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Copyright © 2020 Evilane Oliveira

Honra Distorcida
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e


acontecimentos que aqui serão descritos são produto da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as
regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra,
através de quaisquer meios, sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.
9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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Edição Digital | Criado no Brasil.


SINOPSE
PRÓLOGO
PRÓLOGO 2
01
02
03
04
05
06
07
08
09
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PRÓXIMO LIVRO
AGRADECIMENTOS
CONTATO
OUTRAS OBRAS
Cada passo, decisão e momentos da minha vida estavam
selados. Eu aceitei meu destino assim que me foi imposto. Fui uma
verdadeira princesa, elegante e maleável. Me casaria com o
consigliere da Cosa Nostra e seria uma rainha.
Ou foi o que achei até que ele entrou em meu caminho e
quebrou minha coroa, antes mesmo dela ser posta sobre minha
cabeça.
Rocco Trevisan pegou ela entre os dedos e a despedaçou.
Em seu lugar, fui presenteada com uma gaiola que me
manteria presa para sempre.
Ele me escolheu e pela primeira vez eu odiei ser a boa garota
da famiglia.
Eu odiei a elegância e educação me dada. Eu quis ser
diferente. Quis odiá-lo e fugir.
Agora, eu não podia.
Porque ele via dentro de mim.
Ele sabia.
Eu amava a escuridão.
ENRICO BELLUCCI
Observei o computador diante de mim enquanto meus capos
se reuniram ao redor vendo o mesmo que eu. Meus dedos estavam
relaxados e eu levei o copo de uísque a boca, engolindo enquanto
via a movimentação de Francesco pela minha visão periférica.
— Você tentou me tirar do poder, Bellucci. Essa é uma
demonstração do que acontece quando você pisa no meu território.
— Rocco Trevisan se pôs ao lado do garoto recém iniciado. Filho do
Francesco.
Rocco sorriu para a câmera, mas era um sorriso que não
alcançava seus olhos. Um sorriso que apenas um sádico de merda
daria. Eu não tentei tirá-lo do poder. Essa porra foi feita pelas
minhas costas e se eu um dos homens que entraram em Chicago
tivesse retornado vivo, eu o mataria por suastolices. Rocco tomou o
poder há quase um ano.
Ele destruiu as pessoas que não o aceitavam como o chefe
da Outfit. Rocco era o que gostavam de chamar de bastardo.
Obviamente, ninguém se atreveria a dizer isso na sua frente. Filho
de uma mulher cujo paradeiro do qual não se sabe, e do antecessor
dele na Outfit. O que ele matou. Um filho fora do casamento.
Eu traguei meu charuto e observei Rocco deslizar sua faca
no peito do garoto desmaiado. O sangue deslizou pela pele do
menino e se eu pudesse sentiria pena. O filho da puta Trevisan era
um lunático.
Quando a tela ficou preta, Francesco foi o primeiro a me
encarar.
— Vou matá-lo e peço sua permissão. — Suas palavras eram
firmes e eu por um momento pude colocar fé nisso, mas estávamos
falando de Rocco.
— Você morrerá assim que entrar nos limites de Chicago.
Rocco é um homem sádico. Sabemos que Giulio não sairá de lá
com vida.
Francesco encarava seus pés, nunca me olhando
diretamente, e respirou fundo. Ele sabia que era morte certa. Nunca
conseguiríamos entrar em Chicago e eu não queria uma guerra com
a Outfit. Só seria derramamento de sangue.
— Os homens que atacaram Rocco estão mortos. Todos.
Seria tolice tentar invadir — Juliano falou firme ao meu lado e Dino
acenou a alguns metros, próximo a janela. — Algum de vocês tinha
ciência desse ataque idiota do caralho?
Eu observei os homens diante de mim, cada um deles e
apertei meu copo quando vi Alessandro engolindo em seco.
— A frente Alessandro— falei em um tom firme e ele ergueu
o rosto assustado. — Fale tudo. Eu não tenho tempo. Rocco deve
estar tentando entrar na porra da Itália nesse momento.
Alessandro contou cada uma das coisas que eu já havia
previsto. Um grupo de idiotas decidiu entrar em Chicago e matar
Rocco. Sabíamos que a família Trevisan estava matando os aliados
da Outfit que ficaram contra eles no poder. Pensaram que ele
estaria focado apenas nos seus porcos traidores.
Foi imprudente. Não é à toa que todos estão mortos.
— Saiam — ordenei calmamente e olhei para Dino que
sabiamente ficou. Ele era capo há alguns anos. Encarei Juliano me
servindo mais uísque. Ele era meu consigliere. Meu braço direito
desde que eu assumi.
Sebastian foi morto em um confronto com a Bratva há alguns
anos e eu subi mais uma vez. Quando assumi desejei que Vincent,
meu irmão, estivesse ao meu lado. No poder comigo. Porém, eu
sabia que isso jamais aconteceria. Então, pensei em Dino, o homem
que tomou um tiro por meu filho, mas ele nem deixou que eu
propusesse. Dino era leal a famiglia, mas seu envolvimento era o
mínimo. Eu o entendia. Seus filhos precisavam dele.
Juliano era um capo leal como Dino, mas ao contrário do meu
amigo, ele queria. Eu o subi de posição sem hesitar.
— Precisamos conversar com Rocco — Juliano propôs
andando até a cadeira diante de mim.
— Ele vai nos matar se entrarmos em Chicago — falei o
óbvio vendo os dois se sentarem.
— Ele vai nos estraçalhar. Ainda não entendo o que esses
idiotas do caralho pensavam. — Dino semicerrou os olhos, irritado e
eu pensei o mesmo.
— Não precisamos entrar. Eu posso ligar — Juliano disse
olhando para mim e depois para Dino. — Com a Bratva no nosso
encalço, precisamos de aliados. A Outfit é a solução. Rocco precisa
de nós.
— Rocco não vai se aliar a nós depois do circo que esse
fodidos fizeram — afirmei tenso e Juliano deu de ombros.
— Alianças se fazem trocando coisas. Podemos oferecer
nossos laboratórios. Rocco sabe que nossas drogas têm mais
qualidade. Chicago precisa de algo novo e podemos oferecer isso.
— Ele vai rir na nossa cara — Dino disse se encostando na
cadeira.
— Não se completarmos a aliança. — Juliano sorriu e Dino
arqueou as sobrancelhas.
— O que tem em mente? — questionei tentando acompanhar
o raciocínio de Juliano. Ele era a lógica da famiglia.
— Tudo na máfia começa e termina com morte, sangue e
casamento.
— Você acha que Rocco aceitará uma das nossas mulheres?
— eu perguntei apático e Juliano sorriu, diabólico. Dino parecia em
dúvida.
— Sim. Ele vai querer.
Eu não tinha tanta certeza, mas eu seguiria seu conselho. Eu
não queria Rocco Trevisan atravessando o oceano para tentar nos
matar. Eu não quero uma fodida guerra.
Meus olhos correram para minha aliança e o rosto de
Giovanna brilhou na minha mente. Eu não daria a mínima para a
guerra se eu não a tivesse e Matteo.
Rocco aceitaria o casamento. Eu faria essa porra acontecer.
ROCCO TREVISAN
— Você em um casamento? — Romeo me encarou com o
olhar morto que ele dava a todo mundo e que eu odiava. Meu irmão
respirou fundo quando eu só o olhei de volta.
Ter um aro de ouro no dedo, uma mulher ao meu lado para o
fodido sempre e uma igreja não estavam nos meus planos futuros.
Nem nunca. Tenho mais mulheres a minha disposição que soldados.
Eu não seguia os costumes e não os enfiava goela abaixo nos meus
soldados, casamento não era algo feito sem motivos. Eu não
ordenava casamentos sem ter algo muito importante por trás dessa
decisão. Porém meu antecessor, vulgo meu pai, levava os costumes
tão enraizados quanto a educação. Casamentos eram o costume.
Lembro de ter um quase todo mês. Uma besteira fodida, se me
perguntarem.
— Você tem ideia melhor? — questionei de saco cheio.
Enrico Fodido Bellucci desligou a chamada minutos atrás com essa
proposta.
Eu matei seus homens e ele me oferece a paz. Uma de suas
mulheres. Enrico estava cada vez mais fraco e não percebia. Um
idiota que agia em nome da paz. Eu sabia onde doeria nele, porém
meu problema é apenas com ele, com a famiglia. Eu não envolvia
pessoas que não tinham culpa das escolhas dele.
Já usaram isso contra mim. Ninguém quer saber como os
matei.
Enrico vai sangrar por si só.
— Não, não tenho — Romeo murmurou girando o anel de
ouro no dedo.
— Precisamos das cargas e podemos movê-las pela fronteira
sem riscos. Enrico concordou com meus termos — afirmei o que ele
já tinha escutado na chamada e peguei meu copo cheio de uísque.
— Eu não faço ideia do que Enrico tem na cabeça de enviar
uma de suas mulheres para Chicago. — Romeo balbuciou ainda
fascinado com a decisão. Era uma loucura, ninguém faria isso em
sã consciência. Quando você cresce na máfia algo em sua mente
sempre sai danificado. Talvez, esse fosse o motivo de Enrico.
— Em uma semana eu vou escolher a mulher — anunciei e
meu irmão apenas acenou.
— Que mulher? — Prince entrou no local e eu respirei fundo,
observando meu irmão mais novo.
— Vou casar — disse rapidamente e o merdinha insolente
começou a rir.
— Next.
— O quê? — Romeo perguntou franzindo a testa e Prince
nos olhou ainda rindo.
— Você está vendo o jeito que esse idiota fala? Meu Deus,
deve ter comido muita merda — resmunguei me afastando e levei o
copo aos lábios. Escutei Prince bufar, mas o ignorei.
— Você vai casar. Ok. Onde eu, Matteo e Lake vamos morar?
— Conosco — falei abertamente, não entendendo qual era o
ponto. — Nada vai mudar. Só uma pessoa a mais na mansão.
— Não deixarei Lake perto de uma desconhecida. — Prince
se ergueu rápido e eu me aproximei jogando meu copo no chão. O
vidro se espatifou e os cacos voaram.
— Você acha que eu vou deixar algo acontecer a ela? Olhe
para mim quando eu falar com você! — gritei próximo ao seu rosto
tanto quanto podia quando ele baixou os olhos. Meu irmão mais
novo ficou rígido, porém ergueu o queixo para me encarar. — Não
baixe a guarda, Prince. Não baixe a porra da guarda. Quando
alguém for para você, mantenha os olhos nela. Em um segundo,
você pode estar morto, se ficar olhando para os seus pés.
Eu me afastei quando ele acenou.
— O casamento é um fim para o meio. — Eu sorri, pegando
um novo copo e me virei. — Eu vou esperar ansioso o dia em que
Enrico aparecerá na minha frente. O dia em que o figlio di
puttana chegará a Chicago para tentar salvar a garota.
— Ele não vai se arriscar por causa de uma garota qualquer
— Romeo me lembrou enquanto Matteo entrou na sala.
— Eu não vou escolher uma qualquer.
Meus irmãos me encararam em silêncio e eu me virei,
sorrindo e olhando pelas janelas que davam vista para o lago
Michigan. Chicago era minha, a Outfit também e logo a Cosa Nostra
saberia por que não deveria mexer comigo ou com a minha cidade.
Era uma promessa e eu a fiz sob o sangue dos homens da
famiglia que encharcavam meus sapatos depois que os matei.
Minhas mãos estavam apertando a borda do vestido preto
como se a costura pudesse me tirar desse lugar. Tracei
cuidadosamente o tecido enquanto ouvia os passos da minha mãe
pelo quarto. Ela estava aflita, mas jamais ousaria dizer.
— Não precisa se preocupar, Sienna. Ele não vai escolher
você. Vamos deixá-la ao fundo. — Sua voz soou alarmada e eu
respirei fundo a encarando pela primeira vez desde que chegamos
na mansão dos Bellucci. O don da famiglia estava reunido com seus
homens enquanto esperavam o horário da chamada de vídeo.
— Não vai — meu irmão falou convicto e mamãe suspirou me
olhando.
— Não entendo como Enrico lhe convocou. Sabemos que é a
mulher que Juliano pedirá a mão. Você é a melhor garota da
famiglia...
— Mãe. — A voz de Salvatore foi cortante. Poderia ter sido
ele no lugar do garoto que a Outfit torturou. Os dois foram iniciados
juntos. Salvatore o conhecia.
— É a verdade...
— Jamais questione a decisão dele. — Sal falou em um tom
seco que nunca tinha usado com mamãe ou comigo. Desde que
nosso pai morreu há alguns anos, meu irmão cresceu rápido.
— Vai ficar tudo bem. — Eu forcei minha voz querendo que
eles parassem de discutir.
Me ergui da poltrona confortável e andei até o espelho. Era a
primeira vez que víamos a casa do Enrico eGiovanna. A esposa do
chefe da máfia italiana era um anjo que ninguém conseguia
entender. Ela era de Enrico, depois de tudo.
— Mantenha os olhos no chão — mamãe pediu ficando atrás
de mim.
Nosso medo não era algo extraordinário. Dezenas de garotas
da Cosa Nostra estava na mansão para ser escolhida como a noiva
de Rocco Trevisan. O demônio. Não que na famiglia não tivesse
alguns, mas Rocco... ele era louco. Meu corpo estremeceu
enquanto relembrei as histórias que rondavam a Sicília.
Enrico está tentando um tratado de paz entre a famiglia e a
Outfit, segundo Salvatore. Na máfia tudo acabava em sangue,
guerra ou casamento. Eles não queriam nenhuma das duas
primeiras opções. O casamento era a única saída. O elo entre as
duas máfias. A paz.
— Vamos lá. Faltam poucos minutos. — Sal gesticulou para a
porta e eu acenei, me olhando novamente no espelho. Meus
cabelos loiros estavam em ondas suaves que alcançavam a metade
da minha coluna. Minhas bochechas estavam vermelhas pelo blush
que passei e meus cílios, pintados de preto, adornavam meus olhos
azuis que brilhavam com medo.
Lambendo meus lábios rosados que estavam com batom, eu
suspirei. Vai ficar tudo bem.
Assim que descemos as escadas todos os rostos se viraram
para mim. Tentei ignorar cada olhar e me afastei da minha mãe e
irmão. As meninas da famiglia não eram minhas fãs. Eu,às vezes,
dizia a mim mesma que era por mamãe. Ela amava me endeusar
para as outras mães. Eu também me ressentiria de alguém que era
frequentemente denominada como perfeita. Porém, eu não
acreditava nisso.
O ódio que sentiam é por Juliano. Todos sabem que eu seria
dele. Sua esposa. Elas queriam o meu lugar ao lado dele.
Se dependesse de mim, isso não aconteceria.
Me posicionei ao lado de Ágata, uma das poucas garotas que
gostava de mim, e sorri, contida.
— Ele vai matar a noiva assim que ela entrar em Chicago e
enviará a cabeça dela para Enrico — ela murmurou alto o bastante
para que eu pudesse ouvir e pelos olhares chocados, algumas
meninas também.
— Pare.
— É a verdade. — Ela deu de ombros e riu.
— Você não está preocupada de poder ser essa garota? —
questionei enquanto uma câmera era posicionada diante da gente.
— Oh, não. Ele não me escolheria. — Ela parecia convicta
disso. Eu queria ter a mesma sensação de proteção, mas a cada
vez que encarava minha mãe eu tremia. Ela estava batendo a mão
sobre a coxa e seus olhos não paravam. Mamãe parecia saber que
ele me escolheria. Isso me assustava.
— Bom dia, senhoritas — Juliano, o consigliere de Enrico, e
meu talvez futuro noivo, murmurou parando diante de nós.
— Bom dia! — todas nós respondemos rapidamente. Juliano
era perspicaz e um tanto sem controle. E claro, ele era lindo.
Meu quase noivo. A famiglia e minha mãe esperavam por
isso. No entanto, se eu estava aqui, isso queria dizer que eu não era
uma opção. Certo?
— Honra, lealdade e dever são coisas que aprendemos
desde cedo na máfia. Vocês têm deveres a cumprir e é para isso
que estamos aqui. Hoje, uma de vocês sairá da Itália e começará
uma nova vida em Chicago. Sejam cuidadosas — Juliano afirmou
tão sério que eu estremeci. Ele nos olhou por alguns segundos e se
virou. — Vamos começar!
Juliano e Enrico ficaram na nossa frente. Quando a projeção
da imagem foi para a parede eu suspirei. Instantaneamente eu
soube quem era o noivo. Rocco estava sentado em uma poltrona
recostado enquanto três homens estavam de pé atrás dele. Sem
camisa, a única coisa que o cobria era uma calça de moletom. As
tatuagens e cicatrizes quase me fizeram ofegar. Alguns pontos
ainda estavam vermelhos, feridas se curando.
Ele sorriu e eu pisquei respirando profundamente. Seu sorriso
era sem vida, sem alegria. Seus olhos eram tão azuis que os meus
pareciam cinzas em comparação. Seu cabelo loiro era curto nas
laterais, rente à cabeça, e em cima um pouco maior. Ele era lindo de
uma maneira escura e distorcida, eu admiti em pensamentos.
— Enrico. — Sua voz saudou e ele sorriu novamente. —
Suponho que você já conheça meus irmãos.
— Sim.— Enrico deu um aceno pequeno e os três homens
fizeram o mesmo. — Vamos começar.
— Me deixe vê-las. — Minha pele arrepiou ouvindo sua voz
rouca e eu engoli em seco, tentando manter a compostura.
Enrico saiu da frente junto com Juliano e o homem que
segurava a câmera apontou para todas nós. Eu estava na ponta e
quando suspirei de alívio o soldado começou a se mover em nossa
direção. Ele passou por cada menina de perto, tão devagar que era
excruciante.
Assim que ela passou por mim eu deixei meus olhos presos
em Rocco. Seu olhar era apenas neutro, eu não conseguia saber o
que ele pensava. Desci os olhos pelo seu corpo novamente e
quando percebi que estava gostando do que via, baixei os olhos.
— 2, 5, 7, 9, 11 e 14 um passo à frente — Rocco ordenou
friamente e por um momento fiquei confusa. Não tínhamos
números.
Eu contei rapidamente e suspirei de alívio ao ver que eu era a
10, porém durou pouco ao ver que Ágata foi uma das escolhidas.
Ela deu um passo à frente e eu vi seu corpo estremecendo.
— Saiam. — Meus olhos se arregalaram diante da sua
demanda e logo as meninas andaram rapidamente para fora da
sala. Ele fez isso a cada passada do soldado com a câmera por nós
até restar apenas eu e outra garota que eu não conhecia.
— Então? — Enrico perguntou olhando para nós duas,
esperando a escolha de Rocco. Eu olhei para minha mãe e me
arrependi, instantaneamente. A derrota era visível em seu rosto. —
Qual das duas?
— Você sabe qual — Rocco falou firme e sorriu. A câmera
estava de frente para nós duas e quando encarei o chefe, eu sabia
que estava perdida. O olhar de Enrico era vazio.
— Você quer falar com ela? — Enrico perguntou se movendo
e Rocco pegou um copo com bebida e engoliu tudo em uma virada,
ainda com os olhos presos na tela a sua frente. Em mim.
— Enviem-na hoje. — A tela ficou preta assim que ele
desligou.
Meu batimento cardíaco estava acelerado e meu estômago
rodou, quase me levando a vomitar. Olhei para mamãe e seus olhos
brilhavam. Enrico andou até mim e eu engoli em seco.
— Arrume suas coisas. O avião sai em algumas horas.
Eu não o questionei, jamais faria isso. Ele era o chefe,
ninguém jamais o contrariaria.
Fomos informadas de que o casamento não aconteceria na
Itália antes mesmos de nos reunirmos aqui. Rocco não aceitou
entrar no território inimigo. Ninguém estaria comigo, Enrico jamais
viajaria para Chicago e nem aceitaria alguém da minha família ir
comigo. Ele não desejava a morte de todos.
Acenei, rapidamente e ele saiu sem outra palavra. Andei
diretamente para minha mãe e ela segurou meu braço me levando
para fora da casa. Todas as meninas me olharam com pesar e eu
odiei cada segundo. Seus olhares de pena me levaram a anos atrá,
depois da morte do meu pai, da gente sendo rebaixadas dentro da
famiglia porque papai não era mais o chefe.
Enrico sempre nos protegeu obviamente, mas não éramos
sua prioridade. A famiglia era. Não importava se Rocco me matasse
no processo.
Entrei no carro com mamãe, e Salvatoreestava no volante
apertando-o até seus punhos estarem brancos.
— Não posso acreditar que Enrico vai mandar você para
Chicago. Você é filha de Sebastian. Por Deus...
— Mãe, pare — Salvatore falou novamente agora com tanta
raiva que eu peguei na mão da minha mãe acalmando-a.
— Está tudo bem — murmurei para ela e respirei fundo
tentando reunir coragem dentro da minha alma. — Sou o elo da paz.
Rocco não vai me matar.
— Seja uma esposa boa, Sienna. Ele não terá motivos para
machucá-la — Sal falou firme e eu acenei encontrando seu olhar no
retrovisor.
— Rocco não precisa de motivos — mamãe falou rápido e eu
senti meu estômago revirar mais uma vez.
Mamãe estava certa. O diabo não precisava de motivos para
te fazer queimar.
Olhei pela janela enquanto cutucava minha unha longa e o
mar azul me fez suspirar, era tão lindo, tão azul. A comissária de
voo entrou segurando uma bandeja e me deu um sorriso tenso.
— Bom dia, Senhorita Rizzi. Seu café da manhã. — Ela me
entregou a comida e eu agradeci.
Comi devagar e quando o jato pousou em Chicago eu já tinha
voltado a minha posição, olhando pela janela. Eu estava cansada,
não consegui dormir nas longas horas de voo. Sempre que minhas
pálpebras se fechavam o rosto choroso da minha mãe aparecia em
frente aos meus olhos.
— Chegamos, Senhorita.
— Obrigada. — Sorri me erguendo e a segui.
Segurei a alça da minha bolsa com tanta força que meus
dedos estavam brancos, e desci as escadas do avião. Apertei meu
casaco sentindo o vento frio jogar meus cabelos para longe. Minha
calça agarrava minhas coxas e o blusão justo cobria minha bunda.
Ergui meu rosto seguindo a comissária enquanto alguém pegava
minhas malas.
Respirei profundamente quando vi um helicóptero preto
parado com as hélices girando. Dois homens estavam parados
diante dele e eu senti minha pulsação acelerar quando percebi que
era Rocco e um dos seus irmãos.
A comissária me deu um sorriso e seus olhos brilhavam com
pesar. Ela saiu em seguida e Rocco deu um passo à frente. Seu
sorriso torcido estava longe de ser visto. Rocco me encarou sério e
semicerrou os olhos por alguns segundos enquanto eu estava
parada com os cabelos voando para todos os lugares.
— Bem-vinda, Passarinha. — Sua voz me fez estremecer e
dar um passo para trás procurando seus olhos. O azul era escuro
agora. Eu não tinha ideia de que a escuridão era tão bonita.
— Vamos, Rocco — o homem atrás dele chamou
rapidamente e eu o encarei. Seus olhos eram cinzentos e o cabelo
diferente de Rocco, era escuro.
— Esse é Romeo, meu irmão — Rocco falou ainda parado
me encarando e eu engoli em seco. — Vamos lá.
Rocco e Romeo subiram no helicóptero e eu os segui. Me
sentei longe dos dois mantendo meus olhos na janela. Quando
subimos eu fixei meu olhar no lago Michigan. Era bonito e
chamativo. Ele me acalmou e eu não sabia porquê.
O silêncio se estendeu durante a viagem. Rocco estava
mexendo em um IPad e Romeo no celular franzindo a testa de
poucos em poucos segundos.
Quando o helicóptero pousou Rocco me ajudou a descer e eu
fiquei tensa com seu toque. Ele voltou a franzir o cenho e se inclinou
sobre mim, me fazendo tremer.
— Você vai ficar tensa quando eu foder sua boceta,
Passarinha? — Ele se afastou para assistir minha reação e eu
engoli em seco, ainda em silêncio. Rocco sorriu e continuou me
segurando. Seu polegar apertou meu pulso e ficou lá.
Estávamos em uma propriedade arborizada. Os arredores do
heliporto eram verdes e eu vi os soldados se reunindo diante de
nós. Rocco me colocou em um carro de golfe e dirigiu com Romeo
ao seu lado.
Assim que avistei a mansão eu fiquei tensa. A fonte em frente
à entrada era um leão com a boca aberta. A água saia de lá como
se ele estivesse rugindo. Era bonito de um jeito cruel.
A casa era larga e a porta era tão alta que quase alcançava o
andar de cima. Quando ela se abriu, Rocco me puxou novamente e
eu entrei. Os dois irmãos que estavam na transmissão me
encararam parados. O mais alto, Matteo, poderia ter vinte anos, no
máximo e Prince, o mais novo, uns dezessete.
Os Trevisan.
O sobrenome me fez arrepiar. Os dois diante de mim eram
parecidos com Romeo. Cabelos escuros e olhos cinzentos. Apenas
Rocco era loiro.
— Matteo e Prince. Essa é Sienna Rizzi. A noiva — Rocco
murmurou soltando meu pulso e passando por mim, se colocando
ao lado dos seus irmãos seguido por Romeo.
A boca de Matteo se estendeu e ele sorriu, ironia dançando
em seus olhos. Prince não fez nada que pudesse indicar que ele
tinha me visto.
— Você tem até quatro da tarde para se arrumar.
Eu pisquei arregalando os olhos e Rocco sorriu novamente,
sádico.
— Vamos nos casar, passarinha.
— Ela é muda? — Matteo questionou e riu. — Que sorte do
caralho, hein Rocco.
— Eu não sou muda. — Forcei minha voz a sair e os quatro
Trevisan me encararam sem expressões. — Olá. Eu sou Sienna
Rizzi.
— Continue... — Rocco me desafiou com o olhar e eu
estremeci. O que ele queria que eu falasse? — O que você é,
Sienna? — Sua voz fez entendimento cair em mim. Não gostava do
termo, mas ele queria respostas.
— A princesa da famiglia.
— A rainha da Outfit — Rocco me corrigiu rápido e Matteo
sorriu mais amplamente.
— O ponto alto do meu dia. — Ele piscou para mim e eu senti
meu estômago revirar. — Bem-vinda a Chicago, Sienna Trevisan.
Eu queria sumir.
Romeo me encarou com os olhos apáticos de sempre
enquanto eu me movi para o bar tirando a camisa. Eu odiava a
coisa. Me servi de uísque e peguei o olhar de Prince para as
escadas. Sienna Rizzi tinha acabado de subir.
— Mostre o quarto a ela — Romeo falou o que guardava e eu
ergui a sobrancelha. — Você apenas a soltou na mansão, Rocco.
— Ela vai se encontrar... — murmurei com firmeza, pois eu
tinha explicado onde ficava seu quarto. Não era difícil achar.
— Ou esbarrar com Tebow, ou pior, com Lake. — Prince abriu
a boca pela primeira vez e eu apertei minha mandíbula.
Soltei o copo ainda cheio e subi os degraus da escada. Sorri
quando encontrei Tebow, e como Prince previa, Sienna estava na
frente dele completamente paralisada. Me aproximei devagar,
encostando meu pau em sua bunda perfeita e levando minha mão
para sua boca. O corpo dela se retesou e eu sorri. Porra.
Enfiei minha cabeça em seu pescoço e cheirei devagar
sentindo o perfume doce e sensual na pele branca dela. Sienna era
a mais perfeita princesa da máfia. Seu cabelo loiro, seus olhos
azuis, uma italiana dos pés à cabeça.
E era minha.
— Sou eu, passarinha — murmurei contra sua orelha, mas
isso só a fez ficar ainda mais tensa. — Tebow — saudei e ele me
encarou por alguns segundos e depois voltou a observar Sienna.
Soltei a mão dos seus lábios e ela respirou fundo.
— Me solte, por favor — ela pediu baixinho e eu a virei. Os
olhos grandes e expressivos dela me agraciaram e eu tirei seu
cabelo rebelde do rosto.
— Para quê? — questionei firme e Sienna engoliu em seco.
— Preciso me arrumar.
— Temos tempo — falei sério deixando meus olhos caírem
em seus seios. Se é que isso é possível, Sienna ficou ainda mais
rígida.
— Ainda não nos casamos.
— Qual o problema? — questionei rápido e vi seu rosto ficar
vermelho.
— Só pode me tocar depois do casamento — falou isso tão
baixo que eu apostava Prince que nem ela acreditava nisso.
— Eu posso tocar você quando eu quiser, passarinha. Você é
minha.
Sienna engoliu em seco e estremeceu desviando os olhos
dos meus.
— Vamos lá, vou te mostrar seu quarto. — Eu a soltei e
passei por ela chamando Tebow. Ele me seguiu mais rápido que
Sienna.
— Ele morde? — Sua voz chegou em mim e eu abri a porta
do quarto, onde suas malas já estavam.
— Sim. Não pareça medrosa na frente dele. Ele vai atacar ao
mínimo sinal de hesitação — falei a verdade olhando para o
cachorro maior que a maioria. Tebow descansou no corredor e eu
olhei para Sienna que ainda parecia temer ele. — Achei que a
famiglia criava mulheres fortes.
Sienna ergueu o rosto ao me ouvir e engoliu em seco. Ela
andou para mim e entrou no quarto. Seus olhos capturaram cada
lugar e sua boca se abriu ao ver o vestido de noiva.
— Logo alguém vem ajudá-la com cabelo — avisei
rapidamente e ela se virou acenando.
Deixei Sienna sozinha, e fechei a porta guardando a chave
em meu bolso. Eu não a queria fora do quarto. Era melhor assim.
— Preciso ir ao Village — Romeo falou assim que desci as
escadas. Matteo e Prince estavam na sala de jogos que ficava ao
lado e eu andei para lá com Romeo.
— Vou casar em duas horas — avisei pegando meu copo
agora vazio e lancei um olhar firme para Matteo que deu de ombros,
filho da puta. Me servi novamente e me sentei perto deles.
— Será rápido. Preciso ver se a droga chegou corretamente.
Você sabe que não confio em Enrico — meu irmão afirmou me
encarando e eu acenei.
Olhei para o copo cheio de líquido âmbar e senti minha
pulsação acelerar lembrando do chefe da Itália. O fodido idiota.
Enrico disse que não sabia do ataque que sofremos há alguns dias.
Eu duvidava fortemente. Se seus soldados faziam esse tipo de
merda nas suas costas, Enrico precisava matar alguns para dar uma
lição. Era o que eu faria.
Romeo saiu, deixando nós três sozinhos. Escutei passos e vi
Mama L nos olhando. Ela trabalhava com a gente há poucas
semanas. Eu não gostava de criados pela casa, mas depois de
algumas semanas percebi que era impossível sobreviver no lixão
que Matteo e Prince transformam na casa. Agora tínhamos ela
como cozinheira e governanta. A equipe da limpeza vinha uma vez
por semana. Porém, ela só ficava aqui até a hora do almoço. Era
meu limite.
— A cabeleireira chegou. Hum, o quarto está fechado —
Mama L falou com os olhos cravados no chão. Eu tirei a chave e
joguei para ela, que a pegou rapidamente.
— Você a trancou? — Prince questionou franzindo as
sobrancelhas, assim que a governanta saiu, e eu o encarei.
— Sim. Não a quero pela casa.
— Ela será sua esposa.
— Não importa — o cortei terminando a bebida e Prince
calou a boca. — Limpem essa merda. — Eu apontei para as caixas
de pizzas e latas de refrigerante.
Entrei em meu escritório e me sentei na poltrona acolchoada
ouvindo meu celular tocar. O nome de Enrico me faz revirar os
olhos. Já caralho?
— Trevisan.
— Ela já chegou? O casamento será no horário combinado?
— A voz dele soou desinteressada e eu sabia que era apenas uma
máscara. Se ele não desse a mínima para Sienna, não estaria me
ligando.
— Obviamente. Sim, será. — Peguei meu notebook e abri a
foto de Sienna na tela. — Eu espero que a droga esteja boa. Ou eu
vou rasgar a garganta dela como fiz com seu soldado recém-
iniciado.
— Não sou idiota e cumpro com minha palavra. — Enrico
parecia letárgico e isso me fez revirar os olhos.
— Você sabia que eu a escolheria — eu disse passando a
mão na mesa de mogno, segurei uma das canetas e apertei sobre
uma folha.
— Sienna é a primeira coisa que os homens veem quando
entram numa sala onde ela esteja. Você não foi diferente.
— Giovanna sabe que você olha para Sienna?
— Não toque no nome da minha mulher.
— Nunca mais pronuncie o nome da minha — respondi
rápido e ele ficou em silêncio. — Faça sua parte que eu faço a
minha.
Eu desliguei o celular e joguei na mesa diante de mim. De
ontem para hoje, eu já reuni informações sobre Sienna que ninguém
nunca conseguiria. Seu pai era o chefe da Cosa Nostra antes de
morrer e Enrico assumir. Seu irmão foi iniciado há alguns anos como
Matteo e os dois tinham a mesma idade.
A batida suave me fez erguer o rosto. Lake me olhou com
seus olhos escuros e eu esperei que falasse o que queria.
— Posso ir vê-la? — minha irmã mais nova perguntou tensa
e eu semicerrei os olhos. Lake tinha apenas quatorze anos e
ninguém sabia sobre ela.
Lake Trevisan era uma fábula.
— Não. Amanhã — eu falei cortante e seus ombros
desceram. — Erga seus ombros e olhe para frente. Você me deve
respeito, não submissão. — Lake fez isso rapidamente e me
encarou engolindo em seco. — Quando ela for da família você a
conhecerá, até lá, Sienna é apenas uma desconhecida que você
deve manter distância.
— Ok, Rocco. — Ela acenou ainda parada e eu me levantei
andando até ela. Seu queixo se projetou para cima e ela continuou
me encarando. — Me desculpe.
— Não se desculpe. Nunca. — Lake estremeceu ao ouvir
minha voz furiosa e acenou, piscando os olhos. — Somos sangue e
honra, Lake, mas também orgulho e lealdade. Não peça desculpas.
— Tudo bem. — Ela acenou e eu ergui a mão para tocar seu
rosto, mas Lake se abaixou, tremendo. — Por favor, não.
— Lake... — chamei e ela se ergueu me encarando. Meus
olhos estavam semicerrados e o ódio correu líquido em minhas
veias. — Eu nunca vou bater em você — disse firme e seu olhar se
encheu de lágrimas. — Nunca, Lake.
— Des... obrigada, Rocco. — Ela piscou afastando a umidade
dos olhos.
— Não implore novamente.
Lake acenou e eu apontei para a porta, dispensando-a.
Voltando para minha mesa, apertei meus punhos e mandíbula com
força assim que ela saiu. Eu o matei rápido demais. Deveria ter
prolongado sua tortura por semanas, não apenas dias. Ele arruinou
todos nós, mas Lake tinha feridas tão profundas que jamais seriam
recuperadas.

Prince e Matteo estavam no altar da igreja junto comigo.


Romeo estava com o braço de Sienna dentro do seu, trazendo-a
para mim. Sienna não conseguia olhar para ninguém, nem eu
mesmo. Seus olhos que pareciam a porra do céu estavam presos
na imagem de Jesus, acima da minha cabeça. Ela parecia implorar
a ele, por uma saída. A princesa da máfia estava sendo entregue ao
diabo e nem o divino iria salvá-la. Seu cabelo loiro estava preso em
uma trança grande e larga e seu corpo tenso deixava nítido seu
desconforto.
Peguei sua mão assim que chegou e Romeo foi para o lado
de Matteo me dando um aceno. Apertei o pulso de Sienna e me
aproximei, chegando próximo do seu ouvido.
— Finja um sorriso, Passarinha. É nosso casamento, não um
enterro.
Sienna suspirou e sorriu, tão manipulável.
A cerimônia não foi longa, e eu tive um dedo nisso. Quando o
padre me mandou beijar minha noiva eu me virei para Sienna. Seu
olhar assustado fazia uma risada borbulhar em minha garganta,
porém me contive. Segurei seu pulso e me inclinei, juntando minha
boca a sua. Surpreendendo-me ela não se afastou quando eu
peguei seu lábio e mordi a carne rosa.
— Você acabou de trancar a gaiola — disse baixo encarando
o seu lábio inferior. O fio de sangue sujava o batom rosa e eu sorri
tocando-o, sujando meu polegar. Sienna fechou os olhos quando me
viu lambendo seu sangue. — E eu acabei de jogar a chave fora.
Me virei para meus soldados e capos segurando Sienna.
Passei meus olhos por todos batendo palmas e sorrindo. Pensar
que dentre eles ainda restavam ratos me fez ficar alerta.
Arrastei Sienna para fora da igreja e eu peguei seu olhar em
direção a lanchonete velha do outro lado da rua, onde uma garota
estava sentada mexendo em um celular. Eu não precisava que
Sienna me desse explicações. Aquilo era liberdade.
E Sienna nunca a teria.

Rocco me guiou para dentro do salão de festas e seus irmãos


ficaram ao nosso redor, tensos, olhando sobre o ombro, como se em
um segundo, alguém pudesse atacar. Isso me deixou curiosa,
estávamos na Outfit, na cidade deles, por que estavam tensos? A
ameaça estava aqui?
— Você quer uma bebida? — Rocco perguntou quando nos
sentamos na mesa depois de falarmos com algumas pessoas. Quer
dizer, Rocco falar, eu só dei sorrisos rasos as pessoas.
— Vinho — pedi, lambendo meus lábios, ainda sentindo o
gosto de Rocco neles. Era bom de um jeito que me deixava com
medo. Não queria gostar tanto da sua boca, mas o beijo me deixou
nas nuvens. Eu precisava admitir.
Rocco acenou e chamou o garçom. Assim que a taça estava
entre meus dedos eu suspirei e beberiquei o vinho devagar. Um
casal se aproximou e Rocco relaxou na cadeira, nem mesmo se
erguendo para cumprimentá-los.
— Sienna, seja bem-vinda. Você é linda — a mulher
murmurou tentando ser simpática, mas o franzido em suas
sobrancelhas deixou claro que estava sendo obrigada a falar isso.
— Obrigada — murmurei lhe dando um pequeno sorriso.
— Seu vestido é lindo — outra mulher falou se aproximando
com seu companheiro e eu virei o rosto para ver ela. Meu vestido
era lindo, realmente. Fiquei até surpresa com o bom gosto de quem
o escolheu. A maquiagem e cabelo também tinham ficado
impecáveis. Eu estava linda, como uma princesa, mamãe ficaria
orgulhosa. Sufoquei a emoção e agradeci a mulher tentando não
chorar.
Assim que se afastaram eu encarei Matteo e Romeo. Os dois
estavam vestidos com ternos pretos e tão lindos quanto homens de
negócios em filmes. Matteo e Prince eram novos, mas tão altos
quanto Rocco e Romeo. O irmão Trevisan mais novo não estava na
festa, no entanto.
— Você quer dançar? — Matteo me olhou desinteressado e
eu sabia que ele só perguntou para ser educado. Ele não queria.
Eu aceitei, exatamente por isso.

Observei Matteo dançando com Sienna enquanto eu e


Romeo estávamos sentados longe. Prince não veio a festa, ele
voltou para a mansão depois da cerimônia, para ficar de olho em
Lake.
— Você deveria dançar com a sua esposa — Romeo falou
advertindo e eu o encarei. Eu não tinha dançado com Sienna.
Matteo era o dançarino da família e ele estava fazendo isso há três
músicas.
— Eu não danço — disse rápido e Romeo olhou para Matteo
na pista. Eu o chamei e ele trouxe Sienna. Quando ela se sentou ao
meu lado, Matteo se afastou junto com Romeo. — Vamos embora.
— O que? — Seus olhos se arregalaram e eu observei seus
lábios.
— Eu quero você, Sienna.
— Mas estamos aqui há apenas alguns minutos — ela
murmurou mordendo o lábio e eu o puxei da sua boca. Meergui lhe
estendendo a mão.
— São desconhecidos. Eles só querem beber e comer.
Sienna não falou mais nada. Quando entramos no carro eu
deslizei a porta que dava para ver Romeo e Matteo. Estávamos a
sós e eu queria assim. Estava me segurando desde que a vi. Eu
queria Sienna e esse desejo era cru e insano.
— Rocco — Sienna chiou quando me viu indo em sua
direção.
— Você é minha, Sienna.
— Você vai me forçar? — Sua voz tremeu e eu sorri.
— Você vai querer meu pau tanto quanto eu quero a sua
boceta, Sienna.
Seu rosto ruborizou e eu enfiei a mão em seu cabelo,
segurando sua cabeça e puxando-a para mim. Eu mordi seu
pescoço assustando-a, e chupei a carne sensível deixando uma
marca vermelha e irritada na pele branca como mármore.
Continuei fazendo minhas marcas em seu pescoço até o
carro parar na nossa mansão. Quando eu me afastei de Sienna um
sorriso grande se estendeu pela minha boca.
Marcada. Possuída. Minha.
Ela estava perfeita.
Matteo e Romeo tentaram e o primeiro falhou em não olhar
para o pescoço de Sienna.
Meus irmãos sumiram em segundos e eu guiei minha esposa
até o seu quarto. Tebow estava sentado no corredor e eu o mandei
embora com um aceno de mão. Fechei a porta depois que entramos
e olhei para Sienna, me encostando na parede.
— Tire a roupa — ordenei e Sienna estremeceu. — Agora,
Passarinha.
Ela se virou puxando a trança e eu relaxei vendo-a tentar
descer o zíper. Me aproximei quando Sienna desistiu com um
suspiro. Desci o zíper devagar tocando na sua coluna com a ponta
do meu dedo no processo. Ela estremeceu e eu me afastei vendo
seu vestido cair no chão.
Sienna se virou e eu senti meu pau saltar ao ver seus peitos
e seu corpo. Suas curvas eram suaves e seus montes pesados
eram grandes com mamilos rosados.
— Fique de joelhos — pedi firme e ela engoliu em seco,
tensa. — Agora, Passarinha.
Os olhos dela se expandiram e eu abri minha blusa vendo-a
fazer o que mandei. Sienna me observou enquanto tirei minha roupa
inteira e fiquei diante do seu rosto.
— Rocco, eu não sei...
— Eu vou ensinar — falei em um grunhido e encostei meu
pau em seus lábios rosados. — Abra seus lábios, Passarinha.
Sienna abriu devagar e eu entrei em sua boca. Ela começou
a chupar apreensiva e eu segurei seu cabelo. Seus olhos bonitos do
caralho se fecharam enquanto ela me levou para sua garganta
desajeitadamente.
— Abra os olhos, Sienna. Observe — ordenei rápido,
ansioso, e ela o fez.
Me afundei em sua boca e gemi vendo Sienna me
observando. O brilho em seus olhos não passou despercebido por
mim.
Desejo.
Minha passarinha estava de joelhos chupando meu orgasmo
fora do meu corpo e estava amando cada segundo disso. Ela podia
mentir para si mesma, mas os olhos nunca mentem.
Eu sabia seu segredo.
Quando Rocco estremeceu ao redor da minha boca, minhas
bochechas já estavam vermelhas e eu estava com tanta vergonha
que eu poderia apenas ser enterrada. Ele entrou e saiu lentamente
até gozar. Forcei minha bile para baixo e, ao ver que engoli seu
esperma, ele sorriu.
Rocco Trevisan poderia ser um demônio, mas ele era o mais
belo de todos.
Eu me odiei por notar.
Senti o tecido do meu vestido roçar em meu pé e lembrei dele
a alguns metros embolado. Ele era lindo, contrariando as
expectativas. A renda, pérolas e a seda se juntaram e
transformaram a peça. Era impecável.
A igreja, a festa. Tudo estava perfeito. Eu só queria estar me
casando com minha família ao redor, eu queria dançar com meu
irmão. Rocco nem se deu o trabalho de fazer isso. Era quase
cômico. Eu desejei entregar meu buquê a minha mãe depois de
chegar com Salvatore no altar. Era triste que eu não pensei em meu
pai nesse momento, mas realmente ele nunca foi próximo.
Voltei ao presente quando Rocco me ergueu e estendeu a
mão até meu rosto. Ele deslizou o dedo pelo canto da minha boca e
eu vi a gota perolada no seu polegar antes dele enfiar o dedo pelos
meus lábios. Eu chupei devagar e suspirei corando quando ele
afastou a mão.
Peguei meu reflexo no espelho e suspirei ao ver as marcas
que ele fez ainda no carro. Seus irmãos não pareciam chocados
com a cena quando viram. Apenas curiosos. Meu estômago vibrou e
eu olhei para Rocco. Ele acenou para a cama e eu andei até ela
depois de sair dos meus sapatos.
— Deite de costas — Rocco falou atrás de mim e eu me
sentei na cama e depois desci. O colchão macio me engoliu. —
Perfeição do caralho — ele murmurou abrindo minhas pernas e
vendo minha calcinha rendada branca.
Tudo estava arrumado quando cheguei. Meu vestido
escolhido, até a calcinha que eu usaria. A cabeleireira era simpática,
mas o mesmo pesar que vi nos olhos da comissária de bordo estava
nos seus.
O dedo de Rocco pressionou minhas dobras e eu fechei os
olhos envergonhada pela umidade. Minha calcinha estava
encharcada.
— Olhe para mim, passarinha.
Eu fiz o que ele pediu depois de alguns segundos de
hesitação. Rocco sorriu e mordeu minha coxa me fazendo ficar
tensa. Seu dedo esfregou minhas dobras novamente e eu estremeci
quando ele tocou meu clítoris.
Rocco colocou mais pressão enquanto lambeu a mordida e
eu suspirei, tremendo. Algo se construía em meu ventre. Era tenso,
apertado e dolorido. Quando ele explodiu, Rocco não tinha nem
tirado minha calcinha. Seu sorriso torcido era o mesmo de quando
ele me beijou e mordeu meu lábio na igreja.
Casar diante de pessoas desconhecidas era algo que eu
aprendi a pensar enquanto ia crescendo. Mamãe sempre disse que
não tínhamos amigos. Eu nunca tive nenhum, mas eu tinha família e
os queria lá.
— Você está pronta — Rocco disse me fazendo olhar para o
seu rosto.
Eu engoli em seco vendo-o subir pelo meu corpo. Rocco
rasgou minha calcinha e subiu lambendo minha barriga até meus
seios. Seus olhos escureceram ao olhar para meus mamilos.
Quando sua língua lambeu eles e seus dentes rasparam na pele eu
suspirei.
Não conseguia acreditar que estava tão ligada. Não parecia
ser possível, mas Rocco era uma tentação. Deus me perdoe, mas o
homem era lindo mesmo sob as tatuagens e as cicatrizes. Com
apenas um toque eu estava estremecendo e umedecendo.
Quando senti ele contra minha entrada eu fiquei tensa,
esperando. Rocco desceu a mão entre nós e deslizou os dedos em
meu clítoris. Gemi, tremendo e ele entrou em mim, de uma vez, tão
rápido que eu fiquei sem ar por alguns segundos.
— Porra — Rocco grunhiu com os lábios em volta do meu
mamilo enquanto eu tentava respirar. Ele começou a se movimentar
e minhas lágrimas se reuniram, enquanto eu sentia a dor queimando
me invadir.
Rocco se afastou e olhou para mim, viu minhas lágrimas,
mas ele não as reconheceu. Eu não esperava que fizesse. Ele era o
chefe da Outfit, e para estar no topo, Rocco não deveria se abalar
com sentimentos. Eu sabia disso.
Ele continuou me encarando e se mexeu enquanto eu
estremecia. Rocco não demorou muito para levar os dedos em meu
clítoris. Eu gemi com a sensação dos seus dedos e relaxei um
pouco sentindo meu corpo e mente se perderem em meio ao prazer.
Eu não conseguia controlar a resposta que meu corpo dava a
Rocco. Era intenso e avassalador.
Meu marido lambeu meu pescoço e continuou a arremeter
dentro de mim me mostrando um prazer dolorido que eu nunca
pensei experimentar.
Quando eu alcancei um novo clímax, Rocco se enterrou em
mim, gemendo e gozando enquanto suas mãos apertavam meus
quadris com força. Ele deslizou para fora e eu estremeci com a dor.
Rocco ficou de pé encarando minhas pernas ainda abertas e sorriu
de uma maneira doentia me fazendo fechar minhas coxas. Ele
continuou sorrindo ao voltar para a cama. Rocco colocou seu joelho
no colchão macio e segurou minhas panturrilhas. Ele as moveu sem
pressa, me deixando aberta para ele. Me deixando tão
desconfortável com seu olhar como nunca estive.
Rocco se inclinou tocando minhas dobras e eu tremi, sem
saber o que ele estava fazendo. Quando sua mão se ergueu eu vi
meu sangue em seus dedos. Sufoquei um arfar e observei ele
sorrindo.
— Rocco... — murmurei, ofegante e vi ele levar os dedos a
boca. Seus lábios chuparam e ele lambeu meu sangue. — Oh meu
Deus — ofeguei desconcertada e ele veio para cima de mim. Seus
lábios grossos ainda tinham resquícios das gotas vermelhas. Iguais
aos meus depois do beijo na igreja.
— Seu sangue é doce, passarinha. — Ele lambeu meus
lábios e sorriu como se estivesse falando sobre o sol. Rocco juntou
nossas bocas e eu provei meu sangue em seus lábios tremendo.
Segurei seus ombros, receosa por tocá-lo, e o beijei de volta
enquanto suas mãos seguravam minha bunda. Rocco se afastou e
mordiscou meu lábio. Fiquei na cama respirando fundo e observei
ele ir até o banheiro e sair, minutos depois, vestindo sua cueca.
— Boa noite, passarinha — Rocco murmurou pegando suas
roupas e eu assisti sem fala ele sair pela porta.
Demorei alguns segundos até entender que ele não dormiria
comigo. Que esse quarto não era o seu. Eu não sei por que me
senti doente, mas eu me senti. Eu não deveria esperar nada de
Rocco, aliás, sim, eu deveria. Apenas dor e sangue. Os dois
pareciam ser adorados por ele.
Demorei para me erguer e quando o fiz eu estava tremendo
com a pontada fina de dor. Me movi para o banheiro e coloquei a
banheira para encher enquanto observava as marcas que Rocco
deixou em meu corpo. Suas mãos estavam marcadas em meus
quadris e pescoço, com tantasmordidas e chupões que a visão me
fazia estremecer.
— Vai ficar tudo bem — murmurei envolta no silêncio olhando
para o meu reflexo no espelho.
Suspirei me afastando e entrei na banheira. Agarrei minhas
pernas e descansei minha cabeça nos joelhos sentindo as lágrimas
chegarem.
Eu não chorei ao ver Enrico diante de mim, falando sobre
responsabilidades, e nem quando me despedi da minha família, mas
agora, do outro lado do oceano, com um homem que me
desestabilizava era inútil tentar conter.
Pensei em mamãe e respirei fundo. Ela deveria pensar que
estava morta a essa hora. Não trouxe celular, pois Salvatore não
deixou. Ele disse que eu teria que pedir permissão a Rocco. Eu
daria um jeito. Precisava conversar com minha mãe.
Ouvi a porta abrir e fiquei tensa por alguns segundos.
Quando eu vi Rocco de pé na porta eu engoli em seco e olhei para a
água.
— Comprimidos. — Ele jogou os remédios na bancada de
mármore e me olhou antes de sair novamente. Escutei a chave
sendo virada e chorei enterrando o rosto nas mãos.
Eu sempre fui uma prisioneira. Nunca tive liberdade, não era
novidade nenhuma ser trancada em meu quarto, mas saber que
agora era o meu marido que me trancava, me despedaçou.
Os lençóis sujos de sangue tinham sumido quando retornei
ao quarto. Rocco os pegara. Será que os mostrou para Enrico como
prova da minha virgindade? A famiglia não tinha a tradição de
mostrar lençóis enraizada, mas eu sabia que acontecia.
Quando acordei na manhã seguinte eu tomei um banho e
vesti um vestido de algodão cinza que ia até meus joelhos. Ele era
justo em meu corpo. Meu cabelo estava uma bagunça por eu ter o
molhado na banheira ontem e não ter arrumado, mas hoje eu o lavei
e ele estava seco em cima dos meus ombros.
Tentei abrir a porta, mas falhei. Rocco me trancou ontem,
relembrei suspirando. Bati na porta algumas vezes e vi uma sombra
pela fresta de baixo. Escutei uma respiração pesada e lembrei de
Tebow. O cachorro de pelo caramelo e olhos amarelos era grande e
seu semblante fechado, me deixava em alerta.
— Tebow — murmurei e ouvi sua respiração aumentar. — Eu
quero sair — falei novamente, e ri para mim mesma. Eu estava
falando com um cachorro.
— Tebow! — o grito chamando o cachorro me fez afastar da
porta. Era Romeo.
— Romeo! — chamei batendo na porta e vi uma segunda
sombra aparecer. — Me deixe sair.
— Não tenho a chave.
— Chame Rocco — pedi arfando e ouvi o silêncio em
resposta.
— Ele não está.
— Eu estou com fome. Ele vai me manter presa? — Minha
voz soou tão deprimente. Eu era fraca. Fraca com Rocco, e com
seus irmãos.
— Trarei seu café da manhã. — Ele se afastou sem dizer
mais nada.
Depois de alguns minutos eu escutei a porta abrir. Sentada
na cama, observei Romeo entrar com uma bandeja.
— Você disse que não tinha a chave — acusei, franzindo o
cenho.
— Eu não tinha. Tive que buscar — ele respondeu sem se
intimidar e deixou a comida na cama. — Coma.
— Ele vai me manter presa? — perguntei piscando, mas
Romeo não me encarou. Ele estava olhando algo pela minha janela.
— Sei dos planos do meu irmão tanto quanto você, Sienna —
ele respondeu sério e eu puxei a bandeja para o meu colo. Romeo
saiu do quarto sem dizer mais nada, porém escutei ele fechando a
porta novamente.
Comi as frutas e dei apenas duas mordidas na torrada e
ovos. Quando terminei o suco, me ergui e andei até a janela. Alguns
homens vestidos todo de preto estavam pelo jardim e eu sabia que
eram os soldados que vigiavam a mansão. Um carro vermelho de
luxo entrou na propriedade e eu o observei até ver Rocco saindo
dele. Ele estava com uma camisa preta de mangas longas e calça
apertada. Parecendo sentir meu olhar sua cabeça se ergueu e ele
me viu. Recuei engolindo em seco, e quando voltei para lá, ele já
tinha entrado.
Andei de volta para a cama e me sentei contra a cabeceira.
Esperei quase vinte minutos até escutar a chave virando. Eu
esperava Rocco, mas os olhos cinzas e cabelos escuros de uma
garota me assustaram.
— Oi. — Ela sorriu depois de falar e eu vi a sombra de Prince
na porta. — Eu sou a Lake.
— Olá, Lake. — Eu engoli em seco, e sorri. — Eu sou
Sienna.
A garota de cabelos curtos sorriu mais à vontade e eu toquei
na cama, indicando para ela sentar. Ela parecia nova, talvez uns
quinze anos.
— Eu sou uma Trevisan — ela falou isso com tanto orgulho
na voz que eu fiquei tocada.
— Eu sou uma Rizzi... — falei sem perceber, mas recuei ao
lembrar que não era mais.
— Está tudo bem. — Lake me deu um sorriso entendedor e
eu olhei para Prince na porta. — Ele ainda não confia em ninguém
em torno de mim. — Ela engoliu em seco e eu fiquei tentada a
questionar, mas não fiz.
— Você é irmã do Rocco? — perguntei suavemente e ela
assentiu.
— Sim, somos todos irmãos — Lake falou com orgulho
novamente e isso me fez relaxar na presença dela. Ela ainda era
uma criança, mas seus olhos nublados eram mais vividos que os
meus. — Você vai morar conosco agora, certo? É bom ter outra
garota na casa — Lake questionou ainda sorridente e eu acenei. —
Você poderia ficar na minha ala. Eu não tenho permissão para sair
de lá...
— Lake. — A voz de Prince fez nós duas estremecermos.
Eu estava confusa, mas não ousaria perguntar nada com
Prince nos observando.
— Obrigada por vir me ver, Lake. — Eu forcei minha voz e
sorri, tocada com o carinho da garota. Eu estava com saudades de
Salvatore e mamãe. Lake foi a primeira Trevisan a ser gentil.
— Vou pedir a Rocco para subirmos — ela falou mais baixo
assim Prince não conseguiria nos ouvir.
— Não se preocupe. — Eu afaguei sua mão e Prince entrou
no quarto me observando como um falcão. — Eu não a machucaria.
— Quando somos prisioneiros, fazemos qualquer coisa para
escapar.
As palavras de Prince foram como socos em meu estômago.
Ele estava certo. Rocco me manteria presa para sempre. Eu era
uma prisioneira.
— Prince. — Lake o encarou franzindo a testa e ele
semicerrou os olhos para mim.
— É melhor irmos. — As palavras do irmão Trevisan
foramfirmes e eu vi a menina suspirar, acenando. Prince estava me
tratando como uma inimiga. E na verdade, eu era. Meu sangue me
fazia o inimigo.
Mas eu estava aqui agora. Rocco era meu don. Eu lhe devia
lealdade. Não era?
Prince e Lake me deixaram sozinha e eu andei novamente
para a janela quando escutei a chave girando. Mais uma vez
trancada. Rocco estava saindo de casa ao lado de Romeo quando
olhei pela janela. Dessa vez, quando ele olhou para cima, eu estava
escondida atrás da cortina.
Rocco ficou parado por alguns segundos e semicerrou os
olhos. Ele estava pensando em algo. Quando ele se afastou, eu me
sentei no peitoril da janela e abracei minhas pernas tentando pensar
no que eu iria fazer para sobreviver aos Trevisan.
Nada me veio à mente.
Meus passos para dentro de uma das nossas casas de
prostituições foram lentos enquanto eu olhava ao redor. Romeo se
aproximou do bar e pediu uísque a Andy, a responsável pelas
meninas.
— Onde está Lily? — questionei ainda de pé e Andy olhou
para mim por alguns segundos até voltar a encarar seus sapatos. —
Não tenho o dia todo do caralho.
— No quarto dois, ela está com cliente. Em cinco minutos ela
estará livre — Andy respondeu rapidamente e eu acenei,
aguardando.
Quando Lily apareceu eu a peguei pelo braço e a levei de
volta ao quarto. A morena era bonita, mas eu já me joguei em sua
boceta tantas vezes que já estava cansado.
— Tire a roupa — eu ordenei em um rugido e ela o fez
rapidamente. Seus peitos eram pequenos e sua boceta depilada. —
Faça xixi na porra do teste e aqui. Agora. — Joguei o teste rápido
em seus pés e seus olhos se arregalaram.
Lily achava que eu queria sexo. Não mesmo. Eu queria ver
seu terror ao meu pedido. Era uma confirmação. Essas porras
achavam que poderiam me enganar.
— Rocco, por favor.
— Onde encontrou? Quem vendeu a você? — questionei
rápido. Eu não dava a mínima se as prostitutas usavam essa porra,
mas Lily usou da Bratva e ela não me foderia. — Encontraram
drogas no seu quarto e elas não são minhas.
— Deve ter sido um cliente.
— Não foi. Fale a verdade antes que eu peça Matteo para
arrancá-la de você. — Minha voz estava baixa em um nível perigoso
e ela percebeu.
— Um dos caras da minha rua vende.
— Diga o nome e endereço dele a Romeo — ordenei
encarando seu rosto choroso e retorci o meu em nojo. — Pegue
suas porcarias e saia da minha cidade. Se voltar aqui, eu vou matar
você.
Saí do quarto e andei direto para fora. Apontei para o quarto
de Lily ao passar por Romeo. Entrei em meu carro e dirigi rápido
para casa. Porra. Aqueles filhos da puta estavam vendendo aqui,
caralho? Apertei o volante e pisei no acelerador até está dentro das
instalações da mansão.
Entrei em casa e passei por Matteo deitado no sofá com
fones e celular, jogando enquanto comia batataschips. Subi o lance
das escadas e parei ao ver que Tebow ainda estava na porta de
Sienna. Segui meu caminho e subi um novo lance de escadas até
chegar à ala de Lake. A encontrei com Prince assistindo filmes.
Voltei para o térreo e fui para a academia.
Puxei minha camisa fora e me aproximei do saco de
pancadas. Chutei e soquei enquanto eu pensava no que fazer com
a Bratva tão perto. Filhos da puta. Eu estava empenhado a matar
meus próprios ratos, agora eu precisava ter olhos em todas as
direções.
— Lake falou com Sienna — Prince avisou ao se aproximar e
eu soquei mais forte. Porra.
— Sim?
— Ela quer Sienna na ala dela — ele bufou e se jogou no
chão, fazendo flexões. Era para rir, só pode.
— Você não as deixou sozinhas, certo?
— É obvio. Sua esposa me olhou como se eu a estivesse
esfaqueado. Ela acha que confiamos nela? — Prince falou abafado
e eu balancei a cabeça.
— Ela não é burra — afirmei rapidamente e Prince parou
para descansar, me olhando de lado.
— Você vai deixá-la trancada? — meu irmão perguntou e eu
parei de bater no saco e garrei o couro cheio de areia.
— Por enquanto, sim. Por quê? — questionei semicerrando
os olhos. Prince ainda tinha uma áurea de bom rapaz que me
irritava.
— Lake.
— Sim, Lake, Lake, Lake — grunhi irritado e soquei o saco.
— Lake já está grande o suficiente para aprender coisas, Prince.
Uma delas é que eu mando na porra dessa casa.
Prince deu de ombros e eu me afastei em direção a cozinha
tirando as ataduras que envolviam minhas mãos. Assim que entrei
peguei minha água e dei vários goles. Quando baixei ela, vi Tebow
parado balançando o rabo. Ele ia e vinha rapidamente e eu o segui
como ele parecia querer.
Assim que atingi as escadas ouvi a batida na porta. Sienna.
— Tebow? Chame um deles — ela balbuciou e eu fiquei
parado ouvindo-a falar com um cachorro. — Eu estou com fome. Eu
quero sair. — Sua voz era baixa e isso me irritou.
Assim que me aproximei ela parou de falar. Abri a porta e
Sienna estava de pé no meio do quarto, encarando meu peito.
— Venha — chamei me afastando e ela me seguiu. Puxei seu
pulso e a levei até a cozinha. Mama L já tinha feito o almoço de
manhã, que é a hora que ela era permitida na propriedade. Apenas.
Matteo, Prince e Lake apareceram e nos sentamos juntos.
Me servi e comi observando Sienna fazer o mesmo. Ela colocou
apenas carne e salada no prato e começou a comer. Lake a
observava com um sorriso enquanto Prince e Matteo só estavam
focados na comida.
— Sienna pode subir para minha ala? — Lake questionou
assim que terminou sua comida.
— Lake — todos falaram juntos, porém a única voz que não
era repreendendo era de Sienna.
— Sienna vai dar um passeio comigo. Quando voltarmos, eu
pensarei nisso — falei a encarando e minha irmã acenou.
Os meninos se espalharam depois de almoçar e Lake subiu
sozinha. Enquanto me ergui vi Sienna pegando os pratos e segurei
seu pulso com minha atenção cravada nele.
— Solte-os.
— O que? — Sienna arregalou os olhos, surpresa e eu
apertei novamente.
— Solte agora, Sienna.
— Você acha que vou jogá-los em você ou algo do tipo? —
ela perguntou horrorizada enquanto soltava as louças. —
Precisamos conversar, Rocco.
— Você não confia em mim do mesmo jeito que eu não confio
em você.
— Eu sou sua esposa.
— Ainda assim, não vou lhe dar oportunidade de machucar
Lake ou um dos meus irmãos.
— Você está sendo ridículo. — Sienna puxou seu braço,
ecoando ainda surpresa. — Eu jamais machucaria alguém. Seus
irmãos ou você. Isso apenas não é da minha natureza. — Ela se
afastou e eu semicerrei os olhos ao ver ela correr.
Tebow que estava em seus pés se ergueu e foi atrás dela
correndo. Que porra tem de errado com esse cachorro?
— Volte aqui, Sienna! — eu gritei andando a sua procura e a
achei sentada na escada com Tebow nas pernas dela. Ele a
derrubou. — Tebow, sai, agora! — ordenei rápido e ele baixou as
orelhas se afastando. — Não corra de mim, Sienna. É desperdício
de tempo. Eu sempre vou te pegar.
Sienna encarou meus pés se erguendo e eu a vi engolir em
seco.
— Vou voltar para o quarto...
— Vamos dar uma volta.
— Não. Pare. — Sua voz ecoou firme pela primeira vez e eu
subi as escadas até ficar diante dela. — Me deixe voltar para o
quarto, Rocco.
— Você quer foder, passarinha? Podemos transar no nosso
passeio. — Sienna arfou com as bochechas corando e eu me
inclinei mordendo seu ombro devagar. — Eu ainda sinto seu sabor
na minha língua.
— Estou dolorida, Rocco — ela avisou baixinho e eu segurei
seu queixo me inclinando até escovar sua boca na minha. Sienna
amoleceu quando eu a beijei. Agarrei sua cintura e a imprensei na
parede enfiando minha língua em sua boca.
— O que você quer conversar, passarinha? — questionei
empurrando meus quadris e Sienna sentiu meu pau duro em sua
barriga.
— Sobre nós — ela respirou profundamente e eu segurei sua
cabeça enfiando meus dedos por seu cabelo.
— Não existe nós. É um casamento tão falso quanto de um
estrangeiro tentando o visto para permanecer no país. Você foi uma
moeda de troca para a paz, passarinha. É minha. Apenas isso.
Eu me afastei e vi o olhar magoado em seus olhos e isso me
fez sorrir. Bom. Quanto mais rápido ela entendesse esse jogo,
melhor.
— Você vai dizer que está apaixonada agora? — questionei
rindo e Sienna balançou a cabeça.
— Não, eu jamais amaria alguém como você — ela falou
firme projetando seu queixo para cima e eu a encarei, sem
responder. — Agora, me deixe ir para o quarto.
— Você vai comigo a um passeio. Eu não estou pedindo,
Sienna. É uma ordem direta.
Seus olhos azuis piscaram e ela apertou a mandíbula. Peguei
sua mão e a puxei em direção a vasta paisagem traseira da
propriedade. Sienna viu o lago antes de mim e eu percebi a sutil
mudança do seu corpo.
Eu me aproximei junto com ela até o cais e me inclinei na
madeira vendo-a sentar e enfiar os pés no lago. Sienna suspirou e
sorriu encarando a água. Por que ela estava sorrindo para a água?
— Por que decidiu casar se não queria, Rocco? — ela
questionou devagar e eu tirei um cigarro do bolso. Não fumava com
frequência, mas com a conversa fodida que Sienna insistia, parecia
necessário.
— Quando você está à frente na máfia, você não faz apenas
o que quer, Sienna. Você deveria saber disso. Você era uma
princesa da Cosa Nostra — eu disse soltando a fumaça pelos meus
lábios e ela acenou ainda fixa na água.
— Eu quero tentar, Rocco. Não quero ficar presa em um
quarto. Peço que reconsidere, eu jamais machucaria Lake. — A voz
dela baixou e eu me agachei ao seu lado me sentando. Coloquei
uma perna sobre suas coxas e a outra atrás do seu corpo. Sienna
me encarou e eu apaguei o cigarro.
— Sienna, eu vou dizer agora antes que você comece a
imaginar muito. Estou casado com você porque é a minha
obrigação. Eu vou proteger e cuidar de você até o meu último
suspiro, mas eu não vou me apaixonar por você ou qualquer coisa
que alguém tenha te falado. Eu sou leal aos meus irmãos e com o
tempo, serei a você.
— Leal? E fiel? Você vai ser fiel a mim, Rocco? — Seu olhar
azul se fixou no meu e eu segurei sua atenção. Era sério?
— Não sei.
— Você vai me trair — ela constatou voltando a encarar o
lago. — Eu poderei ficar com outros homens também? — Sienna
não me encarou quando propôs.
— Se quiser — respondi preguiçosamente e ela me olhou
franzindo as sobrancelhas.
— Você vai matá-los.
— Pode ter certeza — afirmei me inclinando. O sol batia nos
cabelos loiros de Sienna e ela estava ainda mais bonita, se essa
porra fosse possível. — Vou torturá-los, matar e desmembrar cada
um deles, e farei você assistir.
Sienna respirou fundo e eu me afastei, lhe devolvendo seu
espaço.
— Vou pensar sobre trancar você. Por enquanto, fique no seu
quarto.
— Deixe Tebow comigo — ela pediu assim que terminei de
falar.
— Como? — perguntei imaginando que ouvi errado. Ela
perdeu a cabeça?
— Ele gosta de mim.
— Ele derrubou você há pouco tempo.
— Ele estava tentando me acompanhar — ela o defendeu
rápido e eu a encarei como se ela fosse doida. — Rocco.
— Não. Ele pode ficar agressivo e machucar você.
— Ele gosta de mim.
— Você o conhece há dois dias — resmunguei descansando
minhas costas na madeira do cais.
— Eu...
— Não, Sienna. Ele não vai ficar dentro do quarto com você,
sem saídas para você fugir caso ele se torne agressivo — falei mais
firme e Sienna não voltou a retrucar, apenas acenou.
Minha esposa ficou quieta por algum tempo e quando ia
chamá-la para entrar eu a vi se afastar e pular na água. Porra.
— Isso deve estar um gelo do caralho, por que fez isso? —
perguntei vendo seus cabelos grudados em seu rosto enquanto ela
flutuava.
— Eu nunca entrei em um lago. — Sienna sorriu e afundou.
Quando ela retornou sua cabeça estava inclinada para trás e seus
lábios estavam roxos.
— Saia. Agora. — Eu estendi minha mão e ela a pegou.
Puxei Sienna e ela se sentou tremendo. — Tire o vestido.
— O quê? — ela gritou e eu lhe dei um olhar firme. Olhando
para os lados antes, Sienna se ergueu e tirou o vestido. Eu puxei
minha blusa e me levantei colocando pela sua cabeça.
— Vamos. — Eu a puxei pela mão e nós voltamos para a
mansão.
— Você a afogou? — Prince foi o primeiro a falar quando eu
e Sienna entramos na sala de jogos, para subir as escadas.
— Você perdeu a mente? — perguntei semicerrando os olhos
e Matteo empurrou ele rindo. Romeo apareceu enfiando as mãos
nos bolsos e eu o encarei em buscas de respostas.
— Tebow — Sienna continuou andando e chamou o cachorro
que a seguiu escadas acima.
— Por que ele gosta dela? — Matteo questionou e eu respirei
fundo, me fazendo a mesma pergunta.
Tebow me seguiu, enquanto Rocco ficou para trás. Entrei no
quarto ainda tremendo de frio e fechei a porta com o cachorro
dentro. Eu sabia que Rocco disse que o cachorro não deveria ficar
comigo, mas a porta estava aberta. Ele não veio fechá-la ainda.
Andei para meu banheiro deixando Tebow deitado e tirei a camiseta
de Rocco.
Tentei me controlar, porém quando me olhei no espelho, lá
estava eu, de cabelos loiros molhados, lábios roxos e o tecido preto
contra meu nariz enquanto eu inalava o perfume do meu marido.
Fechei meus olhos e afastei a blusa. Pare com isso.
Tomei um banho quente mais demorado tentando parar de
pensar em Rocco. Ele falou que nosso casamento era uma farsa.
Eu era apenas uma troca. Tudo estava claro e eu precisava enfiar
isso na minha cabeça.
Voltei para o quarto depois de secar mal e porcamente o meu
cabelo, e deitei na cama, batendo na lateral, convidando Tebow a se
juntar a mim. Só precisei chamá-lo uma vez e ele pulou em cima da
cama, se aconchegando em meu corpo.
Acariciei seu pelo claro e Tebow me olhou com seus
pequenos olhos amarelos. Ele era grande e parecia feroz, mas meu
medo estava cessando. Eu adormeci sem perceber e quando
acordei, Tebow não estava na cama.

Dias depois a porta se abriu enquanto eu estava sentada no


peitoril da janela. Eu tinha assistido uma série e estava apenas
encarando a paisagem. Prince colocou uma TV no quarto e me deu
um celular, porém eu sabia que estava sendo vigiada. Tentei falar
com mamãe ontem, mas não tive sucesso. Tentarei amanhã
novamente.
Fiquei um pouco aliviada ao ver Romeo entrando. Prince e
Matteo pareciam me odiar, não que Romeo me tratasse bem, mas
pelo menos ele não estava por perto por tempo suficiente para me
olhar com julgamento. Nos dias que se passaram eu percebi que ele
era o único que não morava na mansão. Matteo, Prince e Lake eram
novos ainda, talvez por isso ainda moravam com Rocco. Falando na
Trevisan mais nova, ela tinha vindo algumas vezes, a cada dia
pedindo para que eu fosse para seu andar. Porém, Rocco ainda não
me deixava fora do quarto sem que um dos seus irmãos estivesse
por perto.
— Rocco mandou você se arrumar — Romeo murmurou e
saiu sem outra palavra. Me arrumar?
Tomei cuidado ao escolher uma roupa. Íamos sair? Era para
o jantar? Eu só saía do quarto no almoço e jantar. As outras
refeições eram trazidas para mim. Porém, Rocco jamais pedira que
eu me arrumasse para os jantares.
Tomei um banho rápido e passei a chapinha em meu cabelo
enquanto escutei Tebow na minha porta. Peguei um vestido preto
que ia até acima do meu joelho e o passei pela minha cabeça. O
decote dele era profundo e iam até as laterais dos meus ombros.
Suas mangas eram compridas e cobriam meus pulsos. Olhei para o
espelho e suspirei, contente.
Peguei meus sapatos louboutin e os calcei testando ficar de
pé. Eu amava saltos e aprendi desde cedo a andar sobre as pontas
finas, porém esses eram ainda mais finos e desconfortáveis. Me
olhei no espelho e suspirei. Eu ficaria bem.
Peguei minhas maquiagens e fui para a bancada. Quando
finalizei, fiquei parada me olhando. O batom que passei era rosa,
porém o vermelho estava me chamando. Eu nunca tinha usado a
cor e meus dedos estavam tremendo quando peguei a bala preta.
Tirei cuidadosamente o rosa e passei o batom de cor forte. Quando
me olhei no espelho, eu sorri.
Eu estava muito bonita.
Me sentei na cama tocando meus brincos de pérola e suspirei
quando percebi o quanto estava arrumada. Me produzi demais.
Rocco poderia pensar que era para ele. Mordi meu lábio, indecisa
se trocava de roupa e diminuía a maquiagem. Encarei minhas unhas
pintadas de renda e endireitei meus ombros. Não. Eu estou linda e
me arrumei para mim mesma, pensei confiante.
A porta foi aberta e eu me ergui vendo Rocco de terno. Era a
primeira vez, depois do nosso casamento, que eu o via vestido tão
formal. Pela casa ele sempre estava sem blusa e com calças de
moletom. Fiquei agradecida por ter caprichado no meu visual. Rocco
estava bonito. Muito mais do que eu queria admitir. Me senti
esquentar olhando para os seus braços largos.
Rocco não veio ao meu quarto nos dias que se passaram. Eu
estava com medo de imaginar o motivo. Eu fui ruim na cama? Ele
estava com outra mulher? As questões me deixavam tensas.
Por que eu me importava? Eu deveria agradecer por ele não
querer me tocar.
Seus olhos azuis viajaram pelo meu corpo e pararam em meu
decote. Meus seios eram mais cheios e nem sempre eu ficava
confortável com decotes, mas esse era delicado, não vulgar. Me
remexi e mordi meu lábio inferior ainda sob seu olhar.
— Você está linda — Rocco enfim falou algo e eu engoli em
seco, erguendo meus olhos para os seus. — Vamos lá. — Ele
acenou para fora e eu me aproximei esperando que ele saísse da
frente, mas ele não se mexeu.
— O que... — parei de balbuciar quando Rocco segurou o
meu punho e o levou a boca. Ele beijou a minha pulsação e se
inclinou escovando seus lábios nos meus. — Rocco...
— Nosso jantar é de negócios, mas eu tenho quase certeza
de que vou matar todos para voltar rápido o suficiente para foder
seu corpo.
Apertei minhas coxas juntas estremecendo. Ele se afastou e
sua mão descansou em minha coluna. Eu não deveria me sentir tão
confortável com as palavras de Rocco. Eu não queria ser apenas
um corpo que ele poderia foder e sair. Minha mãe foi feliz com meu
pai. Seu casamento foi arranjado, mas ela o amou e ele a ela,
obviamente que a sua maneira. Essa felicidade que para alguns era
tão escassa, para Rocco e eu parecia ser inalcançável.
— O que foi? — Rocco questionou assim que paramos na
sala. Escutei seus irmãos que estavam na sala de jogos, ao lado.
— Nada. Você pode me dizer onde estamos indo?
Rocco me observou atentamente e mesmo que ele tivesse
percebido minha mentira, ele não forçou o assunto. Ele me contou
que iríamos a um restaurante jantar com um dos seus capos. Um
dos mais antigos.
Quando Rocco saiu do carro em frente ao restaurante
elegante eu respirei profundamente e me forcei a esquecer a ideia
de um casamento feliz e fiel com Rocco. Era perca de tempo, ele
mesmo falou.
Rocco abriu minha porta e eu agradeci com um aceno. Sua
mão voltou para minha espinha e eu deixei ele me guiar. A
recepcionista estava tremendo quando viu e ouviu o nome de
Rocco. Ele parecia divertido com a reação dela. Confortável com o
medo.
— Por aqui, Sr. e Sra. Trevisan. — Eu estremeci quando a
ouvi me chamar assim e Rocco apertou minha cintura, deixando
claro que percebeu.
A mulher nos mostrou uma mesa onde um senhor de idade
avançada estava sentado com duas mulheres, sua esposa e filha,
eu presumia.
— Patrício — Rocco saudou e eu sorri para os três
educadamente. — Essa é minha esposa, Sienna. Sienna, esses são
Patrício, Milena e Basílica, filha e esposa.
— Boa noite, é um prazer — falei honestamente. O casal
sorriu acenando e a mulher mais jovem, estava com a atenção fixa
em Rocco, não em mim.
Eu tentei não dar atenção a Milena, porém durante o jantar
ficou claro que ela e Rocco tinham algo. Ele estava irritado com a
atenção dela e ficou tenso quando eu o encarei abertamente. Eu
não podia fazer uma cena. Eu sabia meu lugar e Rocco não me
prometeu fidelidade, mas me trazer a um lugar onde sua amante
estaria?
— Vou ao toalete, com licença — pedi me erguendo e Rocco
fez o mesmo, mas toquei em sua mão. — Vai ser rápido — eu falei
firme e ele acenou, à contragosto.
Andei devagar para o banheiro e entrei fechando a porta nas
minhas costas. Ele transou com Milena. Eu sabia só pelos olhares.
Como ele pôde me humilhar dessa maneira? Me fazer jantar com
uma das suas amantes? Eu tremi andando até a pia e lavei minhas
mãos. Tomei meu tempo enxugando-as e quando as batidas
furiosas soaram eu sabia que era ele.
Andei até lá e abri a porta. Sai do local sem encará-lo e
passei, alisando meu vestido e colocando meu cabelo atrás do meu
ombro.
— Você disse que seria rápido — ele rosnou me seguindo e
eu fiquei em silêncio até chegarmos à mesa.
Voltei a me sentar e Milena sorriu para Rocco. Eu estava
apertando meus punhos, enfiando a unha em minha carne. Não
sabia por que estava tão irritada, mas a sensação de humilhação
era tão forte em meu peito que parecia difícil até respirar.
— Respeite a minha esposa, Milena. — A voz furiosa de
Rocco cortou a conversa que Patrício começou e eu pulei em meu
lugar como Milena e sua mãe. — Se não, eu vou enfiar uma bala na
sua cabeça.
Patrício congelou da mesma forma que sua esposa e Milena.
Ela engoliu em seco baixando os olhos e se desculpou murmurando
que sentia muito.
Meu estômago estava revirando e eu desejei voltar para
casa. Para meu quarto. A minha prisão. Para o único lugar que,
contrariando todas as perspectivas, eu me sentia segura hoje.
— Desculpe, Rocco — Patrício pediu e Rocco acenou. Eu
revirei minha sobremesa, mas estava muito agitada. Meu desejo
pelo doce de limão sumiu.
Quando o jantar se encerrou, Rocco me levou para fora e eu
entrei no carro depois dele abrir a porta. Fixei minha atenção na
janela cruzando as pernas e Rocco entrou no carro, acelerando. A
paisagem borrada passou pelos meus olhos e eu respirei fundo.
— Você pode falar de uma vez.
Eu fiquei em silêncio.
— Sienna.
— Você não quer me ouvir. E tudo bem, eu não quero falar
nada.
— Sienna, essa puta...
— Não. Eu só quero chegar em casa.
— O que você quer que eu faça? — Rocco questionou
apertando o volante e eu fingi que não escutei. — Estou falando
com você, Sienna.
— Talvez, não ter me levado a um jantar onde sua amante
estaria. Isso seria um começo bom — murmurei firme e Rocco
acelerou ainda mais.
— Sienna, Milena não é minha amante.
— Você dormiu com ela nesses dias que não me procurou?
— perguntei me virando para o encarar. Rocco não me olhou e
minha humilhação chegou a outro nível.
Nós entramos na propriedade dele e eu saí do carro antes
dele. Andei com passos apressados e Tebow me encontrou na
escada. Rocco não me seguiu e eu agradeci por isso. Eu não
poderia sequer olhar para ele.
Abri a porta com Tebow ao meu lado e peguei a chave
pendurada, trancando-a por dentro. Andei pelo quarto e segurei a
queimação em meus olhos. Pare com isso, ele é um homem feito.
Ele jamais será fiel a você.
Eu sabia disso. Eu cresci na máfia, eu escutei histórias.
Então por que eu me sentia tão doente?
Eu escutei passos na porta enquanto tirava meu vestido.
Peguei o tecido e dobrei colocando na poltrona. Sai dos meus
sapatos e peguei uma blusa grande de Salvatore, vestindo-a. A
umidade inundou meus olhos e eu respirei fundo, lembrando do meu
irmão. Queria falar com ele. Com mamãe. Eu me sentia sozinha
nessa casa.
Eu queria minha família.
— Abre a porta, Sienna! — Rocco gritou pela porta e Tebow
ficou em alerta se erguendo. — Tebow está com você? O que eu
falei para você, Sienna?
O cachorro estava rondando como se soubesse que algo
estava errado.
— Tebow, aqui — Rocco gritou e ele o respondeu se
aproximando da porta e ficando sentado. — Sienna, abre a porta
antes que eu atire na fechadura e assuste Tebow. É uma ordem.
Eu estremeci e enxuguei a lateral dos meus olhos me
aproximando. Passei a mão na cabeça de Tebow e abri a porta
pegando a chave, após. Rocco entrou no quarto e mandou Tebow
sair com apenas um aceno de mão. O cachorro o obedeceu.
— De quem é a porra dessa blusa? — Rocco semicerrou os
olhos e eu disse o nome do meu irmão. Ele ainda parecia irritado. —
Tire-a.
— Não vou ficar nua na sua frente.
— Eu sou seu marido. Eu já vi você nua. Ou você esqueceu?
— Os olhos de Rocco desceram pelo meu corpo e eu peguei as
pontas da camisa, tirando-a.
Era apenas isso que ele queria.
Meu corpo.
Rocco me encarou dos pés à cabeça e se aproximou me
puxando pela cintura, esmagando meus seios em seu peito.
— Por que você está tão irritada, Sienna? Eu menti para
você? Não. Eu disse que não sabia se seria fiel e eu não sou. —
Suas palavras eram duras, gélidas. Eu ergui meu rosto e o observei
de perto.
— Ok.
— Nunca mais mantenha uma porta entre você e eu. Não se
tranque com Tebow novamente...
— Você vai continuar falando ou vai me foder?— eu
questionei encarando seus olhos azuis e ele apertou minha cintura.
Rocco finalmente parou de se controlar e me agarrou. Sua
boca desceu sobre a minha e ele segurou minha bunda me
erguendo. Ele puxou minha calcinha para o lado e me tocou por
alguns segundos, sentindo minha excitação. Rocco afundou em mim
enquanto me empurrava contra a parede. Eu inclinei a cabeça
encarando o teto branco enquanto ele lambia meu pescoço e descia
para chupar meus mamilos, me fazendo ofegar.
— Sua boceta é tão apertada. Nunca senti essa porra —
Rocco balbuciou contra minha pele e eu gemi, tremendo e gozando.
Ele me acompanhou mordendo meu seio e eu suspirei.
Ficamos parados na mesma posição por algum tempo, até eu
reunir de volta minha dignidade. Empurrei o peito de Rocco e desci
dos seus braços, me afastando. Peguei a blusa do meu irmão do
chão e me cobri com ela esperando Rocco sair.
Não demorou muito.
Quando a porta se fechou eu me sentei no chão, sozinha
mais uma vez. Engolindo as lágrimas eu encarei o céu escuro pela
janela.
A porta se abriu novamente e eu encarei a parede diante de
mim, sem querer ver Rocco ou seus irmãos. Vi a sombra de Tebow
e virei, vendo-o. Eu solucei e bati ao meu lado, chamando-o. Não
percebi que a porta ainda estava aberta, até ouvir o clique suave.
Tebow se deitou perto de mim e eu o abracei. Ele era tudo
que tinha nessa casa. Nessa nova vida.
Tebow era o único que parecia sentir algo por mim.
Era triste admitir.
Eu estava engolindo uísque com os olhos presos na tv, onde
passava luta de boxe quando ouvi Tebow. Ele estava
choramingando. Me ergui e subi as escadas. O encontrei na porta
de Sienna andando de um lado para o outro. Que porra ela fez com
esse cachorro?
Escutei um soluço e me aproximei sabendo que era ela. Eu
não sabia o que fazer com Sienna. Ela era a porra de um enigma
que me dava dor de cabeça.
Eu tinha um plano traçado para ela. Porém, Sienna de
alguma maneira estava me surpreendendo, e isso, estava me
irritando profundamente.
Peguei minha chave ainda receoso a deixar os dois juntos,
porém Tebow me encarou também e eu abri a porta, deixando-o
entrar. Sienna estava sentada e chorou assim que viu o cachorro.
Eu voltei a fechar a porta, mas não tranquei. Não confiava
plenamente em Tebow com ela. Lake e meus irmãos cresceram com
ele, Tebow não os atacaria, mas Sienna? Eu não tinha tanta certeza.
Desci as escadas e voltei a me sentar na poltrona vendo a
TV. Romeo apareceu em seguida na sala de jogos e eu o ignorei.
Meu irmão deveria estar em casa, mas ele sempre aparecia nas
horas mais loucas.
— Prince disse que Sienna voltou irritada do jantar, passou
por ele e Matteo e nem mesmo os viu. Aconteceu algo? — Romeo
se acomodou na poltrona afastada de mim e eu o encarei.
— Ela quer fidelidade do caralho — murmurei irritado e meu
irmão me olhou por alguns segundos.
— Isso é sério?
— Eu queria que não fosse — falei me erguendo e me
servindo de mais uísque. Virei o copo de uma vez e vi Romeo
respirar fundo.
— O que vai fazer? Sienna é sua esposa. É normal uma
mulher esperar fidelidade, porém somos homens feitos. Ela cresceu
na famiglia, sabe a sujeira por baixo dos casamentos. Sienna não
deveria pensar nisso.
Eu o encarei por alguns segundos e Romeo afastou o olhar
quando percebeu o que eu estava pensando.
— Milena estava com Patrício — eu expliquei, deixando a
fidelidade do meu irmão de lado. — Ela nunca vai a jantares e nesse
foi. Eu vou matá-la na próxima vez que ousar ficar no mesmo lugar
que Sienna.
Eu apertei o copo e lembrei de Sienna se erguendo da mesa
e indo para o banheiro. As cabeças dos homens girando para olhá-
la, mesmo os que estavam acompanhados. Sienna era linda,
ninguém podia dizer o contrário e era óbvio que as pessoas
olhariam para ela, mas eu desejei arrancar os olhos de todos que
ousaram.
— O que vai fazer?
— Eu não sei.
Eu não sabia mesmo. Eu não dava a mínima sobre ser fiel ou
não. Isso não era um problema, mas o que me preocupava era o
que Sienna acharia.
— Ela não vai achar isso — Romeo falou firme lendo meus
pensamentos e eu voltei a encará-lo. — Ela sabe que não tem poder
sobre você. É um casamento arranjado.
Eu semicerrei os olhos, e por fim acenei.
— E Lily? — questionei me aproximando novamente. Sentei
no sofá enquanto assistia a luta, esperando que ele falasse sobre a
prostituta.
— Em algum lugar longe daqui. Peguei o garoto que vendeu
a ela. Está no porão do Village.
Eu acenei, me erguendo.
— Farei isso. Vou levar Matteo e Prince. Você fica.
— Por quê? — Romeo perguntou sério.
— Porque alguém precisa proteger Sienna e quero que
Prince aprenda algo com Matteo e eu.
— Temos soldados...
— Eu não confio neles para cuidar dela — falei rápido e meu
irmão ficou ponderando isso por alguns segundos até acenar. —
Sairei em dois minutos — o avisei e mandei mensagens para Matteo
e Prince. Os dois precisavam trabalhar suas habilidades de tortura.
Achei uma cobaia perfeita.

Prince estava de pé encarando o garoto que parecia ter a


idade dele. Ele não se mexeu desde que mandei ele arrancar a
unha do dedo indicador do menino.
— Prince — Matteo falou em um rugido e meu irmão engoliu
em seco e me encarou.
Prince não gostava de machucar as pessoas. Era uma
bobagem do caralho porque na Outfit só sobrevivia quem se
destacava. E em nosso mundo isso era feito pela violência.
— Quem vendeu as drogas a você? — questionei deixando
Prince de lado. Eu lidaria com ele mais tarde.
— Vocês vão me deixar ir? — o menino loiro perguntou e eu
sorri.
— Não. Porque eu não estou fazendo uma troca. Você vai
falar. Eu sempre faço falarem.
Matteo e Prince assistiram eu tirar as informações que eu
queria e quando terminei, estávamos todos ensanguentados. Eu me
aproximei de Prince e segurei seu queixo manchando sua pele com
o sangue.
— Você precisa crescer. Pare de demonstrar fraqueza na
frente das pessoas. Elas vão usá-la contra você.
Prince acenou ainda preso em minha mão e eu me afastei.
— Quando sua mente do caralho se perder em compaixão
lembre-se que se fosse você sentado na cadeira, ninguém lhe daria
uma chance. Eles o matariam sem remorso algum.
Prince acenou novamente e eu me virei olhando de Matteo,
que estava parado encarando Prince, de volta para o meu irmão
mais novo.
— Romeo e eu nem sempre estaremos com vocês, fazendo o
trabalho sujo de vocês, então, cresçam.
Eu saí do quarto a prova de sons com os dois no meu
encalço. Parei no banheiro e tomei banho, vestindo novas roupas
em seguida.
Quando saí meus irmãos já estavam limpos também. Dirigi
para casa com o sol já alto no céu e encontrei Romeo na entrada
andando de um lado para o outro. Que porra tinha acontecido
agora?
— Sienna não está no quarto — ele falou antes que eu
pudesse perguntar. — Fui deixar seu café da manhã e ela tinha
sumido. Você o deixou aberto?
Deixei. Sim, eu deixei a porra aberta.
— Ela está pela mansão — Matteo apontou o óbvio enquanto
entravamos.
— Onde está Lake? — Prince correu escadas acima soando
preocupado e eu o segui.
Lake estava dormindo e Sienna não estava no quarto ou
banheiro. Eu a procurei no cais, mas ela também não estava. Onde
ela pode ter ido? Lembrei de Tebow e assobiei, chamando-o. Ele
latiu de volta e eu segui o barulho até a cozinha.
Sienna estava lá e Tebow em alerta aos seus pés. Que porra
era essa? Mama L estava de pé tensa e Sienna sentada de frente
para a mulher mais velha.
— Saia! — eu gritei para Mama L que se retesou, mas fez o
que ordenei. Sienna estava de costas para mim e não se virou em
nenhum momento. Se não fosse pelo tremor em seu corpo, eu diria
que ela nem mesmo me notou. — Eu procurei você pela casa
inteira.
— Eu estava aqui com Mama L — ela respondeu baixo e eu
me aproximei.
— Você saiu sem permissão, Sienna.
— Tebow queria sair para fazer xixi. A porta estava aberta e
eu desci com ele — ela explicou com os olhos no prato diante dela.
Seu café da manhã. — Encontrei ela e fiquei conversando. Eu vou
voltar. — Ela empurrou o prato e se ergueu.
— Olhe para mim.
Sienna se virou e eu a puxei para mim.
— O que? — ela perguntou em um suspiro.
— Vou deixar a porta aberta a partir de hoje. Mas você não
está autorizada a ir para o andar do Matteo ou Prince. Apenas o de
Lake.
Sienna arregalou os olhos azuis e eu segurei seu rosto. Eu
ainda ficava admirado com o quão linda era ela. Minha passarinha.
— Obrigada. — Ela engoliu em seco e eu me inclinei,
beijando seu pescoço. Sienna estremeceu e sua pele se arrepiou
me fazendo sorrir.
— Não mudei de ideia sobre Tebow, no entanto. Não vou
deixá-lo ficar em seu quarto.
Seus ombros caíram, mas, ela acenou rápido, temendo que
eu reconsiderasse os outros.
Sienna se afastou e eu a observei no short jeans curto e
blusa apertada. Empurrei o desejo e subi para meu andar. A casa
era dividida em quatro partes e andares. O último era o de Lake e o
meu o penúltimo. Sienna estava no andar de Matteo.
Deitei em minha cama minutos depois e tentei dormir. Depois
de muito tempo eu finalmente me entreguei ao sono.

Desci as escadas, na manhã seguinte, ouvindo risadas.


Encontrei Lake e Sienna na sala de jogos. Lake tinha algumas
restrições dentro de casa por conta dos soldados. Nada de janelas.
Eles não entravam na residência, então ela podia andar livremente.
Quando entrei na sala as duas pararam de rir e me
encararam por segundos.
— Você já estudou? — perguntei a Lake e ela balançou a
cabeça já se erguendo. Quando ela saiu, Sienna olhou para o seu
colo por um tempo.
— Eu posso falar com minha mãe e irmão? — Sienna abriu
os lábios e eu me sentei no sofá. Ponderei seu pedido. Mandei
Prince lhe dar um celular, mas estava programado para não ligar
para fora do país.
— Ligue. — Eu entreguei o meu celular a ela e Sienna o
pegou rápido teclando os números. — Viva-voz — mandei e ela fez,
desconfortável.
— Rizzi. — A voz de um homem soou e eu sabia que era seu
irmão. Os dois poderiam ser gêmeos de tão parecidos. Salvatore
tinha apenas um ano a menos que Sienna.
— Sal, sou eu.
— Porra, Sienna. Você está bem? — A urgência na voz dele
não me chocou. Ela era sua irmã.
— Sim. Você está com mamãe? — questionou Sienna
mordendo o lábio, sem me encarar.
— Ela está no quarto. Estou subindo. Ele machucou você? —
Salvatore perguntou e eu olhei para o teto descansando minha
cabeça no encosto do sofá.
— Não. Ele não fez. — Eu não a encarei quando ela falou.
Sim, eu não a machuquei. Eu não machucava mulheres, nem
mesmo a minha.
— Não minta — ele ecoou irritado e ela suspirou, quando eu
a encarei.
— Não estou mentindo. Eu juro. — Sienna desviou os olhos
de mim e eu já estava com raiva da conversa. Ela não lhe devia
explicações.
— Sienna? — A voz feminina era preocupada em um nível
que Salvatore não chegou nem perto. — Você está bem? Enrico
disse que Rocco não lhe atendeu nas últimas vezes. Eu queria
saber de você...
— Estou bem, mamãe. Como você está? — Sienna mordeu o
lábio novamente, piscando os olhos azuis e eu me ergui.
— Ele a machucou? Ele foi bom para você na sua noite de
núpcias? E seu casamento? Eu não consigo me perdoar por não
estar com você. Juliano seria um marido bem melhor...
— Mamãe — Sienna a cortou rápido e eu me virei. Que porra
é essa? — Eu estou bem. Não se preocupe, por favor.
Eu odiava a palavra. Odiava a fraqueza do desculpe e do por
favor. Sienna vai aprender em breve que não deve falar isso a
ninguém.
— Você não está! Ele te machucou. Como não? Ele é o
demônio...
— Fico feliz pelo seu carinho, Senhora Rizzi — falei alto
encarando Sienna e ela afundou no sofá ouvindo sua mãe arfar,
horrorizada. — Vou machucar minha esposa agora.
— Rocco...
— Desligue — ordenei rápido e ela suspirou acenando.
Sienna disse adeus e desligou o celular.
Fiquei parado observando-a encarar a TV. Me aproximei
devagar e parei na sua frente, me inclinando. Sienna ficou
completamente rígida quando eu segurei seu rosto colocando meu
joelho no sofá, entre as suas pernas, e empurrei meu peito no seu,
fazendo ela quase deitar no sofá.
— Você ia casar com Juliano. — Não era a porra de uma
pergunta. Eu sabia que Sienna era a princesa da famiglia assim que
coloquei os olhos nela. Na foto que Enrico enviou antes até da
chamada de vídeo. Escolhi Sienna antes daquela besteira do
caralho. Eu a olhei e ela era minha.
Sienna engoliu em seco e colocou as mãos no meu peito.
— Ele renunciou a você pela famiglia.
— São deveres.
— Você queria, no entanto — falei abertamente e ela
balançou a cabeça, mentindo. — Não minta para mim. Eu sou seu
capo. Você me deve lealdade.
— Eu queria ficar na Itália. Se fosse casada com Juliano,
ótimo, se não, pouco me importava.
Sienna respirou fundo e me olhou com os olhos que pareciam
a porra do céu brilhando.
— Você está com ciúmes? — Sua voz era baixa, insegura.
Eu semicerrei os olhos e sorri.
— Não, passarinha. Eu não tenho ciúmes de ninguém. De
nada — falei firme ainda segurando seu rosto pelo queixo. Sienna
não estava mais tensa, ela apenas ficou me encarando, esperando.
— Mas eu não divido o que é meu e você me pertence.
Sienna me olhou por um tempo e eu me inclinei, mordendo
seu ombro.
— Você me ouviu?
— Sim — Sienna murmurou suspirando e eu me afastei,
ficando de pé.
— Suba.
Sienna fechou os olhos e ficou parada ainda sentada.
Quando ela abriu suas pálpebras eu vi o azul límpido me saudar.
— Hum. — A voz de Prince apareceu e eu me virei, vendo-o
olhar para Sienna. — Você bateu nela?
Eu semicerrei os olhos para meu irmão. Eu estava me
cansando de Prince.
— E se eu tivesse, Prince? Será que assim bolas cresceriam
em você? Desse jeito, talvez, você começaria a levar a sério a porra
do seu dever?
— Não. Ele não me bateu — Sienna falou nas minhas costas
e passou ao meu lado. — Está tudo bem.
Ela subiu as escadas e Prince ficou com os olhos presos em
mim.
— Terá um clique na minha cabeça e eu farei isso. Só que
ainda não consigo...
— O único clique que vai soar perto do seu ouvido, será da
minha arma — falei cruelmente e meu irmão desviou os olhos de
mim.
— Vou sair com Travis. Vamos Prince? — Matteo apareceu
falando e Prince acenou, rapidamente. — Você vai precisar da gente
protegendo Lake e Sienna?
— Não. Saiam daqui.
Os dois foram embora e eu respirei frustrado. Odiava
ameaçar Prince ou qualquer um dos meus irmãos. Porém, eu
precisava dele. Não era apenas uma questão de dever. Era lealdade
e necessidade.
Estava chegando a hora de exterminar os ratos que ainda
rondavam minha casa e eu precisaria de Prince para ocupar um dos
lugares vagos. Isso não seria um tópico para se discutir. Ele era
real.
Peguei meu celular assim que entrei em meu quarto. Me
sentei na cama e apertei o aparelho entre os dedos. Pensei em
mamãe imaginando Rocco me machucando e fiquei apavorada.
Tentei reprimir meu medo, ela ficaria bem. Porém, eu sabia mais
dela.
Engolindo o medo de Rocco brigar eu instalei um aplicativo
de mensagens e adicionei o número de Salvatore. Teclei rápido uma
mensagem e suspirei.
Rocco não me machucou. Acalme a mamãe, por favor.
Meu irmão não me respondeu, mas a mensagem chegou até
ele. Isso era o importante. Ele veria em breve.
Passei meus dedos pelo meu queixo e engoli em seco.
Rocco me tocava de uma maneira firme, mas não machucava. Isso
precisava acabar, no entanto. Ele não precisava me tocar para eu
ouvi-lo.
A porta foi aberta e eu não me surpreendi ao ver ele. Rocco
entrou e fechou a porta com os olhos fixos no celular na minha mão.
Apertei o aparelho e o coloquei na mesa de cabeceira. Ele não
brigaria. Era só uma mensagem. Certo?
— O que estava fazendo? — ele questionou, se apoiando na
porta ao cruzar os braços.
— Falei com Salvatore por um aplicativo de mensagens —
murmurei engolindo em seco e Rocco se aproximou.
— Cuidado com o que fala ao seu irmão.
Ele se sentou na minha frente e puxou meu tornozelo. Seus
dedos pressionaram massageando e eu acenei, respirando devagar.
— Você não faz mais parte da Cosa Nostra. Você é a rainha
da Outfit. Você me deve lealdade. Somos a sua família agora —
Rocco afirmou acariciando minha pele, porém sua voz era dura.
— Então, faça eu me sentir em casa — as palavras voaram
pelos meus lábios e ele puxou meu tornozelo até sua boca. Ele
beijou a parte de dentro e estremeci sentindo o toque úmido da sua
língua.
Rocco deslizou sua boca pela minha panturrilha e deixou um
novo beijo na parte interna da minha coxa. Estremeci mais uma vez,
sentindo meu centro se contrair e minhas dobras serem
umedecidas. Ele continuou me torturando com sua boca até chegar
em meu vestido. Suas mãos o ergueram e eu engoli em seco
quando Rocco puxou minha calcinha para o lado.
— Você já se tocou, Passarinha? — Sua voz soou ainda mais
rouca e eu tremi novamente com o seu hálito quente em meu sexo.
— Não — respondi, corando e ele sorriu.
— Outro dia — ele prometeu, e se inclinou lambendo meu
clitóris. Eu gemi fechando os olhos, mas Rocco parou. — Olhos em
mim.
Eu obedeci, ansiosa pelo seu toque.
Rocco lambeu, mordeu e chupou minha boceta enquanto
seus olhos ficaram nos meus. Eu estava lutando contra minhas
pálpebras. Meu orgasmo estava se construindo e eu me rendi
quando seu dedo pressionou minha entrada.
— Oh meu Deus...
Rocco sorriu e eu fiquei sem ar. Pela primeira vez não era o
sorriso sarcástico e irônico que ele sempre distribui. Ele parecia
realmente feliz e isso me fez ficar relaxada.
Sua cabeça se afastou e ele se ajoelhou na cama tirando a
blusa. Eu não esperei por ele, puxei meu vestido e deslizei para fora
da minha calcinha. O pênis dele saltou quando suas roupas foram
jogadas. Recordei de quando tomei ele na minha boca e suspirei.
Eu gostei de dar prazer a Rocco. Mesmo inexperiente eu me senti
no controle pela primeira vez.
— Abra as pernas.
Eu fiz me deitando e Rocco cobriu meu corpo com o seu. Sua
boca chupou a lateral do meu seio esquerdo e eu gemi, desejando
que fosse meu mamilo. Não demorou, no entanto. Rocco lambeu e
prendeu meu mamilo entre os lábios. Ele deslizou para dentro do
meu corpo e eu arqueei ao sentir ele todo dentro de mim. Rocco
saiu dos meus mamilos e começou a chupar meu colo, entrando e
saindo de mim com uma lentidão excruciante.
Segurei os seus braços e procurei sua boca enquanto
abraçava sua cintura com as pernas, o querendo mais fundo e duro.
Quando ele me beijou, eu o deixei possuir meu corpo. Mordi seu
lábio e chupei enquanto Rocco abriu os olhos e me encarou. O azul
dos seus olhos me envolveu e eu o beijei mais devagar.
Seus quadris ficaram mais ritmados e eu gemi quando ele
alcançou um ponto doce dentro de mim. Rocco se afastou e levou
seus dedos para meu clitóris. Eu gritei seu nome, gozando, e ele me
moveu. Rocco deitou e me colocou em seu colo. Minhas bochechas
coraram e senti ele ainda mais profundo, ao ficar nessa posição. Me
apoiei em seu peito e mexi meus quadris enquanto Rocco sorriu
torto e apertou meu mamilo esquerdo entre os dedos. A dor me fez
gritar, mas também fez minha boceta pulsar mais molhada. Rocco
me ajudou a voltar a mexer e eu fiz, gemendo sensível.
— Minha.
A voz de Rocco ecoou e eu senti sua mão entrar em meus
cabelos. Ele puxou os fios, me levando para mais perto e eu
empurrei meus quadris rebolando. Sua língua lambeu meu pescoço
e eu gemi.
— Rocco... — arfei quando gozei novamente em cima dele.
Dessa vez, ele me seguiu.
Eu caí em seu peito respirando profundamente e senti a
ponta dos seus dedos deslizarem pela minha coluna. Tremi em cima
dele e Rocco lambeu meu pescoço mais uma vez.
— Por que não dorme comigo? — eu deixei a pergunta sair e
Rocco ficou parado, sem dizer nada.
Depois do que pareciam ser horas ele apertou meu quadril e
me tirou de cima dele. Eu puxei as cobertas para meu corpo
enquanto ele se erguia ainda em silêncio.
— Não durmo com ninguém.
— Dormir ao lado de alguém requer confiança. É seu estado
mais indefeso — eu falei devagar e Rocco me encarou ainda nu, de
pé no final da cama.
— Sim, isso é verdade — ele concordou — Você me mataria,
Sienna? — Seu olhar se tornou frio e eu mesma me fiz essa
pergunta. Se eu tivesse oportunidade, eu o mataria?
— Nunca.
E era a verdade. Eu não conseguiria.
Rocco saiu do quarto depois de se vestir. Eu fiquei sozinha,
nua e desejando que ele confiasse em mim.

Desci as escadas quando meu estômago roncou. Amarrei


meu cabelo no alto da cabeça e toquei na gola alta da minha camisa
que escondiam as marcas que Rocco deixou em mim ontem à noite.
Ela não tinha mangas e meu short era curto. Era quase inverno em
Chicago, mas a casa estava sempre aquecida.
Entrei na cozinha e engoli em seco quando vi os irmãos
Trevisan juntos. Rocco me encarou com os outros e Lake sorriu.
— Estava quase subindo para te buscar — ela avisou
sorrindo e eu me aproximei, sentando-me ao lado dela.
— A fome me fez descer — eu brinquei e ela riu. O som
aqueceu meu coração.
Todos se serviram e eu vi Prince me encarando junto com
Matteo. Desviei os olhos rapidamente e eu comecei a comer.
— Giulio acordou — Romeo avisou entrando na cozinha,
olhando o celular e eu arregalei os olhos ficando tensa.
— Ele está vivo? — Minha voz saiu em um fio. Rocco me
observou por um tempo e acenou.
— Depois de hoje, no entanto, ele vai morrer — Matteo disse
enquanto cortava a carne como se estivesse comentando sobre o
sabor dela e não a vida de alguém. Eu senti meu estômago revirar.
Não conhecia Giulio, mas Salvatore sim. A famiglia pensava que ele
estava morto.
— Com licença — eu pedi, colocando o guardanapo na
mesa, e me erguendo. Rocco, no entanto, me segurou pelo pulso.
— Sente e termine de comer.
Eu segurei seu olhar, querendo me negar, mas eu não queria
desobedecer Rocco diante dos seus irmãos. Pior, eu não queria que
ele voltasse a se irritar comigo. Eu voltei para a cadeira e Rocco me
soltou.
Pensei em Giulio novamente e minha fome sumiu. Remexi a
comida até todo mundo terminar. Rocco saiu com Romeo e ficaram
apenas eu, Lake, Matteo e Prince.
Eu me ergui e comecei a pegar os pratos já que Rocco não
estava aqui para me impedir.
— Você é da Outfit agora. Sua lealdade está em seu marido.
Não esqueça disso, Sienna — Matteo falou firme se erguendo e eu
o encarei.
— Vocês me tratam como uma intrusa, não da família.
Porém, eu sei onde está minha lealdade, Matteo — falei devagar e
suavemente. Ele semicerrou os olhos e eu senti a mão de Lake na
minha perna, por baixo da mesa.
— Deixe-a. — Prince olhou para o irmão e eu arregalei os
olhos, surpresa. — Ela está longe da família. Fica trancada dia e
noite naquele quarto com ninguém além de Tebow. Pare de
atormentá-la.
— Criou garras para defender Sienna? — Matteo riu do irmão
e eu suspirei levando os pratos para a pia.
— Não briguem — pedi voltando e os dois saíram da sala de
jantar, sem me responder.
— Eu trato você bem? — Lake questionou com as
sobrancelhas franzidas e eu me aproximei.
— Você e Tebow. Muito obrigada por isso, aliás — falei
olhando para ela e procurei Tebow ao redor. Ele estava na porta me
encarando com seus olhos amarelos bonitos.
— Podemos pintar as unhas? — Lake me olhou ansiosa e
isso me fez bem. Porque, de uma maneira simples, eu me senti
importante.
— Claro! Eu trouxe alguns. Vou lavar as louças e subimos.
Pode ser?
Lake acenou e se ergueu para me ajudar. Nós subimos
depois de enxugar e guardar todas as louças.
A irmã de Rocco escolheu o renda que usei antes do meu
casamento e eu um rosa queimado. Depois de terminarmos nós
duas ficamos em seu quarto assistindo filme.
Lake dormiu quando já era noite. Eu puxei seu edredom e a
cobri pegando a vasilha onde ela fez pipoca. Quando me endireitei
eu vi um porta-retrato na sua cômoda. Era Lake, Matteo, Prince e
Romeo. Tinha uma mulher e um homem com eles na foto. Seus
pais, eu diria. A mulher era parecida com eles, já o homem era uma
versão mais velha de Rocco. Pensar nisso me faz questionar onde
ele estava. Cadê ele na foto? Minha atenção derivou para outra
imagem e eu sorri ao ver Rocco e Lake.
Ela estava na frente dele e sorria para ele, não para a
câmera. Rocco, no entanto estava sério.
— O que você está fazendo? — Romeo apareceu na porta e
eu me assustei, porém guardei o grito temendo acordar Lake. Ele
morava em outra casa, mas sempre estava aqui. Isso era estranho.
— Nada. — Devolvi as fotos para o lugar e me movi para a
porta. Romeo saiu da minha frente e me seguiu até às escadas.
Eu parei de andar e Romeo fez o mesmo. Me virei e encarei
meu cunhado, apreensiva.
— Rocco não confia em mim. Você, Matteo e Prince também,
mas eu juro por minha vida e honra que jamais machucaria Lake —
eu disse orgulhosa e Romeo me encarou sem expressão por alguns
segundos.
— Se Rocco não confiasse em você, Lake não teria
permissão para ficar perto e você ainda estaria dentro do seu
quarto, com a porta trancada. — Romeo acenou para que eu
continuasse descendo.
— Ele achou que eu avisaria Salvatore. Sobre Giulio — falei
ainda parada e Romeo me encarou mais sério do que o normal.
— Você faria?
— Giulio é amigo de Sal.
— Ele é o inimigo. Seu irmão, no momento, não é, mas a paz
com a famiglia não vai durar para sempre. Não vou dizer que deve
fazer uma escolha, ela já foi feita por Rocco quando a escolheu
como esposa. Você é a Outfit, Sienna.
As palavras de Romeo me fizeram engolir forte. Ele passou
por mim e desapareceu. Terminei de descer os degraus e parei ao
ver a porta dupla completamente preta. Eu já a tinha visto em outro
dia.
Voltei a andar em direção a escada, mas parei novamente.
Quando olhei para a porta Rocco estava parado me encarando. Era
seu andar. Era aqui que ele dormia, depois que me deixava nua na
cama.
— É do Matteo? Prince? — eu perguntei antes que a
coragem sumisse. Rocco franziu os olhos, confuso. — O andar onde
eu durmo.
— Matteo.
Ele respondeu quando compreendeu e eu acenei, desviando
meus olhos dos seus. Segui para a escada e desci segurando
minha bolsa pequena com meus esmaltes.
Tebow estava na minha porta e quando eu entrei no quarto
ele me seguiu. Sentei no peitoril da janela e acariciei a cabeça de
Tebow.
— Por que você gosta de mim? — questionei curiosa e
Tebow lambeu meus dedos. — Você e Lake, aliás.
Sorri balançando a cabeça, eu estava falando com um
cachorro. No entanto, Tebow não era mais apenas um cachorro para
mim. Ele era meu amigo. Meu aliado.
— Nós vamos sair. — A voz de Rocco soou e eu me virei,
vendo-o parado na minha porta.
— Com a Milena? — questionei olhando pela janela. — Se
for, eu prefiro ficar em casa.
— Sienna.
— Ela me humilhou a cada vez que trocou olhares com você.
A cada vez que sorriu e insinuou que tinham algo a mais.
Obviamente ela estava sendo honesta. Você me traiu com ela.
A dor em minha voz era ridícula. Senti vergonha ao me ouvir.
Eu estava soando infantil e fragilizada. E isso era tudo que eu não
deveria ser em relação a Rocco.
— Não vamos sair com ela — Rocco falou, mas eu não
conseguia encará-lo. — Isso não vai se repetir. Você nunca mais
ficará no mesmo lugar que ela.
— Mas você vai — falei firme e escutei seus passos. Rocco
puxou minhas coxas e se colocou entre elas, se inclinando. Eu
pisquei, encarando seus olhos azuis.
— Não, eu também não.
Seus lábios bateram nos meus e eu deixei meu corpo
amolecer contra seu peito. Rodeei seu pescoço com meus braços e
o puxei para mim. Rocco segurou minha cintura e me beijou de
volta.
Eu não queria criar expectativa, mas ele não a ver mais era
algo, certo? Eu precisava que fosse.
Eu não sabia o quanto.
Romeo e Matteo estavam prontos quando eu apareci na sala,
já arrumado. Deixei Sienna em seu quarto há meia hora. Ela
também deve estar descendo. Me servi de uísque diante deles e
tomei um gole tentando não pensar no que fiz. Eu realmente desisti
de ficar com outras mulheres.
Isso realmente não era um problema. Eu não era um viciado
do caralho em sexo. Sabia me controlar e só fodia mulheres que eu
queria e desejava. Não é como se ficar apenas com Sienna fosse
algo extraordinário. Ela era bonita, gostosa e sabia foder. Porém, eu
precisava ficar me lembrando que ela não detinha poder sobre
ninguém.
Eu a tinha. Ela pertencia a mim. Mesmo que eu a traísse com
trinta mulheres, ela ainda seria minha e sempre será.
— Ela vai demorar? — Matteo questionou passando a mão
pelo cabelo escuro, interrompendo meus pensamentos.
— Não. Já estou aqui. — Eu virei meu pescoço ao escutar a
voz suave da minha esposa. Sienna me deu um sorriso pequeno e
meus olhos derivaram pelo seu corpo. Ela estava com um vestido
vermelho de seda que agarrava suas curvas. As alças eram tiras
finas e seus seios estavam empurrando o tecido, cheios e
volumosos.
— Se prepare, o porão será utilizado hoje.
— O quê?
Me virei vendo Romeo encarando Matteo, confuso.
— Rocco vai matar alguém.
Eu fingi que não escutei, porém Matteo estava certo. Eu
mataria alguém. Sienna estava ainda mais bela que o dia do jantar.
Seu cabelo estava ondulado e caia em suas costas em cascatas
loiras.
— Está tudo bem? — Ela olhou para a própria roupa
franzindo as sobrancelhas.
— Sim. Vamos lá.
Eu andei até ela e a levei para fora. Meus soldados ficaram
inquietos quando viram Sienna e baixaram o olhar rápido. Espertos.
Ajudei ela a entrar no carro enquanto Matteo e Romeo
entravam na frente. Segurei a coxa dela assim que deslizei para
dentro. Sienna sorriu e cobriu minha mão com a sua deslizando os
dedos pelas minhas tatuagens.
— Qual foi sua primeira? — Sua voz ecoou e eu vi Romeo
nos encarar pelo retrovisor, dirigindo.
— Fiz seis no mesmo dia. Vou mostrar a você mais tarde —
eu disse firme e Sienna acenou, corando.
Ela não falou mais nada e nós seguimos a viagem em
silêncio enquanto Matteo mudava a estação de rádio a cada
segundo procurando alguma porra que obviamente não estava
tocando.
Guiei Sienna para dentro do prédio com o letreiro neon e ela
se aproximou mais quando passamos por várias pessoas. Romeo
liderou o caminho e nós chegamos ao nosso camarote. A tenda era
grande e destinada apenas a minha família. Éramos os donos,
obviamente.
— Rocco.
Me virei e vi Romeo acenar. Eu me ergui e deixei Sienna
sentada.
— Peça uma bebida. Não saia daqui. Matteo ficará com você
— falei a encarando e ela balançou a cabeça, colocando uma mexa
do cabelo para trás.
Me afastei devagar e desci as escadas ao lado do meu
irmão.
— Não a trouxe por quê? — questionei andando diretamente
para a sala privada. Romeo me deu um olhar vazio e eu deixei
passar. Não era uma novidade.
Quando afastei a cortina, eu sorri olhando para Leonardo,
Vitor e Pedraza. Eles me viram tarde demais. O olhar arregalado
seria uma confirmação, se eu já não a tivesse.
— Oak Park está monótona, Vitor? — questionei acendendo
meu isqueiro e o levando aos meus lábios para acender meu
cigarro.
— Rocco...
— Vitor veio dar uma volta. Mudar o ar. Comer boceta nova,
você sabe. — Leonardo colocou os braços sobre os ombros de Vitor
e apertou Pedraza.
— Não, eu não sei. Sentem. Vamos conversar. — Eu apontei
para o sofá e eles seguiram minha ordem. Pedraza engolindo em
seco, Vitor enxugando o suor da testa e Leonardo completamente
calmo. Era por isso que ele era um dos melhores. Uma perda que
doeria, se eu já não tivesse um substituto.
— Parabéns pelo casamento. Uma noiva perfeita. —
Leonardo sorriu levando o copo aos lábios e eu pedi uma garrafa de
Bourbon ao garçom enquanto Romeo ficou de pé, nos observando.
— Sim, ela é.
— Quando vai matá-la? — Pedraza abriu a boca pela
primeira vez e eu assisti seus punhos se fecharem. Curioso.
— Matar minha esposa? Não sei. O que você acha? — Me
inclinei no sofá, observando o homem de cabelos grisalhos tomar
confiança.
— Faça o mais rápido possível. Ela é uma mulher, mate-a
primeiro e depois arranque a cabeça dela. Envie apenas ela de volta
a Bellucci — ele falou firme, irritado e eu ergui as sobrancelhas,
fingindo surpresa.
— É ridículo essa trégua. A famiglia tomou vários territórios
de Nova Iorque que pertenciam a Bratva...
— Você acha que eles podem tomar Chicago de mim?
Illinois? — questionei a Vitor, ao pegar minha dose de uísque e
aproximar dos meus lábios.
— É claro...
— Essa conversa está sendo proveitosa para você, Romeo?
— questionei ao meu irmão e ele encarou os três e negou
lentamente. — Vocês não deveriam questionar minhas decisões.
Chicago é minha cidade. A Outfit é minha — murmurei ainda
relaxado e me inclinei ainda segurando meu copo. — Onde está a
lealdade de vocês?
Devagar o rosto de todos ficaram mais brancos.
— Eu sei que são ratos. Nós vamos conversar logo, logo e
vocês vão me dar uma lista com os nomes dos outros. — Eu bebi
minha bebida e sorri. — Vai levar um tempo, vocês sabem a
maneira que eu gosto.
— Se me matar, sua esposa morre — Leonardo falou se
recuperando e eu sorri. Enrolei meus dedos na garrafa de uísque e
bati ela sobre a mesa, quebrando-a. Senti a bebida respingar em
mim enquanto eu me movi rapidamente, enfiando o gargalho na
coxa de Leonardo. Ele gritou e seus olhos se arregalaram
surpresos.
— Eu vou me divertir com você, Leonardo. — Eu empurrei a
garrafa mais fundo e me inclinei sobre ele. — Não faça ameaças a
mim ou a minha esposa. Você vai morrer hoje, ela não.
Eu me afastei e Romeo com mais três soldados pegaram os
traidores do caralho. Hackear os celulares, era fácil, mas eles não
eram burros. Nunca falavam nada demais nas conversas em chat
ou em chamadas. Eu precisei ir mais fundo. Colocando escutas nas
casas dos meus capos e soldados. Isso levou tempo, mas eu já
tinha uma lista com fodidos miseráveis.
Exterminar esses filhos da puta era um trabalho lento. Eu
tinha poucos homens em quem confiava plenamente e por isso
tínhamos que fazer tudo com cautela. Porém, eu estava perto.
Todos morreriam pelas minhas mãos e eu me banharia no sangue
deles.
Na máfia tudo era sobre honra. Sangue era o que nos movia.
Eu tinha o sangue deles, mas ainda assim, muitos me achavam
indigno por ser um filho fora do casamento. Meu pai me chamava de
bastado. Ele foi o único que ousou. Eu lhe avisei que o mataria e
ficaria com a Outfit. Foi por isso que tentou me matar. Para que seu
plano fodido de colocar Romeo no poder, em meu lugar de direito
como seu primogênito, fosse alcançado. Eu o matei antes.
Meu irmão nunca quis liderar a Outfit. Romeo sempre esteve
comigo, ao meu lado. Ele me apoiou no meu pior e no meu melhor.
Romeo era a única pessoa que detinha minha total confiança.
Os homens que eram fiéis ao meu pai, eram contra mim.
Queriam minha cabeça e a Outfit. Romeo e eu os mataríamos antes
disso. Da mesma maneira que matamos nosso pai.
Juntos.
Lavei minhas mãos e saí da tenda andando de volta para
Sienna e Matteo. Semicerrei os olhos para meu irmão ao vê-lo
sentado sozinho.
— Onde ela está? — rugi para Matteo, que estava com a
cara no celular, assustando-o.
— Ali, cara. — Ele se virou para apontar e eu segui seu dedo.
Sienna dançava na pista remexendo seus quadris, seu vestido
subindo pela sua bunda, ficando ainda mais curto. Ela segurava
uma taça com champanhe ou vinho, não consegui distinguir.
Andei em sua direção vendo os homens ao redor
observando-a. Sienna estava com os olhos fechados
completamente envolvida na música. Me aproximei até está atrás
dela e toquei sua barriga plana.
— Rocco — ela balbuciou sem nem mesmo me ver.
— Como sabia? Poderia ser outro homem — murmurei em
seu ouvido e Sienna estremeceu.
— Nenhum deles ousaria.
— Não? Por quê? — questionei segurando seus quadris e a
virando para mim. Sienna piscou com os olhos azuis e inclinou a
cabeça para me olhar.
— Porque sou sua.
Eu me inclinei e beijei seu pescoço. As marcas que fiz mais
cedo estavam cobertas por maquiagem.
— Você é.
Sienna sorriu mordendo o lábio e se pôs nas pontas dos pés
tocando meu peito.
— Eu quero você. — Suas palavras foram acompanhadas
com vermelhidão se espalhando pelas suas bochechas. Eu toquei
seu rosto e pressionei seu lábio inferior observando suas pupilas
dilatadas. Poderia ser desejo, mas eu sabia que era a bebida.
— Em casa.
Sienna acenou rápido e eu a guiei pela cintura de volta a
nossa área. Eu me sentei e a puxei para o meu lado. Matteo nos
encarou e eu virei minha bebida. Sienna se encostou em meu braço
enquanto eu agarrei sua coxa.
— O que você está bebendo? — perguntei a ela quando a vi
virar a taça.
— Vinho branco.
Romeo retornou e eu o observei acenar, respondendo à
pergunta silenciosa que fiz com os olhos. Eu passaria a noite me
divertindo, pensei relaxando.
Deixei Sienna beber mais duas taças e tomei dela. Vi Matteo
se erguendo e olhei sobre seu ombro para Mandy e Milena, se
aproximando. Eu evitava matar sem ser traição, mas estava tentado
a enfiar uma bala nela.
— Rocco. — Sienna ficou tensa ao meu lado e eu me
levantei, pegando sua mão.
— Vamos para casa — chamei quando ela se ergueu e ficou
ao meu lado. Passei a mão por sua cintura e apertei, fazendo
Sienna me encarar.
— Ok.
Milena estava conversando com Matteo e nos olhou de lado
enquanto colocava o cabelo loiro atrás da orelha.
— Estamos indo — avisei ao meu irmão que acenou
concentrado em Mandy.
— Sra. Trevisan. — Milena se aproximou e eu dei um passo
colocando Sienna para o lado.
— Não se atreva — ordenei furioso e ela baixou os olhos.
Sienna tocou meu peito e eu a puxei para longe dela, me inclinando.
— Esse é meu último aviso. Não fale, olhe ou fique em torno da
minha esposa.
Andei para fora e Sienna me seguiu em silêncio. Romeo ficou
para trás então eu iria dirigir. Ajudei Sienna a entrar no carro e ela
agradeceu ao sentar no banco.
— Ela não é uma garota da Outfit? Ela é autorizada a ir a
boates? — Sienna questionou assim que acelerei em direção pista.
— Ela é. Porém, foge dos pais.
— E quando ela casar? Sua virgindade...
— Ela não dá a mínima — cortei sua fala e Sienna parecia
horrorizada.
— Na máfia, tudo que temos é a nossa virgindade. Sem ela
não somos ninguém.
Eu não a corrigi. Era a verdade.
— Você é minha esposa. Não é mais uma preocupação sua
— falei firme com os olhos presos no trânsito e Sienna mordeu o
lábio acenando.
Assim que passamos pelo portão na entrada da propriedade,
Sienna e eu tiramos o cinto de segurança.
— Você ainda vai sair? — ela questionou quando eu deixei as
chaves dentro do carro.
— Sim, mas depois — falei puxando-a para dentro de casa.
Sienna engoliu em seco e nós andamos para o seu quarto.
— Vai voltar para a boate? — sua voz questionou enquanto
eu descia o zíper do seu vestido e distribuía mordidas em seu
ombro.
— Não — respondi à contragosto. Seu vestido caiu e Sienna
se virou devagar. Meu pau pulsou vendo seus mamilos rosados e
sua calcinha pequena também vermelha.
Segurei seu pescoço perto da base do seu cabelo e me
inclinei beijando sua boca. A maneira que Sienna derreteu contra
mim, era a porra do céu.
— Rocco... — ela gemeu quando deslizei meus dedos pelas
suas dobras escorregadias.
Me afastei e ajudei Sienna a tirar sua calcinha. Peguei ela em
meus braços e ela voltou a me beijar com um desespero que me
deixou momentaneamente satisfeito. Andei até a cama e depositei
Sienna nela já deslizando pela sua boceta. Não menti quando disse
que sua boceta era a mais apertada que já entrei. O corpo de
Sienna era uma tentação e eu me via viciado nela como um maldito
dependente de drogas. Empurrei meus quadris gemendo ao ver
seus peitos se moverem. Apertei a carne rosada com meus dedos e
senti Sienna pulsar ao redor.
Sienna tinha um olhar lascivo e o corpo feito para o sexo,
mas ainda era inocente. Eu estava planejando ensiná-la todas as
coisas que poderíamos fazer entre as quatro paredes do quarto, e
até fora dela, e ela vai amar cada uma delas. Seus olhos azuis se
fecharam e ela mordeu meu peito quando gozou, me fazendo seguir
seu clímax.
Pela primeira vez, eu me detive ao lado de Sienna. Ela se
sentou e descansou sua mão ao lado da minha barriga, ficando
quase sobre mim. Ela delineou minhas tatuagens enquanto eu
tentava não dar importância para isso.
— A primeira que fiz está aqui — falei apontando para a
lateral das minhas costelas. Era o nome dos meus irmãos um ao
lado do outro. A caligrafia era tão pequena que ninguém a percebe
se não olhar de perto.
— São lindas. — Sienna sorriu e me olhou sonolenta. Seu
dedo pressionou a caveira com uma plantação de flores saindo
pelos olhos, florescendo. — O que significa?
— Que na morte há vida — falei baixo encarando sua mão
pálida pressionada em meu peito.
— Como? — Seus olhos brilhantes me encararam e eu
respirei fundo.
— Eu renasci no sangue do meu pai, Sienna. Eu o matei e
pela primeira vez em toda a minha vida fodida eu me senti vivo.
Sienna ficou em silêncio, talvez me deixando perceber que
tinha falado algo pessoal. Coisa que eu jamais fiz. Não me
arrependi, no entanto. Era bom ela saber do que eu era capaz.
— O que aconteceu? — ela perguntou enquanto eu deslizava
meus dedos pela sua coxa nua. Sua pergunta era suave,
preocupada.
— Ele me queria morto. Eu o matei primeiro.
Sienna arfou, mas não questionou mais nada. Fiquei um
tempo com ela, até eu escutar uma vibração. Olhei para meu celular
ao lado e tentei me erguer, mas ela não me soltou.
— Durma comigo.
Seu pedido foi feito com sono. Suas pálpebras estavam
pesadas e eu decidi esperar ela adormecer para sair. Puxei ela para
deitar, e toquei sua espinha com meus dedos.
— Durma.
Sienna se agarrou a mim em seu sono. Sua coxa descansava
sobre as minhas e seu braço me abraçava enquanto sua cabeça
estava em meu peito. Sua pele estava vermelha das minhas mãos e
eu acariciei-as ouvindo a suave respiração de Sienna.
Meu celular vibrou novamente e eu saí da cama sem acordá-
la. Peguei o aparelho ainda nu e atendi Romeo.
— Estou a caminho. Matteo está com você?
— Sim, se apresse.
Meu irmão desligou e eu me vesti, saindo do quarto. Tebow
estava na porta, deitado.
— Ela te enfeitiçou, não foi? Essa bruxa. — Acariciei seu pelo
me agachando e ele virou, animado.
Eu me ergui e andei para as escadas. Eu precisava me
concentrar em Leonardo, Vitor e Pedraza. Eu os cortarei por dias se
preciso, até ter mais nomes dos traidores no papel.
Ninguém tentaria me tirar a Outfit. Nem meu pai conseguiu,
seus capachos vão morrer tentando, exatamente como ele.
Quando acordei na manhã seguinte Rocco estava longe de
ser visto. Tebow estava na minha porta e me seguiu quando desci
as escadas. Encontrei apenas Lake e Prince na cozinha com Mama
L. Ela era simpática e eu gostei de conversar com ela até Rocco
chegar e enlouquecer.
Meu estômago esfriou lembrando de ontem. Do seu toque,
sua boca e sua decisão de ficar. Eu não sabia se ele tinha dormido
comigo, e apostava que não, mas eu fiquei aliviada. Não sabia bem
por que, no entanto.
Milena retornou aos meus pensamentos por alguns segundos
e eu a afastei. Por um momento, eu quis ouvir o que ela iria falar
para mim, mas depois que Rocco a ameaçou novamente à vontade
sumiu. Ela iria se desculpar? Ou me dar detalhes de quando eles
estiveram juntos depois do nosso casamento?
— Está tudo bem? — Prince questionou a mim e eu percebi
que estava parada olhando para eles.
— Sim — respondi com um sorriso e me sentei ao lado de
Lake, que estava à frente dele.
— Minha nova professora de balé é linda — Lake murmurou
sorrindo e eu ergui meus olhos. — Tivemos uma aula hoje. São on-
line. Rocco e Romeo não me deixaram ir à escola como Matteo e
Prince. — Sua voz baixou e Prince a encarou, sério.
— Você sabe o motivo — ele falou sucinto e eu me servi com
ovos e bacon.
— Por que eles não podem saber? Eu...
— Porque é para sua proteção.
— Mas, papai sabia de mim... — Ela encarou seu colo e
Prince respirou fundo.
Eu não entendia por que Lake era tão protegida também. Ela
é da máfia, da famiglia, era questão de tempo até ela ter suas
atividades. Lake ficaria noiva.
— Sim, e ele tentou matar todos nós. Eu lembro — Prince a
cortou furioso e Lake mordeu o lábio.
— Quando, então, Prince?
— Quando você tiver quinze e ficar noiva. Ansiosa? — A voz
de Prince era irônica e Lake me olhou, com as bochechas
vermelhas.
— Não quero me casar — ela murmurou para mim e eu
peguei sua mão.
— Você será feliz em seu casamento. Seus irmãos vão
garantir isso — falei firme e Lake acenou, suspirando.
— Você é feliz, Sienna? — ela perguntou quando eu voltei a
comer. Encarei os olhos cinzas e os cabelos marrons dela e pensei
em sua pergunta. Era feliz? Não, respondi em pensamentos, porém
pensei em Rocco e ponderei. Quando ele estava em meu quarto me
tocando eu era feliz. Mas, isso resumia felicidade?
— A felicidade vem com o tempo e é subestimada —
respondi quando entendi que apenas sexo não era sinônimo de
felicidade.
Prince e Lake me olharam por alguns segundos me fazendo
ficar desconfortável.
— Ele te machuca? Força você? — Lake tinha lágrimas nos
olhos quando questionou.
— Ele nunca faria isso, Lake — Prince respondeu por mim
tão rápido e firme que eu fiquei tensa.
— Pode falar, Sienna. Eu juro que não vou contar...
— Lake... — Prince a encarou como se ela o rejeitasse, pior,
rejeitasse Rocco.
— Nunca, Lake. Prince está certo. Rocco nunca me
machucou ou forçou. Eu sou sua esposa e eu o desejo. É tudo
consentido — respondi honestamente, porque Lake parecia
desesperada.
A irmã Trevisan mais nova respirou aliviada e olhou para o
seu próprio colo.
— Vamos subir, Lake — Prince pediu se erguendo e Lake fez
o mesmo, acenando e limpando seus olhos.
Fiquei sozinha completamente confusa. Por que Lake parecia
tão desamparada? Meus olhos se arregalaram e eu senti meu
coração ser rasgado. Não, por favor, não, implorei fechando os
olhos. A bile forçou em minha garganta e eu me ergui vomitando em
meus próprios pés. Alguém tinha abusado da Lake.
— Sra. Trevisan? — Mama L apareceu diante de mim e eu
limpei minha boca endireitando meus ombros. — A Sra. está bem?
Não. Eu estava longe de estar bem.
— Sim. Vou limpar, não se preocupe...
— Não. Eu faço. Vá descansar.
— Não. Eu...
— O senhor Trevisan irá ficar com raiva se eu deixar que
limpe. Por favor, suba. — Mama L sorriu delicada e eu acenei, ainda
atônita.
Tebow, pela primeira vez não estava comigo. Ele subiu com
Lake. Quando entrei em meu quarto eu tentei parar de pensar, mas
minha preocupação cresceu empoucos segundos. Quem tinha
abusado de Lake? Ela era uma criança, por Deus.
Peguei meu celular tentando focar em algo além disso. Eu
perguntaria a Rocco depois. Isso estava me enlouquecendo e eu
precisava de respostas. Sabia que apenas ele as daria a mim.
"Acalmei mamãe ontem. Não se preocupe com ela."
Li o texto de Salvatore e engoli em seco. Queria ligar para vê-
lo, mas não faria sem a permissão de Rocco. Balancei a cabeça
para mim mesma. Não preciso acatar tudo que Rocco mandava,
ponderei e suspirei, clicando no ícone da câmera.
— Você está louca? — Salvatore questionou assim que
apareceu na tela. Ele estava de terno e dentro de um lugar com
pouca claridade.
— Queria ver você. Está tudo bem mesmo? — questionei
fingindo não notar seu tom ríspido.
— Sim, Sienna. Não ligue novamente. Seu marido pode não
querer que você mostre a famiglia seu quarto. Você não acha?
— Você está certo.
— Se cuide e seja maleável.
Maleável? Eu fiz careta para o termo.

Passei dois dias sem ver Rocco, eu não entendia o que


estava acontecendo e não quis questionar a Prince. Lake me evitou
nos dois dias e se pudesse existir uma solidão maior que a minha
eu duvidava. Apenas Tebow me brindou com sua presença.
Ninguém estava disposto a me aturar.
Puxei a camisola da gaveta de dentro do closet e entrei no
quarto vestindo-a. Eu assisti a duas séries e comecei uma terceira.
Não tinha nada para fazer na casa. Fiquei tentada a ir ao cais, mas
temi que Prince enlouquecesse se não me achasse em casa. Me
sentei na minha cama e fiz uma trança no cabelo enquanto pensava
em quanto tempo Rocco ficaria fora.
Ele estava bem? A pergunta martelava na minha cabeça
mais e mais e eu não queria me sentir preocupada, mas estava. Por
que eu estava? Rocco me tratava como um mero objeto. Eu não
deveria querer ele bem. Não deveria me preocupar.
Me deitei sobre as cobertas e peguei meu celular procurando
alguma mensagem dele. Seu número estava salvo, mas eu não me
atrevi a ligar. Não queria que Rocco achasse que eu estava
tentando controlá-lo.
Forcei meus olhos a se fecharem e dormi, imaginando que
ele estaria aqui.
Uma mão me acordou depois de um tempo. Tentei me sentar,
mas a mão segurava minha bunda me mantendo no lugar. Oh meu
deus.
— Sou eu, passarinha. — A voz de Rocco foi como um copo
de água em meio ao deserto.
Relaxei de volta na cama e sua mão subiu minha camisola.
Sua boca mordeu minha nádega esquerda e eu estremeci. Rocco
continuou mordendo minha bunda e eu senti sua língua em cada
mordida, lambendo e acariciando.
Ele segurou meus quadris e me virou forçando meu peso em
meus joelhos. Rocco tocou minha coluna e eu colei meus seios no
colchão, ficando a sua mercê. Seus dedos me tocaram por cima da
calcinha e eu pulei, me arrepiando.
— Você já está molhada — Rocco rosnou quando tocou
minha calcinha branca. Respirei fundo sentindo seus dedos
afastarem o tecido, e entrarem dentro de mim, lentamente. — Porra.
Rocco puxou minha calcinha para baixo, esticando o tecido
frágil entre as minhas coxas. Quando o senti me preencher eu mordi
o meu lençol para não gritar. Rocco empurrou seus quadris a cada
vez mais forte e eu soltei o pano para gritar seu nome. Meu corpo
tremia do orgasmo enquanto ele continuava me fodendo, agora
lento e agoniante.
Meu corpo se acendeu novamente e Rocco me deu um tapa
na bunda, fazendo eu tremer. Oh meu Deus. A queimação enviou
um arrepio até meu clitóris. Rocco parecia desesperado por meu
prazer e a cada vez que quebrei entregando-o, ele exigiu mais um.
Quando ele gozou eu caí, exausta e sensível.
— Não faz um mês que tirei sua virgindade e você já é uma
deusa do sexo — Rocco murmurou contra minhas costas e eu sorri.
Eu queria dar-lhe prazer como ele fazia comigo.
— Você me toca em lugares que fazem isso.
Ele me virou e eu suspirei sentindo sua boca em meu colo.
Rocco puxou minha camisola e terminou de tirar minha calcinha. Eu
suspirei, ansiosa, mas ele apenas lambeu meus mamilos.
— Senti sua falta — falei em um sussurro enquanto Rocco se
afastou, deitando e me puxando para si.
— Eu sei. — Ele riu e eu agradeci pela escuridão, estava
envergonhada pela confissão.
— Você chegou agora? — questionei depois de um longo
tempo em silêncio.
— Sim. Você se comportou? — Rocco me encarou e a luz da
lua que batia no chão do quarto pela janela, iluminou em seu rosto.
— Eu sempre faço.
— Nem sempre.
Eu sorri e descansei minha bochecha em seu peito. As
tatuagens cobriam a maior parte da sua pele e as cicatrizes de
ferimentos eram finas, pude perceber ao passar meus dedos.
— Arrume suas coisas — Rocco falou e eu o encarei,
confusa. — Você vai para a minha ala.
A euforia em meu peito me deixou triste. Rocco me dava tão
pouco e eu achava que era muito. Meu coração e corpo ficavam
contentes pelas suas migalhas. Era doloroso admitir.
— Tudo bem — falei firme e bocejei. — Você vai dormir
comigo?
— Durma, passarinha.
Sua voz e seus dedos em minha coluna me acalmaram até
que eu adormeci.

Mais uma vez, Rocco não estava comigo quando acordei.


Pela manhã ele não estava em lugar nenhum e o café da manhã eu
fiz sozinha. Lake não desceu, Matteo estava com Rocco, Romeo,
contrariando tudo, em sua casa, e Prince eu não fazia ideia. À tarde,
eu me sentei sozinha na cozinha para almoçar.
— A senhora melhorou? — Mama L estava pronta para ir
embora quando a vi.
— Sim, obrigada. —Sorri, querendo que ela não se
preocupasse e ouvi passos. O corpo de Mama L ficou rígido e eu
sabia que era Rocco.
— Melhorou de quê? — ele questionou enquanto Mama saía.
Rocco se sentou na ponta da mesa, ao meu lado e eu engoli em
seco.
— Lake me fez algumas perguntas — comecei erguendo meu
rosto para olhar o seu —,ela parecia assustada e eu cheguei a
pensar que...
— O que ela te perguntou? — Rocco semicerrou os olhos e a
desconfiança nas suas irises azuis me fez ficar triste. Até quando?
— Se você me machucava, se me forçava — falei de uma
vez e Rocco respirou fundo levando o punho cerrado a boca. — Eu
falei a verdade, que jamais fez isso. Ela estava assustada e isso me
levou a imaginar que alguém a violou.
— Sua imaginação está certa — ele falou firme e eu segurei
minha barriga, me sentindo doente mais uma vez. — Ele está morto,
no entanto. Eu o fiz pagar.
Olhei para a comida tocada poucas vezes e afastei o prato.
Eu não podia.
— Posso falar com ela — indiquei, mas Rocco negou.
— Ela não desejaria que você soubesse. Lake tem vergonha
de algo que não é culpa dela. Ela faz terapia, tem psicólogos. Mas,
isso é mais forte. Leva tempo.
Eu não o respondi, porque eu não conseguia. Rocco bebeu a
água posta e devagar seus irmãos chegaram. Quando todos
estavam sentados, eu não conseguia olhar para a boneca de
cabelos castanhos que eu já era apaixonada. Eu não poderia
encará-la, sem chorar. Lake não merecia ou queria minha pena.
— Você vai para as corridas no Navy Pier? — Rocco
perguntou a Matteo cortando o silêncio.
— Sim.
— Eu também vou — Prince avisou e eu peguei minha taça
de água levando-a aos meus lábios secos.
— Preciso de roupas novas — Lake falou e eu deixei meus
olhos vagarem até ela. Tão linda, tão perfeita. Eu queria matar quem
ousou tocar nela. — Sienna pode ir comigo a alguma loja?
— Não — os três homens falaram firmemente e eu vi Lake
acenar, cabisbaixa.
— Podemos comprar no aplicativo. Eles deixam na nossa
casa com pouco tempo. É tão divertido quanto ir à loja — falei
rapidamente e ela me encarou, com os olhos brilhantes. — Pode
ser?
— Claro. Podemos subir depois do almoço?
— Sim.
Prince me olhou agradecido enquanto o restante só me
encarou por alguns segundos. Tirei a mesa com Prince enquanto
Rocco ficou parado nos encarando. Eu estava cansada dos seus
olhares. Coloquei tudo na máquina de lavar-louças e me virei vendo-
o ainda parado. Prince já tinha sumido.
— Você gosta dela — Rocco murmurou firme e eu acenei,
confirmando.
— Ela é muito legal — eu falei dando de ombros e Rocco
andou até mim em passos lentos e metódicos. Ele parecia um leão
enjaulando sua presa, pronto para devorá-la.
— Se você a magoar eu farei você sentir a mesma dor —
Rocco terminou sua ameaça enquanto eu sentia meu coração
batendo contra minhas costelas. Ele franziu a testa e recuou. — Ela
não precisa de mais pessoas magoando-a. Os quatro irmãos dela
fazem o bastante. Lembre-se disso.
Rocco saiu da cozinha e eu fiquei parada encarando a
parede clara. A cada vez que eu achava que Rocco e eu tínhamos
atingido algo, eu era empurrada para longe mais uma vez.
Eu precisava me acostumar, no entanto.
Observei Sienna parada em frente à sua janela. Ela e Lake
passaram a tarde juntas e por mais que eu quisesse empurrar
minha preocupação, era de Lake que estávamos falando. Eu nunca
baixaria minha guarda com a minha irmã.
— Ele continua vivo — Romeo chegou silencioso e murmurou
baixo. Não conseguia acreditar.
— Que porra é essa? Ele é o que, imortal? — questionei me
afastando do corredor, falando baixo.
Romeo me seguiu até nossa academia e eu peguei o saco de
areia.
— Ele continua lá, respirando. Não sei. Você quer que eu
enfie uma bala na cabeça dele? Assim, ele vai morrer, obviamente
— meu irmão propôs sentando em um sofá.
— Não. Deixe-o. Não volte na cela dele.
Pensei sobre Giulio quase morto naquela cela, mas ainda
respirando. Ele não me servia. Era um rato nojento da Cosa Nostra,
mas algo na força que ele tinha de sobreviver a tortura, me deixou
intrigado.
— Você treinou Matteo? — questionei ao meu irmão e ele
acenou segurando o celular.
— Sim, aquele merdinha está mais rápido. — Romeo ergueu
a camisa e eu sorri ao ver que sua costela estava irritada.
— Prince precisa começar a treinar mais. Leve-o para o
ginásio dos soldados. Mande-o lutar com eles.
Romeo ficou calado e isso era uma das atitudes dele que
mais me irritava. Meu irmão era completamente sério desde criança.
Sempre observando e nunca falando.
— Não vão machucá-lo de verdade — Romeo falou rápido,
franzindo a testa.
— Mate o primeiro que não lutar de verdade — falei sério e
Romeo me encarou ainda em silêncio. — O que foi, porra?
— Prince não está pronto.
— O caralho que não. Ele já é um homem feito. Eu vou fazê-
lo ser a porra de um capo e isso não será discutido. Matei Pedraza
ontem, quem você acha que vai ficar lá? O filho dele? Nem fodendo
— rugi encarando-o e soquei o saco com mais força.
— Você vai entregar uma cidade a Prince? Isso é sério?
— Obvio que não. Mas, precisamos de homens de confiança.
Não vou arriscar tentarem nos matar de novo — falei perdendo o
resto de paciência e Romeo se ergueu acenando.
— Vou levar ele amanhã. Vou pedir pizzas.
— Ok.
— Pergunte sua esposa qual ela gosta — Romeo pediu e eu
me afastei do saco respirando fundo. Peguei meu celular e abri o
número de Sienna nas mensagens. Nenhuma trocada.
"Quer pizza? Qual sabor? Romeo vai pedir algumas."
Esperei sua resposta e depois de alguns segundos apareceu.
Muçarela.
— Muçarela— avisei ao meu irmão e ele saiu sem outra
palavra.
Joguei o celular na mesa e voltei a socar. Só parei quando
ouvi alguém na porta. Lake apareceu com um sorriso tenso e eu
acenei, lhe dando permissão para entrar.
Por alguns segundos, quando Sienna me contou a pergunta
que Lake a fez, eu me senti mal. Lake achava que eu era capaz de
estuprar alguém. Porém, pensando, eu entendi. Eu era um monstro
aos seus olhos. Mesmo que eu nunca tivesse desejado ser. Não
para ela.
— Queria me desculpar — Lake murmurou se aproximando e
eu ergui minhas sobrancelhas. — Você e os meninos são as únicas
pessoas que peço desculpas — ela se apressou em explicar,
sabendo que eu odiava quando fazia isso, e eu suspirei. — Sei que
Prince deve ter dito sobre minhas perguntas, mas eu não acho isso,
tá?
— Lake.
— Não, Rocco, por favor. — Ela piscou e a umidade em seus
olhos me fez desviar o olhar por alguns segundos. — Foi uma
pergunta estúpida. Você me salvou e sei que jamais faria algo assim
com Sienna. Foi só meu medo que falou mais alto.
— Eu não sou uma pessoa boa, Lake. Você pode se
questionar sobre meus atos.
— Você nos manteve e continua nos mantendo protegidos.
Não julgo as escolhas que faz pensando em nos manter bem. Eu
nunca poderia, Rocco. — Lake limpou o rosto e eu me aproximei
apertando meu dedão abaixo dos seus olhos, enxugando sua pele.
— Ele sofreu, Lake.
— Eu sei e isso é tudo que me fortalece.
Lake me abraçou e eu deixei. Nós nos separamos e saímos
da academia juntos. Fui para meu quarto tomar banho e Lake para o
seu. Quando entrei vi a sala pequena com TV e o corredor que
levava aos quartos. Eu tinha que pegar as coisas de Sienna e trazer
para cá.
Eu não queria movê-la, era melhor que estivéssemos longe,
mas depois que Matteo me avisou que ouviu Sienna em uma das
noites em que fizemos sexo, isso se tornou sólido. Os gemidos e
gritos dela eram meus, não do fodido idiota do meu irmão.
Depois de limpo eu desci para o andar dele e abri a porta de
Sienna. Ela estava sentada na janela, olhando a lua. Seu rosto se
virou para mim e eu me apoiei no portal.
— As pizzas chegaram — avisei vendo-a descer e calçar os
chinelos. Sienna andou até mim e acenou.
— Vamos.
Eu a deixei passar e a acompanhei até a parte inferior da
casa olhando sua bunda pelo jeans que vestia. Desviei meus olhos
tentando acalmar a porra do meu pau. Sienna parou quando viu
todos sentados na sala de jogos e eu empurrei seu quadril. Me
sentei no sofá e a puxei. Romeo e Matteo estavam com cervejas e
eu peguei uma para mim.
— Você quer? — questionei a Sienna e ela acenou. Observei
ela beber e seu rosto se contorceu fazendo Matteo, Prince e Lake
rirem.
— É horrível.
— Você nunca tinha tomado? — Matteo perguntou rindo e
Sienna balançou a cabeça, negando.
— Coma. — Dei um pedaço de pizza a ela que tomou das
minhas mãos agradecendo.
Olhei para a TV e fixei minha atenção na luta que passava.
Matteo e Prince começaram a falar sobre a corrida do cais e eu
esqueci os dois. Sienna comeu dois pedaços da sua pizza e os
meninos terminaram o resto.
— Vou subir. Boa noite! — Lake avisou se erguendo e andou
para a sala. Seus passos pararam e eu franzi o cenho.
— Lake? — chamei afastando a caixa de pizza e me
erguendo. Andei até a porta enquanto meus irmãos e Sienna me
observavam.
Lake estava paralisada no meio da sala. Anthony olhou de
Lake para mim e franziu as sobrancelhas.
— Ela é a...
— Cale-se. Lake, suba, agora! — gritei andando até ele e
ouvi os passos rápidos da minha irmã depois de segundos. Puxei
Anthony pelo colarinho e o empurrei contra a parede. — O que você
está fazendo dentro da minha casa? — questionei sentindo meu
coração bater em meus ouvidos.
— Rocco. — Ele arregalou os olhos, suando e eu empurrei
meu punho em seu rosto.
— Fale.
— Dimitri estava à procura de Romeo. Eu tentei ligar para
todos, mas não estava dando certo — ele explicou firme e eu o
soltei, pensando, ponderando se eu o mataria ou não.
Ele sabe de Lake. Sabe quem ela é.
— Rocco. — Romeo se aproximou tocando em mim e eu me
afastei.
— Leve-o para o porão.
— Rocco, não precisamos chegar a isso — Anthony ecoou
em pânico e eu encarei meu irmão.
— É uma ordem do seu capo, Romeo — falei apertando
meus olhos. Romeo era amigo de Anthony, e eu entendia até certo
ponto seu modo de agir, mas sua lealdade era a mim. A Lake.
— Vamos. — Romeo passou por mim e arrastou Anthony que
já estava tremendo para a cozinha.
Me virei vendo Matteo, Sienna e Prince.
— Vá para o quarto — falei a Sienna e ela acenou, ainda de
olhos arregalados. — Vocês dois, desçam para o porão. — Matteo
seguiu minha ordem rapidamente, mas Prince ficou parado. — Você
vai matá-lo. Você.
— Rocco...
— Não é a primeira vez, Prince!
— Foi minha iniciação, eu tinha que matar. — Ele franziu a
testa e eu apertei meu punho, pronto para socá-lo, mas o cabelo
loiro passou pela minha frente e Sienna tocou meu peito entre meu
irmão e eu.
— Nunca mais faça isso — falei me inclinando e Sienna
engoliu em seco tremendo. — Prince, porão agora.
Ele sumiu e Sienna se afastou. Eu apertei minha mão e
encurralei ela contra a parede.
— Eu não quis...
— Você quis. Não faça isso novamente. Você não pode me
deter, Sienna.
Deixei Sienna sozinha e segui meus irmãos.

Anthony começou a jurar que não diria nada sobre Lake a


ninguém assim que me viu, mas eu não confiava em ninguém além
dos meus irmãos. Sienna era minha esposa, eu era quase obrigado
a reconsiderar, porém, ainda, tinha precaução na sua frente.
— Você é um soldado leal, Anthony. Mas a segurança de
Lake é mais importante — disse andando pelo porão a prova de
sons. Ninguém nos viu trazendo Anthony aqui e isso era o mais
importante. Eu devia lealdade a Outfit, mas meus irmãos estavam
acima dela.
Eu andei para fora da porta e fechei, encontrando meus
irmãos. Romeo estava andando enquanto Prince parecia a um
passo de vomitar.
— Você não precisa fazer isso. Anthony é leal e depois disso,
ele vai morrer antes de falar sobre Lake.
— E em uma tortura? — questionei furioso a Romeo. — Você
acha que ele não falaria?
— Não vamos arriscar a vida dela — Prince falou, me
surpreendendo. Não era ele que estava se cagando para não matar
o filho da puta?
— Temos poucas pessoas para confiar dentro da Outfit.
Sabemos disso, Rocco. Anthony cresceu conosco, é leal a você e a
mim — Romeo tentou de novo e eu respirei fundo. Porra do caralho.
Ele estava certo.
— É sua responsabilidade. Se algo acontecer a Lake, eu vou
matar você — jurei olhando dentro dos seus olhos cinzas e ele
acenou.
— Rocco — Prince rosnou e eu o encarei. — Não faça isso.
Eu o matarei.
— Prince — Romeo advertiu tenso e eu continuei olhando
para o meu irmão mais novo.
Ele e Lake eram unha e carne, se tinha alguém que dava a
vida por Lake, era Prince. Por isso ele era o único que a protegia.
Eu confiava nele com a segurança dela.
— Eu o matarei. Não vou deixar a levarem. Nunca.
Eu acenei e abri a porta. Romeo balançou a cabeça, mas eu
o ignorei. Essa era a primeira vez que Prince falava abertamente
sobre matar alguém. Eu moldaria meu irmão. Eu perderia um
soldado hoje, mas outro estava nascendo.

Encontrei Sienna em seu quarto, sentada na janela, horas


depois. O cabelo dela estava solto e ela estava abraçando as coxas
com a atenção fixa lá fora.
— Você admira tanto a paisagem. O que te encanta nessa
imensidão de árvores? — questionei entrando e ela suspirou
olhando por cima do ombro para mim.
— A liberdade.
Sua resposta me fez parar contra seu corpo. Ela inclinou a
cabeça e me encarou mordendo o lábio.
— Você nunca vai ser livre, passarinha — falei tirando seu
cabelo da frente do seu rosto e empurrando-o para trás do seu
ombro.
— Eu não falei que a queria. Ela apenas me fascina —
Sienna respondeu firme enquanto eu toquei seu queixo. — Você o
matou?
— Quem? — questionei olhando sua íris azul.
— O homem que estava aqui, que viu Lake — ela explicou
estremecendo quando deslizei meus dedos pelo seu pescoço.
— Você já arrumou suas coisas? — perguntei, mudando de
assunto e Sienna engoliu em seco, acenando. — Então vamos.
Sienna me mostrou suas malas e eu as peguei. Ela abraçou
algumas bolsas pequenas e ainda ficaram duas caixas no chão do
quarto. Amanhã eu as pegaria. Quando chegamos em meu andar,
deixei suas coisas na entrada vendo Sienna olhar para cada canto
do lugar.
— Onde vou ficar?
Eu andei para o corredor e abri a segunda porta. Sienna
entrou e engoliu em seco, virando para me olhar.
— Não é o seu quarto — ela murmurou o óbvio e eu fiquei
parado sem responder. — Somos casados.
— Não gosto de dormir com companhia. Não é pessoal.
Mesmo com minha explicação, Sienna parecia chateada. Eu
saí do quarto não querendo esse drama e busquei suas coisas.
Deixei-as no closet e desci para o andar de Matteo tentando evitar
falar com Sienna novamente. Peguei suas caixas e voltei para o
meu andar.
Quando a encontrei, Sienna estava dentro do closet
arrumando suas coisas. Deixei suas caixas perto e ela agradeceu
sem me encarar.
— Você vai arrumar isso tudo a essa hora? — questionei
encostado na porta.
— Sim — respondeu sem me olhar.
— Por que quer dormir comigo, Sienna? — perguntei,
curioso, e Sienna se virou segurando o vestido que usou no dia em
que fomos a boate.
— Porque você é meu marido. Eu quero pelo menos, um
pouco de normalidade, mas se você não me quer na sua cama, eu
não vou mais tocar nesse assunto — falou, apertando o tecido e eu
respirei fundo.
— Você ouviu o que falei? Não gosto de dormir com ninguém.
É isso.
— Ok. É isso.
— Você está testando minha paciência, Sienna — avisei
apertando meus olhos e ela ergueu o queixo, atrevida.
— E você, me irritando. Vá para o seu quarto. Eu preciso
terminar isso. — Ela se curvou para abrir a caixa entre nós e eu me
aproximei, puxando sua cintura, prendendo-a contra mim.
— É a primeira vez que vejo um passarinho irritado.
Eu quis sorrir diante da sua careta, ainda mais furiosa.
Eu apertei os olhos, tentando não derreter diante de Rocco.
Seu sorriso me arruinava. Eu queria ser mais forte, porém a cada
dia em nosso casamento, eu me via mais envolvida. Eu sabia que
acabaria apaixonada. Porém, como eu poderia me apaixonar por
alguém que era chamado de demônio? O que isso dizia sobre mim?
Rocco não era um homem que se deixava ser ignorado. Sua
brincadeira agora era um exemplo disso. Ele estava irritado com
minha discussão sobre dormimos juntos. Eu não tocaria mais no
assunto. Eu estava sendo ridícula.
— Me deixe terminar de arrumar minhas coisas — pedi,
tentando me afastar e Rocco se inclinou beijando meu pescoço.
— Como você quiser, passarinha. — Ele se afastou e saiu do
quarto, me deixando envolta de solidão.
Estávamos bem, ou quase isso, mas depois de Lake ele se
afastou novamente. Quando entrei na sua frente, defendendo
Prince, eu vi o desejo cru em seus olhos. Ele queria me punir. Eu
estremeci pensando nisso.
Nosso casamento se resumia a dever e desejo. Sempre que
estávamos juntos era por algum compromisso ou porque nossos
corpos pediam um pelo outro. Nada mais.
Eu voltei para minha caixa e continuei meu trabalho tentando
manter Rocco fora da minha mente.

Fazia uma semana que eu não via Rocco. Eu o escutava no


andar fechando e abrindo sua porta tarde da noite, mas ele não
voltou ao meu quarto. Os almoços eu fazia apenas com Lake.
Matteo e Prince também sumiram. Eu estranhei, pois eles não
costumavam deixar Lake sozinha comigo, mas nos últimos dias foi
tudo que fizeram.
— Ficou perfeito — murmurei quando Lake saiu do closet
vestindo uma das roupas que escolhemos dias atrás.
— Eu amei também. Achei que ficariam feios, mas não. São
lindos. — Ela passou a mão no tecido caro e eu sorri, ela parecia
uma princesa.
— Você está linda — elogiei me erguendo e arrumei as
mangas do vestido.
— Prince falou que eles vão me apresentar a sociedade
quando eu fizer quinze, no próximo mês. — Seus olhos se fixaram
nos meus e Lake suspirou. — Você acha que alguém vai me fazer
mal?
— Não! Nunca. Eles teriam que passar por cima dos seus
irmãos e de mim. Ninguém jamais vai machucá-la novamente. —
Minha voz saiu firme e Lake sorriu acenando rápido.
— Eu estou feliz que uma das esposas dos meus irmãos
possa ficar comigo. — Lake apertou minhas mãos e eu franzi o
cenho. Esposas?
— Como assim? — questionei, confusa. — Quem tem
esposa?
— Hum, Romeo é casado há alguns anos. — Lake parecia
incerta sobre falar e eu arregalei os meus olhos. O quê?
— Mas, como assim? Eu nunca a vi e ele fica mais aqui do
que em casa... — Eu estava além de surpresa, eu estava chocada.
Por que Romeo não deixava a esposa aqui? Não a trazia quando
vinha a mansão?
— Ela não é autorizada a me ver. Eles a mantêm longe por
minha causa. — Ela engoliu em seco e sentou na cama, passando a
mão pela borda rendada do vestido. — Eu nunca a vi, mas sei que é
linda. Tão linda quanto você.
Eu olhei ao redor, com os olhos arregalados e tentei respirar.
Ela ficava sozinha? Com quem ela almoçava, jantava, se Romeo
quase sempre estava aqui? Eu senti pena dela e eu nem a
conhecia. Eu queria, no entanto.
— Mas se eles vão te apresentar, ela poderá vir, certo? O
Natal está chegando — eu supliquei, e Lake me encarou surpresa.
Um nó se formou em minha garganta. Eles não passavam o Natal
juntos?
— Por mim ela estaria aqui. Ela moraria conosco. Mas,
Romeo... — Lake parou de falar quando abriram a porta e Prince
apareceu. Ele estava suado, com cortes na sobrancelha e lábio. O
sangue estava escorrendo em seu rosto.
— Você está bem? — perguntei correndo em sua direção e
ele franziu a testa, gemendo ao tocar no ferimento. — Senta — pedi
tocando em seu braços indicando a cama. Corri para o banheiro de
Lake. Eu sabia que tinha kit médico em todos os banheiros. Esse
não era diferente.
— Não precisa, Sienna — Prince murmurou assim que
retornei. Eu o ignorei e o puxei para a cama. Ele sentou ao lado da
irmã e eu limpei seus ferimentos enquanto ele me observava. —
Obrigado.
— De nada. — Eu sorri ao terminar e lembrei de Lake. Ela
sorriu para mim, tão feliz que fiquei surpresa. Ela parecia grata por
eu ter cuidado do seu irmão. Isso não era nada demais.
— Só vim ver como estavam. Vou descer — Prince disse se
erguendo e desapareceu ao fechar a porta parecendo confuso.
Me sentei ao lado de Lake e a encarei segurando sua mão.
— Precisamos trazer a esposa de Romeo para perto da
gente. Ela deve ficar muito solitária — falei firme e Lake suspirou,
acenando.
— Eu estava com medo de ser apresentada, mas agora que
você falou, eu percebi que é verdade. Eu não precisarei mais ficar
escondida do mundo e ela poderá ficar comigo. Estou muito feliz,
Sienna. Tenho um motivo e serei forte — Lake disse me
surpreendendo e me fazendo abraçá-la.
— Estou tão orgulhosa de você, Lake. Você é um anjo —
disse suavemente e beijei seu rosto. Lake me abraçou de volta e
respirou fundo. — Qual o nome dela?
— Lunna.
Lunna. Eu sorri testando o nome em minha boca. Eu estava
ansiosa para conhecê-la.

Mais uma semana passou e eu estava convicta de que


precisava conhecer Lunna. Rocco continuou com a dinâmica de sair
cedo e chegar tarde, e por mais que eu quisesse algumas
explicações, eu não o procurei. Por que ele não estava mais vindo
me ver? Ele tinha voltado a ficar com Milena?
A última questão me fez encolher. Pedi aos céus para que
não fosse o caso. Eu não queria que Rocco ficasse com outras
mulheres. Eu não o amava, mas queria que ele fosse leal a mim
como eu sempre seria a ele.
Andei mais rápido, fingindo correr. Ninguém prestou atenção
em mim e quando cheguei a casa tão grande quanto a que eu
morava eu suspirei. Lake disse que Romeo e sua esposa moravam
aqui, perto da gente. Isso me fez ficar mais aliviada. Seria mais fácil
chegar a Lunna com ela por perto.
Acordei cedo e esperei Rocco sair, quando ouvi a porta
fechando, me vesti como se fosse fazer uma caminhada e sai em
direção a casa. Era longe da nossa, alguns quilômetros cheios de
árvores e jardins. A paisagem era linda e me tirou o fôlego.
Um carrinho de golfe, igual ao que Rocco usou para me levar
até a mansão, no dia em que cheguei a Chicago, estava parado em
frente à casa e eu me escondi na paisagem. Não tinham soldados
por perto e eu estranhei isso. Se Romeo não ficava com ela, quem
ficava?
Quando vi Romeo sair da casa sozinho eu engoli em seco.
Ele entrou no carrinho e dirigiu, passando por mim, em direção a
mansão. Eu saí do esconderijo e andei até a porta da frente. Hesitei
a tocar a campainha, porém pressionei o botão e olhei para os
lados, nervosa. Se Rocco me pegar aqui, eu nem sei do que ele
seria capaz.
Quando a porta foiaberta o eu dei um passo para trás ao ver
uma mulher do meu tamanho me encarando com os olhos
arregalados. Eu fiquei surpresa com sua beleza tanto quanto ela
parecia estar comigo.
— Sienna? — Lunna murmurou olhando para os lados e eu
engoli em seco. Ela puxou meu braço e me fez entrar na casa
rápido. — O que você... Romeo...
— Você sabe meu nome — murmurei piscando para ver ela.
O cabelo de Lunna era longo, preto e seus olhos azuis. Sua pele era
tão branca quanto a minha.
— Sim. Você é a esposa de Rocco.
— E você de Romeo — afirmei suavemente e ela acenou,
tensa. — Você está bem? Com quem fica?
— Você está preocupada comigo? — Lunna parecia confusa
e isso me fez relaxar. Ela sorriu e seus ombros tensos se soltaram.
— Eu estou bem e você?
— Eu também — sussurrei e mordi meu lábio.
— Por que está aqui? — Ela olhou para a porta, parecendo
preocupada e eu me questionei de quem ela tinha tanto medo. Era
de Romeo?
— Queria muito conhecer você — confessei, baixo e Lunna
sorriu se aproximando. Ela pegou em minhas mãos e me puxou
para sua sala. Ela era tão grande quanto a minha. Era linda,
delicada. Nós nos sentamos e Lunna tocou seu vestido longo, preto
como seu cabelo.
— Eu também queria conhecer você. Romeo nunca me
deixou ir à casa dos irmãos, então eu nem pedi. — Lunna soava
triste e seus olhos baixaram para seu colo.
— Eu vim sem permissão —revelei, envergonhada, e Lunna
me olhou com os olhos arregalados e a boca aberta.
— Mas, e Rocco? Você precisa ir. Ele vai ficar furioso. — Ela
se ergueu rapidamente e pegou minha mão segurando com força.
— Não contarei a ninguém que veio. Não se preocupe.
— Está tudo bem. Rocco saiu...
— Romeo vai voltar logo. Não quero que entre em encrenca
por minha causa — Lunna pediu me puxando e eu me ergui,
sabendo que Lunna estava certa. — Eu gostei de conhecê-la. Você
é muito linda.
— Você é mais. — Sorri, com as bochechas pegando fogo e
Lunna piscou afastando as lágrimas que brilhavam em seus olhos.
— Você tem algum celular? Podemos trocar mensagens — indiquei
pegando o meu celular. Lunna me deu seu número e eu adicionei
rapidamente.
Ele começou a vibrar e eu suspirei. Era mensagem de
Salvatore.
"Mamãe quer ver você. Pode marcar um horário para
ligar? Fale com seu marido antes."
— É meu irmão — expliquei a Lunna que parecia curiosa. —
Você fica sozinha? — questionei ansiosa e ela acenou, suspirando.
— Não preciso de seguranças, se não saio de casa. — Ela
sorriu, sem graça e eu respirei fundo.
— Logo poderemos sair juntas — falei lambendo meus lábios
e Lunna desviou os olhos de mim.
— Romeo não deixaria, mas tudo bem. Eu posso pedir a ele
e você, a Rocco. Juntas talvez, eles deixem — Lunna murmurou,
mas suas palavras não convenceram nem ela mesma.
— Sim... — Eu parei de falar quando ouvi vozes do lado de
fora.
— Oh meu Deus. Se esconda — ela pediu me empurrando
em um lugar vazio ao lado do armário. Lunna se afastou e se virou
no segundo em que a porta foi aberta. Fechei meus olhos firme,
porém não consegui por muito tempo.
— Onde Sienna está? — Romeo foi o único a falar. Sua voz
era baixa, porém firme. Eu conseguia ver Lunna de onde eu estava
e ela ficou com os olhos presos a janela, sem o responder. —
Lunna.
— Do que está falando? — Lunna perguntou, mas a
tremulação na sua voz foi o indício da sua mentira.
— Lunna, Rocco está vindo — Romeo avisou e eu vi Lunna
erguer a cabeça para encará-lo. — Não minta para mim.
— Ou? — Lunna apertou as mãos juntas e meu corpo ficou
rígido. Oh senhor.
— Ela fez algo a você? — Romeo questionou se
aproximando e ele entrou em minha linha de visão. — Eu vou matá-
la, se fez — meu cunhado jurou furioso e eu arregalei os olhos.
— Pare... oh meu! — Lunna estremeceu quando a porta foi
aberta e um barulho forte soou. Parecia madeira batendo na parede.
A porta.
— Olá, Lunna. Quanto tempo. — A voz de Rocco soou
controlada demais e eu sabia que ele estava furioso. — Onde está
Sienna? Lembre-se de que eu sou seu capo, você me deve lealdade
e a verdade.
Eu estremeci, fechando meus olhos.
— Ela não está aqui — Lunna mentiu para ele, cumprindo
sua promessa a mim e eu vi Romeo ficar na frente dela, a
encarando.
— Você vai ser castigada se não falar onde ela está. Nós
sabemos que Sienna está aqui. Nós a rastreamos assim que Prince
percebeu que ela não estava em casa. Não minta para nós, Lunna!
— Romeo gritou perdendo a paciência e eu dei um passo para fora
do meu esconderijo.
Rocco me viu primeiro e ele semicerrou os olhos furiosos. Os
ossos do meu corpo tremeram de medo. Percebi, encarando seus
olhos, que hoje seria o dia em que eu conheceria a fúria de Rocco.
HORAS ANTES...
— Eu espero que seja importante, porra — falei assim que
peguei o celular. Minhas mãos estavam vermelhas, manchadas com
o sangue de Costa. Era um dia importante. Costa era o homem por
trás da rebelião assim que fiquei à frente da Outfit. Dias atrás peguei
mais dois soldados traidores e ambos disseram onde Costa estava.
Eu estava com ele há dias, machucando-o, tirando sangue.
— Sienna sumiu — Prince falou firme e eu joguei a toalha
que estava em meu ombro no chão.
— Sumiu como? — eu vociferei para meu irmão e comecei a
andar. Não, a correr. — Explique essa merda a mim, Prince!
— Lake pediu para ir ao andar de vocês e eu fui acompanhá-
la. Sienna não está em lugar nenhum. Já procurei em toda a porra
da propriedade — meu irmão explicou tenso e eu conectei a
chamada ao carro assim que entrei.
— Chame Romeo.
— Ele já está aqui — Prince avisou enquanto eu deslizava
pela pista em alta velocidade e mexia em meu celular. Coloquei no
aplicativo de rastreio e semicerrei os olhos. Que porra é essa?
— Ela está na casa de Romeo. Mande-o até lá — eu lati alto
e pisei no acelerador.
Quando os portões da minha casa se abriram, eu passei
direto para a casa de Romeo, no fundo da propriedade. Desci do
carro com os músculos tensos e com a raiva fervendo. Quem
Sienna achava que era? Sair escondida de mim, vir a casa de
Romeo... porra, Lunna.
Desci do carro correndo e soquei a porta fazendo a madeira
sacudir contra a parede. Eu vi meu irmão com sua esposa e me
aproximei, pronto para matar todos que ficassem em meu caminho.
— Olá, Lunna. Quanto tempo — saudei a minha cunhada que
estava olhando para seus pés. Romeo estava perto dela, a
protegendo. — Onde está Sienna? Lembre-se que eu sou seu capo,
você me deve lealdade e a verdade — gritei, pouco me importando
se Romeo queria ir devagar com ela.
Lunna não era nada para mim. Exatamente como Sienna. Eu
podia matar ambas.
— Ela não está aqui — Lunna mentiu na minha cara e
Romeo se moveu, a encarando.
— Você vai ser castigada se não falar onde ela está. Nós
sabemos que Sienna está aqui. Nós a rastreamos assim que Prince
percebeu que ela não estava em casa. Não minta para nós, Lunna!
— Romeo gritou completamente fora de si e minha atenção foi
puxada para a direção de um dos armários.
Assim que o cabelo loiro da minha esposa impertinente
apareceu eu a encarei dos pés à cabeça. Sua roupa de ginástica
era apertada e suas curvas estavam tão aparentes quanto quando
ela ficava nua. Sienna encarou seus pés depois que me olhou nos
olhos.
— Ande. — Minha voz fez as mulheres pularem e Romeo
encarar sua esposa, que mentiu para nós dois. — Lunna, da
próxima vez que mentir para mim, eu vou matá-la.
Sienna andou para fora e eu saí da casa do meu irmão.
Romeo ficou lá e eu não desejei estar no mesmo lugar que ele.
Lunna se arrependeria de manter Sienna.
— Rocco... — Sienna começou a falar, mas eu a prendi
contra o meu carro segurando seu rosto, apertando sem conseguir
controlar minha raiva ou o peso dos meus movimentos.
— Cale a boca. Quem você acha que é, Sienna? —
questionei furioso. Sienna estremeceu, me encarando e me
aproximei tocando meu nariz no seu. — Você é nada. Porra
nenhuma e na próxima vez em que você sair de casa sem a minha
permissão, eu vou matá-la. Sem remorso nenhum e enviarei sua
cabeça de volta para sua família.
As lágrimas que se reuniram em seus olhos poderiam ter me
feito recuar, mas não fizeram. Sienna colocou um medo em mim que
não senti desde Lake. Eu não vou recuar quando o assunto for a
segurança dela. Nunca.
Mesmo que eu não possa cumprir minha ameaça.
Assim que chegamos em casa eu a fiz subir para o seu
quarto. Sienna se empoleirou na janela, que agora ficava de frente
para o cais, e ficou sem me olhar. As poucas lágrimas que tinha
derramado já estavam secas.
Peguei a chave da porta e me movi andando para a porta. Eu
saí e a tranquei. Dessa vez, no entanto, procurei a satisfação, mas
não encontrei.

Quando Romeo apareceu eu estava virando meu copo e


engolindo minha bebida. Meu irmão se aproximou e sua áurea do
demônio estava presente, eu sabia o que ele faria antes mesmo de
fazer.
— Não ouse nunca mais. — Ele parou na minha frente me
encarando tenso.
— Lunna mentiu para mim. Você sabe que se ela não fosse
sua esposa, estaria fora da cidade ou morta — murmurei firme e
meu irmão desviou os olhos frios dos meus por míseros segundos.
— Ela é minha esposa. Minha, Rocco. Do seu irmão, seu
sangue, sua força do caralho. Lunna é um problema meu e é por
isso que nunca a envolvi com meus irmãos. Você deveria ter feito o
mesmo com Sienna. Ela não seria a dor de cabeça do caralho que
é. — Romeo permaneceu parado, falando com calma e a raiva em
seus olhos dirigida apenas para mim.
— Você tem razão — disse virando o restante da minha
bebida e colocando o copo para baixo. Romeo se afastou passando
a mão na cabeça.
— O que Sienna quer? Ela ia machucar Lunna? Por quê?
— Eu não sei. Não falei com Sienna ainda. Eu estava com
raiva demais para lidar com ela.
— Pois somos dois. Lunna não parecia assustada, ela
defendeu Sienna quando saíram. Eu estou tão confuso, porra. —
Romeo pegou uma garrafa de uísque e virou, tomando-a
diretamente do gargalo.
Eu me sentei no sofá depois de servir mais um copo e
encarei o teto. Sienna Rizzi se transformou em uma dor de cabeça
do caralho que eu não estava preparado.
— Pensei que Lunna não era nada para mim, mas... —
Romeo balbuciou e eu o encarei, esperando. — Quando imaginei,
por um momento, que Sienna a tivesse machucado, eu fiquei sem
ar. Em pânico.
Romeo era um homem de poucas palavras. Lunna era um
assunto do qual ele não falava ou compartilhava. Os dois eram
casados há alguns anos, mas Romeo nunca tocou no nome dela
conosco.
— Ela é sua companhia há anos. Você sentir algo por ela é
normal.
— Não é, Rocco. Você sabe que não é. — Ele encarou a
parede e eu acenei, ficando calado. — Se Sienna a tivesse
machucado, você me deixaria matá-la? — Romeu perguntou me
olhando de frente, completamente sério.
— Não — falei firme e meu irmão respirou fundo. — Eu me
imaginei matando-a quando a ameacei ainda na sua casa, do lado
de fora, mas eu só senti agonia — confessei ao meu irmão, fazendo
uma careta. — Nós dois estamos fodidos pra caralho.
— É, nós estamos. — Ele virou a garrafa de uísque e eu o
meu copo, engolindo tudo.

Os homens diante de mim me encaravam altivos, sem se


deixar abalar. Eu sempre tirava um dia qualquer para reunir meus
homens e lutar com alguns. Hoje era mais que isso. Era para
empurrar todos em direção a um precipício. Eu queria saber quem
cairia.
— Vocês sabem que a paz entre a Cosa Nostra e a Outfit
está em curso. Nós aumentamos nosso lucro com os produtos que
vem da Itália. Pelas fronteiras que eles deixam passar. A Bratva
estava perto novamente e eu matei quem compilava com eles. —
Eu andei pelo tatame do ginásio onde eu os reuni. Ergui minha
cabeça encarando todos, e olhei até o final. — E matarei ainda
mais, porque eu sei que aqui diante de mim ainda tem ratos
imundos que rastejam pelas minhas costas, que farejam meus
passos e tentam me derrubar. Porém, eu prometo sobre o meu
sangue que farei seu juramento valer. Você morrerá pela Outfit, pela
sua traição.
Romeo ficou ao meu lado como Prince e Matteo. Meus
irmãos estavam com os olhos em todos, encarando-os com
seriedade.
— O primeiro — Romeo gritou chamando e Prince junto com
Matteo se afastaram.
Eu lutei primeiro e o meu soldado ficou no chão me
encarando. Eu dei a mão a Enzo e o puxei para cima. Ele acenou se
afastando e eu fiquei com mais três. Depois foi a vez de Romeo e
em seguida Matteo. Quando meu irmão mais novo se colocou no
ringue Romeo o encarou falando baixo.
— Olho no seu oponente — ele ordenou e eu acenei
concordando e me afastei.
Prince estava grande e forte. Ele tinha crescido nos últimos
anos. A sua luta foi rápida. E todos ficaram chocados quando Prince
socou a garganta do soldado e ele caiu de joelhos segurando seu
pescoço.
— Porra, cara. — Matteo sorriu maravilhado e puxou Prince,
orgulhoso.
— Você poderia ter matado — Romeo avisou semicerrando
os olhos e eu me aproximei.
— Não faça essa merda novamente.
Nós nos afastamos e eu acenei para Romeo que sumiu porta
adentro.
— Eu passei algumas semanas bastante ocupado. Matteo,
Prince e Romeo ficaram mais à frente lidando com vocês e hoje eu
quero dizer o motivo que me levou a ficar longe. Não, dizer não, eu
quero mostrar — falei abrindo os braços e sorrindo para todos,
sentindo meu suor descer pelo meu peito nu.
Quando Romeo apareceu eu sorri ainda mais. Leonardo,
Vitor, Costa e Fabiano estavam andando ensanguentados. Suas
roupas sujas e manchadas. Leonardo estava de olhos presos ao
chão quando chegou diante de mim. Eu me virei para todos e acenei
para os quatro homens.
— Esses são os que ficaram vivos com a tortura — disse
dando de ombros. Os homens caíram ajoelhados quando Romeo
ordenou e eu me movi para o lado, ficando na ponta. — Eu peguei
muitos e todos estão mortos. E eu sei que ainda vou pegar mais. No
entanto, esses aqui, são as cabeças. Meus capos. Que deviam
lealdade a mim, a Outfit. Eles vão morrer hoje e vou subir o filho de
alguns e o soldado de outros.
Os homens olharam entre si e eu olhei para Romeo.
— Nosso sangue é o nosso maior vínculo, mas a lealdade
está acima dele. Matarei todos que forem contra mim e colocarei em
seu lugar alguém com sangue indigno, como gostam tanto de frisar.
Eu não dou a mínima para o sangue. Eu quero honra, e soldados
fiéis. Eu não preciso de sangue manchado com traição.
Eles acenaram e eu mirei minha arma na cabeça de Vitor. Ele
caiu para frente assim que a bala entrou em sua cabeça. Eu passei
por cima dele e apertei o gatilho novamente, dessa vez Vitor caiu, fiz
o mesmo com Costa e quando cheguei a Leonardo, relembrei sua
ameaça a Sienna.
— Vá para o inferno — amaldiçoei e atirei à queima-roupa.
Os homens diante de mim ficaram encarando e eu sorri
vendo os quatro mortos no chão.
— É isso por hoje. Lutem uns com os outros — ordenei
vendo o sangue deslizar pelo tatame. — Alguém limpe essa porra —
pedi me afastando com Romeo, Prince e Matteo.
Observei todos eles lutando um contra o outro e ouvi Prince e
Matteo falando sobre a corrida no Navy Pier. Era uma idiotice que
inventaram no último ano. Vários idiotas em uma moto, pedindo
para morrer.
— Lake quer ir até Sienna — Prince me avisou mostrando o
celular e eu balancei a cabeça.
— Não. Ela está trancada novamente e a chave comigo.
— Ela comeu algo? — Prince questionou, me encarando, e
eu suspirei.
— Vamos voltar até o almoço. Não vou deixá-la morrer de
fome. Mais alguma coisa, porra? — questionei começando a me
irritar.
Meu irmão negou e se afastou digitando uma resposta a
Lake.
Depois de uma da tarde nós chegamos em casa. Subi as
escadas e procurei Lake. Ela estava no quarto, assistindo TV. Eu saí
antes que ela começasse a questionar. Entrei no meu andar e vi
Tebow deitado na porta do quarto de Sienna.
Eu o chamei e coloquei comida para ele. Em cada andar da
casa tinha um lugar para ele comer. Decidimos isso porque ele
come demais. Andei para o meu quarto e os lençóis escuros brilham
contra o sol que entrava pela janela. Eu entrei no banheiro para
tomar banho e demorei alguns minutos.
Me apoiei na parede e envolvi meu pau com a minha palma.
Não precisei de muito, somente lembrar da boca de Sienna
lambendo e chupando, e eu me perdi. Porra, eu estava sentindo
falta da sua boceta apertada. Passei dias longe, porque estava
ocupado, com a cabeça a mil e tentando muito caçar quem me
queria morto.
Eu quase podia sentir a calmaria se aproximando depois de
hoje. A Outfit estaria limpa em breve e eu pararia de olhar sobre o
ombro dentro da minha própria cidade.
Deslizei a mão pela minha pele e os pelos brilharam contra a
luz do sol que passava pela janela e entrava no quarto. Eu encarei o
cais e respirei fundo, tentando pensar em algo. Qualquer coisa que
não fosse Rocco. Passei a manhã sozinha, trancada e eu sabia que
isso se estenderia. Rocco estava com raiva. Tanta que estremeci
lembrando do que me disse. Que eu não era ninguém, que me
mataria sem remorso.
Eu apertei minhas pálpebras querendo, necessitando, tirar
isso da minha mente. Eu me sentia doente. Tão mal que já vomitei
diversas vezes e não consigo parar. Minhas lágrimas explodiram
assim que ele saiu e me acompanharam até esse momento.
Queria não sentir essa dor absurda. Queria não sentir. Ser
anestesiada para não sofrer por causa de Rocco, mas eu
continuava sofrendo. Com sua distância, com a desconfiança e
agora com a realidade. A que eu não sou ninguém além do elo da
paz. Sua esposa. Apenas alguém que nem faria falta caso
matassem.
Escutei Tebow arranhar a porta e eu desci do peitoril da
janela.
— Não estou com a chave — falei, devagar e ele parou como
se só precisasse me ouvir. Saber que eu estava bem.
Meu celular estava com Rocco, e nem saber como Lunna
estava, eu podia. Será que Romeo a castigou, como disse que
faria? Eu implorei em pensamento para que não.
Fui para minha cama e puxei meu cobertor quando deitei a
cabeça no travesseiro. Agarrei o objeto macio e suspirei encarando
a parede. Eu viveria assim para sempre? pensei me questionando.
Rocco me trancaria a cada vez que eu fosse desobediente ou
fizesse algo para irritá-lo?
Ouvi a chave em minha porta, porém continuei como estava.
Não queria encarar ninguém.
— Si? — A voz cautelosa de Lake soou e eu me virei
devagar, sentando. — Você está bem? Está pálida. — Lake franziu
a testa, preocupada e eu tentei sorrir.
— Estou. Estou sim — murmurei forçando um sorriso.
Encarei suas mãos e mesmo sem querer meus ombros caíram. Ela
trazia meu almoço. — Obrigada, Lake. — Peguei a bandeja e a
coloquei na cama.
— Você a viu? — Lake mordeu o lábio e eu suspirei,
acenando. Bati na cama e ela sentou perto de mim, tocando minha
mão. — Desculpa. Eu não deveria ter falado nada... — Lake fungou
e eu limpei suas bochechas.
— Não faça isso. Você não fez nada. Eu fui lá porque eu quis.
Lunna é linda e muito legal. Prometo trazer ela para nos visitar
depois de você ser apresentada. Rocco e Romeo vão deixar.
Lake parecia incerta, mas mencionar Lunna a fez relaxar.
— Como ela é? — minha cunhada perguntou e eu suspirei,
contando o pouco que eu sabiasobre Lunna.
Eu comi todo meu almoço e Lake ficou no quarto
murmurando que estava ansiosa para conhecer Lunna. Eu também
estava para que Lunna enfim, pudesse estar conosco, porém a
apresentação de Lake também me preocupava. Rocco estava atrás
de um noivo para Lake? Eu não queria pensar nessa possibilidade.
Lake não precisava de um marido.
Quando ela saiu, levando a bandeja, eu não me incomodei
com a chave. Lake não tinha culpa.
Passei o restante do dia assistindo série e a noite entrei no
banho. Fiquei dentro da banheira quente passando a mão na
espuma. Ouvi uma porta fechando e apertei os olhos suspirando. Eu
sabia que era Rocco. Eu me odiei um pouco querendo voltar no
tempo. A noite em que me movi para cá.
Eu era tão fraca. Minha mãe teria vergonha de mim.
Lavei meu corpo devagar e quando a água começou a esfriar,
eu saí. Peguei meu roupão e o amarrei enquanto mordia meu lábio.
Rocco viria aqui? Falar sobre Lunna? De manhã ele não conversou.
Na verdade, depois que gritou comigo ainda na casa de Romeo e
Lunna, ele sequer me encarou.
Liguei meu secador e comecei a secar as mexas tentando
fazer com que o barulho do aparelho silenciasse minha mente. Eu
costumava demorar secando o cabelo por ser longo, mas hoje eu só
o sequei parcialmente. Ele ainda estava úmido.
Assim que saí do banheiro eu fiquei tensa ao ver Rocco
parado na janela. Ele estava com uma calça de moletom preta e a
parte superior nua. Seus ombros largos e as tatuagens o deixavam
com um ar tão escuro quanto a noite. Eu tremi suavemente
lembrando da sua fúria.
— O que foi fazer na casa deles? — Rocco questionou sem
se virar e eu apertei minhas mãos segurando a corda de tecido que
deixava meu roupão fechado.
— Apenas conhecer Lunna — eu o respondi honestamente e
Rocco colocou as mãos na janela, contra o vidro observando a lua
beijando o lago.
— Você descumpria muitas regras na famiglia, Sienna? —
meu marido perguntou ainda controlado, baixo. Eu respirei fundo e
disse a verdade.
— Não. Nunca.
Eu era uma menina exemplar. Educada, quieta e obediente.
As mães admiravam mamãe por isso e as meninas me odiavam
pelo mesmo motivo. Eu nunca fui castigada. Eu não fiz coisas que
causassem isso. Pelo menos até agora. A diferença é que eu não
era mais uma criança. Eu era uma mulher adulta.
— Então por que você fez isso? Eu não lhe dei permissão de
ir. Romeo não deu permissão a Lunna para receber ninguém em
casa. A questão é, por quê? — Rocco virou lentamente e cruzou
seus braços. O sorriso estava tão distante, mesmo o torcido e cruel,
que ele tanto gostava de me dar.
— Eu queria conhecer Lunna. Só isso, Rocco. Lake me
contou sobre ela e eu fiquei triste por ela estar sozinha enquanto
Romeo ficava aqui conosco. Eu só queria ajudá-la...
— Lunna é esposa de Romeo, não uma prisioneira...
— Diferente de mim — falei firme e Rocco me encarou dos
pés à cabeça, em silêncio.
— Você é minha esposa, mas não confio em você e quando
comecei a confiar, você me enganou. Então, talvez, sim, você seja
uma prisioneira. — A voz de Rocco me fez apertar meus punhos,
irritada.
— Eu não sou uma criança para ser presa dentro de um
quarto de castigo. E eu com certeza não sou perfeita. Eu vou seguir
opções erradas, eu vou te desapontar, mas isso... — eu apontei ao
redor e principalmente para a porta —,isso não está certo.
— Se eu seguisse regras sobre certo e errado, eu não seria
um mafioso, Sienna — Rocco respondeu preguiçosamente e eu
balancei a cabeça suspirando.
— Me devolva — eu pedi parada encarando-o e Rocco sorriu
pela primeira vez na noite. Era um pedido estúpido. Se eu voltasse a
famiglia sem minha virgindade, eu seria uma pária.
— Nunca — falou rápido e eu olhei para a parede, evitando
Rocco. — Você é minha e se alguém tentar tirar você de mim, eu
matarei cada um. — Sua voz me fez arrepiar, temendo sua
promessa.
— Não me tranque mais — falei firme quando o vi se
movimentando em direção a porta.
— Amanhã quem sabe.
Rocco saiu e o barulho da chave girando ecoou em minha
mente.
Me sentei em minha cama e fechei meus olhos respirando
fundo. Vi uma tela acender e me ergui. Ao chegar perto vi que era o
celular de Rocco e o meu. Ele voltaria para buscá-lo, em breve.
Peguei o meu e suspirei ao ver mensagens de Lunna. Salvatore
também tinha enviado.
"Você está bem? Por que não responde?"
"Sienna? Responda!"
Estremeci imaginando o quão preocupado Sal estava. Eu me
atrapalhei teclando na tela e o celular caiu, me abaixei para pegá-lo
e cliquei em enviar quando o recuperei.
"Tive um mal-estar. Estou bem. Amanhã eu ligo para falar
com ela. Te digo o horário depois de falar com Rocco."
Salvatore não respondeu e eu abri a mensagem de Lunna.
"Você está bem? Me sinto culpada. Você não deveria ter
vindo me conhecer."
"Sienna, está tudo bem? Por favor, me responda."
Eu suspirei tocada com a preocupação de Lunna.
"Lunna, estou bem. Como você está? Romeo fez algo?
Ele disse que ia castigá-la. Espero que nada tenha acontecido."
"Oh graças a Deus! Romeo não me tocaria. Nunca. Não
se preocupe com isso. Ele acabou de chegar, mas não quis me
dizer nada. Você está bem mesmo? Rocco a machucou?"
"Não! Ele não me machucou. Eu estou bem, não se
preocupe também."
"Que bom, Sienna. Amei conhecê-la. Espero poder te ver
novamente, mesmo Romeo sendo tão teimoso."
"Está no sangue, Rocco é do mesmo jeito."
Eu me despedi dela e ouvi a chave. Deixei o celular comigo e
me movi para a cama. Rocco abriu a porta e entrou pegando o seu
celular. Eu não o encarei, apenas andei para a janela.
— Onde está o seu?
— Meu?
— Sim, seu celular.
— Ele é meu, então está comigo — respondi me atrevendo e
ouvi os passos de Rocco. Ele se aproximou até seu corpo colar ao
meu. Fiquei tensa e tentei me afastar, mas ele pressionou mais forte
elevando a mão até estar segurando meu pescoço entre os dedos.
— Você é minha e não está comigo. Temos problemas? —
Rocco deslizou os dedos na minha pulsação e eu tremi, nem
lembrando mais o que ele falou. — Você pode ficar com seu celular,
mas lembre-se você me deve lealdade. — Eu acenei olhando para o
cais ainda sentindo seu toque incendiar minha pele.
— Eu sei disso, Rocco. Eu sei. Por que continua não
confiando em mim? — perguntei sentindo um caroço crescer em
minha garganta e ele mordeu meu ombro devagar, sem machucar.
— Porque você me enganou hoje — falou firme e eu mordi
meu lábio, sabendo que ele estava certo. Eu o enganei. — Lunna
não virá aqui até Romeo querer e Lake ser apresentada. Não saia
novamente. Não a visite novamente. Você está me ouvindo,
passarinha?
Engoli a afirmação e apenas acenei. Rocco deixou sua mão
cair e se afastou, me deixando sozinha. A porta fechou novamente,
mas dessa vez o som da chave não soou.

Na manhã seguinte eu fiquei dividida se deveria descer ou


não, por isso fiquei no quarto. Prince veio deixar meu café da manhã
e ficou no quarto andando enquanto eu comia. Mais uma vez, ele
estava machucado.
— Você está bem? — perguntei a ele enquanto pegava uma
das tigelas de frutas e começava a comer. Prince olhou pela janela
em silêncio e eu engoli a banana esperando.
— Estou. Só comecei um treinamento mais intenso —
murmurou se virando e eu deixei a comida de lado, o encarando.
Prince suspirou encarando o punho com todas as juntas esfoladas.
— Você não parece bem.
— Mas, estou. É minha vida. Eu darei um jeito.
Eu acenei, não querendo empurrar o assunto. Prince me deu
um sorriso quando terminei de comer e saiu, indo para fora com a
bandeja em suas mãos. Tomei um banho e quando entrei no quarto
Lake estava na cama olhando para o teto. Faltava duas semanas
para o seu aniversário de quinze anos.
— Rocco disse que eu serei apresentada nesse final de
semana. Acontecerá o casamento de um dos capos e ele quer usar
essa ocasião — Lake falou assim que escutou meus passos.
— Como você está?
— Ansiosa para conhecer Lunna. — Ela sorriu encarando o
teto e eu andei até o closet. Peguei uma roupa e voltei ao quarto.
Lake agora estava sentada, encarando as mãos. — Você acha que
ela vai gostar de mim? Será que ela vai se ressentir?
— Lunna é tão doce quanto você. Não acho que ela ficará
ressentida. Ela vai amar você. Tenho certeza — falei firme e
coloquei meu vestido sobre a toalha. Lake suspirou e acenou
encarando a janela. Peguei a toalha e a joguei no banheiro, voltando
para ela.
— Você vai comigo, não é?
— Claro. Estaremos juntas — afirmei me aproximando e
sentei ao seu lado. — Vai ficar tudo bem, Lake.
Nós duas saímos do quarto e subimos para o seu andar.
Passei o dia com Lake tentando fazê-la relaxar, e consegui. Fiquei
parada na porta quando ela dormiu. Senti Tebow por perto e me virei
vendo-o me olhando.
— Ei, garotão — chamei sorrindo e ele me seguiu escadas
abaixo.
Quando parei no andar de Prince eu ouvi passos. Tebow
ficou em alerta passando para minha frente e ofeguei ao ver um
homem desconhecido atingir o topo das escadas. Seus olhos eram
escuros e a frieza deles me paralisou. Sua roupa estava suja, como
se ele estivesse no mato.
Meu corpo ficou rígido e eu soube encarando os olhos dele,
de duas coisas, uma; esse homem não era um soldado da Outfit e
duas; eu estava em perigo.
— Você é a putinha dele — o homem vestindo uma calça
cargo e blusa de mangas longas afirmou se aproximando. Seus
olhos eram escuros como seu cabelo. Sua íris brilhou me encarando
dos pés à cabeça.
— Quem é você? — perguntei engolindo em seco.
— Seu pesadelo.
Tebow latiu ao ouvir o grunhido do invasor e o barulho foi tão
alto que eu levei minhas mãos a minha cabeça, tampando meus
ouvidos.
— Cale a boca dele ou vou matá-lo! — o homem gritou
erguendo uma arma e eu ofeguei caindo ao lado de Tebow.
— Tudo bem, Tebow. Tudo bem — eu tentei acalmar o
cachorro com o coração na boca. Não queria que esse homem o
machucasse.
— Se erga — o homem exigiu e eu fiz, mas parei quando
ouvi Tebow rosnar mais uma vez, ainda mais feroz. O homem o
encarou por alguns segundos e mirou a arma nele. Eu fui para a
frente de Tebow gritando.
— Não faça isso! Eu vou prender ele... — Eu fiquei na frente
de Tebow enquanto ele balançou a cabeça.
— Como você se coloca entre uma arma e um cachorro?
Deixe de ser idiota. Me siga. Se ele latir novamente eu vou matá-lo.
— Ele se aproximou pegando em meu braço, e eu ouvi Tebow latir
mais alto. Não percebi quando o cachorro pulou no homem. Fui
jogada ao chão pelo invasor e o barulho ensurdecedor do tiro me
tirou o ar junto com a pancada na lateral do corpo.
Rastejei me virando à procura de Tebow e o encontrei com a
boca no pescoço do homem, que estava no chão. Tebow se afastou
e o sangue pingando da sua boca me fez querer vomitar. Engoli à
vontade e me aproximei sentindo meu quadril vibrar com dor.
— Seu cachorro desgraçado! — o homem sujo balbuciou
quando começou a se erguer, mas Tebow se virou e novamente e o
mordeu, dessa vez balançando a cabeça, estraçalhando a carne. Eu
ofeguei tremendo e ouvi passos no piso inferior.
Tebow se afastou e ficou acuado, no canto, me olhando como
se estivesse com medo da minha reação. Eu estava sem forças,
mas quando vi que o sangue no chão vinha dele eu me coloquei
sobre os joelhos e me arrastei até Tebow.
— Socorro! — gritei, chorando e tremendo. — Socorro, me
ajudem!
Meu cachorro se deitou no chão frio e eu me aproximei
tremendo com a visão totalmente embaçada com as lágrimas. O tiro
pegou nele. Oh meu deus.
— Você vai ficar bem — eu murmurei soluçando e apertei seu
ferimento sentindo o sangue quente encharcar meus dedos. Tebow
nem mesmo reagiu aos meus dedos contra sua ferida.
— O que... — a voz de Rocco ecoou e eu me abaixei vendo
os olhos de Tebow me encarando. Eu nunca tinha visto tanto amor
em um olhar. Eu estava despedaçada.
— Ele queria me levar. Tebow atacou e ele atirou. Oh meu
deus... Ajude ele. Ajude ele! — eu gritei implorando a Rocco que me
encarava completamente sério. Eu olhei para minhas mãos sujas,
encharcadas com sangue, e ele me tirou de perto do Tebow.
Abracei meu próprio corpo e vi quando Rocco pegou Tebow
nos braços. Matteo e Romeo apareceram em seguida e o olhar
chocado deles ia e vinha do homem no chão, para mim e depois
Tebow.
— Leve-o ao porão e o deixe vivo! — Rocco gritou para os
irmãos e eu olhei para o homem ainda vendo seus olhos se
moverem. Eu caí para trás, tremendo e Prince apareceu ao meu
lado.
— Você está segura. Está tudo bem...
— Tebow. Não o deixe morrer, por favor — eu implorei
soluçando e Prince me levantou, me segurando contra ele.
— Ele não vai. Tebow é forte demais para isso, Sienna —
Prince murmurou me levando por onde Rocco foi. Minhas pernas
estavam fracas, mas reuni forças e continuei.
Assim que chegamos no térreo eu ouvi Rocco e segui para a
sala. Tebow estava no sofá enquanto Rocco pressionava sua ferida.
Me ajoelhei diante do rosto de Tebow e deslizei a mão pelo seu
rosto. Seus olhos estavam meio abertos e o sangue do invasor
ainda estava por sua boca.
— Vou te dar dois minutos. — A voz de Rocco me chamou
atenção e eu me segurei a Tebow vendo-o falar ao celular.
— Ele vai ficar bem, não vai? — Minha voz soou fraca,
medrosa, quando Rocco desligou a chamada.
— Ele vai. A bala pegou de raspão, mas ele está perdendo
muito sangue por ter pegado em uma veia — Rocco murmurou
ficando ao meu lado olhando para Tebow junto comigo. — Tebow
não é qualquer cachorro. Ele foi treinado para proteger Lake. Esse é
o seu dever. Hoje ele a protegeu, porque viu que estava em perigo.
Tebow é um cachorro leal e forte. Ele ficará bem, Sienna.
Eu acenei diversas vezes tentando parar a onda de lágrimas.
Foi em vão. Quando o veterinário chegou, ele nos tranquilizou e
começou a tratar Tebow. Rocco o moveu para nosso andar e eu
fiquei por perto o observando, com medo dele sumir diante de mim.
— Você precisa tomar um banho — Rocco afirmou em algum
lugar do quarto e eu olhei para minhas roupas. Eu estava
ensanguentada. Com o sangue de Tebow e talvez, do invasor. —
Voltarei em algumas horas. Tome banho e coma alguma coisa.
Rocco saiu do quarto me deixando sozinha encarando o
corpo de Tebow na cama. Me movi para o banheiro e me limpei
tentando respirar fundo. Meu quadril doeu quando me movi e parei
debaixo do chuveiro vendo a água límpida se tornar rosa. Sangue.
Fechei meus olhos e o rosto do homem apareceu diante de
mim. Seus olhos escuros e cabelo também. Seu ódio ao me olhar.
Quem ele era? O que ele queria? As questões bombardeiam minha
mente. Por que eu? Ele era da Bratva?
"Você é a putinha dele."
Lembrei da sua fala saindo do banho e estremeci. Isso era
sobre Rocco? Era algum inimigo dele?
Tebow ainda estava dormindo quando retornei ao quarto, já
de pijama e cansada. Eu me deitei ao seu lado, tão afastada quanto
a cama permitia, com medo de machucá-lo durante o sono.
Toquei suavemente em sua pata e engoli em seco. Ele ficaria
bem. Afastei meu cabelo molhado para trás, tentando não
incomodar ele e meus olhos novamente brilharam. Ninguém nunca
me defendeu como Tebow fez. Ele se machucou por mim. Eu já o
amava antes, mas agora eu sentia o sentimento multiplicado.
Eu adormeci em algum momento e acordei sentindo alguém
se mover comigo nos braços. Me retesei, imaginando que o intruso
voltou e tentei me soltar, mas a pessoa me segurou mais forte.
— Pare. Sou eu — Rocco murmurou apertando o domínio
sobre mim e eu suspirei, descansando meu rosto no peito nu dele.
Senti macieis em minhas costas e me aconcheguei na cama,
agarrando o travesseiro. Rocco me cobriu com o edredom enquanto
eu suspirei e voltei a dormir.
Observei Sienna adormecer no meio da cama me encostando
na parede. A imagem dela no chão com sangue espalhado por seu
corpo e Tebow machucado assombrou minha mente e eu suspirei
saindo do quarto. Desci as escadas e não me surpreendi ao ver
meus irmãos de pé, na sala.
— Não consigo acreditar que ele ousou. Alessandro
realmente achou que sairia daqui vivo? — Romeo estava andando
pela sala, apertando os punhos.
O filho de Costa se arriscou tentando entrar aqui e pegar
Sienna para se vingar pelo seu pai. Esse era seu plano, o que ele
confessou enquanto eu arrancava suas unhas. Se ele a tivesse
pegado, eu não queria pensar nessa merda, porque eu estava
ficando maluco. E eu odiei isso.
— Virão outros. Coloque soldados de confiança com Lunna.
Nós matamos quatro homens que eles respeitavam. A fúria deles é
silenciosa, e é exatamente por isso, que é a mais perigosa —
afirmei me movendo para o bar. Me servi uma dose de uísque e bebi
em um único gole.
— Como Sienna está? — Prince perguntou, preocupado e eu
respirei fundo.
— Dormindo — disse me sentando na baqueta alta. — Tebow
ficará bem. Ela só pensou nele. Quando cheguei no quarto ela
estava na cama com ele — falei a eles passando a mão pelo cabelo
e Matteo estava encarando a janela.
— Nunca realmente precisamos que ele brigasse. É um alívio
ver que ele a protegeu. Tebow gosta dela — Matteo murmurou e eu
acenei porque era verdade. — Espero que eles fiquem bem.
— Vou para casa — Romeo murmurou e eu acenei,
dispensando-o.
Prince e Matteo foram para os seus quartos e eu me sentei
no sofá encarando o teto. Os olhos de Alessandro me olhando ao
morrer me fizeram ficar tenso. Eu sabia que muitos homens eram
traidores, mas nunca imaginei que ousariam entrar aqui. Ele veio
como um soldado, ficou na floresta esperando o anoitecer na chuva,
na lama, e entrou.
Meus irmãos e eu estávamos no ginásio, treinando. Se
tivéssemos demorado um pouco a voltar, Sienna poderia não está
na minha cama, dormindo. A famiglia desejaria a guerra depois
disso, eu não tinha dúvidas.
Subi as escadas e passei no quarto de Sienna vendo Tebow
deitado, porém com a cabeça erguida. Me aproximei e sentei perto
dele, passando a mão na sua cabeça.
— Você fez um bom trabalho — murmurei no escuro para ele.
Tebow baixou a cabeça e eu me ergui, deixando-o sozinho.
Voltei ao meu quarto e a visão de Sienna abraçada ao
travesseiro me fez me aproximar. Sua boca de lábios carnudos
estava entreaberta e seu cabelo loiro espalhado ao redor da sua
cabeça como uma auréola.
Eu me sentei na cama e depois de muito tempo, me deitei.
Eu não gostava de dormir com ninguém. Na verdade, eu odiava.
Porém, eu estava cansado e precisava dormir. Me perguntei uma e
outra vez o motivo de ter trazido Sienna para a cama. Eu não queria
que ela machucasse Tebow em seu sono.
Eu forcei minha mente a desconectar, e relaxei entrando
embaixo da coberta. Em segundos, como uma mariposa atraída
pela luz, Sienna virou e se agarrou ao meu peito. Respirei fundo e
descansei minha mão em sua coluna. Eu dormi mais rápido do que
achava ser possível.
O lugar estava escuro, eu apertei meus olhos encarando os
lados e fiquei tenso quando o vi, de pé perto de uma poltrona, me
encarando.
— Você demorou. — Ele riu, sentando na poltrona e eu
apertei meus pulsos, sentindo meu corpo tremer. — Bastardo.
Eu corri puxando algo da minha blusa e ao chegar diante do
seu rosto, enfiei a lâmina afiada tão lento quanto eu consegui. O
sangue deslizou por ela, me dando satisfação.
— Você nunca será um homem feito. Nunca fará parte da
família. — A voz dele chegou a mim novamente, e seu corpo sumiu
junto com o sangue. Me virei respirando com dificuldade e ele
estava de pé, a alguns metros. — Você e aquela rata, nunca serão
um Trevisan. Você e ela são lixo.
— Não fale dela! — eu gritei, furioso e ele sorriu, dando
passos para a lateral da escuridão. — Nunca fale dela.
— Seus irmãos te odeiam. Você é um bastardo e eles se
envergonham.
— Mentira. Eles me respeitam e me amam...
— Eles sentem medo do monstro que você se tornou. Nada é
mais forte que o medo e é por isso que eles nunca vão
contra você. Têm pavor. No fundo, tudo o que sentem por você é
ódio, Rocco. Eles vão trair você.
— Nunca — murmurei rápido e firme, porque eu sabia onde a
lealdade de Prince, Matteo, Romeo e Lake estava.
Em mim.
— Você não merece lealdade. Você é o lixo exatamente
como a sua mãe. Você acabará como ela, em uma vala de
indigente. Você sabe disso tanto quanto eu.
Eu corri, pulei em cima dele e dessa vez a faca entrou em
seu olho rápido. O sangue respingou em meu rosto e eu empurrei
com mais força, vendo seu corpo cair. Eu sorri vendo a vida se
esvair do seu corpo.
— Rocco. — A voz em pânico estava longe, no meio da
névoa da minha mente. — Acorda — ela pediu, mais alto e eu abri
meus olhos, esticando minha mão em um impulso rápido. Puxei
minha arma de cima da mesa de cabeceirae me ergui mirando no
vulto preto acima de mim.
Sienna me encarou de olhos arregalados e o medo em sua
íris, me paralisou. Porra.
Senti um solavanco ao meu lado e isso me despertou. Os
lençóis escuros não eram os meus e o quarto onde eu estava não
se parecia com o lugar que passei dias dormindo. O movimento
brusco me chamou atenção novamente e eu me virei, vendo Rocco
se debatendo e grunhido. Senti que seu corpo estava rígido quando
me sentei e toquei sua pele suada. A escuridão ainda estava
banhando o quarto e isso deixou o rosto de Rocco ainda mais
escuro, perigo gritava em toda sua expressão.
— Rocco — murmurei balançando seu ombro. — Acorda —
pedi devagar, sentindo meu peito acelerar com sua reação. Rocco
se mexeu ainda de olhos fechados e eu ofeguei quando ele pegou a
arma na mesa de cabeceira e se ergueu, mirando-a diretamente na
minha cabeça.
Quando seus olhos me reconheceram, ele baixou a arma e a
colocou novamente em seu lugar. Eu tentei respirar mais
calmamente e falhei. Rocco ficou de pé, me observando e eu engoli
as perguntas sobre seu sonho.
— Você está bem? — perguntei, encontrando minha voz e
ele acenou sem responder.
Me afastei mais, ficando na ponta da cama e olhei ao redor.
Eu sabia que era o seu quarto. Por que ele me trouxe para cá?
Engoli minhas perguntas, porém quando retornei a olhar para
Rocco, ele estava pegando uma blusa preta. Ele ia sair.
— Não saia. Eu voltarei para o meu quarto — falei firme me
erguendo. Meu chinelo estava longe de ser visto e eu andei no chão
frio.
— Não. Volte para a cama e durma. Preciso me exercitar.
Voltarei em breve. — Rocco não me deixou responder, apenas virou
e saiu. Eu o segui, temendo ficar sozinha novamente. Rocco não me
viu, ou ignorou que eu estava o seguindo.
Quando cheguei a academia suspirei com os equipamentos e
o ringue improvisado no meio. Rocco estava ao lado, socando o
saco de areia. Eu andei devagar e me sentei a alguns metros,
observando-o.
— Eu sei que está aí — Rocco avisou com a voz grave que
tanto me fazia estremecer. — Venha lutar comigo — ele chamou
quando não respondi nada e eu arregalei os olhos. Meu marido
virou me encarando de longe e eu engoli em seco.
— Não sei lutar.
— Eu vou ensiná-la. — Rocco acenou para sua frente e eu
me ergui, mordendo meu lábio, incerta. Rocco era conhecido como
forte e um exímio lutador. Eu não sabia nem bater.
Assim que cheguei à sua frente, ele pegou meus punhos e
colocou luvas iguais às que eu via na tv, quando ele assistia lutas.
Estremeci com seu toque firme e Rocco posicionou meus braços à
frente do meu corpo.
— Dê um soco — ele ordenou firme e eu fiquei parada,
engolindo em seco. — Um soco, Passarinha. — O apelido me fez
encarar seus olhos azuis. Eu acenei e soquei Rocco. Ele desviou e
meu corpo se impulsionou para frente, me fazendo pisar com força.
A dor aguda em meu quadril se espalhou me fazendo gemer.
Droga, eu tinha esquecido.
— Ah — grunhi tentando voltar a posição inicial e Rocco
franziu a testa quando eu não consegui e desci, caindo de joelhos.
— Você está bem? — ele questionou, se aproximando e sua
mão segurou meu quadril para me erguer, me fazendo gritar. —
Porra. — Rocco me deitou no tapete e puxou minha camisa de seda
para cima e meu short e calcinha para baixo. — Por que não me
avisou sobre essa merda? — ele perguntou irritado e eu olhei para
baixo vendo a mancha roxa na minha pele. Ofeguei com o latejar. —
Vou passar pomada e amanhã você vai ao médico.
Eu não consegui responder a ele. A dor me deixou muda.
Rocco se afastou e voltou segundos depois. Ele passou a
pomada nos dedos e deslizou por minha pele. Tremi, me impedindo
de chorar, e Rocco suspirou terminando seu serviço rapidamente.
— Vou pegar você — ele avisou antes de me pegar nos
braços.
Eu suspirei com a pontada, mas me segurei em Rocco
enquanto ele andava. Seu cheiro me inundou e eu esqueci dos
motivos de não querer ele de volta em meu corpo. Fechei meus
olhos descansando a bochecha em seu peito.
Ele me colocou na cama e tirou as luvas de mim. Rocco
deslizou meu short para fora e eu deixei, ficando apenas com a
calcinha sobre o ferimento. Percebi que voltamos ao seu quarto e
engoli em seco, assistindo-o no cômodo. Ele estava completamente
suado e o cheiro dele ainda estava em todo meu corpo.
— Rocco... — chamei quando ele começou a se mover em
direção a porta.
— Vou tomar banho — avisou apontando para a porta e eu
acenei, lambendo meus lábios.
Fechei meus olhos quando ele sumiu dentro do
banheiro. Pare com isso, Sienna. Por favor, não faça isso. Eu
implorei para mim mesma. Me forcei a tentar dormir, mas eu estava
ligada demais. Minha calcinha já estava úmida e meu centro
latejando tanto quanto minha ferida.
— Tome. — Rocco voltou ao quarto com um comprimido e eu
peguei das suas mãos. Ele colocou água em um copo e eu bebi o
líquido engolindo o remédio.
— Obrigada.
Rocco acenou e se afastou com o copo. Ele retornou ao
banheiro e quando saiu, minutos depois, eu estava deitada de lado,
com a perna em cima de um dos travesseiros para não tornar a
machucar meu quadril.
— Eu vou dormir na ala do Matteo. — Sua voz chegou a mim
e eu fiquei parada, olhando para a janela. A luz da lua passava
pelas cortinas finas e iluminava o quarto. — Você vai ficar bem?
— Sim — respondi, honestamente, cansada.
Quando a porta se fechou, não foi uma surpresa.

Na manhã seguinte, eu voltei ao meu quarto e dormi lá todas


as noites que se seguiram, mesmo quando Rocco falou sobre
Tebow. Minha ferida estava curada agora e depois de exames, o
médico disse que tinha uma fratura, porém com medicamento e
descanso eu ficaria bem. Ele estava certo. Eu estava bem agora.
— Esse? — Lake perguntou erguendo um dos vestidos que
eu comprei na internet com ela. Ele era bonito. Compramos peças
juvenis, não infantis. Lake já tinha quase quinze anos. Era da minha
altura e linda.
— Acho que o verde suave é delicado e lindo para a ocasião
— eu disse sorrindo e passando a mão pelo corpo de Tebow, aos
meus pés. Ele estava novo em folha. O curativo ainda estava na
pele protegendo, mas ele já estava tão saudável quanto antes,
graças a Deus. Ele lambeu meu pé e eu ri.
Lake entrou no banheiro e saiu com o vestido que indiquei.
Eu deixei escapar um suspiro de contentamento. A manga do
vestido era lateral, deixando seu colo exposto, porém de um jeito
belo, não vulgar. A cintura era marcada e o tecido descia até alguns
dedos acima do joelho. A renda verde cobria o tecido e era tão
delicado quando as mangas.
— Você está linda — falei firme e Lake sorriu, contente. Ela
passou o dia nervosa, porém, quando começamos a nos arrumar,
ela relaxou. — Me deixe finalizar sua maquiagem.
Eu deixei seus olhos escuros marcados com uma sombra
suave e seus lábios com um rosa queimado que eu amava antes de
casar. Seus cílios estavam pintados de preto e maiores.
— Vou me vestir e te encontro lá embaixo— eu disse sorrindo
ao acabar de passar blush em suas bochechas. Seu cabelo escuro
e curto estava em ondas grossas, lhe dando um ar despojado,
quebrando um pouco a elegância do vestido.
Saí do seu quarto e fui para o meu. Deslizei o vestido que eu
coloquei depois do banho e fiquei de calcinha no closet. Peguei meu
vestido marsala e suspirei. Eu o tinha comprado dias atrás. O vesti
devagar cuidando da renda que cobria o tecido na parte de cima e
quando terminei, sorri.
Peguei meus brincos de diamante e os coloquei. O colar fazia
parte do conjunto e eu o coloquei, tocando-o e sorrindo para o
espelho do chão ao teto. Meu vestido era longo, sem mangas, com
uma fenda e decote proeminentes. Exatamente por isso não usei
sutiã.
Soltei meus cabelos dos grampos e asondas caíram. Pensei
em prendê-lo, porém desisti vendo que meu tempo estava
acabando. Peguei meus sapatos e comecei a calçá-los, ansiosa,
pois veria Lunna hoje. Romeo não ficou mais na minha presença e
eu achava que ele ainda estava irritado comigo. Eu não queria
ninguém chateado, porém não pediria desculpas. Eu não me
arrependia.
Segurei minha bolsa carteira e coloquei meu celular dentro
junto com o meu batom vermelho. Meus olhos estavam esfumados
com sombra preta e meus olhos azuis ficaram ainda mais vibrantes.
Eu adorei o efeito.
Saí do quarto e parei quando vi Tebow andando pela sala. Me
aproximei, lembrando daquela noite, porém ele estava sozinho. Eu
deixei a porta fechada e ele não conseguiu sair. Sorri andando e abri
a porta, seguindo-o até as escadas.
Quando cheguei a sala todos já estavam nela e ergueram a
cabeça para mim. Lake sorriu, balbuciando sem ecoar a voz que eu
estava perfeita. Eu sorri, grata e me aproximei, sem olhar para
ninguém. Matteo e Prince se fizeram ser observados, no entanto.
— Como estamos? — Matteo perguntou sorrindo para mim e
eu o olhei dos pés à cabeça, fazendo o mesmo com Prince. Os dois
vestiam um terno preto com gravata também preta.
— Estão lindos. Nós estamos atrasados? — perguntei
preocupada e Lake balançou a cabeça.
— Se estivéssemos, eu não daria a mínima. — Me arrepiei
com a voz de Rocco. Eu me virei, não querendo fingir não o ter
ouvido.
Minha boca ficou seca vendo-o. Seu cabelo loiro sujo tinha
sido cortado e estava rente à cabeça. O terno completamente preto
era a perfeição e eu engoli em seco, ao sentir meu coração batendo
descontrolado contra minhas costelas. Os primeiros botões da
camisa dele estavam abertos e sem gravata por perto. Eu estava
sem fala.
— Vamos lá. — Rocco acenou para fora e eu pisquei saindo
do meu estupor.
Me virei ficando ao lado de Lake e nós saímos da casa.
Quando os soldados viram Lake alguns franziram a testa e outros
arregalaram os olhos. As reações na igreja foram as mesmas. A
noiva teve seu dia ofuscado pela presença da irmã Trevisan mais
nova. Todos estavam falando sobre isso.
Enquanto nos movíamos em direção a entrada da festa senti
a mão de Rocco em minha cintura. Estremeci sentindo seu cheiro
me rodear. Vi Prince se aproximar de Lake e nós fomos guiados
pelos noivos para a nossa mesa. Assim que me sentei, Rocco tirou
a mão de mim.
— Você está linda, passarinha — ele murmurou sentando e
eu engoli o nó em minha garganta.
— Obrigada.
— Não agradeça. Vou matar alguns homens por sua beleza
hoje — Rocco afirmou me encarando e eu mordi meu lábio. Seus
olhos escureceram e eu tremi com desejo. Estava sentindo falta do
seu corpo e me odiei por isso. Rocco não me procurou como
ultimamente fazia.
— Você está me traindo? — a pergunta voou dos meus lábios
antes que eu pudesse me parar. Rocco respirou fundo e me olhou
seriamente. — É por isso que não está indo a mim? Ela o satisfaz
plenamente? — continuei soando patética e Rocco desviou os
olhos, me dando a minha resposta.
Eu segurei meu vestido entre os dedos tão forte que as juntas
ficaram brancas. Ele continuava me traindo. A dor que apertou meu
estômago foi sufocante.
— Vou ao banheiro. Com licença. — Eu me ergui sorrindo
para todos na mesa. Rocco não me impediu, ou se ergueu para me
acompanhar e eu agradeci por isso.
Andei entre as pessoas segurando meu celular e apertei as
teclas devagar.
"Onde você está?"
Enviei a mensagem a Lunna e entrei no banheiro. Ao ver
Milena na frente de um dos espelhos eu ergui meus ombros, me
aproximando. Era com ela que ele estava novamente? Ou com
outra?
Meu celular tremeu e eu li a mensagem de Lunna.
"Aqui."
— Sra. Trevisan — Milena saudou e eu guardei meu celular
erguendo os olhos para ela. Milena sorriu e dessa vez, não era
simpático ou de desculpas. Era ardiloso. Eu soube quase que
imediatamente que ele dormia com ela enquanto me deixava em
casa.
— Não fale comigo. Você ouviu Rocco, na próxima ele
enfiaria uma bala na sua cabeça — eu sibilei séria e me aproximei
mais.
— Rocco enfiaria algo em mim, mas não é uma bala...
Suas palavras se perderam quando as costas dos meus
dedos colidiram com sua bochecha. Milena segurou sua pele, e eu
vi o sangue no lábio cortado enquanto seus olhos me encaravam
chocados. Encarei meu anel de diamante com um rastro pequeno
do seu sangue e a encarei.
— Nunca mais fique no mesmo ambiente que eu. Na
próxima, eu mesma colocarei uma bala na sua cabeça e vou amar
isso. Eu não preciso que Rocco faça por mim — afirmei lentamente
e rodei minha aliança fina em meu dedo anelar. Me olhei no espelho
e limpei a borda do meu batom escuro.
Peguei papel toalha e limpei meu diamante enquanto me
virava para Milena. Eu sorri.
— Divirta-se na festa. Porém, você deveria estancar... sabe?
— Toquei meu lábio erguendo as sobrancelhas, indicando o que ela
deveria fazer.
Milena baixou os olhos e não me encarou enquanto eu saía e
a deixava acuada no canto, como um animal quebrado.
Que eu amei quebrar.
Ela estava demorando.
Apenas isso ficou se repetindo na porra da minha mente a
cada vez que cumprimentei alguém. Olhei pelo caminho que ela foi
e me ergui, pronto para segui-la, porém seu cabelo loiro apareceu.
Seus quadris balançaram e sua coxa apareceu pela fenda enquanto
andava. Meu pau pulsou, desejo me fazendo ver escuro. Seu decote
era demais para mim, fundo demais e seus peitos pesados estavam
empurrando o tecido vermelho escuro. Os olhos dos homens a
acompanharam e eu encarei cada um querendo tirar minhas facas e
enfiar no olho de cada um deles. Esses fodidos miseráveis não
sabiam que ela era minha?
— Não mate ninguém — Matteo pediu divertido e eu percebi
que ainda estava de pé e tenso.
— Cale a porra da boca — rosnei para meu irmão, e ele
ergueu as mãos. Sienna chegou e sentou em seu lugar. — Por que
você demorou? — perguntei, irritado e Sienna nem mesmo fingiu
me ouvir. Ela me ignorou. Simples.
— Eles chegaram — Prince anunciou antes que eu pudesse
fazer Sienna me responder. Vi Romeo e sua esposa entrando
juntos. As pessoas encaravam Lunna do mesmo jeito que
encaravam Lake. Pelo passado e pelo sangue de ambas.
Romeo guiou Lunna até a gente e Sienna tentou se erguer,
porém apertei sua coxa, parando-a. Ela me olhou franzindo o cenho
e eu me inclinei sentindo seu cheiro.
— Você não vai sair do meu lado outra vez. Se contente em
ver Lunna de longe.
Seu corpo ficou rígido e suas mãos se fecharam em punhos.
Eu sorri encostando minhas costas na cadeira, olhando Romeo.
— Lunna, é um prazer revê-la — eu disse firme e escutei
Sienna suspirar. — Minha esposa pensa o mesmo, aposto.
— Lunna, você está linda — Sienna falou sorrindo, mas eu
não chequei a esposa do meu irmão. Sienna era a mulher mais linda
no local, Lunna deveria estar bonita também, mas não como ela.
— É um prazer conhecê-la. — Lake se ergueu e sorriu. Eu
assisti com a garganta apertada as duas se abraçarem.
— O prazer é meu. Você é linda — Lunna murmurou se
afastando. Lake sorriu feliz e Lunna se sentou ao lado do meu irmão
que acenou para mim.
A festa se encaminhou sem nenhum acontecimento. Não
iriamos apresentar Lake como em um leilão ou alguma porcaria
perto disso. Era uma apresentação silenciosa. Eles a viram, sabiam
quem ela era e os que não soubessem, ficariam sabendo em breve.
Era um casamento, eu não iria ameaçar meu povo com isso
agora. Em breve, no entanto. Eles precisavam saber que Lake era a
Outfit. Eles deveriam aceitá-la e protegê-la. Fazia uma semana que
não sabia mais de nenhum traidor, eu matei todos. Esperava que
isso continuasse. Queria minha cidade limpa.
— Vamos para a mansão — Lake pediu a Lunna enquanto
saímos do local da festa depois de nos despedir do noivo e noiva.
— Lake. — Romeo semicerrou os olhos para nossa irmã
enquanto ficava ao lado de Lunna.
— Por favor, Romeo? Só vamos comer pizza e assistir um
filme. Depois vocês vão...
— Não insista — Prince pediu tocando o ombro dela.
— Ainda é cedo — Sienna falou pela primeira vez ao meu
lado e eu toquei sua cintura. O corpo rígido não era mais uma
novidade. — Só um filme e depois vocês vão para casa.
Romeo me encarou e acenei, sem vontade de impedir três
garotas de assistirem a merda de um filme.
Nós fomos para casa juntos e quando chegamos as três
começaram a subir as escadas, porém detive Sienna apertando sua
cintura e a puxando contra meu peito.
— Não tire o vestido.
Sienna estremeceu com a promessa em minha voz e eu me
inclinei beijando sua pulsação, sentindo-a contra meus lábios.
Quando a soltei, ela seguiu as meninas, sem me responder.
Tirei o paletó e me virei andando para a sala de jogos, onde
Matteo e Prince estavam em uma partida de vídeo game. Peguei o
cardápio da pizzaria e enviei imagens a Sienna. Não demorou para
elas escolherem os sabores que queriam.
Pedi as pizzas habituais que meus irmãos e eu gostávamos e
acrescentei as delas. Me sentei no sofá e fiquei assistindo a corrida.
— Você vai precisar de mim amanhã? — Matteo questionou e
eu o encarei, erguendo a sobrancelha. — Quero ir a Oak Park. Vou
com Travis.
— Continue — pedi, me inclinando e descansando meus
cotovelos em meus joelhos.
— É só uma festa — ele resmungou colando os olhos na tela
novamente.
— Tanto faz. Não se meta em merda.
Ele acenou revirando os olhos e Prince riu por trás do seu
controle.
— Lunna ficará conosco? — ele perguntou depois de finalizar
sua partida. Ele tinha ganho. Grande novidade.
— Claro que não. Temos nossa casa — Romeo falou rápido e
eu fiquei calado. — Logo cada um de vocês vão embora também.
Rocco e Sienna em breve terão a casa só para eles.
— E para os filhos deles — Matteo murmurou me fazendo o
olhar. — Imaginou pequenos Roccos? Meu deus, o mundo acaba
nesse dia. — Meu irmão riu e eu apenas o ignorei.
— Eu não vou embora e Lake também não — Prince falou
rápido e todos nós o encaramos.
— Você vai casar um dia, se não pela máfia, será porque vai
encontrar uma garota — Romeo teve a paciência de explicar.
— Não vou.
— Vai. E Lake também, então, pense nisso com mais carinho
— o cortei abruptamente e Prince apertou os olhos.
— Ela não vai casar, ela não está pronta para isso...
— Ela vai estar quando eu decidir. Não forçarei Lake a casar
antes de saber que ela está pronta, não se preocupe — murmurei o
encarando firme.
— Enfim, todos vão embora, eu estou na minha casa há
anos. Não tem motivos para mudanças. Lunna só virá mais vezes
aqui, se não se importarem, obvio — Romeo falou percebendo a
tensão e me olhou. Dei de ombros, Lunna não me incomodava.
Tempos depois a pizza chegou e Romeo foi deixar as das
meninas. Horas depois todo mundo se separou e eu subi com
Romeo. Parei no quarto de Lake e entrei vendo as três na cama
com a atenção fixa na tv. Sienna foi a primeira a perceber nossa
chegada.
— Vamos, Lunna — Romeo chamou ao meu lado e sua
esposa se sentou. Ela se despediu das meninas e pegou seus
sapatos caminhando para fora. Romeo a seguiu.
Sienna pegou seus sapatos também e beijou Lake que já
estava de pijama.
— Tire a maquiagem — Sienna a avisou e minha irmã
acenou me dando um sorriso.
— Boa noite, Lake.
— Boa noite, Rocco.
Sienna passou por mim e eu fechei a porta de Lake. Segui a
loira que estava na minha mente mais vezes do que eu desejava.
Assim que chegamos ao meu andar, ela se dirigiu ao seu quarto.
— Para o meu — falei firme e Sienna parou de costas, tensa.
— Quero você nua nos meus lençóis. Quero ver o contraste da sua
pele branca e dos lençóis negros.
— Não. Vá atrás da Milena ou das mulheres que estavam o
satisfazendo até hoje — Sienna negou se virando e eu a encarei
sem expressão. Essa porra é séria?
— Eu disse que não a veria mais.
— Mentiu. Você mentiu para mim, porque ela insinuou que
continuam se vendo horas atrás na festa — Sienna rosnou, tão
irritada como nunca a vi. Ciúme é uma praga, mesmo.
Me aproximei devagar e Sienna ficou parada, esperando, me
surpreendendo por alguns segundos.
— Eu não minto para ninguém. Sou verdadeiro, Sienna. Se
eu tivesse lhe traído eu falaria, porque nós dois sabemos que se eu
tivesse feito, não significaria nada. Você ainda estaria aqui, ao meu
lado.
— Mas não na sua cama.
— Tem certeza? — perguntei sorrindo vendo suas bochechas
pegarem fogo de raiva e vergonha. — Antes do casamento, das
nossas alianças e do nosso dever, existe desejo. E, passarinha, não
queira se enganar, nós nos desejamos como uma mariposa deseja
a luz. Incansavelmente.
Sienna engoliu em seco e eu parei diante do seu corpo. Levei
minha mão ao seu pescoço pálido e segurei seu rosto, tocando no
diamante em sua orelha.
— Quarto, Sienna.
Eu beijei e lambi seus lábios vermelhos fazendo-a entreabrir
a boca para minha língua. Segurei sua cintura e a puxei contra meu
corpo, afundando meu pau em sua barriga. Sua boca exigiu a minha
em troca enquanto ela segurou meu rosto e aprofundou nosso beijo.
Andei em direção ao quarto e Sienna tropeçou em seus
próprios pés enquanto eu a empurrava sutilmente. Quando
chegamos ao quarto eu me afastei vendo o batom intacto.
— Vire.
Assim que Sienna me deu as costas, eu baixei as mangas do
seu vestido. Sua pele limpa contra minha mão tatuada era quase um
quadro pintado à mão, uma obra de arte. Beijei seu pescoço
enquanto descia o zíper pequeno que deixou o vestido justo na
cintura. Quando o tecido caiu eu me afastei vendo a calcinha
vermelha pequena. Sienna se virou e eu perdi minha cabeça vendo
seus peitos.
Me aproximei pegando seu cabelo na base do pescoço e
beijei sua boca, com fome e desespero. Fazia muito tempo, eu não
seria suave hoje. Sienna seria fodida, no melhor sentido da palavra.
Deslizei as mãos até sua bunda e ela me segurou quando a
ergui. Coloquei Sienna na cama e desci lambendo seus mamilos
ouvindo seus gemidos. Puxei sua calcinha, rasgando-a. Sienna tirou
minha blusa e eu abri minha calça descendo o zíper e tirando meu
pau inchado e irritado. Joguei as roupas para longe e abri as pernas
macias e longas de Sienna.
— Se segure, passarinha — avisei, grunhindo e entrei em
seu corpo, fodendo-a com força e rapidez. Sienna gritou enquanto
seus seios balançavam me fazendo quase gozar. Seus olhos
grandes e azuis me encaram brilhando de desejo. Eu quase perdi a
cabeça.
— Rocco... — ela implorou gritando e eu levei minha mão ao
seu clítoris enquanto me inclinei mordendo seu mamilo rosa. Sienna
gozou me apertando e sugando minha porra, implorando por ela, e
eu a dei. Cada gota.
Caí em cima do seu corpo gemendo e Sienna beijou meu
ombro. Eu me virei, apoiando meu peso em meus cotovelos e colei
meus lábios nos seus. Sua língua varreu minha boca e eu mordi seu
lábio ainda pintado com o batom. Tão linda merda.
Meu pau ficou duro novamente e eu virei, colocando Sienna
sobre mim. Ela já sabia o que fazer, por isso se moveu rápido. Ela
apoiou suas mãos em meu peito e gemeu rebolando no meu pau.
— Passarinha — murmurei gemendo e busquei seu clítoris
sensível com meus dedos. Sienna gemeu trêmula e eu chupei seu
mamilo mais uma vez.
Quando acabamos, ela caiu sobre mim, cansada e eu agarrei
seu corpo, deslizando meus dedos pela sua espinha, uma mania
que eu tinha, mas que não entendia bem.
— Por que ficou longe? — Sienna questionou sonolenta e eu
ponderei isso em minha mente. Eu sabia o motivo, mas não falaria a
ela. Sienna era perigosa. Perigosa para mim, pelo menos. E isso
não era sobre força, isso era óbvio. Desde o dia em que ela me
desobedeceu e eu nem mesmo consegui castigá-la, eu entendi o
que ela representava.
— Trabalho, Sienna. Muito trabalho — murmurei sentindo
seus dedos deslizarem pelo meu peito fazendo o mesmo movimento
que minha mão.
— Você sentiu minha falta? — Sua voz soou tão baixa que eu
quase pensei que foi minha imaginação pregando peças em mim.
— Você sabe a resposta para essa pergunta. Eu gozei duas
vezes em menos de meia hora. Voltei a ser um adolescente do
caralho — murmurei sério e senti sua risada vibrando em meu peito.
Eu não deixei Sienna dormir muito tempo, sempre voltando
ao seu corpo. Passei a noite assim e quando amanheceu, eu ainda
estava dentro da sua boceta apertada.
Sienna se afastou e nós fomos para o banheiro. Ela encheu a
banheira enquanto eu fui para o chuveiro. Observei quando Sienna
entrou na espuma e descansou a cabeça na toalha. Saí de dentro
do box e me juntei a ela depois de desligar o chuveiro. Deslizei
minha mão pela sua coluna enquanto ela me olhou por cima do
ombro.
— Não me afaste novamente — Sienna pediu com os olhos
azuis presos nos meus e eu a puxei para o meu colo.
Não a respondi, porque realmente não sabia mais o que
diabos fazer com essa mulher. Sienna fazia parte de um plano do
qual eu não abri mão, porém pensava cada vez menos.
E eu não podia fazer isso.
Rocco me ajudou a sair da banheira quando meus lábios já
estavam roxos. Ele se vestiu e desceu para encontrar seus irmãos e
sair. Não esperei uma despedida, eu sabia que Rocco não faria.
Suspirei me aproximando da janela e olhei o lago. Era de tirar o
fôlego. Girei observando o quarto do Rocco e mordi meu lábio.
As cortinas eram pretas como os seus lençóis e alguns dos
móveis. Meu olhar foi atraído para a cama e eu tentei encontrar
arrependimento por ter cedido mais uma vez a Rocco. Ontem foi
incrível e eu desejei ardentemente a sua aproximação. Amei seus
toques e a maneira que apenas ele sabe me tocar. Porém agora,
sozinha em seu quarto, as palavras dele de semanas atrás golpeiam
a minha mente.
"— Quem você acha que é, Sienna? Você não é nada. Porra
nenhuma e na próxima vez em que você sair de casa sem a minha
permissão, eu vou matá-la. Sem remorso nenhum e enviarei sua
cabeça de volta para sua família."
Eu cresci ouvindo que as mulheres em nosso mundo
deveriam ser submissas. Baixar a cabeça, saber quando
deveríamos recuar. Perdoar sem pedidos de perdão. Eu aprendi a
ser assim, sabia que faria todas essas coisas em meu casamento,
mas com Rocco... o medo também me move. Eu confio nele tanto
quanto ele confia em mim. Nem um pouco. Não existe confiança e
eu temo o momento em que algo saia do controle e ele possa me
machucar. Eu também aprendi que o medo seria minha companhia
em um casamento. E eu deveria contornar todas essas situações.
Mas eu não queria colocar em prática as coisas que aprendi.
Não me sinto bem sendo submissa, não me sinto feliz perdoando o
que Rocco me falou, sem ele realmente me pedir para perdoá-lo.
Ele nunca fará e eu sei disso. Mas, ainda sim, me sinto sufocando
por ter aceitado ele de tão boa vontade.
Eu respirei profundamente e me afastei da janela. Vesti uma
roupa qualquer e saí do quarto. Tebow estava parado me esperando
e eu me abaixei acariciando suas orelhas. Ele estava ótimo, nem
parecia que tinha sofrido o que sofreu dias atrás. Ele era tão forte.
— Vamos lá? — chamei me erguendo e saindo em direção as
escadas.
Quando cheguei a cozinha Lake estava com Matteo tomando
café. Procurei Prince, mas não o encontrei em nenhum lugar
próximo.
— Bom dia! — murmurei me sentando e Lake sorriu
enquanto Matteo acenou focado em comer.
— Eu amei conhecer a Lunna. Ela é tão linda. Romeo é
sortudo.
Lake estava certa. Lunna não era apenas bonita, ela era legal
e simpática. Ontem ficamos as três tentando assistir filmes, porém
Lake estava tão animada por ter outra garota por perto que não
parava de falar um segundo. Lunna também não ficava para trás.
Ela estava tão animada quanto Lake.
— Não se acostume. Lunna não vai ficar vindo aqui — Matteo
falou antes que eu pudesse responder Lake.
— Por quê? Moramos perto, ela é minha cunhada como
Sienna...
Matteo encarou Lake e depois seus olhos seguiram até mim.
Eu me senti derreter com o olhar acusatório dele.
— Romeo não confia em Sienna. Eu não o culpo, ela
enganou todos para ir a mansão dele. Ela poderia ter machucado
Lunna...
— Matteo... — Lake arregalou os olhos, chocada e eu senti
meu estômago retorcer.
— Eu só queria conhecê-la...
— Você não tem de querer, Sienna. Você faz o que seu
marido permite. Na próxima vez, peça a ele — Matteo me cortou e
eu engoli em seco balançando a cabeça.
— Sei que não foi certo, sei disso, mas vocês me tratam
como uma ameaça de nível máximo. Vocês acham que Enrico me
treinou para entrar aqui e matar todos? Eu sou uma mulher da
Famiglia, uma mulher na máfia, Matteo. Você sabe muito bem o que
isso significa. Eu não sei lutar, peguei em uma arma uma única vez
e fiquei de castigo por isso. Eu não quero e nem posso machucar
quem quer que seja. Lake e Lunna seriam as últimas pessoas que
eu machucaria.
Matteo se recostou na cadeira e respirou fundo. Salvatore me
ensinou atirar e essa foi a única vez que toquei em uma arma. Eu
sabia o que fazer com ela, por causa do meu irmão, mas Matteo não
precisava saber disso. Só lhe daria mais munição para me atacar.
— Você veio do inimigo, Sienna. Enrico nos quer mortos e
comandar a Outfit ele mesmo...
— Ele não quer isso. Enrico quer a paz. Apenas isso...
— Um homem feito não deveria desejar a paz. — Matteo se
ergueu e jogou o guardanapo na mesa. — Prince e Lake podem
confiar em você, mas a minha confiança não é tão fácil. Vou manter
meus olhos em você, Sienna.
O irmão de Rocco saiu da sala de jantar e eu fiquei
encarando o lugar vazio que ele deixou. Não me enganei, eles
realmente não confiavam em mim.
— Sienna...
— Está tudo bem — eu a interrompi e tentei sorrir. Lake
suspirou enquanto eu me movi e peguei minha comida. Engoli tudo
a força, fingindo um bem estar que eu não sentia.
Quando Rocco voltou no final da noite eu estava na sala com
Prince e Lake. Os dois estavam jogando e a irmã Trevisan estava
furiosa por ter perdido todas as rodadas. Rocco parou na entrada da
sala e eu tentei não olhar diretamente para ele. Foquei meus olhos
na TV e vi Lake jogar a almofada na cara de Prince por ter perdido
mais uma vez.
— O que está fazendo? — Rocco perguntou e eu estremeci
levando meus olhos ao seu rosto. Ele estava focado em Lake, no
entanto.
— Jogando com Prince, mas ele não me deixa ganhar.
— Você precisa se esforçar. Aprenda, estude e depois ganhe.
Não espere que os outros lhe deem a vitória de mão beijada. A vida
não é assim — Rocco falou firme enquanto Lake o olhou de volta.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos e depois acenou.
Algo estava errado com ele, percebi quando olhei para meu
marido. Seu olhar estava escuro, seus ombros tensos e os punhos
cerrados.
— Estou saindo — Prince avisou a Rocco enquanto se erguia
e eu vi seus machucados novos nas juntas das mãos. Ele tinha
saído com Rocco pela manhã, mas retornou sozinho à tarde.
— Vou tomar banho e desço para o jantar — Lake disse
deixando o controle do jogo na mesa de centro. Quando ela sumiu
eu me ergui.
Rocco andou até o bar e se serviu de uísque. Observei
enfeitiçada seu pomo de adão subir e descer lentamente enquanto
ele tomava a bebida.
— Seu irmão está em Chicago. — As palavras soaram e eu
arregalei os olhos dando um passo até Rocco, rápido demais. —
Você o avisou sobre o ataque?
— Não. Eu não...
— Suba — Rocco ordenou tão firme que eu não reconheci o
homem que me beijou e deixou que eu dormisse com ele ontem.
— Onde ele está? — implorei, soando tão fraca quanto eu
realmente era. Se Sal estava aqui, ele poderia estar machucado. Eu
sabia que existia a trégua entre a Outfit e a Cosa Nostra, porém a
vinda de Salvatore não foi solicitada e nem avisada previamente. Eu
sabia que tinha algo errado.
— Para o quarto, Sienna.
Rocco retornou a mandar e eu fiquei parada. Ele se virou
com o copo entre os dedos e eu quis chorar ao ver o sorriso
distorcido, malvado e impiedoso no seu rosto.
— Eu estou implorando...
— Não o faça!— ele me interrompeu com um berro e eu
mordi meu lábio.
— Ele está bem? Só diga isso...
— Não implore. Não peça por ninguém. Você é uma Trevisan
agora e nós não pedimos. Não imploramos nada a ninguém.
— Rocco, ele é meu irmão! Me diga isso. Você iria querer
saber se fosse um dos seus! — eu gritei, assustada com sua recusa
e Rocco andou até mim tão cheio de si, de confiança.
— Ele vai morrer, Sienna — Rocco murmurou e meus joelhos
fraquejaram. — Leve ela para o quarto — ele ordenou a alguém e
eu senti braços me pegarem, porém me mexi, cheia de forças e
finquei minhas unhas na pessoa que ousou me tocar. Caí no chão e
a pancada me fez resfolegar de dor.
— Não faça isso! Rocco, não faça isso! — eu gritei me
erguendo e toquei em suas pernas. Ele me olhou de cima e eu
tremi, com tanto medo como nunca senti.
Ele mataria meu irmão. Eu me sentia fracassada, derrotada
no jogo doentio que Rocco amava jogar.
A pessoa que ele ordenou me pegou novamente e dessa vez
eu deixei me levarem.
Salvatore. O rosto do meu irmão piscou em minha mente e
eu fui colocada para baixo. Romeo me encarou e eu deixei as
lágrimas descerem em uma velocidade insana. Meus soluços
ecoaram pelo andar de Rocco e seu irmão assistiu eu cair dentro de
mim mesma.
— Eu odeio vocês dois — eu disse firme empurrando meus
ombros para trás. — Eu vou matar vocês.
— Não ouse, Sienna.
— Se você o deixar matar meu irmão...
— Não termine. Não finalize isso ou eu vou levar sua ameaça
a Rocco e eu pedirei pessoalmente sua execução por traição. Não
faça. — Romeo andou para trás e eu o observei enquanto tremia de
ódio e medo. Tanto medo.
Quando a porta bateu fechada eu peguei meu celular e o
liguei. Chamou várias vezes e quando achei que iria cair, eu o ouvi.
— Passarinha.
Eu arranquei o celular do meu ouvido e desci pela parede,
tremendo e soluçando. Oh meu Deus. Sal está realmente aqui.
Apertei minhas pálpebras e liguei para Enrico. Minhas mãos
tremiam e quando ele atendeu, eu suspirei de alívio.
— Onde está meu irmão? — questionei sem deixar ele falar.
— Ele foi pegar você ou qualquer merda que ele tenha
alimentado. O rumor de um homem na mansão tentando matá-la
chegou aqui. Salvatore agiu pelas minhas costas. Rocco o pegou
ainda na fronteira — Enrico murmurou, parecendo cansado e eu
solucei.
— Ele vai matá-lo. Ele vai.
— É, ele vai — Enrico não demorou a confirmar e eu passei a
mão pelos meus cabelos enquanto tremia chorando. — Rocco deve
estar ouvindo nossa ligação, então saiba que a trégua estará
acabada assim que Salvatore cair morto. E eu vou matar você,
Rocco.
Eu fiquei muda, sem saber o que pensar. Enrico desligou e
eu segurei o celular contra meu peito. Me arrastei até a cama e
ajoelhada, me aproximei da cômoda. Meus dedos seguraram o
objeto preto e eu suspirei sentindo o cabo gelado.

Quando Rocco entrou no quarto eu estava na cama olhando


para a janela, vendo os pássaros voando em liberdade, a mesma
liberdade que eu nunca teria. Ele se aproximou e parou na minha
frente, tampando a janela. Tirando de mim a liberdade.
— Senta. — Sua voz estava ainda mais firme, tão autoritária.
Eu me sentei me afastando e Rocco se sentou também. Sua mão
segurou meu rosto e eu engoli a vontade de empurrá-lo. — Seu
irmão entrou em meu território, Sienna. Para me matar e tirar você
de mim — Rocco anunciou trilhando minha bochecha com os dedos.
— Eu preciso matá-lo.
— Rocco... — solucei com novas lágrimas, e me movi
sentando em seu colo. Descansei meus joelhos em cada lado da
sua cintura e ergui os olhos, vendo seu olhar azul tão parecido com
o oceano, límpido na superfície e nas profundezas, uma escuridão
traumatizante. — Eu não quero implorar, mas é meu irmão. Ele é
meu irmão, ele ainda é jovem como Matteo. Você sabe disso...
— Não posso poupá-lo.
Eu peguei a arma embaixo do travesseiro e puxei a trava.
Rocco ouviu e viu quando eu a ergui e apontei para a sua cabeça.
Na sua têmpora. Minha mão tremia e as lágrimas em meus olhos
eram cruéis.
— Solte-o. Deixe que ele volte a Itália — ordenei tentando
soar firme enquanto segurava a arma pesada contra a cabeça do
meu marido. Rocco só me olhou, ele não parecia nervoso ou com
medo, Rocco só estava me estudando com os olhos azuis que eu
adorava. — Rocco...
— Aperte o gatilho. — Eu arregalei os olhos e Rocco segurou
minha cintura. Suas mãos apertaram meu quadril, dedos fincando
em minha pele, e ele se inclinou, deixando a cabeça colada ao cano
da arma. — Ou você me mata ou eu mato-o. Escolha, Sienna.
Meu ar cortou e Rocco se aproximou mais, deixando sua
boca tão próxima da minha quanto quando nos beijávamos.
— Me mate, Sienna.
Não. Sim.
Sal viveria se eu fizesse, ele... parei, me afastando e desci do
colo do meu marido ainda mirando nele. Rocco se ergueu também e
eu tremi, segurando a arma com força.
— Romeo o matará — disse, sabendo que era a verdade. —
Ele me matará assim que você cair.
— Ele não fará — Rocco falou e sorriu, cínico, perigoso,
mortal. — Aperte o gatilho, Sienna. Faça. Me mate e eu juro sobre a
Outfit que seu irmão sairá daqui vivo.
Rocco me pediu pela morte sorrindo, tentando me convencer,
mas eu não poderia lhe dar. Mesmo que eu desejasse no fundo da
minha alma, mesmo que eu implorasse a mim mesma para fazer. Eu
não consegui.
Eu não fui adiante, porque eu o amava. Eu amava Rocco e
eu morreria por isso.
Minha mão tremeu e eu puxei a arma em minha direção. O
cano frio tocou minha têmpora e eu ergui o olhar para Rocco. Ele
semicerrou os olhos, sua primeira resposta a arma, e eu engoli em
seco.
— Eu vou atirar — avisei, erguendo o queixo e Rocco me
olhou tenso, porém não se mexeu. — Peça a Romeo para deixá-lo
ir.
Rocco olhou para mim, dos pés à cabeça, e sorriu. Quando
ele o fez, eu sabia que era o fim.
Imaginei Salvatore morto em algum lugar, no sofrimento da
minha mãe em perder mais uma pessoa. Eu pensei em
mim, amando o homem que matou meu irmão. Eu não precisei de
muito. Meu dedo apertou o gatilho e fechei os olhos, tremendo.
Vai ficar tudo bem.
A coragem é para poucos. As pessoas acham que apontar
uma arma para a própria cabeça é um sinal de fraqueza, eu
discordo. Pensar em tirar a porra da sua vida, perder tudo que tem e
as pessoas que gosta, é a porra da coragem. Você precisa ter
coragem para tirar o que é mais precioso no mundo, nossas vidas.
Porém, a coragem é burra.
Ela nem sempre é louvável, pelo contrário. Ela te deixa
ignorante e idiota, ela te faz fazer coisas imbecis.
Como o que Sienna fez. Eu nunca senti medo como na noite
em que salvei Lake. Porém, ao ouvir o clique da arma contra a
têmpora de Sienna, eu senti o sentimento repugnante se impregnar
em mim.
Dei um passo em sua direção, mas nada aconteceu. A arma
estava descarregada. Sienna soltou a minha Glock e caiu de joelhos
tremendo e chorando diante de mim, abraçando a si mesma.
— Você apertou — murmurei parado e ela soluçou mais alto.
— Saia. — Sua voz soou enfraquecida e eu me aproximei,
pegando-a pelos ombros. Sienna se soltou rapidamente e manteve
distância dando passos para trás. — Só vai. Saia daqui Rocco! —
ela gritou erguendo os olhos e eu a alcancei.
— Você sabia que ela estava descarregada? — questionei
com raiva inundando minhas veias. Sienna me olhou com ódio em
sua íris azul. Eu não dei a mínima, eu queria saber sobre a arma. —
Você sabia.
— Não. Eu não sabia.
— E por que fez? Por que você fez isso? — questionei baixo,
apertando seu corpo.
— Porque eu prefiro morrer a viver com um homem que
matou meu irmão. Eu prefiro morrer a deixar você me tocar, me
beijar e me ter. Eu odeio você, Rocco! — Sienna despertou gritando
a plenos pulmões e eu a soltei, quando ela me empurrou. — Saia!
— Tudo bem — murmurei a encarando e me virei para sair.
Porém, parei ao tocar na maçaneta da porta. Voltei para a cama e
peguei a arma que ela deixou cair.
Quando saí novamente eu me virei. Sienna estava me
olhando e as lágrimas banhavam seu rosto com bochechas rosadas
e lábio molhado.
— Venha.
Eu me virei e saí. Não olhei para trás para ver se ela me
seguia. Eu sabia que faria, porque Sienna pode ser tudo, menos
burra. Ela sabia onde eu a levaria.
Quando desci ao porão no Village, Sienna estava mais calma
e seus cabelos presos no alto da cabeça. Romeo estava ao redor
encarando a mim e Sienna, em silêncio. Eu abri a porta do quarto
ignorando meu irmão. Salvatore estava de pé no centro do quarto,
me observando. Ele era jovem, mas, como sua irmã, corajoso.
Quando ele viu Sienna, o brilho de alívio foi nítido, porém ele
mascarou rapidamente.
— Você veio me matar? — Eu inclinei a cabeça e peguei um
dos meus cigarros. Eu o acendi e traguei a fumaça, soltando-a
depois. — Nossa trégua está acabada.
— Eu não dou a mínima para a sua trégua. Queria ver se
Sienna estava bem, já que você não a protegeu. Não sou idiota, sei
que jamais o mataria, porém, Sienna é minha irmã. Eu devo
lealdade a ela.
— Sienna é uma Trevisan. A lealdade dela está em mim, na
Outfit.
— Então, por que a Outfit não a protegeu? Não confia nela?
Por que você não confia nela? — Salvatore perguntou mordaz e eu
sorri. Ele era um garoto corajoso, eu admiti para mim mesmo.
— Se eu não confiasse em minha esposa, ela não estaria
aqui — disse me sentando na poltrona confortável. Salvatore não
me deu as costas um minuto, ele virou e me encarou com a mesma
atenção que dava a Romeo na entrada.
Movi meus olhos para Sienna e ela engoliu em seco dando
um passo até seu irmão. Ela não o abraçou, apenas segurou sua
mão enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.
— Desculpa. Eu não fui boa...
— Não se desculpe — ordenei sobre a sua voz e Sienna
estremeceu, engolindo em seco.
— Você não tem culpa, Si. Nenhuma. Agora, saia daqui.
Mamãe ficará bem.
— Não! — Sienna se virou para mim, ficando na frente do
irmão. Quando ela me olhou, eu senti meu corpo ser rasgado ao
meio. Toda a dor que estava em seus olhos me sufocou. — Rocco,
por favor. Eu faço o que quiser. Tudo. Eu prometo, mas deixe ele ir.
— Sienna — Salvatore a repreendeu, mas os olhos dela
estavam cravados nos meus. Olhei para Romeo e acenei,
mandando-o levar Salvatore para fora. Ele o fez, porém Sienna não
se mexeu. Ela sabia que eu o mataria, não Romeo.
— Não — murmurei me erguendo e ela piscou, deixando
mais lágrimas caírem.
— Eu vou conseguir na próxima vez. — Suas palavras me
encheram de fúria. Eu me movi rápido e a peguei, puxando-a contra
mim. Sienna sufocou uma respiração, surpresa e eu me inclinei
olhando dentro dos seus olhos.
— Se você fizer isso novamente...
— Deixe-o ir. Eu não farei. Eu juro. — Sienna me olhou firme,
lágrimas ainda nadando em seu olhar. — Rocco. Eu prometo.
— Você não tem poder sobre mim, Sienna — avisei, porém,
as palavras pareciam ser jogadas para mim, na minha cara, não na
dela.
— Eu sou a única chorando. Eu sou a única pessoa com
tanto medo que nem consegue respirar direito. Eu sou a única
implorando, Rocco. Como diabos você pode sequer pensar que eu
acho que tenho poder sobre você? Eu nunca imaginei isso e eu sei
que isso nunca aconteceria. — Sienna tocou minha blusa e apertou
o tecido entre os dedos. — Você realmente acha isso? Olhe para
meus olhos e veja você mesmo, Rocco. Você é o único que tem
poder sobre outras pessoas, sobre mim.
Eu a encarei pelo que pareciam ser anos, porém Sienna se
aproximou mais, rodeando meu pescoço com os braços.
— Não faça isso, Rocco. Por favor, reconsidere. Por favor...
— Pare de implorar — cortei sua fala, irritado e Sienna se
afastou limpando o rosto. — A trégua acabou, Sienna. Eu vou matar
cada membro da Famiglia que entrar em meu território. Seu irmão
vai voltar para casa, mas vai com uma mensagem.
Sienna engoliu em seco, porque ela não era ingênua. Ela
sabia o que eu e seu irmão fazíamos. Sienna é a máfia tanto quanto
nós.

Matteo levou Sienna para casa e eu continuei no quarto


esperando por Romeo e Salvatore. Quando eles retornaram, eu me
ergui e vi meu cunhado ficar de pé ao lado da cama.
— Onde Sienna está? — ele questionou enquanto eu me
movi para Romeo. — Rocco! — meu cunhado gritou, porém apenas
fechei a porta e me virei para meu irmão.
Andei para o final do corredor e Romeo ficou em silêncio, me
observando.
— Você vai deixá-lo voltar — Romeo afirmou antes que eu
dissesse algo. Inferno.
— Vou — confirmei erguendo os olhos e meu irmão balançou
a cabeça.
— O que vai dizer aos que capturaram ele?
— Eu não preciso dizer nada! Eu sou o dono dessa cidade,
eles me devem lealdade e obediência — respondi com firmeza e
irritação pela pergunta ridícula.
— Por causa dela? É, sério? Você gosta da Sienna — Romeo
afirmou, e nem se mexeu quando eu puxei seu colarinho e o
empurrei na parede. — Olhe para si mesmo, Rocco. Eu sou seu
sangue, sua carne, eu lutei por você. Não faça essa merda. Mate-o,
agora.
Eu me afastei encarando tão firme quanto eu podia. Meus
punhos se enrolaram e eu apertei, querendo socar algo.
— Não vou matá-lo. Isso não está em discussão. Ele vai para
casa e levará com ele um lembrete do que farei com os próximos
que ousarem.
Romeo respirou fundo e acenou, se afastando.
Quando eu estive mais uma vez diante de Salvatore eu não
recuei, não titubeei. Seus gritos abafados não me causaram nada. O
ódio na sua íris, não fez nada a mim.
Eu estava dormente.
Mais uma vez.
Sienna estava na banheira quando cheguei em casa. Os
olhos vermelhos e inchados denunciavam que ela chorou mais um
pouco quando voltou para cá. Eu tirei minha blusa quando eu pisei
mais forte, e ela ouviu meus passos. Tirei o restante da roupa e
entrei atrás dela na banheira. Sienna ficou tensa quando peguei em
seus ombros, porém relaxou em seguida.
Eu não falei nada, ela também não.
Segurei seus quadris e a fiz sentar em mim, deslizei minha
mão entre as suas pernas e brinquei com sua boceta. Sienna não
gemeu como todas as vezes, mas eu sentia sua lubrificação mesmo
na água. Eu sentia sua boceta sugar meus dedos. Troquei meus
dedos pelo meu pau e segurei o queixo de Sienna, fazendo ela me
olhar. Quando vi o sangue caindo do seu lábio, causado por seus
dentes ao tentar abafar seus gemidos, eu me inclinei e lambi. O
gosto era doce, tanto quanto o da sua virgindade.
Brinquei com sua boca enquanto fodia sua boceta e Sienna
gemeu, alto, forte, sem conseguir se conter quando gozou e puxou
meu sêmen para ela. Sua cabeça descansou na borda da banheira
e eu me afastei para me erguer. Peguei Sienna nos braços e a
carreguei até o meu quarto, até a minha cama.
Deitei ao seu lado e a puxei para mim, enquanto ainda
estávamos nus e molhados. Sienna ficou tensa quando eu a
encarei.
— Eu sei que me odeia, Sienna. Está tudo bem. Eu entendo
você. Se eu fosse você, também me odiaria.
Ela fechou os olhos, e se aconchegou em meu peito. Puxei a
nossa coberta e cobri nossos corpos. Sienna adormeceu, mas eu
não conseguia. Quando a madrugada deu lugar aos raios de sol, eu
ainda estava de olhos abertos, tentando entender o que fiz.
Romeo estava certo. Eu não podia ter deixado Salvatore ir
embora com vida.
Saí do quarto depois de vestir uma roupa e desci,
encontrando Matteo na sala, chegando de algum lugar.
— Onde estava? — questionei, semicerrando os olhos.
— Com Travis no Village e depois partimos para a casa dele,
em um after — Matteo respondeu caminhando até as escadas e eu
fiquei em silêncio. Meu irmão parou e virou me observando. — O
que foi?
— Nada. Vá descansar. — Eu o dispensei e andei até a
cozinha. Mama L estava preparando café quando entrei. Ela me
serviu tremendo e eu bebi a bebida quente sem açúcar.
Não me surpreendi ao ver Romeo entrando. Ele sentou ao
meu lado e a empregada o serviu, porém com açúcar.
— Lunna quer vir passar o dia aqui. Ela pediu ontem — meu
irmão avisou e eu dei de ombros, realmente não me preocupava
com Lunna aqui. — Ficarei com elas.
— Pare de ser tão protetor. Sienna não faria mal a ninguém
— falei o encarando e Romeo respirou fundo.
— Você deve estar certo. Aliás, Lunna odiaria se eu ficasse
ao redor.
— Prince melhorou nos golpes — avisei mudando de assunto
e mostrando minha barriga. Tinha um roxo que o merdinha deixou
em mim ontem.
— Bom. Matteo já luta bem, Prince está se encaminhando.
Tudo vai se sair bem até lá — Romeo afirmou e eu acenei. Tudo
sairia do jeito que eu planejei.
Saí de casa logo em seguida com Romeo e fomos para
alguns empreendimentos mais afastados de Chicago. Reuni meus
homens de lá e fiz reuniões com meus capos para prestações de
contas. Eu sorri, animado quando tudo acabou e entramos em
nosso carro.
— Triplicamos a porra dos lucros. Porra — Romeo murmurou
rindo e eu sorri de volta.
— Trabalhando. Eu queria ver a cara do fodido vendo meus
números. Ele ia explodir de ódio — resmunguei acelerando e
Romeo me olhou.
— Somos melhores que ele em tudo.
— Cada maldita coisa.
E eu vou morrer sendo, porque um dia ele me olhou nos
olhos e me disse que eu era lixo. Que eu não seria um homem feito,
que eu não seria digno, que eu morreria na rua, abandonado. Um
bastado.
Você estava enganado, pai.
Eu sou um homem feito.
Eu sou o rei da Outfit.
E eu a tirei dos seus dedos enquanto você sangrava aos
meus pés.
Acordei mais tarde do que eu costumava. Relutei em sair do
quarto penteando meu cabelo e olhando para as roupas que
estavam se amontoando no closet de Rocco. Ele percebeu que elas
estão aqui? Mordi meu lábio amassando a borda do meu vestido.
Quando minha barriga roncou, eu desci com Tebow ao meu
lado deixando isso longe da minha cabeça.
A noite de ontem foi excruciante para dizer o mínimo. O rosto
tenso e forte de Salvatore ficava se repetindo em minha mente e eu
estremecia a cada vez que imaginava o que Rocco fez a ele. Porém,
eu estava tentando não pensar. Eu queria apenas ser grata ao
universo e a Deus, por Rocco o ter deixado voltar para casa vivo.
Eu apertei meu vestido quando ouvi risadas femininas. Ao me
aproximar da cozinha sorri instantaneamente vendo Lunna e Lake
juntas. A esposa de Romeo estava com molho na bochecha
enquanto Lake apenas ria.
— O que estão aprontando? — perguntei me aproximando e
ambas sorriram ao me ver. — Bom dia!
— Bom dia, Sienna! Cheguei há algumas horas. Vim passar o
dia com vocês — Lunna anunciou e eu sorri, animada e a abracei.
— Deveriam ter me acordado. Perdi as horas dormindo. —
Fiz uma careta e beijei a cabeça de Lake.
— Hum, Rocco não deixou — Lake explicou e eu lhe dei um
sorriso tenso. É claro que ele não deixou.
— O que está fazendo? — perguntei a Lunna e ela me
mostrou a lasanha de carne deliciosa no forno. Já era quase a hora
do almoço, me toquei.
— Não sei cozinhar tão bem, mas estou aprendendo algumas
coisas. Lasanha é a minha especialidade — Lunna sorriu
murmurando.
— Está linda. Estou faminta. — Eu sorri me sentando ao lado
de Lake.
Eu pus a mesa para todos, mesmo sem saber se Rocco e
Romeo estavam na mansão. Quando Lunna colocou a lasanha
enorme na mesa os homens da casa começaram a aparecer.
— Lunna — Matteo a cumprimentou sem olhá-la e Prince
estava com o rosto virado para a janela que dava vista para a
floresta.
Romeo apareceu com Rocco e eu deixei meus olhos presos
ao meu prato. Lunna cortou a lasanha e se serviu. Todos nós
fizemos o mesmo e logo estávamos comendo.
— Está deliciosa. Você deveria me ensinar — eu pedi,
olhando para a mulher de cabelos escuros e olhos azuis.
— Oh, é claro! Eu tenho um caderno de receitas que eu
trouxe de Nova Iorque... — Sua voz baixou e seus olhos se
arregalaram, me fazendo ficar confusa. Quando olhei para todos na
mesa, eles estavam encarando-a, fazendo ela ficar desconfortável.
Lake era a única tão confusa quanto eu.
Se Lunna era de Nova Iorque, isso queria dizer que ela não
era da Outfit.
— Vou pegar com você depois — falei, tentando quebrar a
tensão. Os homens voltaram a comer e Lunna me deu um sorriso
agradecido.
Nós almoçamos e eu vi que o tempo estava mais firme. O sol
tinha saído e não estava tão frio quanto dias atrás.
— Vamos ao lago? — chamei as duas quando os homens
saíram para algum lugar.
— Eu não trouxe biquíni — Lunna murmurou e eu subi as
escadas com elas.
— Eu tenho alguns que nunca usei. Você pode ficar com um
deles.
Ela acenou e nós saímos de casa meia hora depois. Tirei
meu vestido e o biquíni branco apareceu. Ele era pequeno na parte
inferior, mas foi o que mais se ajustou em meus peitos. Lake estava
com um vermelho e Lunna com um preto que contrastava com sua
pele tão branca.
Andei até a borda do cais e pulei. A água tão gelada quando
entrei na vez em que Rocco me trouxe aqui, agora estava mais
morna, gostosa de entrar. Lunna pulou assim que emergi sorrindo.
Lake veio em seguida e nós rimos jogando água uma na outra.
— Você avisou a Prince que estaríamos aqui, certo? —
perguntei a Lake enquanto nadava.
— Sim. Eles estão na academia treinando — respondeu e eu
acenei, aliviada. Não queria que eles surtassem procurando por nós.
— Você já foi prometida a alguém, Lake? Eu tinha sua idade
quando fui prometida a Romeo — Lunna murmurou sorrindo e eu
fiquei tensa. Lake negou com um suave balanço da cabeça.
— Vocês estão casados há muito tempo? — perguntei,
tentando mudar de assunto.
— Dois anos. — Lunna sorriu para mim.
— Por que ainda não tiveram filhos? — A voz de Lake
questionou e Lunna engoliu em seco com seu sorrindo deslizando.
— Não era o momento, eu acho.
Não sei se Lake percebeu, mas eu sim. Lunna parecia triste.
Ela queria bebês?
— Você quer ter filhos? — perguntei, curiosa e Lunna se
acendeu, acenando firme.
— Muito. Quero três filhos. — Ela sorriu e Lake também. — E
quero que eles se pareçam com Romeo.
Imaginei filhos parecidos com Rocco. Crianças correndo
nesse jardim, pela casa e brincando com Lake, Prince e Matteo. Eu
estremeci, empurrando a onda de desejo. Eu não podia trazer bebês
a essa loucura.
— Você não quer? — Lunna perguntou boiando na água e eu
engoli em seco.
— É cedo demais.
Nós mudamos de assunto e nos sentamos no cais pegando
sol. Eu encarei o céu e os pássaros sobrevoaram logo acima de
mim. Suspirei, ouvindo Lake cantando baixinho.
— Vocês os amam? — A música dela parou, e a pergunta
soou em seguida.
— Loucamente — Lunna não titubeou ao responder. Eu a
olhei e seu rosto era sereno. — Eu o amei desde o dia em que o vi.
Ok, vocês podem não acreditar em mim, mas eu me apaixonei à
primeira vista.
— Nossa, Lunna. Será que vai ser assim comigo? Será se
vou gostar do meu marido? — Lake questionou e a ansiedade em
sua voz era palpável.
— Não se sabe, mas eu e Sienna esperamos que sim. Não é,
Sienna? — Lunna puxou minha atenção para si e eu acenei,
pegando a mão de Lake.
— Você vai se casar apenas com quem amar, Lake. Eu
prometo.
Lake acenou, suspirando e eu me sentei, olhando para o
lago. O sol estava baixando e a água refletia a luz. Era lindo.
— Você não respondeu. Você ama Rocco? — Lake recordou
a pergunta e eu abracei minhas pernas me sentando de lado, para
ver ambas.
— Eu não sei — menti encarando-as e desviei o rosto para o
pôr do sol novamente. — Eu nunca me apaixonei, então não sei —
reforcei quando não falaram nada.
— Você saberá quando o amar. Nós sempre sabemos —
Lunna disse e eu suspirei, acenando.
Eu já sabia.
Lake e Lunna correram pelo jardim e eu as segui carregando
meu vestido e chinelos. Parei de andar quando vi uma sombra no
andar de Matteo, na academia. O arrepio em meu corpo me disse
quem era.
Romeo estava na sala quando entramos e encarou Lunna
dos pés à cabeça no biquíni, porém desviou quando viu que
estávamos vendo.
— Vamos nos trocar e descemos para fazer o jantar — Lunna
o avisou subindo as escadas e eu acenei, seguindo-a.
Lake e ela foram para o quarto e eu fui para o meu. Puxei a
corda do biquíni, porém antes dele descer ouvi Rocco. Me virei
segurando a peça pequena e vi ele fechar a porta. Seu olhar era de
puro desejo e eu estremeci em antecipação.
— Preciso ir ao médico — falei assim que ele virou de volta
para me olhar depois de fechar a porta. Rocco semicerrou os olhos
e se aproximou tirando meu cabelo quase seco da frente do meu
rosto.
— Por quê?
— Preciso entrar no controle de natalidade — falei firme e
Rocco se afastou um pouco. Porém, retornou se inclinando em
direção ao meu pescoço. Ele beijou minha pulsação e eu suspirei.
— Você não quer meus filhos, passarinha? — Rocco mordeu
minha pele e eu soltei o biquíni sem perceber. Suas mãos
agarraram meus mamilos e eu suspirei, gemendo. — Responda.
— Sim, não... Só não é o momento, Rocco — murmurei sob
minha respiração e ele me pegou nos braços, segurando minha
bunda.
Rocco me empurrou contra a parede e puxou a corda lateral
do meu biquíni. Sua boca pegou meu mamilo esquerdo enquanto a
calcinha caiu, me deixando nua. Ele empurrou seu pênis para dentro
de mim lentamente e eu gemi sentindo sua língua sacudir em meu
seio.
Rocco me fez gozar com alguns toques em meu clitóris e
mais uma vez ele despejou dentro de mim, desprotegido.
— Sua boceta deseja meu herdeiro, pelo que parece —
Rocco murmurou com a voz rouca e eu encostei minha testa em seu
ombro enquanto ele se retirou de mim. Desci dos seus braços e me
coloquei sobre as minhas pernas instáveis, ainda sem respondê-lo.
— Você vai ter meu herdeiro, passarinha. Uma hora ou outra. —
Rocco segurou meu queixo e me fez erguer o olhar para o seu. —
Mas, se você quer, por agora, tomar anticoncepcionais, tudo bem.
Vamos ao médico.
Eu acenei, engolindo em seco, aliviada.
Encontrei Lunna na cozinha depois de tomar banho. Ela
sorriu para mim enquanto separava os ingredientes que pediu para
Lake pedir a Matteo para comprar. Ajudei cortando os legumes e ela
deixou música tocando. Eu ri quando ela dançou e me juntei a ela,
me sentindo leve. Bem.
Meu celular vibrou em meu bolso e eu o peguei. Meu coração
acelerou quando vi o nome de Salvatore. Cliquei na mensagem e
suspirei.
"Estou em casa. Obrigado, Sienna."
"Você está bem? Realmente?"
"Sim. Não se preocupe comigo. Preciso ir."
Eu suspirei, e mordi meu lábio. Lunna me olhou e eu forcei
um sorriso.
Ainda estava dividida em alívio e raiva. Não conseguia tirar a
cena de ontem da minha cabeça. Da minha mão tremendo e eu
apontando a arma para a cabeça de Rocco. Eu ficava me
perguntando por quê. Por que não atirei?
No entanto, dentro de mim, a verdade era sangrenta, dolorida
e difícil de digerir ou pronunciar.
Eu amava Rocco. Porém, como? Como eu o amava? Como
eu me apaixonei assim? Em qual momento? E por quê? Eu amava o
que nele? O sexo, as intimidações, a possessividade?
A cada vez que eu parava para pensar, mas culpada eu me
sentia por amá-lo.
Nós terminamos de preparar o jantar rindo e dançando. Em
seguida, nós subimos para tomar banho. Vi Rocco na cama, com o
notebook no colo, assim que entrei no seu quarto. Passei por ele até
o closet e peguei um vestido preto bonito que eu havia usado e
deixado aqui junto com as outras coisas. O levei para Lunna no
quarto de Lake e ela me agradeceu sorrindo.
Subi para meu quarto e escolhi um vestido prata, curto e com
mangas finas. Não era nada demais, porém era a primeira vez que
Lunna jantaria conosco. Eu queria estar bonita.
Voltei ao quarto do Rocco para pegar um dos meus saltos
que estavam em seu closet e o vi na cama, ainda com o
computador.
— Você está bonita — Rocco falou me olhando de cima a
baixo depois que saí com os sapatos.
Seu notebook agora estava fechado e ele estava deitado,
com a mão atrás da cabeça. Sua barriga a mostra e a linha da
cueca visível acima da calça de moletom.
— Vamos descer? É um jantar importante — pedi, me
aproximando e ele segurou minha cintura, me puxando, fazendo eu
cair na cama. Rocco ficou sobre mim e eu ofeguei assustada com
seu peso. — Rocco!
— Tire a calcinha.
— O quê? — arqueei, chocada e Rocco lambeu meu pescoço
me fazendo ficar tensa.
— Eu quero sua calcinha. Tire-a.
Eu me odiei por sentir umidade se projetar em minhas
dobras. Eu amava a sujeira que Rocco fazia. Eu acenei, querendo
descer logo —e curiosa sobre o que ele faria —, e Rocco se
afastou. Eu me ergui e subi meu vestido sentindo meus dedos
trêmulos. Rocco observou o tecido prata em volta da minha cintura
enquanto segurei a calcinha rendada e preta. Desci ela devagar
pelas minhas pernas e a entreguei a Rocco. Meu ventre se apertou
ao ver ele levar o tecido pequeno ao rosto, cheirando. Desci meu
vestido e me afastei em cima dos meus sapatos.
— Vem aqui — pediu, porém, fiquei firme no chão.
— Rocco, por favor, não quero descer atrasada...
— Quanto mais rápido vier, mais rápido desceremos —
indicou e eu suspirei, me aproximando. Sua mão entrou embaixo do
meu vestido e seus dedos tocaram minhas dobras. Minhas
bochechas ficaram em chamas quando ele levou o dedo
encharcado aos lábios e lambeu. — Vamos.
Eu tremi e me afastei. Rocco vestiu uma blusa e nós
descemos juntos. Me sentei depois de servir a comida com Lunna, e
Rocco colocou a mão possessivamente em minha coxa, enrolando
os dedos até escovar o local onde minha calcinha deveria estar.
— Está muito bom. Vocês duas cozinham muito bem — Lake
elogiou comendo e eu suspirei, grata. Rocco deslizou os dedos pela
minha perna e me fez abrir as coxas, me fazendo ficar tensa. —
Você está bem, Sienna?
— Hum, sim. Aliás, Lunna fez tudo. Eu apenas cortei alguns
legumes — murmurei mudando de assunto e Rocco enfiou os dedos
dentro de mim, brincando, enquanto comia com a outra mão. Eu não
conseguia comer direito, estava em chamas e queria minha
libertação. — Pare — sussurrei, implorando, ao me inclinar em
direção a orelha de Rocco.
— Sua boceta está me pedindo algo diferente.
Eu ofeguei, com as bochechas e colo vermelhos. Olhei ao
redor, mas sua família estava focada em conversas paralelas entre
eles ou na comida. Seus dedos voltaram a me atormentar e pulei
quando Rocco derrubou um dos seus talheres no chão. Ele se
abaixou e lambeu os dedos molhados escondido.
Eu tremi, alcançando o clímax e tentei engolir meu gemido.
Rocco voltou a sentar e comeu sua comida normalmente enquanto
eu tentava não deixar transparecer a sua família que ele estava me
fodendo com os dedos na frente de todos.
E que eu apreciei cada maldito segundo.
Sienna estava com as bochechas vermelhas enquanto mexia
na comida. Ela nem conseguia comer e eu sabia que era porque
sua boceta estava encharcada. Seu colo visível estava vermelho
também e eu desejei lamber sua pele enquanto bebia o uísque que
estava na mesa.
— Você vai? — Prince questionou, enquanto Matteo me
encarou na ponta da mesa. Eles estavam murmurando sobre a
corrida.
— Sim. Vou saber que porra vocês veem naquele lugar —
murmurei de volta depois de afastar meu prato já vazio. — Você vai
conosco? — perguntei a Romeo segurando meu celular e ele
acenou.
— Navy Pier está movimentada ultimamente. Você vai agir
em cima deles? — Romeo deixou o gafo descansar no prato,
sondando.
— Está nos meus planos. Matteo tem uma bolsa de dinheiro
embaixo da cama. Talvez, ele seja o melhor indicado para dizer
como Navy Pier está dando lucro e nada do que é ganho está vindo
para a Outfit. — Eu virei meu rosto para meu irmão e ele ficou com
os ombros tensos.
As meninas olharam entre nós, incomodadas com a
conversa, e Matteo suspirou.
— Posso ficar à frente da Navy Pier. Prince pode me ajudar...
— Vamos falar sobre isso depois que eu ver o que acontece
lá, mais tarde.
Nós terminamos o jantar e seguimos para a sala. Sienna
andou para longe de mim, mas a segurei e me sentei puxando-a
para o meu lado. Lunna sorriu perto de Prince enquanto Romeo
ficou próximo a parede, de braços cruzados.
Encarei sua esposa ao lado Lake. Lunna não me olhou
quando percebeu minha atenção, apenas seus ombros tensos, me
deram a indicação de que ela sabia.
— Você é bem-vinda a mansão, Lunna. Venha quando
desejar e Romeo permitir, obviamente.
Ela ergueu o rosto e sorriu olhando de mim para Sienna, que
relaxou ao meu lado.
— Sienna pode ir à minha casa também? — sua pergunta fez
Romeo me encarar. Eu sabia que ele não queria minha esposa na
sua casa, estava visível em seu rosto tenso.
— Por enquanto, não — respondi segurando o olhar do meu
irmão. Essa desconfiança de Romeo com Sienna tinha minha
compreensão antes, mas agora estava me irritando.
— Vou subir. Tenho que estudar — Lake avisou colocando a
almofada de lado e beijou a bochecha de Lunna. Eu me virei,
olhando para Sienna que se despediu de Lake com um sorriso.
— Vou trocar de roupa para irmos — Matteo avisou e Prince
o seguiu dizendo que pegaria seu celular.
Sienna me olhou de lado e Lunna começou a traçar a costura
da almofada.
— Podemos ir com vocês? — ela perguntou sem nos olhar e
eu ri, balançando a cabeça.
— Não, Lunna. Agora vamos. Preciso deixá-la em casa. —
Romeo se moveu para a porta e Lunna acenou, se erguendo.
— Tchau, Si. Foi muito bom passar o dia com você e Lake —
a minha cunhada se despediu e saiu em seguida, seguindo seu
marido.
Sienna se remexeu ao meu lado e ergueu os olhos para mim.
— O que tem em Navy Pier? — Sua voz era cautelosa e
baixa. Eu segurei seu queixo e sorri.
— Corridas de motos, festas e drogas. — Dei uma resposta
vaga e Sienna engoliu em seco. A veia saltada em seu pescoço me
chamou e eu me inclinei lambendo e mordendo. Puxei seu corpo
para cima de mim e Sienna ficou tensa em meu colo.
— Rocco, aqui não. — Sua voz era baixa, e o tremor não
passou despercebido. — Seus irmãos vão descer...
— No instante em que ouvirem seus gemidos eles voltarão
pelo mesmo caminho — disse, tocando suas coxas e Sienna
mordeu o lábio me olhando. — Eu sei que quer.
— Mas...
— Sienna, eu não quero que meus irmãos ou qualquer fodido
escutem seus gemidos. Eu faço você gemer e gritar. Seus barulhos
são meus, todos eles e eu não divido, passarinha — afirmei, fixo em
seu olhar e ela engoliu em seco, acenando.
Subi seu vestido e apertei sua bunda enquanto libertava meu
pau das minhas calças. Sienna deslizou em cima de mim e eu mordi
seu mamilo por cima do vestido, fazendo-a gemer. Os quadris dela
rebolaram em cima de mim enquanto eu segurava sua cintura e
mergulhava meus dedos em seu clitóris.
Suas mãos puxaram o vestido para baixo e eu gemi
assistindo seus seios pularem diante dos meus olhos. Capturei um
mamilo e balancei minha língua mordendo devagar. Senti sua
boceta pulsar e Sienna gozou, chupando minha porra para seu útero
desprotegido. Sua cabeça pousou em meu ombro e eu baixei seu
vestido, cobrindo sua bunda.
Sienna arrumou o topo, guardando os seios e beijou meu
pescoço. Foi gentil, demorado e eu franzi as sobrancelhas
encarando a parede da sala.
— Saia — ordenei firme e Sienna ficou tensa. Ela tentou se
afastar, mas a segurei com os olhos presos em Matteo. — Saia
antes que eu enfie minha faca em seus olhos.
Meu irmão revirou os olhos e se afastou. Tirei Sienna do meu
pau e ela ficou de pé enquanto eu me ergui e me vesti.
— Eu avisei a você — Sienna acusou com o rosto vermelho e
eu a puxei para mim. — Ele nos viu. Que vergonha...
— Meu irmão sabe o que é sexo, Sienna.
— Eu sei — ela suspirou quando mordi seu lábio inferior. —
Cuidado em Navy Pier ou o que quer que seja isso. — Sienna riu ao
falar e eu me afastei soltando sua cintura.
— Vamos subir, preciso me arrumar. — Acenei para a escada
ignorando sua fala. Eu tinha cuidado em cada passo que eu dava.
Os traidores da Outfit estavam exterminados, mas eu ainda
continuava olhando sobre meu ombro.
Deixei Sienna no quarto e depois de tomar banho encontrei
meus irmãos na sala. Passei por Prince e andei diretamente a
Matteo. Empurrei meu punho e soquei sua barriga. Ele engasgou
sem esperar e eu o empurrei até a parede. Romeo e Prince nos
encararam enquanto eu fuzilava meu irmão.
— Você a ouviu, sabia o que estávamos fazendo, mas ainda
assim, entrou na sala. Você queria ver minha mulher, Matteo? —
gritei questionando e Matteo balançou a cabeça franzindo as
sobrancelhas.
— Eu estava com fones de ouvido. Não quero ouvir você
fodendo, Rocco. Sai fora! — Ele me empurrou me olhando de volta.
Eu me afastei soltando sua camisa e Matteo se ajeitou. — Você
perdeu sua mente por causa de uma mulher. É vergonhoso.
— Rocco! — Romeo gritou quando eu soquei Matteo, porém,
dessa vez, no rosto. Ele segurou a bochecha me encarando sem
titubear. — Porra, fiquem calmos caralho.
— Nunca mais fale assim comigo — avisei a Matteo e me
afastei olhando para os três. — Eu não ligo se vocês estão irritados
comigo ou com a maneira que conduzo a porra da minha vida e a
Outfit, mas eu exijo respeito de todos, e isso inclui vocês. Meu
sangue. Se tem algum problema com Sienna falem. No entanto,
arquem com a minha reação em seguida.
Prince acenou primeiro enquanto Romeo e Matteo apenas
me encararam.
— É sua fraqueza. Você vai cair por ela.
— Não vou cair, Romeo, muito menos por Sienna — devolvi a
Romeo que balançou a cabeça, sério.
— O pai estava certo. — Matteo abriu a boca e eu me virei
rápido, pronto para enforcá-lo. — O amor é para tolos. Para homens
que desejam a fraqueza. Eu nunca irei casar ou ficar com uma
mulher que me domina.
— Sienna não me domina. Eu apenas exigi respeito. Ela
nunca fez nada a você, seu merdinha insolente. Agora pare de falar
porcarias e saia.
Matteo respirou fundo e se afastou, indo para a cozinha.
Prince o seguiu e Romeo ficou no mesmo lugar.
— Se controle. Matteo é nosso irmão, não seu inimigo.
— Por que eu me controlaria? Matteo está sendo um idiota. E
você também — avisei baixo e meu irmão respirou fundo.
— Só não quero que se decepcione quando ela o esfaquear
pelas costas. Sienna é perigosa.
— Você olhou realmente a ela? Aposto que Lunna é mais
perigosa — ironizei e meu irmão semicerrou os olhos. — O quê?
Você pode falar da minha esposa e eu não posso falar da sua?
— Lunna não tem nada a ver com nossa merda, Sienna sim.
— Lunna não tem? — Encarei os olhos do meu irmão e ele
desviou primeiro. — Cuidado, Romeo.
Me movi para o bar e me servi virando o copo. Romeo se
moveu para o meu lado e fez o mesmo.
— Matteo e eu não temos nada contra Sienna, mas no nosso
mundo, mulheres servem a um propósito e por mais que a gente
goste delas de verdade, nunca devemos demonstrar aos outros,
Rocco. Esse sentimento deve ficar entre as paredes do seu quarto.
As pessoas usam nossos sentimentos contra nós mesmos.
— Não amo Sienna, Romeo. Pelo amor de Deus...
— Ótimo. Isso é maravilhoso, mas se alguma parte de você
acha que esse sentimento pode surgir, se afaste. Eu fiz e faço isso
há dois anos desde que percebi que eu poderia amar Lunna e é um
inferno, mas eu nunca colocaria minha esposa em perigo, porque eu
não a amo. Eles não podem usá-la contra mim.
Romeo se afastou com sua bebida e eu fiquei encarando o
copo de vidro entre meus dedos. Apertei, sufocando por dentro e ele
quebrou me dando satisfação por alguns segundos.
— Somos seus irmãos. Eu nunca lhe trairia, Matteo, Prince e
Lake, também não. Mas você pode ter essa certeza com Sienna?
Você dorme ao lado dela sem se preocupar que ela possa colocar
uma arma em sua cabeça?
Romeo não sabia que isso já tinha acontecido.
— Ela já fez isso — admiti baixo me virando e meu irmão
arregalou os olhos, em pânico. — Ela não conseguiu apertar o
gatilho, então o levou para a própria cabeça. Sienna não me
machucaria. Ela atirou em si mesma, mas não puxou o gatilho.
— Que porra é essa?
— A arma estava descarregada. Eu durmo tranquilo, Romeo,
porque Sienna preferiu machucar a si mesma, que a mim — afirmei
olhando para o meu irmão e ele ainda parecia chocado.
— Não consigo acreditar que ela fez isso... — Ele franziu a
testa e eu me movi deixando os cacos de vidro para trás.
— Sienna pode te surpreender.
Romeo não respondeu nada e logo Prince e Matteo
voltaram.
— Vamos ver o que Navy Pier tem a nos oferecer — falei
pegando meu casaco e eles acenaram.
Saí com meus irmãos e quando entrei em meu carro Prince
me acompanhou. Matteo foi no seu e Romeo também. Eu dirigi
rápido e quando passamos pela entrada do lugar, ninguém nos
parou. Estacionei perto da largada e as pessoas olharam ao redor,
tensas, encarando a mim e meus irmãos.
— Rocco. — Um homem com a minha idade ou algo próximo
disso se aproximou e eu vislumbrei um tremor em sua mão
estendida. Olhei dela para o seu rosto sentindo meus irmãos ao
meu lado.
— Acho que a Outfit deveria saber sobre seus negócios, ou
não? — questionei abertamente e o homem engoliu em seco
olhando ao redor, em busca de uma saída. Não tinha uma.
— Podemos falar sobre...
— Não é necessário. Matteo está assumindo o andamento
das corridas e as apostas. Você já estava se aposentando, certo? —
anunciei sorrindo e o homem engoliu em seco. Seu aceno foi feito
segundos após. — Que bom. Vamos lá, quero ver uma de suas
corridas.
O homem se apressou e nós ficamos perto de um dos carros
assistindo. Matteo não saiu do meu lado igual Romeo e Prince. Sua
bochecha estava vermelha, mas o gelo que ele enfiou na cara deve
ter ajudado. Não confronto meus irmãos, principalmente Matteo e
Prince. Romeo cresceu brigando comigo, tínhamos prática, mas os
mais novos não. No entanto, não era a primeira vez que soquei
Matteo, e eu sabia que não seria a última, mas o motivo disso me
causa irritação.
Eu sabia que Sienna era um problema desde que a vi, mas
agora, isso estava nítido até para a minha família.
E eu não gostava disso.
Não se deve esperar algo bom, mesmo que ele tenha sido
lhe dado antes. É a vida. A minha vida. Mamãe sempre me dizia
isso, mas eu não acreditei. Desde pequena eu tentei a todo custo
encontrar brechas para que um matrimônio se tornasse bem
sucedido. Eu estava sendo tola. Casamento não é uma empresa.
Ele envolve duas pessoas distintas. E na máfia, ele envolve apenas
honra e dever.
Andei de um lado para o outro no quarto e a luz da lua
inundava o cômodo pela janela. Eu não via Rocco desde ontem à
noite. Ele não voltou para o quarto e durante o dia não estava em
lugar algum. Mordi meu lábio tentando me convencer de que ele
está apenas ocupado. Que está trabalhando e não teve tempo, mas
já passava de uma da manhã e ele não tinha vindo até aqui mais
uma vez. Onde Rocco estava?
Parei de andar e respirei fundo. Abri a porta do quarto e desci
as escadas tentando não fazer barulho. Assim que cheguei ao
térreo fui em direção a sala de jogos, porém estava vazia. Andei
para a cozinha e novamente me vi olhando para o cômodo solitário.
Ao me virar vi o cais pelo vidro da porta e me encostei,
respirando fundo. Procurei Rocco, mas era em vão. Ele não estava
em lugar nenhum. Andei de volta para a sala e quando pisei na
escada ouvi a porta abrir. Medo disparou pelo meu corpo,
relembrando a noite em que o homem entrou aqui e machucou
Tebow.
A visão de Rocco entrando fez meu estômago esfriar graus
absurdos. Seu cabelo estava assanhado, sua camisa amassada e o
cheiro de uísque chegou a mim. Porém, nada disse me fez ficar
doente. Era as marcas.
Rocco se aproximou sem realmente me ver e eu o cheiro da
bebida misturado a um perfume doce e barato atacou meu nariz.
Demorei apenas um segundo para saber que ele estava com outra
mulher. Rocco dormiu com outra mulher.
— Passarinha. — A voz dele me fez ficar tensa e me afastar,
abruptamente.
— Onde você estava? — Minha voz quebrou no final e Rocco
semicerrou os olhos, se aproximando mais.
— Sienna...
— Não se aproxime. Seu cheiro... — Eu me afastei
novamente e balancei a cabeça, com nojo. — Você está fedendo a
puta dos pés à cabeça.
— Vai para o quarto. — Ele acenou para as escadas e eu me
movi querendo ficar longe dele.
Subi as escadas me sentindo sufocada e limpei a lágrima que
escapou. Rocco não merece isso. Ele nunca mereceu e nem vai.
Por que eu continuo tentando? Por que eu me engano dessa
maneira doentia?
Assim que entrei no seu andar eu fechei a porta, mas ela se
abriu quando alcancei o corredor.
— Sienna, vem aqui. — A voz dele fez minha coluna se
enrijecer. Me virei vendo Rocco tirar a blusa e abrir o zíper da calça.
— Não se atreva...
— Você está irritada porquê? — Rocco sorriu e isso fez meu
estômago revirar. — Passarinha, eu não prometi fidelidade.
— Tudo bem. Mas você não me toca mais. Nunca mais,
Rocco — eu devolvi tremendo de ódio, ciúmes e muita impotência.
O que eu faria? As lágrimas se reuniram novamente, mas eu
pisquei, afastando-as. Não daria esse gosto a Rocco.
— Você é minha Sienna. Eu toco em você quando eu quiser.
— Suas palavras foram firmes, com raiva e eu me questionei
repetidamente o que tinha acontecido. Ontem estávamos bem, no
nosso tipo de bem pelo menos. Depois que saiu, ele mudou. Não
dormiu comigo em seu quarto e fodeu outra mulher.
— O que aconteceu? Por que está agindo assim? —
perguntei, engolindo em seco, afastando suas palavras de posse.
— Venha aqui.
— Pare! Só me responde com honestidade. O que fiz? Você
está irritado comigo? Por que você me traiu, mais uma vez, Rocco?
— eu questionei tentando compreender, enquanto ele apenas se
aproximou com o cheiro da outra mulher nele. A cada respiração eu
tinha vontade de vomitar.
— Tire o cheiro dela de mim. Coloque o seu... — Rocco se
inclinou e eu desviei meu rosto olhando para o lado.
— Eu estava aqui, esperando por você ontem. Você não
voltou. Preferiu tocar uma mulher qualquer a mim e você acha que
vou dormir com você?
Rocco puxou minha cintura e meu corpo colidiu com seu
peito.
— Sim, eu acho. — Ele levou a mão a minha calcinha e seus
dedos afastaram o tecido, me prendendo.
— Não faça isso — pedi, tremendo, tentando empurrá-lo.
Rocco apenas lambeu minha pele. O cheiro da outra mulher atacou
meus sentidos novamente e eu o encarei.
— Por quê? — Rocco questionou sorrindo e mordeu meu
lóbulo. — Sua boceta está molhada, passarinha. Por que será? —
ele questionou tirando os dedos de dentro de mim. O líquido nas
pontas dos seus dedos brilhou antes dele lamber.
— Você vai me forçar? — perguntei, ignorando sua fala, e
Rocco ficou sério enquanto suas mãos caíram ao lado do seu corpo.
Seu olhar azul ficou petrificado e eu me afastei, encarando-o e
andando para trás. — Foi o que pensei. Boa noite, Rocco.
Eu entrei em seu quarto, onde eu dormia com ele e onde
minhas coisas estavam se acumulando, e fechei a porta. Minhas
costas deslizaram pela madeira escura e eu colei minhas pernas ao
peito apertando minhas pálpebras, querendo enganar as lágrimas.
Querendo fugir das minhas emoções.
Tebow se ergueu e caminhou até mim. Ele colocou a cabeça
em meu pé e eu o acariciei devagar, engolindo em seco.
— Ele não me merece, Tebow. Nunca vai e quanto antes eu
entender isso, mas rápido meu coração vai parar de esperar amor
da parte dele — murmurei na escuridão para o meu cachorro e
solucei incapaz de segurar as lágrimas. Tebow lambeu meus dedos
e eu encarei a lua, visível pela janela, pedindo a quem quer que
estivesse me ouvindo que me fizesse parar de amá-lo. Que
destruísse esse sentimento dentro do meu peito. Para que eu
parasse de implorar pelo amor de Rocco.
O diabo não é capaz de amar. Ele finge bem, mas o
sentimento nunca está presente. Agora eu sabia.
Fui para a cama e Tebow me seguiu. Eu parei de chorar em
algum momento e quando enfim, adormeci pedi forças para
continuar vivendo com Rocco, aturando as suas traições.

— Você tem certeza de que está bem? — Lake perguntou


mais uma vez enquanto eu terminava meu café da manhã.
Consegui marcar uma consulta no ginecologista e era hoje. Ontem,
eu passei o dia esperando por Rocco para avisar, mas ele não
apareceu.
— Sim. Está tudo bem. — Eu sorri e afastei a xícara com
café. Encarei Matteo e Prince e deixei um suspiro audível escapar.
Os dois me olharam e eu engoli em seco. — Tenho médico em uma
hora. Algum de vocês pode me acompanhar? Eu iria sozinha, mas
não tenho permissão.
Os dois semicerraram os olhos e olharam um para o outro.
— Rocco deixou?
— Sim. Ele sabe que preciso ir ao médico — respondi Matteo
e ele deu de ombros.
— Eu te levo.
Eu acenei aliviada e me ergui quando todos acabaram de
comer. Matteo me acompanhou até o carro dele depois que subi e
peguei minha bolsa e casaco. Assim que ele fechou a porta do
carro, eu coloquei meu casaco.
O vestido preto alcançava meus joelhos e era apertado. O dia
não estava tão frio, mas o tempo virava em Chicago como em
nenhuma cidade. Segurei minha bolsa apertada enquanto Matteo
colocou música. Olhei pela janela vendo a paisagem borrada e
suspirei.
— Por que Rocco não veio com você? — meu cunhado
questionou e eu virei para encará-lo. Seu rosto estava focado na
pista.
— Não o vi hoje. Eu não o quero comigo também — falei
rápido e engoli em seco ao ver o rosto de Matteo se contorcer.
— Ele é seu marido.
— Sim. Eu sei perfeitamente, seu irmão é o único que
esquece. — Minha voz soou mordaz e ele ficou em silêncio.
Assim que chegamos na clínica Matteo me seguiu e nós
entramos no elevador. Meu celular tocou e eu abri minha bolsa, à
sua procura. Porém, a chamada caiu antes. O de Matteo começou
assim que vi o nome de Rocco na tela do meu celular.
— E aí? — Matteo respondeu despreocupado e com alguns
segundos me encarou. — Ela disse que você sabia.
Rocco.
— Estamos em uma clínica. Levarei ela assim que
acabarmos. Ok.
Matteo guardou o celular e cruzou os braços em cima da
blusa preta.
— Rocco não sabia do seu médico. Você mentiu para mim.
— Ele parecia irritado e eu tive a certeza quando sua mão apertou.
— Eu o avisei e pedi permissão para ir ao médico. Ontem, eu
marquei e o esperei chegar para dizer, porém, ele estava entretido
com uma prostituta e só chegou de madrugada. Não consegui
avisar.
Matteo ergueu as sobrancelhas e eu acenei, sorrindo
amargamente.
— Não menti. Desculpe se não ficou claro — eu
disse engolindo em seco e as portas se abriram. — Não vai
demorar.
Matteo acenou e sentou na sala de espera. Eu fui até a
atendente e ela sorriu, dizendo que a médica estava a minha
espera.
— Bom dia, Senhora Trevisan. Eu sou Lessa — a médica me
saudou e eu sorri estendendo a mão para ela. Nós nos sentamos.
Lessa fez algumas perguntas e pediu para colher sangue. Eu
estremeci diante da agulha, mas fiquei firme. Quando ela me pediu
para tirar a roupa e vestir uma bata simples, eu fiquei mais tensa.
Com um sorriso simpático ela me explicou que faríamos uma
ultrassonografia. Relaxei e troquei de roupa. Me deitei na maca e
ela começou o exame.
— Você está ovulando. Se não quer bebês, não namore sem
proteção — ela avisou em tom de brincadeira e eu sorri, acenando.
Depois de me vestir, Lessa me receitou um anticoncepcional
e quando eu saí, vi Matteo andando de um lado para o outro.
Quando me viu, ele relaxou e se virou andando para o elevador.
— O que foi? — questionei franzindo as sobrancelhas.
— Seu marido enchendo o meu saco. Você demorou —
Matteo acusou chateado e eu suspirei, agarrando minha bolsa.
— É uma consulta, Matteo. Demora um pouco — resmunguei
de volta e ele revirou os olhos.
— Na próxima eu não venho — avisou, mal humorado e eu
suspirei acenando.
Nós chegamos em casa depois de vinte minutos. O carro de
Romeo estava estacionado e eu pedi silenciosamente que Lunna
estivesse aqui. Assim que entramos eu vi Lake e Prince jogados no
sofá. Ela sorriu enquanto ele apenas acenou.
— Já almoçaram? — perguntei parando de andar e Matteo
passou por mim, subindo as escadas.
— Sim. O seu está micro-ondas. Está tudo certo? — Lake
questionou e eu acenei andando para a cozinha. Ela me seguiu,
deixando Prince para trás.
— Foi apenas uma consulta de rotina. Eu precisava de
anticoncepcionais. — Deixei escapar colocando minha comida para
esquentar e Lake franziu a testa.
— Você não quer filhos — ela concluiu sozinha e eu abri a
boca para explicar, porém não consegui. — Eu sei que algumas
mulheres não têm esse desejo.
O micro-ondas apitou e eu tirei meu prato. Queria que esse
fosse o caso, mas não era. Me sentei na mesa e suspirei, tentando
encontrar palavras.
— Eu amo crianças. Sonho em ser mãe desde pequena e
acho que vou amar meu filho mais que a mim mesma, porém estou
casada há apenas alguns meses. É cedo. Rocco e eu temos tempo
— expliquei sentindo um gosto amargo ao falar o nome dele.
Me imagino grávida, com enjoos, barriga inchada e chorosa
tendo que assimilar as traições de Rocco e nossa vida. A máfia. Eu
não queria que o momento em que eu estivesse tão realizada fosse
ofuscado pela dor de saber que Rocco via outra mulher.
Eu poderia mentir mil vezes e nas mil, eu ainda me sentiria
fracassada. Eu estava apaixonada e sua traição estava doendo.
Machucando tão profundamente quanto a de Milena. Só que
diferente dessa, a com Milena foi antes de tudo. Antes de eu me
entregar sem reservas, de dormirmos juntos. Antes de eu saber que
o amava.
— Eu entendi e não te julgo. Vocês ainda serão muito felizes.
Eu desejei ardentemente que Lake estivesse certa, mas ela
não estava.
Terminei de almoçar e subi as escadas até o quarto. Quando
entrei no closet do quarto escuro olhei ao redor e me senti doente.
As coisas dele tinham sumido. Tudo.
Dei alguns passos com as pernas instáveis e vi quea maior
partedo closet estava vazia. Lutei contra minha respiração, tentando
ficar calma, mas a cada cabide deixado, meu coração trincou em
milhões de pedaços. Eu não percebi que estava caindo até parar no
chão.
Não sei por quanto tempo fiquei na mesma posição, mas eu
não conseguia me mexer. Quando uma mão tocou meu ombro, eu
estava soluçando baixo, tremendo de medo. De tudo. De mim, do
meu coração, de Rocco.
— Você está bem? — Prince perguntou acima de mim e eu
acenei piscando e mordendo meu lábio.
— Sim.
Não. Eu estava longe de estar bem.
Eu me sentia destruída e me odiava por isso.
Prince saiu assim que me ergui. Ele me olhou como se
sentisse pena de mim, como se me ver fosse quase demais. Eu
odiava que sentissem pesar. Eu não deveria estar em posição de
coitada. Eu não era assim. Minha família me ensinou muitas coisas
deturpadas, mas com certeza, ser forte não era uma delas.
Saí do closet pegando meu celular e entrei em meu quarto.
Me sentei na cama depois de tirar as botas e peguei meu
travesseiro. Abri minha conversa com Lunna e tentei pensar se eu
deveria falar sobre isso. Sobre Rocco. Sua lealdade estava com
Romeo e eu entendia, porém eu estava me sentindo sozinha e
precisava conversar com alguém. Minha mãe nunca entenderia isso,
Lake era uma criança e o restante na casa era homem. Eles me
achariam tola.
"Você está ocupada?"
Mordi meu lábio e enviei a mensagem. Não demorou muito
para ela responder.
"Não. Está tudo bem?"
"Romeo já traiu você?"
Dessa vez, Lunna não respondeu rápido e eu ponderei se eu
tinha ido longe demais.
"Sim."
Foi apenas uma palavra e eu senti, mesmo longe dela, o
quanto essa única palavra estava doendo.
"Eu sinto muito, Lunna."
Enviei e suspirei teclando novamente.
"Como você superou? Rocco está vendo outras
mulheres. Eu me sinto fracassada."
"Eu não superei. Minha mãe me disse que eu deveria
fingir que ele não faz isso. Mas, como? Não dá."
Me encolhi ao ler o conselho da mãe de Lunna. Eu jamais
conseguiria.
"No entanto, não é nossa culpa, Sienna."
"Eu sei. Estou machucada. Isso é tudo."
"E eu entendo. Vai ficar tudo bem. Podemos tomar um
café por esses dias? Romeo está flexibilizando minhas saídas.
Peça a Rocco. Use a traição contra ele."
"Farei isso. Obrigada, Lunna e eu sinto muito."
"Eu também."
Deixei meu celular de lado e levei a mão aos meus cabelos,
suspirando. Tebow arranhou a porta e eu me ergui para abri-la. Sorri
ao ver ele entrar rápido. Me virei para voltar a cama e parei ao ver
meu reflexo no espelho ao lado da porta do closet. Meus olhos e
nariz ainda estavam vermelhos do choro. Fiz uma careta e
pressionei meus dedos contra meu rosto.
Escutei meu celular tocar e voltei para a cama. O nome de
Sal no visor me fez tremer. Relembrar meu irmão aqui dias atrás me
deixa novamente em pânico. Até aquele momento eu não sabia que
sentia algo tão forte por Rocco. Eu soube que o amava apertando
aquela arma contra sua cabeça.
A ligação de Salvatore parou e uma mensagem chegou
instantaneamente.
"Eles querem matar você."
O que? Franzi o cenho teclando para o responder.
"Do que está falando?"
"Os Trevisan querem você morta. Eles farão isso em
breve para que Enrico entre em Chicago. Eles querem uma
reação."
Não. Era mentira.
"Isso não pode ser verdade. Sal, eles não farão isso. Eles
nunca me machucariam."
"É o que eu ouvi enquanto estava aí, Sienna. Não é uma
mentira. Conversei com Enrico. Nós vamos buscá-la."
Não!
"Eu não irei. Rocco não faria isso comigo. Confie em
mim, Sal. Por favor, ele não fará isso."
"Não vou arriscar sua vida. Eu morrerei dessa vez, mas
você vai estar segura."
"Sal, eu sou a mais velha de nós dois. Eu não estou
enganada. Ele não faria isso comigo."
"Um ano mais velha. Só isso. Não discuta, Sienna. Esteja
preparada."
As lágrimas embaçaram a minha visão enquanto eu teclava e
meu celular tocou segundos depois que enviei a mensagem. O
nome de Rocco apareceu e eu estremeci. Ele seria capaz disso?
Rocco me queria morta?
— Oi — respondi ao atender e vi uma nova mensagem de
Sal chegar. Fechei meus olhos e sentei na cama.
— Por que você demorou no médico? — A voz de Rocco
soou irritada e eu engoli em seco.
— Não demorei. Foi uma consulta de rotina e ela leva tempo.
Ele não me respondeu e eu suspirei sentindo o celular vibrar
com uma mais uma mensagem.
— Era somente isso? — perguntei querendo encerrar a
chamada.
— Sim.
— Ok. Aliás, gostaria de tomar um café com Lunna. — Deixei
as palavras saírem e Rocco ficou em silêncio por alguns segundos.
— Prince irá com você.
E ele desligou.
Corri para minhas mensagens e mordi meu lábio.
"Não estamos em uma conversa onde debate é plausível,
Sienna. Não vou deixar esse filho da puta matar você. Juliano e
eu vamos buscá-la. Rocco não espera isso e dessa vez, eu não
serei descuidado."
Eu apertei o celular entre os dedos enquanto balançava a
cabeça.
"Ele vai matá-lo. Eu não posso deixar que você e Juliano
se arrisquem."
"Ele não espera nossa ida."
"E se ele estiver vendo nossas mensagens?"
Apontei, tentando colocar algum juízo na cabeça doida de
Salvatore.
"Ele não está. Sienna, não dê as costas ao seu sangue.
Eu quero você bem, enquanto Rocco quer matá-la pela Outfit.
Para chegar a Enrico. Não dificulte isso."
"O que farei aí? Não tenho minha virgindade. Casei com
o inimigo. Eu serei uma pária e você sabe disso, Sal."
"Juliano casará com você. Vai ficar tudo bem, Si. Eu
prometo."
Meu irmão me prometeu, mas eu ainda estava sufocando.
Por quê? Era uma saída, não era? Eu estaria longe de Rocco e de
suas traições. E se Salvatore estava certo, eu estaria salva. Salva
da morte.
"Estou com medo."
"Tudo ficará bem, Si."
Eu me apeguei as suas palavras e apaguei nossa conversa
do celular. Tebow me olhou deitado aos meus pés e eu senti meu
coração ser rasgado ao perceber que eu não ficaria longe só de
Rocco. Eu não veria mais Tebow, Lake e Lunna.
Isso se Sal e Juliano conseguissem. Entrar em Chicago foi
uma ilusão antes, como eles conseguiriam agora? Mordi meu lábio
me deitando e bati na cama chamando Tebow. Ele subiu e eu
acariciei seu pelo devagar.
Não percebi quando ele se aproximou e lambeu meu pulso.
Suspirei e fiquei quieta esperando algo clarear meus pensamentos.
Estava cansada de me questionar se Rocco realmente estava
planejando isso. Por um momento, eu pensei tão firme que não,
mas em seguida lembrei que eu não o conhecia. Rocco era um
mistério e eu odiava não conseguir decifrá-lo.

Quando Rocco chegou à noite eu ouvi passos na entrada do


nosso andar. Saí do seu quarto, onde eu estava dormindo sozinha,
enquanto ele ficava Deus sabe onde, e parei no corredor.
Rocco estava de costas curvado sobre o sofá. Fiquei em
silêncio o observando e vi quando ele tirou uma das suas armas do
coldre. Ela era prata e brilhava na luz. Rocco a jogou no sofá e
respirou fundo.
— Não posso — ele balbuciou e eu percebi o celular em suas
mãos. — Eu quero você fora de Chicago.
Com quem ele falava?
— Milena, eu estou cansado pra caralho dessa sua
chantagem de merda. Ainda não a matei porque está grávida. Por
mim você já estaria apodrecendo a sete palmos do chão.
Eu ouvi suas palavras e elas se assentaram dentro de mim
como cimento, predando e rachando tudo. A dor que saiu do meu
coração e se espalhou pelo meu corpo foi intensa e agoniante.
Milena estava grávida de Rocco.
Eu não senti as lágrimas até que elas pingaram em meu colo.
Manchando tudo.
Destruindo meu amor por Rocco.

Na manhã seguinte eu desci as escadas depois de tentar


camuflar minhas olheiras. Não consegui. A palavra grávida estava
martelando dentro da minha cabeça. Martelando em meu coração
que parecia despedaçado.
Lunna disse que nosso café seria no centro de Chicago, em
uma cafeteria que ela encontrou no Google. Puxei as mangas do
meu casaco e olhei as botas pretas de salto. Minha calça grossa
desaparecia dentro dos canos médios da bota.
— Uau! Você está linda. — Lake se aproximou sorrindo e eu
sorri concordando com ela. Eu tinha caprichado, apesar de tudo.
— Obrigada. Eu irei com Lunna tomar um café — murmurei e
só nesse momento percebi que poderia ter incluído Lake. —
Desculpe, não lembrei de pedir a Rocco que fosse também.
— Eu adoraria, mas tenho aula on-line. — Ela fez uma careta
e eu ri, acenando. — Divirtam-se.
Eu agradeci e segui Prince para fora. Um carro estacionou e
eu vi Rocco sair vestido de preto dos pés à cabeça. Ontem, depois
de ouvir sua conversa com Milena eu voltei para o quarto e chorei.
Meus olhos ainda ardiam com o desejo, mas eu o reprimi. Não
choraria mais por Rocco. Nunca mais.
Não parei de andar como Prince, apenas me aproximei do
carro que ele destravou e entrei. Antes de bater à porta, no entanto,
uma mão a segurou. Ergui meus olhos para Rocco e ele se inclinou
invadindo meu espaço.
— Estou de olho em você. Cuidado, Sienna — a ameaça no
seu tom não passou despercebida. Eu pisquei e olhei seus olhos
azuis. Algo em mim se apagou lembrando de Salvatore e da
informação que me deu. Eu soube instantaneamente, que Rocco me
mataria, se precisasse.
— Bom dia, Rocco — murmurei de volta e ele semicerrou os
olhos. Rocco segurou meu queixo e eu puxei minha cabeça, me
afastando do seu toque. Ele segurou novamente e dessa vez eu
estava presa contra o encosto do banco.
Seu toque deixou rastros de fogo em minha pele. Eu queria
cuspir em seu rosto e nunca mais o ver. Queria que, pela primeira
vez, ele me deixasse em paz.
— Estou repensando se devo deixar você sair — balbuciou e
me deu seu sorriso sádico e irônico. Eu apenas o encarei de volta.
— Curta seu café.
— Eu irei.
Ele se afastou, e quando seu corpo estava longe, eu fechei a
porta. Rocco trocou algumas palavras com Prince e logo seu irmão
mais novo se aproximou.
Quando Prince parou na cafeteria só estávamos nós dois.
Franzi o cenho, porque os soldados sempre ficaram por perto.
— Onde estão os seguranças? — perguntei quando ele ficou
ao meu lado fora do carro.
— Lunna está com um. Como eu vim também, não era
preciso tantos homens. Estamos na nossa cidade — Prince me
respondeu como se eu tivesse feito uma pergunta idiota e seguiu
para dentro do local.
Eu vi Lunna assim que passei pelas portas. Ela sorriu,
acenando e eu me movi deixando Prince sozinho. Ele sentou em
uma mesa afastado e começou a mexer no celular.
— Bom dia! — Tentei sorrir ao murmurar e abracei a mulher
de cabelos pretos. Ela sorriu se afastando.
— Como você está? — Lunna sentou assim que me
acomodei na cadeira.
— Bem. Desculpe por ontem. Eu estava emotiva — sussurrei
forçando um novo sorriso. Lunna suspirou e quando abriu a boca
para falar algo, o garçom chegou.
Nós fizemos os nossos pedidos e quando ele se afastou,
Lunna me olhou.
— Eu sei o que está sentindo e queria dizer algo que
pudesse aliviar, porém nunca consegui encontrar.
Eu mordi meu lábio e segurei sua mão. Suas unhas eram
longas e como seu cabelo, estavam pintadas de preto. Prestando
atenção agora, eu só vi Lunna de preto.
— Ele me traiu assim que nos casamos. Eu pedi que não
fizesse isso, e eu pensei que ele tinha parado, mas dias atrás ele
chegou fedendo a mulher barata. Eu só sinto que fracassei...
— Já tive meus momentos com Romeo também. — Lunna se
inclinou respirando fundo e seus olhos focaram na taça de água a
sua frente. — É só se acostumar. Romeo e Rocco não serão fiéis.
Nunca.
Eu suspirei acenando. Ela estava certa. Eu deveria me
acostumar.
— Alguma ficou grávida de Romeo? — As palavras saíram
antes que eu pudesse pensar se era certo falar isso para Lunna.
Não queria meter a cunhada de Rocco em nosso casamento
fracassado.
— O quê? — Lunna arregalou os olhos e meu peito doeu
vendo seu olhar ficar úmido. — Rocco engravidou alguém?
— Sim, Milena. — expliquei por cima quem era e como
descobri. Lunna se ergueu e veio para o meu lado. Seu abraço me
deixou à beira de lágrimas e mais uma vez eu chorei. Afundei em
seus braços e solucei.
— Eu sinto tanto, Si. Tanto. Sei que você deve estar
despedaçada.
Eu estava, porque contrariando tudo, eu amava Rocco.
Amava desesperadamente.
Salvatore voltou a minha mente e eu me afastei para encarar
Lunna. Eu gostava dela e queria mais tempo. Esta seria a última vez
que nos veríamos?
— Você merece ser feliz, Lunna. Eu espero que seu bebê
faça isso quando você o tiver — disse engolindo em seco e sorri,
assistindo as bochechas dela ficarem vermelhas.
— Ele me fará. Imensamente. — Lunna sorriu e eu via em
seus olhos o quanto ela esperava por isso. — Espero que tudo se
resolva, Si. Do fundo do meu coração.
Nos afastamos e ela voltou para o seu lugar. Limpei meu
rosto e olhei para Prince. Ele ainda estava entretido em seu celular.
O garçom retornou e pedi a Lunna que mudássemos de
assunto. Logo, entramos em uma conversa sobre bolsas. Lunna me
mostrou alguns modelos novos de uma marca que ambas
amávamos e eu escolhi dois para comprar.
— Vocês estão prontas? — Prince perguntou se aproximando
e eu o olhei.
— Só vamos terminar o café. — Eu sorri para ele
tentandodisfarçar meu choro e meu cunhado acenou se afastando
mais uma vez.
— Ele me odeia. Matteo me olha, acena, mas Prince... Ele
mal me encara — Lunna me contou baixinho e eu encarei seu rosto
franzido.
— Matteo é o que me odeia. Romeo também — murmurei e
Lunna arregalou os olhos.
— Sério?
— Sim. Ambos me toleram. Porém, Romeo é o que mais
deixa claro que não gosta de mim — disse dividida entre alívio por
finalmente falar isso a alguém, e medo ao pensar que Lunna poderia
comentar com seu marido.
— Eu sinto muito. Romeo é difícil.
O eufemismo do ano.
— Todo Trevisan é, certo? — Sorri triste para aliviar a tensão
e Lunna acenou, relaxando.
Nós voltamos a comer e eu senti meu celular vibrar. Peguei o
aparelho e abri a mensagem de Sal.
"Onde está?"
Enviei o nome do local e Sal mandou apenas um ponto de
exclamação.
"É um café no centro da cidade. O que houve?"
Salvatore não me respondeu e eu suspirei guardando o
celular. Lunna estava me encarando e eu sorri, pegando o meu café.
— Sua família visita você? — perguntei tentando voltar a
conversar e ela desviou os olhos dos meus e encarou a mesa.
— A minha família é inimiga da Outfit. — Lunna deixou as
palavras saírem e eu arregalei os olhos, chocada. Lunna era da
mesma famiglia que a minha?
— Você também é...
— Era da Cosa Nostra. Como você — me interrompeu e
respirou fundo. Pude sentir e ouvir a repreensão na sua voz.
Eu estava chocada com a coincidência, mas sabia que
poderia acontecer. Lunna cresceu nos Estados Unidos, em Nova
Iorque, onde a famiglia tinha poder e comandava, enquanto eu
cresci na Itália, residência do nosso don, de Enrico.
— Não mantenho contato com ninguém. Eles são os nossos
inimigos e eu nunca trairia Romeo. É meu passado e ele está
enterrado.
A voz de Lunna era firme e eu a invejei. Desejei que, por um
momento, eu fosse assim também. Mas, a vida de Lunna não
estava em perigo, a minha sim. O marido dela não tinha
engravidado a amante, o meu sim.
A Cosa Nostra era minha única saída. Ela me manteria salva,
não a Outfit.
— Vamos lá — Lunna chamou se erguendo e eu a segui
engolindo minha saliva.
Prince suspirou aliviado e se aproximou com o segurança de
Lunna. Eu sorri para ela quando entrei no carro e acenei.
Prince dirigiu para longe e eu relaxei, olhando a paisagem.
Lembrei da mensagem de Sal e quando fui pegar meu celular,
Prince freou o carro, me jogando para a frente. O cinto apertou, me
segurando e eu olhei para meu cunhado com os olhos arregalados.
— Que porra? — ele gritou pegando o celular e tirando uma
pistola do cós da sua calça.
Ergui o rosto vendo dois carros cruzados na pista, nos
fechando e sufoquei um grito de pânico. Quando homens saíram do
carro eu me lembrei de Sal e comecei a tremer.
— Abaixa, Sienna — Prince gritou e começou a atirar
enquanto segurava o celular no ouvido.
Os tiros ressoaram em minha mente e eu me abaixei.
— Me encurralaram na estrada para casa. Rápido — ele
gritou e eu sabia que ele estava falando com um dos seus irmãos.
— Eles não estão atirando. Eles... Porra, eles querem Sienna.
Eu me encolhi e encarei Prince. Ele estava furioso, porém o
medo em sua íris me fez querer vomitar.
— Estamos chegando. — A voz de Romeo ecoou e eu fechei
os olhos pedindo para que isso parasse.
Quando abriram minha porta, Prince estava sem balas e
apenas ergueu as mãos.
— Vamos — alguém falou e no mesmo instante eu soube que
era Sal. Eu o encarei sob a máscara preta e olhei sua mão
estendida. Meus olhos se fecharam e eu senti lágrimas me
sufocando. — Agora! — meu irmão gritou e eu peguei sua mão. Sai
do carro e Sal encarou Prince com a arma em punho.
— Não o machuque — pedi puxando seu braço e Prince me
encarou. Algo em seus olhos me fez encolher. Ele sabia.
— Vamos! — Outra voz grossa soou e eu reconheci Juliano.
Sal me puxou enquanto eu estava presa aos olhos de Prince.
A decepção, o nojo e a raiva me paralisaram. Eu desviei os olhos
sem conseguir suportar e me colocaram em um carro.
O barulho de outros veículos se aproximando me fizeram
olhar pelo vidro. O carro de Rocco estava à frente, e eu vi seu rosto
pelo para-brisa.
Nunca o vi demonstrar tanta raiva e determinação. Seus
olhos azuis estavam focados em meu carro e eu duvidei de que eu
conseguisse sair de Chicago.
Rocco mataria todos antes de permitir isso.
Meus irmãos estacionaram ao meu lado e eu saí do carro
tentando com toda a força do meu corpo não transparecer que eu
iria destruir todos. Cada um deles. Eu mataria todos.
— Sienna sabia. O modo que ela me olhou. Ela sabia, Rocco
— Prince começou a falar furioso e eu vi Lunna descer do carro de
Romeo tremendo sem conseguir me encarar.
— Algum rastro? — perguntei a um dos soldados ignorando
meu irmão. Ele balançou a cabeça e eu segurei seu pescoço entre
meus dedos. Eu apertei vendo seus olhos se arregalarem. Procurei
a satisfação, a paz que eu precisava, mas não a encontrei. Eu não a
encontraria novamente. Soltei o homem e ele cambaleou segurando
seu pescoço enquanto eu me afastei. — Encontre-os.
— Rocco. — Meu irmão foi para a frente da sua esposa, a
protegendo de mim, assim que viu que eu ia na direção dela.
— Não fale! — gritei na cara de Romeo. — Saia da minha
frente.
— Você vai me derrubar para chegar a ela. — Eu empurrei
Romeo e peguei minha arma. Lunna gritou, saindo de trás do
marido e ficou diante de mim. — Lunna — Romeo rosnou e eu
baixei a arma. Não queria mirar essa merda na cara dela.
— Ela não me disse nada sobre fugir. Eu juro, Rocco...
— O que conversaram? — eu perguntei semicerrando os
olhos e apertando a pistola. — Diga tudo que ela falou. Cada
palavra do caralho, Lunna!
A mulher pequena tremeu e acenou, ficando completamente
imóvel. Tensão se espalhando por ela e por mim.
— Ela falou das suas traições. Nós falamos sobre bolsas e...
— Lunna parou e olhou para Romeo por um segundo, engolindo em
seco. — Sobre mim. Meu passado, mas ela não disse nada sobre
fugir. Eu juro.
— Ela só disse isso? Você tem certeza? — Eu apontei minha
arma para Romeo e ela deu um passo em minha direção.
— Ela disse que você engravidou sua amante. Ela ouviu você
falando ao celular... — As palavras de Lunna eram raivosas e eu
semicerrei meus olhos.
— O quê? — questionei, furioso e Lunna ergueu o queixo. —
Isso não é verdade, merda!
Romeo balançou a cabeça pegando sua esposa e se afastou.
Eu guardei minha arma me virando enquanto tentava pensar.
Sienna foi embora. Ela quis ir. Por causa da merda de uma gravidez.
Apenas os meus soldados mais fiéis estavam diante de mim
e dos meus irmãos.
— Vão para casa. — Todos me encararam chocados, porém
eu não me importava. Eu agiria do meu modo. Eles não me
ajudariam nisso, eu não os queria.
Entrei em casa seguido por meus irmãos. Lunna foi levada
para casa, Romeo não arriscaria a presença dela diante de mim. Eu
não o culpava. Eu poderia matar Lunna ou qualquer um nesse
momento. Andei até meu sofá e me sentei com os olhos cravados
na parede.
— O que vai fazer? — Matteo perguntou parado e ao seu
lado estava Prince, tão sério como nunca vi.
— Vou machucar cada um. Vou derrubar todos.
— Você realmente engravidou Milena? — Matteo fez mais
uma pergunta e eu neguei, sem querer enforcar meu irmão por
causa de perguntas idiotas.
Eu nunca transei com Milena sem proteção e desde Sienna
eu não toquei na porra do corpo de mulher nenhuma. Ela continuava
duvidando de mim.
Romeo respirou fundo e andou até a parede de vidro que
dava vista ao jardim. Eu o ignorei, porque eu estava com tanto ódio
dentro de mim, que eu poderia atirar nele.
— Você deveria ter matado Salvatore. Ele aprendeu sobre
nós enquanto esteve aqui. Ele sabia para onde ir, como fugir de nós
em nossa própria cidade — Romeo começou a falar e eu o cortei.
— Se você abrir a boca para falar algo que não seja uma
maneira de buscar minha esposa, guarde para si — ameacei me
erguendo e andei até Prince. — Como isso aconteceu?
Prince suspirou e falou que carros o fecharam. Os homens
esperaram suas balas acabarem e se aproximaram. Levaram
Sienna, em seguida. Ela foi com eles.
— Sei que quer retaliação. Eles pediram por guerra, mas
precisamos pensar com calma...
— Eu estou pensando. Se Enrico está com coragem para
entrar em Chicago e roubar minha esposa, ele está pronto para o
que eu vinha guardando.
Eu usaria esse trunfo para conseguir seu território, mas agora
eu só queria Sienna.
Todo o meu plano estava se desfazendo. O propósito de ter
Sienna aqui. De nos casarmos estava desmoronando e por quê?
Por eu ter entregado meu coração distorcido a ela.
— Juliano estava com Salvatore. — A informação que Prince
derrama só me deixa mais irritado.
Juliano achava que podia vir a minha cidade, pegar minha
esposa e sair ileso? Lembro de Sienna falando que ele seria seu
noivo e eu vejo vermelho.
Eu precisava matar alguém. Rápido.

Assim que entrei no quarto Tebow ergueu a cabeça. Ele


esperava por ela. Me aproximei da janela e peguei meu celular,
rastreando o dela. Eu sabia que a essa hora o celular estaria no
lago ou abandonado, mas, mesmo assim, tentei.
— Eu vou trazê-la de volta, Tebow — avisei ao cachorro e a
mim mesmo.
Eu nunca imaginei sentir ódio por uma pessoa na mesma
intensidade em que eu a desejava. Eu mataria Sienna, se eu não a
quisesse tanto.
Meu celular vibrou e a mensagem de Romeo apareceu na
tela.
"Saímos daqui a duas horas."
Eu não o respondi. Voltei a tela do rastreio e semicerrei os
olhos. Estava se movendo. Eu liguei em seguida e quando ouvi sua
voz, eu me segurei para não quebrar o quarto.
— Você ia me matar. — Sienna não deixou que eu
pronunciasse uma palavra. — Você realmente faria isso. Como e
porque eu não tenho ideia.
— Você sabia? — ignorei sua fala e questionei sobre sua
traição. — Você sabia que eles estavam vindo?
— Sim. Sal me alertou um dia antes. Eu não sabia que iria
ser hoje, no entanto. — Sua voz quebrou e ela fungou. — Não tive
nem como me negar a fugir. Eu ficaria e seria morta. Eu não preciso
desse amor. Não posso me prestar a isso, mesmo que eu deseje
fortemente. Eu só não posso pisar no meu orgulho como você vinha
fazendo. Eu teria amado você, Rocco. Amado além de mim. Eu só
queria que você fosse capaz de fazer o mesmo.
Eu tentei ignorar suas palavras, mas o que ela queria dizer?
Como assim teria me amado? Eu afastei a confusão focando na
guerra e segurei a janela.
— Você engravidou outra mulher. Sabe o que você faz com
meu orgulho? Você o torce a cada traição, mas dessa vez, foi pior.
Você me despedaçou, Rocco. Eu não posso.
— Eu não engravidei ninguém! Eu não traí você com
ninguém! Se você tivesse me perguntado eu falaria como eu sempre
fiz, porque eu não sou um homem que mente. Eu te falei isso várias
vezes e ainda sim, você continua agindo como a porra de uma
adolescente.
— É mentira.
— Você deveria ter me matado, Sienna.
Ela soluçou na linha e eu olhei o cais respirando fundo.
— Por que eu deveria? — ela questionou baixinho e eu
apertei meu pulso, assistindo a água calma do lago diante de mim.
— Porque eu vou matar todos que ficarem entre você e eu. E
dessa vez, suas lágrimas não vão me parar.
Sienna ficou sem respirar por alguns segundos e eu apreciei
seu medo como nunca.
— Adeus, Rocco.
— Até logo, Passarinha.
Eu desliguei o celular e me afastei da janela. Saí do nosso
quarto e fui ao de hóspedes. Peguei minha mochila, algumas roupas
e minhas armas.
Quando desci as escadas, Lake me esperava, abraçando a si
mesma. Seus olhos azuis, mais nublados que os meus, estavam
inchados. Ele estava chorando.
— Prince disse que Si foi embora — Lake tentou falar sem
soluços, mas não conseguiu. — O que aconteceu?
— Isso não é assunto seu, Lake.
— Rocco, por favor — ela implorou e eu respirei fundo
jogando minha mochila no sofá.
— Sienna fugiu. Sua família a ajudou. Não chore. Ela estará
aqui antes que você perceba que ela sumiu.
E eu vou matar todos que ficarem em meu caminho.
Lake mordeu o lábio e acenou, suspirando.
— Prince está muito chateado por tê-la deixado ir. Ele se
sente culpado — minha irmã falou e eu inclinei a cabeça para o
lado.
— Ele não tinha chance.
Eu falei para acalmar Lake, mas mesmo que fosse verdade,
eu estava irritado com meu irmão. Ele não merecia, no entanto.
Eu concentraria minha raiva em quem importava.

O barulho do jato não me acalmou como fazia nas raras


vezes em que voei. Eu estava segurando uma das minhas facas
olhando para ela como se ela fosse a solução dos meus problemas
e ela seria quando eu a enfiasse na garganta de Enrico.
— Enrico está na ligação. — Romeo apareceu vindo da parte
da frente do jato. Apenas nós dois tínhamos vindo a essa viagem. O
que estávamos indo fazer não envolvia a Outfit. Eles nunca
poderiam saber.
— Você acha que ganhou? — eu assobiei assim que peguei
o celular que meu irmão estendia.
— Dessa vez, sim. Eu não deixaria Sienna morrer nas suas
mãos, Rocco. Eu devo muito ao pai dela — Enrico falou em meu
ouvido e eu sorri, encarando as cadeiras vazias do jatinho.
— Você acha que eu acredito nisso? Você a deixaria morrer
sem piscar, Enrico. Você está ficando um pau mole depois que se
casou e teve Matteo...
— Não toque no nome dele!
— Mas ainda é um sádico de merda — eu ignorei sua
interrupção e continuei. — Eu vou fazer você sangrar, mas será por
dentro. Onde eu sei que dói. Não na sua pele, você está
acostumado a dor, mas dentro da sua alma.
Ele ficou em silêncio, e eu sorri.
— Eu vou adorar cada segundo maldito.
— Você nunca mais a verá. Ela se casará com Juliano e será
reinserida a Cosa Nostra. Eu espero que esteja doendo saber que
ela vai ser dele.
Ele desligou deixando sua última palavra e eu esfaqueei o
banco, rasgando o tecido, e ouvindo as batidas do meu coração
explodirem em meus ouvidos.
— O que ele disse? — Romeo perguntou se sentando e
tirando a faca do assento ao lado dele.
— Nada. Enrico acha que ganhou isso.
— Ele vai se arrepender, Rocco.
Eu sabia bem disso e mal podia esperar para ver seu rosto
ao saber o que eu tinha preparado para ele.

Romeo acenou e apontou para a casa com o queixo. Nós


pulamos o muro alto e quando meus pés colidiram com o chão de
terra batida eu puxei minha arma, segurando minha faca na outra
mão. Romeo fez o mesmo enquanto andava atrás de mim.
A lua estava no alto e eu sabia que todos estavam dormindo.
Romeo invadiu o sistema de segurança pelo computador que
carregava na mochila e destrancou a porta sem fazer nenhum
barulho. Eu fui o primeiro a entrar e quando senti uma arma na
minha cabeça, eu nem titubeei. Romeo puxou a faca de cima para
baixo e a lâmina entrou no antebraço dele, fazendo-o derrubar a
arma.
Eu sorri para Vincent Bellucci e ele me olhou com ódio
cintilando em suasirises.
— Rocco.
Ele sabia quem eu era. Que bom.
— Ora, ora, não sabia que mortos andavam — eu balbuciei
enquanto Romeo apontava a arma para a cara do irmão de Enrico.
O irmão morto.
— O que quer que esteja pensando, deixe-as fora disso. —
Sua voz ficou furiosa e eu sorri, olhando ao redor. A casa era
grande, porém simples. Nada que um Bellucci já tivesse visto na
vida. Voltei a encarar Vincent e fingi pensar por um segundo.
— Acho que não. — Eu peguei o cabo da minha arma e bati
tão forte quanto consegui na sua cabeça, fazendo-o desabar,
desmaiado. Suspirei acenando para que Romeo o levasse para a
cozinha.
Assim que Vincent estava preso na cadeira, eu deixei Romeo
com ele e subi as escadas. Quando atingi o primeiro degrau, no
entanto, uma sombra pequena estava em uma das portas.
— Olá, Anna. — Eu sorri e ela me olhou cautelosa. — Você
quer brincar na sala comigo e o papai?
Anna não falou nada, e quando me aproximei ela não
esboçou reação. Peguei a garota de cabelos loiros e olhos verdes e
andei com ela no colo até a outra porta. A visão de Teodora
dormindo me saudou quando abri a porta.
— Teodora.
Ela não demorou a acordar e quando o fez, seu olhar foi de
mim para sua filha, em pânico.
— Estou levando Anna até a sala para brincar. Você quer se
juntar a nós? — questionei, sorrindo para ela e para a filha dela.
Engolindo em seco, ela se ergueu e acenou. — Você primeiro.
— Rocco, não faça isso — ela pediu, com lágrimas nos olhos
e eu bocejei.
— Mas, amor, eu não estou fazendo nada. Vamos apenas
brincar lá embaixo, certo, Anna? — Olhei a filha deles que acenou,
sorrindo pela primeira vez.
Teodora engoliu em seco e acenou, andando. Quando
chegamos à sala eu fiquei com Anna e pedi a ela que sentasse.
— Me dá ela — Teodora pediu e eu neguei com um balanço
de cabeça. — Onde Vince está?
— Logo se juntará a vocês, mas agora, eu preciso que o
anfitrião da noite compareça. O motivo de estarmos juntos nessa
noite. — Eu me virei e o computador já estava aberto. Cliquei para
ligar e esperei, sentindo as mãos de Anna em meu cabelo. —
Sorria, Teodora. Anna, sorria também. O titio quer as meninas dele
felizes — eu pedi olhando para Teodora que estava com os olhos
vermelhos concentrados na tela.
Quando Enrico apareceu na tela, Juliano e Dino estavam em
cada lado. Assim que ele viu onde e com quem eu estava, eu sorri,
olhando para Anna e Teodora, que agora estava chorando baixo.
— Vamos começar — murmurei firme olhando para a câmera
e vi o exato momento em que Enrico quebrou.
Eu disse que adoraria cada maldito segundo e eu estava,
porra.
HORAS ANTES...
Observei meu irmão falando com Juliano do lado de fora do
carro e guardei meu celular. Assim que terminaram, Salvatore me
ajudou a sair do carro. Um helicóptero, parecido com o que Rocco
me colocou quando cheguei a Chicago, estava a alguns metros e
Sal me guiou até ele. Assim que me sentei senti meu estômago
embrulhar e meus olhos se encherem de lágrimas. Juliano e
Salvatore viram, porém não falaram nada. Eles não pareciam
suportar me ver chorar e eu sabia o motivo.
Eu amava Rocco e agora os dois tinha certeza disso.
Salvatore se aproximou depois de um longo tempo de voo.
Eu estava abraçando a mim mesma, com os olhos secos, focada
em olhar a paisagem e pensar sobre o que Rocco falou. Milena
estava grávida, mas não era de um filho dele. Eu fechei meus olhos
e meu coração ficou dolorido. Eu presumi tudo e acabei vindo
embora muito mais machucada.
Eu era uma idiota.
— Ele mataria você, Sienna. A informação veio de dentro —
Sal murmurou sem me encarar e eu respirei fundo, lambendo meus
lábios secos.
— Eu não duvido — consegui dizer calmamente e pisquei
quando novas lágrimas surgiram.
— Então, por que está chorando? — Juliano questionou sério
e eu olhei para as minhas mãos.
— Eu não sei...
— Você sabe — Juliano me interrompeu e eu encarei a janela
novamente. — Rocco não gosta de ninguém além dele mesmo.
Lembre-se que ele iria matá-la, a cada vez que seu coração pedir
por ele.
Eu fiquei em silêncio e suspirei, quando o medo me
empurrou.
— Eu não tenho mais nada para a família. — Eu engoli em
seco, e Juliano arqueou a sobrancelha. — Serei uma pária...
— Você será minha esposa. Iria ser antes dessa confusão, eu
não me importo se é virgem ou não.
— Eu não sou — respondi rapidamente sentindo meu rosto
pegar fogo e Juliano acenou, sem dar importância.
— Não importa. Dessa vez, no entanto, você tem escolha,
Sienna. Case comigo e seja recolocada na sociedade ou fique com
sua mãe. Ninguém vai obrigar você a casar.
Eu suspirei em alívio e agradeci. Não queria me casar. Eu
ainda era uma Trevisan. A esposa de Rocco. A aliança em meu
dedo brilhou quando a encarei. Ele realmente me mataria? Por quê?
Não faz sentido.
Assim o helicóptero pousou fora dos limites de Chicago,
segui Sal e Juliano até um jato, o mesmo que me levou a cidade de
Rocco.
Quando deixei os Estados Unidos, eu tentei parar de sentir
pena de mim mesma. Tentei empurrar Rocco dos meus
pensamentos e de mim. Tentei não chorar, porém, quando Tebow,
Lake e Lunna apareceram em minha mente, foi inútil.
"Me desculpe. Foi bom te conhecer. Diga a Lake que a
amo. Sentirei saudades."
Enviei a mensagem a Lunna e desliguei o celular. Sal se
aproximou e sentou diante de mim me dando um breve sorriso.
— Enrico está nos esperando.
— Estamos em guerra com a Outfit agora e isso era a última
coisa que Enrico queria — eu disse baixo, devagar, e Salvatore
parou de sorrir ficando com os ombros tensos. — Por que Enrico
arriscou tanto? Só por mim?
Meu irmão engoliu em seco e desviou os olhos de mim. Eu
sabia que tinha algo mais. Parando para pensar, tudo sobre esse
resgate é uma besteira imensa. Furos e muitos furos.
— A Bratva quer a cabeça de Rocco. Se ele fizer o que
achamos que fará, eles vão matá-lo.
— O quê? — eu gritei sentindo meus olhos crescerem. — O
que você está falando?
— A Bratva fará o trabalho. Enrico ou a Cosa Nostra não quer
a Outfit, mas a Bratva sim. Iremos dividir o território depois de ele
cair...
— Vocês arquitetaram isso para ele sair de Chicago... Vocês
me usaram... — Minha voz soou baixa e trêmula. A dor em meu
coração triplicou e eu me senti queimar. Traição ardendo em minhas
veias. — Como pôde me trair dessa maneira, Salvatore?
— Rocco é um psicopata. Ele merece a morte e eu terei
prazer em assistir... — Salvatore não titubeou ao afirmar e eu me
encolhi. Oh meu deus.
— Ele nunca faria isso. — Consegui encontrar minha voz e
Sal franziu o cenho, confuso. — Ele nunca usaria os irmãos dele
para conseguir a cabeça de Enrico. — Eu olhei para o meu irmão
sentindo meu corpo tremer de raiva.
— Olhe o que ele fez comigo, Sienna. — Sal se ergueu e
abriu a camisa. Eu ofeguei ao ver as marcas vermelhas que iam e
vinham pela extensão do seu peito. — Ele e os irmãos me
torturaram, Sienna. Não me peça para ter pena dele, porque eu não
vou.
Eu desviei os olhos apertando minhas mãos em meus
joelhos. Quando a dor se tornou pior, eu voltei a olhar para
Salvatore.
— A morte. A minha morte, quando você disse que ele me
mataria... — comecei a falar, no entanto, quando observei o rosto de
Salvatore baixar, eu já sabia que era uma mentira. — Oh meu Deus,
Sal. Você me enganou. Você me usou. A Cosa Nostra me arrancou
dele com mentiras.
— Rocco merece...
— Não é sobre ter pena de Rocco! Isso aqui não é sobre ele,
droga. É sobre me usar, me colocar em perigo para ter a sua
vingança. Sua! Não minha.
Salvatore olhou para a janela e não me respondeu. Limpei
minhas lágrimas e afundei as unhas em minha palma. Eu não
conseguia acreditar nisso. Tentei ficar calma, mas a voz de Rocco
no celular voltou a mim. A fúria silenciosa e a firme.
— Ele vai matar você dessa vez e minhas lágrimas e pedidos
desesperados não vão pará-lo.
Salvatore sequer me olhou, dessa vez.
Assim que cheguei a Roma, Salvatore tentou me tocar para
me guiar até o carro, mas assim que senti sua mão, eu me esquivei.
Eu queria ver mamãe, queria saber como ela estava, apenas isso,
mas Juliano não permitiu. Já passava das onze da noite e o voo foi
longo, mas não consegui dormir.
— Enrico quer ver você — Juliano avisou enquanto
entravamos no carro e eu o ignorei. — Não foi pessoal, Sienna.
— Ele é meu marido. Então, Juliano, sim, foi. Eu odeio admitir
isso, mas eu espero que o seu plano dê certo. Porque nós sabemos
que se não der, você irá morrer. — Minhas palavras o fizeram
semicerrar os olhos e Salvatore correr para me recriminar.
— Cuidado, Sienna.
— Eu não devo lealdade ou obediência a nenhum de vocês.
Não me minimize, Salvatore. Eu sou uma Trevisan. — Eu encarei
meu irmão séria e voltei a olhar Juliano. — Como eu disse, que dê
certo.
Por dentro, no entanto, eu estava dividida. Eu desejava
ardentemente ter Rocco novamente, mas não queria que ele
matasse Salvatore. Mesmo depois de sua mentira, eu ainda me
preocupava. Sal era meu irmão. Meu sangue e meu coração.
Assim que entramos na casa de Enrico nós fomos levados ao
seu escritório. Giovanna estava de pé ao lado dele tão linda quanto
eu me lembrava. Seu cabelo castanho e ondulado ia até sua cintura.
Seus olhos sorriram para mim antes mesmo que seus lábios
pudessem.
— Sienna. — Enrico se ergueu e andou até mim estendendo
a mão que ignorei. Suas sobrancelhas se ergueram e eu segurei
seu olhar no meu, sem baixar a guarda.
— Você mandou Salvatore me enganar. Você me arrancou do
meu marido para benefício próprio. Não ouse me tocar. — Minhas
palavras fizeram Enrico olhar para Sal.
— Pensei que você não gostasse dele. Que estivesse infeliz.
Não foi isso, Salvatore? — A voz de Enrico era tão grave e firme
quanto a de Rocco e isso quase me fez tremer suavemente.
— Foi o que pensei. Sienna o ama, pelo que parece —
Juliano murmurou se movendo e Salvatore concordou, sem me
encarar. — Não podemos voltar atrás. Então, Sienna, se acostume.
Você não voltará para Rocco.
Eu encarei todos na sala e ergui o queixo parando em Enrico.
Ele começou a se afastar e eu respirei fundo.
— Espero que nunca tenha que passar por isso, que
Giovanna não seja arrancada de você. — Minhas palavras o fizeram
ficar rígido e Gio se aproximou tocando em seu marido.
— Eu sinto muito, Sienna — ela murmurou e eu sabia que ela
estava falando sério. Ela sentia mesmo. Eu lhe dei um aceno e
assisti Enrico voltar para a mesa.
— O que você quer de mim? — perguntei a Enrico e ele
ergueu o dedo quando seu celular começou a tocar. Ele me encarou
assim que atendeu.
— O que você quer, Romeo? — ele rosnou irritado e eu perdi
o folego. — Por quê? Rocco quer ver Sienna? — Ele riu friamente e
eu dei um passo em sua direção, porém Sal me segurou. — Ok.
— O que Romeo quer? — Dino questionou do canto da
parede assim que Enrico desligou o celular.
— Uma videoconferência— Enrico murmurou e seu olhar veio
até mim. — Sente aí. — Ele acenou para a cadeira e eu me sentei,
ansiedade corroendo meu interior. Giovanna também se afastou e
Enrico colocou a imagem do computador para a TV no canto, dando
para todos verem.
Demorou alguns minutos e logo a chamada começou. Enrico
atendeu relaxado, com Dino e Juliano ao seu lado. Meu coração
parou de bater quando vi Rocco de pé, sorrindo. Senti meus olhos
crescerem e ofeguei vendo Teodora Bellucci chorando em um sofá e
uma garota pequena nos braços de Rocco.
Como? Teodora morreu há anos em Nova Iorque. Ela e o seu
irmão Vincent foram mortos em um confronto. O que estava
acontecendo?
— Vamos começar. — Ele sorriu da maneira mais distorcida
que eu já tinha visto e a garotinha sorriu para ele. Tirei meus olhos
dos dois e o rosto branco de Enrico me fez suspirar.
— Oh meu Deus — Giovanna choramingou ao meu lado,
porém de pé, alternando olhar para a TV e para seu marido.
— Rocco... — Enrico começou a falar, porém parou
respirando fundo. Salvatore, Juliano e eu tínhamos a mesma cara
de surpresa, porém Dino, Enrico e Gio não. A esposa do chefe
estava tremendo apavorada enquanto os dois homens estavam sem
reação.
— Eu disse a você, Enrico. Eu vou enfiar minha faca onde
dói, não em você. — Rocco sorriu novamente e mesmo que fosse
errado, eu tremi de saudades.
— Não faça isso.
— O quê? Estamos apenas brincando, certo, Anna?
— Sim, titio! — Anna sorriu batendo palmas em alegria e
Giovanna chorou novamente.
— Soube que mortos podem viver juntos, podem ter filhos. É
um milagre, não é Teodora? — Rocco virou para a irmã de Enrico e
ele voltou a encarar a tela, a encarar Enrico. — Um pecado para
alguns. Irmãos juntos, trepando e tendo bebês. Enrico, eles vão
queimar no fogo. É claro, todos nós iremos, porém eles irão por um
motivo maior — Rocco murmurou como se estivesse brincando e a
garotinha tocou seu rosto com carinho, tão inocente.
Meus olhos e de todos se arregalaram quando Romeo
apareceu e jogou Vince amarrado no sofá, ao lado de Teodora, sem
Anna ver. Eles são um casal. Oh meu Deus. Salvatore olhou ambos
com asco e Juliano fez o mesmo.
— Eles não são irmão, seu filho da puta. Foram criados
juntos, mas não tem o mesmo sangue — Enrico ecoou furioso e
Anna pulou nos braços de Rocco.
— Não a assuste — Rocco pediu e beijou a bochecha de
Anna.
— Deixe Anna. Não faça essa merda, Rocco...
— Você acha que eu machucaria uma criança? Que eu
tocaria em um fio do cabelo da garotinha mais bela que já pus meus
olhos? — Rocco respondeu e isso fez Anna sorrir. — Eu não faria
isso.
— O que você quer? — Enrico questionou apertando o punho
e Rocco segurou Anna mais perto.
— Você tem algo que me pertence.
Eu tremi sem frio encarando o olhar firme do meu marido.
— Eu a levarei agora.
— Calma. Calma. — Rocco sorriu e olhou para Anna. — O
seu tio é bem apressado. — Sua voz calma era tão perigosa quanto
um lago parado, onde jacarés estavam a segundos de subir e
devorar o que estivesse por perto.
Rocco se virou e olhou novamente para Enrico.
— Eu quero seu consigliere e Salvatore. — Eu me ergui
quando ele falou o nome de Sal. — Eu vou matar ambos. Os dois
vão se arrepender por terem entrado em Chicago e pegado minha
esposa. — Rocco sorriu sádico, cruel e frio. Eu me arrepiei com o
gesto, e derreti em medo.
— Rocco, isso é uma loucura! — Enrico gritou se erguendo e
Juliano parecia calmo. Salvatore tinha uma máscara de serenidade
no rosto, mas eu a lia bem demais. Sal estava com medo.
— Eu vou matar Vincent e Teodora em duas horas. — Anna
franziu o cenho quando ele falou e eu vi a menina ficar tensa
enquanto seus pais a encarava, sem poder reagir e se defender. —
Assim que ambos caírem mortos em seu próprio sangue, Anna será
uma Trevisan. Mas, isso depende de você, Enrico.
— Rocco.
— As únicas pessoas que saberão das suas mentiras, sobre
seus irmãos, vão estar mortos. — Rocco respirou fundo e entregou
Anna para Romeo. — Uma hora e cinquenta e oito minutos, Enrico.
E contando. Se eu fosse você se apressava.
A TV ficou preta e eu me sentei novamente tremendo dos pés
à cabeça. Enrico continuou olhando para o computador e quando
ele empurrou as coisas que estavam na mesa para o chão,
Giovanna pulou assustada e chorando.
Enrico parecia sem saber o que fazer e por um momento, eu
também.
Rocco me queria de volta, mas queria Sal morto.
Eu não achava que minha vida poderia piorar, mas eu estava
enganada.
Vincent ficou quieto, me observando com ódio, enquanto
Teodora chorava e Anna pedia para ir para a mãe. Eu a peguei dos
braços de Romeo e andei até Teodora.
— Fique quieta. Não vou machucar você ou Anna, se você
for obediente — falei sério e ela acenou repetidamente. Coloquei
Anna em seu colo enquanto Romeo apontou a arma para a cabeça
de Vincent.
Nós sabíamos que ele estava pensando em maneiras de
escapar e até matar Romeo e eu. Somos homens feitos, sabemos
exatamente o que Vincent estava ponderando. Eu me aproximei
dele e me inclinei.
— Eu sei o que está pensando. Não faça, Vincent. Eu vou
matar Teodora sem remorso e farei você assistir.
O corpo de Vincent estremeceu tenso, com ódio. Eu sorri
para ele e me afastei. Anna estava no colo de Teodora, com a
cabeça escondida no pescoço dela. Eu odiava que ela estivesse
presenciando isso. Eu não mexia com crianças. Elas eram
intocáveis para mim.
— O que Enrico fez a vocês? — Vincent questionou e eu o
olhei, duvidando que ele não soubesse. — Não me envolvo mais
com os negócios da famiglia.
— Seu irmão deu ordem para entrarem em Chicago e
roubarem minha esposa — respondi me encostando na parede,
pegando minha faca. — Ele irritou a pessoa errada, Vincent.
— Ele deu Sienna a você, não faz sentido — Teodora
murmurou franzindo as sobrancelhas e eu a encarei.
— Vocês saíram da máfia há anos e já não se lembram que
fazemos tudo, menos o que faz sentido.
— Enrico não vai entregar Juliano — Vincent falou firme me
encarando e respirou fundo. — Ele é seu consigliere. É insano e ele
não aceitará. Me mate, Rocco. Apenas deixe Teodora com Anna
saírem.
— Vincent, pare! Enrico vai entregar — Teodora gritou
assustando Anna e olhou para Vincent com os olhos implorando. Eu
senti nojo ao ver a maneira que ela o controlou. — Ele não deixará
Rocco nos matar. Somos o seu sangue.
Eu admirava Teodora. Ela tinha certeza disso e eu também
tinha a mesma certeza. Enrico enviaria Salvatore e Juliano sem
titubear. E como eu sabia? Olhei para Romeo e apertei o cabo da
faca mais forte. Eu faria o mesmo.
Quando as duas horas se passaram eu liguei para Enrico.
— Quero ver Sienna. Eu espero que ela esteja em um jato
nesse momento — murmurei andando pela sala onde agora, Anna
dormia no colo de Teodora e Vincent continuava atento.
— Sienna não quer que leve Salvatore — Enrico disse com
firmeza e eu sorri.
— Sienna não tem que querer porra nenhuma. Eu quero os
três em um avião. Mande a foto. O seu tempo acabou.
Desliguei o celular e encarei os irmãos de Enrico.
— Seu irmão ainda está tentando conversar. Eu preciso
mandar um recado para ele — falei me movimentando e Vincent se
jogou na frente da mulher, a protegendo. Meu celular começou a
tocar e atendi a ligação de Enrico. — Rápido.
— Sou eu. — A voz de Sienna me fez parar e olhar para a
família diante de mim. — Rocco, eu quero voltar para você. Eu juro,
mas Salvatore é...
— Não dessa vez, Sienna. Eu vou matar seu irmão. Vai ser
rápido. Juliano, no entanto... ele não faz ideia do quanto vai sofrer
— falei firmemente e Sienna fungou na linha.
— Por favor...
— Não implore. Eu falei a você para nunca implorar e isso se
estende a mim. Seu irmão me subestimou pela segunda vez. Isso
não vai acontecer novamente — a interrompi com raiva e Sienna
suspirou na linha. — Onde você está?
— No jato.
— Juliano e Salvatore? — questionei me aproximando da
janela. Olhei pelo vidro e esperei sua resposta.
— Estão comigo. Rocco...
— Eu quero uma foto. Mande-a para mim. Assim que você
pousar em Chicago, Matteo a buscará. Só voltarei a Chicago
quando você estiver na mansão — avisei olhando para meu irmão
que acenou concordando comigo.
— Rocco, volte. Juliano disse que me tirar de Chicago foi
uma maneira de você vir a Itália. — A voz de Sienna quebrou e eu
ouvi seu suspiro. — Eles mentiram para mim. Disseram que você
iria me matar... me desculpe.
— Não se desculpe — rosnei frustrado e respirei
profundamente. — Não confiei em você e você também não tinha
motivos para confiar em mim. Vá para casa, Sienna. Vou chegar em
breve.
— Rocco... — Sienna começou a falar, mas se deteve.
— Não dessa vez, Sienna.
Desliguei a ligação e acenei para Romeo. Em segundos uma
imagem chegou e era de Salvatore e Juliano no mesmo jato que
Sienna. Eles estavam calmos, Enrico não precisou usar a força, pelo
visto.
— Seu irmão cumpriu com o acordo, Teodora. Parece que
você o conhece melhor que Vincent. — Eu me aproximei novamente
e olhei para Anna. — Suba e durma com sua filha. Lembre-se, seu
marido está comigo e eu não hesitarei em matá-lo, se fizer algo.
Teodora balançou a cabeça, engolindo em seco e se ergueu.
Vincent acenou assim que ela hesitou ao andar. Quando ficamos os
três sozinhos, o irmão de Enrico olhou para mim e Romeo.
— Vocês dois são corajosos — ele respirou fundo e inclinou a
cabeça. — Deixar Chicago sem ninguém. Deixar seus irmãos
pequenos e esposa...
— O que está querendo dizer? — Romeo questionou
entrando na conversa de Vincent e eu fingi que não ouvi.
— A Bratva. Eles podem estar invadindo seu território nesse
momento. Matando sua esposa — Vincent continuou com a
conversa e eu me aproximei empurrando meu antebraço em seu
pescoço, sufocando-o.
— Cale a porra da boca. Meu território está protegido,
diferente do seu — sibilei furioso e Vincent ficou calado apenas me
olhando de volta.
Vincent ficou firme no sofá e eu me aproximei de Romeo.
Meu irmão me encarou calmo e eu respirei fundo.
— Iremos embora em duas horas. Sienna já estava cruzando
o oceano, será rápido. Podemos chegar antes dela em Chicago —
eu avisei tentando fazer meu irmão relaxar. Romeo não deixava as
coisas que pensava e sentia perceptíveis para os outros, mas para
mim, tudo sempre esteve visível em seus olhos vazios.
— Não. Apenas quando ela estiver no nosso território e
Juliano no porão. Vou matar aquele merda junto com você.
— E Salvatore? Você não quer participar?
— Você não vai matá-lo — Romeo falou calmamente e eu
arqueei as sobrancelhas. — Pare de afastar sua esposa. Tenho
motivos para me manter longe da minha mulher, você não tem. Pare
com essa merda. Salvatore pode ser iniciado como um dos nossos
soldados. Não vale a pena matá-lo, Rocco. Ele é um merdinha
insolente. Vamos ensiná-lo a ser um homem feito real.
— O que você está dizendo, Romeo? — questionei tentando
acompanhar deu raciocínio.
— Sienna nunca vai perdoar você.
— Eu não preciso da permissão de Sienna ou a porra do seu
perdão. Vou matar Salvatore.
Romeo me olhou por longos segundos e acenou vendo que
eu realmente falava sério.
— Bom. Você pode estar certo — ele respirou fundo e olhou
para Vincent que continuava sentado no sofá, nos observando. —
Vou ligar para Matteo.
Romeo se afastou e eu continuei encarando o merda
Bellucci. Não me surpreendi ao saber que Enrico tinha forjado a
morte dos irmãos, porém saber que eles eram casados e tinham
uma filha, isso sim me deixou surpreso.
— Matteo disse que está tudo sob controle. — Romeo voltou
em alguns segundos e eu acenei, aliviado.
Matteo tinha apenas vinte e um anos, mas eu confiava a
Outfit a ele. Prince estava com dezoito e seguiria os mesmos
passos. Era o que eu esperava, pelo menos.
Enrico não precisou forçar ou ordenar que Juliano e Salvatore
entrassem no jatinho e voarem em direção a morte. Os dois
decidiram antes que Enrico pudesse falar algo. Sal ligou para
mamãe e disse que ficaria longe por muito tempo. Eu não aguentei
ouvir e mais uma vez implorei por sua vida a Rocco. Ele não cederia
dessa vez.
— Eu sinto muito — murmurei forçando minha voz sair e meu
irmão me encarou. Ele tinha apenas dezessete anos. Eu estava
apavorada ao saber que Rocco o queria morto. — Ele não me
escutou.
— Você fez muito, Sienna — Sal disse diante de mim,
olhando pela janela. — Não deveria ter enganado você. Rocco é
melhor que eu nisso. Ele jamais usaria os irmãos, como você
mesma falou.
Eu não o desmenti. Ele estava certo.
— Não consigo suportar isso — eu disse limpando meu rosto
molhado. Sal se ergueu e sentou ao meu lado, puxando meus
ombros contra seu corpo.
— Está tudo bem, Si. Se acalme e descanse — Sal pediu e
por mais que eu não quisesse seguir seu conselho, meu corpo
estava além de acabado.
Eu adormeci na cadeira e quando acordei nós já estávamos
pousando. Assim que coloquei os pés em Chicago o vento frio me
saudou. Salvatore estava ao meu lado com Juliano e quando vi
Matteo se aproximando com os soldados da Outfit eu tremi,
erguendo o queixo.
— Em menos de vinte e quatro horas e cá está você. — Meu
cunhado riu me olhando e eu andei passando por ele sem baixar a
cabeça. No entanto, Matteo segurou meu braço. — Não tão longe.
— Eu não devo satisfações a você, Matteo. Ao meu marido,
sim. Agora me solte — falei entredentes e ele tirou as mãos de mim
rindo.
Andei em direção ao carro e não ousei olhar para meu irmão
ou Juliano. Eu não aguentaria. E no momento, eu não daria essa
satisfação a Matteo.
O carro começou a se mover assim que meu irmão e Juliano
foram enfiados em outro veículo.
Quando os portões da propriedade se abriram eu respirei
fundo, piscando. Matteo estacionou e eu saí caminhando até a
porta. Lake a abriu antes que eu chegasse e se jogou em meus
braços. Eu envolvi seu corpo com meus braços enquanto ela
soluçou baixinho.
— Eu pensei que não veria mais você — murmurou se
afastando e eu andei para dentro de casa, ainda com o braço em
volta dos seus ombros.
— Eu também. Me desculpe, Lake — pedi com lágrimas
embaçando minha visão e ela suspirou, tocando meu rosto.
— Você precisa de um banho. Depois podemos assistir um
filme — ela tentou brincar, mas eu sabia que era sério. Eu me
afastei e beijei sua testa.
— Não farei isso uma segunda vez, Lake.
— Promete? — Ela piscou mordendo o lábio inferior e eu
sorri.
— Prometo.
Lake me deixou subir as escadas e meus joelhos fraquejaram
quando cheguei ao andar de Rocco. Tebow correu assim que caí
ajoelhada. Sua língua lambeu meu rosto, e seu focinho geladinho
tocou minha pele, cheirando.
— Ei, querido. — Eu abracei seu corpo e caí para trás o
deixando ficar sobre mim. — Não faz dois dias, Tebow, mas senti
muito a sua falta.
Ele ronronou em resposta e eu sorri.
Depois de minutos juntos ele me deixou levantar. Tirei meus
sapatos e andei até o meu quarto. Meu peito apertou quando olhei
ao redor, vendo que tudo estava do mesmo jeito que deixei. Entrei
no banheiro e coloquei a banheira para encher sentindo o cheiro dos
sais e do creme de barbear de Rocco.
Meu coração deu um salto quando pensei nele. Estava
cansada de lutar contra meus sentimentos. Eu amava Rocco e
precisava lidar com isso. Mesmo que esse amor me queimasse por
dentro e consumisse minha alma.
Tirei minha roupa e entrei na água gemendo de alívio. Me
lavei enquanto pensava em Sal. Eu sabia que ele tinha me
enganado, mas não queria que Rocco o matasse. Eu não sabia o
que faria, mas não podia apenas deixar isso acontecer.
Descansei minha testa em meus joelhos e respirei fundo.
Quando uma sombra apareceu na lateral dos meus olhos eu me
arrepiei. Mesmo na água, eu me senti queimando, flutuando e sendo
consumida.
Rocco Trevisan era como uma chama, fascinante de longe e
dolorosa ao ser tocada.
Eu queria me queimar. Cada vez mais, mesmo que ardesse,
eu ainda estava aqui e sempre estaria. Era um amor doentio,
deturpado e cruel, mas era o meu.
— Passarinha — sua voz me saudou e eu ergui a cabeça
prendendo meus olhos nele. Em seu peito nu rabiscado com tinta e
cicatrizes, em seus braços largos e seu rosto esculpido para se
parecer com um deus. Seus lábios bonitos e seus olhos que
desnudavam minha pele, minha alma.
— Rocco — murmurei sob minha respiração e ele ergueu o
queixo. Eu engoli em seco e me levantei. Rocco olhou cada pedaço
da minha pele e me encarou por último
— Você é mais que minha, Sienna — Rocco afirmou sério e
suas palavras acariciaram meu coração. — Eu nunca mais a
deixarei ir.
— Eu sei — murmurei baixo e ele se aproximou pegando
minha mão. Seus dedos apertaram minha pele branca e o sangue
se concentrou onde ele tocava com mais firmeza.
Rocco afastou meu cabelo úmido e beijou meu pescoço. Eu
estremeci nua de pé dentro da banheira enquanto Rocco estava
vestido, tocando minha pele somente em dois pontos, pescoço e
pulso. Mas, mesmo assim, me consumindo.
— Juliano a tocou? — sua pergunta saiu tensa, e eu senti o
perigo no ar. Rocco segurou meu pulso e se afastou, encarando
meus olhos. — Você deve responder, passarinha.
— Não. Ele não fez — murmurei devagar e ele procurou
mentiras em meu rosto. — Alguém tocou em você? — forcei a
questão a sair e me senti tola ao me ouvir.
— Sua boceta é tudo que preciso, Sienna. Pensei que já
soubesse disso.
— Você procurou outra se me lembro bem...
— Eu não toquei em ninguém e já falei isso— ele me cortou e
eu engoli em seco. — Mas agora eu vou tocar no que é meu e de
mais ninguém.
Eu estremeci com a promessa velada em suas palavras.
Puxei Sienna para mim pela cintura e ela suspirou me
encarando com os lábios abertos. Me inclinei provando sua boca e
ela relaxou contra meu peito, segurando meus braços. Eu não
queria ser cuidadoso, eu queria consumir Sienna completamente.
— Você queria voltar — murmurei deslizando meus lábios
pelo seu queixo e bochecha. — Você queria voltar para mim depois
de tudo que passamos— eu murmurei baixo ainda segurando sua
cintura, mantendo o corpo nu de Sienna contra o meu.
— Sim, eu queria — confessou e eu chupei a pele do seu
pescoço, marcando-a. Sedento por sua loucura e desejo. Sienna era
tão perigosa quanto eu e saber disso, agora não me assustava. Pelo
contrário, eu queria participar, mostrar a ela o quanto nós
doispoderíamos ser insanos juntos.
Segurei Sienna pela cintura e a ergui andando até a bancada.
Coloquei ela sentada na ponta do balcão e me afastei segurando
suas coxas abertas. Caí em meus joelhos e admirei sua boceta
rosada e molhada. Eu sabia que não era apenas a água da
banheira.
Me inclinei deixando suas pernas mais afastadas e deslizei a
minha língua pelas suas dobras gemendo ao sentir o sabor. Sienna
gritou e tentou fechar as coxas quando abocanhei seu clitóris e
chupei. Eu segurei seus joelhos e a mantive parada. Sem poder se
mexer, Sienna apertou meus cabelos com a mão. Eu a comi com
mais intensidade arrancando seus gritos e orgasmo em pouco
tempo. Lambi todo seu néctar doce e me ergui vendo seus seios,
bochechas e pescoço vermelhos. Movi minha língua pela sua pele e
lambi sua barriga, indo para os seus mamilos. Mordi a carne
entumecida e ela gritou com a dor momentânea. Os olhos azuis da
minha passarinha estavam dilatados e ela respirava ofegante me
fazendo beijar e lamber seu mamilo dolorido.
Ouvindo seus gemidos baixos eu tirei meu pau da calça e
puxei Sienna pelo pescoço para que ela voltasse a ficar com as
costas ereta.
Sua boceta se esticou quando entrei lentamente dentro dela.
Sienna gemeu intensamente, e eu sorri contra sua pele, movendo
minha boca em direção a sua. Sua língua procurou a minha e
Sienna chupou esfregando seus mamilos em meu peito.
— Esqueça os anticoncepcionais — falei calmo e me afastei
para encarar seu rosto. — Meu filho vai crescer em sua barriga,
Sienna. Você nunca mais vai me deixar e eu vou garantir isso. —
Minhas palavras voaram e Sienna parecia tão chocada quanto eu
por dentro.
— Rocco... — ela respirou fundo e gemeu quando movi meus
quadris fodendo-a. — Oh meu Deus...
— Goze e puxe meu esperma, passarinha. Você o quer, mas
não está pronta para admitir.
Sienna gritou com o rosto enterrado em meu peito e eu gozei
em sua boceta sem barreiras assim que senti a pulsação das duas
paredes internas. Eu segurei o queixo de Sienna e devorei seus
lábios. Ela se agarrou a mim, me beijando com tanta fome quanto
eu. A carreguei para a cama e coloquei Sienna de quatro dessa vez.
Eu a fodi tão lento quanto consegui e quando ela se encontrou no
prazer seu grito ecoou pelas paredes me dando satisfação.

Sienna traçou minhas tatuagens e ergueu o rosto para me


olhar. Tínhamos feito sexo mais uma vez e estávamos deitados
juntos. Deixei meu braço atrás da minha cabeça e a olhei de volta.
— Você disse que não tocou em ninguém — ela começou
devagar e eu continuei sério, sem responder. — Você estava com o
cheiro de alguém em seu corpo aquele dia — Sienna acusou
franzindo as sobrancelhas e eu deslizei a mão que estava em sua
cintura até seu quadril, indo e vindo, lentamente.
— Eu estava no Village. Lá tem prostitutas em todos os
lugares, mas não toquei nelas. Elas tentaram me agradar, óbvio,
mas não aconteceu nada.
Minha voz soou lenta e letárgica, fazendo Sienna suspirar.
— O que aconteceu naquele dia? Estávamos bem... Eu
pensei, pelo menos...
— Nada — menti encarando seus olhos e Sienna viu isso. —
Por que não me fala o que fez enquanto esteve fora?
Sienna desviou os olhos e eu apertei seu quadril. Seu suspiro
ecoou e seus olhos voltaram para o meu rosto.
— Não aconteceu anda. Eles me levaram para Enrico, você
ligou em seguida. Foi tudo muito rápido.
— Enrico queria que se casasse com Juliano. Você aceitou
isso? — minha pergunta ressoou em nosso quarto tão perigosa
quanto minha arma.
— Você sabe que não — Sienna respondeu firme e se apoiou
em meu peito. — Não quero ser de mais ninguém, Rocco. Pensei
que já soubesse disso.
Eu deslizei a mão pelo seu rosto e segurei sua bochecha.
— Não, eu não sabia.
— Essa é a primeira e única vez que me ouvirá falando isso,
porque depois eu sei que vai me magoar profundamente... —
Sienna começou a murmurar e engoliu em seco. — Eu amo você.
Eu só queria que soubesse que depois de tudo, Rocco, eu ainda me
apaixonei por você. E não, eu não faço ideia de como ou pelo que
me apaixonei. Nos apaixonamos pelas ações e gestos, certo?
Desde que nos casamos, tudo que você fez foi me magoar... —
Sienna me deu um sorriso triste e minha mão estava parada contra
o seu rosto. — Mas, ainda sim, eu o amo.
Eu não sabia o que dizer. Sienna não esperava por
respostas, no entanto.
— Salvatore já sabe que o amo e acho que isso é o que mais
me confunde. Como eu amo você se pretende matar meu irmão? —
Ela piscou os olhos, mas não tinham mais lágrimas. Eu a tinha feito
derramar todas.
— Seu irmão merece a morte, Sienna — falei firme e apertei
meu dedo contra seu lábio quando ela começou a abri-los. — Eu
vou matá-lo rápido. Ele não sofrerá.
Sienna piscou os cílios longos e desviou os olhos de mim.
— Eu não sei o que dizer e não posso mais implorar. E não é
porque sou uma Trevisan, Rocco. Eu só não tenho mais forças.
Sienna se afastou de mim e se ergueu enrolada no lençol. Eu
fiquei na cama respirando fundo e encarando o teto enquanto ela
sentou no peitoril da janela e ficou olhando para o cais.
Peguei minha cueca descartada e a vesti. Sienna escutou eu
me movendo, mas não me olhou.
Eu estava frustrado para dizer o mínimo. Odiava que eu me
importava tanto com a dor nos seus olhos azuis. Eu nunca desejei
uma esposa, mas Sienna era mais que o título. Ela estava me
consumindo e isso seria minha ruína como Romeo adorava dizer.
Me aproximei dela na janela e encostei meu peito em sua
lateral afastando seu cabelo loiro. Sua cabeça estava focada no cais
e eu a abracei. Nunca tinha abraçado Sienna ou qualquer pessoa,
por vontade própria. Mais uma novidade fodida.
— Você entende o que está me pedindo, Sienna? —
questionei lentamente e seu corpo tremeu. — Que tipo de chefe eu
serei diante dos meus soldados se não matar o homem que tirou
minha esposa de mim?
Sienna se virou e agora seus olhos estavam úmidos. Ela
tocou em meu peito e suspirou.
— Salvatore é leal a Cosa Nostra. Ele fez o que o chefe dele
o ordenou. Eu não tenho o direito de pedir para que alivie para ele,
mas... Eu precisava tentar. Sal é meu irmão.
Eu enxuguei suas lágrimas e me afastei de Sienna. Minhas
mãos caíram ao meu lado e Sienna observou com os olhos azuis
cheios de lágrimas. Ela sabia o que eu faria. A dor que eu estava
causando a ela estava quase me sufocando, mas eu não podia.
Não pela segunda vez.
— Eu vou ser rápido.
— Rocco... por favor.
— Não implore, Sienna. Você me abala, mas eu tenho a
Outfit. Eu lutei por ela e eu não cairei por não desejar as suas
lágrimas. Seu irmão entrou na minha cidade duas vezes e ambas foi
para tirar você de mim. Ele merece a morte e eu não o pouparei.
Ela suspirou, e voltou a encarar a janela enquanto novas
lágrimas desciam por seu rosto.
Meu celular começou a tocar e eu me afastei dela. Sienna
desceu da janela e andou até a cama enquanto eu peguei o celular
e atendi Romeo. Ele foi para o Village com Salvatore e Juliano
enquanto eu apenas segui para casa. Para Sienna.
— O quê? — perguntei olhando Sienna tirar o lençol e vestir
sua camisola de seda rosa.
— A Bratva invadiu. — A voz do meu irmão soou distante e
baixa.
— Porra! Você está bem? Onde está? — Eu corri para o lado
da cama e peguei minha arma. Se eles entraram na mansão eu
precisava agir, rápido. Sienna me encarou assustada e eu apertei a
arma. — Romeo!
— Village. Eles levaram Giulio e Salvatore. Eu não faço ideia
do que caralho aconteceu ou como entraram sem que alguém
avisasse...
— Romeo, você está bem? Estou indo.
— Eles me balearam. Estou numa das salas a provas de
som. Me tranquei quando tudo ficou uma merda — Romeo gemeu
baixo e eu peguei minha calça. Vesti ela enquanto avisava ao meu
irmão que eu estava a caminho. — Preciso que cheque Lunna. Ela
estava com Matteo, mas com a chegada de Sienna ela ficou
sozinha. Você precisa ir até ela, Rocco.
— Ela deve estar dormindo. Você precisa de mim, não Lunna!
— eu gritei de volta e saí do quarto com Sienna me seguindo. —
Aperte a ferida. Romeo, eu vou destruir eles.
— Você vai checar a minha esposa! Eu estou bem. Essa
merda não é nada.
Continuei com o celular ligado e abri a porta de Matteo. Ele
se ergueu já segurando a arma e eu apontei para fora.
— A Bratva entrou no Village. Vá para lá com cinco soldados
e procure Romeo nas salas de pânico — eu lati irritado vendo-o
arregalar os olhos.
— Ele está bem, certo? — A mudança na voz de Matteo me
fez ficar rígido.
— Ele foi baleado. Vou acordar Prince. Ele vai levar Sienna e
Lake para o quarto de pânico. Vá agora!
Andei para fora e meu irmão desceu as escadas enquanto
Sienna estava ao meu lado.
— Rocco...
— Não, Sienna. Eu preciso checar Lunna e vou para o meu
irmão — a cortei abruptamente e segurei sua cabeça trazendo-a
para mim. — Você vai ficar com Lake no quarto de pânico. Lunna
virá para cá também.
— Por favor, cuidado — Sienna implorou com medo e eu
beijei sua boca rapidamente. Recomecei a andar e subi as escadas
com ela.
— Eles invadiram minha boate. Alguma coisa está bem
fodida, Sienna. Cuidado não é o mais importante.
— Eles podem matar você se ainda estiverem lá. — Ela me
olhou em pânico e eu respirei fundo colocando minha arma na mão
e abrindo a porta de Prince.
Acordei meu irmão e depois de explicar o que ele deveria
fazer, me virei para Sienna enquanto Prince pegava suas facas e
armas.
— O que quer que seja amor, Sienna, eu sei que senti por
você. Cuide de Lake — eu suspirei quando ela me agarrou.
— Não se atreva. Não faça isso...
— Eu vou matar quem machucou Romeo. E se eu morrer no
processo, eu sangrarei feliz. Romeo é minha carne, meu sangue. Eu
vou morrer por ele sem hesitar.
Sienna levou a mão aos lábios para conter um soluço e por
mais que eu quisesse consolá-la, eu tinha que ir buscar Lunna.
Entrei em meu carro, depois de sair de casa, e cinco
soldados me seguiram até a casa de Romeo.
Assim que desci do carro eu olhei ao redor. A porta
entreaberta me fez pegar minha arma e mirar na minha frente.
Entrei na casa e apertei a mandíbula ao ver um vaso no chão,
quebrado. Sinais de luta estavam espalhados pela sala fazendo
meu batimento cardíaco acelerar. Eu apontei para o interior da casa,
mandando os soldados entrarem e eles se espalharam. Me movi
para as escadas e mesmo antes de entrar nos quartos a procura de
Lunna, eu soube que ela não estava aqui.
Alguém tinha levado a esposa do meu irmão.
Assim que finalizei a vistoria meu celular tocou e o nome de
Matteo apareceu na tela.
— Ele está bem. O médico está aqui e tratando dele —
Matteo avisou respirando fundo e eu fechei meus olhos, aliviado,
porém, sem saber como contar a Romeo que levaram Lunna.
— Ok. Eu estou...
— O que foi? — Matteo notou minha voz preocupada e eu
soquei o carro, ardendo de ódio. — Pergunte a ele sobre Lunna. —
A voz de Romeo soou e eu fechei os olhos
— Passe para Romeo — pedi a Matteo e com alguns
segundos ouvi a voz do meu irmão. — Ela não está aqui.
— O quê? — Romeo gritou na linha e eu apertei o punho
contra minha boca. — Cadê ela, Rocco?
— Eu não sei! Acabei de entrar na casa de vocês e tem
indícios de briga. Como a Bratva entrou aqui? Como diabo isso
aconteceu?
— E por que foram para Lunna? — Romeo baixou a voz e eu
me vi em meu irmão. Ódio puro e latente nos consumindo.
— Eu não sei. Mas eu vou matar todos com você. Eu juro que
traremos ela para casa.
Meu irmão não me respondeu e eu podia sentir Romeo se
perdendo.
Lake olhou para a porta assim que Prince a fechou e nos
trancou, indo encontrar Rocco. Eu não sabia o que estava
acontecendo e isso me deixou em pânico. Lembrei de Rocco se
despedindo e lembrei que momento fugazes de alegria sempre
antecediam tragédias. Sempre era assim.
— Tem alguém na casa? — Lake questionou com a voz
trêmula e baixa.
Eu passei a mão pela minha roupa e me aproximei. Troquei
minha camisola por uma calça de moletom e blusão de Rocco assim
que Prince pegou Lake. Olhei ao redor para o quarto sem janelas.
As paredes eram lisas e duas camas grandes estavam uma ao lado
da outra. Uma geladeira, cômoda e um armário eram as únicas
coisas além das camas.
— Não sei. — Eu me sentei na cama um pouco longe da
minha cunhada e ela olhou para as mãos.
— A última vez que algo assim aconteceu... — Lake parou de
murmurar e piscou como se estivesse recordando algo. — Eles a
mataram. Ele a matou — seu murmúrio foi pequeno e eu engoli em
seco, com medo de saber sobre quem ela estava falando. — Rocco
o pegou em seguida. Foi horrível. — Lake tremeu e levou as mãos
aos ouvidos apertando. Me aproximei devagar e ela olhou para o
chão se encolhendo. — Não me toque. Por favor, só não faça.
— Tudo bem, eu não vou Lake — sussurrei saindo da cama e
me sentei no chão, a sua frente. — Quem matou quem? —
questionei confusa, porém indecisa. Não queria perturbar Lake e ela
parecia a ponto de se perder.
— Meu pai... não, o pai dele. O pai deles. — Seu olhar
encontrou o meu, mas estava desfocado. — Ele me machucou...
Rocco o matou. Ele o matou por mim...
Lake engoliu em seco, e voltou a olhar para as mãos.
— E ela morreu me defendendo — minha cunhada sussurrou
e lágrimas encheram seus olhos. — Ela era como o sol. Quente,
bonita e cheia de luz. Eu a matei — Lake soluçou levando as mãos
ao rosto e eu ofeguei desnorteada. Me senti impotente ao ver Lake
soluçar e tremer em um choro profundo e eu sem poder consolá-la.
— Lake... eu não sei o que dizer...
— Rocco adora mostrar a todos que é um monstro. E sim, ele
é um pouco, mas meu irmão me salvou... Ele salvou todos nós —
Lake falou fungando e eu me aproximei um pouco, mas sem tocá-la.
— Quem morreu, Lake? — perguntei com medo da resposta.
— Mamãe. Ele a matou — ela respirou fundo e limpou as
pálpebras. — Eu tinha doze anos. Era o dia do casamento de
Romeo e Lunna. Eu queria ir para Nova Iorque, mas não tive
permissão. Apenas Matteo e Prince foram. Rocco tinha brigado com
papai dias antes. — Lake franziu as sobrancelhas e me encarou
piscando. — Não sei por que ainda o chamo assim. Ele não é meu
pai.
— Como? Mas...
— Ele me odiava. Eu representava seu fracasso. — Lake
mordeu o lábio e novas lágrimas desceram por suas bochechas. —
Nem se eu tivesse seu sangue ele nunca me amaria. Ele me
chamava de rata. Dizia que eu deveria viver no esgoto, que eu era
suja. — Observei seu rosto tão lindo se transformar em repulsa. —
Eu o odeio. Odeio por ele ter matado minha mamãe.
— O pai de vocês a matou? — Meus olhos estavam
arregalados e Lake acenou puxando suas pernas contra o corpo,
abraçando-as.
— Ele rasgou a garganta dela diante de mim. Olhando nos
meus olhos.
Lágrimas embaçaram minha visão e eu levei a mão a boca,
contendo um soluço. Lake fixou os olhos na porta e eu chorei
baixinho tentando imaginar Lake ver sua mãe ser assassinada
diante dos seus olhos.
A porta abriu e nós duas nos erguemos, vendo Prince. Ele
olhou entre nós e acenou para que saíssemos. Segui Lake em
silêncio, mas o rosto de Prince estava abalado. Algo tinha
acontecido.
— Onde está Lunna? — Lake questionou antes de mim,
assim que entramos na sala, e Prince respirou fundo, olhando entre
nós duas.
— A Bratva a levou — ele murmurou depois de segundos e
eu arregalei os olhos sentindo meus joelhos se enfraquecerem.
— O quê?Por quê? Mas... ela vai ficar bem? — Lake
questionou voltando as lágrimas e eu me sentei apertando o sofá
entre meus dedos. — Prince.
— Não sabemos. Rocco, Romeo e Matteo estão vindo para
casa. Reuniremos os homens aqui. Queremos saber como a Bratva
entrou e porque foram para Lunna. Eles poderiam ter entrado aqui,
pegado Sienna ou você, mas não, eles foram diretamente para
Lunna. Algo está errado e precisamos saber o que é.
A propriedade tinha apenas uma entrada e isso queria dizer
que eles passaram por aqui para ir até Lunna. Eu fechei meus olhos
tremendo de medo.
— Salvatore foi pego. Ele, Giulio e Lunna — Prince falou
olhando para mim e eu senti meu coração parar de bater. Me ergui
com os olhos arregalados.
— Como? Mas...
— No confronto, a Outfit perdeu homens. Seu irmão lutou ao
lado de Romeo, mas eles o levaram. Giulio estava na propriedade,
em nosso porão, não faz sentido...
— No porão? — Lake olhou para seu irmão assustada e
Prince acenou. — Eu o vi.
— O quê? — Prince gritou chocado e eu fiz o mesmo,a
encarando. — Como diabos você o viu, Lake?
— Uma vez. — Lake começou engolindo em seco e lambeu
os lábios ressecados. — Eu desci lá e o vi. Ele estava dentro da
cela parado. Ele só me olhou de volta. Não falou nada e nem se
mexeu.
— O que porra você foi fazer lá? — Prince estava gritando e
eu o compreendia. Lake poderia ter se machucado. Eu não
conhecia Giulio, mas se eu estivesse em seu lugar e a oportunidade
de fugir aparecesse, eu a agarraria com unhas e dentes.
— Eu... — Lake se calou assim que a porta se abriu e Rocco
entrou. Romeo andou para a sala de jogos e eu olhei para os meus
pés, sentindo medo e culpa me corroer. Lunna estaria protegida se
Romeo não estivesse com Rocco, barganhando meu retorno.
Segurei minha blusa entre os dedos e senti Lake se
aproximar de mim.
— Ela está bem? — A voz baixa de Lake me fez suspirar e
encarar o rosto do meu marido. Rocco estava sério, sem sarcasmo
ou ironia por perto. Seus olhos azuis brilhavam com a escuridão e o
desejo de matar. Era tão claro como a água do oceano.
— Não sabemos — Matteo a respondeu, quando Rocco não
o fez. — Eles tiveram ajuda de alguém de dentro. De um dos
soldados que confiávamos ficar dentro da propriedade — Matteo
murmurou apertando os pulsos enquanto Rocco pegou uma garrafa
de uísque e seguiu Romeo.
— Não importa quem foi. Eu me preocuparei com isso depois
de encontrar e trazer Lunna para casa — Rocco respondeu quando
entramos na sala de jogos. Romeo estava olhando pela janela de
vidro a floresta que nos cercava.
— Por que Lunna? Não faz sentido — Prince murmurou e eu
acenei, porque eu também estava confusa.
— Eles estão em guerra com a Cosa Nostra — Romeo
sussurrou tão baixo que quase não pude entender. — Eles a
queriam por causa dele.
— Pode ser — Rocco respirou fundo e eu cruzei meus braços
olhando para a parede. Me sentindo pequena, acuada e culpada.
— Me desculpe — murmurei encarando as costas de Romeo
que ficou tenso ao me ouvir. — Eu sou a razão para que você não
estivesse a protegendo. Eu queria poder fazer algo...
— Não é culpa sua — Rocco me interrompeu com sua voz
cortante e eu mordi meu lábio sentindo minhas lágrimas. Rocco se
ergueu e andou até minha frente, me encarando com firmeza. Assim
que ele me tocou eu solucei.
— Eu estou com medo. Muito medo.
— Eles não vão matá-la. Somos espertos, Sienna. Ninguém
mataria seu único trunfo, sua carta na manga. Lunna vai ficar bem
— Matteo murmurou sentando no sofá e eu o encarei, surpresa. Ele
era a última pessoa que eu pensei que me consolaria.
— Mas Salvatore? — questionei sentindo minha garganta
doer. Rocco se afastou e deixou as mãos caírem. — Eles vão matá-
lo.
— Sim, possivelmente — Rocco respirou fundo e seu celular
tocou. — Eles chegaram. Vamos.
Romeo continuou em silêncio e seguiu seus irmãos, me
deixando com Lake.
— Eu sinto muito, Sienna.
Eu também sentia.
Eu dormi no andar de Lake em seu quarto de hóspedes.
Rocco não apareceu. Ele ainda estava reunido com seus homens
de confiança. Tentando achar maneiras de encontrar Lunna.
Esperamos que a Bratva entrasse em contato.
— Eles chegaram a pouco tempo — Lake murmurou próxima
a janela e eu me aproximei prendendo meus cabelos.
Vários homens de terno estavam em nosso jardim. Todos
com armas e óculos escuros. Parecia cena de filme, no entanto, era
real. Era minha vida. Rocco saiu da casa e eu prendi um suspiro de
apreço. Ele estava de terno também, tão bonito quanto o dia em que
nos casamos. Parecia que tinha se passado tanto tempo.
— Será que Lunna voltará bem? — Lake questionou com um
suspiro e eu a olhei.
— Sim, você ouviu Matteo...
— Ele falou em matar — Lake me interrompeu e eu engoli em
seco. — Machucar vai além, Sienna.
Eu fiquei em silêncio, porque Lake estava certa.
— Rocco não precisa de incentivo para matar, mas assistir
Romeo mais preso dentro de si está acabando comigo e vai levar
Rocco até o inferno — ela falou assim que Romeo apareceu
também de terno. Eles pareciam executivos, para quem os visse de
fora.
— Rocco o adora.
— Rocco o venera — Lake me corrigiu e olhou para mim com
um sorriso triste. — Romeo faz o mesmo, mas Rocco tem Romeo
como uma âncora. Rocco se perde fácil, Sienna. Romeo o traz de
volta.
Com as palavras de Lake as coisas começaram a encaixar
em minha mente. Romeo sempre distante, frio e impessoal comigo
era motivo de cuidado. Ele não queria que eu machucasse Rocco.
Eu sorri balançando a cabeça. Eu jamais poderia machucar Rocco.
Bateram na porta e eu me movi em direção a ela. Assim que
a abri Prince acenou para fora.
— Vamos — disse vestido como seus irmãos e eu franzi a
testa.
— O que houve? Por que estão vestidos assim? — Lake
questionou o que eu queria quando nós duas começamos a descer
as escadas com ele. Minha calça jeans agarrava minhas pernas e a
sapatilha cobria meus dedos. A blusa de seda tinha alças finas e eu
segurei uma delas esperando a resposta de Prince.
— Rocco fez uma iniciação — ele falou baixo e eu franzi o
cenho.
— Como assim?
— Ele matou cinco traidores ontem, depois de descobrirmos
quem auxiliou a Bratva. Seus filhos que tinham doze ou, no caso do
mais novo, dez, foram iniciados.
— Mas... eles não têm a idade... — eu exalei chocada e
Prince me encarou.
— Temos muitos soldados, Sienna, mas precisamos de
lealdade. Quanto mais jovem, mais leais eles se tornam. Nós
queremos fortalecer a Outfit. Não importa se um deles ainda não
comeu uma mulher ou qualquer merda assim — Prince falou assim
que paramos nas escadas do térreo.
— Eu compreendo.
— Que bom. Tomem café da manhã. Nós vamos viajar —
falou com firmeza e se afastou, me deixando mais confusa ainda.
— Viajar? — Lake franziu a testa e eu andei para a cozinha.
Mama L não estava em lugar nenhum e quando me aproximei da
geladeira, gritei levando a mão a boca.
Senti meu estômago retorcer e caí tremendo ao ver o corpo
da senhora mais velha. Sua garganta estava degolada e sua cabeça
em cima da barriga.
Os irmãos Trevisan apareceram assim que comecei a vomitar
chorando e tremendo. Oh meu deus. Eles entraram aqui. Eles estão
aqui.
— Puta que pariu — Matteo ecoou e eu segurei minha
barriga tentando parar a onda de vômito. Senti uma mão em minhas
costas e me ergui vendo Rocco. Sentindo meu coração quebrar eu
me joguei em seus braços e apertei meu rosto em seu peito,
enquanto eu soluçava.
Eles tinham matado Mama L. Eles mataram a mulher que
nada tinha a ver com nossa vida ou loucura. Eles a mataram por
nada.
— Tem um papel — a voz de Prince murmurou e quando o
mostrou para a gente Rocco me segurou mais forte.
Opróximo será um Trevisan se alguém ousar tentar resgatar
Lunna.
O rosto de Lake se franziu lendo o papel, ao mesmo tempo
em que um celular tocou. O meu. Afastei Sienna da cena horrível e
atendi enquanto guiava ela para fora da cozinha. Sienna estava
branca como uma folha de papel e em choque. Não titubeei ao ver a
cena, porém eu entendi. Sienna não era acostumada com a
brutalidade.
— Rocco — respondi rápido enquanto Sienna sentou no sofá
e puxou as pernas contra o peito.
— Temos uma ligação da Bratva.
— Passe.
Romeo me encarou e eu coloquei o celular no viva-voz. Meu
irmão estava tenso, fechado e eu odiava assistir Romeo se perder
dentro de si mesmo. Eu senti algo parecido quando Sienna se foi,
mas com ele era ainda pior. Lunna era dele, mesmo que ele se
mantivesse distante. Ela escapou entre nossos dedos.
— O que quer em troca? Seja rápido — falei assim que ouvi a
voz pronunciada de Nikolai Isayev. Eu conhecia o chefe da Bratva.
Não pessoalmente, mas eu estudava meus inimigos e ele era um
deles.
— Não quero trocar nada, Rocco. — Seu sotaque me dava
nos nervos e eu esperei que continuasse tentando ficar calmo. —
Lunna é minha.
— Não me provoque — Romeo balbuciou atrás de mim e
Nikolai riu.
— Você sabe tão bem quanto eu. Ela deveria se casar
comigo. Seu pai traiu a Bratva e o acordo. — Nikolai soou tenso,
porém em seguida riu. — Ela está a caminho de onde deveria estar
desde sempre.
— Se a tocar, eu matarei você — Romeo falou firme e baixo,
com ódio dilatando suas pupilas.
— Eu nunca a forçaria. Lunna vai pedir pelo meu toque e eu
darei no exato segundo.
— Eu vou matar você, Nikolai. Deveria ter feito antes. —
Romeo andou até mim e me olhou com firmeza. — Eu vou colocar a
Rússia abaixo, mas trarei minha esposa de volta e eu vou arrancar
seus olhos por ter olhado algo que nunca lhe pertenceu ou
pertencerá.
— Romeo...
— Nós dois sabemos onde o coração dela está. — Meu
irmão sorriu me olhando, vazio. — Nas minhas mãos.
— Ela vai me amar. É questão de tempo e nós temos isso. —
Nikolai soou irritado e eu sorri, relaxando.
— Você entrou aqui por causa de uma mulher que nem sua é
e para nada? — eu caçoei de Nikolai o que o fez rosnar. — Honre
seu juramento e sua família. Nós vamos pegar você, Nikolai. É
questão de tempo e quando você diz que o tem... hum, tic-tac, está
sentindo minha respiração em seu pescoço?
Eu desliguei o celular e respirei fundo olhando para meu
irmão.
— Que porra é essa? Que droga Nikolai tem a ver com
Lunna? — questionei a Romeo, frustrado e com raiva. Nunca soube
disso.
— Ela foi prometida a ele antes de mim. Carmelo mudou de
ideia quando o chefe na época ordenou que ela casasse com um de
nós. Paz entre a Outfit e a Cosa Nostra. Guerra entre eles —
Romeo explicou antes de socar a parede, esfolando seus dedos.
Eu não sabia muito do que aconteceu antes de eu assumir.
Não fui criado com meus irmãos. Não participei da iniciação. Eu era
um segredo imundo que Ettore amava esconder. A paz foi por água
abaixo depois que nosso pai matou Violetta, a mãe dos meus
irmãos.
O pai de Lunna, é um bastardo, não me admira que ele tenha
mudado de ideia. Eu respirei fundo e me virei vendo Lake parada
encarando nós dois.
— Lunna... ela é... — Lake não conseguiu falar e eu me
aproximei, porém ela ergueu a mão, me fazendo parar. — Ela é
minha irmã?
Romeo engoliu em seco ao meu lado e andou até Lake que
abriu a boca e começou a gaguejar.
— Ettore me disse que meu pai era Carmelo. Ele disse isso
enquanto me tocava. Ele disse que não era pecado e que eu
merecia. Ele... — Lake ofegou recordando e eu apertei meu pulso
vendo-a se agachar abraçando a si mesma.
— Lake. — Prince se agachou e pegou ela pelos ombros.
— Vocês mentiram para mim. Vocês me enganaram...
— Lake, fizemos o melhor...
— Para quem, Romeo? — ela gritou se erguendo e nos
encarou com o queixo erguido. — O pai de vocês me estuprou. Ele
me batia todos os dias enquanto cresci. Vocês não fazem ideia das
marcas que possuo. E eu não estou falando da minha cabeça! Ele
me quebrou. Por causa dela. Pelo que ela fez!
— Ela não fez nada! — Matteo gritou para nossa irmã e
apertou a mão na boca. — Ela foi estuprada como você. Ela não
teve um Rocco para salvá-la. Carmelo ficou com ela por dois dias e
a estuprou. Ninguém, nunca soube disso, mas ela nos contou. Ela
confessou quando nosso pai bateu em você a primeira vez.
Lake recuou com os olhos vidrados e eu encarei meus
punhos. Eu odiava isso, odiava lembrar de Violetta porque ela era
boa. Ela não merecia morrer aquela noite.
— Mentira...
— Ettore sabia que você não era dele. Ele sempre soube e
adorava dizer que Violetta deveria estar morta pela traição. Mesmo
tendo a mim fora do casamento — eu murmurei interrompendo-a e
Lake me encarou. — Ele soube no dia da sua morte que foi pelo
estupro.
— Não o matamos por ele ser ruim, Lake. Todos nós somos.
O matamos porque ele a machucou e a fez se odiar. Mas, você é
perfeita. Nada em você está danificado ou sujo. Ele morreu depois
de sofrer muito — Prince afirmou ficando na frente dela. — Você é
nossa garota e nós a protegeríamos daqui até o inferno. Sempre.
— Eu nasci de um estupro, Prince. Eu nasci do sofrimento
dela — Lake falou baixo e eu dei um passo em sua direção.
— Você não se resume a essa merda — afirmei tocando em
seu braço e ela me olhou com novas lágrimas. — Sua mãe te
amava, Lake. Ela não te via por isso, ela enxergava o bebê bonito e
a criança esperta. Ela amou a adolescente que deixava ela fazer
tranças.
O queixo da minha irmã começou a tremer e ela correu para
o meu peito. Lake chorou forte, soluçando e eu me senti sendo
pisoteado como nunca. Porque meu pai poderia me bater, me
humilhar e me renegar, mas ele nunca pisou em meu coração. As
lágrimas de Lake o faziam.
— Tragam Lunna para mim — Lake implorou e eu encarei
Romeo, Matteo e Prince. Eles acenaram e Lake se afastou.
— Baby, nós vamos até o inferno atrás dela — Matteo disse
firme e eu concordei.
Nós iriamos.

Me aproximei de Romeo parado no jardim e acendi um


cigarro. Não gostava muito da porcaria, mas ele me acalmava e
para pegar Lunna de volta, eu precisava estar tão calmo quanto um
maconheiro.
— Sienna ama você? — a pergunta de Romeo soou lenta e
eu o encarei soltando a fumaça pelos meus lábios.
— Sim — respondi rápido, porque eu sabia que ela me
amava. Não sabia como ou de que maneira, mas ela me amava.
— E você? — Fiquei calado diante da sua pergunta. — Você
a ama?
— O que quer que isso seja ou signifique, sim.
Meu irmão respirou fundo e virou o rosto para me encarar.
— O amor se modifica? Ele acaba? — Romeo me questionou
com uma expressão tão confusa como jamais vi nas suas feições.
— Eu sei sobre amor tanto quanto você, mas se acha que o
que eu sinto pode acabar, está enganado. Não pode. Lutei contra
isso. Muito, mas ainda está aqui. — Eu toquei seu ombro e suspirei
ao entender de onde saiu suas perguntas. — Lunna não vai deixar
de te amar.
— E se ela se apaixonar por Nikolai? — Ele parou de me
encarar e olhou para o cais.
— Isso não vai acontecer.
— Sienna acha que a culpa é dela. Não é de ninguém além
de mim. Eu deveria cuidar de Lunna e não fiz.
— Não fez porque você estava comigo. Porque mais uma
vez, você cuidou de mim e não de si mesmo. Não dela — eu respirei
fundo e encarei os olhos do meu irmão. — Não mais. Você precisa
cuidar de si mesmo. Eu me manterei, Romeo. Você não precisa
cuidar de mim.
— Eu sou seu irmão. Farei isso até meu último suspiro.
Ele se afastou sem dizer mais nada.

Encontrei Sienna na janela que tanto amava e depois de tirar


minha camisa eu me aproximei. Seu queixo estava descansando
nos joelhos e ela olhava para o cais pensativa.
— Você não tem culpa dessa merda, Sienna — murmurei
tocando em sua perna.
— Ainda é difícil acreditar nisso — ela respirou fundo e me
encarou com os seus olhos azuis. — O que me alivia é que Nikolai
não vai machucá-la.
— Não sabemos disso.
— Ele parece gostar dela. Depois de anos ele a roubou de
Romeo. Ele não a esqueceu...
— Ela está longe de Romeo. Não importa se não está
machucada. Ela é dele. — Sienna me olhou e suspirou.
— Ela o ama. Ela não vai se enfeitiçar por Nikolai. Amar não
é isso. Lunna o odeia, nada além disso. — Sua afirmação me fez
relaxar. Desde a conversa com Romeo eu estava por um fio, não
queria imaginar Lunna querendo ficar com Nikolai. Romeo se
perderia. — Estamos divagando demais sobre isso. Lunna vai voltar
para casa com Salvatore e tudo vai ficar bem.
— Sim, você está certa.
Deslizei meus dedos pelo seu braço e segurei seus dedos.
Sienna apoiou a cabeça em meu peito e me abraçou.
— Não quero imaginar caso fosse eu no lugar dela. No
desconhecido depois de ser arrancada da sua casa, do seu marido,
de tudo que ela conhecia e amava.
— Não precisa imaginar essa merda. Nunca vai acontecer.
Ninguém vai tirar você de mim. Não uma segunda vez — grunhi
encarando seu olhar e Sienna sorriu, se esticando até beijar meus
lábios.
— Vamos ficar bem. Todos nós — Sienna falou com firmeza e
eu acenei. — Lunna voltará para casa.
— Pode apostar que sim.

Sienna se aconchegou em meu peito naquela noite depois


que entrei no quarto. Já passava das três da manhã e nós
estávamos nos organizando. Iriamos para a Rússia, mas se
quiséssemos sair com vida de lá, precisávamos de planejamento e
principalmente, de aliados.
— Está tudo bem? — ela questionou enquanto puxei sua
camisola e a joguei ao lado da cama. Segurei seus mamilos e
Sienna gemeu beijando meu pescoço.
— Melhor agora — disse gemendo ao sentir sua mão em
meu pau. — Se vire e sente em meu rosto. Quero comer sua boceta
enquanto você me chupa — falei rouco e mesmo sem ver seu rosto
eu sabia que ela estava vermelha.
Sienna se afastou e deslizou fora da calcinha para passar a
perna em minha cintura. Toquei sua bunda perfeita e ela colocou
seus joelhos acima dos meus ombros. Suspirei com a visão das
suas dobras e a lambi devagar ouvindo seu gemido. Sienna tocou
meu pau e ele saltou quando ela desceu a cueca.
Gemi quando sua boca me tomou. Sua língua molhada era
deliciosa e eu chupei seu clitóris seguindo o movimento dela. Assim
que nós dois gememos gozando, Sienna se moveu e virou, ficando
de frente para mim. Seus quadris desceram em meu pau já duro
novamente e eu segurei seu seio, amassando-o em minha mão.
— Rocco — minha passarinha gritou rebolando e eu belisquei
seu mamilo. Sienna caiu em meu peito gozando mais uma vez e eu
a segui gemendo e mordendo seu ombro.
Nossas respirações ficaram altas e eu senti sua boca
distribuindo beijos em meu peito e pescoço.
— Eu te amo. Não vamos nos perder.
— Eu amo você, Passarinha.
Sienna ergueu o rosto e seus olhos encheram de lágrimas.
Limpei uma delas em sua bochecha e me inclinei beijando sua boca.
— Meu coração manchado, escuro e danificado é seu.
— Eu vou guardá-lo para sempre.
Sienna fungou e eu sorri segurando seu pescoço e trazendo
ela para mim. Nos beijamos e novamente nos perdemos no corpo
um do outro.
Não sabia o que era amor e nem o que era pertencer a algo
ou a alguém. Eu sempre fui sozinho, sem raízes, sem conexões,
sem lar.
Agora eu tinha Sienna. Ela era isso para mim agora.
Meu lar.

FIM!
MENTIRA DISTORCIDA

LUNNA BIANCHI
15 ANOS
Meu cabelo estava muito longo mais uma vez. Eu o afastei da
minha testa e suspirei jogando a mecha longa para trás do ombro.
Mamãe me repreendeu enquanto fazia babyliss. Lhe dei um sorriso
com um pedido de desculpas, e ela continuou a preparar meus
cabelos.
— Podemos cortar um pouco? — perguntei quando ela
terminou e eu me ergui em frente ao espelho. Os fios estavam
ondulados e ainda alcançavam logo acima do cós do short que eu
usava.
— Não. Seu cabelo é perfeito. Você precisa cuidar, não
querer se desfazer — mamãe soou incomodada e eu engoli em
seco, acenando. Ela estava certa.
— Ele é bonito? — questionei quando ela tirou o meu vestido
do closet e caminhou até mim segurando-o.
— Isso não importa, Lunna. — Ela revirou os olhos e me
entregou o vestido rosa seco. — Ele será seu marido dentro de dois
anos e sim, ele será um homem bonito. — Mamãe relaxou e tocou
minha bochecha. — Romeo será o chefe da Outfit. Seu capo, sua
lealdade. Ele será um homem importante e você será uma rainha
com seu próprio castelo.
Eu sorri enchendo meu peito de ar. Sempre sonhei em me
casar, gostava muito de brincar de casinha e bonecas. Então, não
era de se espantar que eu estava tão animada para o casamento.
Para tudo.
— Serei uma boa garota — murmurei antes que ela pedisse.
Mamãe não gostava de irritar papai e sempre me dizia o que não
fazer em sua presença. Entre nós poderia haver erros, mas em sua
presença jamais.
Assim que vesti o vestido, eu suspirei. O tecido era macio e a
saia caía rodada abaixo da minha cintura até meus joelhos. Ele
tinha tule, mas isso não o deixou alto, apenas sofisticado. Como o
de uma princesa.
— Você está pronta? — mamãe questionou quando retornou
ao meu quarto, já arrumada. Ela tinha cabelos escuros iguais aos
meus e do papai. Éramos bonitos, eu podia dizer. Acenei
rapidamente me aproximando e ela segurou minhas bochechas. —
Tudo que precisa fazer para ficar bem e feliz em um casamento...
— Ser educada, simpática, calma e ter bebês — completei
sua frase costumeira e mamãe sorriu orgulhosa. Eu senti meu peito
relaxar. Amava quando ela sorria assim.
— Seus bebês serão tudo que a manterá feliz. Não esqueça
disso, Lunna.
Eu acenei, porque jamais esqueceria. Crescer dentro da
máfia ensinava coisas a mulheres e uma delas é que filhos era sua
única segurança. Minha mãe me protegeu até onde pôde, mas
quando chegou minha hora, ela espalhou as cartas sobre a mesa e
me deu um choque de realidade.
Tínhamos deveres. O casamento era um deles.
Mamãe andou a minha frente e quando começamos a descer
as escadas eu vi sapatos multiplicados. Quando meu salto tocou o
último degrau eu suspirei vendo papai ao lado de um homem mais
velho e outro homem. Jovem como eu, porém mais alto. Seu cabelo
era um pouco maior que o habitual, mas tão bonito quanto. Seus
olhos se fixaram nos meus e eu prendi um ofego ao ver o olhar azul,
porém nublado. Quase cinza. Ele piscou me encarando de volta
enquanto eu apertei minha mão em meu vestido. Seus lábios se
esticaram tão sutilmente que se eu não estivesse o encarando com
tanta atenção não perceberia.
— Lunna Bianchi — o homem mais velho murmurou sob a
nevoa da minha cabeça e eu engoli em seco, tirando os olhos dele.
— Esse é meu filho, Romeo.
Meu coração apertou quando retornei meus olhos para ele e
senti frio disparar pelo meu estômago. Foi forte e eu quase senti a
bile subir em minha garganta por tanta emoção.
Meu Romeo.
Mamãe me tocou devagar e eu respondi qualquer
formalidade sem perceber realmente. Romeo se aproximou e eu
estendi a mão quando vi sua palma para cima. Ele beijou meus
dedos e o toque dos seus lábios me fez estremecer.
— É um prazer, Lótus.
Eu terminei esse livro há alguns meses e somente hoje
depois de reler e reescrever, consegui vir aqui fazer os
agradecimentos.
Rocco e Sienna foram intensos até o “fim” escrito páginas
atrás. Eles me consumiram e tiraram meu sono, a história delesera
a única coisa em minha cabeça vinte e quatro horas por dia até eu
finalizar. Eu não estou brincando ao dizer que foi intenso.
Eu sempre desejo que vocês gostem dos meus livros e rezo
muito para isso, mas eu não sinto que esse livro vá agradar a todos.
Nenhum livro agrada, mas Honra Distorcida, principalmente, não é o
tipo de livro que vai laçar todo mundo.
Porém, espero de todo meu coração que a você, sim!
Que você tenha vibrado, chorado, passado raiva e se
apaixonado.
Que você, acima de tudo, tenha sentido várias borboletas no
estômago.
Obrigada a todos que me impulsionam na escrita e na vida.
As minhas leitoras, minha família, amigos e parceiros.
Gratidão imensa a cada um.
Abraços e beijos,
Evilane Oliveira.
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obrigada!
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