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Perturbações Neurológicas: A Criança/Jovem com Epilepsia

O que é a Epilepsia?
Um distúrbio do cérebro, caracterizado predominantemente por interrupções recorrentes e
imprevisíveis da sua função normal, denominadas crises epilépticas. A epilepsia não é uma
entidade singular da doença, mas uma variedade de distúrbios que refletem a disfunção
cerebral subjacente, que resulta de muitas causas diferentes.

Crises Epilépticas ou Convulsões


Têm um início imprevisível e, em geral, curta duração (segundos a minutos, raramente
ultrapassando os 15 minutos) mantendo-se o funcionamento cerebral normal entre crises.
As crises têm tendência a repetir-se ao longo do tempo sendo a frequência variável de
doente para doente.
As crises isoladas de curta duração não causam lesão ou sofrimento cerebral.
Crises muito prolongadas ou muito frequentes podem interferir com o normal
desenvolvimento de algumas funções cerebrais.

Epilepsia na Infância
Epilepsias idiopáticas Epilepsias focais Aepilépticas
generalizadas
 Epilepsia de ausência na  Epilepsia rolandica  Síndrome de Dravet
infância benigna  Síndrome de West
 Epilepsia de ausência  Epilepsia occipital  Síndrome de Lennox-
juvenil  Epilepsia do lóbulo Gastaut
 Epilepsia mioclónica temporal  Síndrome de Landau-
juvenil  Epilepsia do lobo frontal Kleffner

Quais as causas da Epilepsia?


 Genética
 Estrutural/Metabólica
 Causa Desconhecida

Como é realizado o Diagnóstico de Epilepsia?


Processo complexo que envolve diversas etapas:
 A história clínica, o exame neurológico e a realização de análises laboratoriais são, de um
modo geral, os primeiros passos e permitem excluir a ocorrência de convulsões não
relacionadas com a epilepsia;
 O eletroencefalograma, a RM ou a TAC permitem explorar possíveis causas da epilepsia.

Qual o tratamento?
Altamente personalizado, é importante ponderar a idade da criança/jovem, as
características das crises, os fatores associados e o contexto social e profissional.
Algumas epilepsias autolimitadas são características da idade pediátrica (ex: epilepsia
rolândica) não necessitam de tratamento continuado, desde que as crises não sejam muito
frequentes.

Antiepilépticos
 Um tipo de medicação antiepiléptica ou a combinação de diversos fármacos;
 Habitualmente o tratamento é iniciado com uma dose reduzida, fazendo-se um ajuste
gradual em função da resposta clínica;
 É fundamental uma boa colaboração da parte do doente/família para a toma adequada;
 O objetivo não é curar a epilepsia, mas sim controlar a ocorrência de convulsões;
 Muitos dos medicamentos antiepiléticos apresentam efeitos secundários importantes;
 Em alguns casos, o tratamento pode ser interrompido ao fim de algum tempo sem que
as convulsões se voltem a repetir. Até 70% das pessoas com epilepsia podem ter a sua
epilepsia controlada.
Nos casos, em que a medicação não permite um controlo adequado das crises (chamadas
“epilepsias refratárias"), podem ser equacionadas:

Dieta Cetogénica Cirurgia


Uma elevada porção de gordura, poucas Remoção das áreas cerebrais responsáveis
proteínas e hidratos de carbono e uma pelas descargas elétricas ou a interrupção
supressão total do açúcar. Esta dieta cria da transmissão do sinal elétrico.
um estado matabólico denominado Neuromodulação: neuroestimulador do
"cetose", que parece reduzir as crises de vago.
epilepsia. Estimulação elétrica intracraniana, se idade
> ou = 16anos.

Como reconhecer uma crise epiléptica?


As manifestações dependem da localização do foco da descarga no cérebro.
Podem ser:
 Focal ou Parcial: Afeta apenas uma parte do cérebro. No entanto, pode transformar-se
numa crise generalizada.
 Generalizada: Envolve todo o cérebro e provoca perturbação do estado de consciência.

Que fatores podem contribuir para desencadear as crises?


Embora a maioria das crises não tenha fatores desencadeantes identificáveis, algumas
situações podem aumentar o risco de ocorrência das mesmas:

 Falha(s) na toma da medicação;


 Estímulos luminosos (fotossensibilidade);
 Febre/infeções;
 Consumo de álcool;
 Cansaço físico e mental/stress;
 Sons bruscos;
 Privação de sono;
 Alterações hormonais (período menstrual nas adolescentes).
Nota 1: Algumas crises exibem sinais que as antecedem (aura) enquanto outras se instalam
sem aviso prévio.

Como atuar em caso de Convulsão? (crises generalizadas)


 Manter a calma e tranquilizar quem está com a criança;
 Controlar a duração da crise, bem como as suas características;
 Prevenir traumatismos, movendo os objetos que estejam perto ou mover a criança,
apenas se o perigo não pode ser retirado;
 Deitar a criança de lado;
 Desapertar a roupa em volta do pescoço;
 Proteger a cabeça com algo macio, por exemplo, um casaco;
 Se o médico prescreveu Stesolid retal, usar se a crise não parar ao fim de 3min, ou de
acordo com indicação personalizada;
 Quando a crise parar, colocar a criança na posição lateral de segurança e manter a
vigilância até que recupere totalmente;
 Reassegurar à criança o repouso e/ou dormir, se necessário, num local tranquilo
supervisionado/monitorizado;
 Informar a família.

Normas para a correta utilização de Stesolid

O que não fazer durante a crise?


 Não contrariar os movimentos, usando a força;
 Não colocar objetos ou as mãos na boca da criança;
 Não atirar água à criança não sacudi-la nem dar-lhe palmadinhas;
 Não dar água, medicação oral ou comida até a criança estar acordada.

A criança com epilepsia pode praticar desporto?


O desporto deve continuar a ser praticado, pois melhora a autoconfiança, exercita a
obediência às regras, a aceitação da derrota, o gosto pelo sucesso e favorece o convívio.
Evitar desportos onde haja risco de quedas ou traumatismos ou onde sejam usados
equipamentos potencialmente periogosos.

 Esgrima;
 Mergulho;
 Alpinismo;
 Paraquedismo;
 Aviação;
 Vela (sozinho);
 Surfismo.

Dicas:
Natação: Sempre sob supervisão de 1 adulto que conheça a doença. O uso de toucas com
cor facilita a supervisão. No caso de crises frequentes, usar colete salva-vidas.
Bicicleta: Como qualquer outra criança, usar sempre capacete e andar afastado de lugares
com muito tráfego.
Desportos de contacto: Ter particular cuidado para evitar traumatismos.

Combater Estigma e a Discriminação


As crianças que continuam a ter crises podem ter problemas na escola como:

 Baixa autoestima;
 Dicriminação;
 Isolamento dos colegas;
 Baixo rendimento escolar.
O conhecimento da patologia por parte de todos os que envolvem a criança na escola
permite que esta esteja mais segura, confortável e melhor integrada.
Falar abertamente sobre a epilepsia pode combater medos e estigmas.
Incluir o aluno epiléptico na discussão.
Salientar que as crises não doem, nem são contagiosas.
Prática de primeiros socorros com a turma pode ajudar a desenvolver uma atitude de
aceitação.
Tratar a criança de igual forma como os restantes alunos, sem medidas de superproteção.

Situações que requerem avaliação nos serviços de saúde


 1ª convulsão;
 Lesões durante a crise;
 Dificuldade respiratória;
 Duração mais prolongada que o estabelecido no plano de saúde;
 Convulsão durante mais de 5min;
 Desconhecimento da duração habitual das convulsões;
 Convulsões repetidas, a menos que o plano de saúde descreva que isso é normal para
essa criança;
 Criança não acorda após a crise;
 Crise que ocorre na água.

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