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CICLO BÁSICO RESUMO

TÍTULO
DO RESUMO
MICROSCOPIA
DO TRONCO
ENCEFÁLICO
CURSO: NEUROANATOMIA

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4 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

1 TRONCO ENCEFÁLICO:
VISÕES GERAIS
O tronco encefálico é a porção do sistema nervoso central localizada entre
o diencéfalo e a medula espinal. O conjunto telencéfalo ou cérebro mais
diencéfalo, tronco encefálico e cerebelo é chamado de encéfalo.

O tronco encefálico é importante, pois:

■ funciona como local de passagem de fibras que conectam estruturas do


sistema nervoso central;
■ origina fibras motoras dos nervos cranianos e processa a aferência sen-
sitiva proveniente desses nervos;*
■ processa arcos reflexos complexos, independentemente da integridade
funcional do restante do encéfalo; por exemplo, promove o controle da
frequência cardíaca e reflexos estereotipados, como o reflexo do vômito.

*Dos doze nervos cranianos, apenas o nervo olfatório (I par de nervos


cranianos) e o nervo óptico (II par de nervos cranianos) não se relacionam
com o tronco encefálico.

Em recém-nascidos, por exemplo, as ações estereotipadas de chorar ou


mamar, que são essenciais para a sobrevivência, são promovidas e coorde-
nadas apenas pelo tronco encefálico e independem da “vontade” do bebê.
Um bebê com lesões graves no cérebro apresentaria esses mesmos reflexos,
desde que mantida a integridade do seu tronco encefálico.

O tronco encefálico é dividido no mesencéfalo, na ponte e no bulbo, e en-


contra-se posicionado imediatamente à frente do cerebelo. Entre o cerebelo
e o tronco encefálico, está a cavidade mais inferior do sistema ventricular:
o IV ventrículo.

A FIGURA 1 apresenta a vista sagital do encéfalo.


MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 5

FIGURA 1

Figura 1: Vista sagital do encéfalo.


Fonte: Grinberg, L. T.; Rueb, U. and Heinsen, H. Acesso via Wikimedia Commons.

A FIGURA 2 apresenta a vista inferior e medial do encéfalo.

FIGURA 2

Figura 2: Vista inferior e medial do encéfalo.


Fonte: Imagem de John A. Beal, PhD, 2005. Acesso via Wikimedia Commons.
6 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

2 REVISÃO: MACROSCOPIA
DO TRONCO ENCEFÁLICO E
COMPOSIÇÃO DOS NERVOS
CRANIANOS
O estudo macroscópico do tronco encefálico é desejável para melhor com-
preensão da sua microscopia. Confira esse conteúdo na plataforma do Jaleko
ou revise na FIGURA 3 e na FIGURA 4.

FIGURA 3

Figura 3: Macroscopia do tronco encefálico – vista anterior.


MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 7

FIGURA 4

Figura 4: Macroscopia do tronco encefálico — vista posterior.

A compreensão da classificação das fibras que compõem os nervos cranianos


também é complementar ao estudo da microscopia do tronco encefálico.
Essas fibras originam-se de núcleos do tronco encefálico (fibras motoras) ou
os alcançam (fibras sensitivas).

Há diferença na classificação das fibras dos nervos cranianos. Isso ocorre na


transmissão tanto da sensibilidade quanto da motricidade. No componente
aferente (sensibilidade), além da sensibilidade geral, também há a transmissão
dos sentidos especiais (olfato, visão, audição, equilíbrio e gustação). No que
diz respeito ao componente eferente (motricidade), a maioria das fibras dos
nervos cranianos são classificadas como fibras eferentes viscerais especiais,
devido à origem embriológica branquiomérica dos músculos da cabeça.
Como exceção, as fibras que realizam motricidade do bulbo do olho e da
língua possuem origem somítica, como os demais músculos do corpo, e são
classificadas como fibras eferentes gerais. Esse detalhe é insistentemente
cobrado nas provas, fique atento!
8 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

O QUADRO 1 apresenta os tipos de fibra.

QUADRO 1

TIPOS DE FIBRAS
Tipo Função
Fibra aferente somática geral (FASG) Transmite sensações gerais da superfície corporal.
Fibra aferente visceral geral (FAVG) Transmite sensações gerais oriundas das vísceras. Por
exemplo, dor em cólica.
Fibra aferente somática especial (FASE) Transmite os sentidos especiais não relacionados a
sistemas viscerais – visão, audição e equilíbrio.
Fibra aferente visceral especial (FAVE) Transmite sentidos especiais localizados em sistemas
viscerais: olfato (sistema respiratório) e gustação (siste-
ma digestório).
Fibras eferentes somáticas (FES) Realizam a movimentação da língua e da musculatura
extrínseca do bulbo do olho.
Fibras eferentes viscerais especiais (FEVE) Realizam a motricidade da musculatura esquelética da
cabeça.
Fibras eferentes viscerais gerais (FEVG) Realizam a contração de músculo liso e cardíaco e
secreção de glândulas.

A substância cinzenta do tronco encefálico é fragmentada e disposta em


núcleos, diferentemente da medula espinal, na qual a substância cinzenta
é praticamente uniforme em toda sua extensão, na forma de colunas. A
fragmentação ocorre devido à presença expressiva de fibras transversais e
pela formação reticular, formação específica do tronco encefálico, carac-
terizada pela ausência de um padrão, o que não permite classificá-la como
substância branca ou cinzenta.

Os núcleos do tronco encefálico podem ser classificados como:

■ substância cinzenta homóloga à medula espinal — responsável pelo


processamento da maioria das sensibilidades gerais e da motricidade
associada aos nervos cranianos, à semelhança das funções realizadas
pela substância cinzenta da medula espinal;
■ substância cinzenta própria do tronco encefálico — responsável por
funções específicas do tronco encefálico, sem correspondente medular,
como processamento reflexo, aprendizagem motora, entre outras funções
que serão detalhadas adiante.

Já as fibras nervosas do tronco encefálico podem constituir:

■ tratos — fibras com mesma origem, função e destino;


■ fascículos — trato compacto;
■ lemniscos — fibras sensitivas que têm o tálamo como destino.

Iniciaremos o estudo microscópico do tronco encefálico pelo bulbo.


MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 9

3 BULBO
É a porção caudal do tronco encefálico. Apresenta uma porção fechada (FI-
GURA 5), contínua com a medula espinal e macroscopicamente semelhante a
ela, e uma porção aberta, em secções mais altas, na qual se encontra parte
do assoalho do IV ventrículo.

FIGURA 5

Figura 5: Secção transversal do bulbo (porção fechada) – principais estruturas. Em laranja, substância cinzenta própria
do bulbo.

Nesse corte, está representada a parte inferior do bulbo. A maioria dessas


formações será mais bem visualizada em cortes na porção superior do bulbo
e, por isso, serão estudadas mais adiante.

A secção transversal da porção inferior do bulbo é dita fechada, pois ainda


não há visualização do assoalho, aberto e triangular, do IV ventrículo na face
posterior do bulbo. Nessa porção, estão os núcleos grácil e cuneiforme,
contínuos com o funículo posterior da medula, que recebem as fibras prove-
nientes dos fascículos grácil e cuneiforme, responsáveis pela transmissão da
informação sensitiva de tato epicrítico, propriocepção consciente e vibração
10 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

do corpo (exceto da cabeça). Os núcleos grácil e cuneiforme são grandes e


visíveis à macroscopia na face posterior do bulbo, como tubérculo grácil e
tubérculo cuneiforme.

Os núcleos grácil e cuneiforme são classificados como substância cinzenta


própria do tronco encefálico, e as fibras nervosas que os alcançam seguem
pelo funículo posterior da medula sem realizar sinapse na substância cin-
zenta medular. Quando alcançam o tronco encefálico, as fibras realizam
sinapses nesses núcleos e transmitem a informação sensitiva. Como não
há substância cinzenta medular correspondente a essa função, os núcleos
grácil e cuneiforme são classificados como substância cinzenta própria do
tronco encefálico.

As fibras sensitivas provenientes dos núcleos grácil e cuneiforme seguem


em sentido transversal de modo arqueado em direção à região anterior do
bulbo; são chamadas de fibras arqueadas internas. Na porção anterior, elas
cruzam o plano mediano, fletem e ascendem formando o lemnisco medial
(FIGURA 6), seguindo em direção ao tálamo. Esse cruzamento de fibras no
plano mediano é chamado de decussação sensitiva.

FIGURA 6

Figura 6: Formação do lemnisco medial.

Os demais tratos sensitivos oriundos da medula seguem seu trajeto as-


cendente na periferia do bulbo. Já os tratos motores oriundos do córtex
cerebral seguem seus trajetos descendentes em regiões variadas do bulbo.
É importante conhecer a localização do trato corticospinal, responsável pela
motricidade voluntária do corpo (exceção da cabeça), que segue na porção
anterior do bulbo, nas pirâmides bulbares. Na região inferior da pirâmide,
ocorre cruzamento parcial das fibras do trato corticospinal, ponto conhecido
como decussação das pirâmides. As fibras que cruzam o plano mediano
constituem o trato corticospinal lateral, do lado oposto, enquanto as fibras
MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 11

que não cruzam seguem do mesmo lado, compondo o trato corticospinal


anterior.

O trato corticonuclear, trato motor responsável pela motricidade da ca-


beça, assim como o trato corticospinal, nasce do córtex motor cerebral e
desce pelo tronco encefálico, emitindo fibras para os núcleos motores do
tronco encefálico, garantindo fonação, deglutição, expressões faciais, entre
outras ações motoras da cabeça. Diferentemente do trato corticospinal, as
fibras corticonucleares não possuem localização bem delimitada no tronco
encefálico. Outra diferença é que essas fibras transmitem a informação dos
núcleos motores bilateralmente. Isso explica porque, em geral, as expressões
faciais são simétricas ou porque contraímos bilateralmente os músculos da
faringe ao deglutir.

O complexo olivar inferior, majoritariamente composto pelo núcleo olivar


inferior, está na região anterior do bulbo, lateralmente às pirâmides bulbares,
e cria uma impressão macroscópica no bulbo: as olivas. Esse núcleo está
relacionado a circuitos de processamento de aprendizagem motora. Recebe
aferências do córtex cerebral, medula espinal e do núcleo rubro do mesen-
céfalo e envia eferências, as fibras do trato olivocerebelar, que ascendem em
direção ao cerebelo e o alcançam por meio do pedúnculo cerebelar inferior,
localizado na ponte.

A FIGURA 7 apresenta a porção superior (aberta) do bulbo.


12 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

FIGURA 7

Figura 7: Secção transversal do bulbo (porção aberta) – principais núcleos. Em laranja, núcleos da substância cinzenta
própria do bulbo.

Essa porção do bulbo apresenta o formato similar ao de uma borboleta e é


chamada de “porção aberta”, pois é possível observar o assoalho do IV ven-
trículo na face posterior. Também é possível visualizar o nervo hipoglosso
emergindo entre a pirâmide bulbar e a oliva. As fibras que compõem o nervo
originam-se do núcleo do hipoglosso, localizado no interior do bulbo, próxi-
mo ao assoalho do IV ventrículo. O trígono do hipoglosso é uma referência
macroscópica, no assoalho do IV ventrículo para a localização desse núcleo.
As fibras do núcleo do hipoglosso são classificadas como fibras eferentes
somáticas e são responsáveis pela motricidade da língua.

O núcleo ambíguo é o núcleo motor responsável pela motricidade da laringe


e da faringe. Suas fibras alcançam o território de inervação por meio dos
nervos glossofaríngeo (IX), vago (X) e acessório (XI). A lesão desse núcleo
normalmente cursa com disfagia, dificuldade de deglutição, disfonia e alte-
ração na produção da voz.
MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 13

O núcleo posterior do vago emite as fibras eferentes viscerais gerais que


compõem o nervo vago, responsáveis pela ação parassimpática nas vísceras
toracoabdominais. São importantes para a digestão, por exemplo. Como
referência macroscópica a esse núcleo, há o trígono do vago no assoalho
do IV ventrículo.

Os núcleos vestibulares (superior, inferior, medial e lateral) recebem a in-


formação de equilíbrio transmitida por fibras aferentes somáticas especiais
do nervo vestibulococlear. Estão localizados na transição entre o bulbo e a
ponte, na área vestibular no assoalho do IV ventrículo, que pode ser vista
à macroscopia. Por estarem na transição, são, também, núcleos da ponte.

O núcleo do trato solitário recebe as fibras aferentes viscerais (gerais e


especiais) provenientes dos nervos cranianos. Gustação, sensibilidade das
vísceras toracoabdominais e a informação oriunda do seio e glomo carótico
são exemplos de aferências essenciais para a regulação da homeostase
corporal, processadas por esse núcleo.

O núcleo do trato espinal do trigêmeo recebe a informação sensitiva de


dor e temperatura de toda a cabeça. A informação é proveniente, sobretudo,
do nervo trigêmeo. Apenas a informação sensitiva do pavilhão auricular e
do meato acústico externo não é transmitida pelo trigêmeo, mas sim pelos
nervos facial, glossofaríngeo e vago. Independentemente do nervo, todas
as fibras sensitivas de dor e temperatura da cabeça alcançam o núcleo do
trato espinal do trigêmeo.

O núcleo salivatório inferior emite fibras autônomas para a inervação da


glândula parótida, alcançando a glândula via nervo glossofaríngeo. A formação
reticular do bulbo contém o centro respiratório, essencial no controle invo-
luntário da respiração, o centro vasomotor, que regula a pressão sanguínea,
e o centro do vômito, que desencadeia a movimentação estereotipada das
musculaturas envolvidas nessa ação reflexa.

O fascículo longitudinal medial é o conjunto de fibras de associação que


acompanha toda a extensão do tronco encefálico, essencial para a ação
sincronizada e coordenada dos reflexos do tronco encefálico, pois promove
ativação de núcleos motores distintos em uma ordem definida (por exemplo,
reflexo de vômito).

Principais núcleos do bulbo e tomar sorvete:

■ estar em pé — núcleos vestibulares;


■ lamber o sorvete — núcleo do hipoglosso;
■ detectar o sabor — núcleo do trato solitário;
■ salivar — núcleo salivatório inferior;
■ detectar temperatura do sorvete — núcleo do trato espinal do trigêmeo;
■ deglutição — núcleo ambíguo;
■ digestão do sorvete — núcleo do nervo.
14 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

4 CORRELAÇÕES
ANATOMOCLÍNICAS – BULBO
Lesões bulbares cursam, em geral, com sintomas de disfagia e disfonia por
lesão do núcleo ambíguo, com dificuldade de movimentação da língua, por
lesão do núcleo do hipoglosso. Paralisias ou alterações sensitivas também
são comuns, mas há variação do território acometido, dependendo do trato
lesionado. Além disso, lesões no bulbo são potencialmente fatais, pelo risco
de disfunção dos centros vasomotor e respiratório. Assim, a apresentação
sindrômica desses sintomas merece investigação de emergência, pois há
risco de morte iminente. Podem ser necessárias intervenções médicas de
emergência.

5 PONTE
Estrutura do tronco encefálico que, literalmente, é a “ponte” (FIGURA 8)
entre o mesencéfalo e o bulbo. Apresenta uma protrusão anterior, chamada
de parte basilar da ponte, e sua porção posterior é chamada de tegmento.
A parte basilar e o tegmento da ponte são separados microscopicamente
por fibras transversais do corpo trapezoide. Corpo trapezoide – recebe
informação auditiva dos núcleos cocleares. Integra a via auditiva.
MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 15

FIGURA 8

Figura 8: Secção transversal da ponte – principais estruturas. Em laranja, núcleos da substância cinzenta própria da
ponte.

No que diz respeito aos tratos descendentes motores na ponte, os tratos


corticospinal e corticonuclear seguem seu trajeto descendente na forma
de feixes dissociados na base da ponte. Nesse ponto do trajeto, fibras do
trato corticonuclear destacam-se e alcançam os núcleos motores da ponte:
núcleos dos nervos trigêmeo, abducente e facial, permitindo, respectivamente,
a mastigação, a motricidade da face e a abdução ocular.

Os núcleos dos nervos facial e abducente estão localizados no tegmento da


ponte, próximos ao assoalho do IV ventrículo. As fibras oriundas do núcleo
abducente seguem para a região posterior da ponte, contornam o núcleo
do nervo facial e seguem para a porção anterior da ponte, onde emerge o
nervo, no sulco bulbopontino. O contorno das fibras do nervo abducente no
núcleo do nervo facial cria uma protuberância no assoalho do IV ventrículo:
os colículos faciais (FIGURA 9).
16 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

FIGURA 9

Figura 9: Fibras do nervo facial contornando o núcleo abducente, criando a impressão do colículo facial, no IV ventrí-
culo.

Por isso, lembre-se de que, apesar de possuir “facial” no nome, a disfunção


associada ao colículo facial é a limitação na abdução do olho, por lesão das
fibras do nervo abducente.

Outro trato que alcança a ponte é o trato corticopontino. Esse trato tem
início no córtex cerebral e alcança os núcleos pontinos localizados difusa-
mente na parte basal da ponte. As fibras provenientes desses núcleos, fibras
pontocerebelares, são transversais, cruzam o plano mediano, seguem para
a parte posterior da ponte e entram no cerebelo pelo pedúnculo cerebe-
lar médio. Todas essas estruturas estão associadas ao planejamento e à
correção dos movimentos, circuitos complexos, que podem ser estudados
detalhadamente no e-book sobre cerebelo do Jaleko.
MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 17

A ponte é a porção do tronco encefálico interligada diretamente ao cerebelo


por meio dos pedúnculos cerebelares:

■ pedúnculo cerebelar superior — por onde o cerebelo recebe aferências do


trato espinocerebelar anterior; essencial para a correção dos movimentos
e manutenção da postura;
■ pedúnculo cerebelar médio — por onde o cerebelo comunica-se com a
ponte para processamento de planejamento e correção dos movimentos
voluntários;
■ pedúnculo cerebelar inferior — recebe aferências do trato espinocerebelar
posterior, essenciais para a correção dos movimentos e manutenção da
postura, e as fibras olivocerebelares, importantes para o aprendizado motor.

Os pedúnculos cerebelares também constituem as paredes laterais do IV


ventrículo (FIGURA 10).

FIGURA 10

Figura 10: Vista posterior do tronco encefálico – retirada do cerebelo e exposição do assoalho do IV ventrículo.

Na ponte, estão a maioria dos núcleos associados aos nervos VI, VII e VIII
que aparecem no ângulo pontocerebelar e ao nervo trigêmeo.
18 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

Além dos núcleos motores já citados (V, VI e VII), há o núcleo salivatório


superior, responsável pela inervação das glândulas salivares submandibular
e sublingual, e o núcleo lacrimal, que inerva a glândula de mesmo nome.
Todas essas fibras alcançam seus territórios de inervação a partir da porção
sensitiva do nervo facial: o nervo intermédio.

Agora, vamos citar os núcleos sensitivos da ponte, que recebem aferência


do nervo vestibulocolclear e do trigêmeo e, portanto, integram as vias de
audição, equilbírio e sensibilidade geral da cabeça.

Audição: a informação auditiva alcança os núcleos cocleares na ponte. Desses


núcleos, partem fibras que cruzam tranversalmente a ponte, compondo o
corpo trapezoide, contornam o núcleo olivar superior e ascendem formando
o lemnisco lateral, em direção ao colículo inferior.

De fato, apesar de ser um lemnisco, o ponto de chegada das fibras do


lemnisco lateral é no mesencéfalo, e não no tálamo. As fibras do colículo
inferior alcançam o tálamo para dar continuidade à via auditiva. Parte das
fibras dos núcleos cocleares realizam sinapse nos núcleos olivares superiores,
do mesmo lado ou do lado contralateral. Por isso, a via auditiva é bilateral,
processada pelo lado direito e esquerdo do encéfalo.

Equilíbrio: a informação de equilíbrio oriunda do vestibulococlear alcança os


núcleos vestibulares na ponte, posicionados na área vestibular do assoalho
do IV ventrículo. Desses núcleos partem fibras que compõem:

■ fascículo vestibulocerebelar — que leva a informação de equilíbrio ao


cerebelo, promovendo equilíbrio e manutenção da postura corporal;
■ fascículo longitudinal medial — recebe a informação de equilíbrio e pro-
move o movimento reflexo dos olhos quando a cabeça é movimentada
esse reflexo permite a manutenção do foco visual, quando a cabeça
muda de posição;
■ tratos vestibuloespinais medial e lateral — suas fibras alcançam direta-
mente a medula e promovem a manutenção da postura.

Sensibilidade geral da cabeça: promovida, essencialmente, pelo nervo


trigêmeo, que não capta apenas a sensibilidade geral da orelha externa.
São quatro núcleos ao longo do tronco encefálico, sobretudo na ponte,
que processam modalidades sensitivas diferentes, dispostos em colunas
alinhadas verticalmente:

■ Propriocepção — sinapses com o núcleo mesencefálico do trigêmeo;


■ tato epicrítico/discriminativo (tato fino) — sinapses com o núcleo sen-
sitivo principal do trigêmeo;
■ tato protopático (tato grosseiro) e pressão — sinapses simultâneas nos
núcleos do trato espinal do trigêmeo e trato sensitivo principal do trigêmeo,
realizadas por fibras que se bifurcam para alcançar ambos os núcleos;
■ dor e temperatura — sinapses com o núcleo do trato espinal do trigêmeo.
MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 19

Obs.: O núcleo do trato mesencefálico do trigêmeo também alcança o me-


sencéfalo, e o núcleo do trato espinal do trigêmeo alcança o bulbo.

As fibras oriundas dos núcleos sensitivos do trigêmeo ascendem constituindo


o lemnisco trigeminal. Na altura da ponte, os tratos espinotalâmicos anterior
e lateral unem-se formando o lemnisco espinal. Logo, na ponte estão todas
as formações que conhecemos como lemniscos, que ascendem pelo sistema
nervoso central. São eles:

■ lemnisco lateral — audição;


■ lemnisco trigeminal — sensibilidade geral da cabeça;
■ lemnisco medial — tato epicrítico, vibração e propriocepção consciente
do corpo;
■ lemnisco espinal — dor, temperatura, tato protopático e pressão do corpo;

Na formação reticular da ponte estão os neurônios essenciais para a ati-


vação cortical:

■ locus ceruleus — neurônios noradrenérgicos responsáveis pelo despertar,


na transição entre sono e vigília; esses neurônios contêm melanina na
sua composição, tornando o locus ceruleus escuro e visível à macroscopia,
localizado na porção superior do assoalho do IV ventrículo;
■ núcleos da rafe — neurônios serotoninérgicos que também promovem
ativação cortical, assim como os neurônios do locus ceruleus; são impor-
tantes para a manutenção da atenção, por exemplo.

6 CORRELAÇÕES
ANATOMOCLÍNICAS – PONTE
Os sintomas decorrentes das lesões na ponte podem estar associados a
disfunções sensitivas ou motoras dos nervos trigêmeo, facial, abducente e
vestibulococlear, como alterações de equilíbrio e paralisia da face. Além de
disfunções associadas aos tratos sensitivos ou motores que atravessam a
ponte, a depender do local acometido.

Lesões na formação reticular da ponte podem cursar com rebaixamento de


consciência, como o estado de coma.

7 MESENCÉFALO
Sua porção anterior é chamada de pedúnculo cerebral, enquanto a porção
posterior compõe o teto do mesencéfalo. O aqueduto do mesencéfalo
(aqueduto cerebral) separa as duas regiões (FIGURA 11).
20 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

FIGURA 11

Figura 11: Aqueduto do mesencéfalo.

Nos pedúnculos cerebrais estão as fibras dos tratos corticospinal, cor-


ticopontino e corticonuclear. Entre os pedúnculos cerebrais está a fossa
interpeduncular, de onde emerge o nervo oculomotor, responsável pela
maioria dos movimentos oculares e pela contração da pupila (miose). As
fibras eferentes somáticas são originadas de um conjunto de núcleos que
formam o complexo oculomotor, enquanto as fibras de inervação da pupila
originam-se do núcleo de Edinger-Westphal. Esses dois núcleos ficam à
frente do colículo superior.

Obs.: não confundir pedúnculo cerebral, no mesencéfalo, com pedúnculos


cerebelares da ponte!

Imediatamente atrás da base do pedúnculo cerebral está a substância negra,


região escurecida, que contém neurônios dopaminérgicos que atuam em
circuitos motores. Na doença de Parkinson, há degeneração da substância
negra, causando prejuízos motores que cursam com sintomas como rigidez,
lentificação do movimento, instabilidade postural e tremor nas extremidades.

Atrás da substância negra está o núcleo rubro, que participa de circuitos de


controle da motricidade. O núcleo rubro também emite um trato descendente
responsável pela motricidade distal dos membros, o trato rubrospinal. Esse
trato apresenta a mesma função do trato corticospinal lateral e desce para
a medula junto dele. No entanto, as fibras do trato rubrospinal cruzam para
o lado contralateral ainda no mesencéfalo, enquanto o trato corticospinal
lateral é formado no bulbo, pelo cruzamento das fibras na decussação das
pirâmides.
MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 21

Obs.: o nome rubro deve-se à cor avermelhada que esse núcleo apresenta
in vivo. Nas peças anatômicas, é comum que ele esteja desbotado, devido
ao contato com o formol.

O aqueduto do mesencéfalo é um orifício pelo qual há comunicação entre o III


e IV ventrículos. Contornando o aqueduto do mesencéfalo está a substância
cinzenta periaquedutal, importante centro de analgesia, ou seja, região que
atua na regulação e no controle da dor.

Na porção inferior do mesencéfalo, os lemniscos agrupam-se em uma faixa


contínua sendo, de anterior para posterior, a sequência: medial, espinal, trige-
minal e lateral. No teto do mesencéfalo, estão os colículos, que se projetam
na sua face posterior e podem ser vistos à macroscopia.

Colículo superior: integra reflexos visuomotores, que regulam o movimento


dos olhos e da cabeça (via trato tetospinal) em resposta a estímulos visuais.

Colículo inferior: integra a via auditiva. Recebe o lemnisco lateral e projeta


suas fibras para o braço do colículo inferior, em direção ao corpo geniculado
medial do tálamo.

Na altura do colículo inferior, ocorre a decussação do pedúnculo cerebelar


superior, em que as fibras do trato espinocerebelar anterior, previamente
cruzadas na medula, cruzam novamente para transmitir a informação de
propriocepção oriunda do lado homolateral do corpo para o cerebelo.

A área pré-tetal está imediatamente à frente do colículo superior, importante


para o controle reflexo das pupilas.

O outro núcleo motor do mesencéfalo é o núcleo abducente, que origina as


fibras motoras que realizam abdução do olho. Esse núcleo fica imediatamente
à frente dos colículos inferiores. Suas fibras emergem na face posterior do
tronco encefálico, abaixo do colículo inferior, e contornam o mesencéfalo,
seguindo para a face anterior do tronco encefálico.

Na formação reticular do bulbo, temos:

■ núcleos da rafe — como já estudado, participam de vias de ativação do


córtex cerebral;
■ área tegmentar ventral — contém neurônios dopaminérgicos, responsável
pelo processamento do prazer.
22 MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO

8 CORRELAÇÕES
ANATOMOCLÍNICAS –
MESENCÉFALO
Lesões de mesencéfalo cursam, em geral, com sintomatologia por lesão dos
nervos associados a ele: nervos oculomotor, troclear e abducente. Podem
levar a rebaixamento do nível de consciência, como o estado de coma, caso
ocorra lesão dos núcleos da rafe na formação reticular.

9 SISTEMATIZAÇÃO – TRATOS
MOTORES
Estudamos sobre a topografia microscópica das fibras que compõem os
tratos motores:

■ tratos corticospinais anterior e lateral — motricidade do corpo;


■ trato corticonuclear — motricidade da cabeça;
■ trato tetospinal — reflexos visuomotores;
■ tratos vestibulospinais medial e lateral — manutenção do equilíbrio e
da postura.

Também há os tratos reticulospinais pontino e bulbar, que nascem da forma-


ção reticular da ponte e do bulbo. Respectivamente, alcançam os neurônios
motores da medula e os ativam de modo a auxiliar na manutenção do equi-
líbrio e da postura. Esses tratos são de difícil visualização.

10 REFERÊNCIAS
1. MOORE, Keith L.. Anatomia Orientada para a Prática Clínica. 7ªed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan.

2. NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed,
2000.

3. SOBOTTA, Johannes. Atlas de Anatomia Humana. 21ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2000.

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MICROSCOPIA DO TRONCO ENCEFÁLICO 23

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