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TERAPEUTA: Lamento ouvir isso, parece que as coisas estão difíceis para você.
Em que aspectos a sua vida parece ser “uma confusão só”?
MARCO: Bem, eu me preocupo com a minha saúde, com o meu trabalho, tenho
medo de desapontar minha família, faço coisas esquisitas, fico verificando se
desliguei a luz (e aparelhos) antes de sair, se fechei o gás. Acho que estou ficando
maluco...
TERAPEUTA: Parece que várias coisas estão lhe perturbando. Além dessas, há
outras esferas de sua vida em que parece que as coisas estão “uma confusão só”?
MARCO: No meu trabalho tem horas que fico com raiva de algumas pessoas, e na
maior parte do tempo fico me sentindo deprimido, cansado e não me sinto capaz de
lidar com as situações. (demonstra estar desanimado).
Primeiro nível de conceitualização:
Descreve as dificuldades presentes
3) Priorizar - Reduz o peso diante da lista das dificuldades. Ao priorizar, pode-se lidar
com uma dificuldade de cada vez, de modo eficiente. Ajuda a construir a estrutura
das sessões.
TERAPEUTA: Marco, existem muitas áreas importantes que precisamos abordar para
ajudar você a não sentir sua vida como uma confusão. Para que a terapia seja efetiva,
vamos fazer uma lista daquilo que queremos atingir durante o tempo em que
estivermos trabalhando juntos. Está bem assim para você?
MARCO: Acho que sim, só não sei por onde começar. Tem tantas coisas...
TERAPEUTA: Talvez possamos começar com as questões que lhe afetaram mais nos
últimos dias e semanas. Que tal? (Marco acena com a cabeça, concordando.) O que
está lhe incomodando mais agora?
TERAPEUTA: Você poderia escrever isso nesta folha para mim? (Marco escreve: “Me
sinto muito deprimido”.) Iremos descobrir mais sobre esta questão para você, mas,
antes de fazermos isso, que outras dificuldades você gostaria de colocar nesta lista?
A terapeuta pede que Marco escreva as dificuldades, com suas próprias palavras. Isso
o ajuda a se envolver na terapia. Ela dá foco ao aqui e agora. A preocupações atuais
são mais acessíveis. Aos poucos pode avançar para as origens dos problemas. Essa é
a porta de entrada para o mundo pelos olhos do cliente. A lista de dificuldades é um
primeiro ingrediente a ser colocado no cadinho, e já com prioridades.
As dificuldades devem ser entendidas em termos do impacto/sofrimento e
perturbação que causam na vida cotidiana do cliente.
TERAPEUTA: Marco, você está deixando de fazer alguma tarefa que acha que deveria estar
fazendo?
MARCO: Eu estou evitando as reuniões no trabalho.
TERAPEUTA: E isso traz consequências?
MARCO: Isto está se tornando um problema.
TERAPEUTA: De que forma?
MARCO: As pessoas estão comentando que eu não estou lá. Eu deveria apresentar o meu
trabalho nessas reuniões e como não tenho feito o trabalho, então não vou.
TERAPEUTA: O que aconteceria se você fosse?
MARCO: Iriam me perguntar sobre meu trabalho, e eu iria desmoronar. Então não posso ir a
essas reuniões, seria insuportável. (...) Eu me sentiria um fracasso total, um inútil.
TERAPEUTA: Há quanto tempo as coisas estão assim?
MARCO: Há mais ou menos uns três meses.
TERAPEUTA: Marco, você consegue se lembrar da última vez em que participou de uma reunião
e apresentou algum trabalho seu e tudo pareceu correr bem?
MARCO: Sim, seis semanas atrás eu apresentei um trabalho referente ao
orçamento do ano que vem.
TERAPEUTA: Como você se sentiu durante e depois da reunião?
MARCO: Bem, antes eu estava realmente preocupado, pensando muito sobre
isso...
TERAPEUTA: Entendo, mas durante a apresentação, como foi?
MARCO: Eu foquei na apresentação, e tudo andou bem. Acho que as pessoas
gostaram de receber as informações.
2)Terapeuta pede para Marco escrever esses pontos fortes na folha, em uma coluna
chamada “Pontos fortes” e ele listou os seguintes: “Organizado; preocupado com
família e amigos; bom músico, adoro música; gosto de ser pai e marido.”
Estados emocionais positivos estão relacionados à resiliência e têm o potencial de
ampliar o pensamento do cliente (Fredrickson, 2015). Essa expansão não seria
possível se a sessão ficasse restrita aos estados emocionais negativos.
Usar os pontos fortes tem efeito de produzir alívio emocional. Permite que o paciente
desenvolva uma visão positiva de si próprio, percebendo-se como alguém que
consegue lidar bem com as dificuldades. Estimula o cliente a buscar encontrar
perspectivas diferentes para entender e lidar com as situações problemáticas. A
inclusão dos pontos fortes ajuda a construir uma relação terapêutica, engaja o cliente
e multiplica possíveis caminhos para mudança.
Essas exceções podem ser usadas pelo terapeuta como estratégia para aumentar a
resiliência:
TERAPEUTA: Você lembra de algum momento recente, por mais breve que tenha sido, em que
não se sentiu ....[deprimido]?
Quando o cliente encontra um momento desses (pode ser abrindo a janela do quarto e
vendo o céu, ou o cheiro do café, ouvindo uma música, bebendo um copo de água,
etc.) o terapeuta usa essa informação:
BIELING, P. J. & KUYKEN, W. (2003). Is Cognitive Case Formulation Science or Science Fiction?. Clinical
Psychology: Science and Practise, 10 (1), 53-69.
EASDEN, M. & KAZANTZIS, N. (2017). Case conceptualization research in cogntive behavior therapy: A state of the
science review. J. Clin. Psychol. (1-29) https://doi.org/10.1002/jclp.22516
FREDRICKSON, B. L. (2015). Amor 2.0: a ciência a favor dos relacionamentos. São Paulo: Companhia Editora
Nacional.
KUYKEN, W., PADESKY, C. A., & DUDLEY, R. (2010). Conceitualização de Casos Colaborativa: o trabalho em equipe
com pacientes em terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed.
KUYKEN, W., FOTHERGILL, C. D., MUSA, M., & CHADWICK, P. (2005). The relaability and quality of cognitive case
formulation. Behavior Research and Therapy, 43, 1187-1201.