta liberdade é estritamente individual
➢ A profissão de cada pessoa corresponde a uma forma de realização pessoal.
A liberdade profissional goza por inteiro e por mérito próprio do regime do ART.18º
CRP, por ser considerado um DLG pessoal. Há, portanto, uma multiplicidade de
garantias previstas para esta liberdade que não assinem à liberdade empresarial.
O que é uma profissão? Será, de uma maneira genérica, qualquer atividade laboral de
prestação de serviços, feita com carater de habitualidade (compatibilizada com as
condições naturais da atividade), que seja, licita, apta e que tenha como resultado
garantir ao seu titular rendimentos para prover à sua subsistência (não quer dizer que
seja a única forma ou principal). Tem, então, como caraterísticas:
➢ Tem de ser licita
➢ Tem de ser prestável
➢ Tem de ser apta a constituir base económica da existência do individuo e do
agregado familiar
• Capacidade da pessoa para exercer a profissão: por exemplo, a lei não pode
permitir que um individuo invisual pilote um avião- há interesses relativos aos
direitos de quem vai ser destinado dos bens e serviços prestados que têm de ser
assegurados. Não estamos só a falar de capacidades físicas e mentais inatas à
pessoa. Por exemplo, a exigência de uma certificação publica de conhecimentos
técnicos e especificas limita o acesso e escolha da profissão a quem tenha
demonstrado a capacidade técnica e científica para exercer a profissão (restrição
permitida).
Teoria dos graus:
1. Corresponde ao grau de maior liberdade do legislador, que ocorre no que respeita
à restrição do exercício, sem afetar a escolha, ou seja, quando só o “como” e não
o “se” é o objeto de uma regulamentação restritiva. Este degrau permite maiores
restrições legais já que estamos no âmbito da liberdade de exercício da profissão.
2. LIBERDADE DE EMPRESA
Temos:
Nº 1→ norma genérica que proclama a tutela da iniciativa privada
Restantes números → temos regimes específicos para duas modalidades de incitava
económica privada: iniciativa cooperativa e iniciativa autogestionária.
O objeto deste direito é sempre a empresa. As cooperativas que têm objeto e finalidade
de carater não económico ou não empresarial estão excluídas do âmbito de atuação do
ART.61º.
O estado tem um meio de financiamento que os setores privados não têm: os impostos.
Logo, em regra, ele deve deixar aos operadores privados o mercado, isto é, deve
conceder aos operadores privados a liberdade jurídica de constituir empresas, mas
tambem conceder espaço de liberdade económica que as empresas precisam para se
desenvolver. O estado só pode reservar a si próprio certas áreas de intervenção
económica, vedando-a da atividade privada, quando o interesse publico tal o exigir.
Tirando essa reserva de setor público (lei-88/87), a liberdade de empresa é uma
liberdade tendencialmente absoluta.
Temos de distinguir dois momentos do exercício desta liberdade, tal como na liberdade
de profissão: o momento de acesso e o momento de exercício.
Assim, a liberdade de empresa não será tao importante, porque esta é, de certa forma,
funcional em relação à liberdade da profissão. Ou seja, a empresa é um meio, entre
outros, de realização de profissão. A empresa não é uma necessidade eminente de
realização pessoal, mas sim um veículo que leva a essa realização. É uma concretização
da liberdade profissional.
Embora não esteja tao intrinsecamente ligada à realização pessoal, a verdade é que a
liberdade de empresa tem uma importância grande nas economias de mercado atuais. A
partir do momento em que o estado delega aos privados a produção de bens e serviços, é
evidente que tem de dar aos particulares uma liberdade jurídica de estes conseguirem
assumir a responsabilidade da empresa produzir os bens que o estado não consegue
produzir.
LIBERDADE DE LIBERDADE DE
PROFISSÃO EMPRESA
ELEMENTOS Direito geral de Constituem possibilidade
COMUNS personalidade; princípio de livre expansão da
constitucional de liberdade personalidade; são ambas
de atuação; liberdades económicas
Direito de escolher e individuais
exercer
Como já foi dito, o conceito de empresa não é uniforme nos diferentes ramos de direito.
Por exemplo, no direito do trabalho, comercial e da concorrência, não há conceitos
convergentes. Desde logo, empresa é um conceito que pode ser entendido de uma
perspetiva objetiva e subjetiva.
O professor José Reis considera ainda a liberdade de dispor da empresa como estando
dentro da liberdade de empresa. A liberdade de vender ou liquidar a empresa podem
estar mais associadas ao direito de propriedade do que à liberdade de empresa, pois
pressupõem a propriedade da empresa. É verdade que esta liberdade está relacionada
com as caraterísticas da coisa e mais com as prerrogativas do direito de propriedade do
que da liberdade de empresa. Mas há uma autonomia que deve ser considerada. Muitas
vezes a liberdade de vender a empresa é uma componente fundamental na decisão de
adquirir parte da empresa.
Por último, referir que existem setores económicos que estão reservados ao setor
publico. Estes estão sobretudo previstos na lei-88 A/97, mas há setores que gozam de
reserva por via dos princípios constitucionais. Qualquer exploração deste domínio
publico só pode ser feita por particulares mediante a concessão do estado.
Por outro lado, estando de uma maneira geral a gestão do setor publico limitada, há
zonas de atividade em que o acesso ao privado pode ser dificultado por falta de
regulamentação.
LIMITES: existe, desde logo, a possibilidade de serem exigidos por lei requisitos
subjetivos adequados à organização empresarial. É atribuída à administração alguma
margem de apreciação quanto à subsistência desses requisitos que se reconduz à
chamada discricionariedade técnica.
3- DIREITO DE PROPRIEDADE
o direito de propriedade está previsto no ART.62º CRP, dentro dos DESC, constituindo
um DLG análogo (ART.17º CRP). No ART.62º/2 CRP está previsto o alcance da
proteção do direito de propriedade. Este não é um direito absoluto, podendo ser
restringido em casos de conflito ou colisão com outros direitos fundamentais ou
interesses constitucionais. Portanto, desde logo, existem uma serie de restrições
constitucionais do direito de propriedade, nomeadamente o ART.62º/2.
não sendo o mesmo regime, o ART.62º CRP é um DLG de natureza análoga e nessa
medida está sujeito ao regime do ART.18º/2, tendo de ser sujeito a juízo de
proporcionalidade em sentido amplo, as restrições devem limitar-se ao necessário. O
critério que temos de utilizar é o da função social que aquele bem vai cumprir,
consoante permaneça na esfera privada ou seja apropriado pela entidade publica. Se o
interesse social mais elevado do bem após a expropriação não for cumprido, o antigo
proprietário tem o direito reversivo, ou seja, direito de reaver a propriedade que lhe foi
retirado, devolvendo ao estado que lhe foi entregue.
Alem disso, existe a possibilidade da expropriação ser feita no interesse não do estado,
mas do particular. Há uma fronteira que é necessário traçar e nem sempre é fácil: a
diferença entre o sacrifício indemnizável e uma vinculação social não indemnizável. A
todos nos podem e são exigidos sacrifícios. Todos nos, para alem de termos obrigações
estritas senso, temos ónus que decorrem da vida em sociedade e do dever de não
prejudicar o interesse coletivo. É muito frequente que o estado imponha limitações ao
uso e fruição de um bem, não tendo o dever de indeminização pela restrição desse bem
se houver razoes de interesse coletivo, porque aí já estamos fora do âmbito ART.62º. o
critério geral é o da normalidade do sacrifício imposto.
Para concluir, a Constituição europeia consagra uma série de direitos e liberdades que
têm hoje natureza de direitos constitucionais económicos, nomeadamente as liberdades
fundamentais de pessoas, de bens e de serviços. Estas liberdades, contrariamente aos
direitos que estivemos a falar, são liberdades económicas strictu sensu (os titulares só
gozam consoante sejam agentes económicos). Inicialmente, muitas foram pensadas
enquanto liberdades do trabalhador, empresário, importador e exportado. Atualmente,
como estivemos a analisar, elas tê um foco diferente dos DLG e DESC.