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Revista Científica UNAR (ISSN 1982-4920), Araras (SP), v.14, n.1, p.121-137, 2017.

ALFABETIZAÇÃO VISUAL E SUAS INFLUÊNCIAS SOCIAIS

BAZON, Sebastião Donizeti 1

RESUMO
Os homens primitivos expressavam suas ideias e sentimentos por meio das pinturas e
imagens feitas nas paredes das cavernas. Hoje, vivemos em uma “civilização da imagem”
,isto é, formas simbólicas de quem as produziu e de quem as recebe. Na sociedade
capitalista constituem em importante veículo de poder e persuasão de opiniões, no
sentido da formação de consumidores. Assim, tornou-se fundamental uma construção da
alfabetização, com uma linguagem através de gestos, símbolos, falas, imagens e escrita,
desvendando o universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo
e sua cultura.
Palavras-chave: Imagens, Alfabetização, Sociabilidade.

ABSTRACT
The primitive men expressed their ideas and feelings through the paintings and images
made in the walls of the caves. Today we live in a "civilization of the image", that is,
symbolic forms of who produced them and of those who receive them. In capitalist society
they constitute an important vehicle of power and persuasion of opinions, towards the
formation of consumers. Thus, a construction of literacy has become fundamental, with a
language through gestures, symbols, speech, images and writing, unveiling the visual
universe of its daily life, the student will know better himself and his culture.
Keywords: Images, Literacy, Sociability.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi construída através de diversas abordagens, entre elas a


bibliográfica, onde foram utilizados vários autores que enfoquem o tema.Porém, através
destes, verificou-se na alfabetização, a principal característica do seu contexto de

1
Professor IES-UNAR-Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson. Coordenador dos cursos de graduação:
Filosofia, Sociologia e Teologia e das Pós Graduação.
Recebido em: 30/01/2017 Aceito para publicação em: 14/04/2017
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aprendizagem é a presença de materiais escritos e de atos de leitura e escrita, devido a


sua importância social, mas na atualidade se vê cada vez mais a visualidade.
De acordo com os estudos realizados durante a disciplina de Sociologia da
Educação, no curso de Sociologia, pode-se verificar que a escola não está isolada em
relação à comunidade e à sociedade em que está inserida. A escola é, até certo ponto,
reflexo das condições e das exigências estabelecidas pela sociedade.
Uma das contribuições da Sociologia da Educação ao trabalho pedagógico é: o
estudo dos processos e das influências sociais envolvidos na atividade educativa, em
especial na escola.
A escola é uma instituição social que essencialmente é a instituição social da
linguagem e tem como papel, ser formadora de sujeitos críticos, reflexivos, capazes de
transformar a realidade em que vivem.
Diante da complexa realidade social contemporânea, a qual disponibiliza todo tipo
de informação por meio dos mais variados sistemas linguísticos e aparatos tecnológicos,
a escola necessita formar um cidadão capaz de interagir e se comunicar através de todos
esses meios. Nesse contexto, uma linguagem constantemente utilizada é a visual.
A importância da alfabetização visual se revela devido á necessidade de se ter a
capacidade de ver algo além do mero enxergar. Alfabetizar através da linguagem visual
permite a percepção e o entendimento de tudo o que se vê, por exemplo, o conteúdo de
uma imagem - incluindo seus aspectos formais como perspectiva e profundidade –; enfim,
do que representa algo não utilizando palavras, e inclui a compreensão da manipulação
das imagens e apreciação estética dos meios visuais e de comunicação; além do
entendimento de elementos culturais que circundam toda essa veiculação de imagens nas
sociedades humanas.
Sem dúvida, a linguagem verbal é uma poderosa ferramenta de comunicação, mas
não dá conta de toda a gama de significados a serem transmitidos entre os seres
humanos. A linguagem visual é o novo patamar da interação social, é a chave para uma
grande evolução na comunicação e no entendimento entre os diferentes indivíduos e
grupos. Ela abre uma infinidade de portas para as possibilidades de expressão, e não só
facilita e agiliza sua transmissão, mas amplia a profundidade dos significados. Utilizamos
a linguagem visual cada vez com mais intensidade, e algumas vezes irresponsavelmente,
sem a noção dos resultados que serão gerados.

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Com a revolução tecnológica que vem ocorrendo se passou a supervalorizar a


imagem em detrimento de mensagens escritas e veiculações que requerem o uso de
habilidades de leitura. Uma grande quantidade de mensagens que se baseiam
basicamente em imagens bombardeia diariamente o cidadão, visando induzir gostos,
preferências e interpretações. Tudo isso sem uma cuidadosa análise crítica.
Portanto hoje se faz necessário se dar subsídios às pessoas para que possam
aprender, interagir, interferir e criar a “realidade” e para isso educadores e profissionais da
educação precisam não utilizar o desenho, os diagramas, os gráficos no intuito apenas
de tornar a metodologia “modernosa” em sala de aula, mas também, materializar os
conceitos abstratos da gramática tradicional e num caminho inverso chegar à
compreensão linguística. Com isso, a passividade do aluno diminui, pois ele utiliza a sua
criatividade visual na concretude das formas verbais. Quando se coloca o aluno no
processo da significação dos aspectos formais linguísticos, através de seus próprios
desenhos, ele se sente integrado na construção do conteúdo. Muitas vezes os conceitos
linguísticos ficam adormecidos no percurso escolar, mas, quando a imagem aparece,
imediatamente o aluno recupera o conhecimento aprendido.
Uma vez que, de acordo com Karl Mannheim, a sociologia é entendida, como
técnica social, o tema aqui exposto visa contribuir, através de uma visão sociológica da
realidade, para a formação de cidadãos dotados da capacidade de perceber a realidade
social de forma crítica, e que não esteja restrita ao senso comum.

DIFERENTES LINGUAGENS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Como método de alfabetização, utilizou-se por muito tempo o ensino por meio de
cartilhas. Essa prática buscava apenas a escrita como única forma de comunicação
existente.
Apesar de várias mudanças ocorridas devidas as interferências recentes no
processo de alfabetização, ainda assim: Cagliari (1998, p. 31) “(...) a prática escolar mais
comum em nossas escolas ainda se apoia na cartilha tradicional (a cada ano com nova
roupa e maquiagem)”.
No livro Alfabetizando sem ba-bé-bi-bo-bu, o autor Cagliari condena esse tipo de
alfabetizar e considera que as crianças já podem ler textos já no inicio da alfabetização,

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passando a produzir textos escritos a partir de textos orais, mesmo sem saber bem a
grafia das palavras.
O processo de alfabetização incluiu muitos fatores, assim sendo, o professor deve
se inteirar como se dá o processo de aquisição de conhecimentos, os termos de
desenvolvimento emocional, o processo de interação social, e também a natureza da
realidade linguística envolvida no momento em que está acontecendo à alfabetização.
Um dos objetivos principais e mais importantes da alfabetização é ensinar a
escrever. A escrita é uma atividade nova para a criança, e por isso mesmo requer um
tratamento especial na alfabetização
O que se via nas cartilhas era um método que não explicava as crianças que temos
várias formas de representação gráfica. Cagliari (2001, p. 97) “a escola ensina a escrever
sem ensinar o que é escrever”.
Em muitas escolas, algumas atividades representam um puro exercício de
escrever. O que se percebe é que na alfabetização isso pode trazer problemas sérios
para certos alunos.
Pessoas que tem acessos diferentes a leitura e a escrita veem com função
diferente o ato de escrever: Cagliari (2001, p. 10) “Antes de ensinar a escrever, é preciso
saber o que os alunos esperam da escrita, qual julgam ser sua utilidade e a partir daí,
programar as atividades adequadamente”.
Nas escolas é comum que não se permita que a criança faça o aprendizado da
escrita como foi feito o da fala. As crianças são de todos os grupos populacionais as mais
facilmente alfabetizáveis. Ferreiro (2003, p. 17) “Elas tem mais tempo disponível para
dedicar a alfabetização do que qualquer outro grupo de idade e estão em processo
continuo de aprendizagem”. E foram os adultos que dificultaram o processo de
alfabetização delas.
Emília Ferreiro, buscando os objetivos da alfabetização percebe que um dos
objetivos ausente dos programas de alfabetização de crianças e o de compreender as
funções da língua escrita na sociedade. Essas informações são transmitidas através de
atividades cotidianas.
Crianças que vivem em famílias alfabetizadas e que o ato de ler e escrever são
atividades cotidianas, recebem estas informações, pois é através da participação em atos
sociais que a língua escrita cumpre funções precisas.

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No livro Com todas as letras, Emília Ferreiro, coloca além de todos já enunciados,
alguns outros objetivos da alfabetização e algumas propostas fundamentais sobre o
processo de alfabetização, que são:
 Restituir a língua escrita seu caráter de objeto social;
 Desde o inicio (inclusive na pré-escola) se aceita que todos na escola podem produzir e
interpretar escritas, cada qual em seu nível;
 Permite-se e estimula-se que as crianças tinham interação com a língua escrita, nos
mais variados contextos;
 Permite-se o acesso o quanto antes possível à escrita do nome próprio;
 Não se supervaloriza a criança supondo que de imediato compreenderá a relação entre
a escrita e a linguagem. Tampouco se subvaloriza a criança, supondo que nada sabe até
que o professor lhe ensine;
 Não se pede de imediata correção gráfica nem correção ortográfica.
Na atualidade a preocupação com a alfabetização é grande. Hoje já existe um
sólido pensamento teórico, ao qual estão contribuindo linguistas, historiadores,
antropólogos, psicólogos e educadores, em uma visão multidisciplinar.
Com esta nova visão, não se permite retornar a uma visão supersimplificadora e
profundamente equivocada sobre o processo de alfabetização.
Cabe à escola considerar a importância e a necessidade de fundamentar sua
prática em uma nova concepção, levando em consideração primeiro o aluno, procurando
métodos capazes de alfabetizar e de conscientizar, pois tão preocupante quanto à
repetência, a evasão escolar e o analfabetismo são o fato preocupante do analfabeto
funcional.
Dentro das várias experiências de linguagem oral, que são adquiridas pelas
crianças no grupo social as que pertencem é que elas absorvem uma série de
conhecimentos linguísticos. Já aos sete anos de idade, as crianças já são falantes
fluentes de sua língua.
Cagliari coloca que existe o certo, o errado e o diferente, mas muitos educadores
esquecem-se da realidade do aluno, e que a criança quando entra na escola já traz
consigo a variação linguística usada nos processos dos quais muitas até o momento. E
muitas vezes desvalorizam a fala do aluno.

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A maneira como se fala, como se deixa falar, sobretudo com se pergunta e como
são aceitas as respostas muitas vezes é usada não para avaliar o desenvolvimento
intelectual de um aluno, mas como um subterfúgio para lhe dizer que é brusco, incapaz ou
excelente. (CAGLIARI, 2001, p. 25).
O estudo da língua portuguesa é pertinente e está em evidencia, já que quando há
problemas de aprendizagem, em sua maioria se refere à leitura e a escrita.
Quando um aluno escreve errado, muitas vezes se pensa que é deficiente, ou tem
problemas de discriminação, de lateralidade, etc.
Mas esse pensamento é errôneo visto que em muitos casos o problema é devido
ao modo que lhe ensinaram e de suas experiências como usuário do sistema de escrita.
Quando a crianças escreve “disi”, por exemplo, ela escreve algo possível para o
sistema de escrita do português, só que não escreve na forma ortográfica, assim cita
Cagliari (2001, p. 33) “Há tantas coisas a respeito de escrita e leitura, e de dificuldades
tão variadas, que se torna conveniente o seu ensino ao longo de todos os anos de
estudo”.
O uso correto da linguagem é a condição essencial para que o aluno possa
prosseguir durante as séries seguintes, pois se não, as dificuldades de interpretação e
compreensão de textos surgirão devido à falta de contato com estes.
Segundo Vigotsky o que é necessário para o ensino da linguagem escrita no
processo de alfabetização é que haja (1998, p. 139) “(...) um procedimento cientifico
efetivo para o ensino de linguagem escrita as crianças”. E isso se faz necessário já que:
“diferentemente do ensino da linguagem falada, no qual a criança pode se desenvolver
por si mesmo, o ensino da linguagem escrita depende de um treinamento artificial” (op,
cit.p. 139).
Se quiséssemos resumir todas essas implicações poderíamos se utilizar das
palavras de Vigotsky e dizer que: (1998, p. 157) “O que se deve fazer é ensinar as
crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita de letras”.
Assim sendo, a prática pedagógica adequada deve partir do conhecimento prévio
do que será ensinado e o uso e aplicação da sua capacidade de uso da linguagem.
Na atualidade o que se pode constatar é que priorizamos na alfabetização o ato
de ler e escrever. Muitos até acreditam que a única forma de se comunicar uma ideia é
através da escrita ou fala. Mas bem diferente disto que vemos é que podemos representar

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a mesma mensagem por meio de diferentes códigos como, por exemplo: a palavra
escrita, a fotografia, os sinais com as mãos e com bandeiras, etc.
Um símbolo é empregado para representar uma coisa, uma ideia e muitos são
conhecidos até mundialmente.
Ao analisar o contexto histórico da escrita e da alfabetização pode-se perceber
que esta não pode se restringir a apenas ler e escrever. Por muito tempo se acreditou que
um aluno inteligente era aquele que se sobressaia com as habilidades linguística e lógico-
matemática.
Mas estudos mostram que a inteligência não se restringe a somente isto. Um
estudioso chamado Howard Gardner (1985), muito influenciado por Piaget, nos traz a
teoria das inteligências múltiplas.
Gardner identificou as inteligências linguística, lógico-matemática, espacial,
musical, sinestésica, interpessoal e intrapessoal. Segundo ele, os seres humanos
dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que
elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para
resolver problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas inteligências
sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam
isoladamente.
Para ele, como já foi dito, há múltiplas inteligências. Maria Clara S. Salgado Gama
em seu texto: “A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para Educação”
identifica quais são essas múltiplas inteligências que Gardner apresenta. São elas:
 Inteligência lingüística - Os componentes centrais da inteligência linguística são
uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial
percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem
para convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias.
 Inteligência musical - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para
apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons,
habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e
habilidade para produzir e/ou reproduzir música.
 Inteligência lógico-matemática - Os componentes centrais desta inteligência são
descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a
habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da manipulação de

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objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar


com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los.
 Inteligência espacial - Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade
para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular
formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio
e composição, numa representação visual ou espacial.
 Inteligência cinestésica - Esta inteligência se refere à habilidade para resolver
problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. São a habilidade
para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no
controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza.
 Inteligência interpessoal - Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade
pare entender e responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e
desejos de outras pessoas. Ela é melhor apreciada na observação de psicoterapeutas,
professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a
inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para
distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber
intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa
percepção.
 Inteligência intrapessoal - Esta inteligência é o correlativo interno da inteligência
interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e
ideias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o
reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprias, a
capacidade para formular uma imagem precisa de si própria e a habilidade para usar essa
imagem para funcionar de forma efetiva.
Quanto ao ambiente educacional, Gardner chama a atenção para o fato de que,
embora as escolas declarem que preparam seus alunos para a vida, a vida certamente
não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe que as escolas favoreçam
o conhecimento de diversas disciplinas básicas; que encoraje seus alunos a utilizar esse
conhecimento para resolver problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a
vida na comunidade a que pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de
combinações intelectuais individuais, a partir da avaliação regular do potencial de cada
um.

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O ser humano vem tentando desenvolver cada vez mais estas inteligências e uma
delas vem se mostrando, muito necessária é a inteligência espacial; já que hoje em dia há
muitos meios que favorecem e auxiliam na função de se comunicar como: por gestos,
palavras, olhares, sinais sons pinturas, teatro, livros e muitas descobertas tecnológicas. O
visual é utilizado de forma jamais vista com o uso de tantas tecnologias O importante é
que as novas tecnologias não fizeram desaparecer aquele primeiro gesto de desenhar do
homem das cavernas. Para se adaptar a nova realidade é necessário que se desenvolva
a inteligência espacial através de uma alfabetização voltada para o uso das imagens, ou
seja, uma “alfabetização visual” já que alfabetizar não se restringe mais as habilidades
somente de ler e escrever.

ALFABETIZAÇÃO VISUAL: LENDO IMAGENS PARA CONSTRUIR A REALIDADE.

É fundamental no processo de alfabetização que haja uma interação entre o


professor e o aluno. A arte na alfabetização pode servir como complemento da
comunicação entre eles.

A educação em arte propícia o desenvolvimento do pensamento artístico e da


percepção estética do aluno, que caracterizam o modo de dar sentido à experiência
humana.
A imagem, sempre esteve presente, com muita força, na vida dos homens. A
televisão, o cinema, a fotografia e a internet possibilitaram alargar e ampliar esse fascínio
humano, que é poder ver, olhar, observar, pensar, criar. As imagens e os textos nas
escolas sejam nos livros ou nas paredes, precisam contribuir mais para desenvolver a
observação das crianças.
Apesar do desejo e do gesto de registrar imagens ser espontâneo, a expressão
pictórica e a consciência estética podem ser e devem ser educadas. Não em sua forma
autoritária, mas, democrática, isto é, proporcionando a todos as oportunidades de contato
com a variedade e a qualidade dos bens culturais e artísticos.
Durante muito tempo, o trabalho com o texto escrito se restringiu aos conteúdos
formais e as imagens foram vistas apenas como complemento ou adorno, mas hoje ha
uma transformação. Mesmo que isso não se reflita ainda em todas as escolas, nem em
todos os livros de literatura, principalmente nos livros didáticos.

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Frente a essa nova realidade, os professores devem buscar integrar a


compreensão da história sobre a imagem na vida da humanidade às atividades de leitura,
escrita e de números. É importante mover o olhar para o passado e buscar na história, os
pontos de ligação com o presente, visando apresentar uma breve e consistente
retrospectiva da importância da imagem e da palavra artística na escalada humana;
chamando a atenção dos professores para a importância das imagens.
Pensar a questão da visualidade hoje é uma necessidade, em razão das muitas
dificuldades que se vem enfrentando no dia-a-dia, com o uso indiscriminado das imagens
com o intuito de iludir e manipular a opinião da massa. Sabe-se também que o homem na
realidade moderna que vivemos está cercado de tantas tecnologias, informações,
imagens, a cada minuto que muitas vezes passa despercebida a essência do que se vê.
Os avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade nos
fazem incluir sempre novas modalidades de imagens. São novas informações que se
apresentam em constante crescimento, com o intuito de nos comunicar uma ideia, cultura,
uma época.
Já há mais ou menos 20 mil anos nossos ancestrais moravam em cavernas, nessa
época os homens ainda não falavam e também não se havia criado o sistema de escrita,
mas nas paredes de suas cavernas eles por meio de imagens, expressavam suas ideias,
sentimentos e contavam suas histórias por meio de pictogramas com intenção de
comunicar.
Atualmente algumas teorias educacionais nos mostram que a criança percorre
dentro de seu ambiente cultural, o mesmo caminho percorrido pela humanidade na
organização do conhecimento, sendo que o ser humano partiu do pictórico.
A criança inicia a representação do mundo por meio do desenho. Emilia Ferreiro
em seu livro Psicogênese da Língua Escrita nos diz que: (1999, p. 69) “Se nos colocamos
no inicio da representação gráfica infantil, vemos que nos primeiros traços de produção
espontânea, desenho e escrita se confundem”.
Ferreiro se utilizando das ideias de Piaget nos demonstra que: (1999, p. 70) “O
desenho, sendo uma imitação gráfica, reprodução material de um modelo, implica a
função semiótica, entendida como a possibilidade de diferenciar significantes e
significados”.

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Saussure um linguista suíço, estudioso dos diferentes tipos de signos interpretados


por nós, citado no livro Introdução à analise da imagem entende que: (1974, p. 31). “(...) a
língua não era o único sistema de signos que exprimem as ideias que usamos para nos
comunicar”. Portanto imaginou a semiologia, como uma ciência geral dos signos.
As crianças vivem em contato com vários tipos de escritas: os logotipos as placas
de trânsito, rótulos e cartazes. De acordo com Luiz Carlos Cagliari no livro Alfabetização e
Linguística esse tipo de escrita se baseia só no significado e não no significante dos
signos linguísticos.

A escrita, para ser qualificada como tal precisa de um objetivo bem


definido que é fornecer subsídios para que alguém leia (...) Um
desenho não precisa ser feito necessariamente para que alguém
leia (...). (CAGLIARI, 1990, p. 104).

E ainda entende que: Cagliari (1990, p. 104) “qualquer desenho ou fotografia pode
ser decifrado, comentado linguisticamente um sistema de escrita, sem que ocorra uma
leitura propriamente dita”.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, volume 6, que se dedica às artes, se tem a
preocupação com a utilização da visualidade como método de desenvolvimento da
sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal.

No PCN, vendo a visualidade das artes visuais como objeto de apreciação


significativa se propõe:
 Convivência com produções visuais e suas concepções estéticas nas diferentes
culturas;
 Identificação dos significados expressivos e comunicativos das formas visuais;
 Contato sensível reconhecimento e analise de formas visuais presentes na natureza e
nas diversas culturas.
Na visão de Buoro, no livro O olhar em construção, a questão da visualidade
mostra-se pertinente, pois conduz as experiências de aquisição de um repertorio
imagético, portanto: Buoro (2003, p. 137) “O processo da leitura da pintura e do mundo
vai nutrir de imagens a mente do aluno e ampliar seu repertório, possibilitando as
recombinações e criações de novas imagens por meio da imaginação criadora”.

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Partindo do pressuposto de que a leitura da imagem pode se tornar um momento


pra o exercício de um espírito crítico e que podemos dela tirar uma interpretação criativa
se faz necessário uma educação diferenciada.
Através da alfabetização visual os educandos poderão entender os novos rumos da
visualidade que afetam na sociedade onde vivem e principalmente despertar a atividade
criadora e suas potencialidades naturais e seu talento.
Neste sentido, os professores são a peça importante no processo de
conscientização e de estimulação do talento, já que segundo tudo indica analisando o
livro Psicologia Pedagógica de Vigotsky que um alto grau de talento original do ser
humano é um fato básico em todos os campos do psiquismo e que são passiveis de
explicação os casos de diminuição e perda de talento.
Nesse processo, os educadores devem ser estimuladores do desenvolvimento e a
concretização da tarefa da educação de não se deixar perder o talento original através da
alfabetização visual.
A comunicação por meio de imagens e elementos visuais relacionados é
denominada "comunicação visual". Os humanos empregam-na desde o amanhecer dos
tempos. Na realidade, ela é predadora de todas as linguagens escritas.
Chamamos alfabetização visual à sensibilidade à forma como as imagens são
utilizadas e manipuladas para conter mensagens precisas e reunirem informação. Na sua
forma mais básica, a alfabetização visual é a capacidade de entender o que está a ser
visto numa imagem, incluindo certas convenções tais como perspectiva e profundidade. A
níveis superiores, no entanto, a alfabetização visual incluí o entendimento da manipulação
visual e apreciação estética dos meios visuais e de comunicação.
O impacto de imagens sobre o consciente e o inconsciente é reconhecido como
sendo muito grande. O ensino se torna mais abrangente quando utiliza representações
visuais, pois elas permitem a aprendizagem de tudo o que os textos escritos não
conseguem revelar
A “alfabetização visual” dará ao aluno condições de conhecer melhor a sociedade
em que vive, interpretar a cultura de sua época e tomar contato com a de outros povos.
O fundamental para se alfabetizar visualmente é saber olhar as imagens. Sônia
Cristina Dias no livro “ Comunicação e informação” dá algumas dicas de como olhar uma
imagem com “outros olhos”.

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Segundo Dias para fazermos a leitura das imagens, passamos por três níveis de
atenção: instintivo, descritivo e simbólico.
 NÍVEL INSTINTIVO: Ocorre logo que a imagem aparece. Os elementos que
intervêm neste nível são aqueles ligados aos mecanismos da percepção, são elementos
emotivos tais como cores( quentes e frias), as formas ( altitude, latitude, altivez, etc), as
expressões, as evocações imediatas. Os olhos correm pela imagem e se prendem aos
pontos focais. É a primeira impressão que nossos olhos conseguem captar e nosso
cérebro a decifra.
 NÍVEL DESCRITIVO: Depois de uma olhada que visualmente vislumbra toda a
imagem, nosso olhar começa a se prender nos elementos que compõem a imagem.
Nesse nível, começamos a observar as linhas que dão a noção de perspectiva, os planos
que surgem (geral, médio, close), pelos campos, pelo volume dos objetos, luzes e
sombras que compõem o todo. Então nosso cérebro recebe um conjunto maior de
informações: a descrição dos objetos, do ambiente e a identificação do “sujeito” da
imagem. Já podemos dizer que existe certa interpretação da imagem.
 NÍVEL SIMBÓLICO: Da leitura feita nos níveis anteriores, nossa percepção sobre a
imagem termina por assumir uma dimensão simbólica, ou seja, nessa fase a leitura se
pauta pelos conhecimentos que temos sobre o assunto, sobre os objetos, o ambiente, etc.
Nessa fase estamos lidando num nível de racionalidade o qual permite a uma imagem ser
sempre polissêmica. Sua interpretação dependerá do arsenal de conhecimentos e
sensibilidade do observador.

CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A LEITURA DE IMAGENS

A quantidade de estímulos visuais que recebemos diariamente encontra-se em um


nível jamais visto. A velocidade em que recebemos estes estímulos diariamente podem
tornar nosso olhar superficial e isso implica em fazer com que não analisemos de forma
crítica o que nos é apresentado.
De acordo com Maira Cunha Silva (2010) “nossa percepção varia de acordo com o
contexto social a que estamos inseridos, uma vez que a cultura influencia a direção do
nosso olhar.”
Devido ao panorama atual apresentado anteriormente pode-se verificar a
necessidade de educar esse olhar, e isso significa tomar consciência do mundo e

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sensibilizar-se com seus valores. Um dos responsáveis por esta educação da percepção
é a escola que, dentre outras funções, atua como transmissora das concepções sociais.

A educação para a compreensão da cultura visual trata de


estudar a dinâmica social da linguagem que esclarece e
estabiliza a multiplicidade de significações pelas quais o
mundo se apreende e se representa. (HERNÁNDEZ, 2000,
p. 54).

Propiciar o desenvolvimento da percepção visual possibilita ao aluno condições de


conhecer melhor a sociedade de sua época, uma vez que esses elementos visuais estão
carregados de informações sobre nossa cultura e o mundo em que vivemos.
O arte-educador e pesquisador norte-americano Elliot Eisner escreveu que o
ensino se torna mais abrangente quando utiliza representações visuais, pois elas
permitem a aprendizagem de tudo o que os textos escritos não conseguem revelar.
Na revista nova escola, Fernando Hernández , professor da Faculdade de Belas
Artes de Barcelona, na Espanha, afirma que: "O professor tem de despertar o olhar
curioso, para o aluno desvendar, interrogar e produzir alternativas frente às
representações do universo visual" e com isso o aluno poderá passar a ser leitor,
intérprete e crítico de todas imagens presentes em seu cotidiano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi através da formação consciente durante o curso de Sociologia, e com os


conhecimentos adquiridos, anteriormente, durante o curso de pedagogia, ainda, através
da especialização em língua portuguesa e literatura brasileira I e psicopedagogia clinica e
institucional, que se partiu para a elaboração de um proposta , no intuito de envolver
teoria e prática.Ao decorrer da realização deste trabalho foram necessárias muitas
pesquisas e reflexões com o intuito de ampliar o campo do conhecimento, juntamente
com uma nova visão do processo ensino-aprendizagem da criança.
Na alfabetização, o processo de construção do conhecimento pela criança que tem
inicia quando nasce e se estende pela vida toda, não pode ser reduzido a atividades
mecânicas e individuais. O processo de alfabetização deve ter troca de informações,
atividades grupais e coletivas.

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É nas relações sociais e na interação do sujeito com o meio que o conhecimento se


concretiza. É preciso ainda trabalhar as necessidades da criança
Portanto percebe-se que este trabalho contribuiu para que as crianças, pais e
educadores se conscientizem de que fazem parte da sociedade e que sua contribuição é
indispensável na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Vivemos na era da imagem. Precisamos alfabetizar o aluno também nesse
contexto para que saiba analisar criticamente um programa de TV, um filme, uma
fotografia, a reportagem de um jornal e até a internet.
A mídia está ai, ela não pode ser apenas crucificada, como sendo o grande mal da
sociedade que cria necessidades, que torna as pessoas passivas e aliena. Ela é tudo isto
e muito mais.
E para se alcançar tal objetivo é necessário um olhar critico e um pensamento
transformador, sensível e atuante de toda a sociedade e principalmente das crianças que
são a base da futura nação.
A interação palavra&desenho feita em sala de aula na combinação da informação
gramatical com o desenho, deflagra-se uma provocação para que a aprendizagem escoe
numa metodologia leve sem distanciá-lo do conteúdo-programático fundamental para seu
avanço escolar. Ao final podemos concluir que há muito para fazer, mas a mudança é
possível e necessária.

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