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Louyse Jerônimo de Morais 1

Displasia de desenvolvimento do quadril


Referência: aula do prof. Orlando Cavalcanti

Introdução não for dado precocemente, a criança vai ter sequelas


por toda a vida – do mesmo jeito da infecção.
O que vamos abordar mesmo hoje é a luxação
congênita do quadril. Esse termo é relativamente novo, Se der diagnóstico e tratar corretamente, a possibilidade
porque os problemas que ocorrem nessa região podem de cura é quase 100%.
levar a uma luxação. Isso pode ocorrer durante a
Variantes da displasia de desenvolvimento do quadril
gestação, no nascimento e depois dele. Então, em outras
palavras, a luxação congênita do quadril é um tipo de • Quadril luxado: cabeça femoral está fora do
displasia do quadril. acetábulo.
Trata-se de uma patologia dinâmica, facilmente • Quadril subluxado: cabeça femoral está
identificável ao nascimento, no primeiro ano de vida ou parcialmente no acetábulo.
durante o desenvolvimento da criança. Vale lembrar que, • Quadril instável: cabeça femoral pode ser
para isso, é necessário examinar, pois se o diagnóstico deslocada do quadril.
• Displasia acetabular: acetábulo raso.

Etiologia O objetivo é saber se tem um quadril instável,


isto é, luxável. Ele está na posição, mas com essa
• Desconhecida
manobra, você consegue tirar e colocar. Esse é o teste
• Fator genético: familiar, sexo feminino. que fica positivo, normalmente, com o efeito da relaxina,
• Fator hormonal: relaxina. logo após o nascimento. Se repetir alguns dias depois, vê-
Durante o trabalho de parto, a mulher produz um se que a grande maioria não tem mais. Então, esse teste
hormônio denominado relaxina, com objetivo de relaxar diz que o quadril é luxável.
as estruturas pélvicas, para se ter um parto normal. Esse
hormônio, muitas vezes, passa para o recém-nascido.
Logo após o nascimento, ao exame, pode ter sinal de
luxação, então examina imediatamente e uns 10 dias
depois para confirmar se a displasia é verdadeira ou não.

• Fator mecânico: apresentação pélvica,


oligoidrâmnio, primípara.
• Fator ambiental: em alguns países, é mais
frequente.

Diagnóstico clínico

O primeiro passo é examinar o paciente. A partir


daí, pede-se os exames em uma sequência. 2. Teste de Ortolani

Antes do início da marcha É o teste “patognomônico”, vamos dizer assim,


da luxação congênita do quadril. O quadril está luxado e,
1. Teste de Barlow na hora que faz a manobra, ele reduz. Esse teste é feito
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em quadril que já está luxado [não no quadril luxável]. É Após o início da marcha
só abrir as perninhas da criança. Na hora que faz a
5. Limitação da abdução
abdução, sente-se o “click”, pela entrada do fêmur no
quadril. No RN, quando dá esse diagnóstico e se Entre 4 e 6 meses de idade, a manobra de
permanece, começa a fazer o tratamento, com Ortolani se torna negativa, isto é, não se consegue mais
resultados excelentes. reduzir o quadril para a posição correta. Se o quadril
permanece fora do lugar, vai haver um preenchimento
3. Assimetria de pregas cutânea
de tecido nesse acetábulo, bem como um encurtamento
Todo RN tem umas preguinhas cutâneas na muscular, então o tratamento vai dificultar muito mais.
coxinha; quando dobra, essas preguinhas têm que ser
No RN, consegue-se tirar e colocar facilmente,
simétricas. Quando assimétrica, pensa em alguma
por isso que o tratamento promove ótimos resultados. Se
patologia do quadril. Em 10% dos recém-nascidos, essa
não tratar e mantiver o quadril fora do lugar, as
assimetria está presente sem significar patologia, mas
complicações começam a acontecer. Assim, vai ter que
toda vez que tiver, examina com mais cuidado. O lado
usar artifícios para voltar o quadril para a posição. Como
luxado não tem tanta preguinha.
se perde o Ortolani, o sinal clínico mais importante
depois dos 6 meses é a limitação na abdução, a qual é
permanente – para o resto da vida.

4. Sinal de Galeazzi Limitação da abdução – ocorre após 3 meses de vida


Nada mais é do que fletir o quadril e o joelho, O que faz o acetábulo se desenvolver
colocando os calcanhares na mesma altura. Observa-se a normalmente? A presença da cabeça dentro do
altura do joelho e, se houver luxação, o lado luxado vai acetábulo. Se não tiver, ele não desenvolve
ser mais baixo. Se tiver dos dois lados, esse teste se torna normalmente. É por isso que quanto mais tempo deixa
limitado, portanto, não é patognomônico. Além disso, para fazer tratamento e diagnóstico, mais difícil vai ser
também é positivo em fêmur curto congênito. Toda vez corrigir.
que tiver, tem que investigar.

O lado luxado vai ser mais curto. Esse


encurtamento da luxação é aparente, porque o tamanho
do fêmur é o mesmo, só que um encaixa mais em cima e
o outro está no lugar. Não é um encurtamento real.

Veja como a cabeça do fêmur está localizada lá em cima,


longe do acetábulo. Nessa situação, vai ter que construir
um acetábulo, porque ele nem está mais presente.
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6. Teste de Trendeleburg positivo do acetábulo verdadeiro. Com isso, formam-se quatro


quadrantes. Então, a cabeça do fêmur tem que estar no
quadrante ínfero-interno. Veja que, na imagem a seguir,
a cabeça do fêmur esquerdo está no quadrante supero-
externo.

7. Marcha de pato: pende para os lados.

8. Pato operado: quando opera paciente já adulto, não se


consegue manter mais uma marcha normal.
Outra linha que pode traçar é o chamado arco de
Estudo por imagens
shenton. Se você acompanhar o buraco obturatório e
• Radiografia da pelve: a partir do quinto/sexto continuar pelo colo do fêmur, você tem uma linha
mês, começa a aparecer o núcleo de ossificação praticamente uniforme. Quando está luxado, esta linha
secundário do fêmur proximal, ou seja, a está quebrada. Isso são artifícios para ajudar na
cabecinha do fêmur. Na hora que ela começar a identificação.
ser visualizada radiologicamente, o USG começa
Obs.: um parâmetro para saber se o quadril está
a perder o efeito. Nessa situação, a radiografia da
rodado ou não é a presença do pequeno trocânter na
pelve passa a ser útil.
radiografia.
• USG: é muito bom para cartilagem. É bom para
saber evolução do tratamento, pois o diagnóstico
é clínico.
• Artrografia: injetar contraste dentro da
articulação. Usada em casos em que se faz a
redução e fica em dúvida dentro do centro
cirúrgico.
• TC
• RNM

Veja que o núcleo de ossificação do lado esquerdo


[anatômico] está no ínfero-externo.

Linha de Hilgenreiner, em laranja, e linha de Perkins, em


amarelo. Ambas dividem o quadril em quatro quadrantes,
denominados quadrantes de Ombrédane

Existem umas linhas que se traça para saber se o


quadril está luxado ou não. A primeira linha passa pela
cartilagem trirradiada, uma segunda linha passa Ultrassonografia de quadril
perpendicular a ela, passando pelo bordo mais ossificado
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Tratamento • Redução incruenta: depois de 6 meses de idade,


já não se consegue mais colocar o osso no lugar.
• Correias de Pavlik: é o tratamento padrão-ouro
Nessa situação, vai ter que anestesiar a criança e,
no recém-nascido. Podem ser usadas até em
às vezes, consegue.
torno dos 5 a 6 meses de idade. Depois disso, ela
• Redução cruenta: quando não consegue fazer
não tem utilidade, daí a importância do
redução incruenta. Nessa situação, vai ter que
diagnóstico precoce.
abrir, posicionar a cabeça do fêmur dentro do
acetábulo, fazer a rafia da cápsula e usar gesso
por três meses.
• Encurtamento femoral: em crianças que já estão
andando e já não têm mais acetábulo, vai ser
preciso reconstruí-lo. Sendo assim, vai ter que
fazer osteotomia do ilíaco, encurtar o fêmur e
fazer novo acetábulo. É por isso que a
possibilidade de insucesso em crianças com
diagnóstico tardio é muito grande.
Perninhas abertas e fletidas – essa é a posição de • Osteotomias fêmur proximal
redução [o que se faz no Ortolani]. Deixa assim 24h/dia, • Osteotomia bacia
com certo grau de movimento, é claro, para estimular a
Uma luxação bilateral simétrica em um indivíduo
formação do acetábulo no quadril.
com 15 anos ou mais, na opinião do professor, é melhor
Quando inicia o tratamento logo recém-nascido, nem tratar mais, porque se tratar, vai gerar dor e a
fica por três meses usando. Se começar a usar com 3 possibilidade de insucesso é muito alta. Quando é
meses de idade, por exemplo, multiplica por dois, então unilateral, não, porque gera problema de coluna e bacia.
usa por seis meses. Tem que ser em uma fase inicial, se Então, o ideal é arriscar.
iniciar tardiamente, vai chegar na época em que o bebê
O diagnóstico ideal é feito até os 6 meses, depois
vai querer andar e vai retirar isso aí por conta própria.
desse período, tenta redução incruenta, se não
Fica fletido e abduzido, e ainda dá margem para conseguir, faz cruenta. A idade, depois dos 6 meses, não
mexer. São os movimentos que vão estimular a formação vai interferir muito, pois depende se você vai conseguir
do acetábulo. reduzir sem cirurgia ou não.

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