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Embriologia de definição:
● A cabeça do fêmur e o acetábulo têm a mesma origem embriológica, que são as
células primitivas mesenquimais.
● Por volta de 7 semanas de gestação, há a formação de uma fenda nessas células que
dará origem a dois grupos celulares, que irão formar a cabeça do fêmur e o
acetábulo.
● A cabeça femoral e o acetábulo cartilaginosos se formam na 11a semana de
gestação.
● O formato côncavo do acetábulo é determinado pela presença da cabeça femoral.
Para que o quadril se desenvolva de forma saudável e normal na vida adulta, é
necessário que a cabeça do fêmur esteja contida no acetábulo, o que não ocorre na
DDQ.
● A maior parte do desenvolvimento do formato acetabular é determinado até os 8
anos de idade.
● Isso gera alterações anatômicas progressivas, que podem ser reversíveis se tratadas
de forma precoce.
OBS: a luxação teratológica do quadril é uma condição diferente da DDQ, em que a
criança já tem o quadril luxado antes do nascimento, ADM limitado e não há como
reduzir durante o exame. Geralmente está associada a outras síndromes
neuromusculares, especialmente artrogripose e mielodisplasia.
Epidemiologia:
● A incidência é de 1 a 1,5 em 1000 nascidos vivos, porém isso varia de acordo com a
área geográfica (ex: crianças nativo americanas têm alta incidência de DDQ,
enquanto que chineses e africanos bantu têm baixa incidência).
● Acomete mais comumente o sexo feminino, principalemente devido à lassidão
ligamentar.
● É bilateral em 20% dos casos e tem uma predileção pelo lado esquerdo, pois
geralmente esse é o lado forçado contra o sacro na posição intrauterina (posição
OAE - occipito-anterior-esquerda).
OBS: quando é bilateral, tem pior prognóstico.
Etiologia/fatores de risco:
● Lassidão ligamentar:
○ O excesso de lassidão da cápsula articular do quadril gera uma falha em
manter a cabeça femoral dentro do acetábulo (a cápsula articular tem mais
importância do que a estrutura óssea no RN).
○ Relaxina é um hormônio que produz lassidão ligamentar, necessária para a
expansão pélvica materna durante a gestação. Esse hormônio atravessa a
placenta e causa efeitos na criança, o que ocorre de forma mais intensa no
sexo feminino.
○ Além disso, os RN com DDQ parecem ter maior nível de colágeno III em
relação ao colágeno I, do que crianças sem DDQ.
● Posição intrauterina e neonatal:
○ 16% das crianças com DDQ nascem em apresentação pélvica. Determinadas
posições intrauterinas são mais associadas à DDQ do que outras, sobretudo
com hiperflexão do quadril e joelhos estendidos.
○ Após o nascimento, crianças que ficam em posição de extensão de quadril
(como os nativo americanos Navajo) têm uma incidência muito maior de
DDQ.
● Restrição intra-útero:
○ Qualquer condição que restrinja o movimento do feto dentro do útero pode
predispor ao desenvolvimento de DDQ. Algumas dessas condições são:
■ Primeira gestação;
■ Oligodramnia;
■ Gemelaridade
○ Alguns achados no exame físico do RN podem sugerir a restrição intrauterina,
como:
■ Metatarso aduto: 1 a 10% de associação com DDQ.
■ Torcicolo congênito: 5-20% de associação com DDQ.
OBS: pé torto congênito não parece ter relação significativa com DDQ.
● História familiar positiva: foi analisado num estudo que o risco de desenvolver DDQ
era de 34% em gêmeos idênticos e apenas 3% em irmãos não gêmeos.
● Hipotireoidismo
Clínica:
● Até 6 meses:
○ Manobra de Barlow: o examinador tenta luxar a cabeça femoral para fora do
acetábulo. O quadril é aduzido e é feita uma pressão de anterior para
posterior o quadril posteriormente. Os dedos do examinador são
posicionados sobre o trocanter maior.
○ Manobra de Ortolani: o examinador tenta reduzir um quadril luxado. Ele
segura a coxa da criança entre o polegar e o indicador, e, com o 4° e 5° dedos,
levanta o grande trocanter ao mesmo tempo que abduz o quadril. Quando o
teste é positivo, a cabeça femoral desliza para dentro do acetábulo, gerando
um clunk palpável, mas não audível.
● Após 6 meses:
○ Sinal de Hart: é a limitação da abdução do quadril afetado. Isso é melhor
visto tentando abduzir os dois quadris ao mesmo tempo (é o sinal mais
confiável).
○ Sinal de Galeazzi: é o encurtamento aparente da coxa, que é melhor visto ao
se flexionar os dois quadris em 90°, comparando a altura dos dois joelhos.
Fisiopatologia:
● Quando há DDQ, o fêmur afetado desliza para dentro e para fora do acetábulo
espontaneamente.
● Para que isso ocorra, o labrum posterossuperior torna-se evertido e hipertrófico,
perdendo sua margem afiada na área por onde a cabeça femoral desliza (essa
transformação é chamada de neolimbus). A cápsula fica hiperelástica e alongada e o
ligamento redondo fica alongado.
● Nos quadris que permanecem luxados, novas barreiras para a redução se
desenvolvem.
○ O tecido adiposo profundamente ao acetábulo conhecido como pulvinar
aumenta em espessura e pode impedir a redução.
○ O ligamento redondo também fica espessado e alongado, ocupando um
maior espaço no acetábulo.
○ O ligamento transverso do acetábulo também torna-se hipertrofiado,
podendo impedir a redução.
○ A cápsula inferior do quadril assume forma de ampulheta, podendo,
eventualmente, apresentar uma abertura menor do que o diâmetro da
cabeça femoral. O iliopsoas, que passa por esse istmo, contribui para esse
estreitamento.
● Após a redução da cabeça femoral, o acetábulo se remodela gradualmente,
aumentando sua profundidade e o ângulo acetabular torna-se mais horizontal.
● Se o quadril permanece deslocado, outras alterações ocorrem, como:
○ O teto acetabular torna-se mais oblíquo;
○ A concavidade torna-se achatada;
○ A parede medial do acetábulo fica espessada (pode ser visto como uma
alteração na lágrima acetabular no RX);
○ A cabeça femoral luxada fica oval e achatada (mais na idade adulta);
○ O acetábulo passa a ser preenchido por tecido fibroso;
○ Os músculos que se inserem no fêmur proximal estão encurtados e
orientados mais horizontalmente.
Classificação de Graf:
● Baseada nos achados ultrassonográficos dos ângulos alfa e beta.
● Divide os pacientes em 5 classes progressivas em relação à gravidade.
● Posteriormente, a classe 2 foi subdividida em 4 tipos.
○ Shelf: é feita uma janela na crista ilíaca que é rebatida para formar uma
cobertura sobre a cabeça femoral.