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DADOS DE COPYRIGHT

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"Quando o mundo estiver unido na busca do

conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e


poder, então nossa sociedade poderá enfim

evoluir a um novo nível."


Copyright © 2022 por Brenda Paiva Todos os direitos
reservados.

Título: Tudo para dar certo

Autora: Brenda Paiva

Revisão: Stephany Cardozo Gomes


Capa: Gialui Design

Diagramação: Laís Paula

Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de


quaisquer meios, sem o consentimento do(a) autor(a) desta
obra.

Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, lugares,


acontecimentos e descrições são fruto da mente da autora.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da


Língua Portuguesa.

Não pula, por favor!

É para o bem da sua saúde!

Primeiro, eu gostaria de te agradecer por ter escolhido o


meu livro dentre tantos para ler, espero muito que você
goste, se apaixone e divirta assim como aconteceu comigo
enquanto escrevia!

Segundo, vamos falar dos gatilhos...

Esse livro tem não o intuito de ser uma história pesada, mas
pode conter alguns temas sensíveis, como abuso e maus
tratos infantis, relacionamento abusivo, depressão,
tentativa de suicídio, luto, crise de pânico, abuso de bebidas
alcóolicas e drogas ilícitas, cenas explicitas de sexo e
violência.

Conheça seu limite, leitora, se você estiver se sentindo em


algum momento desconfortável pare imediatamente a
leitura!

Desde já, boa leitura.

Dedicatória

Aos meus pais e a toda

água benta que eles vão

ter que me jogar depois

de lerem esse livro.


PRÓLOGO

CAPÍTULO 01

CAPÍTULO 02

CAPÍTULO 03

CAPÍTULO 04

CAPÍTULO 05

CAPÍTULO 06

CAPÍTULO 07

CAPÍTULO 08

CAPÍTULO 09

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 33

EPÍLOGO
AGRADECIAMENTOS

AVALIE

JOHNNY JACKSON

Primeiro ano da faculdade

— Acho que vou botar um piercing no pau.

Me engasguei com a bebida, comecei a tossir e senti mãos


fortes baterem nas minhas costas.

— O que? — perguntou Drake sem acreditar, enquanto batia


nas minhas costas.

— Você ouviu. Vou botar um piercing no meu pau —


declarou Colin, meu amigo sem noção, sentando no sofá
com os braços atrás da cabeça, muito despreocupado para
alguém que iria furar o pênis.

— Que porra, Colin! — foi tudo o que pude dizer, e comecei


a me limpar da bebida que caiu na minha camiseta branca.

— Não sejam antiquados, é só um acessório, como um


brinco na orelha, pra deixar mais bonito, sabe? — comentou
olhando para mim e Drake, que só o encaramos de volta.

— Isso é sério? — Drake balançou a cabeça ainda incrédulo.


— Seríssimo, eu vou deixar vocês verem quando...

— Acredite Colin, eu não verei seu pau — apressei-me a


dizer

—, têm limites para nossa amizade.

— Passo — Drake ergueu as mãos. — E se infeccionar? E se


atrapalhar na hora de botar a camisinha?

— Não tinha pensado nisso — Colin pareceu refletir sobre o


assunto. — E se furar a camisinha? Ou pior... E se furar a
boceta de

alguém?

Mas que merda de papo era esse? Tentei beber mais um


pouco da minha cerveja, mas estava quente pra cacete.

— Não tem nada gelado nesse lugar? — reclamei


levantando o olhar e procurando a cozinha.

Estávamos em uma festa da Fraternidade Kappa alguma


coisa, não me lembrava o nome. Só sabia que a líder delas
— que por sinal também não recordava o nome — insistiu
para virmos.

A garota em questão estava sentada no sofá à minha frente,


e percebeu meu desconforto com a cerveja.

— Quente? — Ela apontou para o meu copo de plástico.

Como não queria ser desagradável, menti.

— Não, tá boa. Só vou pegar algum destilado... — Qual era o


nome dela mesmo? Alguma coisa com B... Bianca? —
Bianca. —
soltei, já indo em direção à cozinha, deixando Colin e Drake
com seu papo sobre pênis e piercing.

— É Bethany — ela falou para as minhas costas. Virei-me e


pedi desculpas, a garota deu de ombros.

Eu era péssimo com nomes, o que já me rendeu mais


chutes nas bolas do que um homem estaria disposto a
receber. Merecia?

Com toda certeza. Mas não era proposital.

Entrando na cozinha vi que o balcão estava com um monte


de copos de cerveja cheios, só no ponto das pessoas
pegarem.

Balancei a cabeça em negação. Mas era lógico que iria


esquentar, quem teve essa brilhante ideia?

Abrindo a geladeira encontrei um copo grande com uma


bebida azul, parecia um drink, quando o peguei percebi que
estava bem gelado. Talvez fosse de alguém... Mas ia dar só
um gole, que mal teria? Olhei em volta, vi que não tinha
ninguém ali, provei o líquido azul e... Porra, era muito bom.
Adocicado, mas também picante, muito gelado.

Era um drink de respeito.

— O que é isso? — Escutei uma voz estridente atrás de mim


e me virei lentamente, pego no flagra.

Uma garota gostosa e muito irritada estava me encarando


com fogo nos olhos. Avaliei ela de cima a baixo, tinha o
cabelo loiro

escuro levemente ondulado que chegava até à cintura,


olhos verdes que me encaravam como se pudessem me
matar. Era um verde tão vivo que cheguei a perder o fôlego
por um momento.

Observando mais o seu rosto vi que seu nariz era


engraçado, empinadinho na ponta, deixando-a com o ar de
menina travessa, muito linda.

A garota vestia uma saia jeans apertada que não deixava as


pernas delineadas para imaginação. A sua blusa era branca
e justa no corpo desenhando o formato de seios médios e
perfeitos. Estava sem sutiã? Apostava que sim.

Tentei dar meu melhor sorriso para amenizar seu humor,


mas não pareceu fazer efeito.

— Não é o que parece. — Ergui as mãos em defesa.

— Você realmente roubou meu drink? Que tipo de pessoa


faz isso? — Ela continuou avançando na minha direção e
falando alto pra caralho.

— Do tipo que está com sede? — Tentei brincar, mas


também pareceu não fazer efeito.

— Eu guardei isso o dia inteiro! Demorou para fazer, sabia?

Só fiz um copo! Que ódio! — a loira começou a falar cada


vez mais alto, veio na minha direção com o dedo na minha
cara e comecei a recuar o passo. Ela até parecia normal à
primeira vista, mas não tinha muita certeza.

— Olhe, você está sendo dramática — soltei enquanto


recuava até encostar minhas costas na porta da geladeira.
Ela estava muito próxima agora, e não pude deixar de dar
uma boa olhada no seu decote.

O que eu podia fazer? Ele parecia olhar para mim também.


Logo que levantei os olhos percebi que tinha dito a coisa
errada. Não se chama uma mulher de dramática. Nunca.

— Dramática? — exclamou dramaticamente.

— Veja, é só uma bebida. — Ergui o copo e isso pareceu


chamar sua atenção.

Ela tomou o copo da minha mão de uma vez e o colocou


junto ao seu corpo como se fosse um bem muito precioso.
Sinceramente?

Queria ser esse copo, a garota era estranha, mas quente.

Seria muito errado dar em cima dela agora?

— Não é só “uma bebida”, é a bebida.

Era definitivo, a garota falava alto pra cacete, não sei como
a garganta aguentava.

— Nisso tenho que concordar, estava muito boa. — Parecia


que finalmente eu tinha dito a coisa certa.

Sua expressão mudou imediatamente, e ela me deu um


sorriso genuíno que iluminou todo o seu rosto.

— Você acha mesmo? — perguntou encantada. Eu ainda


estava tentando me recuperar da sua mudança de humor,
ainda agora ela não estava vindo na minha direção com mil
facas nas mãos? — É muito bom mesmo — continuou,
parecendo falar mais para si mesma. — Faço drinks, sabe? E
esse em específico ficou muito bom, esperei o dia todo pra
beber, deixei na geladeira durante 5 horas pra ter a
temperatura ideal — Ela começou a tagarelar sem parar, e
ainda falando muito alto, mas não podia reclamar, pelo
menos não estava mais me atacando. — Deu muito
trabalho, realmente. As pessoas não costumam dar valor a
coisas banais como drinks, mas sou fascinada neles, pena
que só sobrou a metade agora. — Deu um suspiro, olhando
para o copo em questão.

Que inferno. Ela pareceu lembrar o motivo de estar puta


comigo enquanto olhava o drink pela metade, pois assim
que ergueu os olhos verdes senti todo o seu ódio.

Sabe o bom humor e sorrisos de cincos segundos atrás?

Então, foram embora. Ela estava puro fogo.

— Como pôde beber meu drink? — atirou de novo, com


mais raiva ainda. — Isso não se faz! Você não pode chegar
na casa dos outros, abrir a geladeira e simplesmente pegar
o que tem dentro.

Pode se esperar qualquer coisa de uma pessoa assim.

— Qualquer coisa?

— Qualquer coisa — repetiu convicta. — Você pode até


mesmo ser perigoso.

Perigoso? Pelo amor de Deus, nunca vi tanto drama na vida.

— Você definitivamente tem um parafuso a menos. —

Desencostei da geladeira e comecei a tentar passar por ela.

— Como é? — afrontou indo mais na minha direção


enquanto eu recuava.

Ela pegou uma das cervejas quentes em cima do balcão e


simplesmente a jogou na minha cara.
— Mas que porra! — xinguei puto enquanto limpava a
minha cara.

A pirada em questão pareceu se dar conta do que acabou


de fazer, ela levou as mãos à boca, como se estivesse
horrorizada com sua atitude.

Pois bem, eu também estava.

— Ah, Meu Deus! Eu sinto muitíssimo — ela disse e parecia


realmente arrependida. Mas que diabo era aquilo? Não têm
dez segundos que estava puta.

A garota pegou um pano qualquer que estava jogado na pia


e veio depressa limpar o meu rosto.

— Eu realmente sinto muito! Não costumo fazer esse tipo de


coisa — começou a se explicar enquanto esfregava o pano
no meu rosto sujo. Recuei, sentindo um cheiro estranho
vindo dele. — Oh, acho que melei sua cara mais ainda — Ela
olhou o pano que estava segurando com o cenho franzido.
— Acho que ele está sujo.

— Você acha, não é? — debochei já tão irritado quanto ela,


fui até a pia lavar a porra do meu rosto.

— Espero que não seja vômito.

— Acredite, eu também espero, porque você estaria ferrada.

— Eu estou tentando ser legal com você, ok? E ainda não


esqueci que bebeu meu drink!

— Foda-se você e o seu drink — disse apontando para o


copo que ela ainda segurava com muito cuidado.
Ela ficou horrorizada e muito zangada, pegou o copo
causador de toda a confusão e jogou o drink na minha cara.

— QUE INFERNO! — Ótimo, agora estava sujo de cerveja,


um drink azul chique e um líquido ainda não identificado.

Quer saber? Peguei um dos copos com aquelas horríveis


cervejas quentes e joguei a bebida na cara dela também.

Assisti com certo prazer enquanto a loira limpava a


bochecha cheia de cerveja quente, mas o estranho foi que
ela começou a rir. E

Deus, a garota falava alto pra caralho, o riso dela era dez
vezes pior.

Era aquele tipo de gargalhada que você bota no YouTube


para ouvir, de certa forma era contagiante. Mas eu não a
acompanhei, estava puto, e queria distância dessa garota
que mudava de humor à medida que respirava.

O problema é que o líquido desceu pelo rosto dela e chegou


até a blusa branca. É, tirei minha dúvida... ela estava sem
sutiã. Dois biquinhos rosas estavam acenando para mim, e
de repente minha boca ficou seca. Precisei respirar fundo
para não ficar duro ali. A garota era um pecado.

Ah foda-se, se ela quisesse terminar essa discussão em


algum quarto lá em cima, eu toparia na hora.

Percebendo para onde eu estava olhando, ela


imediatamente tampou a visão com o braço. Que pena...

— Seu pervertido! — Sabe aquela garota rindo ainda agora?

Se foi.
— Não consigo acompanhar suas mudanças de humor,
garota.

— Garota? Tenho nome.

— Sinceramente? Não estou interessado em saber — disse


já procurando passar por ela.

— Qual é o seu problema, hein? — ela resmungou.

— Qual é o meu problema? — repeti a pergunta, incrédulo.


Qual é o meu problema? Qual é o seu problema? — devolvi.

— No momento? Você.

— Olha que coincidência, o meu também — debochei, já


passando pelo balcão, longe daquela criatura. Eu deveria ir
embora, sei disso, mas não pude deixar de alfinetar. — E só
pra você saber, porque acho que não se tocou, derramou a
metade do seu precioso drink em mim.

Assim que ela se deu conta do que fez o seu rosto se


contorceu de horror, e assisti aquela cena com prazer
diabólico. Mas não previ que ela se viraria puta da vida na
minha direção. Recuei antes que me alcançasse, só que ela
pegou um saco que parecia conter uns petiscos amarelos e
jogou tudo em cima de mim.

Que bosta! Peguei um frasco de ketchup que vi em cima do


balcão e atirei bem no seu rosto, que agora estava todo
melado de vermelho. Ela estava puro ódio, enquanto tirava
o ketchup da bochecha.

Eu não consegui calcular o momento em que ela veio na


minha direção de novo. Recuei, só que acabei escorregando
nas cervejas que derramamos no chão, mas não antes de
puxá-la comigo, batendo minhas costas no chão molhado
com ela por cima.

Perfeito, agora ainda estava com a parte de trás das costas


toda molhada de cerveja, era só o que faltava para
completar a noite.

A causadora de toda a confusão se ergueu nos dois braços,


os colocando um de cada lado da minha cabeça, me
aprisionando, o rosto na frente do meu, fazendo cair um
pouco de ketchup no meu nariz.

Se eu não soubesse que ela é completamente sem noção,


até consideraria passar os braços na sua cintura fina para
sentir o seu corpo contra o meu, meter minha língua
naqueles lábios tentadores e entreabertos...

Meu Deus, cheguei a bater com a cabeça?

— Você está feliz agora? — ela reprendeu sem desviar o


olhar do meu. — Olha só o que você fez.

— O que eu fiz? Você só pode estar brincando. Fala como se


eu fosse o culpado, você que começou isso. Era só a porra
de um drink!

— Você começou isso! Não fui eu que assaltei a geladeira


dos outros — gritou ainda em cima de mim.

E o pior de tudo? Fiquei excitado em vê-la irritada assim por


cima.

— Foda-se a sua maldita bebida!

— Foda-se você! — ela devolveu.


— Você é completamente sem juízo! Eu vou sair daqui. —

Tirei-a de cima de mim e me levantei, tentando ajeitar


minha calça completamente molhada. Minha camiseta?
Podia jogar no lixo.

Quando ergui o olhar encontrei-a querendo rir.

— Não se atreva a rir — Apontei o dedo para ela. — Nunca


mais piso nessa fraternidade.

— Promete? — perguntou esperançosa.

— Vou falar com Brianna que tem garotas piradas aqui...

— Brianna? — ela me interrompeu, confusa. — Acho que


você está falando da Bethany.

— Tanto faz, nunca mais nos encontraremos mesmo —

declarei saindo da cozinha.

— Estou contando com isso! — gritou para as minhas


costas.

Passando pelas pessoas percebi que me olhavam como se


estivesse coberto de merda. O que não está muito longe da
verdade, ainda não sei exatamente o que continha naquele
pano.

Chegando ao sofá no qual os caras estavam — do lugar em


que eu nunca deveria ter saído —, Colin se engasgou com
sua cerveja quando me viu, cuspindo na cara de Drake, que
me olhou de cima a baixo horrorizado a ponto de não
perceber que foi cuspido.

— O que diabo aconteceu contigo? — perguntou Drake.


— Não é o que, mas quem. Não vou falar disso ou vou voltar
naquela cozinha e cometer um assassinato — Colin
começou a rir descontroladamente. — Vamos embora daqui!
Nunca mais pisamos nessa fraternidade.

— Meu Deus, o que aconteceu? — Uma voz calma falou


atrás de mim e me virei para encontrar a líder dali.

— Beatrice, tem uma garota aqui...

— Bethany — ela corrigiu com toda a calma do mundo. Qual


era o meu problema com o nome dessa menina?

— Bethany — corrigi em tom de desculpa. — Tem uma


garota aqui que sinceramente...

— Ah não! — ela me interrompeu com os olhos estreitos. —

Quem fez isso?

Olhei ao redor e encontrei aqueles olhos verdes me


encarando da entrada da cozinha. Ela ainda estava com o
braço sobre os seios, os protegendo. Ótimo, pelo menos ela
ainda estava com o rosto coberto de ketchup. Minha
vontade? De voltar e jogar mais nela.

Definitivamente, nunca tive tantas atitudes infantis assim


de uma só vez.

— Aquela garota bem ali. — Apontei para a delinquente, que


me olhava como se estivesse imaginando a minha morte.
Olha a coincidência? Eu também estava imaginando a dela.

— Ah não! — A líder da fraternidade deu um suspiro


cansado.
— É a Amber, juro que ela é muito gente boa, eu realmente
sinto muito...

— Qual o nome dela? — A interrompi, e podia ouvir Colin


morrendo de rir atrás de mim. Depois o esganaria
pessoalmente.

— Amber Foster.

Amber Foster. E sabe qual é a ironia? Sabia que não


esqueceria o nome dela.

— Tchau, Beverly. — Acenei, me despedindo.

— É Bethany.

Me desculpei de novo e sai com Colin e Drake atrás de mim


rindo, meu humor não permitia essa diversão. Ainda estava
irritado, não me lembrava de ter sentido uma antipatia tão
forte por alguém antes em um espaço tão curto de tempo,
mas acho que 20 minutos na presença de Amber Foster
foram suficientes.

Esperava, sinceramente, nunca mais encontrá-la.

Pena que o destino gostava de me fazer de palhaço.

AMBER FOSTER
Dias atuais

Senti a batida da música à medida que rebolava meu corpo.

Mãos grossas circularam minha cintura e um peito encostou


nas minhas costas. Continuei a dançar, mesmo sem fazer
ideia de quem estava atrás de mim.

— Sozinha hoje, Amber? — o desconhecido gritou para ser


ouvido em meio a música.

— Sim, mas não disponível. — Virei para encará-lo e sorri


com bom humor, ele ergueu as mãos e acenou com a
cabeça, entendendo o recado.

— Talvez em uma próxima, então? — ele perguntou já se


afastando.

— Talvez.

Acenei para ele e fui em direção às bebidas. Era triste, ele


era até gato e a verdade é que, só não peguei porque Tim
estava aqui comigo. Tudo bem que a gente não tinha nada
sério, mas não ficávamos com outras pessoas quando
estávamos juntos em um mesmo lugar.

Uma regra simples. E Tim estava aqui comigo.

Tim Stone e eu tínhamos um sexo casual, era simples e


divertido, longe de ser um relacionamento.

Chegando à mesa da cozinha, comecei a encher meu copo


de novo. Tinha tanta gente dentro da casa que não
conseguia nem me mexer direito. Olhei em volta procurando
pelas meninas e encontrei Sienna sentada no colo de
Michael, seu namorado.
— Já chega! Você simplesmente já bebeu quase tudo
sozinha

— acusou meu amigo Steven Owen quando me aproximei.


Ele era um jogador de futebol, tinha cerca de um metro e
noventa de altura, pele negra e a cabeça raspada.

— Veja só meu equilíbrio. — Caminhei convencida em linha


reta até eles para provar. A verdade era que não existia
pessoa mais sóbria que eu, não importava o quanto
bebesse.

— Não sei como você consegue, não bebi nem metade e


estou acabado. — Steven engoliu o resto da sua bebida e
caiu sentado no sofá azul ao lado de Sienna e Michael, que
era pequeno demais para acomodar todo mundo.

— Quanto mais eu bebo mais sóbria fico. — E com essa


frase enigmática cai no braço do sofá ao lado de Sienna.

Minha amiga era a criatura mais elegante daquele lugar,


incrível como ela sempre conseguia ter a postura de uma
bailarina, não importando onde estivesse. Não tinha um fio
do seu cabelo, loiro platinado quase branco, fora do lugar,
eles desciam lisos por seus ombros.

— Como você consegue, sério? — perguntei olhando para


ela admirada, Sienna me encarou com seus olhos cinzentos
e um sorriso fácil.

— O que?

— Ficar plena desse jeito, já estou toda descabelada. —

Apontei para o meu próprio cabelo, que já deveria estar


parecendo uma juba àquela hora.
— Fácil, não estava rebolando a noite toda. — Ela saiu do
colo do Michael e veio ajeitar o meu cabelo.

— E também não bebeu quase tudo sozinha — provocou


Steven.

— Vi que você dispensou um cara ali — comentou Michael.


Pelo jeito as coisas com Tim estão ficando sérias.

— Não mesmo — bufei —, só não gosto de ficar com outra


pessoa assim na frente dele.

— Pois sugiro você conversar com ele, querida — avisou


Sienna gentilmente, ainda tentando domar meu cabelo.
Amava que minha amiga sempre cuidava de mim quando
eu passava do ponto.

— Por quê? — perguntei desconfiada.

— Porque ele estava dizendo que vocês estão namorando.

Arregalei meus olhos e meu queixo caiu em susto. Steven e


Michael riram da minha reação.

— O QUE? — gritei, e algumas pessoas que estavam a nossa


volta tamparam os ouvidos.

— Meus Deus, Amber, fale baixo — reclamou Michael.

— Isso mesmo — confirmou Sienna, se sentando de novo no


colo do Michael, que passou um braço por sua cintura. —
Não tem nem uma hora que ele esteve aqui e disse que
vocês estavam em um relacionamento sério.

— Isso só pode ser piada — ri da situação. — Só se ele


estiver em um relacionamento sozinho, continuo solteira.
— Pobre Tim — suspirou dramaticamente Steven.

— Pobre Tim? Pobre de mim! Ele não pode dizer para as


pessoas o que temos sem nem mesmo falar comigo antes.
— Não que eu fosse fazer uma cena por conta disso, mas
falaria com ele depois.

— Relaxa, Foster — Steven aliviou o clima usando meu


sobrenome. — Vamos pegar algum destilado.

— Agora sim! — Pulei animada.

Eu e ele fomos até a mesa de bebidas, que estava quase


sem nada. Incrível como a bebida sumia, quem tomou tudo?
Ah é, deve ter sido eu.

— Então... — começou Steven enquanto se encostava na


mesa, e eu já sabia sobre o que ele ia falar. — sobre Scar...

— E lá vamos nós de novo — brinquei enquanto caçava


algum destilado.

— Não custa nada tentar, não é? — ele se defendeu


erguendo o ombro.

A questão sobre Scarlett era complicada. Das minhas


amigas, ela acabava sendo aquela que curtia as festas
comigo, por termos estilos de vida parecidos.

Sienna e Maddie são mais quietas, eu e Scar nos


completamos perfeitamente. Ela curtia a reação que
causava nos homens, gostava de provocá-los, já que era do
tipo de garota que realmente chamava atenção. E Steven
queria uma chance com ela, mas eu não podia fazer nada,
realmente, ela que escolhia sua presa.
— Você sabe que não posso fazer nada, amigo. — Dei de
ombros.

— Você podia tentar, sabe? Falar de mim para ela, contar do


meu abdômen. — Ele ergueu a camiseta e piscou para mim.

— Se o requisito fosse ter um abdômen definido estava fácil.

— E qual é o requisito, então? — questionou interessado.

— Não se...

— Você viu a Maddie? — Sienna me interrompeu, chegando


por trás de mim.

— Não, você sabe que ela não gosta dessas coisas, deve
estar lá em cima acendendo um incenso — respondi.

— Um incenso? — um cara que não conhecia entrou na


conversa. Ele estava encostado no balcão perto da
geladeira com Bethany, nossa líder da Fraternidade Kappa
Beta.

— Você não tem ideia, toda vez que fazemos qualquer coisa
aqui, Maddie enche a casa de incenso, para “tirar as más
energias”.

— riu Bethany.

Peguei meu celular no bolso para ver se tinha alguma


mensagem de Maddie e vi uma mensagem de Scar enviada
há uns vinte minutos.

Scar: Cheguei agora da biblioteca, não fique bêbada sem


mim! Vou só subir pra tomar um banho.

— Parece que a sua crush está lá em cima tomando banho



cantarolei para Steven e o ouvi gemer.

— Fala sério, Amber? Agora estou imaginando-a tomando


banho! Você não pode me dizer essas coisas.

— Quem é sua crush? — Bethany ficou curiosa.

— Scarlett Miller — respondi e o cara que estava com


Bethany bufou.

— A crush de todo mundo, você quer dizer, não é? — ele


falou e senti Bethany endurecer ao seu lado.

Babaca. Qual a necessidade de dizer isso na frente dela? O

problema era que Bethany não falava isso para ele, ela
descontava esse tipo de coisa em Scar.

— Vamos lá em cima procurar ela. — Arrastei Steven e


Sienna para irmos até o segundo andar antes que Bethany
falasse algo sobre minha amiga.

Subindo as escadas me lembrei que nem peguei mais


bebida, bufando bati na porta do quarto de Scar.

— É melhor que esteja vestida, estamos entrando com um


gostoso aqui. — Abri a porta, mas assim que vi o que estava
atrás dela, congelei.

Scar estava toda molhada e enrolada em uma toalha na


porta do banheiro, como se tivesse acabado de sair do
banho. Em sua cama estava Tim Stone, deitado só de
cueca. Os dois se assustaram ao nos verem entrar. Scar
ficou pálida.

O que? Tim e Scar estavam transando?

— Eu juro! Não sei o que ele está fazendo aqui, Amber. —


Minha amiga começou a se aproximar de mim tentando
segurar a toalha no lugar.

Tim se levantou depressa da cama e começou a vestir as


calças.

— Porra! Esse não é o seu namorado? — perguntou alguém


que estava passando no corredor e algumas pessoas que
estavam por lá começaram a se juntar na porta, querendo
ver o show.

Meu namorado?

— Meu namorado? Meu Deus, Tim! Pra quantas pessoas


você andou falando isso? — Balancei a cabeça para ele em
negação.

— Amber, posso explicar. Foi ela que me chamou aqui pra


tomar banho com ela. — Tim apontou para Scar, que ficou
vermelha de ódio e foi para cima dele.

Sienna entrou no meio tentando segura-la pela cintura, só


que a toalha acabou caindo no processo.

Oh Deus, minha amiga ficou complemente pelada ali. Ouvi


alguns caras que estavam na porta assobiando e outras
pessoas pegaram o celular para tirar foto.

Merda, merda, merda. Mil vezes merda.

Entrei no meio deles e fiquei na sua frente para tampar a


visão. Sienna tentava cobrir o corpo de Scar com a toalha,
mas ela não parecia se importar, estava enlouquecida
querendo pegar Tim.

— Eu nem sabia que ele estava aqui, estava saindo do


banho.
Esse filho da puta entrou no meu quarto! — ela falou
enquanto tentava se desviar dos braços de Sienna.

— Relaxa, eu sei disso — enfatizei tentando passar


tranquilidade a ela.

Lógico que acreditava na minha amiga, e mesmo se


estivesse com ele, não é como se eu me importasse.

Naquele momento Bethany entrou no quarto, e eu sabia que


ia dar merda. Ela parecia estar com aquela cara “eu não te
avisei?”

para mim.

— Não sei por que, não estou surpresa. — Bethany deu um


olhar de desprezo para Scar, que agora estava se enrolando
com a toalha.

— Foi essa puta que me convidou pra vir aqui, eu não tive
culpa — Tim acusou enquanto vestia sua camiseta.

AHH NAÕ! Ele não ia mesmo falar assim da Scar.

— Ah sim! E você não pôde resistir, não é? Foi obrigado a


tirar a roupa — debochei irritada. — Faça-me o favor, Tim,
saia daqui!

— Amber, querida... — ele continuou tentando se aproximar


de mim, mas me desvencilhei. Simplesmente não suporto
homens assim, que tentam desmentir e desacreditar uma
mulher, só porque não assumem o que fazem.

— Fora! E nunca mais chegue perto da minha amiga. —


fiquei na frente de Scar, a protegendo, e Steven tentou
levar Tim para fora.
— Fala sério, Amber! Você ainda vai defendê-la? — Bethany
reprendeu indignada.

Ela simplesmente odiava Scar, ela e quase todas as


meninas da fraternidade. As suas únicas amigas eram
Sienna, Maddie e eu.

— Bethany, por favor — supliquei para ela. Não queria


brigar, também era amiga da Bethany e de todas as
meninas daqui, só queria que esse show acabasse.

Olhei para trás e vi Scar enrolada em Siena, vermelha de


ódio, mas ela se manteve calada.

— Você está sendo trouxa, Amber. Escute — Bethany pegou


minha mão —, não é a primeira vez que ela faz isso. Ela já
deu em cima de vários namorados das meninas aqui. — ela
começou a levantar a voz para todos ao redor escutarem.

— EU? — Agora Scar estava horrorizada. — Nunca dei em


cima do namorado de ninguém!

— Já chega, acabou o show! Podem ir embora. — Sienna


começou a tentar expulsar todos os curiosos, que estavam
até filmando.

— Saiam da frente! Me deixem passar! — Uma voz que eu


conhecia bem, se sobressaiu e um furacão ruivo apareceu
no quarto.

Maddie ficou paralisada, vendo Tim que ainda permanecia


tentando se fazer de vítima e Scar de toalha.

— Não sei o que aconteceu aqui, mas seja o que for, Scar
não é culpada. — Maddie se virou para Bethany, a
afrontando.
Ela vestia um macacão jeans, sujo de tinta, e segurava um
incenso, que estava soltando fumaça.

— Mas isso é verdade! Essa daí já deu em cima do meu


namorado também. — Emily Wade apareceu no corredor,
era nossa irmã da fraternidade.

Emily tinha um namorado?

— NUNCA DEI EM CIMA DE NINGUÉM! Nem mesmo sei quem


é seu namorado. — Scar se defendeu.

— Que namorado, Emily? Que eu saiba, você não tem um —

pontuou Maddie.

— Quando eu tinha, ela deu em cima dele.

— Ela deu em cima dele ou foi isso que ele disse a você? —

continuou Maddie.

— Ela também deu em cima do meu! — Uma garota no


fundo do corredor tumultuado, gritou.

— E do meu também! — outra acusou.

Começaram uma série de acusações, umas quatro meninas


da fraternidade alegaram a mesma coisa.

E eu só sabia de uma coisa: era mentira. Scarlett não ficava


com caras comprometidos. Tudo bem que ela gostava de
flertar, mas com os solteiros.

Olhei para ela, que permanecia encolhida nos braços de


Sienna, Maddie estava a abraçando por trás. Observando
mais atentamente percebi o quanto estava triste, toda
aquela situação era humilhante.
— Por favor! Já chega, vão embora! — implorei para eles, e
Bethany continuou a tentar pegar minha mão.

— Querida, escute, ela passou dos limites. Você é uma das


poucas amigas que ela tem e olha o que fez com você?

— O que ela fez comigo? Tim não é nada meu, mesmo que
eles tivessem transado, isso não é nada.

— Amber, eu vou provar a você... — Tim tentou falar, mas o


interrompi.

— Saia daqui! Pensei que você fosse um cara legal, mas é


um cretino! FORA!

Recebi diversos olhares assustados com minha explosão,


todo mundo ficou em silêncio. Acho que ninguém nunca
tinha me visto genuinamente zangada antes.

— Amber... — Ele se aproximou, mas Steven o segurou.

— FORA! — Acho que ele ficou com medo do que viu.

A “Amber descontraída” tinha ido para o inferno. Só me


lembro de ter explodido desse jeito uma vez. E no caso em
questão, envolvia um jogador de hóquei bem gato e um
drink azul.

— Não vou permitir que você desminta a minha amiga, na


minha frente! — Apontei o dedo para ele.

— Mas estou dizendo a verdade! Ela me chamou... — ele


não conseguiu terminar, pois nesse momento Scar tentou se
desvencilhar de Sienna e o covarde recuou, tentando sair do
quarto.

— Acabou! Vão todos para casa — Maddie gritou.


— Não é você que manda aqui, Maddie. — Bethany a olhou
com desgosto, elas também nunca se bicaram. — Acho que
a Scarlett não pode mais ficar na irmandade, ela não
cumpre o que prezamos — completou.

— Bethany, você não pode fazer isso! — ofeguei, ela só


podia estar de brincadeira.

— Claro que posso. Você viu, ela já está causando discórdia


com todas as meninas, somos irmãs aqui.

— Irmãs? Irmãs acreditam e defendem umas as outras! —

Maddie apontou o seu incenso na cara de Bethany. — Você


sabe que essa história do Tim é absurda! Scar implorar pra
ele vir tomar banho com ela? Faça-me o favor, como se ele
fosse irresistível.

— Para sua informação, é verdade sim! — Tim apareceu de


novo na porta.

Não aguentei. Sinceramente, onde estava com a cabeça


quando me envolvi com esse cara?

— Tim — chamei muito calma. Ele se virou para mim


ansioso, como um cachorro que espera ganhar algum osso
—, sabe aquela vez que você me fez gozar? — Ele assentiu
muito satisfeito com o rumo da conversa, todos ficaram em
silêncio, esperando a nossa interação. — Eu fingi, mas não
se preocupe com isso, o problema não é com você — Dei de
ombros. — Algumas mulheres precisam de algo maior às
vezes.

Ele ficou vermelho, não sei se de vergonha ou raiva, alguns


caras riram e fiquei satisfeita sabendo que ele ia sair dali ao
menos um pouco prejudicado também.
Tim começou a se retirar, assim como a maioria das
pessoas.

Steven acenou para mim em apoio antes de sair do quarto.

Ficaram apenas algumas meninas da fraternidade. Voltei-me


para Bethany.

— Be, por favor, você não pode expulsar Scar. Ela também é
sua irmã.

— Ela não cumpre com as regras, nunca se conectou com a


gente.

— Isso é verdade! Ela nunca procurou se enturmar —


acusou Emily.

— Vocês sempre a excluíram de tudo! Nunca foi convidada


para nada aqui. — Sienna argumentou.

— Ela deve ser expulsa — uma das garotas apoiou.

— Ela não acrescenta — outra garota concordou.

Scar estava extremamente desconfortável, não é fácil ver


as pessoas apontarem o dedo na sua cara, ainda mais na
frente de todo mundo. Ser chamada de puta e acusada de
algo que não fez, para mim ela já foi forte o suficiente.

— Isso é um absurdo, sério! Se for isso que chamam de


irmandade, é melhor sairmos mesmo — Sienna exclamou
indignada.

— Sienna, ela nunca se encaixou aqui. É melhor pra todas,


ela ir embora — Emily tentou acalmar Sienna com tom de
desculpas.
— Se ela sai, eu saio também! — Maddie declarou enquanto
apontava o incenso na cara de Bethany.

— Tire isso da minha cara! Pode ir! Fique à vontade, o


convite se estende a você também. — Bethany desviou do
incenso.

— Bethany, espero muito que todo o seu cabelo loiro caia


da sua cabeça e nasça o dobro em outro lugar — Maddie
amaldiçoou.

Bethany engoliu em seco temerosa, a verdade é que as


meninas morriam de medo da Maddie. Ela foi criada por
uma cigana, minha amiga ruiva lia mãos, acreditava em
energias e que o destino estava nas constelações. As
meninas a chamavam de bruxa, mas era tolice, ela só
gostava dessas coisas místicas.

— Ela está jogando maldições, disse que ela era perigosa. —

Emily apontou o dedo para Maddie com medo enquanto se


escondia atrás de Bethany.

Revirei os olhos.

— Não fale dela de novo! — desafiou Scar já pronta para


começar outra briga, mas a segurei, isso não ia ajudar em
nada aqui.

— Bethany, o semestre acabou de começar, a gente não vai


conseguir achar um lugar para ficar assim, não pode
simplesmente nos expulsar. — Tentei ser razoável, e o que
disse pareceu chamar a sua atenção.

— Como assim “nos expulsar”? Amber, querida, você não


está incluída nisso — Bethany veio até mim e enlaçou o
braço no meu —, todas aqui a adoramos, você não vai a
lugar nenhum.

— Se expulsarem Scar, também vou.

Isso pareceu choca-la, sabia que estava jogando sujo, mas


não ia deixar minhas amigas assim. Sempre fui do tipo que
se da bem com todo mundo, as meninas gostavam de mim
e eu delas, nos divertíamos nas festas e participava de
tudo. Mas minhas melhores amigas sempre foram Sienna,
Maddie e Scar, não iria deixa-las.

— Amber, você não pode estar falando sério. — Emily ficou


subitamente triste.

— Vou ficar do lado da minha irmã, assim como vocês


deveriam ficar também.

— Amber, por favor, você não pode sair, esse lugar não vai
ser o mesmo sem você. — Emily apertou minha mão.
Gostava de todas elas e odiava estar fazendo essa
chantagem, mas era necessário. — Você está nos trocando
por ela? Ela não é sua amiga, estava com seu namorado.

— Ele não é meu namorado — Fiz cara de nojo. — Meu


Deus, ele espalhou essa história pra todo mundo? —
perguntei para Sienna, que só deu de ombro.

— Não vamos mudar de decisão, Scarlett está fora —

Bethany decidiu. — Mas vocês não precisam ir. — ela se


referia a mim e a Sienna.

— Não ficaria mais aqui nem se me pagassem — ralhou


Sienna, e me surpreendi, minha amiga era sempre muito
calma e elegante.
Bethany deu de ombros e veio me abraçar.

— Você pode voltar quando quiser, está bem? — sussurrou


no meu ouvido, enquanto eu a abraçava de volta. — Está
cega, uma hora verá que estamos certas.

— Na verdade é você quem tá precisando dos meus óculos

— citei e ela suspirou.

— Apenas saiba que tem um lugar pra voltar, ok?

Assenti indo abraçar Emily.

— Não acredito que essa megera está afastando você da


gente — resmungou em meu pescoço.

— Não é ela que está me afastando, são vocês, Emily.

— Não vá, Amber. — Ela me apertou mais, e eu a abracei de


volta, assim como todas as outras meninas, que agiam
como se eu estivesse indo para a guilhotina.

Quando elas começaram a sair do quarto, Bethany se virou


uma última vez para mim.

— É sério, você não precisa fazer isso só para provar um


ponto de vista.

— Nós vamos embora. Não ficaríamos nem se vocês


estivessem distribuindo vibrador grátis! — Maddie ficou na
frente de Bethany lhe jogando as fumaças do incenso.

— Não estava falando com você! Pode ir embora. —


Bethany saiu do quarto, fugindo da fumaça de Maddie que a
seguia.
— Vá embora! E leve toda essa energia negativa com você

gritou Maddie da porta antes de fecha-la e nos deixar


sozinhas no quarto da Scar.

Sienna caiu na cama junto com Scar, que continuava


enrolada na toalha.

— Amanhã vou ter nudes espalhados por toda a faculdade


choramingou Scar.

— Acho que não deu pra eles tirarem foto, foi muito rápido,
se conseguiram vai ficar borrada. — Tentou consolar Sienna,
pegando sua mão.

Me deitei na cama ao lado de Scar.

— Veja o lado positivo, pelo menos você está em forma,


será um belo nude. — Pisquei para ela.

Ela me jogou uma almoçada, e perguntou:

— Você consegue levar algo a sério?

Dei de ombros.

— E agora? Não tem vaga mais nos dormitórios, os


apartamentos perto do campus com certeza já foram
alugados —

Sienna suspirou preocupada.

— Vamos pensar positivamente. — Maddie veio


engatinhando até deitar do meu lado na cama.
Que cama grande, como é que cabíamos nós quatro? Pelo
menos no sexo a três ninguém ficava sobrando, acho que
vou comprar uma para mim. Não que esteja fazendo sexo a
três, mas

nunca se sabe, não é? Sexo a três, a quatro... de quatro.


Bem, pelo menos esse último já pratiquei. É, tenho que
começar a variar minha vida sexual.

Maddie bateu na minha mão.

— Ai! O que é? — resmunguei.

— Você está divagando, foco, Amber! Estamos sem teto


aqui.

— Vai dar certo, não vamos ser pessimistas. Pensem nisso


como uma nova aventura! — Tentei animar, mas parece que
não teve efeito.

Foda. Me levantei procurando meu copo, e foi quando me


lembrei que nem peguei meu destilado! Com certeza já
teria acabado, não tinha mais quase nada.

— Amber — me chamou Scar, e me virei para encontrar as


três deitadas na cama me encarando —, você acha que
conseguimos arrumar alguma casa? Perto dessas repúblicas
ou ruas universitárias por aqui.

— Não sei, talvez. Vocês viram meu copo? — Tenho certeza


que tinha sobrado alguma coisa.

Um travesseiro me acertou de novo, vi uma Sienna muito


séria sentada na cama extragrande, pronta para jogar outro
travesseiro na minha cara.
— Onde você arrumou essa cama, Scar? — Não resisti
perguntar. — Acho que nunca tinha reparado como é
grande, dá para dormir todo mundo aí. Nem precisamos
mais nos preocupar em levar as nossas pra casa nova.

— Você pode, por gentileza, focar no problema aqui? —

Sienna ironizou.

— Estou focando, pensem no lado positivo — me joguei,


pulando em cima da cama —, a gente pode arrumar uma
casa muito melhor, com mais privacidade — comecei a
enumerar as vantagens, tentando anima-las. — Vamos
poder dar nossas próprias festas, convidar quem quisermos,
gemer alto. .. — Usei a última parte para provoca-las.

Maddie revirou os olhos e Scar começou a rir.

— Eu vou achar uma casa com tudo que a gente precisa!

Talvez toda essa confusão seja um sinal do destino. —


Maddie

sentou na cama, subitamente animada. — Meu horóscopo


realmente apontava para novas mudanças esse mês. Vamos
primeiro colocar o que cada uma considera como um
requisito necessário na casa.

— Que tenha espaço para cachorros — pedi.

— Você não tem cachorro, Amber — Scar me lembrou.

— Mas sempre quis ter um! Agora surgiu a oportunidade,


como a Maddie disse, destino.

Maddie concordou comigo. Eu queria mesmo cachorros,


nunca tive um, agora com uma casa só nossa poderia ter.
Talvez adote alguns... Uns dois ou três. Não iria falar isso
para as meninas, lógico, elas iriam surtar.

A melhor coisa a se fazer seria adotar os cachorros e só


quando elas chegassem em casa contaria, assim ficariam
com peso na consciência em manda-los embora.

— Quero uma casa com quintal, é melhor para manusear o


telescópio ao ar livre do que da janela do quarto —
comentou Maddie.

— Quero vizinhos gostosos — Scar entrou na brincadeira.

— Agora você disse tudo, Scar. — Empurrei o ombro dela em


aprovação.

Sienna bufou.

— Vocês estão mesmo botando requisitos? Para mim já


saímos no lucro se acharmos uma casa.

— Vocês sabem que vamos ser excluídas de tudo, não é? —

anunciou Scar, olhando para o teto. — Todo mundo vai estar


falando de mim amanhã, vão chamar a Amber de trouxa, eu
de puta, e quanto a vocês duas — Apontou para Sienna e
Maddie —, serão julgadas por associação. E só Deus sabe
que tipo de casa vamos conseguir. Enfim, estamos fodidas.

— Fodidas? Só se forem vocês. Hoje não deu, bem que


queria, mas pelo jeito vai ficar para a próxima — gemi
frustrada.

Ficamos em silêncio olhando para o teto, até que todas


explodimos em uma gargalhada coletiva. Era melhor rir do
que chorar, como se diz.
Pensamento positivo, ia dar tudo certo. Afinal, o que poderia
dar errado?

AMBER FOSTER

Coloquei minha cabeça para fora da janela para sentir o


vento no meu rosto. Com certeza meu cabelo já deveria
estar todo embaraçado, mas não é como se me importasse
com isso, já ia me sujar toda com a mudança mesmo.

Estava no carro de Sienna, com Scarlett, Maddie e Michael


no banco de trás, e ele não parava de reclamar que
simplesmente perdeu a nossa expulsão, a maior fofoca do
campus.

— Não acredito que perdi isso! — repetiu pela milésima vez.

— Sério, a única vez que a Amber fica puta e eu perco.

Não o lembrei que não foi a única vez que fiquei puta.

— Você não tem ideia, amor — contou Sienna olhando para


ele pelo retrovisor. — Ela disse que fingiu todos os
orgasmos! E na frente de todo mundo.

Ri com a lembrança da cara de Tim. Eu deveria me


arrepender de ter feito isso, mas não conseguia, foi muito
engraçado.
E também, não é como se estivesse mentindo mesmo, era
uma atriz nata, se tinha uma coisa que sabia fazer era fingir
orgasmo. Queria ser do tipo que os tem com mais
facilidade, mas não acontecia assim. O sexo como o todo
era bom, só que eram poucos os caras que conseguiam me
fazer ir até o final. E Tim Stone, com certeza não era um
deles.

— Até agora não acredito que não viu o show, onde você
estava mesmo? — Scar perguntou observando as ruas do
nosso novo bairro.

— Conversando com os caras do futebol.

Michael Terry tinha um terrível fetiche por jogadores. Ele era


fã de quase todos os esportes, e como todo mundo que
estudava na Brown, ficava como um cachorro farejando em
cima dos jogadores.

O namorado da minha amiga é um cara legal, não é como


se eu não gostasse dele, eu gosto dele, mas ele tinha esse
interesse genuíno de se aproximar dos “caras importantes”,
era tolo.

Dando de ombros, observei ansiosa quando o carro dobrou


na nossa nova rua. As casas eram bonitas, os gramados
verdes e aparados, a maioria ocupadas por universitários.
Maddie tinha conseguido achar uma casa disponível, um
milagre dos deuses, de acordo com ela. Ao que tudo indica,
os donos eram um casal que adquiriu a casa recentemente,
mas logo se mudaram por não

“aguentarem os vizinhos barulhentos”. O que eles estavam


esperando em uma rua cheia de universitários?

O carro parou na frente da nossa nova casa, era até


agradável, tinha dois andares, o piso de madeira parecia em
dia e tinha um gramado ótimo. Mas a diferença da nossa
para a casa ao lado era gritante, a outra era enorme,
também de dois andares, mas parecia muito mais moderna
que a nossa. Deveria ter uns cinco quartos pelo tamanho, e
o gramado estava repleto de copos espalhados, uma mesa,
um sofá e até roupas jogadas pela calçada.

Ao que tudo indica ontem teve uma festa das grandes ali.

— Festa em plena segunda-feira? — Maddie balançou a


cabeça em negação observando a outra casa e se
espreguiçando.

Nós tínhamos passado o fim de semana procurando e


acertando a mudança para nossa nova casa. Faltamos às
aulas da segunda-feira, então hoje resolvemos vir bem cedo
arrumar o que desse antes de irmos para a aula. As
meninas estavam mortas.

Começamos a tirar do porta-malas as caixas com nossas


coisas, deixando tudo no gramado, já que Michael iria pegar
o carro de Sienna e voltar com mais caixas enquanto
ajeitávamos o que dava.

Quando Michael foi embora, entramos na casa, ela já era


antiga, mas não era como se o teto fosse cair sob nossas
cabeças.

Pelo menos, eu esperava que não.

— É, dá para o gasto. — Maddie avaliou o espaço.

A cozinha se dividia da sala apenas por um balcão, mas o


lugar era espaçoso, por mais que os móveis fossem antigos.

— E ainda tem espaço para os cachorros — comentei


subitamente animada. Sentei em cima da mesa de madeira
que tinha no meio da sala.

— Cachorros? Você disse que era só um. — Scar estreitou os


olhos para mim, desconfiada.

— Um, dois... Quem está contando? — Dei de ombros,


observando o ambiente e balançando os meus pés.

— Eu estou. É sério, Amber, não vamos criar um zoológico


aqui. — Sienna passou carregando uma caixa e levando ao
segundo andar.

— Relaxaaaa — gritei para ela. — Eles não vão dar trabalho,


prometo!

— Amber! Fale baixo, não são nem seis da manhã ainda —

reclamou Maddie passando com mais caixas.

— A gostosa vai ficar sentada aí mesmo observando a gente


trabalhar? — ironizou Scar.

— É claro, para quê mais eu pago vocês?

Me levantei da mesa para ajudar, mas bem na hora meu


telefone tocou. Olhei para a tela e vi o nome Lindsay Foster
(minha pessoa favorita) piscando, atendi.

— AH MEU DEUS! COMO ASSIM VOCÊ É EXPULSA DA


FRATERNIDADE E NÃO ME CONTA? — gritou minha madrasta
e ri da empolgação dela.

— Ah, vai me dizer que não esperava isso de mim?

— Esperava, não posso mentir.

— Quem te contou?
— Scarlett! Pois a minha melhor amiga não se dignou a me
contar, estou sentida.

— Não é muito cedo para já abrirmos o teatro, Lindsay? —

brinquei.

Eu amava minha madrasta, tínhamos uma relação que


poucas pessoas entendiam, já que ela era apenas 10 anos
mais velha que eu. Sim, meu pai tinha 57 anos e gostava
das novinhas.

— Nunca é cedo demais para um bom drama — ela suspirou


do outro lado da linha. — É verdade que você disse que o
pênis dele era pequeno? Eu queria ter visto isso, que
saudades da época da universidade!

— Não disse exatamente com essas palavras, mas ele


mereceu. — ri me lembrando da cara do babaca.

— Claro que mereceu! Pena que vocês foram expulsas.

Nossa! A vida de vocês é tão agitada, queria voltar aos vinte


de novo.

— Não tem quatro meses que você fez trinta e dois.

— Eu sei! Mas entenda, depois que você completa trinta já


se sente velha. — revirei os olhos. Lindsay era modelo antes
de se casar com meu pai, ela nunca passaria por uma
mulher velha. — Pra falar a verdade eu acho que meus seios
já estão caídos, vou até te mandar umas fotos deles...

— Ah não é necessário, mesmo...

— Vou mandar mesmo assim, e nem vamos falar da minha


bunda! Meu personal diz que está tudo em cima, mas não
acredito, sabe? O quanto se deve confiar na opinião de uma
pessoa que é paga para isso?

— Tem algum sentido nisso — concordei.

— Ah e nem te conto do seu pai! Ontem ele só voltou de


manhã e tenho certeza que estava com meninas de vinte
anos. Isso é terrível, me sinto velha. Estou achando que ele
não levanta mais para mim, entende?

— Levanta?

— Sim! Ele não fica mais duro...

— Ah Meu Deus, Lindsay! Eu realmente não quero saber do


pênis do meu pai, isso é nojento.

— Lamento, vai ter que escutar. Com quem mais eu vou


falar?

Você é minha única amiga. — Meu coração apertou, ela não


tinha muitas amigas, eu teria que escutar sobre a vida
sexual do meu pai.

— Pois então, semana passada eu vesti uma lingerie


quentíssima!

Se é que me entende. — Podia imaginar ela querendo piscar


o olho para mim. — E ele nem reparou. Continuou no celular
e nem me olhou duas vezes, como pode? Ele não me
procura mais!

— Não sabia que você estava perdida — brinquei rindo, e


chamando a atenção das meninas que passavam com as
caixas.

— Dá para você levar isso a sério?


— Você já parou pra pensar que talvez ele só deve estar
velho? Ele tem 57 anos, não é mais nenhum jovem, o
problema não é com você.

— Não é isso, querida! Eu lhe garanto, se tem uma coisa


que eu conheço é o apetite sexual do seu pai, aquele
homem tem uma vontade...

— Ai não! Por favor, não me faça ouvir isso.

— A princesa vai ajudar ou não? — Scar passou carregando


duas caixas. Levantei o indicador para ela, avisando que em
um minuto iria.

— Lindsay, tenho que ajudar as meninas aqui. Depois a


gente se fala e você me conta sobre seus peitos.

— Tá bom, e me liga! Me sinto muito sozinha nessa casa.

— Não se preocupe, vou ligar. E Lindsay?

— Sim?

— Saia também, se acha que papai passa a noite fora com


meninas de vinte anos, você também tem direito.

— Você acha mesmo? — disse insegura, e eu podia imaginar


ela roendo a unha, esperando minha opinião.

— Lógico, use o seu melhor vestido, se sinta linda e vá


flertar com caras de vinte anos também! Você vai ver que
ele vai se aquietar rapidinho, você não precisa ser a esposa
troféu.

— Bem, mas é isso que eu sou, não é?

— Você é mais que isso, não se deixe definir por um rótulo.


— Nossa, o que eu faria sem você? — suspirou do outro lado
da linha.

— Arrumaria outra garota de 22 anos pra ser sua amiga —

sugeri.

— Que audácia. Agora vai ajudar as meninas, beijinhos! Te


amo.

— Te amo.

Desligando o telefone fui para o gramado pegar o resto das


caixas, enquanto pensava na situação de Lindsay. Eu odiava
que ela tivesse se colocado nessa situação, ela casou com
papai por dinheiro, e ele para ter uma mulher bonita ao
lado, eu não os julgava, cada um com sua escolha. O
problema era que meu pai continuava com a vida de
solteiro, e ela permanecia passiva, tentando agrada-lo,
vivendo por migalhas de atenção.

Poderia ser meu pai, mas eu não passava pano para ele.
Sou uma feminista convicta, sem hipocrisia, sempre tento
ser amiga de todas as mulheres. Lógico, que isso nem
sempre era possível, não tinha como forçar uma intimidade
quando não dava, mas eu sempre me mostrava disponível e
aberta a ser amiga de toda mulher. Com Lindsay não foi
diferente, ela foi muito julgada por ter casado com meu pai,
ganhou o estereótipo de interesseira e superficial. Se ela é
isso? Eu não sei, simplesmente não me sinto no direito de
julgá-la, só sei que ela é uma das melhores pessoas que já
conheci, linda, divertida, uma ótima amiga e eu a amo.

Quando levei a caixa para o quarto que seria meu, vi que


teria um espaço bom. Me peguei deitando na cama que
tinha ali. E graças a Deus a casa já veio mobiliada, não
suportaria ter que levar mais coisas.
Scar entrou no quarto e caiu do meu lado na cama, ela ficou
em silêncio tempo suficiente para eu saber que queria falar
alguma coisa. Virei meu rosto para ver minha amiga
encarando o teto, ela era absurdamente linda.

Tinha o cabelo castanho escuro longo e liso, lábios carnudos


e olhos de cor lilás. Sim, lilás. Scar tinha nascido com os
olhos de uma cor rara, o que fazia as pessoas se
perguntarem, à primeira vista, se ela usava lente. Mas eram
naturais, exóticos e as suas tatuagens espalhadas pelo
corpo só enfatizavam a aparência selvagem dela.

— Eu não fiz isso, Amber. — Ela se virou para me encarar. —

Eu não fiquei com ele.

Eu vi a verdade ali, mas eu não precisava disso, nunca


duvidei dela. Peguei sua mão e entrelacei nossos dedos.

— Eu sei disso.

— Eu não dei em cima do namorado de nenhuma delas


também. Eu sei que gosto de provocar às vezes, mas nunca
com alguém comprometido.

— Eu sei, você não precisa me dizer isso.

— Preciso. — Ela apertou minha mão. — Porque você foi a


primeira pessoa a me acolher quando cheguei, e eu nunca
faria algo para te machucar. Nunca.

As meninas da fraternidade faziam questão de mostrar que


não gostavam de Scar, desde quando éramos calouras, elas
ainda estavam naquela de rivalidade feminina. Eu sabia que
ela só tinha Maddie, eu e Sienna, e às vezes sentia como se
Scar estivesse sempre querendo nos agradecer por isso,
algo que não precisava, vinha do coração.
— Não quero que você se culpe por isso, Scar.

— Vão falar de você, vão dizer que você está sendo ingênua
e trouxa por continuar me defendendo.

— Besteira. — Dei de ombro. — Tenho coisas mais


importantes com que me preocupar. — Pulei da cama e Scar
me deu um sorriso divertido. O que era verdade, por
exemplo, daqui a algumas horas teria que apresentar um
trabalho, organizar uma casa e conhecer meus preciosos
cachorros. — Vamos lá pra baixo ajudar as meninas, antes
que eu fique com a fama de preguiçosa.

— Preguiçosa? Você? Nunca! — ela debochou.

Descemos e fomos pegar as últimas caixas que ainda


estavam no gramado, mas algo chamou nossa atenção... ou
alguém.

A porta da casa ao lado se abriu. Ainda era cedo, pensei que


todos estivessem dormindo, mas pelo jeito alguém estava
fazendo a

“caminhada da vergonha”. Duas meninas saíram de mãos


dadas da casa, elas estavam segurando os sapatos na mão
e tinham cara de quem havia sido bem comida.

Logo atrás delas apareceu um cara vestido só com uma


calça de moletom cinza. O peitoral esculpido e o tanquinho
provavam que provavelmente ele era atleta, tinha algumas
tatuagens espalhadas no peitoral, pele negra, cabelo
castanho escuro e curto. Quando ele virou o rosto em nossa
direção vi que seus olhos eram verdes, o que

o deixava ainda mais gato. O cara era quente, isso era


inegável, e quando o olhei melhor percebi que conhecia ele.
— Quem é o gostoso da casa ao lado? — sussurrou Scar do
meu lado.

Era Drake Cross, jogador de hóquei da universidade.

Merda! Ele era amigo de Johnny Jackson, capitão do time de


hóquei, o cara que eu fiz questão de brigar logo no primeiro
ano e a pessoa que evito como se portasse a peste.
Esperava, sinceramente, que Jackson não costumasse
frequentar a casa do amigo.

Drake nos deu um sorriso fácil, os dentes muito brancos se


destacando do tom negro da sua pele, o deixando
charmoso. Veio em nossa direção, caminhando sem camisa,
sem se importar com o frio que poderia estar fazendo logo
de manhã cedo.

— Parece que o requisito “vizinhos gostosos” está cumprido

— provoquei Scar, antes de Drake parar na nossa frente. Ele


apoiou os braços musculosos na nossa varanda como se
fosse o dono do lugar.

— Então, vocês são nossas novas vizinhas? — comentou


com uma voz rouca de quem tinha acabado de acordar. Ele
era ainda mais bonito de perto.

— Não só a gente, tem mais duas lá em cima — Scar


esclareceu, se referindo a Sienna e Maddie que ainda
estavam lá dentro.

— Eu acho que conheço vocês de algum lugar. — Drake nos


olhou confuso, como se estivesse tentando se lembrar de
algo.

— Éramos da Fraternidade Kappa Beta — respondi.


— Saíram de lá? — ele sondou olhando nossas caixas.

— Fomos convidadas a nos retirar — corrigi e ele deu um


sorriso sexy.

— Não vou nem perguntar o que vocês fizeram.

— Sou Scarlett Miller, e essa é a Amber Foster.

— Drake Cross — ele se apresentou apertando nossas mãos.

Nesse momento Sienna apareceu na varanda e veio em


nossa direção.

— Nosso vizinho? — Sienna perguntou um pouco acanhada.

— Isso mesmo — ele respondeu enquanto apertava a mão


dela.

— Sienna Vega — se apresentou.

— Drake Cross.

— Pelo jeito vocês gostam de dar festas animadas. —

Apontou Scar para o gramado cheio de copos.

— Digamos que temos um amigo meio sem limites. Mas


vocês já estão convidadas a aparecerem.

Michael estacionou o carro na entrada da nossa casa e


Sienna se despediu com um aceno, fazendo Scar a seguir
para ajudar a retirar as caixas. E me deixando sozinha com
Drake.

— Então, você é Amber Foster — afirmou Drake, e senti que


ele já sabia quem eu era.
Será que Johnny falou daquele dia para ele? Senti um
arrepio com o pensamento. Veja, quando você gosta de
alguém quer que o sentimento seja recíproco, que a pessoa
pense em você na mesma medida que pensa nela. É o
mesmo raciocínio com o ódio, eu não gosto de Johnny
Jackson, foi antipatia à primeira vista, forte e intensa. Me da
um certo prazer saber que ele sente o mesmo em relação a
mim, me odeia ao ponto de contar aos seus amigos sobre o
nosso “pequeno desentendimento” anos atrás.

Deus, estou mesmo gostando do fato de alguém não gostar


de mim?

— A própria — respondi.

Ele sorriu de lado, como se estivesse pensando em alguma


coisa.

— Isso vai ser interessante — citou mais para si mesmo do


que para mim.

Fiquei desconfiada, mas não questionei. Drake acenou para


mim e começou a caminhar de volta para sua casa.

E não me passou despercebido o último olhar que ele deu


na bunda de Sienna antes de entrar.

JOHNNY JACKSON
Senti uma mão morna passar pelo meu peitoral e descer até
minha cueca, apertando meu pau já endurecido. Abri os
olhos e me deparei com um par de peitos enormes, os bicos
marrons durinhos para mim e um rio de cachos negros
descendo por entre eles.

Olhando para cima vi um sorriso safado no rosto da garota


que me montava.

Sorri de volta para ela e minha boca salivou ao chegar perto


dos seus mamilos. Passei a língua bem no meio deles,
sugando os cantos, babando toda a pele negra dela e a
deixando arrepiada. A garota gemeu e passou a esfregar a
boceta já melada na minha cueca, pressionei os dedos no
seu quadril e passei a ditar os movimentos do nosso
esfrega-esfrega, deixando-a aliviar o latejar do seu clitóris
ao passa-lo no meu pau duro.

Abocanhei o seu bico durinho e ela agarrou o meu cabelo,


sem deixar de rebolar em mim.

— Johnny... — gemeu meu nome, quase em suplica. E atendi


o seu pedido.

Levei meu polegar até bem em cima do seu ponto e


pressionei de leve, o suficiente para fazê-la gemer alto de
novo e rebolar sem ritmo na minha mão. Meti dois dedos de
uma vez dentro dela, e ao os retirar lambuzados, os levei
para seu clitóris de novo.

— Pelo o que estou ouvindo a coisa está boa aí. Longe de


mim querer atrapalhar, mas já estamos atrasados — Drake
chamou do outro lado da porta.

Que ótimo momento ele escolheu para atrapalhar.


— Foi mal — me desculpei com a garota, que saiu bufando
de cima de mim.

— Ele já estragou o clima mesmo. — Ela revirou os olhos


puta, caçando suas roupas para ir embora. É, ninguém
gostava de ter o orgasmo interrompido.

Levantei da cama depois que ela saiu para dar uma olhada
no celular... Porra! Definitivamente já estávamos atrasados
para primeira aula.

Tinha uma rotina rígida a seguir, corrida, aula, treino, estudo


e treino de novo. Não costumava ser a favor de festas no
meio da semana, mas Colin tem a incrível habilidade de
conseguir me convencer a fazer besteira.

Depois de um banho, abri minha gaveta para encarar tudo


muito bem organizado, sapatos alinhados, roupas e até
cuecas separadas por cor. Não é como se fosse metódico...
Tá, talvez um pouco.

Me vesti depressa e desci as escadas para descobrir que a


casa estava uma bagunça da noite passada. Balancei a
cabeça em negação, sem querer lidar com essa bagunça
agora.

Drake já estava me esperando encostado no meu carro.

Assim que abri a porta do motorista, vi caixas espalhadas


no gramado da casa vizinha ao lado.

— Você deveria conhecer nossas novas vizinhas — Drake


sugeriu entrando no carro, com um sorrisinho de quem sabe
algum segredo.

— Não me diga que você já deu em cima delas, mal


chegaram.
— O que é isso, Johnny? Acha que vou ser tão direto assim?

— ironizou e revirei os olhos. — Vou esperar pelo menos


dois dias.

Ri do seu deboche enquanto passava pelas ruas do nosso


bairro. Dos meus amigos, Drake Cross era definitivamente o
mais galinha, chegava a empatar com Colin — e acredite, é
um feito e

tanto. Comparado aos dois, sou um santo... Ok, um santo


com alguns pecados.

— Ao que parece são quatro garotas — ele continuou me


contando a fofoca. Eu falei que meu amigo é o maior
fofoqueiro que conheço? Ele simplesmente sabe da vida de
todo mundo, chega a ser impressionante. — Só vi três delas,
mas meu irmão... Elas são gostosas pra porra. Parece que
foram expulsas de alguma fraternidade, não descobri o
motivo ainda, mas vou investigar.

— Você quer dizer fofocar? — provoquei.

— Não fofoco, apenas retenho informações — se defendeu.

— Sei...

— Tenho uma curiosidade aflorada.

— Se você diz... — Dei de ombros. — Depois dou uma


olhada nelas.

Drake gargalhou no seu assento e estranhei sua reação.

— Quando você for conhecê-las me avise, por favor. Eu não


perderia isso por nada no mundo. — ele limpou os olhos
ainda morrendo de rir.
— O que diabo você tem? — questionei sem entender, mas
meu celular começou a apitar com mensagens
interrompendo o que ele iria responder. — Você pode ver
quem é? — pedi e joguei meu celular no colo dele.

— É o Benny, disse que está te esperando no café, ele está


falando de um favor...

— Merda! — interrompi Drake. — Esqueci complemente que


marquei com ele hoje — suspirei já mudando de direção
para o café.

— Tchau primeira aula.

Senti um arrepio no corpo ao pensar no que Benny Nolan


pediria. Crescemos juntos no Brooklyn, ele é o irmão mais
novo do meu melhor amigo, Bruce Nolan. Ou ex-melhor
amigo, não sei mais como deveria tratar isso. Era uma parte
da minha vida que não mexia, a parte de mim que queria
esquecer, mas ao mesmo tempo ainda tentava consertar
todos os dias.

Sabe quando você faz uma merda muito grande e quer


voltar no tempo para poder desfazer tudo? Bom, era assim
que me sentia quando pensava no meu melhor amigo.
Ainda mandava e-mails para
ele todos os dias, ainda enchia suas redes sociais com
mensagens que não eram respondidas. Eu deveria parar,
mas não conseguia.

Ferrei com tudo anos atrás e ainda pago por isso.

Benny sempre foi extremamente tímido, tinha poucos


amigos e sofria bullying na época da escola. Eu e Bruce
sempre o protegíamos, e as coisas não mudaram muito
desde que Benny começou a estudar na Brown, ainda sentia
o dever de protegê-lo e estar lá para ele. A única coisa que
mudou foi eu e Bruce, éramos inseparáveis, melhores
amigos, irmãos, até eu resolver acabar com tudo, e
simplesmente não éramos mais nada.

Quando Benny me mandou uma mensagem dizendo que


tinha um favor a me pedir, estranhei, ele nunca me pede
nada, e quando digo nunca, é nunca mesmo. É do tipo que
resolve tudo sozinho, odeia pedir favores ou ser visto
comigo, ele não gosta da atenção, por isso todos os nossos
encontros são meio que privados. Então seja lá o que ele
quer, só pode ser muito importante.

E eu o ajudaria. Porque era Benny. Porque não pude ser um


bom amigo antes, mas agora posso. Porque a minha
consciência ainda pesa. Porque talvez isso me alivie da
culpa. Ou talvez porque espero que Bruce saiba que estou
ajudando o seu caçula.

Entrei no Whiteś, o café ficava perto do campus, então


estava sempre cheio de universitários. Senti os olhos em
mim enquanto ia na direção da mesa em que Benny estava
sentado nervosamente.

Puxei meu boné mais para baixo, querendo tampar meus


olhos e sentei na frente do Benny, com Drake do meu lado.
— Bom dia pra você também — debochei quando Benny
não falou nada. Ele estava nitidamente nervoso, alternava o
olhar entre as suas mãos unidas em cima da mesa e Drake.

Será que era confidencial? Não deveria ter trazido Drake?

— Eu posso sair, se for algo pessoal — Drake já foi se


levantando.

— Não. Talvez você até ajude — Benny ajeitou os óculos no


rosto. Ele era ruivo, assim como Bruce, mas diferente do
irmão, Benny era magro, deixava o cabelo crescer até
esconder as orelhas e usava óculos de arco preto redondos.

Ele olhou de novo para as mãos unidas, estava


desconfortável e nervoso. O que era que ele queria me
pedir para deixá-lo desse jeito? Dinheiro? Eu não era rico,
mas por ele com certeza daria um jeito de ajudar.

Drake e eu trocamos um olhar de quem não sabia como


proceder com aquilo.

— Benny — chamei-o suavemente. — Você pode me pedir


qualquer coisa, cara.

Será que ele tinha se metido em algum problema? O que


era pouco provável para mim, mas tudo se passava pela
minha cabeça agora.

— Você se meteu em alguma confusão? — arrisquei. Ele


levantou o olhar para mim, confuso.

— Não — apressou-se a esclarecer enquanto empurrava os


óculos para o rosto de novo. Era uma coisa dele, os óculos
sempre estavam no lugar, mas ele continuava empurrando
quando ficava nervoso.
Benny respirou fundo e fechou os olhos. Estava esperando o
pior, sério. O que o garoto tinha feito? Entrado para uma
gangue?

Estava traficando drogas? Iria ser preso?

— Estou apaixonado por uma garota — ele soltou de uma


vez e abriu os olhos, nos encarando e esperando uma
reação.

O que? Era só isso?

— Ah — soltei debilmente.

O que era para dizer? Parabéns? Meus pêsames? Olhei para


Drake em busca de auxílio, mas ele estava muito entretido
com o cardápio. Lhe dei um olhar duro que dizia “me ajuda
aqui, porra”, Drake suspirou resignado e se virou para
Benny.

— Parabéns, cara. Isso é bom, certo? — Drake se virou para


mim incerto.

Não sabia, era um problema que nunca tinha vivido.

— Não é bom. Ela não sabe e não sei o que fazer — Benny
suspirou e parecia derrotado. Devia ser difícil mesmo, Benny
era extremamente tímido. Mas o que ele queria que eu
fizesse?

— E onde eu entro nisso? — perguntei com cuidado.

— Queria que você me ajudasse — Ele ajeitou os óculos de


novo, estava envergonhado, e me senti mal por ele. Era
complicado, nunca o vi com uma garota, suspeito até que
seja virgem.
— Claro, o que você precisar — respondi, mas não sabia
com o que ele queria minha ajuda. Queria conselhos
amorosos?

Certamente eu não era a pessoa para isso, minha vida


amorosa se resumia a sexo.

— Você não está entendendo — Benny suspirou impaciente.

— Eu não sei chegar nela, entendeu? Não sei nem mesmo


falar com ela direito, não sei o que fazer.

— Tudo bem, entendo — tentei consola-lo.

Mas não entendia, como diabo ele estava apaixonado por


alguém se nem conversou direito com ela? Eu não era um
mestre da sedução, podia ser presunçoso da minha parte,
mas não fazia muita coisa, um olhar e sorriso geralmente
funcionava. E o meu método envolvia, como único
resultado, chegarmos à cama.

— Por que você simplesmente não a chama para sair? —

sugeriu Drake já chamando a garçonete, que vinha com um


sorriso malicioso na direção dele.

— Chamá-la para sair? E o que eu iria dizer nesse encontro?

E se ela dissesse não? Só iria me humilhar. — Benny mexeu


os óculos furiosamente.

A garçonete chegou para anotar o pedido do Drake, roçando


o braço no dele e lhe dando uma piscadela quando saiu.

— Está vendo? Não sei fazer isso. — Benny apontou para a


garçonete e afundou no banco, encarando o teto, como se
pedisse ajuda a Deus.
— Ei, vamos manter a calma — mandei fazendo-o olhar
para mim esperançoso. — Posso tentar fazer com que vocês
meio que se esbarrem casualmente? Falar de você para ela?
Realmente não sei como ajudar nisso, irmão.

Ele me deu um olhar sério.

— Eu nunca te pedi nada, Johnny. Isso é importante pra


mim, gosto dela. De verdade.

Nunca te pedi nada, Johnny. Era como levar um soco no


estômago, ele nunca me pediu nada, nem mesmo depois de
tudo o que aconteceu. Ele não me julgou, continuou falando
comigo, ficou do meu lado.

Devia isso a ele, não podia decepcioná-lo, mesmo que fosse


em algo tão banal como conquistar uma garota. Se era
importante para ele, era para mim também.

— Vou te ajudar, Benny — afirmei e ele suspirou aliviado. Só


não sabia como. Tentar conhecer a menina e falar dele?
Criar encontros casuais entre os dois? Fazer com que ela o
observe?

Ensinar cantadas a ele? Não sei, mas iria ajudá-lo.

— Então, quem é a garota? — Drake se inclinou na mesa


quebrando o clima tenso.

Benny começou a mexer nos óculos nervosamente de novo,


e acho que ele ficou mais tenso do que quando chegamos.

— Você a conhece — Benny falou olhando para mim.

— Isso é bom. — Acho. Espero que não tenha transado com


ela. Isso seria péssimo.
— Não é. — Benny se remexeu no assento, fazendo Drake e
eu trocarmos um olhar.

OH MERDA, transei com ela. Isso é terrível.

— Quem é a garota, Benny? — exigi saber. — Olha, se eu


tive alguma coisa com ela, saiba que não significou nada,
ok? — Já comecei me explicando.

Benny soltou uma risada nervosa.

— Não, você não ficou com ela. Mas você meio que não
gosta dela.

— Tolice — suspirei aliviado. — Não existe uma garota que


eu não goste.

— Oh, tem sim — Ele e Drake disseram ao mesmo tempo.

Tem? Nunca tive nenhum problema com uma garota no


campus, não que me lembre. Só se ele estivesse falando...
Não. Não podia ser. Não ela. Por diversos motivos.

1. Ela era completamente sem noção.

2. Não tinha como Benny se apaixonar logo por ela. Para


falar a verdade, que homem no mundo se apaixonaria por
ela?

3. Eles não têm nada a ver. Nada.

4. Como diabos eles se conheceram? Ela é da fraternidade,


festeira. Benny é completamente retraído.

5. Ela falava alto demais.

6. É escandalosa.
7. Tinha mudanças de humor descontroladas.

8. Gargalhada descompensada.

9. É muito gostosa. Ok, isso não é um problema, mas nela


deveria ser.

10.

Ela é completamente sem noção. Eu já disse isso?

— Olha, sei que vocês não se gostam. Mas foi só um


desentendimento bobo — disse Benny.

Desentendimento bobo.

Não é como se eu andasse atrás da garota lhe atirando


pedras. Mas a nossa mecânica era simples, sempre que a
via em algum lugar fugia como se o ambiente estivesse
pegando fogo. Nós dois geralmente nos encarávamos com
desgosto mútuo, ela fechava a cara, eu também, e meio
que rolava uma disputa interna para saber quem iria deixar
o lugar primeiro.

Nesses anos nunca mais trocamos uma única palavra e


sempre procurei manter distância. E estava muito satisfeito
com isso.

— Espere um minuto — Drake pediu, parecendo processar


tudo. — Estamos mesmo falando da mesma pessoa? A
garota da fraternidade que jogou bebida na sua cara?

Benny me encarou e disse as palavras que eu não queria


ouvir por nada no mundo.

— Acho que sim. Estou apaixonado por Amber Foster.


O silêncio se estendeu até Drake não se aguentar mais e
começar a rir descontroladamente, chamando a atenção de
todo

mundo que estava no ambiente. Ele riu tanto que até


derrubou os guardanapos de cima da mesa.

Eu? Estava incrédulo. Perplexo. Em estado de choque. Não


tinha palavras para descrever. Eu iria ter que fazer com que
aquela garota se apaixonasse por Benny? Teria que conviver
com ela? Me aproximar dela? Tentar conquistá-la?

Dica do dia: Quando seu amigo lhe pedir um favor, recuse.

Acho que preferiria que ele tivesse me pedido para traficar


drogas.

AMBER FOSTER

Tudo que queria era que o dia acabasse logo. Era pedir
muito? Pelo jeito era. Não tinha dado nem nove horas da
manhã e já estava exausta. Arrumar uma casa
relativamente grande cansava.

Ainda bem que as terças-feiras minhas aulas não


começavam muito cedo.

Quando entrei na sala suspirei aliviada ao perceber que o Sr.


Smith ainda não tinha chegado, fui subindo os degraus até
me sentar na última fileira como sempre, ao lado da minha
amiga de curso nada matinal.

— Bom dia, bom dia, bom dia! — cantei excessivamente


animada para irritá-la.

— Vá à merda, Amber — resmungou Nelly.

Nelly Lane, cursava Administração de Empresas junto


comigo, nós programávamos todo semestre para pegarmos
as mesmas aulas.

Nelly tinha sido um achado, ela era aquele tipo de pessoa


que falava rápido demais e era extremamente nervosa.
Quando nos conhecemos pensei que ela iria estourar uma
veia ou ter um AVC a qualquer momento, mas logo depois já
a obriguei a ser minha amiga.

Sim, a obriguei. Adorava ficar amiga daquelas pessoas que


todo mundo queria distância. Por quê? Não faço ideia, só sei
que quando chego em algum lugar novo a primeira coisa
que faço é

procurar logo por alguém que tá sozinho, sem grupo, e me


sinto atraída a fazer amizade, foi assim com Scarlett e
Maddie.

E Nelly definitivamente não tinha cara de bons amigos pela


manhã, ela odiava acordar cedo, só depois das dez é que
era possível ver a Nelly modo Coca-Cola. Eu sei, era um
apelido escroto, mas adorava chama-la assim.

— Como foi a mudança? — perguntou Nelly encostando a


cabeça no meu ombro, querendo dormir.

— Foi bem, obrigada por se oferecer a ajudar — ironizei.


— Por nada, sempre que quiser.

— Está preparada para a apresentação? — Íamos apresentar


um trabalho hoje, e só a lembrança já fez Nelly se agitar do
meu lado.

— Você está preparada? — atirou de volta subitamente


nervosa.

Ok, mereci. Se estava preparada? Depende. Tinha


estudado?

Sim. Mas preparada psicologicamente? Não. Não é como se


tivesse medo de falar em público, é que... Bem, eu
começava a rir descontroladamente sempre que ia
apresentar algum trabalho.

Não é um problema, o Sr. Smith já estava acostumado. Meu


pobre professor de Gestão de Riscos sempre tinha que
esperar minha pequena “crise” passar para dar
continuidade a aula.

— Não vai acontecer hoje, relaxa — garanti, mas não me


sentia tão segura assim.

— Vamos torcer.

Me abaixei para pegar minhas anotações embaixo da


cadeira quando percebi o ar da sala mudar. De repente se
fez um silêncio mortal, ouvi alguns sussurros e alunos se
ajeitando apressadamente na cadeira.

O Sr. Smith tinha chegado? Já ia levantar minha cabeça para


olhar, quando Nelly abaixou a cabeça na minha direção,
escondendo o rosto com o cabelo.
— Puta merda! Ele faz essa disciplina? Meu Deus e justo no
dia que não passo maquiagem! — ela continuou
resmungando baixinho e rápido demais.

— O que foi? — Já ia me levantando para saber quem tinha


chegado, mas não precisava olhar, sabia quem era.

Só existia uma pessoa capaz de fazer os pelinhos da minha


nuca se arrepiarem assim. Só existia uma pessoa capaz de
fazer todos os olhos de uma sala irem em sua direção sem
esforço, e era justamente uma que evitava encontrar a todo
custo.

Encarei Johnny Jackson caminhando na sala como se fosse o


dono do lugar. Ele vestia uma calça jeans e uma camiseta
preta de manga curta simples. Era para ser algo comum,
mas nele não era, a camiseta colava no corpo, deixando
claro o formato dos músculos muito bem desenhados, os
braços tatuados e o boné preto que quase sempre usava.
Tinha alguma coisa nessas tatuagens que cobriam seus
braços, elas o deixavam mais sexy, e posso admitir que já
me peguei imaginando passar os dedos nelas mais de uma
vez. Ele tinha o cabelo preto curto, parecia macio e
brilhante, os olhos ainda mais escuros.

Ele era gato, muito gato mesmo.

Mas que diabo ele estava fazendo aqui? As aulas já


começaram tem três semanas, e só agora resolveu
aparecer?

— Oh Meu Deus, você sabia que ele tinha pegado essa


matéria? — balbuciou Nelly quase infartando enquanto
tentava ajeitar o cabelo.

O cara tinha presença, isso tinha que admitir. Andava com


confiança, tinha um semblante sério e as pessoas
suspiravam quando o viam passar.

A questão sobre Johnny Jackson era a seguinte: Ele era uma


celebridade.

O “prodígio do hóquei”, “jogador atacante universitário mais


talentoso do país”, “primeira escolha no Draft”, “promessa
do hóquei”. Ou pelo menos essa era isso que os jornais
esportivos sempre traziam. Era uma certeza no mundo
esportivo, como o sol iria nascer amanhã, que Johnny
Jackson iria ser a primeira escolha no Draft. Daqui a menos
de dois anos estará jogando profissionalmente, famoso e
milionário. Dizem que ele só iria entrar no Draft depois da
faculdade acabar para receber as propostas mais caras, e
eu não duvidada que ele seria banhado de ouro pelos times
profissionais.

Se eu gostava se hóquei? Não. Meu negócio era basquete,


mas era impossível ignorar isso logo na Brown. Aqui os
jogadores de hóquei não pisavam no chão, e o seu capitão?
Nada acima dele, era de conhecimento comum que ele era
extremamente talentoso.

Meu pai mesmo acompanhava os jogos dele desde o


colegial.

Imagina só se ele soubesse que joguei um copo de cerveja


no seu mini astro? Isso seria hilário.

Até entendia essa aclamação toda em cima dele, era como


uma “fama por antecipação”, é como se você estudasse
com Tom Cruise na faculdade sabendo que ele iria ganhar o
Oscar anos depois.

Ele ganhou o Oscar, né?


— Tom Cruise já ganhou um Oscar? — perguntei para Nelly
que não me deu atenção.

— Estou com olheiras?!

Analisei minha amiga, ela tinha os olhos castanhos, pele


negra e usava tranças box braids no cabelo. Estava vestindo
um casaco preto simples e jeans.

— Tá linda, Coca-Cola.

— Ele é tão bonito... — Nelly suspirou.

Sim, ele era.

Ele se sentou em uma das fileiras no meio da sala, distante


de onde eu estava. Com o rosto sério e braços cruzados em
frente ao peito. O que diabo ele está fazendo aqui? Não
estava inscrito nessa matéria, tinha certeza disso, teria
visto o seu nome.

Ele não mudou muito desde o nosso “pequeno incidente” na


cozinha da fraternidade, continuava muito gostoso...
Balancei a cabeça, tolice. Sei que ele se lembra de mim, a
tirar pelas olhadas cínicas que me da sempre que nos
encontramos em alguma festa, geralmente devolvo a
mesma expressão e ficamos nisso. Estar a sete fileiras dele
foi o mais perto que já chegamos desde aquele dia.

É simples, não gosto dele, nem ele de mim. Antipatia à


primeira vista, e como todo mundo baba tanto nele, me
sinto no direito de ser a única pessoa a desprezá-lo, sabe? É
um dever patriótico. Afinal, alguém tinha que fazê-lo.

Virei para Nelly e a peguei olhando para ele encantada.


— Séria muito inconveniente se pedisse para ele tirar uma
foto comigo? — sussurrou no meu ouvido e revirei os olhos.

— Por favor — bufei. — Ele não é uma celebridade. E o que


você faria com isso? Se masturbaria no banheiro? — Ri da
imagem criada na minha cabeça.

O problema é que não sei sussurrar, falo alto. Muito alto. E a


sala estava em um silêncio mortal desde que ele chegou.
Todo mundo virou a cabeça na minha direção, me lançando
olhares de descrença e repreensão.

Me encolhi e peguei o cretino com um sorriso de lado no


rosto, muito satisfeito com a minha vergonha. Babaca.

Parecendo sentir minha raiva ele mirou os olhos escuros em


mim e me encarou firme, ele tinha um olhar intenso, tudo
nele era intenso. Arqueou uma sobrancelha preta pra mim,
em uma expressão cínica de desgosto, arquei a minha de
volta e ficamos nos encarando, até perceber quem estava
sentado do lado dele.

Benny Nolan, um garoto ruivo tímido que já fez algumas


aulas comigo. Estava com Johnny? Não sabia que se
conheciam. Estava tentando obriga-lo a ser meu amigo
nesse semestre, desde que o conheço só o vejo andando
sozinho, ele não fala muito, então nesse ano tenho tentado
sentar com ele, fazê-lo se sentir confortável.

Naquele momento o Sr. Smith passou muito apressado pela


sala, colocando os óculos redondinhos nos olhos. Meu
professor era um fofo, um senhorzinho baixinho, barrigudo,
que tinha os cabelos brancos e sempre despenteados.

Ele ergueu os olhos procurando por mim e Nelly. Oh merda,


não queria apresentar esse trabalho com meu inimigo aqui
me vendo.
— Senhorita Foster e Senhorita Lane venham aqui, por
favor.

— Ele virou para colocar a sua bolsa na mesa e foi quando


percebeu a presença do capitão do time de hóquei. — Sr.
Jackson, que honra tê-lo aqui. Espero que esse ano venha
mais um Frozen Four para nós.

— Também espero, senhor.

Caminhei sentindo minhas mãos suarem. Que raiva! No dia


que vou apresentar um trabalho ele aparece aqui? Numa
disciplina

que nem mesmo está inscrito.

Nelly foi na minha frente e começou a falar sobre ações que


podem levar a efeitos negativos na empresa e como
identifica-las.

Fiquei no canto esperando a minha vez, eu ficaria


responsável por explicar como se organiza
antecipadamente uma empresa para evitar danos.

Assim que ela terminou de falar, minhas mãos estavam


suando. Concentração, Amber! Não seja tola, não há nada
engraçado aqui, nada.
Continuei repetindo a mim mesma isso, não há nada
engraçado aqui. Respirei fundo, olhei em direção ao slide,
mas quando voltei meu olhar para as pessoas me
encarando sentadas...

Não sei, todos olhando para mim esperando eu dizer


alguma coisa muito importante, como se fosse mudar as
suas vidas... Não sei explicar, simplesmente era engraçado,
sabe? Senti o sorriso querer nascer em mim, mas reprimi.

Não iria rir! Não iria. Concentração. Mordi minha bochecha e


botei a mão no meu estômago, como se pudesse parar o
ataque de riso que estava se formando em mim.

Mas não era possível controlar, não controlava nada na


minha vida. Para falar a verdade, meu sobrenome deveria
ser descontrole.

JOHNNY JACKSON

A loira gostosa ficou vermelha, não com vergonha, mas


como se estivesse prendendo o ar. Ia vomitar? Isso iria ser
divertido de assistir.

— Ela está passando mal? — sondei divertido. E Benny me


deu um olhar de repreensão.

Não é como se estivesse lhe desejando o mal, mas seria


divertido pra caralho ver ela se envergonhando. Cruzei os
braços em

frente ao peito relaxado.

— Não, ela tá segurando o riso — respondeu Benny.

— O riso? — O encarei confuso.


— Sim, ela sempre ri quando vai apresentar trabalho.

A observei mais atentamente, estava vestida com uma


calça jeans colada, rasgada no joelho e uma blusa caída de
lado rosa.

Estava mais gata do que a três anos atrás? Com toda


certeza. Iria admitir isso? Nem fodendo.

Ela se contorceu mais um pouco, e seu professor pareceu


suspirar resignado, como se já soubesse o que iria
acontecer.

Estava confuso, o que era tão engraçado aqui? Olhei ao


redor, e só encontrei a mesma expressão de tédio no rosto
de todo mundo, pareciam que já estavam acostumados com
isso.

Alguns alunos se encostavam na cadeira prontos para tirar


um cochilo, outros pegavam o celular para se distrair, uns
começavam a bater papo, e uma menina simplesmente
puxou um quite de costura da bolsa e começou a tricotar!
Mas que diabo?

Amber não aguentou mais, explodiu em uma gargalhada


gostosa e muito alta. No primeiro momento tomei um susto,
pulando do assento, pois o seu riso fluiu em todo o
auditório, depois apreciei o som, era gostoso de se ouvir,
parecia a risada de uma criança feliz.

Ela tinha o sorriso lindo mesmo... Pena que não tinha um


pingo de juízo em todo o seu delicioso corpo. Põe delicioso
nisso.

Suas bochechas ficaram vermelhas, seus olhos se


apertaram e ela ria tanto que botava a mão no estômago
tentando se aguentar e recuperar o fôlego.
Sua amiga apenas balançava a cabeça negativamente. O
seu professor se sentou em uma cadeira e apoiou a cabeça
no punho fechado, esperando-a parar de rir, resignado.
Pobre Sr. Smith.

— Mas o que é tão engraçado? — perguntei realmente


curioso.

— Não sei. — Benny deu de ombros, puxando o celular para


se distrair.

— Senhorita Foster, você pode se recompor, por gentileza?


Sr. Smith pediu entediado.

— Estou... ten... tentando... — ela falou entre as


gargalhadas e por um momento fiquei com vontade de rir
junto.

Meu Deus, a menina é completamente descontrolada. É pior


do que imaginava. Como Benny pôde se apaixonar por ela?

— Vamos — O empurrei com meu ombro —, escolha outra.

Era o que estava planejando fazer desde que ele me


arrastou do café para assistir essa aula ridícula com ele.

— Como assim “escolha outra”? — Benny me encarou


desconfiado.

— Tem umas mil meninas aqui, tem que ser ela? — Apontei
para a criatura que ainda se contorcia em risadas.

— Não é assim que funciona, você não pode escolher por


quem se apaixona.

— Tolice, lógico que pode.


— Você não sabe, nunca se apaixonou — acusou e ele tinha
um ponto a seu favor.

— Mas acredite, se eu fosse me apaixonar, com certeza não


seria por ela. Vamos, escolha outra.

— Você vai me ajudar ou me convencer a desistir? — Virou


para mim zangado.

— As duas coisas? — arrisquei.

— Ai... Ai... Tá bom... Acho que já passou. Nossa, isso foi


realmente engraçado — A loira desmiolada falou enquanto
passava as mãos nos olhos para limpar as lágrimas
derramadas.

Engraçado? Olhei em volta procurando a graça. Não, não


tinha nada engraçado ali.

— Como foi que vocês se conheceram? — perguntei.

— Eu já cursei duas disciplinas com ela antes, mas só nesse


semestre a notei mesmo. Ela meio que veio falar comigo,
viu que estava sozinho e veio sentar comigo — ele contou, e
senti uma súbita simpatia por ela, estava agradecido por
cuidar do meu garoto.

— Tem umas três semanas. Eu não sei, ela é linda, divertida,


está sempre muito animada, confiante, tem uma energia
vibrante. Tudo bem que ela pode ser um pouco estranha —
Um pouco, o eufemismo do ano. — E sabia que você não
gostava dela, mas não achei que era algo sério. Ela só jogou
uma bebida ...

— Só jogou uma bebida? Ela me derrubou no chão, passou


um pano sujo de vômito na minha cara, jogou cerveja em
mim, derramou um drink na minha camiseta e ainda me
atirou uns petiscos pra completar!

— Tudo bem, ela pode ser um pouco impulsiva — ele disse


erguendo as mãos. — Mas isso foi há três anos, vocês não
deveriam ter superado isso?

— A vítima nunca esquece — resmunguei.

— Pelo jeito o agressor também não.

— E o pior é isso. Ela agiu como se eu tivesse causado tudo,


mas ela é a descontrolada aqui. Veja isso. — Apontei para a
garota em questão que ainda se contorcia rindo como se
estivesse assistindo um show de comédia, não uma sala
cheia de pessoas que a olhavam entediadas.

O Sr. Smith suspirou mais uma vez e retirou da sua pasta


um jornal impresso. Um jornal! Por Deus, quanto tempo isso
ia demorar?

E foi exatamente isso que perguntei.

— Quanto tempo isso vai demorar?

— Cerca de trinta a trinta e cinco minutos — Benny disse


como se já soubesse cronometrado o tempo. — Então, como
você vai me ajudar?

Fugindo dela, serve essa ajuda?

— Posso tentar marcar um encontro entre vocês.

— Um encontro? Só nós dois? — Ele ficou subitamente


assustado. Não julguei, se eu tivesse um encontro com
Amber Foster também ficaria assustado. — Você teria que
vir junto.
— Eu? — Coloquei a mão no peito assustado. Como é? Teria
que me encontrar com ela também?

— Sim, para não ficar muito óbvio. Não quero que ela saiba
que estou a fim dela, seria constrangedor. Se você a
convidar, chamar mais pessoas, não vai parecer um
encontro.

Ótimo. O que não se faz pelos amigos, não é mesmo?

— Tá — resmunguei irritado.

Parece que vou ter que convencer Amber a sair comigo. Que
maravilha.

AMBER FOSTER

É, não foi tão horrível assim. Foi o que pensei enquanto


guardava as minhas anotações dentro da bolsa. Tudo bem,
ri por um bom tempo, mas no final consegui apresentar
minha parte. O fato de Johnny ter me visto passar pelas
minhas crises, piorou tudo? Com certeza, mas poderia ter
sido pior.

— Poderia ter sido pior — disse indo até Nelly que me


esperava na porta.

— É? Como? — ela debochou já caminhando pelo corredor.


— Não sei, mas de alguma forma poderia ter sido pior. Nada
na vida é tão ruim que não possa piorar.

E foi com aquela frase filosófica que me deparei com Johnny


e Benny encostados na parede, parecendo estarem
esperando a gente sair.

— Está vendo? — Apontei para comprovar minha tese, mas


Nelly já tinha passado para o modo Coca-Cola.

— Aí, Meu Deus! O que eles querem? — ela sussurrou no


meu ouvido.

O Sr. Gostoso me olhou de cima a baixo, e senti um arrepio


passar no meu corpo.

— Oi meninas — cumprimentou Johnny se aproximando com


Benny atrás tímido.

Tinha esquecido como era sua voz, profunda e grossa, como


outras coisas nele deveriam ser também... Não vá por esse
caminho!

O que ele queria? Nunca falou comigo e agora me espera no


corredor para bater papo?

— O... oi! — gaguejou Nelly.

— Gostei da apresentação de vocês.

Bufei. O que foi isso? Deboche?

— Obrigada — agradeceu Nelly encantada.

— É... — Ele desviou o olhar para mim. — Demorou um


pouco para sair a segunda parte — Ah, ele estava de
deboche sim!
— Achei que o Sr. Smith iria cancelar ... — Benny o
interrompeu lhe dando uma cotovelada.

— Ei, Benny — o cumprimentei ignorando seu amigo.

— Ei, Amber — Benny ficou vermelho e desviou o olhar.

— Não sabia que se conheciam. — Lancei um olhar para


Johnny. — Pensei que escolhesse melhor suas companhias.

Direta? Sim. Mas ele que começou, estava até pensando em


ser amigável.

— Acredite, também pensei — Johnny devolveu sem desviar


o olhar.

— Conheço Johnny desde pequeno — Benny esclareceu


desconfortável e me senti mal por ele ter ficado
envergonhado.

— Não é culpa sua, querido. Não podemos controlar quem


cruza o nosso caminho — sorri para o ruivo gentilmente.

— Infelizmente — resmungou Johnny baixinho.

— Você faz essa disciplina? — Nelly se meteu na conversa


muito animada.

O capitão do time de hóquei sorriu de lado para ela.

— Não, só acompanhando o Benny mesmo.

E ela suspirou. Revirei os olhos. O que tem nesse sorriso de


lado dele? Eram os dentes? Eram bons dentes mesmo,
brancos e perfeitos. Será que usava dentadura? Os
jogadores de hóquei quebravam os dentes com frequência.

— Você usa dentadura?


— Como é? — Johnny franziu a sobrancelha para mim,
confuso.

— Você é um amigo muito bom mesmo — Nelly suspirou,


ignorando minha pergunta.

— Você não tem ideia do quanto, as coisas que me


submeto...

— ele suspirou, mas parou quando viu o olhar de repreensão


de Benny. — Então, vocês vão fazer alguma coisa hoje à
noite?

Oi? Ele estava nos chamando para sair? O que era aquilo?

— Estou ocupa...

— Nada — Nelly me interrompeu depressa, ela me lançou


um olhar desesperado e complementou: — Não vamos fazer
completamente nada, estamos totalmente livres.

Sútil Nelly.

— Na verdade, não estou livre, tenho que me encontrar com


a minha psicóloga daqui a pouco. — E não era uma mentira,
existia uma certa verdade nisso.

— Pensei em chamar vocês para tomar alguma coisa no


Blue Republic, hoje à noite. — Ele virou para Nelly,
parecendo achar que teria mais chances de receber uma
confirmação dela.

Blue Republic era um bar famoso por aqui, vivia lotado de


universitários. Não era de recusar convites para beber, mas
nós não nos gostamos... Corrigindo, nem nos conhecemos
direito, isso não tem sentido.
— Claro! — Nelly quase pulou.

— Estou realmente cansada — inventei já procurando


passar por eles — Tenho mil coisas pa...

— Que hora você está livre? Algum momento você tem que
ficar livre. — Ele estava gostando de me ver enrolada para
arrumar desculpas, podia sentir.

Pra quê ele queria sair comigo?

— É Amber, à noite você não tem nada para fazer. — Nelly


não queria me ajudar.

— Então, está fechado. Encontro vocês lá as oito — Johnny


decidiu.

— Eu não disse...

— Bem, foi legal ver vocês, meninas. — O cretino se


apressou e começou a se afastar puxando Benny consigo.

— Espere um minuto — chamei. — Eu não vou...

— Oh Meu Deus, Benny! — Johnny falou por cima de mim. —

Olha a hora. — Ele olhou para o relógio inexistente no pulso.


— Já temos que ir, você tem uma aula agora.

— Qual aula? — Nelly já estava preparada para segui-los.

— Da Sra. Graham — respondeu Benny sendo arrastado


pelo corredor.

— Oh, eu também! Vamos juntos! — Nelly começou a segui-


los, e eles começaram a se afastar me deixando sozinha.

— Esperem! Eu não posso...


— Até as oito, Amber. — Johnny acenou para mim e saiu
arrastando os dois com ele.

Ok. O que aconteceu aqui? Vou sair hoje com o cara que
briguei e depois nunca mais falou comigo? E o que ele quer
comigo?

Nem mesmo gosta de mim.

Olhei para o céu.

— Oh Deus, como é que me meto nessas coisas?

Suspirei. É, não há nada tão ruim que não possa piorar.

AMBER FOSTER

— Meu Deus, o que aconteceu aqui? — perguntei rindo


assim que abri a porta de casa.

Estava uma verdadeira bagunça. Passamos boa parte da


manhã tentando arrumar a maioria das caixas, mas parece
que passou um furacão pela sala de estar.

Tinham vibradores de diferentes cores e tamanhos


espalhados pelo sofá, velas, telescópio, livros, roupas, telas
de pintar e tintas. Enfim, uma verdadeira bagunça.
— Decidi espalhar tudo pela sala, não estava encontrando
minhas coisas. — Maddie tirou um cacho ruivo do rosto e se
agachou no chão, catando suas velas.

Minha amiga artista era a coisinha mais fofa do mundo,


tinha cerca de 155 cm de altura. Era baixinha, com o rosto
angelical e olhinhos cor de esmeralda. Ela era o nosso bebê.

— Por que chegou tão cedo? — ela questionou limpando as


mãos no seu macacão jeans.

— Vou sair daqui a pouco — contei insegura. Não queria


admitir, mas depois de assistir todas as aulas, cancelei
minha consulta com a “psicóloga”, para vir me arrumar.

Quando você sai com seus amigos quer se sentir bonita,


mas quando vai encontrar com um inimigo? Quer se sentir
deslumbrante.

Não vou ficar analisando o porquê disso, mas só sei que vou
ficar impecável.

— Com quem? — Maddie ficou desconfiada.

Não era de encontros, meus lances eram mais sexo casual,


então ela tinha motivos para ficar surpresa.

— Só com alguns amigos, nada demais.


— Você olhou seu celular hoje? — Maddie disse
desconfortável, e já fiquei com medo. — Não, até agora sem
nudes dela. Mas estão falando muito de vocês duas.

Suspirei aliviada, estava morrendo de medo de alguém ter


conseguido pegar alguma foto de Scar, mas parece que até
agora se limitaram a fofocar.

Quanto a mim? Estou sendo chamada de “trouxa”,


“ingênua”,

“burra”. Recebendo mensagens das meninas da


fraternidade do tipo:

“depois não diga que não avisei”, “você vai quebrar a cara”,
“ fique de olho aberto”, “ela não é confiável”.

Bethany e algumas outras meninas ainda tentavam me


convencer a voltar, mas estava bem com a minha escolha.

Sei que elas nesse momento devem estar falando de mim.

Dói? Sim. Gosto delas, mas não vou abrir mão de defender
minha amiga. O melhor a se fazer é simplesmente não ler
os comentários.

— MINHA BUNDA, PORRA! — Um grito saiu da casa ao lado


fazendo Maddie e eu pularmos de susto. O que foi isso?

— Pelo menos alguém está se divertindo — sugeri sorrindo.

— Com que amigos você disse que ia sair mesmo?

JOHNNY JACKSON

Já deveria estar acostumado com tudo, nada mais deveria


me surpreender. Deveria esperar qualquer coisa,
simplesmente qualquer coisa dos meus amigos.
Mas quando desci as escadas pronto para sair, não
esperava ver Tyler dormindo nu em cima de uma boia na
piscina, com a bunda para cima e pelo jeito tinha pegado
sol o dia todo, pois parecia bem assada.

Meu Deus, ele ficou aí o dia todo?

Cara, isso vai arder pra caralho mais tarde. Mas como se
não fosse o bastante, Colin estava de quatro na borda da
piscina passando chantilly na bunda vermelha de Tyler,
enquanto Taylor filmava tudo.

— Onde foi que nós erramos? — Drake chegou por trás de


mim e balançou a cabeça em negação vendo a cena.

— É o que me pergunto todos os dias — suspirei cansado do


treino. — Vou sair, mas quando voltar essa casa vai estar
impecável e todos estarão vivos. — Apontei o dedo para
Colin, que acenou com a mão me mandando ficar calado
para não acordar sua vítima.

— Vai pra onde? — Drake sentou na espreguiçadeira e


colocou os braços atrás da cabeça.

— Resolver o problema do Benny.

— Pensei que você fosse convencer ele a desistir disso.

— Tentei, mas ele está determinado.

Sabia que Drake estava se coçando para perguntar disso,


senti que ficou todo o treino querendo me dizer algo.

— Se é assim, tem algo que é melhor você saber sobre


nossas vizi...
— MINHA BUNDA, PORRA! — Tyler tentou se levantar da
boia e caiu na piscina.

— Você pegou isso? — Colin riu enquanto empurrava Taylor


para filmar Tyler saindo da piscina.

— Colin! Eu vou te matar! — Tyler falou completamente


pelado — Ai minha bunda... Tá ardendo! Que merda você
botou aqui, seu filho da puta?

— Pimenta e chantilly — respondeu Taylor muito satisfeito.

— Espere até mamãe saber disso, seu desgraçado — Tyler


ameaçou e vi Taylor engolir em seco.

Taylor Hunt e Tyler Hunt são gêmeos idênticos. Os dois são


altos, de cabelo preto e liso, olhos de um tom mais intenso
ainda

com fortes traços de origem japonesa. A Sra. Hunt era


japonesa e era uma senhora que poderia por medo em
qualquer homem.

— Pimenta? Que merda, hein. — Drake esticou as pernas na


espreguiçadeira.

— Já estou indo, não se matem. — Sai sem olhar para a


confusão atrás de mim.
Sabia que eles se matariam, era inevitável. Entrei no carro
pronto para minha operação cupido.

Eu: Onde você tá??

Benny: A amiga dela me pediu para buscá-la, estou


esperando ela ficar pronta.

Eu: Nunca é tarde demais para desistir.

Eu: Você sabe, não é?

Benny: Dá pra parar com isso? Não vou desistir.

Suspirei resignado virando meu copo de refrigerante, vim de


carro, então não ia beber hoje.

Tanta mulher no mundo, e ele foi se interessar logo por ela?


O

lugar estava cheio para um dia de semana, olhei em volta


para ver se achava pelo menos alguém conhecido, e foi
quando a encontrei...

Puta merda.

Ela estava de costas para mim, mas reconheceria a curva


daquela bunda em qualquer lugar, eu babei por ela por três
anos em silêncio. Estava vestindo um vestido preto curto
meio solto que parecia prender no pescoço, pois deixava as
costas nuas... Puta que pariu, o vestido descia até a curva
da sua deliciosa bunda empinadinha, as pernas torneadas, o
cabelo loiro escuro descendo como ondas na curva das
costas nuas. Gostosa pra cacete.

É, Benny, eu te entendo.
De repente, minhas mãos estavam coçando para tocar a
pele das suas costas, deveria ser macia... Parecendo sentir
meu olhar, ela

se virou e nossos olhos se encontraram.

E foi como se ela soubesse para onde olhar, como se


soubesse que se virasse iria me pegar secando-a. Foi como
se estivéssemos em sintonia.

Os seus olhos verdes pareciam ver tudo em mim, eles me


penetravam. Parecia que só existíamos nós ali, eu e a
garota dos olhos verdes. Senti um aperto no peito, estava
sem fôlego. Não consegui desviar, e nem ela, não sei
quanto tempo se passou até que ela resolveu vir na minha
direção.

Novo objetivo do dia: Não a secar, não olhar para suas


pernas espetaculares, e manter minhas mãos longe dela!

O que não deveria ser difícil, que tolice. Revirei os olhos,


nem mesmo gostava da garota. Estou aqui com o único e
exclusivo objetivo de arranjá-la para Benny.

Quando ela chegou perto senti o seu perfume, cheirava a


morango.

— Oi. — Ela sorriu para mim e sentou no banco ao lado do


meu.

— Oi.

— Então, cadê o Benny e a Nelly?

— Parece que estão esperando ela ficar pronta, ele deu


carona pra ela.
— Oh! — Foi tudo o que ela disse, e ficamos em um silêncio
desconfortável.

Amber pediu uma cerveja e quando chegou bebeu quase


tudo em um único gole.

— Opa, vai com calma, não quero te tirar daqui arrastada —

brinquei suavemente, mas com uma pitada de verdade. Ela


já era complicada de lidar normalmente, imagine bêbada.

— Oh, não se preocupe, nunca fico bêbada. — Ela deu de


ombros sorrindo, e deu outro gole. — Sou muito resistente
com bebida.

— Se você diz...

E ficamos em mais um silêncio desconfortável. Benny ia


demorar muito?

— Tá. O que é isso? — ela perguntou se virando para mim.

— Isso o que? — Me fiz de desentendido.

— Me chamar para vir aqui. Você nem mesmo gosta de


mim.

— Não é que eu não goste de vo...

— Ah, por favor. — Ela me dispensou com um aceno. —


Você não gosta de mim, e nem eu de você.

Ok, ninguém pode lhe acusar de não ser direta.

— Talvez a gente tenha começado com o pé esquerdo. —

Tentei parecer razoável. Já se passaram três anos, não


deveríamos ficar com essa antipatia.
— Eu sou canhota.

— O que? — A olhei confuso.

— Você disse que começamos com o pé esquerdo, mas essa


expressão não faz sentido pra mim, sou canhota —
esclareceu enquanto dava outro gole na sua cerveja.

Ela não conseguia ter uma conversa normal, não é?

— O que quis dizer é que essa animosidade entre nós não


precisa continuar — expliquei como se estivesse
conversando com uma criança de cinco anos.

Ela pediu outra cerveja. Meu Deus, já tinha bebido tudo?

— Você está certo, somos adultos. Eu te perdoo.

Como é? Me perdoa? Ela que deveria me pedir desculpas.

— Me perdoa? — debochei, mas ela não pareceu perceber o


tom, pois só acenou positivamente enquanto levava a outra
garrafa à boca. — Pelo que me lembro, foi você que jogou
uma cerveja em mim do nada.

Isso lhe chamou a atenção.

— Do nada? Foi você que bebeu meu drink.

— Era só um drink.

— Nunca saberei, pois não provei — acusou.

— Não vai saber por que jogou a metade em mim.

— Deus, isso foi engraçado. — Ela começou a rir parecendo


se lembrar do ocorrido, chamando a atenção das outras
pessoas ao nosso redor.
— Não achei engraçado — respondi sem a acompanhar na
risada.

— Não se faça de santo, você também me jogou cerveja.

— Você com certeza mereceu.

— Você também mereceu — ela devolveu.

— Estamos mesmo discutindo sobre esse drink de novo? —

perguntei perplexo. — Pelo amor de Deus, supere isso.

— Fácil falar, foi você que o tomou — disse ficando


subitamente emburrada, como se ainda estivesse zangada
por não ter provado a bebida.

— O que você quer pra esquecer isso, hein? — Puxei minha


carteira — Lhe compro outro maldito drink se esse é o
grande problema.

— Não acabei de dizer que te perdoava?

— Não lembro de ter pedido desculpas. Mas já que você faz


tanta questão de ficar em paz, eu te perdoo.

— Me perdoa — ela repetiu a frase em ironia e franziu a


testa.

— Eu também não lembro de ter pedido desculpa.

— Ótimo.

— Ótimo. — E nos viramos os dois para frente.

— Como você é neurótico. — Ela balançou a cabeça em


negação e cruzou os braços em frente ao peito.
— Neurótico? Eu sou o neurótico aqui? Pelo que eu saiba
você é que começou uma briga por causa da porra de um
drink. Qual é o seu problema? É daquelas pessoas que não
deixam ninguém pegar nas suas coisas?

— Claro que não, seu babaca! Deixo todo mundo pegar nas
minhas coisas — ela gritou e algumas pessoas que estavam
perto olharam para nós. Assim que ela se tocou do duplo
sentido da frase, começou a rir.

Sim, aquela gargalhada super gostosa e barulhenta.

— Não foi nesse sentido... — Ela tentou se explicar


enquanto recuperava o fôlego e limpava os olhos. — Eu não
quis dizer...

— Eu sei, Amber — respondi entediado. Meu Deus, o que fiz


para ser condenado a passar uma noite inteira com essa
garota?

— Nossa, você se estressa com facilidade — ela resmungou


enquanto tomava outro gole.

— Não me estresso com facilidade.

— Se estressa sim.

— Não. Não me estresso — falei com toda paciência que


ainda me restava.

— Se estressa...

— Ah, por favor! Quantos anos você tem? — Me virei para


ela.

— Está vendo? —Pontuou muito satisfeita por ter me


irritado.
— Um monge não aguentaria dez minutos com você.

— Você já conheceu um monge? — Ela arqueou a


sobrancelha.

— O que?

— Se você nunca conheceu um monge, não tem como


saber.

— Deu de ombros.

— Você é a pessoa mais aleatória que existe. — E isso era


um fato.

— Depende do dia. — Ela deitou a cabeça na mão fechada.

— Como estava dizendo, não sou daquelas pessoas que não


deixam ninguém pegar nas “minhas coisas”. — Ela riu.
Revirei os olhos, como era boba. — Mas você pegou no meu
ponto fraco, adoro drinks, é a única coisa que me tira do
sério. Isso e falar das minhas amigas.

Ela começou a tomar outro gole. Meu Deus, a garota bebia


muito rápido.

— Você por acaso tem problemas com álcool? — sondei com


cuidado.

Seus olhos se arregalaram e ela começou a rir, cuspindo a


metade da cerveja que estava bebendo na minha cara.
Inferno.

O barman apareceu imediatamente com guardanapos para


mim, e ele me olhou com pena. É, deveria mesmo, estou
com pena de mim também.
— Oh Deus! — A garota continuou rindo enquanto me via
limpar o rosto. — Me desculpe. — Ela pegou alguns
guardanapos para tentar me ajudar.

Ah, não, não ia passar por isso de novo. Me afastei


imediatamente dela e me enxuguei sozinho.

— Qual é o seu problema? Não pode me ver que quer jogar


cerveja em mim? — acusei.

— Você é tão rabugento. — Ela balançou a cabeça muito


relaxada bebendo sua cerveja.

— E você é tão desequilibrada.

— Você acha? — Ela olhou para os pés. — Mas também


esses saltos têm uns dez centímetros.

Simplesmente a olhei. Era impossível ter uma conversa


racional com ela. Impossível.

Suspirei virando para frente, mas de repente ela pulou no


seu assento, assustando as pessoas próximas da bancada.

— O que foi agora? — suspirei virando para encara-la.

— Estou apertada. — Ela espremeu as pernas. — Quero


fazer xixi.

— Mas também. — Apontei para as duas garrafas secas.

Ela se levantou e pegou sua bolsa. Soltei um suspiro


aliviado, pelo menos ia ter um intervalo disso.

— Vamos. — Ela disse passando sua mão morna e macia no


meu braço.
— Vamos? — repeti debilmente. — Pra onde você pensa que
eu vou?

— No banheiro comigo. — Ela falou como se fosse óbvio. —

Mulheres não vão ao banheiro sozinhas, a gente sempre


anda acompanhada.

— De outras mulheres. Eu não vou entrar no banheiro com


você, Amber. — Tentei lhe explicar, mas ela continuou me
arrastando parecendo não dar a mínima para o que disse.

Me levantei resignado. Passando pelas pessoas percebi os


olhos em nós, algumas pessoas estranhando nos verem
juntos.

Acreditem, também estou. Passei meu braço por sua cintura


fina, para firmá-la enquanto passava pela pista de dança.
Ela se aconchegou em mim. Acho que nem percebeu, e
preferi assim mesmo, pois percebi. E gostei. Até demais.

Senti a perda quando ela saiu do meu abraço para entrar no


banheiro, chegando na porta ela se virou para mim.

— Não tenho problemas com álcool. Só gosto de bebidas,


das artesanais, cervejas, drinks, destilados... Amo isso, e sei
fazer algumas, vou misturando alguns sabores e sai algo
bem gostoso na

maioria das vezes. — Deu de ombros. — É só um hobby,


faço drinks chiques, bonitos e saborosos. Naquele dia
estava tentando algo diferente, tem todo um processo,
sabe? Alguns precisam de mais temperatura, outros não,
uns saem doces demais, alguns azedos.

Tinha demorado para fazer aquele, queria saber se estava


realmente bom, é diferente provar no começo de quando
está com a temperatura certa. Por isso fiquei puta, não
soube se estava gostoso.

Ela é especialista em drinks? Não esperava por essa, pensei


que fosse só um capricho. Meio que entendo agora sua
raiva quando nos conhecemos.

Acho que me contar isso foi seu jeito de pedir desculpas. Ela
ia fechando a porta quando a chamei.

— Amber.

— Sim?

— Pra você saber, seu drink estava ótimo. — E esse foi meu
jeito.

Sorrimos um para o outro antes de ela fechar a porta. Me


encostei na parede, esperando-a.

Eu: Ainda vai demorar muito?

Benny: Só mais um pouco. O pneu do carro furou.

Eu: Tá de brincadeira??

Benny: Por favor, segura ela. Quero esse encontro.

— Johnny? — Levantei meu olhar para encontrar Abby Jones


me olhando ansiosamente.

Que bosta! Hoje não era meu dia.

Tinha ficado com Abby uma vez em uma festa, mas me


arrependia amargamente disso. Desde então a garota me
perseguia, mandava mensagem, ligava, chegou a aparecer
duas vezes na minha casa mesmo deixando claro que não
estava interessado. Mas ela tinha sumido, fazia uns dois
meses que não a via mais.

— Oi Abby — cumprimentei.

— Você não respondeu minhas últimas mensagens — ela


acusou.

— Estive ocupado.

— É mesmo? Com o que? — ela perguntou se aproximando


desconfiada.

Suspirei, lá vamos nós de novo, mas quando abri a boca


para dar uma desculpa, Amber saiu do banheiro puxando o
vestido para baixo.

— Estou aliviada. — Amber suspirou feliz, só agora


reparando em Abby. — Oi. — Ela lhe deu um sorriso
simpático.

Abby olhou Amber de cima a baixo, lhe avaliando.

— Não — Amber bufou divertida para Abby. — Eu não estou


com el...

Não a deixei completar, passei meu braço pela sua cintura,


a puxando para mim. Aqui estava minha desculpa perfeita.

— Abby, essa é minha namorada.

Amber se virou para mim confusa.

— Sou? — sussurrou baixinho e lhe lancei um olhar


suplicante de “me ajuda aqui”.

— É mesmo? Desde quando? — Abby disse sem acreditar.


— Já faz algum tempo — respondi dando de ombro.

— Quanto tempo? — ela exigiu saber.

— Colabora aqui — murmurei no ouvido da Amber, quando


fingi que ia beijar sua cabeça e ela ficou subitamente
empolgada para entrar na brincadeira.

— Dois anos. — A garota do meu lado falou com toda a


convicção que sua atuação permitia. Dois anos? Que merda.

— Não são dois...

— DOIS ANOS? — Abby me interrompeu horrorizada. — Seu


cafajeste!

— O que está acontecendo aqui, mozão? — Amber me


empurrou dramaticamente.

— Seu mozão aqui dormiu comigo não tem três meses! E


pelo que sei ele também anda pegando todo mundo!

Amber ofegou como se tivesse levado um tiro. Meu Deus, a


garota sabia atuar. Por que não previ que isso aconteceria?

— Com todo mundo? — Amber colocou a mão no peito, com


uma expressão sofrida.

— Todo mundo — Abby confirmou me lançando olhares


cortantes. As pessoas que passavam ao redor olhavam
curiosas.

— Seu cretino! — Amber se virou para mim apontando o


dedo no meu peito — E eu aqui grávida de você!

O que? E o pior de tudo? Ela falava com tanta convicção que


tive que olhar duas vezes para sua barriga verificando se
realmente não a engravidei.
— NÃO! — Abby botou as mãos na boca, estava em choque.

Eu também estava, nem sabia que seria pai. Que porra!

— Ela está mentindo — tentei dizer, mas não tinha como


consertar isso, eu sabia.

— O que? Como se atreve? Depois de tudo o que já passei


com você? — Amber colocou a mão na barriga, fingindo
estar sentindo dor.

Ah, foda-se!

— Querida, ele não vale a pena! — Abby foi imediatamente


ajudá-la.

Deus, o que viria agora? Diria que a traí com a sua melhor
amiga? Que temos gêmeos?

— Lhe entreguei os melhores anos da minha vida!

AHH, Já chega!

— Os melhores anos da sua vida? Não deve ter nem vinte e


um anos! — acusei.

— Ele nem sabe a sua idade? — Abby se virou para mim


perplexa.

— Você não sabe o que já tive que aguentar. — Amber


enterrou o rosto nas mãos, como se estivesse chorando
furiosamente. Mas sabia que a cretina estava rindo. —
Pensei que você fosse mudar depois daquele episódio com a
minha irmã...

— Já chega, Amber! — gritei puto da vida a puxando para


longe de Abby.
— Não ouse gritar com ela, seu monstro! — Abby acusou, e
mais algumas meninas que iam ao banheiro começaram a
parar para assistir.

— Eles são todos iguais — uma mulher falou olhando para


mim com desgosto.

Meu Deus, onde estava com a cabeça quando pedi a sua


ajuda? Lógico que ela compraria a novela mexicana toda,
nem

mesmo estava surpreso.

A arrastei para longe da porta do banheiro, com Abby


tentando falar atrás de Amber.

— Querida, ele não vai mudar! Não aguente mais isso, só


lhe trará sofrimento!

Amber se limitou a enterrar o rosto no meu peito enquanto


a afastava do banheiro. Ela tremia furiosamente, poderia ser
choro para quem via de fora, mas estava rindo. Eu sabia, e
isso só piorava tudo.

Assim que chegamos a uma mesa a larguei com cuidado em


uma cadeira e sentei na sua frente. A criatura desprezível a
minha frente soltou o riso que estava prendendo.

Ela gargalhou à vontade, colocando os dois braços em volta


da barriga. Me limitei a cruzar os braços em frente ao peito,
a risada dela era muito alta, sentia que já tinha estourado
um tímpano.

Se pudesse matá-la nesse momento...

— Ai... Ai... Você tinha que... ver sua cara. — Ela tentou
recuperar o fôlego.
— Qual é o seu problema? Realmente pensei por um
segundo que você fosse normal! — falei irritado.

— Não seja dramático...

— Dramático? A única pessoa dramática e perturbada aqui


é você!

— Não grite comigo, pense no nosso filho. — Ela estava de


brincadeira com a minha cara? Estava. — Você está muito
nervoso, vou pegar uma cerveja.

E foi caminhando até o bar. Puxei meu celular e digitei


furiosamente, não sei como não quebrei a tela.

Eu: Ou você aparece aqui agora ou vou embora!!

Eu: Um conselho de amigo? Esqueça essa garota! Estou


com ela apenas uma noite e sinto que envelheci dez anos.

Eu: Ela já cuspiu cerveja na minha cara, falou que estava


esperando um filho meu, não consigo ter uma conversa
racional com ela. Sem falar que sinto ter perdido um
tímpano só por ter que ouvi-la rir.

Eu: Simplesmente perdi a paciência!

Benny: Nós sabemos que você perde a paciência com


facilidade, Johnny.

Eu: APAREÇA.

Guardei o celular, e vi Amber andar rebolando até a mesa


segurando uma garrafa de cerveja. Ela sentou na minha
frente com o rosto corado.

— Então, o que vamos fazer agora? — perguntou animada.


Só queria que essa noite acabasse. Apenas isso. E depois de
hoje, desejava com todo o meu coração, nunca mais ter que
encontrá-la.

JOHNNY JACKSON

— Então, o que vamos fazer agora?

— Você vai ficar sentada nessa cadeira, quietinha, até


Benny e sua amiga chegarem — informei com toda
paciência que ainda me restava.

— Onde eles estão mesmo? — Ela apoiou os cotovelos na


mesa.

— O pneu do carro furou — esclareci me encostando na


cadeira. Estava subitamente cansado, sair com Amber
cansava mais que três horas de treino.

— Que coisa, hein. Não sei trocar pneu de carro — ela me


informou enquanto dava um gole na sua garrafa.

Não respondi, não queria falar com ela, queria distância


dela.

Sentia que iria adoecer antes da noite acabar.

— Você sabe? — ela perguntou.


— O que, Amber? — suspirei.

— Trocar pneu de carro?

— Sei.

— Ninguém nunca me ensinou. — Ela ficou decepcionada. —

Eu nem sei dirigir.

— Você não sabe dirigir? — questionei surpreso.

— Não, ninguém nunca me ensinou. — Ela deu de ombros.

Não esperava por isso. Ela parecia ser bem independente,


mas

pensando bem, talvez fosse melhor assim, ela é muito


distraída.

Amber começou a bater a perna entediada. Eu não, estava


em paz, em silêncio. Pena que não durou nem dois minutos.
Ela deve ter pensado em algo, pois de repente seu rosto se
iluminou e ela pulou da cadeira.

— Ah! Já sei o que vamos fazer! — Pegou minha mão e me


puxou para ficar de pé.

Já chega, não ia para lugar nenhum com essa garota.


— Não vou pra lugar nenhum com você, Amber — avisei me
soltando do seu aperto.

— Oh, vamos jogar sinuca! Por favor. — Ela ficou me


empurrando pelo ombro — Por favor! Prometo não falar
sobre o nosso bebê — riu ao se lembrar do episódio.

O que só me deixou mais zangado.

— Não achei engraçado — adverti irritado.

— Você não tem senso de humor. — Ela continuou me


puxando. Que garota irritante!

— Alguém já lhe disse o quanto você é irritante?

— Vamos, odeio ficar parada sem fazer nada. Deixe de ser


ranzinza, não estamos fazendo nada mesmo. — Ela
continuou empurrando meu ombro.

— Amber, não vou a lugar nenhum com você. Entendeu? —

disse firme. — Já basta o que aconteceu no banheiro. Não


adianta me empurrar, brigar, encher meu saco, que a
propósito é algo que você tem um talento especial. Não vou
sair dessa cadeira! E não importa o que você diga ou faça.

Ela se limitou a me encarar e arquear uma sobrancelha em


desafio. Arqueei a minha de volta. Ótimo, ela podia fazer o
que quisesse. Não ia dar o braço a torcer. Não ia.

— Então, qual taco você quer? — ela me perguntou


segurando dois tacos de tamanhos diferentes.

Suspirei resignado. O que fiz, Deus? Não fui a igreja o


suficiente?
— Qualquer um — resmunguei pegando um taco da sua
mão.

Ela foi para o outro lado da mesa, organizando as bolas na


mesa. No Blue Republic tinha uma área mais escura onde
ficavam esses jogos, hoje em especial estava vazia a sala, o
que era o milagre. Parece que ninguém estava interessado
em jogar.

— Eu começo. — Ela se inclinou na mesa, segurando


firmemente o taco e olhando atentamente a bola branca.

Não deveria, sei disso, mas não resisti a espiar o seu decote
no vestido, a curva dos seus belos seios se formando.

Deveriam ter um cheiro tão bom quanto o resto dela, de


morango, deveria ser gostoso enterrar o rosto ali, e passar a
língua pelos seus mamilos. Ela não seria considerada
“peituda”, os seus seios eram médios, acho que caberiam
perfeitamente na minha mão...

Ela seguiu meu olhar e viu para onde estava olhando, uma
expressão divertida preencheu seu rosto, e ela falou ainda
segundo o taco na mesa.

— Se eu fosse você, manteria os olhos no jogo, Sr. Jackson.

— Estou mantendo. — Rodeei a mesa e me encostei na


outra mesa de sinuca vazia atrás dela. Cruzei os braços,
esperando a sua jogada, mas sem deixar de ter uma boa
visão da sua bunda empinada para mim.

De repente o ambiente ficou mais quente, e minhas mãos


ansiavam passear naquela pele macia.

Ela bateu o taco na bola, mas não foi muito bem de


primeira.
Se virou me pegando no flagra espiando a sua bunda.

— Sua vez. — Ela apontou para a mesa com seu taco. Me


desencostei da outra mesa e fui analisar minhas opções de
jogada.

— Como você gosta do seu taco, Sr. Jackson? — Ela estava


me provocando. Para falar a verdade, acho que era seu
novo objetivo de vida. — Eu não consigo jogar com tacos
finos, não sei, eles não me servem muito bem. Mas com um
grosso, é certeiro,

deve ser por isso que não me saí bem na primeira tacada —
Ela contou alisando sugestivamente seu taco.

Que porra. Senti meu pau começar a endurecer. Ela se


achava muito espertinha. Mas nesse jogo ela não tinha
como ganhar de mim.

Ela queria jogar? Estava aceitando seu desafio.

— Um bom jogador aprende a jogar com qualquer taco —


citei me inclinando sobre a mesa, e colocando meu taco em
posição.

— Talvez você tenha razão. — A peguei olhando para os


músculos dos meus braços tatuados. — E você? É do tipo de
jogador que sabe jogar com qualquer taco? Como prefere o
seu?

— Duro — falei sem desviar o olhar do seu, enquanto batia o


taco com força na bola branca, espalhando as outras pela
mesa, fazendo duas caírem no buraco.

A sua respiração ficou ofegante e podia jurar que espremeu


levemente as pernas. Oh, querida, parece que você não
estava preparada para jogar comigo.
— Quer parar o jogo, senhorita Foster? — debochei.

— Parar o jogo, por quê? — Ela engoliu em seco irritada, não


querendo perder nosso embate. — Boa tacada. Mas
cuidado, se ficar estocando forte assim vai acabar
acertando apenas as bolas vermelhas.

— Não se preocupe com minhas bolas, sempre que estoco


com força consigo botar tudo dentro. — Cruzei meus braços
me encostando novamente na mesa de trás, esperando a
sua jogada.

— Muito agressivo. — Ela estava afetada, mas tentava


disfarçar. Podia ver os pelinhos dos seus braços se
arrepiarem. Isso era divertido.

Me aproximei dela por trás, de leve, sem tocá-la.

— Não vai jogar, senhorita Foster? — sussurrei grave no seu


ouvido, provocando-a.

Ela juntou as pernas e sua respiração ficou pesada. Estava


excitada, apostava que se subisse minhas mãos por suas
deliciosas pernas e encontrasse sua calcinha, estaria úmida.

— Segure seu taco com força, Amber, saiba como usá-lo —

sussurrei muito próximo, vendo seu braço se arrepiar e


minha

respiração riscar a sua pele.

Apoiei meus dois braços na mesa, um de cada lado do seu


corpo, a aprisionando por trás. Ela involuntariamente
encostou mais para trás, a bunda gostosa roçando no meu
pau duro. Quase gemi.
Quase. Consegui reprimir com um suspiro.

Ela virou o olhar para encontrar o meu. Percebendo minha


excitação, ela me deu um sorriso triunfante.

— Não precisa se preocupar, Sr. Jackson. Eu sei segurar meu


taco, como acariciá-lo e bater com ele. Talvez devesse se
preocupar com o seu. — Baixou o olhar para minha virilha.

Garota provocadora.

— Está com medo de perder o jogo? — perguntei a


provocando, encostando ainda mais minha boca no seu
ouvido. Ela apertou mais as pernas. — Quando você chama
alguém para jogar, Amber, tem que estar preparada para
perder.

— Es... estou preparada — gaguejou. E lhe dei um sorriso


satisfeito, que ela respondeu com um olhar irritado.

— Você pode me dar o seu taco? Ele parece mais firme que
o meu — pediu minha pequena jogadora, que parecia não
desistir fácil.

— Eu adoraria tentar bater com ele.

OK, estava duro pra caralho. E ela sabia disso, estava


sentindo. Era tudo demais, o cheiro do seu cabelo, a sua
pele macia, o seu corpo delicioso...

— Ainda está na jogada, Sr. Jackson? — Ela me provocou


com um sorriso.

— Estou sim. — Lhe entreguei meu taco de madeira sem


sair de trás dela. Ela pegou o taco e se inclinou sobre a
mesa, jogando a bunda no meu pau.
Ahh covardia, hein! A atrevida ainda olhou para trás com
um sorriso safado.

Você não venceu isso, meu bem.

— Cuidado. Você pode acabar se machucando com meu


taco.

Às vezes pode ser muito grande pra você. — Coloquei a


mão no seu quadril e ela se arrepiou toda, estremecendo de
leve. E eu também.

Foi como uma corrente elétrica passando entre nós, eu


senti, ela sentiu. Estava excitada, tenho certeza que sua
calcinha estava

toda meladinha nesse momento. O que eu não daria para


lambê-la...

Ela torceu o pescoço, como se não soubesse o que fazer


para aliviar a tensão que sentia entre as pernas. Subi minha
mão até encontrar a pele nua das suas costas.

Era uma delícia passar minha mão áspera por sua pele
macia e lisinha. Continuei fazendo círculos com o polegar,
vendo-a se contorcer levemente, sua respiração pesada era
o único som ali. Ela estava pronta para gemer para mim, e
eu queria ouvir bem baixinho no meu ouvido.

— Então, você ainda quer continuar? — perguntei me


inclinando sob seu corpo para falar perto do seu ouvido.

Ela se deu conta que estava se desmanchando embaixo de


mim, apenas com meu toque. Me olhou subitamente
irritada, e sorri satisfeito em resposta.
— Não desisto tão fácil assim. Não se preocupe, aguento
todas as suas tacadas, não importa quão fortes sejam. —
Ela esfregou a sua bunda no meu pau enquanto bateu o
taco na bola branca.

Que porra, hein. Estava muito duro, louco para bater uma,
estava com vontade de inclinar o quadril para frente, lhe
dar uma cutucada com meu pau em punição. Mas não faria
isso, ela veria como estou duro por ela.

A jogadora se virou, ficando de frente para mim com um


olhar irônico, sabendo que estou com todo o sangue
concentrado na cabeça de baixo.

— O que? — perguntou inclinando a cabeça de lado, me


desafiando. — Acha que não aguenta mais? — Ela ergueu
uma sobrancelha.

— Oh não, mal começamos a partida. — Apoiei os dois


braços na mesa, a aprisionando mais ainda, agora de frente.

Nossos peitos se roçaram e ela soltou a respiração pela


boca.

Ofegante. Seu hálito quente e gostoso chegando até mim,


ela era insuportavelmente cheirosa. Existia tanta coisa ali,
tensão, raiva, desejo, disputa, era tudo.

Não aguentei, acabei baixando minha cabeça e colocando


meu nariz no seu pescoço como um viciado em cocaína.
Precisava

senti-la.

Inspirei o seu cheiro e ela se arrepiou toda, tremeu nos


meus braços. Acho que suas pernas ficaram bambas, pois
ela colocou as mãos no meu peito, se segurando.
Fui levantando meu nariz lentamente até sua orelha,
inspirando por todo o seu pescoço no caminho. Ela estava
toda arrepiada, contorcendo as pernas e deliciosamente
ofegante.

— Está tudo bem aí? — provoquei falando baixinho no seu


ouvido e passando a língua de leve, quase como se tivesse
feito sem querer.

Passei um braço por sua cintura, minha mão entrando de


novo em contato com a pele exposta das suas costas. Desci
a mão lentamente até chegar bem acima da sua bunda,
onde o vestido começava a cobri-la. A pressionei, a
trazendo mais contra meu peito.

E ela veio, segurando minha camiseta, como se fosse sua


tábua de salvação. Derretida, empurrou seus seios de
encontro ao meu peito, acho que nem percebeu, ela estava
buscando por atrito, alívio.

Queria comê-la bem ali, erguer seu vestido curtinho,


empurrar sua calcinha de lado, meter fundo nela e sentir
meu pau sair todo melado de dentro dela. E nem mesmo
suportava a garota.

Coloquei minha perna entre as suas, e ela as abriu para


mim, recebendo minha coxa. Estava praticamente entregue,
passou as suas mãos delicadas nos meus braços, se
segurando com mais firmeza. Dei uma esfregada com
minha coxa na sua entrada, lentamente, punindo-a e podia
apostar tudo que tinha que seu clitóris estava latejando,
implorando para ser tocado.

Ela cravou suas unhas no meu braço, me causando arrepio.

Isso, gostosa, me marca. Continuei a rodar minha coxa nela


sugestivamente, lentamente, e ela usava todo o seu
controle para não se esfregar em mim bem ali. Ela estufava
o peito contra o meu, mordia o lábio inferior para suprimir o
gemido, torcia o pescoço para tentar afastar a tensão
dentro de si. Estava torturando-a, ela não queria se
entregar, mas estava quase gemendo no meu ouvido.

— Você vai gemer pra mim? — incentivei, a apertando com


os dois braços agora, passando a mão de leve nas suas
costas, indo para cima e para baixo em uma carícia
sugestiva. Seu corpo tremia

de leve, ela soltou a respiração pela boca e podia jurar


como ela quase gemeu.

Quase. Pois acho que ela se lembrou de que estava


perdendo nosso pequeno jogo e me empurrou para longe.

Ergui as mãos em rendição, sorrindo, muito satisfeito com


sua falta de controle.

— Por que gemeria? — Ela me olhou com deboche. — Você


acha mesmo que pode ganhar de mim com esse seu taco?
— Ela pegou o seu próprio taco, irritada e foi para o outro
lado da mesa, o mais distante possível de mim, balançando
a cabeça no caminho, afastando a excitação.

— O que? Não confia em si mesma? — Deveria parar, mas


era tão divertido irritá-la assim... Ela fez isso comigo a noite
toda mesmo.

— Confio. — Ela bufou dando de ombros — Só quero jogar


daqui.

— Sei...

— Vá à merda, Johnny — ela ralhou.


E eu ri. Não me aguentei, ri tanto que tive que me apoiar na
mesa, enquanto ela me olhava irritada com os braços
cruzados.

Oh, é bom, não é? Prove do seu veneno.

— Se estivesse com minha cerveja agora, jogaria em você


ela falou irritada.

Eu não duvidava disso.

— A culpa não é minha se você tem tão pouco controle


comigo assim, baby — Deus, isso estava bom demais.

— Você se acha muito gostosão, não é? — ela debochou.

Dei de ombros.

— Não tanto quanto você acha. — Pisquei divertido e a vi


perder a paciência bem ali.

Não sei o que tinha de tão bom nisso, mas ela parecia tão
descontraída o tempo todo, que era gostoso vê-la se irritar
assim.

Ela veio com o taco na mão rodeando a mesa, querendo me


pegar. Rodeei junto, fugindo dela.

— Vai partir para a agressão mesmo? — provoquei


contornando a mesa.

— Você procurou por isso. — Ela veio atrás de mim.

— Mas não é minha culpa se você se excita assim tão fácil.

Senti o telefone vibrar no bolso e atendi sem ver quem era.


— Alô? — cumprimentei ainda fugindo da garota
descontrolada. Íamos ficar tontos desse jeito.

— O que é isso? Você está correndo? — perguntou Benny. E

me senti repentinamente culpado, esqueci completamente


dele.

Deveria estar arranjando a garota para ele, não brincando


de excitá-la ou tentando entrar na calcinha dela.

— Não, só fugindo de uma garota irritada que está atrás de


mim com um taco na mão.

Ela tentou me cutucar com o taco por cima da mesa, mas


desviei.

— Meu Deus, já estão brigando? Qual o problema de vocês?

— Não consegui responder, pois ela fingiu que ia para um


lado, mas foi para o outro, quase me encontrando. Fui na
outra direção, contornando a mesa. E acho que mesmo
irritada ela estava se divertindo, como se estivéssemos
brincando. — Olha, não vou conseguir ir, liguei para um cara
vir consertar o pneu, mas ele não apareceu, estava no meio
do caminho com Nelly. Deu tudo errado hoje.

— Está aí uma coisa que concordo — ironizei ofegante, e


Benny falou com outra pessoa na linha, desligando o
telefone logo em seguida sem se despedir.

— Benny? — perguntei parando no lugar e olhando o


telefone, mas ele já tinha desligado.

Amber se chocou comigo, quase caindo no chão, mas a


peguei pela cintura, firmando-a no meu corpo.
— Você ia me derrubar — ela resmungou se equilibrando em
mim.

— E você ia me cutucar com aquele taco. — Arrastei seu


cabelo do rosto com cuidado, para ver se não tinha se
ferido, enquanto a outra mão permanecia em sua cintura
segurando-a.

— Queria dar só uma cutucadinha na sua bunda como


punição — ela explicou ainda corada da perseguição.

— Você podia ter se ferido. — Verifiquei se realmente ela


não tinha se machucado.

— Foi você que começou.

— Eu? Você que me chamou para jogar.

— Você que ficou me provocando — acusou.

— Você me provocou a noite toda. Até mesmo disse que


estava grávida, Meu Deus.

— De novo isso? Foi uma brincadeira! Você não sabe


brincar?

— Não, eu já passei dos cinco anos de idade — respondi.

— Você é tão chato! — ela ralhou comigo.

— Você é tão irritante! — devolvi ainda a segurando pela


cintura.

— Eu não te suporto — ela declarou na minha cara.

— Que bom, pensei que estava sozinho nesse sentimento —


disse agora muito próximo de seu rosto. Desci o olhar para
sua boca e ela desceu o olhar para a minha. Estávamos
muito próximos agora... Meu Deus! Estou aqui para arranjá-
la para Benny.

— Era Benny no telefone, ele não vem. — Me soltei dela e


fiquei o mais longe possível.

— Ótimo, vou pra casa — me informou indo pegar sua


bolsa, parecendo tão afetada quanto eu.

— Graças a Deus — suspirei aliviado.

— Foi você que me chamou pra vim aqui! — Ela passou por
mim caminhando em direção à entrada.

— Sim, e agora estou implorando para você ir embora. — A


segui.

— Seu babaca!

— Nas horas vagas. — Passei por ela e abri a porta da


entrada, pegando a sua mão. — Vamos.

— Como assim “vamos”? Não acabou de dizer que estava


implorando pra eu ir embora?

— E estou, mas vou te deixar em casa.

— Não vai, vou sozinha. — Ela cruzou os braços.

— Não. Não vai. Você não sabe dirigir. — Cruzei os meus


braços em frente dela também.

— Vou pedir um carro.

— Não. Não vai. — Podia não a suportar e querer abrir uma


distância de quilômetros entre nós agora, mas não iria
deixá-la sair sozinha à noite no carro com um desconhecido.

— Veremos — desafiou e puxou seu celular, me encarando.

— Meu Deus, você pode deixar de ser tão difícil? — Passei


as mãos pelo rosto, não aguentava mais essa garota.

— Quem está sendo difícil aqui não sou eu. Não pode
chegar dizendo pra mim como vou embora pra casa. Tem
que pedir —

explicou.

Suspirei.

— Você pode, por favor, entrar no meu maldito carro,


Amber?

— pedi com toda a calma do mundo.

— Não.

— Você quer me enlouquecer? — A olhei querendo matá-la.

— Meu Deus, você se irrita muito fácil — resmungou.

— Você está brincando com a minha cara? Jesus! Não


aguento mais passar um minuto com você!

— Também não, por isso estou pedindo um carro. — Muito


tranquilamente ela pegou seu maldito celular.

— Amber? — perguntou um cara atrás dela, fazendo-a se


virar.

Ele era alto, tinha a pele negra e cabeça raspada, acho que
ele jogava futebol, mas não tinha certeza. Ele alternou o
olhar entre mim e ela, estranhando nos ver juntos.
— Steven! — ela chamou feliz. — Graças a Deus, você já
está indo embora?

— Já sim, você quer carona? — ele ofereceu.

— Quero sim! — Ela sorriu para ele.

— Não sabia que vocês se conheciam. — Ele sorriu ansioso


para mim.

— Não nos conhecemos — falamos ao mesmo tempo e ele


estranhou.

— Steven, esse é Johnny Jackson, Johnny esse é Steven


Owen — ela apresentou.

— Como vai? — Cumprimentei apertando sua mão.

— Sei quem você é, o grande cara do gelo. — Ele apertou


minha mão animado.

— Você joga futebol, certo?

— Isso — Steven respondeu empolgado por eu reconhecê-


lo.

— Steven, você vai levá-la pra casa? — perguntei.

— Vou sim.

— Pode me passar seu número, por favor?

Ele foi rápido em dar seu número. Colocando o celular no


bolso me virei para a garota que esperava nunca mais
encontrar.

— Boa noite, Amber Foster — disse muito feliz por me livrar


dela, estava até mesmo leve, poderia ir para casa em paz.
— Boa noite, Johnny Jackson — ela devolveu. — Espero
nunca mais encontrá-lo.

— Fique tranquila, farei todo o possível para isso acontecer


alfinetei.

— Certo, só não me chame para sair de novo. — Ela tinha


que ter a última palavra não é mesmo? E o pior é que nem
podia jogar na cara dela que fui obrigado a isso.

— Só não me procure para jogar sinuca de novo — devolvi


feliz por ver seus olhos pegarem fogo.

— Não pretendo procurá-lo para nada nessa vida, só quero


distância de você. — Ela se aproximou de mim.

— Ótimo, porque pra falar a verdade eu daria tudo que


tenho pra nunca mais passar um minuto com você — atirei
me aproximando dela também.

— E eu preferiria ser atropelada por um ônibus a passar


mais um segundo com você — falou para mim.

— E eu preferiria morrer mordido por formigas a ter que te


tolerar outra vez. — E não estava longe da verdade.

— Preferiria levar um tiro ao ouvir sua voz de novo.

— Preferiria quebrar todos os ossos do corpo a te encontrar


mais uma vez — anunciei bem próximo dela agora.

— E eu preferiria...

— Ah pelo amor de Deus! Quantos anos você tem? — A


interrompi.
Steven apenas assistia nossa interação, alternando o olhar
de um para o outro, perdido.

— Boa noite Steven. — Acenei para ele. — E a leve para


bem longe de mim.

Me virei e a ouvi me chamando de cretino. Não iria mais


revidar ou essa noite não acabaria nunca. Cheguei ao meu
carro aliviado, satisfeito, até mesmo feliz, não teria mais
que tolerar essa garota tão cedo.

A última coisa que escutei foi a pergunta do Steven para


ela.

— Então, onde você disse que estava morando mesmo?

AMBER FOSTER

— Ele é insuportável! Tão chato e rabugento! — reclamei


pela milésima vez no carro de Steven. — Não tem um pingo
de senso de humor.

— Até agora não acredito que você saiu com Johnny


Jackson!

Eu acompanho ele jogar desde o ensino médio. Sério, isso é


incrível.

— Ele balançou a cabeça, abismado.


— Incrível? Você me ouviu reclamar?

— Durante todo o caminho — falou dobrando na minha rua.


O cara é uma lenda.

— Uma lenda — bufei.

— Veja pelo lado positivo, daqui a alguns anos você vai


poder dizer que teve um encontro com o astro do hóquei. —
Steven sorriu para mim parando em frente à minha casa.

— Não tive um “encontro” com ele. — Sorri para Steven. —

Era pra ter mais pessoas.

— É engraçado te ver irritada.

— Ele me deixou assim. — Também me deixou


extremamente excitada, desejosa, frustrada...

— Admite vai, o cara é bonitão. — Me empurrou com o


ombro.

— Ele é — suspirei.

É lindo, gostoso, tem uma voz grossa e grave. Mas é


insuportável também.

— Ele acabou de me mandar mensagem perguntando se


você chegou bem. — Steven me mostrou o seu celular com
a mensagem.

Hum, isso foi fofo.

— Enfim, o lado bom é que não o verei tão cedo. — Abri a


porta do carro. — Boa noite, bobo. — Dei um beijo na sua
careca e sai do carro.

Assim que fechei a porta do carro de Steven e ele saiu,


outro carro estacionou na entrada da casa ao lado e
ninguém menos que Johnny Jackson saiu dele.

Mas que inferno! Que é isso? Estava me seguindo? Ele


começou a caminhar pela calçada, mas parou no meio do
caminho quando me viu. Ficamos os dois parados no meio
do caminho nos encarando, imóveis.

Mas que merda é essa?

— Mas que merda é essa? — Ele fez a perguntar por mim,


estava olhando ao meu redor, como se pudesse achar uma
explicação para eu estar ali. — Você está me seguindo?

— Já ia perguntar a mesma coisa, o que você está fazendo


na minha casa? — perguntei me aproximando, ele fez o
mesmo e ficamos um passo de distância um do outro.

— Sua casa? Essa é minha casa. — Ele apontou para a casa


em que vi Drake Cross saindo.

Como um estalo minha mente ligou os pontos. Ele mora


nessa casa? Meu vizinho? Isso era inacreditável. Só podia
ser brincadeira.

Não tinha muito que se fazer, então comecei a rir, porque


era uma situação horrível mesmo, e eu sempre achava
graça de situações horríveis.

— Quer me explicar o que está fazendo na minha casa,


Amber? É umas das suas brincadeiras? — perguntou com as
mãos no quadril esperando minha resposta.

— Essa é a minha casa. — Apontei para a minha casa.


Ele pareceu compreender o que isso queria dizer, pois seu
rosto se contorceu em horror. Oh Deus, isso foi muito
engraçado.

— Isso só pode ser brincadeira. E você está achando graça


disso? — acusou perplexo.

— O que você queria que eu fizesse? — Ri mais ainda da


cara dele.

— Se mudasse.

— Eu também, mas a vida não é feita de quereres. — Que


frase chocante, estava me sentindo muito sábia. — Isso foi
profundo.

— O que?

— Essa frase, foi profunda — lhe esclareci.

— Sabe o que é profundo? — ele perguntou.

— Não, o que? — questionei curiosa.

— Sua falta de noção.

— Sabe outra coisa profunda? Meu desprezo por você! —

devolvi. Que cara insuportável e mal humorado! — Vá pro


inferno! —

Me virei e fui caminhando até minha casa.

— Já estou nele — falou caminhando até a sua também.

— Eu também! — gritei de volta.

— ÓTIMO! — ele disse chegando à sua porta.


Ah! Mas ele não ia ter a palavra final.

— ÓTIMO! — gritei da minha varanda.

— FODA-SE! — Ele bateu sua porta da frente com força.

— FODA-SE VOCÊ! — Bati a minha porta com mais força.

Ele abriu a porta dele e bateu de novo, mais forte. Ah que


criatura competitiva! Abri a minha porta e bati de novo com
mais força também. Ele foi lá de novo e bateu a porta dele
mais uma vez!

Abri a minha e bati mais forte ainda.

Me virando vi Scar, Sienna e Maddie me olhando sentadas


do sofá da sala como se tivesse criado duas cabeças em
mim.

— O que é isso? Estamos competindo com os vizinhos pra


saber quem quebra a porta da frente primeiro? — perguntou
Scar.

Não, mas tinha a impressão que ia rolar uma competição na


vizinhança para saber quem mata quem primeiro.

AMBER FOSTER
Senti as mãos que tanto amava pentearem meu cabelo e
molharem o meu rosto, elas passeavam acariciando minhas
bochechas.

— Amo você. — Aquela voz conhecida disse e me senti


completa por um momento. — Pra sempre.

As mãos vão para o meu peito e me empurram para o fundo


da banheira, me levando para baixo. Abri os olhos e
enxerguei em meio a água a pessoa que me amava me
prender debaixo d´água, os seus olhos verdes vidrados
estavam firmes nos meus enquanto eu afundava.

Comecei a sufocar, a ansiar por ar, como ansiava pelo seu


amor eterno. Aquele amor que vai me amar para sempre,
mas esse

“para sempre” nunca dura o suficiente. Bati as pernas


dentro da banheira e senti a água entrar nos meus pulmões.
Aquela sensação de desespero já estava vindo.

Odeio sufocar, odeio essa sensação, odeio sentir que vou


morrer, odeio saber que tudo vai simplesmente acabar,
odeio perceber que não sorri o suficiente, odeio saber que o
amor não dura, odeio descobrir que o para sempre às vezes
não dura nem mesmo um único segundo.

— Pronto, passou. — Scar passou as mãos no meu cabelo,


me acordando do pesadelo. Ela já estava acostumada com
isso, sempre acontecia. Geralmente me contorcia, às vezes
gritava, deve ser horrível escutar, mas elas nunca
reclamaram. Scar beijou a minha cabeça enquanto me
abraçava. — Está tudo bem agora.

Uma mão extremamente macia e gentil passou pela minha


bochecha molhada de lágrimas, limpando-as, e sei que é
Sienna. Ela segurou a minha mão enquanto deitava na
cama ao meu lado. Por último, uma criaturinha ruiva vestida
com um pijama ridículo de coelhinho e pantufas acendeu
uma vela branca amarrada com uma fita na estante perto
da minha cama.

Maddie se aproximou de mim e só então notei que ainda


tremia, ela colocou a sua mão pequena sobre o meu rosto e
fez o seu cântico.

— A Lua é minha protetora e amiga. Traz beleza aos meus


sonhos e vida. As Estrelas no alto são minha felicidade.
Brilhando gentilmente e com serenidade. Quando fecho os
olhos, não vão me desapontar. Mantendo-me segura até o
Sol raiar.

O engraçado é que sempre funcionava, quando Maddie fazia


esses rituais todas conseguíamos dormir em paz, como se
ela fosse mesmo amiga pessoal das estrelas. E devia ser
mesmo, considerando que passa boa parte das noites as
olhando pelo telescópio.

Meus olhos começaram a pesar e observei pela chama da


vela branca que Scar e Sienna também estavam querendo
dormir, subitamente em paz e relaxadas escutando Maddie
cantar sua magia, como se estivéssemos enfeitiçadas.

A última coisa que vi antes de fechar meus olhos sonolentos


foi o horário no relógio que ficava no armário: 02:00.

Simplesmente amava a energia da minha amiga, amava.

Pena que o amor não dura, pena que uma hora ele acaba,
pena que não existe o para sempre, apenas um breve e
momentâneo por enquanto.
JOHNNY JACKSON

Meu coração acelerado me acordou. Sentei na cama


assustado e fui pegar meu celular para ver as horas: 02:00.

Odeio sonhar com aquele dia, às vezes tem momentos que


consigo esquecer, mas parece que meu subconsciente
sempre volta para o momento que estraguei tudo.

Levantei da cama só de cueca e fui até meu notebook,


abrindo no e-mail que enviei para Bruce antes de dormir.

De: johnny.jackson@gmail.com

Para: bruce.nolan18@gmail.com

Caro Bruce,

Duas novidades para você: 1. Benny está apaixonado.

Acredita? Nosso garoto está crescendo. 2. A garota? É


aquela da fraternidade que evito. Exato! E hoje tive que sair
com ela.

Conclusão? Ela me tira do sério. Em todos os sentidos... Eu


sei o que você está pensando. E não. Não vou foder com
tudo de novo.

Não vou perder mais um amigo.


Ele me pediu ajuda para conquistá-la. E eu disse que
ajudaria, e vou. Somos uma família ainda, fazemos tudo um
pelo outro, lembra? O problema é que não queria que fosse
ela. Queria que fosse qualquer outra, menos ela, irmão.
Acho que eles não combinam... Não sei, simplesmente não
gosto disso.

Enfim, não sei mais nada sobre você, não sei por onde você
anda ou como está, mas espero que esteja feliz. De
verdade.

P.S.: Me perdoa. Não há nada na vida que me cause mais


arrependimento, Bruce. Nada.

Boa noite.

Senti aquela dor no meio do peito de sempre ao reler o e-


mail.

Não iria falhar com Benny também. Talvez aquela fosse


minha forma de reparação.

Virei para a janela do meu quarto e a abri, me deparando


com a casa ao lado. Ela morava a menos de quatro metros
de mim. A janela que ficava de frente para minha brilhou
com uma chama oscilante, e me senti atraído como uma
mariposa pela luz.
Me encostei na parede e fiquei vendo a chama dançar na
sombra do quarto. E não sei por que, mas me lembrei do
sorriso bobo da Amber, que parecia iluminar qualquer
ambiente, assim como aquela luz iluminava o escuro do
meu quarto, assim como as estrelas iluminavam o céu.

Ainda podia sentir o cheiro de morango do seu cabelo, o


vermelho das suas bochechas quando soltava uma risada, a
intensidade dos seus olhos verdes, a vibração da sua
energia.

Balancei a cabeça perplexo comigo mesmo. Não deveria


pensar nela daquele jeito. Iria arranjá-la para Benny, nem
que isso me quebrasse no caminho.

E talvez assim eu conseguisse dormir em paz a noite.

Anotei apressadamente as falas do professor sobre


Algoritmos Numéricos antes que o homem já passasse para
o próximo tópico. Cursava Física, sempre amei a disciplina
no ensino médio e não tive dúvidas quando passei para a
vida universitária. Por mais que fosse muito difícil,
conseguia me sair bem.

Pena que não pretendia seguir com os estudos depois de


formado. Minha vida era o hóquei, nada se comparava ao
prazer de correr sob o gelo enquanto dominava o disco.
Nada.

Meu celular vibrou no bolso e o peguei quando o professor


deu uma folga nas explicações.

Benny: Ainda vai me arranjar outro encontro?

Eu: Vou.

Eu: Você sabia que ela era minha vizinha?


Benny: O que??

Eu: Exato. Reagi do mesmo jeito.

Benny: Tinha ouvido que ela se mudou, tiveram uns


problemas na fraternidade dela...

Eu: Que tipo de problemas?

Como uma lâmpada, minha mente lembrou do Drake


falando que as nossas vizinhas foram expulsas de uma
fraternidade. Ah, aquele merdinha sabia que ela era minha
vizinha e não me avisou.

Benny: Não sei, acho que elas foram expulsas. Teve uma
confusão.

Benny: Tá rolando uns nudes pelas redes sociais desse dia,


não abri, então não sei quem é a menina.

Que porra era aquela? Algum pau no cu estava espalhando


nude dela?

Eu: Você acha que é dela essas fotos?

Eu: Sabe quem está espalhando?

Benny: Não, não sei de muita coisa. Tenho vergonha de


perguntar a ela sobre isso.

Eu: Certo. Vou dar um jeito nisso.

Benny: No encontro ou nos nudes?

Eu: Nos dois.

Será que ela já sabia daquilo? Se não forem dela, são de


uma das suas amigas expulsas, com certeza. Abri a
conversa no grupo dos canalhas que podiam resolver tudo.

Eu: Estão espalhando nudes de uma garota pelo campus.

Eu: Pode dar um jeito nisso, Tyler?

Tyler: Posso.

Tyler: Me dê 10 min que tiro do ar.

Eu: Tem como descobrir quem espalhou?

Tyler: É mais difícil, mas posso tentar.

Tyler Hunt era o único da casa que não jogava hóquei, ele
era mais o gênio da informática, era nosso hacker
particular, sabia tudo de computação. E de maconha. Nunca
conheci uma pessoa para ter mais alucinógenos,
afrodisíacos e drogas em geral, do que ele.

Eu: Outra coisa. Colin, preciso que convença Amber Foster a


sair com a gente.

Drake: Pedindo ajuda a Colin? Tá fodido.

Eu: Ah Drake, eu sei que você sabia que ela é nossa vizinha.

Drake: Tentei contar...

Eu: Foda-se.

É, não tinha alternativa. O que Amber diria se eu a


chamasse para sair de novo? Me mandaria à merda, no
mínimo. E se tinha uma pessoa capaz de convencer
qualquer um a fazer qualquer coisa, era Colin Scott. Ele
tinha o dom do descaramento e lábia.
Colin: Quem é Amber Foster? E por que vamos sair com
ela?

Drake: É a nossa vizinha.

Colin: A que estava brincando de bater porta com Johnny


ontem?

Eu: Sim. E não estava brincando.

Drake: A mesma que jogou bebida nele no primeiro ano.

Colin: Fala sério!!

Colin: Ela é nossa vizinha? Sou um fã dessa garota.

Eu: Você vai convencê-la a sair com a gente.

Eu: Vamos fazer uma visita às nossas vizinhas hoje depois


do treino.

Colin: Opa! As vizinhas que Drake definiu como

“espetaculares”?

Eu: E mais uma coisa: Não vamos nos envolver com nossas
vizinhas.

Colin: Por quê?

Tyler: Por quê?

Drake: Por quê???

Taylor: Não tem um vizinho “espetacular” no meio?

Revirei os olhos. Taylor Hunt é gay, o único jogador de


hóquei da Brown assumido, pelo menos.
Drake: Lamento, Taylor. Se tem, não vi.

Eu: Porque elas moram literalmente do nosso lado, não


queremos ter problemas com elas.

Tyler: Certo. Levo brownie pra elas?

Colin: Depende. Vai ter maconha nesse brownie?

Eu: NADA DE BROWNIE, TYLER.

Colin: E maconha?

Eu: Vamos apenas chamá-las para sair. E só.

Colin: Uma pergunta. Por que quer sair com essa garota?

Pensei que nem gostasse dela.

Eu: Isso é confidencial.

Não iria expor Benny, ele só deixou Drake saber.

Eu: Só preparem os ouvidos.

Taylor: Como assim?

Eu: Ela é um pouco excêntrica. Pode falar muito alto quando


quer.
Guardei o celular no bolso e voltei para minhas anotações.
É, parece que iríamos oferecer uma xícara de açúcar às
nossas vizinhas.

AMBER FOSTER

Estava fazendo um clima bom em Providence hoje,


encontrei vários estudantes encostados embaixo de árvores
ou sentados na grama enquanto voltava da minha consulta,
que por sinal tinha sido ótima.

Amava fazer terapia, era aquele tipo de pessoa que me


sentava em um divã e passava horas e horas falando sobre
meus traumas. Comecei aos dozes anos, era tão travada no
começo, retraída até, não gostava de falar sobre minha
infância, sobre o que tive que passar. Ainda mais com um
estranho, mas com o tempo consegui me soltar. É algo que
aconselho a todo mundo.

O problema era que tinha parado de ir a uns dois anos,


então no início daquele semestre procurei a administração
para saber se tinha algum programa na universidade.
Acabei descobrindo que tinha um grupo de alunos de
psicologia dispostos a acolher estudantes que precisavam
de um acompanhamento. Eles não eram formados, mas
eram bons alunos e faziam um trabalho excelente.

Esse acompanhamento era o ideal para mim, já que não


gostava de falar daquela fase da minha vida com ninguém.
Nem mesmo com Scar, Maddie e Sienna, por mais que elas
devam ter uma ideia pelo que escutam dos meus
pesadelos. Elas sempre respeitaram o meu silêncio.

Consegui falar um pouco dos pesadelos hoje, mas sei que


vai demorar até que esteja à vontade com o novo ouvinte.
Tirei meu celular do bolso e vi mais uma mensagem de
Nelly.

Ela estava indignada por ter ficado presa em uma rua


estranha com Benny, e faltou cair da cadeira quando lhe
contei que Johnny é meu vizinho, pelo jeito agora vai
acampar na minha casa.

Mas a mensagem que ela acabou de me enviar não é sobre


o capitão do time de hóquei.

Nelly: Tá rolando uns nudes da Scar...

Nelly: Eles estão com boa resolução, dá para ver tudo.

Nelly: Sinto muito.

Oh Merda! Merda! MERDA! O que fazer agora? Tem algum


lugar de denúncia no campus? Que merda. Abri a conversa
com ela e enviei mensagem.

Eu: Quer falar sobre isso?

Não adiantava me fazer de desentendida, ela sabia, tinha


certeza.

Scar: Não quero falar sobre.

Eu: Certo. O que fazemos agora?

Scar: Nada, sumiu.

Eu: Como assim?

Scar: Não faço ideia do que aconteceu, simplesmente o link


não abre mais, e as fotos desapareceram do celular de
quem conseguiu salvar.
Eu: Graças a Deus! Como isso aconteceu?

Scar: Não faço ideia.

Eu: Tem algum palpite de quem espalhou?

Scar: Gente que não gosta de mim é o que não falta.

Eu: Vamos descobrir!

Scar: Estou bem, sério. É como você disse, pelo menos


estou gostosa nas fotos.

Eu: Essa é minha garota!

Scar: Me distraia.

Eu: Vamos cometer um crime comigo?

Scar: Fechou.

Scar: O que vamos fazer?

Eu: Roubar três cachorros.

Scar: Não seria “adotar”?

Eu: Exato, mas assim perde a emoção.

Scar: 3??? Pensei que estava brincando. Um não é


suficiente?

Eu: Lógico que não, o que vou fazer com um único


cachorro?

Scar: A mesma coisa que se faz com três?

Eu: Vão ser três! Vem ou não?


Scar: Claro.

Eu: Me encontre daqui a trinta minutos no refeitório.

Guardei o celular no bolso e passei pelos prédios antigos.


Mas estranhamente percebi que a maioria das pessoas
estava olhando para mim, ou era impressão minha? Devo
ter saído nos nudes da Scar com certeza.

Me encolhi, e continuei caminhando até ver Bethany vindo


na minha direção. Sorri para ela e a abracei.

— Ah! Que saudade! — cantarolei enquanto a apertava.

— A casa está tão silenciosa sem você — reclamou Bethany.

— Sinto que aos poucos recupero minha audição — brincou


me abraçando mais.

— Tudo bem, Regina George, eu sei que você chora toda


noite sentindo minha falta — sussurrei no seu ouvido e ela
riu.

Adorava provocá-la com esse apelido, e tinha um certo


fundo de verdade nisso. Bethany era uma versão real da
Regina George de Meninas Malvadas. Era aquela abelha
rainha na fraternidade, além

de ser loira, ter o cabelo liso e curto na altura do ombro,


olhos azuis e corpo espetacular. Ela só não era tão malvada
assim.

Eu e Bethany nos entendemos logo de primeira, fiz amizade


fácil com todas as meninas da fraternidade, e elas
acolheram muito bem eu e Sienna, mas isso não aconteceu
com Maddie e Scar. Sei que tem um pouco de inveja e
rivalidade feminina em relação à Scar, mas torcia para isso
passar um dia, todas elas eram meninas maravilhosas, e
definitivamente não precisavam se sentir ameaçadas por
simplesmente ter outra garota que chamava mais a
atenção. Mas tinha esperanças que o tempo iria ensiná-las
isso. Ou era o que meu lado otimista gostava de pensar.

— Estou sabendo da novidade! — Bethany me olhou


animada.

— Que novidade? — disse confusa.

— Você e Johnny Jackson. Viram vocês ontem, isso é


inacreditável! Pensei que nem se gostassem.

Comecei a rir, o que tinha para fazer?

— Nós não estávamos saindo. E continuamos não nos


gostando. Foi só um mal entendido, um desencontro —
expliquei.

Deveria saber que iria dar nisso, tinha muita gente no bar
ontem a noite, muitos estudantes da Brown. Para falar a
verdade, Providence em si é um lugar cheio de
universitários.

— Iam ter outras pessoas lá, mas acabou que não


apareceram e ficamos só nós dois. Nada demais.

— Nada demais — Bethany debochou divertida.

— E é, esqueça isso. — Dei de ombros.

— Bem, se vocês não estão tendo nada, é bom você saber


que tem alguém te procurando — ela informou
desconfortável.

— Quem?
— Tim Stone.

— Ele foi lá me procurar?

— Sim, perguntou por você, disse que o bloqueou. Ele


parece realmente arrependido, Amber. Tem certeza que não
quer dar outra chance?

— Outra chance? O que ele fez foi imperdoável.

— Mas veja. — Ela deu de ombros. — Você deu outra chance


para Scarlett.

— Mas ela não era a culpada — afirmei zangada.

— Você mesma disse que se eles tivessem tido algo não se


importaria, querida — ela argumentou com cuidado.

— Não me importaria mesmo, mas ele a chamou de puta,


inventou mentiras...

— Ele não foi o único culpado.

— Bethany, por favor — suspirei. — Não o defenda, ele


machucou minha amiga.

— Você age como se só ela fosse sua amiga, e eu?! E as


outras meninas que você abandonou por ela?

Ela estava zangada e magoada, como se eu a tivesse traído.

É terrível quando se têm duas amigas que não se gostam,


você se sente em um constante campo de guerra e não
sabe qual lado escolher, ou como apartar a briga.
Desgastante.

— Eu não abandonei vocês — expliquei. — Ainda vou


aparecer sempre por lá, mas o que fizeram com ela foi
injustiça. Ela nunca deu em cima do namorado de ninguém,
foi humilhada, e ainda espalharam nudes dela.

Seus olhos se arregalaram e ela me olhou assustada.

— O que? — Bethany colocou a mão no peito.

— Espalharam nudes dela.

— Garanto que não foi nenhuma menina da fraternidade —

ela disse firme. — E se foi, irá sofrer as consequências.

Sabia que ela não tinha nada a ver com isso, podia odiar
Scar como fosse, Bethany nunca faria isso com outra
pessoa, ela tinha um milhão de defeitos, mas não descia tão
baixo.

— Não sabemos quem foi.

— Vão encontrar. — Apertou minha mão. — E vocês têm o


meu apoio.

— Isso é um começo pra você começar a gostar dela? —

arrisquei.

— Sabe qual o seu problema, Amber? — Neguei com um


movimento. — Você quer ser amiga de todo mundo, mas
não dá

para abraçar o mundo com as pernas, às vezes a gente tem


que escolher.

— Não acho que para gostar de alguém, tenho que


necessariamente, odiar o outro. Posso gostar de todos ao
mesmo tempo.
— Você é muito otimista, e pessoas assim acabam se
ferrando — ela suspirou. — Por isso me sinto na obrigação
de te proteger às vezes... Mas enfim, sei que não adianta
conversar sobre isso. Apenas apareça, estou com saudade.
— Ela me abraçou de novo. — E se precisar voltar, basta me
dizer, ok?

— Eu sei.

— Só não acabe com todas as suas amizades por conta de


uma.

Lhe lancei um olhar de repreensão, mas ela ergueu as mãos


em rendição e começou a se afastar. Mas me lembrei de
provocá-la sobre algo.

— Ah, Bethany — chamei e ela se virou para mim. — Fala a


verdade, está sentindo falta das velas e incensos da
Maddie, não é?

Ela me deu um sorriso divertido.

— Falando sério? Até estou. Cuide da ruivinha, ainda espero


que meu cabelo caia, todo dia confiro.

Rimos e ela acenou para mim, seguindo o seu caminho e eu


o meu, tinha três cachorros para adotar. Bem, parece que
apagaram as fotos da Scar, estou devendo um favor a
alguma boa alma.
JOHNNY JACKSON

— De novo, não vamos ficar em cima das nossas vizinhas.

Entenderam? — adverti em frente à casa da Amber,


encarando os quatro rostos à minha frente.

— Mas por baixo, pode? — Colin sugeriu relaxado encostado


do lado da porta.

O ignorei.

— Como disse, ela pode ser excêntrica às vezes...

— Deixe de implicar com a garota — Drake a defendeu.

— Estou falando a verdade...

— Eu a conheci — Drake me interrompeu, muito


convencido, como se tivesse conhecimento de causa,
enquanto batia na porta da frente. — Ela me pareceu mais
do que normal.

— JÁ VAIIIIII! — Uma voz que reconheceria em qualquer


lugar gritou do outro lado da porta, e menos de cinco
segundos depois Amber apareceu descabelada e corada,
provavelmente veio correndo atender a porta. Ela estava
com um short jeans curto e uma blusa branca de lado.

Estava sexy, que inferno.

— QUE FOFOS! VIERAM NOS VISITAR — ela gritou animada


enquanto nos olhava de cima a baixo. — Entrem! Entrem! —
Amber começou a nos puxar para dentro empolgada, mas
quando seus

olhos caíram em mim seu rosto murchou, adotando uma


expressão de desgosto — Como vai? — ela resmungou com
desprezo.

— De mal a pior. — Imitei sua expressão, deixando claro que


também preferiria estar em qualquer lugar.

— Fico feliz. — Ela fechou a porta com força e se virou para


os meninos sorrindo. — Estou em choque que vocês são
nossos vizinhos! Vou chamar as meninas.

Ela foi até a escada e gritou.

— MENINAS! DESÇAM AQUI! OS NOSSOS VIZINHOS

ESTÃO AQUI!

Por Deus, creio que toda a vizinhança sabia disso agora. Ela
já estava se preparando para gritar de novo, quando Colin
se apressou a interrompê-la.

— Oh, tenho certeza que elas já escutaram.

Naquele momento uma morena muito bonita desceu as


escadas, estava com uma roupa formal, parecia um
uniforme. Ela vestia uma saia social preta colada e curta,
uma blusa da mesma cor só que decotada. Parecia estar se
arrumando para sair, poderia apostar que trabalhava em
alguma boate bem chique.

Ela era meio bronzeada, natural, o cabelo castanho longo e


liso, o rosto era simplesmente perfeito, a garota tinha um ar
exótico, com lábios carnudos e os olhos de um tom lilás que
nunca vi antes.

Será que usava lente? Não parecia. Sem falar no corpo


espetacular e as tatuagens espalhadas separadamente nos
braços, que a deixavam ainda mais sexy. Era deslumbrante,
do tipo que causaria um acidente de trânsito sem muito
esforço.

— Puta merda, hein... — Colin murmurou atrás de mim.

— Scarlett Miller, como vai? — A morena sorriu de lado e


acenou para nós.

— Conheço você! — Tyler disse empolgado. — Já cursamos


uma disciplina juntos.

— É mesmo? Qual disciplina? — A garota perguntou


andando até a geladeira e a abrindo.

— Não me lembro, não consegui prestar atenção na aula —

Tyler respondeu babando em cima da Scarlett.

A casa delas estava uma bagunça, tinha coisas espalhadas


por toda a sala e cozinha. O ambiente tinha um conceito
aberto, dividia a cozinha da sala apenas por um balcão
grande. Então, quando a morena se abaixou para pegar um
pote de sorvete a bunda dela ficou bem na nossa vista.

Scarlett pegou o seu pote de sorvete e foi se sentar ao lado


da Amber em uma poltrona que mal cabia as duas.

E que merda hein. Elas assim uma do lado da outra... Eram


as duas garotas mais gostosas que já vi juntas.

— Que má educação a nossa! Sentem. — Amber indicou um


sofá roxo pequeninho que só cabia três de nós.

— Ai! — Taylor pulou do assento quando sentou na ponta do


sofá.

— Cara, você acabou de sentar em um pau — Colin fez


questão de avisá-lo, sentando em uma cadeira.
Taylor tirou debaixo de si um vibrador verde e o estendeu
para Amber, que começou a rir.

— Mil desculpas. Esse não é meu, é seu, Scar? — Amber


apontou o vibrador para a amiga, que pensou sobre.

— Não, esse é verde, só pode ser da Maddie.

— Ela é ambientalista — explicou Amber quando a olhamos


sem entender.

— E até os vibradores dela têm que serem verdes? Isso que


é ser fiel à causa — Colin brincou.

— De qualquer forma, desculpa. — Amber apontou o


vibrador para Taylor ainda rindo.

— Não se desculpe, ele gosta — provocou Tyler.

— Gay — Taylor esclareceu sorrindo tranquilo para elas.

— Arrasou. — Scarlett piscou para ele.

— Vocês são irmãos, né? — Amber alternou o olhar entre


Taylor e Tyler.

— Gêmeos — Tyler disse ainda de pé.

Ele não iria se sentar, a bunda ainda estava assada.

— Vocês são idênticos. — Amber os mediu com os olhos. —

Mas ele é maior — constatou observando Taylor. — Você é


mais magro. — apontou para Tyler.

— Mas meu pênis é maior — Tyler gabou-se para ela e


revirei os olhos.
— É mesmo? — Amber arregalou os olhos. — Pensei que
gêmeos tivessem tudo igual. Você sabia disso? — Ela se
virou abismada para a amiga que se limitou a balançar a
cabeça negativamente.

— Nunca tinha pensado sobre isso também. — Scarlett deu


de ombros e comeu o seu sorvete.

Um som de alguém descendo as escadas chamou nossa


atenção e em menos de dois segundos outra garota surgiu
na sala.

Ela usava roupas de ginástica cinzas, provavelmente estava


fazendo algum exercício, pois as suas bochechas estavam
coradas.

A garota tinha o cabelo longo meio ondulado, loiro


platinado, quase branco, olhos azuis acinzentados e gentis.
Era um pouco pálida, mas os seus lábios acabavam se
destacando por serem muito rosados, uma beleza delicada.
Tinha uma postura perfeita, parecia até uma bailarina,
elegante e simpática. Muito bonita, magra e esguia, parecia
uma boneca de porcelana.

Meu Deus, todas as mulheres daquela casa eram


espetaculares?

— Olá. — Ela acenou para nós, enquanto sentava no braço


da poltrona que suas amigas estavam. — Desculpem a
demora. Sou Sienna Vega — se apresentou. — Então, sobre
o que estavam falando?

— O pênis dos gêmeos — Colin se apressou a contar.

— Você sabia que gêmeos tinham pênis de tamanhos


diferentes? — Amber perguntou ainda impressionada com o
assunto.
— E é? — Sienna ficou confusa, franzindo o rosto adorável.

Pensei que fosse tudo igual.

— Não é — Tyler falou convencido e Taylor revirou os olhos.

— Podemos mudar de assunto? — pedi tentando lembrá-los


que estávamos ali com um propósito.

— Cadê Maddie? — Amber olhou ao redor procurando


alguém e quando não achou se virou na poltrona em
direção às escadas. — MADDIE!

Incrível como fui o único que não me assustei.

— Acho que perdi um tímpano — Drake sussurrou para mim


e lhe lancei um olhar que dizia “não avisei?”.

— Está meditando — informou Sienna para Amber.

— Oh, é mesmo. — Amber se voltou para nós como se fosse


contar um segredo. — Esse é o horário da meditação dela,
então vamos falar baixo.

— E ela consegue meditar aqui? — perguntei surpreso,


recebendo um olhar de repreensão do Drake.

— Bem, nem chegamos a nos apresentar. Acho que já


conhecem Johnny e Drake, eu sou Colin Scott e esses são
Tyler e Taylor Hunt. — Elas pareciam encantadas por tudo o
que Colin dizia.

Ele lhes deu um sorriso charmoso e piscou para elas, as três


garotas suspiraram no seu assento.

Revirei os olhos. Colin tinha os olhos azuis e levemente


caídos, cabelo castanho claro, era alto e musculoso, tinha
aquele ar charmoso e descontraído. Falando sério? Ele
parecia uma versão mais nova do Chris Evans.

— Você não vai se sentar? — questionou Sienna


delicadamente vendo Tyler em pé.

— Ele está com a bunda assada — Drake riu e Tyler lhe deu
o dedo do meio.

— Oh! — Amber faz um O com a boca.

— Tenho uma pomada que pode resolver essas coisas...

— Não esse tipo de queimadura — Tyler interrompeu


Scarlett.

— Peguei sol demais.

Enquanto Tyler respondia, três cachorros grandes entraram


na sala correndo, subindo em cima de mim, Drake e Taylor.
Amber e Scarlett se levantaram para pegarem eles, eram
SRD adultos.

Dois eram brancos e o maior preto.

— Desculpem! Eles não foram educados ainda! Pegamos


eles hoje — Scarlett desculpou-se enquanto puxava os
cachorros para longe de nós.

Assim que acalmaram os cachorros, elas voltaram a se


sentar na poltrona.

— Eles não são lindos? — Amber olhou para nós esperando


uma confirmação, e nos limitamos a balançar a cabeça

positivamente. — Esse é Brad Pitt. — Apontou para o


cachorro preto maior. — Essa é Jennifer Aniston — disse
indicando a cadela branca. — E essa é...
— Deixe-me adivinhar, essa é Angelina Jolie — Colin a
interrompeu.

— Sim. Como soube? — perguntou Amber.

— Não sei, olhei para ela e lembrei da Angelina Jolie.

Bufei.

— O moço do abrigo disse que eles vivem um triângulo


amoroso. Parece que Brad Pitt não se decide com qual das
duas quer ficar, então tem dias que ele está com uma, em
outros está com a outra — Amber explicou.

— Brad Pitt é do meus. — Drake se aproximou e afagou a


orelha do cachorro.

Lancei um olhar para Colin, o avisando que esse era o


momento para convidá-las.

— Bem, já que somos vizinhos agora. Vocês já estão


convidadas para irem a todas as festas que dermos.

— Vão fazer alguma coisa na sexta-feira? — completou


Drake.

— Nada programado — respondeu Sienna.

— Vou estar de folga na sexta — disse Scarlett.

— Onde você trabalha? — perguntei por educação.

— Sou recepcionista de uma boate, mas amanhã estou livre.

— Ótimo — sorri. — Então vocês deveriam sair com a gente.

As duas meninas ficaram empolgadas, mas Amber não. Ela


não queria me ver tão cedo na sua vida, e se dependesse
de mim também não a veria.

— O que vão fazer na sexta? — ela sondou desconfiada.

— Vamos a um bar novo que abriu, vocês poderiam ir com a


gente — Colin soltou.

— Pode ser... — Amber cedeu ainda indecisa.

— Acho que meu namorado me mataria se deixasse passar


essa oportunidade, ele é um grande fã de hóquei — contou
Sienna.

— Nós vamos sim — Scarlett decidiu.

Elas cederam! Esse é o ponto, e se passássemos mais


tempo ali, sei que Amber mudaria de ideia. Por isso me
levantei puxando Drake e Taylor comigo, sinalizando que
estava na hora de irmos.

Tyler se virou para elas.

— Bem, foi legal conhecer vocês, eu ia até trazer uns


brownies...

— Oh, adoramos brownies. — Sienna ficou animada.

Não, a última coisa que precisava era que Tyler desse seus
brownies para nossas vizinhas, podia ter tudo neles.

— Vocês ficariam alucinadas por eles — Colin sorriu.

— Outra hora. — Empurrei Tyler junto. — Temos que ir já.

— Ora, por que tanta pressa? — Amber nos olhou sem


entender.

— Temos que passar pomada na queimadura do Tyler. —


Colin piscou para elas.

— Sinto muito. — Sienna deu um olhar de pena para a


bunda de Tyler.

— Sim — completei já me dirigindo à porta. — E se


demorarmos muito, fere, cria cascas, até bolhas.

Tyler me olhou com ódio.

— Que horror. — Sienna botou as mãos na boca.

— Isso é terrível — Scarlett apiedou-se.

— Não é verda...

— Bem, vemos vocês na sexta à noite, meninas! — Colin


interrompeu Tyler já fechando a porta.

Elas se limitaram a acenar para nós sem entender enquanto


a porta se fechava. Assim que chegamos na nossa casa,
respiramos aliviados.

— Elas são gatas pra caralho! — Colin encostou a cabeça na


porta.

— O pecado mora ao lado, irmão — Drake concordou.

— E ainda tem mais uma — Taylor nos lembrou.

— Vocês viram como ela nomeou os cachorros? —


perguntei, porque era a única coisa em que conseguia
pensar.

— Só quero saber por que minha bunda foi usada como


desculpa. — Tyler colocou as mãos no quadril exigindo uma
explicação.

— Por que sim — todos falamos ao mesmo tempo.


AMBER FOSTER

Por que sempre que topo me encontrar com Johnny Jackson,


ele foge logo em seguida? Foi o que me perguntei ontem
durante todo o dia, e ainda hoje pela manhã.

Eu e as meninas ficamos a noite contando à Maddie quem


são os nossos vizinhos. Sim, acho que todas nós já
sabíamos quem eles eram antes de se apresentarem. Eu só
não conhecia Tyler Hunt, acho que ele não jogava hóquei,
mas o resto sim.

Colin Scott, Drake Cross, Johnny Jackson, por Deus, os


homens mais bonitos do campus resolveram se juntar em
uma só casa?

Peguei a coleira dos meus novos cachorros e tentei segurá-


los no lugar. Era bem cedo, acho deveriam ser umas seis da
manhã, mas era uma rotina que prometi a mim mesma
cumprir. Iria levar meus cachorros para passear todas as
manhãs.

Deixei meus bebês no gramado por um momento, para


pegar a guia do Brad Pitt em casa. O problema é que
quando voltei peguei Jennifer Aniston fazendo cocô bem na
entrada da casa de Johnny.

Ah, mas que merda! Literalmente.

— Jennifer Aniston! Isso foi muito sem classe. — A arrastei


para onde os outros estavam muito bem comportados,
sentados vendo tudo. — Estão vendo? Não sigam o exemplo
da irmã de vocês.

— Mas que merda é essa?


Johnny estava na entrada da sua casa vestido com uma
camiseta preta, calça de moletom cinza, boné e um tênis de
corrida.

Ele ficou olhando para o tênis sujo, puto.

Ótimo, ele pisou no presente da Jennifer Aniston, e Deus...

Vê-lo puto é tão engraçado.

— Merda — respondi, pegando meus cachorros enquanto


ele caminhava na minha direção.

— O que? — Ele respirou fundo e olhou para mim esperando


uma explicação.

— Você perguntou “que merda é essa”, eu respondi.

— Você botou seus cachorros pra cagarem na minha porta?

— Ele colocou as mãos no quadril, zangado.

— Talvez não tenham sido eles. — Dei de ombros e iria


negar até a morte. Não era isso o que uma boa mãe deveria
fazer?

Proteger os seus filhos?

— E quem foi então?

— Não sei, devem ter outros cachorros da vizinhança. Quem


sabe até mesmo uma pessoa. — Me virei e já fui procurando
ajustar as guias dos cachorros no meu pulso.

— Uma pessoa? — ele ironizou.

— Sim, hoje em dia, se pode esperar tudo das pessoas.


— Isso é verdade. Não adianta negar, Amber, foram os seus
cachorros, eu sei disso.

— Como pode ter tanta certeza? Tem provas? — Ergui a


sobrancelha em desafio.

— Tenho, elas estão na minha frente. — Apontou para os


anjinhos que assistiam nossa discussão calados.

— Já disse que não foram eles, e eu não minto — menti. —

Agora, faça-me o favor de sair da minha frente.

— Como tem a cara de pau de negar? — Ele me mostrou o


tênis sujo, que fedia muito, por sinal. — Você e esses seus
malditos cachorros...

— Malditos cachorros? Eles têm nomes.

— Nomes? Você está falando dos nomes ridículos que você


deu a eles?

— Qual o problema com os nomes deles?

— Brad Pitt? — Ele riu em deboche.

— Qual o problema? Brad Pitt ficaria honrado. — Coloquei as


mãos no quadril, irritada.

— Eu não quero saber do Brad Pitt, o que sei é que se não


sabe cuidar de cachorros, não os tenha.

— Você sabe por acaso? — ironizei.

— Não preciso, não tenho cachorros.

— Graças a Deus.
— Mas se tivesse eles seriam educados. Não fariam cocô na
porta dos vizinhos.

— Quem é você para falar da educação deles? Por acaso


além de jogador de hóquei também é adestrador? — Podia
apostar tudo que tinha que ele estava gostando de me
provocar.

— Não, mas seria bom contratar um. Pra eles e pra você
também.

— Vá à merda, Johnny.

— Já pisei nela hoje.

— Pois que ótimo — Mirei com toda a minha raiva o seu


tênis branco sujo. — Espero que a mancha não saia.

— E espero que você os mantenha longe da minha casa.

— Não foram eles — continuei a mentir. — E mesmo se


tivessem sido. — Ele ergueu a sobrancelha. — O que não foi
— me apressei a dizer. — Teria sido merecido.

— Você não podia ser uma pessoa normal, não é? Admitir


que foram eles, pedir desculpa e limpar a porra da merda.

Iria fazer exatamente isso, mas depois que ele saísse...


Nunca na frente dele, não iria admitir que estava certo.

— Tenha um bom dia, Johnny. Vamos, crianças. — Foi o que


me limitei a dizer.

— Ele já começou uma bosta.

Eu ri. Porque foi engraçado, me julgue. Ele me olhou com


mais ódio ainda, mas começou a sua corrida, se afastando
de nós.
Parecia que queria abrir uma distância de quilômetros entre
nós, e eu apoiava totalmente. Ele corria rápido como o
maldito atleta que era, seus músculos começavam a
flexionar e mesmo de longe ainda dei uma secada. Olhar
não tira pedaço, não é?

Estávamos bem distantes, pois eu não andava tão rápido


quanto ele, mas os meus anjinhos queriam o acompanhar.
Meus cachorros queriam correr, com certeza não estavam
acostumados a

passear, acho que eles pensaram que estavam nas


Olímpiadas competindo, pois começaram a correr muito
rápido. Eu não conseguia mais nem os acompanhar nem os
puxar.

Em algum momento eles alcançaram Johnny e se meteram


entre as suas pernas, o fazendo perder o passo e se
desequilibrar.

Peguei o braço do jogador de hóquei tentando segurá-lo


enquanto os cachorros continuavam a me puxar na sua
corrida. Mas foi inútil, Johnny caiu para trás em um gramado
de uma casa comigo junto.

E os cachorros? Puxaram tanto a guia do meu braço que ela


saiu, eles continuaram sua maratona me deixando sozinha
em cima de Johnny.

— Que inferno, Amber! — ele resmungou embaixo de mim.

Passou um braço na minha cintura e tirou o cabelo do meu


rosto com cuidado com a outra mão.

— Você se machucou? — perguntou preocupado.


Eu não tinha me machucado, mas estava hipnotizada pelos
olhos dele, eram de um tom preto forte, que de alguma
forma me prendiam.

A luz da manhã bateu no seu rosto, só para mostrar como


ele era bonito. Olhei mais para baixo vendo os seus lábios
vermelhos e carnudos, deveriam ser macios... Sem pensar
direito levei minha mão até seu rosto, desenhando os seus
traços com a ponta do dedo.

Assim que nossas peles entraram em contato ele fechou os


olhos e respirou fundo, como se estivesse se deleitando com
o contato. Estávamos tão perto que o seu cheiro entrou na
minha respiração, me inebriando. Embriagando-me.

Não resisti, passei o polegar suavemente por sua boca, que


se abriu para mim, assim como seus olhos. Ele me encarou
com tanta intensidade que me senti afogar, e acredite, não
usava essa palavra levianamente. Não sei o que tinha ali.
Talvez um toque de desejo, outro de fascínio, ansiedade. Era
tudo ao mesmo tempo.

— Você se machucou? — ele perguntou de novo, o mais


suavemente possível, passando a mão tatuada no meu
rosto com tanto carinho que quase derreti.

Sua mão era tão morna e quente, bem-vinda, gostosa. Ele


acariciou minha bochecha e ficamos nos olhando. Acho que

estávamos presos em uma bolha, em algo só nosso. Um


momento só nosso.

Ele levou o meu rosto mais para baixo e nossos narizes se


roçaram. Senti-me queimar como fogo. Ele me apertou mais
contra si, e eu desci minha mão até o seu pescoço,
acariciando o seu cabelo macio.
Respirei pela boca, pois o ar precisava sair. Estávamos tão
próximos que nossas respirações se misturaram, e se me
inclinasse um pouco mais nossos lábios se tocariam.

— Não — sussurrei para ele, as minhas palavras saindo da


minha boca e entrando direto na dele, que estava
entreaberta, como se esperasse que eu o beijasse a
qualquer momento.

— Que bom — respondeu ainda alisando minha bochecha.


Agora você admite que foram eles que fizeram cocô na


minha porta?

— Sorriu para mim.

— Nunca. — Lhe dei um sorriso travesso, fazendo o dele


crescer mais ainda.

— Você é uma péssima mentirosa.

— Você é um péssimo corredor. Como deixa três cachorros


te derrubarem assim? — brinquei, fazendo-o me olhar
divertido.

— E como foi que você parou aqui em cima de mim? — ele


sussurrou e fiquei mais ciente ainda de todo o seu corpo
contra o meu. Do seu peito contra o meu, das suas pernas
enroscadas nas minhas, dos nossos narizes roçando.

— Fui tentar te segurar, veja só o que acontece quando sou


prestativa.

— Então, estou te devendo um favor agora. — Ele continuou


a alisar minha bochecha.
— Sim, posso te pedir qualquer coisa.

— Então peça.

— Pode ser qualquer coisa?

— Qualquer coisa. — Ele piscou para mim.

— E se te pedir para me contar algo constrangedor sobre


sua vida? — arrisquei.

— Vou falar. — Deu de ombros.

— Tá, mas lembre-se que foi você que me deixou perguntar.

— Ele me deu um olhar impaciente.

— Eu sei que você vai me perguntar a coisa mais aleatória


do mundo mesmo.

— Como foi sua primeira vez?

— Ah, pelo amor de Deus, bote constrangedor nisso —

resmungou.

— Você disse que ia contar. — O cutuquei na barriga, e ele


se contorceu, me segurando mais apertado.

— Tá. Foi na caminhonete do meu pai — ele falou.

— Sim? E o que mais? Detalhes. — O cutuquei de novo,


nada na vida iria se comparar a ouvir uma situação
constrangedora do Sr.

Fodão.
— Passei trinta minutos tentando botar a camisinha —
revelou e comecei a rir. — Depois disso, quando entrei nela
não durei trinta segundos.

— Não acredito. — Ri tanto que minhas bochechas doeram.

— Ela deve ter ficado puta.

— Ela ficou. — Ele riu também. — Você tinha que ter visto a
cara dela quando gozei, acho que queria me bater.

— Coitada. — Ri tanto que acabei me virando de lado e


saindo de cima dele, ficamos os dois rindo olhando para
cima.

— E você? Como perdeu a sua? — Ele virou o rosto para


mim.

— Quem disse que perdi? Ainda sou virgem. — Tentei fazer


a cara mais séria que consegui. Mas o desgraçado começou
a rir, gargalhar.

— Você pode ao menos fingir que acredita? — Lhe dei um


empurrão no ombro.

— Amber... É mais fácil eu ser virgem do que você. — Ele


limpou os olhos que lacrimejavam.

— Ha-ha-ha-ha — debochei. — Foi com um cara que nem


lembro o nome, simplesmente sentei e pronto. Virgindade
perdida.

— Profundo.

— Mas é verdade, as pessoas que querem ficar criando essa


coisa com a virgindade da mulher. É uma besteira, só um
hímen, dá
pra perder com um absorvente interno. Tudo bem que tem
mulheres que preferem fazer disso algo romântico. Mas tem
outras que acham isso a maior besteira criada pela
humanidade.

— Verdade. Foda-se a virgindade. — Ele ergueu o punho


para mim e demos um soquinho em parceria.

— Essa é sua namorada, Johnny? — Um menino gordinho


que deveria ter uns 10 anos apareceu do nada ao nosso
lado.

— Você não deveria estar indo pra escola, Ozzy? — Johnny


olhou o garoto com repreensão paterna.

— Nós odiamos a escola. — Outro garoto mais velho, que


deveria ter uns 12 anos apareceu.

— Você é namorada dele? — O mais novo perguntou mais


uma vez, ainda curioso.

— Não, ele não tem tanta sorte assim. — Sorri e o


menininho ficou vermelho. Fofo.

— Então... Você é solteira? — Um terceiro garoto de óculos


apareceu do lado deles, e constatei que era gêmeo do que
aparentava ter 12 anos, pois eram quase idênticos.

— Quem são vocês? — perguntei curiosa e divertida pelo


atrevimento deles.

— Nossos vizinhos — respondeu Johnny se levantando do


gramado e estendendo a mão para me ajudar.

— Pensei que só tivéssemos vizinhos universitários e


festeiros
— brinquei avaliando as três crianças à minha frente.

— Eles são a única família morando aqui. Mas como os pais


os deixam andar soltos por aí, eles acham que são
universitários também. — Johnny lançou a eles toda sua
ironia, e os gêmeos reviraram os olhos.

— Um dia seremos, que diferença faz? — Um dos gêmeos


disse e sorri para eles.

Gostei desses garotos. O menor se escondeu envergonhado,


mas parecia ser atrevido também.

— Vocês estavam se beijando no nosso gramado. — Acusou


o menor apontando para nós, protegido atrás do irmão.

— Oh... E você estava espiando, hein? — provoquei só pra


vê-lo ficar com mais vergonha ainda.

— Mais uma vez, por que não estão na escola? — Johnny


ativou o seu modo capitão, pois colocou as mãos no quadril
esperando uma explicação.

— Não temos aula hoje. — O gêmeo que parecia mais


atrevido disse com convicção, mas não acreditei nele.

— Feriado. — Seu irmão de óculos concordou.

— É mesmo? Feriado de quê? — Johnny insistiu.

— Dia da Independência — inventei piscando para eles.

— De quem? — ironizou Johnny.

— Ora de quem, das crianças. — Decidi ajudá-los, Deus


sabe quanto já matei aula. Nadinha. — Agora nós já vamos,
não é? Já que você me jogou no chão ao menos deve me
ajudar a encontrar os meus cachorros.
— Eu te joguei no chão? — Johnny ergueu a sobrancelha
com deboche.

— Sim, se você não se metesse na frente dos meus


cachorros, estaria plena no meu passeio da manhã. Tchau,
crianças, aproveitem seu feriado. — Acenei para eles e
arrastei Johnny para longe, recebendo olhares de admiração
dos meninos.

— Eles vão matar aula, eu deveria ir falar com os pais deles.

— Não seja chato, nunca matou aula na escola?

— Não. Nunca.

— Pois eu era a mandante. — Pisquei para ele e


continuamos a caminhar lado a lado. — Quando matava
aula, convencia todo mundo a ir comigo.

— Não duvido disso.

— E você era aquele garoto chato que seguia todas as


regras e ninguém suportava — arrisquei.

— As garotas suportavam... — disse sugestivamente e


revirei os olhos.

— Onde estão os meus anjinhos? — perguntei olhando as


casas, procurando meus cachorros.

Mas não demorou muito, eles estavam fazendo cocô em


outra casa à nossa frente.

— O que você tem a dizer sobre isso? — Johnny se virou


para mim muito convencido, e pegou minha mão para
atravessar a rua,

como se eu fosse uma criança. Gostei daquilo.


— Isso não prova nada, eles devem ter ficado apertados.

— Onde você arrumou esses cachorros cagões? — Ele


pegou as guias deles no chão.

— Eles não são cagões — defendi me abaixando para limpar


o “serviço” que eles fizeram no gramado com um kit que
trouxe. —

Eles só têm o intestino solto.

Johnny já tinha colocado a guia deles no braço, que


diferente de mim, sabia guiar eles direito.

— Acho que eles pensaram que estavam em uma maratona

— falei já me juntando a eles e caminhando de volta para


casa.

— Acho que você não sabe passear com seus cachorros.

— E eu acho que se você quiser encontrar o seu gramado


limpo, deve se manter calado — ameacei, e ele me olhou
em desafio.

Não, querido, não vou admitir.

— Vou instalar uma câmera na minha varanda.

— Pode instalar. — Dei de ombros despreocupada. — Você


não vai pegar nada dos meus cachorros, garanto.

Nos olhamos de canto ao mesmo tempo e trocamos um


sorriso. É, talvez ele não fosse tão terrível às vezes. Mas só
às vezes.

Caminhamos em um silêncio ameno até chegarmos à minha


casa, peguei dele a guia dos cachorros e me despedi.
— Não pense que isso é uma trégua. — Ele caminhou até
sua casa e gritou de lá: — Ainda não gosto de você.

— É recíproco — devolvi. Mas não consegui me segurar. —

Só cuidado para não pisar de novo na merda — soltei, o


vendo olhar para a entrada da porta, onde ia pisando de
novo no cocô.

— Ah, sua...

Não o deixei terminar, pois entrei depressa em casa e fechei


a porta rindo, muito satisfeita por vê-lo perder a paciência
de novo.

O que tinha de tão bom nisso?

JOHNNY JACKSON

— Ela vai se casar! — Minha mãe gritou assim que atendi o


telefone.

— Quem? — perguntei enquanto colocava minhas roupas


dentro do armário. Tínhamos recém terminado o treino, e
estava morto.

— Adele! — Se referiu à minha prima. — Você tinha que ver


como foi o pedido, tão romântico... — Ela suspirou, e me
limitei a revirar os olhos. Não existia mulher mais romântica
nesse mundo do que Alexandra Jackson, ela achava que
todo mundo devia se casar, assim como as minhas outras
duas tias. Elas eram o trio casamenteiro de Nova York.

— Você vem ao casamento, claro — determinou. — Pode


trazer alguma moça também... — Ela sondou esperançosa.

— Mãe, por favor.

— É só uma sugestão...

— Quando é o casamento? — interrompi-a.

— Ainda não tem data definida, mas não deve demorar, eles
estão tão apaixonados...

— Como vão os jogos, filho? — Meu pai perguntou,


conseguindo pegar o celular da Sra. Romântica.

— Ei, pai. Temporada ainda vai começar, o primeiro jogo


será contra Yale — informei tentando entrar em minhas
calças.

— Vamos assistir! Não se preocupe muito, já está no papo —

ele garantiu empolgado.

Thomas Jackson era o meu maior fã, desde que coloquei uns
patins nos pés ele reconheceu meu talento e investiu tudo
nisso.

— Eles são bons também...

— É, mas você é a primeira escolha no Draft, nada supera


isso — ele falava com tanta confiança que me causava uma
pequena ansiedade.
— Bem, já tenho que sair agora, nos vemos depois. Amo
vocês — me despedi fechando meu armário.

— Amamos você — minha mãe gritou e desligou.

Suspirei aliviado. Sempre que ouvia nos canais esportivos


ou redes sociais “Johnny Jackson, a primeira escolha no
Draft” me causava um arrepio na espinha. Será que as
pessoas não percebiam que aquilo era muita pressão?

Ser definido como “o melhor” com certeza eleva o ego de


qualquer um, mas também da um certo medo de
simplesmente decepcionar a expectativa que todo o país
depositou em cima de mim. Além disso, por mais que essas
apostas sejam certeiras, não tem como saber se vou ser
exatamente a “primeira escolha”.

E o pior é que devia isso ao meu pai. Ele apostou em mim,


comprou material, me levou aos treinos, pagou mais do que
um mecânico podia, e eu estava ansioso para devolver tudo
a ele em dobro depois. Assim que fechasse meu contrato,
daria uma boa bolada para eles.

Sentindo meu celular vibrar de novo o peguei para ver uma


mensagem do Benny.

Benny: Estou nervoso. O que faço?

Eu: Apenas apareça lá. Já é um bom começo.

Benny: Vou aparecer.

A sexta-feira chegou rápido, e iríamos sair com as nossas


vizinhas gostosas. E eu tinha que dar um jeito de fazer
Benny e Amber acontecerem. Só aquele pensamento já me
causava ânsia de vômito e raiva. Eles não tinham nada a
ver! Lógico que não falaria isso para ele, poderia ficar
ofendido achando que o problema é com

ele, mas não é. Eles simplesmente não combinavam, é um


fato.

Fonte? Vozes da minha cabeça.

Tudo bem, podia admitir que me sentia atraído pela garota...

Tive que usar tudo de mim para não a beijar no dia que caiu
em cima de mim. Depois daquele dia tive que passar a
evitá-la, ou era isso ou cometeria uma besteira.

E já chega de cometer besteiras na minha vida.

Era tudo demais, o cheiro, a pele macia, o jeito


descompensado dela, a maneira como falava tudo que lhe
vinha à cabeça, seu senso de humor contagiante e atrevido.
E tudo isso contando que nem mesmo gostávamos um do
outro, como é possível se sentir atraído por alguém que te
irrita o tempo todo? É

algo que nunca senti antes.

Caminhei até Colin, Drake e Taylor que já estavam me


esperando na entrada do vestiário, prontos para encontrar
com nossas vizinhas. E eu pronto para ativar o modo
cupido.

É, hoje tinha que dar tudo certo.

Colin estava quase comendo uma morena na nossa frente, a


garota montou no seu colo, e a mão dele estava dentro do
seu vestido. Todo mundo sabia que ele a estava
masturbando, mas já estávamos acostumados com aquele
tipo de show.

Dei um gole na minha bebida tentando desviar a atenção do


espetáculo.

— Ei, pessoal. — Benny chegou por trás de mim


cumprimentando todo mundo com um aceno tímido.

— Ei, Benny — eles gritaram por cima da música.

Benny encarou assustado Colin chupando o pescoço da


morena que se contorcia no seu colo, acho que não faltava
muito para gozar.

— Ei, Benny. Quer um pouco? — Tyler ofereceu sua maconha


para ele, o japonês já estava chapado.

— Não — respondi por Benny, lançando um olhar de


reprimenda para Tyler. — E pare de oferecer drogas para as
pessoas.

Tyler ergueu as mãos em rendição, muito relaxado.

— Elas já chegaram? — Benny se remexeu nervoso do meu


lado.

— Não, até oferecemos carona, mas disseram que vinham


depois — Taylor contou olhando um cara atrás de nós
dançar.

— Tente conversar com ela, diga que está gostosa, essas


coisas — aconselhou Drake chegando por trás do Benny,
segurando uma bebida.

— Humm... Isso — gemeu a garota no colo do Colin, fazendo


algumas cabeças olharem na sua direção e assistirem o
sexo ao vivo.

Procurei pelas meninas na multidão, o lugar tinha pouca


iluminação, mas era impossível não ver a loira de vestido
branco que olhava ao redor parecendo nos procurar
também.

Cara, ela estava tão linda. Parecia um anjo. Seu vestido era
curto, meio solto, de mangas compridas, o tecido se soltava
quando chegava nas mãos, fazendo as mangas parecerem
asas. Ela usava uns brincos prata, e estava tão
malditamente perfeita que senti meu coração acelerar.

Quando seu olhar cruzou com o meu ela me deu aquele seu
sorriso bobo e acenou animadamente para mim. Sorri de
volta para ela, era impossível não sorrir de volta. Senti uma
súbita vontade de caminhar até ela e abraça-la, como se
estivesse com saudade... Que tolice.

Acho que desde a nossa caminhada cheguei àquele


entendimento, têm momentos que estou encantado por ela,
e têm momentos que estou tentando matá-la.

Amber puxou Scarlett, que só agora notei que estava do seu


lado, assim como Sienna e um cara de camisa polo, ele
tinha o cabelo castanho muito bem arrumado e olhos da
mesma cor, envolvia o braço na cintura de Sienna, supôs
que era seu namorado.
— Oi, pessoal. — Amber acenou para os caras que lhe
devolveram o cumprimento. — Como vai? — Ela sorriu para
mim.

— Bem, não andei pisando em nenhuma merda. E você? —

brinquei.

— Oh, já descobriu quem fez aquilo na sua porta? — Se fez


de desentendida.

— Não, mas logo descobrirei. Instalei uma câmera na porta


da frente — menti.

— Está certíssimo, a vizinhança anda perigosa.

Sorrimos um para o outro como dois idiotas quando um


gemido nos interrompeu.

— Ahh! — A garota no colo de Colin pareceu finalmente ter


atingido o seu ápice. Ele levantou a cabeça e fitou nossas
vizinhas, dando um sorriso safado para elas, todo
descabelado.

— Como vão, meninas? — gritou da sua cadeira para elas.

— Eu? Estou bem, mas você parece ótimo. — Amber sorriu


para ele.

— Não me apresentei. Michael Terry, namorado de Sienna.


O cara ao lado da garota gentil se empolgou ao apertar


minha mão.

— Sou um grande fã seu! Com certeza vai ser a primeira


escolha no Draft.
Fiquei desconfortável por um segundo, mas logo disfarcei.

— Espero que assista nossos jogos esse ano — comentei, e


foi só então que me lembrei do Benny atrás de mim, mas
Amber pareceu percebê-lo antes.

— Benny! Não sabia que vinha! Até chamei Nelly, mas ela
disse que estava estudando hoje. — Ela deu um beijo no
rosto dele, o manchando de batom.

— Ei, Amber — falou colocando as mãos no bolso.

— Meninas, esse é o Benny, ele faz algumas disciplinas


comigo — ela apresentou, enlaçando seu braço no dele e
Sienna lhe deu um sorriso gentil.

— Vou pegar bebidas pra gente — Scarlett disse para


Amber.

— Vamos virar?

— Na hora.

— Vocês pegam pesado então, hein? — zombou Drake.

— Com certeza, vocês não conseguiriam nos acompanhar —

provocou Amber.
— Ouviu isso, Colin? — gritou Drake fingindo estar ofendido.

— Acho que isso é só lábia delas — brincou Colin se


aproximando. Pra onde tinha ido a garota que estava com
ele?

— Também. — Drake virou seu copo para mostrar que ele


não ficava para trás.

— Meninas... — Tyler surgiu do nada colocando os braços


em volta da Amber e Scarlett. — Como apareceram aqui? —
Ele estava nitidamente chapado.

Elas riram para ele, achando graça da sua situação.

— O que você andou experimentando? — perguntou


Scarlett divertida.

— De tudo um pouco — ele revelou arrastado — Mas tudo


muito limpo.

— Sei... — debochou Taylor filmando Tyler com o celular. —

Olha, mãe, como o Tyler tá hoje.

O maconheiro se assustou e tentou tirar o celular do irmão,


mas Taylor conseguiu driblá-lo e o empurrar para sentar em
uma cadeira.

— Aí, minha bunda, porra! — resmungou Tyler.

— Então, vocês vão virar ou não? — Drake se virou para as


meninas.

— Fechou.

Colin, Amber e Scarlett disseram ao mesmo tempo, e os


quatro foram ao bar pegar suas doses.
Aquilo parecia que ia dar merda. De quem foi a ideia de
juntar esses quatro? Ah sim, foi minha. Só esperava não ter
que levar ninguém arrastado dali.

— VAI, AMBER! VAI, AMBER! — Sienna e Scarlett gritavam


furiosamente, batendo palma e incentivando Amber a virar
outro copo.

— COLIN, SEU MERDA, VIRA ESSA PORRA! — Taylor, eu e


Drake gritávamos para o babaca virar tudo.

Elas estavam ganhando de nós. Sim. Estávamos perdendo


feio, Amber nos botou no chileno, e ela nem mesmo ficava
bêbada.

Era impressionante o controle que ela tinha. Cachaceira


nata.

Ela ganhou do Colin. De novo.

— CHUPAAA! — Ela apontou o copo vazio para ele, que se


limitou a lhe dar o dedo do meio.

Benny estava achando tudo muito divertido, ele não tomou


partido na competição.

— Você. — Apontei para a pilantra que nesse momento


estava se achando. — Comigo.

Ela estreitou os olhos para mim. Tinha plena consciência


que estávamos protagonizando um pequeno show aqui,
várias pessoas apostavam e olhavam na nossa direção
como se estivéssemos enlouquecidos.

— Você só vai se humilhar mais ainda, Johnny — ela


debochou.
— Oh, cara. Eu não a deixaria falar assim comigo —

incentivou Colin, tentando me fazer pegar pilha.

— Veremos — falei para a loirinha que parecia me desafiar.

Peguei meu copo e ela pegou o dela, nunca desviando o


olhar do meu.

— Agora! — gritou Drake.

Amber bebeu depressa o seu copo, o líquido descendo por


sua garganta era sexy. Ela não desviou o olhar do meu nem
por um único segundo. E foda-se, fiquei duro só de vê-la
assim, não sabia o que tinha de tão excitante em vê-la
beber.

Mas a cretina ganhou. De novo.

As meninas começaram a gritar animadas e os caras me


olhavam em negação.

— Bem... acho que vocês já perderam o suficiente por uma


noite — ironizou Scarlett.

— Quem diria? — Sienna continuou com a provocação. —

Jogadores de hóquei enormes assim... Decepcionante.

— Nós vamos lhe mostrar o que é decepcionan...

— Não caia na delas — Taylor interrompeu Drake.

— É isso o que querem — concordei apontando meu copo


para as três atrevidas à minha frente.

— Espero que sejam melhores jogando hóquei do que


virando bebidas. — Amber riu da nossa cara.
— Mas que atrevimento — arfou Colin.

— Não vamos jogar de novo, já estou com pena deles —

Sienna atirou sorrindo com Amber.

— Podem chorar aí à vontade, nós vamos dançar. — Scarlett


piscou para nós e foi com Sienna e Amber até onde as
pessoas se aglomeravam para dançar.

Nós nos limitamos a observá-las rebolar, parados como


tolos.

— Foda-se. Elas são provocadoras, mas excitantes —


admitiu Drake olhando para elas.

— De onde surgiram essas garotas? — Tyler balançou a


cabeça, abismado com a surra que elas nos deram.

— Não faço ideia. — Tomei mais um gole da minha cerveja e


Drake saiu da nossa mesa, certamente atrás de alguma saia
para entrar.

Queria. Mas tenho que servir de cupido. Um péssimo cupido


por sinal, já deveria ter sido demitido.

Quando vi Amber dançar não me aguentei e comecei a rir.


Por que ela era horrível, definitivamente ela não sabia
dançar, se jogava para qualquer lugar, fazendo qualquer
movimento. Mas eu observava o balançar da sua bunda e a
imaginava rebolando assim no meu pau, que por sinal tinha
uma ereção do cacete naquele momento.

É pecado ter pensamentos sujos com ela? Com certeza


deveria ser, é bíblico, não? “Não cobice a mulher do
próximo” ou algo assim. Se bem que ela não é mulher de
ninguém, e vai continuar assim se depender da timidez do
Benny, ele tem medo até de olhar para ela.

E você era para estar ajudando-o com isso.

Sou um cupido de merda. É definitivo.

— Benny — o chamei. — Vamos dançar. — Ele me olhou


assustado. — Você vai tentar dançar com ela.

— Ok. — Ele ajeitou nervosamente os óculos.

AMBER FOSTER

O cara é rápido, foi tudo o que pensei quando vi Drake


Cross agarrado com uma loira peituda.

Sabe quem também era rápida? Scar. Ela estava dançando


com um cara negro barbudo gato. Eu e Sienna estávamos
sobrando aqui. Por sinal, onde se meteu Michael?

— Cadê o Michael?

— Não sei, e nem quero me estressar com isso — Sienna


respondeu sem parar de dançar. Acho que os dois estavam
brigando na hora da competição de bebidas, mas não
prestei muita atenção na hora. Depois disso ela também
tomou algumas doses e estava tontinha já (mas sem perder
a pose, claro).
Sienna estava linda, ela usava um coque perfeito no cabelo,
deixando alguns fios loiros platinados caindo por seu rosto.
O vestido dela era curto e prata, combinando de alguma
forma com a sombra dos seus olhos.

Sienna me abraçou e ficamos dançando coladas, ela chegou


no meu ouvido e sussurrou um segredo:

— Não conte a ninguém, mas gosto dos nossos vizinhos.

— Eu sei — sussurrei de volta, achando graça em vê-la


bêbada. — Também gosto.

— Maddie diria que eles têm uma áurea boa.

— É a cara dela.

Maddie não pôde vir, ela tinha um encontro hoje, como


quase toda sexta-feira. Sim. Ela saía com um cara diferente
quase toda sexta, e sempre vinha com uma desculpa
diferente sobre como ele

não era adequado “Não tinha o signo compatível”, “O pé era


muito grande”, “A linha da vida na mão dele era muito
curta”, “Tinha mau hálito”. Tudo bem, essa última até que
era válida.

— Ai! — Senti um corpo atrás de mim e sem querer acabei


pisando no pé no alguém.

Assim que me virei vi Benny de olhos fechados pela pisada


que lhe dei com meu salto agulha. Oh, isso deve ter
machucado.

— Oh querido! Eu sinto muitíssimo! — desculpei-me quando


ele se contorceu de dor e se limitou a balançar a cabeça.
— Que merda — resmungou Johnny olhando para o pé do
amigo e tentando ajudá-lo a ficar em pé.

— Sinto muito! Não vi você atrás de mim — falei de novo


me sentindo culpada.

— Acho melhor tirar o tênis, para ver se não machucou. —

Sienna pegou Benny pelo braço com delicadeza.

Nós nos empurramos pela multidão até chegarmos onde


estávamos sentados. Onde no momento só se encontrava
Tyler —

chapado, diga-se de passagem — e Colin que estava


procurando seu copo na mesa.

— O que aconteceu? — perguntou Colin vendo Benny cair


na cadeira e Sienna se agachar para tirar o seu sapato.

— Amber pisou no pé dele com o salto — Johnny informou e


me senti mal. Oh, pobre Benny.

— Vou ver se arrumo gelo para ele. — Johnny se afastou de


nós e apontou para Colin antes de sair. — Fique de olho
nele.

— Não se preocupe, tenho tudo sob controle — garantiu


Colin convencido.

— Está doendo, querido? — perguntei para o ruivo.

— Acho que já está melhorando — respondeu Benny mais


aliviado agora que estava sem sapato. Sienna continuou
agachada observando seu pé.

— Deus, preciso de uma bebida — murmurei olhando para


nossa mesa cheia de copos.
— Cuidado! — gritou Colin sobre a música alta. — Não beba
o copo azul.

— O que? — Não escutei o que ele disse.

— Beber — ele gritou mais alto apontando para o copo azul.

— O copo azul.

— Tá bom — gritei de volta pegando o copo azul e o virando


de uma vez.

— O QUE VOCÊ FEZ? — Colin correu para tirar o copo da


minha mão.

— O que foi? — questionei sem entender.

— Eu disse para você NÃO beber o copo azul! — Ele olhou


para o copo como se fosse possível fazer o líquido voltar.

— Não — afirmei. — Você disse “Beber o copo azul” — repeti


exatamente o que ele disse.

— Puta merda! — Ele passou as mãos pelo cabelo.

— O que tinha nesse copo? — Sienna pareceu preocupada.

— É aí que mora o problema — Colin contou sério. — O copo


era do Tyler. — Ele fez uma pausa dramática, e todos nós
tememos o que viria a seguir: — Pode ter qualquer coisa
nele.

Olhamos em sincronia para Tyler jogado na cadeira muito


chapado. Sim, podia ter qualquer coisa ali.

— E agora? — Coloquei a mão no peito nervosa.

— Não sei, você está sentindo alguma coisa? — Colin me


avaliou de cima a baixo.

— Não. Pra falar a verdade estou me sentindo ótima. — E

estava mesmo. Ótima. Só estava me dando uma vontade


incontrolável de rir. Olhando para as caras do Colin, Sienna
e Benny que me encaravam como se eu fosse um animal
muito estranho no zoológico.

Comecei a rir descontroladamente.

— Johnny vai me matar. — Foi a última coisa que ouvi Colin


dizer.

JOHNNY JACKSON

Sabia que quando voltasse para mesa não encontraria as


coisas como deixei. Mas nada me preparou para a cena que
encontrei quando voltei.

Sienna estava segurando Amber pela cintura, que parecia


totalmente aérea e rindo para tudo ao seu redor. Colin
estava segurando Tyler pela camisa, o sacudindo e dando
tapas no seu rosto tentando acordá-lo. E Benny? Pulava de
um lado para o outro em um pé só segurando um copo azul.

Que diabo era isso? Não sabia o que tinha acontecido aqui,
mas só tinha uma certeza nessa vida. Tão certo como o sol
vai nascer amanhã. Isso, de alguma forma, era culpa do
Colin.

— COLIN! — gritei e ele largou imediatamente Tyler no seu


assento que caiu como se estivesse morto. Talvez estivesse
mesmo.

— O QUE VOCÊ FEZ? — berrei olhando Amber, que


observava tudo ao redor como se estivesse alucinada.

— Nada. — Colin pegou Amber da Sienna e a colocou na sua


frente, usando-a como escudo. — Ela bebeu a bebida do
Tyler. — E

foi tudo o que ele disse.

Puta merda! PUTA MERDA! Podia ter qualquer coisa ali.

Qualquer coisa.

— Ler. Ler. Ler — repetiu Amber debilmente.

— Mas o que é isso? — perguntei olhando-a sem entender.

— Não sei, ela fica repetindo o final das palavras que a


gente diz — Colin explicou.

— Iz. Iz. Iz. Iz. — repetiu Amber.

Deixei o gelo do Benny na mesa e fui até Tyler.

— Ele não acorda — informou Colin frustrado segurando


Amber.

Ah, mas ele ia acordar nesse momento. O peguei pela


camisa de novo e gritei feroz na sua cara.

— TYLER!
Ele acordou na mesma hora assustado.

— Que cretino, ele não acordou comigo — resmungou Colin


indignado.

— O que é isso? — Tyler olhou assustado para tudo ao redor,


mas ainda débil.

— O que tinha nesse maldito copo? — perguntei para ele,


que pareceu assimilar o que aconteceu enquanto olhava
para Amber nos braços do Colin.

— Oh, porcaria! — ele xingou. — Não se preocupem — se


apressou a dizer. — Não vai acontecer nada com ela.

Sério?

— Já está acontecendo. — Colin apontou para a garota nos


seus braços.

— Cendo. Cendo. Cendo — Amber repetiu sem parar.

— Ela vai ficar assim por uma meia hora no máximo, depois
vai voltar ao normal — Tyler contou bocejando, querendo
dormir de novo.

— Você não vai dormir, SEU BOSTA! — Agarrei-o pela camisa


de novo e ele me olhou temeroso. — O que tinha nesse
copo?

— Relaxa. Tudo muito limpo, nada grave, ela já volta ao


normal. Não vai passar mal nem nada. Juro. — Ele ergueu as
mãos.

E o soltei, sabendo que ele não brincaria com a saúde dela.

— Quais os efeitos disso? — Sienna questionou a Tyler.


— Isso. Isso. Isso. Isso — Amber murmurou.

— Talvez ela tenha pensamentos confusos, diga frases


incompletas e sem sentido — explicou Tyler. — Pode ter
risos descontrolados e o apetite sexual atiçado.

— Ótimo. Você acabou de descrever como ela já é


normalmente — disse e Sienna levantou um ombro em
concordância.

A tirei dos braços do Colin, e a coloquei com delicadeza


contra meu peito, ela se aninhou como uma gatinha.

— Cadê Taylor? — perguntei a Colin.

— Deve estar transando.

— E Drake?

— Deve estar transando também — Colin respondeu.

— Scarlett?

— Resumindo — Colin esclareceu. — Todo mundo está


transando nesse momento, menos nós.

— Isso é triste — murmurou Sienna inesperadamente


cansada.

— E o seu namorado? — perguntei à Sienna.

— Não sei, só espero que não esteja transando — Sienna


disse e ela e Colin riram da piada.

— Sando. Sando. Sando. Sando.

Suspirando afaguei o cabelo de Amber, que se aninhou mais


ainda em mim e agarrou minha cintura.
— É o seguinte — suspirei. — Vou levá-la para casa.

— Não precisa, eu faço isso. — Se prontificou Sienna.

— Você teria que segurá-la, ela é pesada — lembrou Benny


apoiado em um só pé.

— Sim, e eu tenho que carregar esse animal aqui também.


Colin apontou para Tyler.

— Certo, pois já vou. E Colin? — o chamei cansado. — Pelo


amor de Deus, não faça mais besteiras.

Acenei para eles e segurei Amber mais firmemente,


levando-a até a porta.

Como essas coisas acontecem comigo? Tinha um plano


simples para essa noite: arranjar Amber para Benny. Mas
acabei a noite carregando a garota comigo.

Teria que passar a noite cuidando dela. Perfeito. O


problema?

Sei que não estou preparado psicologicamente para passar


uma noite com Amber Foster.

JOHNNY JACKSON
Passei meu braço por Amber, a puxei para mim e ela veio
de bom grado. Deveria estar sonolenta, pois colocou a
cabeça no meu ombro e os braços à minha volta dentro do
carro.

Assim que chegamos em casa, paguei o motorista e a


peguei no colo. Acho que estava cansada para caminhar, e
ela não pesava nada mesmo.

Ela já tinha parado de falar frases sem sentido,


provavelmente o efeito tinha passado. Só parecia querer
dormir.

Entrando na minha casa a coloquei no sofá e ela passou os


braços em volta do meu pescoço.

— Não vai — sussurrou no meu pescoço, seu hálito quente


entrando em contato com a minha pele.

— Vou só pegar alguma coisa pra você comer, princesa. O

que quer? — perguntei delicadamente, me sentindo


cuidadoso com ela manhosa assim.

Seus olhos se acenderam quando ouviu o nome carinhoso


que usei, mas não comentou, só me deu um sorriso
deixando claro que tinha gostado.

— Qualquer coisa. — Amber se jogou no sofá e olhou para


nossa porta de vidro que dava para a piscina.

A casa estava muito silenciosa, o que era um milagre.

— Vou ver o que tem na geladeira — avisei indo até a


cozinha, tirando os sapatos e a camiseta. Os coloquei
simetricamente alinhados no sofá da sala e fui abrir a
geladeira, vendo que não tinha muita coisa pronta.
Coloquei uma pizza que pedimos ontem para esquentar
enquanto peguei um copo para levar água para ela. Ia
enchendo o copo quando escutei a porta de vidro que dava
para a piscina se abrindo. Corri para fora com medo dela ter
caído na piscina, mas quando cheguei na área externa
paralisei sem acreditar no que estava vendo.

Amber passou o vestido branco pela cabeça e ficou só de


calcinha e sutiã, calçada com os saltos bem ali na minha
frente. Era perfeita. Simplesmente perfeita. Ela estava com
um conjunto branco de lingerie e senti meu pau endurecer
dentro da calça.

As luzes da casa estavam apagadas, então a única


iluminação vinha da lua e da luz que tinha dentro da
piscina. Amber olhava para a água pensativa. Hipnotizada.
Triste.

Cheguei mais perto preocupado. Ela saiu dos saltos e ficou


descalça, jogando-os de qualquer jeito para o lado.

— Amber — chamei com calma chegando mais perto dela,


que parecia em transe olhando para água.

— Eu tenho medo de água — ela sussurrou para mim ainda


olhando fixamente para a piscina.

— Você não sabe nadar? — perguntei tentando entender.

— Não. Não sei. Mas sei afundar, sei cair fundo. Sei afogar

ela disse sem olhar para mim. — Sei sentir a água entrar e
ficar desesperada.

— Você já se afogou antes? — arrisquei com calma, mas


preocupado.
— Sou tão medrosa... — Ela olhou para mim e seus olhos
ficaram marejados. Senti um aperto no peito, uma angústia
nunca vivida antes.

Sem pensar peguei sua mão e a apertei.

— Você está bem? — Olhei no fundo dos seus olhos verdes e


eu não sei o que tinha naquela cor, mas eu sempre sentia
que já conhecia os seus olhos, mesmo antes de vê-los pela
primeira vez.

— Não — ela sussurrou com a voz embargada. — Não estou.

— Olhou para os meus olhos tão hipnotizada como eu


estava pelos dela, e senti que ela pôde ver tudo dentro de
mim. — Você sabia que quando olho para os seus olhos
também me sinto afogar?

— Isso é ruim? — Com delicadeza, acariciei a sua mão com


o meu polegar.

— Não — soprou as palavras. — Não consigo ficar com


medo, é um jeito diferente de se afogar.

Não desviamos o olhar nem por um único segundo.

— Se eu cair... — Ela se virou para água como se


escondesse todos os seus segredos. — Você me pega?

— Sempre — prometi. — Não precisa ter medo, eu seguro


você. — Ela apertou minha mão.

— Não existe nada para sempre, Johnny. Não pra mim. —

Amber me olhou tão triste que senti meu coração quebrar.


Como se ela tivesse perdido as esperanças.
Não conhecia esse lado dela. Já a vi irritada, divertida,
irônica, mas nunca triste. Odiei isso.

— Você está errada, princesa. Sabe qual a diferença entre o


eterno e o infinito?

Seus olhos se acenderam de novo ao ouvir o nome


carinhoso.

— Não.

— Infinito é algo que tem começo, mas nunca um fim. Já


eterno é algo que simplesmente sempre existiu, algo que
sempre esteve ali, nunca teve um começo ou fim. Algumas
coisas na vida são assim. — Apertei a mão dela e entrelacei
nossos dedos. — Tem coisas no mundo que simplesmente
são assim, como os átomos.

Eles estão em todo lugar à nossa volta, sempre existiram,


não há fim ou começo para eles.

Ela olhou para mim como se eu tivesse lhe entregando o


mundo.

— A teoria atomista diz que todos os átomos estão sempre


se interligando em outras coisas, formando novos eternos,
como os nossos dedos agora. — Ela observou nossas mãos
unidas. — Olhe à sua volta, Amber. Somos e estamos
cobertos por pequenos pedaços de infinitos.

— Obrigada por isso. — Ela se virou para mim com uma


intensidade nova, algo que não consegui decifrar e depois
de um tempo mirou a piscina de novo. — Entra comigo? —
perguntou temerosa.

— Entro.
Tirei minha calça e fiquei só de cueca boxer. Não me
preocupei em ligar as luzes, acho que gostei de ver os olhos
dela sob a luz da lua e da piscina.

Passei meu braço pela cintura dela e a pressionei contra


meu peito, a pegando de surpresa. Ela me olhou sem
entender.

— Coloque as pernas em volta da minha cintura — a instrui


enquanto levantava ela.

Ela enlaçou as pernas e passou os braços pelo meu


pescoço, ficando com o rosto de frente para o meu. Entrei
na água devagar e ela estremeceu nos meus braços,
apertando meu pescoço mais forte.

Estava morrendo de medo, como se a qualquer momento eu


fosse largá-la e deixá-la para se afogar. Oh, meu amor, o
que aconteceu com você?

— Não vou soltar você — sussurrei no seu cabelo e entrei


mais fundo. A nossa piscina era funda, não chegava a me
cobrir, mas acho que a cobriria com facilidade.

Assim que entrei de uma vez ela tremeu toda. Me apertou


com força, nervosa, acho que ela estava prestes a ter um
ataque de pânico.

— Respira devagar — instruí e ela obedeceu. — Puxa o ar e


solta com calma. Não vou te largar, eu prometo. Nunca. —
Apertei-a mais para provar. Ela obedeceu. — Olha pra mim.
Só pra mim. —

Amber se afastou um pouco, só o suficiente para ficar de


frente e poder olhar para mim, seus olhos percorreram todo
o meu rosto e isso a acalmou.
Senti sua respiração quente na minha boca e era gostoso.

Segurá-la assim, tão entrelaçada comigo era bom, era como


se fossemos duas peças quebradas que se encaixavam
perfeitamente.

— Como isso aconteceu? — perguntei curioso, ela deveria


ter passado por uma experiência horrível para ficar daquele
jeito.

— Me afoguei algumas vezes — sussurrou ainda perdida,


tentando decorar os traços do meu rosto. Algumas vezes?
Que porra era essa?

— Quantas vezes? — disse direto.

— Muitas.

— Você vai me contar como isso aconteceu?

— Não — ela respondeu e ficou em silêncio.

Respeitei o seu silêncio, mesmo que tivesse vontade de


exigir saber que merda aconteceu. Ela afrouxou o aperto em
mim e virou para olhar a piscina. Amber parecia estar
assimilando onde estávamos, ela tirou um braço do meu
pescoço e passou a mão na água com calma observando
encantada os movimentos que a água fazia.

Ela se virou para mim com um sorriso brilhante, como se


tivesse acabado de tocar o céu. Jogou a cabeça para trás,
jogando os cabelos na água, os molhando.

E admirei a curva do seu pescoço, o jeito que seus lábios


ficavam naquela posição, o seu nariz arrebitado. Sei que
não deveria, mas não resisti. Me inclinei mais e plantei um
beijo quente bem onde sua veia pulsava no pescoço e ela se
arrepiou.

Ergueu a cabeça para mim, espalhando água no processo e


me dando um sorriso. Ela estava feliz. E me olhava como se
eu tivesse lhe dado o melhor presente de natal.

— Você acabou de me dar algo eterno — sussurrou para


mim, suas palavras sopradas para minha boca.

Você também.

Seu rosto desceu mais e nossas testas se coloram, ficamos


respirando o mesmo ar, sentindo o mesmo aperto no peito,
até desconfio que nossos corações batiam no mesmo ritmo.
E se não me controlasse mais, iria beijá-la. Para a falar a
verdade, daria tudo que tinha na vida para beijá-la naquele
momento. Tinha a impressão que precisava mais disso do
que de ar embaixo d’água.

A queria tanto que por um segundo fiquei com medo da


força desse sentimento.

— Você quer saber como é flutuar? — ofereci para ela


enquanto roçava os nossos narizes um no outro.

— Não sei se tenho coragem. — Estremeceu mais e me


segurou com mais força, temendo que eu fosse soltá-la.

— Vou ficar te segurando. Por trás.

Ela pensou um pouco e depois concordou com a cabeça,


soltando os braços do meu pescoço e as pernas da minha
cintura, lentamente. A peguei com mais firmeza e virei seu
corpo, colocando suas costas contra meu peito e passando
os braços por sua cintura.
Ela segurou os meus braços, temerosa, mas não a soltei.
Nunca a soltaria.

Comecei a andar para trás, fazendo as pernas dela


dançarem na água, e ela se permitiu ir. Relaxar.

Soltou os meus braços e deixou a cabeça cair no meu


ombro, fechando os olhos feliz. Parecendo experimentar a
melhor sensação do mundo.

Era estranho ver isso. Ela simplesmente nunca flutuou na


vida? Pelo seu medo, nunca deveria ter ousado entrar em
uma piscina. Era fascinante ver sua expressão, alguém
apreciando tanto algo que era até banal para mim.

— Isso é fantástico — Amber disse ainda de olhos fechados,


enquanto movia os braços e pernas suavemente sobre a
água. —

Simplesmente maravilhoso.

— É sim — concordei a olhando. E era, simplesmente


maravilhoso.

Ela abriu os olhos e fitei os seus dois globos verdes através


da luz que vinha de dentro da piscina. Eles eram
impressionantes.

— Johnny — sorriu para mim.

— Sim?

— Você é o meu inimigo favorito.

— Você também é minha inimiga favorita. — pisquei para


ela e a puxei mais para mim.

— Vamos entrar? — perguntei no seu ouvido.


— Queria ficar aqui para sempre — pediu encantada. —

Como você sabia essas coisas? Sobre átomos.

— Faço física, tenho algumas curiosidades também.

— Maddie te adoraria.

— Vamos entrar. Você precisa comer ainda e dormir. Não


vamos esquecer que tomou uma bebida não identificada —
brinquei.

— Passou rápido. Acho que o efeito foi menos de uma hora.

— Ela riu lembrando de algo. — Fiquei com pena do Tyler,


pareceu você que iria matá-lo.

— Ele vai sobreviver. — A virei e coloquei-a de frente para


mim. Ela se agarrou em mim novamente, colocando as
pernas na minha cintura.

As suas mãos dançaram nos meus braços e peitoral, parecia


quase encantada pelas curvas dos meus músculos e as
tatuagens sobre eles.

— O que significam esses números? — Ela traçou o dedo


nos números que tinha tatuado nos braços.

— Data de nascimento dos meus pais — respondi roçando


meu nariz com o dela, sentindo a maciez da sua pele contra
a minha e apertando minhas mãos na sua cintura.

Amber continuou a traçar a ponta do dedo pelos meus


desenhos de disco de hóquei e outras tatuagens até parar
na que tinha no meu peito, bem acima do coração.

— E essa frase? Em que língua é isso? — Colocou a palma


da mão sobre a tatuagem.
— Grego. Agora vamos entrar.

Segui para a escadas abraçando-a e ela olhou para a piscina


com pena.

— Vamos fazer isso de novo? — pediu abraçada ao meu


pescoço.

— Vamos. — Acho que faria qualquer coisa que você me


pedisse.

Saí da piscina carregando-a. Poderia colocá-la no chão? Sim.

Mas não queria, queria segurá-la, abraçá-la. Sentia quase


como se estivesse carente dela.

Subi com ela comigo até meu quarto, e peguei uma toalha
para nos enxugarmos, só então Amber desenrolou as pernas
da minha cintura e virou de costas para mim. Sua bunda
deliciosa à vista pela calcinha e meu pau já endureceu,
mesmo com o frio da noite.

Ela se enrolou na toalha e virou de frente para mim, me


olhando de cima a baixo e só então me lembrei que estava
só de cueca boxer. Ela sabia muito bem da minha ereção.

— Pode tomar banho aí. — Apontei para meu banheiro. — E

pegar uma roupa se quiser.

— Tá bem. — Ela se virou para entrar no banheiro.

Assim que ela entrou tirei minha cueca molhada, vesti uma
calça moletom e desci na cozinha para pegar algo para ela
e trazer seu vestido e sapatos de volta.

Quando voltei a encontrei com a minha camiseta que mais


parecia um vestido nela e minhas meias vestidas nos seus
pés. Ela estava de costas para mim olhando minha gaveta
de cuecas. Não queria avaliar o quanto gostei daquela
imagem.

— Você está mesmo olhando minha gaveta de cuecas? —

Coloquei sua pizza e suco em cima do armário.

— Você arruma mesmo a suas cuecas por cor? — Ela


continuou observando minha gaveta sem acreditar. — Você
é tão metódico. Acho que nunca vi uma pessoa mais
organizada.

— Acho que nunca vi uma pessoa mais intrometida. —

Apontei a pizza para ela.

— Obrigada. — Amber pegou a pizza e foi comê-la.

Olhei a janela do meu quarto e lembrei de lhe perguntar


uma coisa.

— Qual desses é o seu quarto?

Ela veio até mim e se encostou na parede olhando a janela


e comendo a sua pizza.

— Aquele. — Apontou para a janela que ficava de frente


para a minha, a mesma que observei a luz acesa dias atrás.

— Tinha uma luz oscilante, parecia uma vela acesa, vindo


de lá.

— Maddie colocou pra mim num dia quando tive pesadelo —

respondeu. — Você chegou a vê-la daqui? — perguntou


surpresa.
— Sim. Nesse dia também tive um pesadelo.

— E funcionou? — Se virou para mim curiosa.

— Como assim?

— Você conseguiu dormir depois de ver a luz?

— Sim. — E tinha mesmo, depois de fitar sua janela voltei e


dormi como um bebê.

— Então vou deixá-la acesa mais vezes, já que ela pode


iluminar nós dois. — Piscou para mim e lhe dei um sorriso.

Assim que ela acabou de comer fui na cozinha deixar o seu


prato e copo, quando voltei Amber estava deitada na minha
cama toda enrolada em um lençol. Estava fazendo frio
mesmo.

Fui para o outro lado da cama e deitei, fitando o teto.

— Você me deu algo precioso hoje — ela revelou olhando


para o teto também. — Pode parecer bobo, mas não foi pra
mim.

Vou me lembrar disso pra sempre.

Não disse nada, apenas estiquei o meu braço, a convidando


a chegar mais perto, e ela veio na mesma hora.
Se enrolou em mim, colocando a cabeça no meu peito e me
abraçou apertado, passei os braços à sua volta e nos cobri
com o lençol que ela pegou. Fazendo um casulo só nosso.

Nós não falamos absolutamente nada. Apenas beijei a sua


cabeça, afagando seu cabelo molhado e passei minha mão
nas suas costas, alisando-a. Ela me abraçou de volta e
plantou um beijo bem no meu peito nu, se aninhando em
mim.

Não deveríamos estar fazendo isso. Não deveríamos estar


sendo tão carinhosos assim um com um outro. Nunca nem
fui carinhoso com nenhuma garota antes. Acho que com
nenhuma pessoa em geral, sou até frio.

Mas aqui estava eu. Passando a noite alisando e plantando


beijos despreocupados e inocentes no rosto da Amber. Ela
também se aninhou, e passou a noite me abraçando.

E dormimos. Sem pesadelos. Para falar a verdade, não me


lembrava de um dia que dormi tão em paz como naquela
noite.

AMBER FOSTER

Senti braços fortes me apertando, como se verificassem se


ainda estava ali. Uma mão grande desceu pelo meu braço e
pegou a minha, entrelaçando nossos dedos. Um peito nas
minhas costas entregou que dormi de conchinha com
Johnny, e nunca estive tão feliz por isso.

Ele plantou beijos despreocupados no meu pescoço.


Enfiando o nariz no meu cabelo e eu afaguei a sua mão que
segurava a minha. Abrindo os olhos me deparei com seu
braço tatuado e musculoso passando na minha cintura.
Também tinha algo grande e duro contra a minha bunda.
Oh Deus, é muito errado querê-lo só para mim?

Acho que nunca dormi tão bem na vida. Estava me sentindo


leve, relaxada, viva. Me espreguicei, virando para pega-lo
me espiando. Lhe dei um sorriso que ele respondeu com
outro de lado.

— Acho que quero entrar na piscina de novo — soltei de


brincadeira, mas com um fundo de verdade, fazendo o
sorriso dele crescer mais ainda.

— Agora você vai me obrigar a entrar todos os dias, não é?

— Sim. É bom você saber que posso ser persuasiva quando


quero.

— Você quer dizer irritante? — corrigiu ainda com os dedos


entrelaçados com os meus.

— Depende do ponto de vista. — Pisquei para ele.

— Estou me sentindo aquelas pessoas que alimentam o


gato e depois têm que darem um jeito de fugir deles.

Dei um cotovelada bem no seu estômago e o cretino riu.

— A gente tem que tomar café da manhã — ele informou se


espreguiçando e levantando só de calça moletom, sem se
preocupar com o seu pau duro totalmente visível. Ele é
definitivamente bem dotado.

— Amber? — ele me chamou quando me pegou secando-o.

— Não precisa ficar me olhando assim, sei que sou bonito,


mas às vezes é desconcertante. — Me deu um sorriso
convencido e me limitei a lhe atirar um travesseiro que
Johnny pegou no ar.
— Acho que entendemos que você se acha muito gostoso.

Me sentei na cama.

— Acho que entendemos que todo mundo me acha gostoso

— gabou-se piscando para mim. Bem, era verdade.

— Onde botou meu vestido? — perguntei procurando-o. Não


podia ficar andando por aí só com a camiseta dele.

— Em cima do armário. Mas onde você pensa que vai? —


Ele ergue a sobrancelha para mim.

— Tomar banho em casa, depois tenho que levar os


cachorros para passear. — Peguei meu vestido o
desamassando.

— Vai trocar de roupa e depois volta com eles — mandou já


entrando no banheiro.

— Como assim? — questionei sem entender.

— Você não sabe passear com eles, tenho que ir junto. —

Ergueu um ombro como se fosse óbvio. — Vou só tomar


banho depois preparo algo pra gente comer. — Ele entrou
no banheiro e me deixou sozinha como uma tola.

Vesti o meu vestido e fui até a minha casa, que por sinal
estava muito silenciosa. Sienna e Scar não dormiram ali e
Maddie estava pintando no seu quarto.

Minha ruiva estava usando um coque bagunçado, seus


cachos ruivos desciam pelo seu pescoço, ela vestia um
macacão jeans todo sujo de tinta como sempre. Assim que
me viu, meu cristalzinho me deu um sorriso brilhante cheio
de covinha.

Está para nascer um ser mais fofo.

— Se ninguém dormiu em casa, suspeito que a noite foi boa.

— Ela tirou um cacho ruivo do meio do rosto e espalhou


tinta azul na bochecha no processo.

— Foi até divertido, mas depois te conto os detalhes. — Fui


até ela e lhe dei um beijo na cabeça. — Dormi na casa dos
nossos vizinhos. Acho que vai gostar deles.

— Uma hora terei que conhecê-los — Maddie concordou


voltando a pintar.

Depois de tomar banho e me vestir, peguei meus cachorros


e os deixei no gramado enquanto fui para casa do Johnny.
Ele já estava vestido para correr e com o café pronto
quando entrei.

— Colin e Drake vão também — informou quando me sentei


na bancada da sua cozinha gigante.

— Ok.

Comemos em um silêncio ameno e quando estávamos


saindo da casa para pegar os cachorros, Colin e Drake
apareceram também vestidos para correr.

— Loirinha. — Colin veio beijar minha cabeça. — Se


recuperou bem?

— Ótima, diga à Tyler que as drogas dele são bem fracas.

— Você quebrou a primeira regra. Nunca beba a bebida do


Tyler — contou Drake. — Nem coma nada do que ele fizer.
— Uma vez ele fez o café da manhã, e fui para aula um
pouco

“relaxado” demais — revelou Johnny indo pegar as guias


dos cachorros.

— E foi justo na minha aula de filosofia. Imagina só a brisa


Colin ironizou indo cumprimentar os meus cachorros. — Me


dê a Jennifer Aniston, sempre fui um grande fã dela.

— Quero a Angelina Jolie, temos um lance desde que assisti

“O Procurado” — Drake já foi guiando minha cachorra pela


calçada.

— Bem, me sobrou o velho Brad Pitt — reclamou Johnny


andando com meu cachorro e pegando minha mão para
atravessar a rua. Acho que foi tão involuntário que ele nem
percebeu, mas os seus amigos sim, e trocaram um olhar
divertido.

— Acho que seus cachorros fizeram cocô no nosso gramado

— Colin falou seguindo pela rua.

— E por que você não falou lá, seu idiota? — rosnou Johnny
para ele.

— Por que você iria nos obrigar a limpar, e preciso esticar


minhas pernas logo.

— O que você tem a dizer sobre isso? — Johnny se virou


para mim, ainda segurando minha mão, acho que se
esqueceu de soltar.

— Nada, ainda sem provas. Qualquer um pode ter feito isso.


— Isso não vai ficar assim, Amber. Saiba disso — ele
ameaçou.

— E o que você vai fazer? — desafiei debochada.

— Adotar um cachorro.

— Não precisamos de um cachorro, já temos Colin —


lembrou Drake seguindo com minha cadela.

— Acho que precisamos de um cachorro — Colin concordou


convicto. — Facilita pegar mulher, olhe só.

Ele disse se referindo às garotas que passavam na rua, a


maioria universitárias. Elas definitivamente olham para eles,
mas isso não tinha nada a ver com meus cachorros, os
caras eram gatos mesmo. Acho que nunca estive no meio
de tanto homem bonito na vida.

E só então que percebi que estava andando com os caras


mais cobiçados do campus. Se as meninas da fraternidade
soubessem disso não me deixariam em paz nunca mais,
tem algumas que são completamente encantadas por eles.

— As meninas da minha antiga fraternidade adoram vocês,


se elas souberem que somos vizinhos iriam me deixar louca.

— Quem não adora a gente, não é mesmo? — gabou Colin


convencido. — Pode convidá-las, por sinal. Vamos dar uma
festa amanhã.

— Vamos? — ironizou Johnny. — Não sei se você sabe, mas


amanhã é domingo.

— Sim, bom que já começamos a semana renovados. —

Colin piscou para o capitão.


— Ei, por falar em fraternidade, por que vocês foram
expulsas mesmo? — Se inclinou Drake, curioso.

— Eu estava ficando com um babaca — anunciei e Johnny


endureceu a postura do meu lado. — Ele espalhou que
estávamos namorando e depois entrou escondido no quarto
da Scar, enquanto ela tomava banho.

Quando terminei de contar os três se viraram para mim com


fogo nos olhos, acho que dei um passo para trás temerosa.
Até entender que o ódio não era direcionado a mim. Eles
ficaram esperando o resto da história.

— Resumindo, pegaram ele no quarto dela e acharam que


eles estavam me traindo. Ele botou a culpa em Scar, e todo
mundo acreditou, chegaram umas acusações mentirosas
contra ela e fim.

Ela foi expulsa, e nós por associação criminosa — tentei


brincar no final, mas pareceu que não colou, eles não
estavam para brincadeira.

— E os nudes? — Colin perguntou direto e duro.

— Vocês sabem disso? — perguntei surpresa, mas eles se


limitaram a balançar a cabeça, esperando minha resposta.
— Eram da Scar, tiraram foto dela na hora da discussão, a
toalha caiu no meio da confusão.

— Quem é ele? — Foi tudo o que Johnny perguntou, mas


fiquei com medo de falar. Eles não pareciam nada
amigáveis nesse momento.

— É muito legal da parte de vocês se preocuparem — Tentei


aliviar o clima —, mas isso já passou.
Não falei mais sobre o assunto, mas eles não pareceram
esquecer. Ter três jogadores de hóquei de quase dois metros
de altura sérios e com o maxilar travado é intimidante, por
um segundo tive pena do que quer que eles fossem usar
para descontar isso.

E sabe o que é engraçado? Passei todo o caminho andando


de mãos dadas com meu inimigo favorito. E foi muito bom.

AMBER FOSTER

Eu: Tenho algo pra falar, mas vocês prometem que não vão
surtar. Ok?

Emily: Não, não prometo.

Chloe: Vai voltar pra fraternidade?

Mila: Tá grávida?

Eu: Não. E definitivamente, não.

Eu: Sou vizinha dos jogadores de hóquei.

Emily: Oi? Que JOGADORES?

Eu: Johnny Jackson, Taylor Hunt, Colin Scott e Drake Cross.

Eu: Tem outro, mas ele não joga hóquei, irmão do Taylor.
Chloe: AI MEU DEUS.

Bethany: Por que só estou sabendo disso agora???

Emily: Você é vizinha de COLIN SCOTT?? Ele é o meu sonho


de consumo.

Mila: EU JÁ FIQUEI COM ELE!!

Mila: Sendo mais específica, caí de boca nele.

Eu: Foi? Não sabia. Arrasou.

Eu: A questão é que eles vão dar uma festa hoje e deixaram
convidar vocês.

Bethany: Estaremos aí!!!

Eu: Só tem uma regra!

Eu: Vocês serão obrigadas a serem legais com a Scar! E vão


pedir desculpas!

Revirei os olhos vendo que elas demoraram mais para


responder.

Bethany: FEITO.

Chloe: Feito... Pra falar a verdade até me senti mal depois


da história dos nudes. Deveríamos ser unidas.

Eu: Esse é o espírito!

Emily: Fomos escrotas, também estou me sentindo mal,


espero que ela perdoe a gente.

Chloe: Mas só avisando! Quero uma chance com Johnny, às


vezes sonho que estou sentando na cara dele.
Ri da mensagem da minha amiga, mas lá no fundo senti
uma pontada por imaginar outra pessoa com ele. Não
deveria. Ele é lindo mesmo, normal acharem ele bonito. Não
tinha nada a declarar, não é como se tivéssemos alguma
coisa mesmo.

Compartilhamos um momento, muito íntimo por sinal. Acho


que sempre serei grata pelo que ele me deu e como vem
me tratando, só não podia confundir as coisas, ainda nos
odiávamos.

Depois do passeio de ontem, ele não falou mais comigo,


mas iria encontrá-lo daqui a pouco. E meu corpo já ansiava
por isso.

Tinha virado uma menina de 12 anos.

Guardando o celular, suspirei aliviada. Pensei que as


meninas da fraternidade iriam resistir mais a pedir
desculpas para Scar, e talvez ela nem aceitasse, mas já era
alguma coisa. Sentia falta delas, podiam ser difíceis? Sim.
Mas eram pessoas muito boas, só tinham defeitos como
todo mundo.

Também convidei Nelly, que claro, disse que viria.

— Leva essas frutas, por favor — pediu Sienna, seguindo


para o gramado.

Iríamos fazer o ritual para chamar o amor da Maddie hoje.

Sim, um ritual. Minha amiga romântica quer encontrar o


amor da sua vida. Ela ama contos de fadas, acredita em
energias, conexão, destino e afins... Tirando o fato de sua
avó cigana ter lhe dito que ela encontraria sua alma gêmea
ao ler sua mão, desde então Maddie faz
de tudo para achar “a pessoa”, vai a encontros aleatórios,
vê horóscopos, e... rituais.

Que era exatamente o que estávamos fazendo agora. Ela


reclamou tanto do encontro de sexta-feira que decidiu fazer
um ritual com uma vela que ela comprou na internet. Ainda
não entendi bem qual era a da vela.

Chegando ao gramado com as frutas que Sienna me deu,


reparei que Maddie estava ajeitando suas coisas embaixo da
janela dos nossos vizinhos.

— Querida, não é melhor fazer o ritual lá na nossa parte do


gramado? — sugeri achando graça das pétalas de rosa em
formato de coração que ela tinha colocado no gramado.

Se alguém olhasse para nós nesse momento com certeza


acharia isso muito estranho.

— Achei aqui melhor, senti uma energia diferente nesse


lugar.

— ela declarou concentrada tentando colocar a sua vela


vermelha em pé no chão.

Scar chegou com um short jeans curto e com um biquíni na


parte de cima, ela sentou no meio das rosas e se inclinou
para pegar um pouco do sol da tarde.

— Oh, então vamos pegar o amor das nossas vidas e ainda


ficar bronzeadas? Apoio. — brinquei já me sentando ao lado
da Scar.

— Uns procuram o amor da sua vida, outros apenas um


bronzeado, prioridades. — Scar piscou para mim.
— E umas só querem comer mesmo. — Apontei para Sienna
que sentou no meio das rosas em formato de coração,
trazendo mais comida.

— Como Scar disse, prioridades. — Sienna sentou do meu


lado. — Não estou precisando achar o amor.

—Por falar nisso, o que foi aquilo no bar na sexta? Michael


foi embora do nada — resmungou Scar se inclinando para
pegar mais sol.

— Loucura do Michael — Sienna deu de ombros —, ficou


com ciúmes dos meninos.

Pelo jeito, ela não queria falar disso, então decidi mudar de
assunto.

— E a senhorita? Onde dormiu mesmo? — Me voltei para a


Scar. Ela só voltou para casa hoje de manhã, desde sexta
está fora.

— Relaxando. — É tudo o que a criatura sedutora à minha


frente diz.

— Durante dois dias? — brincou Maddie, segurando um


papel e acendendo sua vela vermelha.

— Estava com muita tensão no corpo, precisava aliviar — se


defendeu Scar.

A vela da Maddie acendeu e ela suspirou aliviada, nos


dando um sorriso brilhante cheio de covinhas.

— Essa vela foi um achado — a ruiva contou para nós. — Só


tinha sobrado uma no site, com certeza isso é um sinal.
— Querida, o que essa vela faz exatamente? — perguntou
Sienna comendo uma maça.

— Ela vai atrair a energia dele para a minha. Depois do cara


de sexta-feira, já estava perdendo as esperanças —
reclamou Maddie.

— Qual era o problema dele? — questionou Scar curiosa.

— Muito baixo. — Maddie ajeitou as pétalas em forma de


coração.

— O da semana passada não era muito alto? — perguntei.

— Talvez você devesse deixar as coisas acontecerem —

aconselhou Sienna.

E isso era verdade, Maddie procurava tanto por conexão


que talvez não reconhecesse o cara certo nem se ele
estivesse na sua frente.

— Vocês não entendem... Uma alma gêmea reconhece a


outra de primeira. Você sente a conexão, e eu não sinto
nada —

disse Maddie frustrada. — Me sinto tão vazia. Acho que


toparia sentir qualquer coisa, até mesmo ódio.

— Dê uma chance pra esses caras que você sai, pelo menos
os conheça. Não pode esperar que a pessoa certa
simplesmente caia do céu — sugeri, mas assim que fechei
minha boca um homem caiu bem na nossa frente!

Sim. UM HOMEM. Todas nós gritamos assustadas.

O que?
O cara caiu de cara para o chão, com a bunda vestida em
uma calça jeans virada para nós, ele caiu quase em cima da
Maddie.

Olhei para cima tentando entender de onde ele tinha vindo


quando vi o vulto de quatro cabeças saindo apressadas da
janela que ficava bem em cima de onde estávamos
sentadas.

— AI MEU PAU — disse o cara se virando e se contorcendo,


Maddie olhava para ele assustada, ainda tentando entender
de onde ele tinha surgido.

Foi só então que consegui ver o rosto do sujeito.

— Colin? Como caiu aqui? — perguntei rindo.

— Maddie, onde você disse que comprou essa vela? — Scar


questionou muito relaxada ainda pegando sol.

JOHNNY JACKSON

Eu: O pé já melhorou?

Benny: Melhorou, nada grave.

Benny: Estraguei tudo, não é?

Eu: Não.
Eu: Pra falar a verdade, queria conversar sobre isso.

Benny: Não adianta, Johnny.

Benny: Não vou desistir. Gosto dela, de verdade.

Benny: Sei que ela não me vê desse jeito, mas quero


tentar.

Ela é tudo o que sempre quis, tenho certeza disso.

Benny: Você provavelmente acha isso uma besteira.

Benny: Mas sinto tudo diferente quando estou com ela.

Se tivesse um prêmio de pior amigo do mundo, acho que


ganharia. Sério. Me dá o troféu. A coroa e a faixa também.
Estava nesse momento digitando para ele desistir disso.

Depois do meu passeio de ontem com Amber, não nos


falamos mais, estava me sentindo culpado. Não fizemos
nada... Mas

ao mesmo tempo, fizemos tudo. Foi intenso, dormi abraçado


com ela, caramba! Isso com certeza significou alguma coisa.

Andei de mãos dadas com ela, simplesmente porque quis.

Aquilo era problemático. Demais até. Não se anda de mãos


dadas com a garota que seu amigo pede para você arranjar,
e com certeza não se dorme abraçado com ela. Não se deve
ter pensamentos sujos com ela também.

Benny não merecia isso, ele a queria, gostava dela de


verdade. Tinha que fazer o que era certo, não vou perder
outro amigo. Sabe do que precisava? Do Bruce. Que ele
aparecesse na minha frente e que me lembrasse do merda
que sou. Seria um ótimo momento para ele responder os
meus malditos e-mails, por sinal.

Nem que fosse para me xingar, mas sabia que aquilo não
aconteceria.

Benny: Juro que da próxima vez vou tomar uma iniciativa.

Benny: Quando vamos ver ela de novo?

Eu: Hoje à noite. Vamos dar uma festa, venha.

Suspirando derrotado guardei o celular e me virei para Tyler


que estava guardando as bebidas na geladeira com Colin. A
casa estava cheia de vodka e camisinhas.

— Conseguiu encontrar? — perguntei à Tyler.

— Ainda não — ele respondeu.

Depois que Amber me contou como foram expulsas da


fraternidade, pedi a Tyler para procurar a fundo quem tinha
espalhado os nudes da Scarlett. E se fosse o pau no cu que
ficou com ela, aquele cara estava muito fodido. Muito.

— Cadê Peter e Ben? — Colin olhou ao redor, os procurando


enquanto colocava as cervejas na geladeira.

Peter Roberts e Benjamin Nelson eram jogadores de hóquei


também, Peter era nosso melhor goleiro e Benjamin o
jogador defensivo reserva. Eles vieram mais cedo para
ajudar a guardar as coisas, mas sumiram fazia um tempo.

— Não sei, mas também vou subir. Tenho um trabalho para


fazer — avisei colocando a última cerveja e indo para o meu
quarto.
Iria tentar fazer meu trabalho de Algoritmos Numéricos
antes do pessoal começar a chegar. Mas assim que passei
pela porta

aberta do quarto do Drake tive que parar e ver o que diabo


era aquilo.

Benjamin, Drake e Peter estavam espremidos na janela do


Drake olhando para baixo.

— O que vocês estão fazendo? — Me aproximei desconfiado


e os três se viraram furiosamente para mim, pedindo
silêncio.

— Aí estão vocês — Colin gritou logo atrás de mim.

— Cala a boca, porra! — sussurrou Peter.

Peter tinha a pele negra, o cabelo cacheado e era grande


pra caralho, quase dois metros. Benjamin fez um gesto para
nos aproximarmos e prendeu em um rabo de cavalo os seus
cabelos loiros que caiam nos ombros.

Chegando perto da janela vi nossas vizinhas sentadas ao


redor de umas pétalas de rosas em formato de coração,
com uma vela acesa, tinham comidas e outras coisas
espalhadas. Que diabo?

Amber estava vestindo um short jeans e uma blusa rosa de


alcinha, estava sexy como sempre. Scar estava pegando
sol, usando um biquíni preto na parte de cima. Sienna um
vestido branco soltinho. Agora, eu não conhecia a outra
garota.

Era a coisinha mais fofa que já vi, ruiva do cabelo cacheado


que quase batia na bunda, os cachos eram tão perfeitos que
parecia que ela enrolou cada um à mão. Era pequena, usava
um macacão jeans curto e uma blusa branca de alcinha por
baixo. Tinha bons peitos, e acho que era exatamente para
aquilo que os cretinos estavam olhando.

— É isso que viramos? Pervertidos que espiam as nossas


vizinhas pela janela? — ralhei para eles, vendo Peter dar
uma boa olhada nas pernas da Amber, e me fazendo querer
arrancar os seus olhos.

— E que vizinhas... — Benjamin jogou olhando para Scarlett.

— Você tem que admitir que isso é estranho pra caralho —


Se defendeu Drake — Que merda é essa?

— O que é isso? Estão fazendo algum ritual? — sondou Colin


se inclinando para ver melhor. — Quem é a ruiva, hein? —
Ele se inclinou mais na janela.

— Você vai cair, seu idiota — avisei puxando-o pela camisa


de volta.

— Que delícia de peitos são esses. — Colin afastou Peter


para o lado e se inclinou mais.

Benjamin se apressou a se inclinar mais.

— Por que vocês não me apresentaram a essas suas


vizinhas? — O loiro perguntou empurrando Peter que
tampava a visão de todo mundo com sua altura.

— O que será que elas estão fazendo? — Drake questionou


fofoqueiro e se inclinou mais na janela pequena demais
para caber todo mundo.

— Isso parece bruxaria — Colin falou convicto. —


Deveríamos investigar isso. — Mas ele parecia mais
interessado em investigar os peitos da bruxa em questão.
— Saia do meio, deixe-me ver. — Drake deu um empurrão
em Colin.

— Quem é a loira? — Peter estava interessado, o que


despertou algo muito ruim em mim. Puxei-o pela camisa
para fora da janela, querendo tirar os olhos dele de cima
dela.

O problema? O movimento fez com que Peter esbarrasse


em Colin, que já estava na ponta da janela. Ele se
desequilibrou e tentamos segurá-lo todos ao mesmo tempo.

Mas não deu certo, ele caiu. Bem no meio das meninas,
especificamente, quase em cima da ruiva.

— PUTA MERDA! — Drake passou a mão no cabelo olhando


para baixo.

— Colin? — chamei preocupado.

Mas não perdemos tempo tentando chamá-lo, fomos


correndo descendo as escadas, uns passando por cima dos
outros. Mas consegui ouvir Colin gritando, quando ia
passando pela porta.

— AI, MEU PAU!

Dando a volta apressados vimos que Colin rolou para o lado


segurando o pênis, ficando praticamente em cima da ruiva,
que olhava para ele nitidamente confusa, sem saber de
onde ele tinha vindo.

Sienna olhou para Colin com preocupação. Scarlett


continuava a pegar sol como se nada tivesse acontecido.
Peter e Benjamin olhavam impressionados para a beleza da
morena de perto. E Amber? Morria de rir. Novidade?
Nenhuma.
Me aproximando percebi que tinha uma vela vermelha
amassada no chão. A ruiva seguiu o meu olhar notando a
mesma coisa, o seu rostinho fofo se contorceu em uma
expressão de horror.

Colin levantou o olhar só agora reparando na garota, ele


avaliou-a de cima a baixo e lhe deu um sorriso sedutor.

— Olá... — Ele tentou sorrir para ela, mas acabou fazendo


uma expressão de dor. Ele rolou para o lado, saiu de perto
da garota e olhou para a vela amassada também. — Essa
vela amassou meu pau e minhas bolas.

— Seu pênis que amassou minha vela! — A garota pequena


se levantou e foi até a vela, olhando com ódio para Colin. —
E

agora? O que vou fazer?

— Se você quiser botar gelo no meu pau, eu aceito. — Colin


piscou para ela, fazendo a menina fuzilá-lo com o olhar.

— Não se estresse com isso — Sienna tentou consolá-la —,


vamos achar outra.

— O que vocês estavam fazendo? — perguntou Drake


curioso olhando para as coisas no chão.

Amber ainda ria do Colin, enquanto eu tentei ajudá-lo a se


levantar. Ele se apoiou em mim levantando, mas ainda com
a mão no meio das pernas.

— O que vocês estavam fazendo? — devolveu a ruiva. —


Nos espionando? — Ela compreendeu perfeitamente como
Colin caiu.
Peter e Benjamin ficaram envergonhados por terem sido
pegos no flagra.

— Não estávamos “espionando”. O que pensa que somos?


Colin fingiu estar ofendido. — Pervertidos?

Pelo olhar que a garota deu a Colin dizia que ela pensava
exatamente isso.

— O que estavam fazendo então? — A ruiva cruzou os


braços, esperando uma explicação.

— Não é você que deveria estar fazendo as perguntas aqui,


baixinha — Colin afrontou, e eu comecei a tentar puxá-lo
para longe dali antes que começasse uma briga.

— BAIXINHA? — perguntou horrorizada a garota que não


deveria ter um metro e cinquenta e cinco de altura.

Scarlett balançou a cabeça em negação, como se soubesse


exatamente o que viria a seguir.

— Quem você está chamando de baixinha? — desafiou a


ruiva.

— Tem outra aqui? — provocou Colin olhando ao redor.

— Só tem uma coisa baixa aqui e não é minha altura. — A


garota devolveu com muita calma olhando para a virilha de
Colin.

Drake e Benjamin vaiaram, como se fossem crianças no


maternal. Revirei os olhos e o riso da Amber se sobressaiu.

— Mas que pequena atrevida... — Sorriu Colin parecendo


achar graça do jeito da menina. — Meu bem, entre no meu
quarto por 10 minutos que lhe mostro como não tem nada
baixo aqui.

— Nem fodendo. — Ergueu uma sobrancelha ruiva para ele.

— Pena. Era fodendo mesmo. — Colin lhe deu um olhar


sugestivo.

— Por que vocês não fodem depois? — perguntou Drake


ainda curioso. — Quero saber o que estavam fazendo. — Ele
apontou para o local embaixo de sua janela.

Sinceramente? Também estava curioso para saber o que era


aquilo.

— Estamos fazendo um ritual — contou Amber indo pegar


uma maçã que estava em uma cesta.

— E um ritual muito sério, por sinal! — A ruiva pontuou.

— Eu disse! — Colin colocou o dedo no peito, como se


tivesse acabado de desvendar o maior mistério do século. —
Ela está fazendo alguma bruxaria!

— Bruxaria? — A garota pequena riu. — E você? O que


estava fazendo lá em cima? Isso ainda não ficou claro aqui.

— Estávamos investigando. — Colin deu de ombros. — O


que eu estava fazendo não tem relevância aqui. É você que
está fazendo bruxaria no nosso gramado.

— Seu gramado? Essa parte do gramado é nossa. — ela


disse com toda a convicção do mundo.

Não era. A parte do gramado era nossa.

— Essa parte do gramado é nossa — Drake interferiu.


— Não é — ela continuou a negar, e Amber se colocou ao
lado da amiga, pronta para reafirmar qualquer mentira que
a pequena dissesse.

— Claro que é nossa — Amber defendeu.

— Não é. — Tive que me meter, porque realmente não era.


Vocês estão literalmente embaixo da janela do Drake.

A ruiva e Amber olharam para janela em questão como se


estivessem vendo-a pela primeira vez. Como eram cínicas!

— Mas não há uma delimitação aqui que separe o gramado.

— Sienna também veio em defesa da sua amiga.

— Não tem como concluir qual parte é de vocês e qual não


é

— disse Scarlett ainda sentada assistindo tudo.

Meu Deus, podia ver nitidamente na cara de todas que elas


sabiam que essa parte do gramado era nossa, mas iriam
negar até a morte.

— Do mesmo jeito que não tem como saber se são os seus


cachorros que fazem cocô na nossa porta, não é? —
alfinetei.

— De novo essa história? Supere isso, Jackson — Amber


afrontou tentando ser séria, mas seus olhos entregavam
que estava achando tudo muito engraçado.

— Olha só que atrevimento... — Colin balançou a cabeça


negativamente. — Estão querendo tomar nossas terras.
— Nossas terras? — perguntou Drake sem entender.

— Sim! — Colin apontou o dedo para a ruiva. — Essa garota


aqui é nitidamente perigosa. Tudo isso é muito suspeito. Ela
vem aqui faz esses rituais na nossa janela, se nega a dizer
do que se trata, diz que o gramado é dela. Está armando
alguma coisa, vocês não veem? — Ele olhou para nós, em
busca de apoio.

Olhamos em sincronia para a garota ruiva, ela nos deu um


olhar inocente. Tinha os olhinhos verdes esmeralda, era
muito fofa.

Muito.

— Oh, cara — suspirou Drake encantado. — Ela é tão fofa.

— Não me parece perigosa — falei sorrindo para a garota


com cara de anjo.

— Gostei da aura de vocês, meu nome é Madison, mas


podem me chamar de Maddie — ela se apresentou nos
dando um sorriso simpático.

— Mas eu não gostei da sua — Colin se meteu na conversa.

— Você pode ter enganado eles. Mas vou descobrir


exatamente o que você anda fazendo aqui. — Ele apontou
para todas as pétalas no chão, fazendo Amber rir mais
ainda.

— Boa sorte. — Maddie lhe deu um sorriso debochado, bem


diferente do fofo que ostentava ainda agora.

— Estão vendo? — Colin perguntou para nós. — Ela é cínica.

— Colin...
— Não — ele me interrompeu. — O que essa vela que
amassou meu pau significa, hein? Vocês não podem estar
querendo achar isso tudo normal. — Ele andou até onde
estava a vela. — Tem alguma coisa de muito errado com
essa garota.

— Colin... — Drake tentou chamá-lo.

— Escutem — Colin continuou. — Ela estava fazendo algum


ritual no nosso gramado. Daqui a pouco estará entrando na
nossa casa e roubando nossas cuecas.

O que?

— Como é? — Benjamin franziu a testa, claramente confuso.

As meninas olharam para Colin como se ele tivesse acabado


de enlouquecer. Talvez fosse isso que tivesse acontecido
mesmo.

— Sim, isso é perigoso. — Colin continuou a falar sério. —

Não devemos confiar nessa menina.

Olhamos mais uma vez para Maddie, que tinha o olhar mais
inocente que já vi na vida.

— Oh, mas você parece uma princesinha. — Peter disse


encantado.

Colin bufou e começou a andar de volta para casa, mas se


virou de novo e apontou o dedo para Maddie.

— Isso não acabou. Você não me engana, não importa o


quão gostosa seja.

Ela se limitou a lhe dar um sorriso irônico e malicioso, muito


feliz por vê-lo fazer papel de tolo.
Colin lhe olhou com raiva e o empurramos de volta para
casa.

Se ficássemos ali acho que ele começaria a criar toda uma


teoria da conspiração.

Antes de ir olhei para trás procurando Amber, ela estava


juntando as pétalas do chão. Nos olhamos e pisquei para
ela.

— Te vejo já — avisei antes de entrar.

E estava ansioso para isso. Ansioso para vê-la, para brigar


com ela, para vê-la me irritar, para provocá-la, para escutar
seus risos sem sentido, para rir com ela e tocá-la. Só não
estava ansioso para o dia em que tivesse que entregá-la
para outro.

AMBER FOSTER

Quando Colin Scott dizia que ia dar uma festa, ninguém


esperava por uma pequena reuniãozinha ou uma simples
festa universitária. Não, ele ultrapassava todos os limites. E
com isso, queria dizer que todas as casas da rua também
davam a sua própria festa só para poder assistir a dele.

Encontrei os três garotos que conheci com Johnny no dia


que cai em cima dele, espiando a festa distantes nas suas
bicicletas, assim como outros vizinhos. Era a primeira vez
que ia a uma delas, mas elas eram lendárias por ali, dizem
que quando Johnny não estava por perto, os meninos se
aproveitavam e as coisas saiam do controle. Não duvidava
disso.

A casa deles estava lotada, tinha gente andando de roupa


de banho, vestido ou seminu. Podia se ver de tudo ali,
pessoas quase transando em cima dos sofás e balcões,
bebidas espalhadas por todo lugar e pessoas dançando
seminuas nas escadas.

A polícia poderia facilmente aparecer a qualquer momento.

Agora entendi porque os donos da nossa casa se mudaram.


Mas isso não era um problema para mim, desde que fosse
sempre convidada, sem reclamações.

Peguei a mão da Bethany e segui procurando por Scar, faria


ela pedir desculpas hoje à noite. Não sei onde estavam as
outras

meninas da fraternidade, me perdi delas, assim como me


perdi da Sienna, Maddie e Nelly.

Indo para a área da piscina encontrei Scar saindo da água.

Ela estava só de biquíni e no momento que saiu da água


torcendo o cabelo, muitos caras e algumas garotas a
encararam descaradamente.

— Ela faz meu lado hétero chorar — Bethany sussurrou para


mim e sorri.

Quando olhos da Scar caíram em Bethany, elas duas se


encararam como se fossem se matar. Até que Scar veio
andando só de biquíni e toda molhada até nós. Eu nunca me
aproximava muito das piscinas e elas sabiam disso.
— Scarlett — Bethany cumprimentou de má vontade.

— Bethany — Scar devolveu pegando uma toalha e


enxugando o cabelo.

— Soube dos nudes, sinto muito por isso — Bethany


comentou e estava sendo sincera.

Scar ergueu a sobrancelha em ironia e Bethany se virou


para mim, como se dissesse “Está vendo como ela é?”.
Revirei os olhos e apertei sua mão, incentivando-a a
continuar seu pedido de desculpas.

— Estou arrependida — soltou Bethany de uma vez,


cuspindo as palavras.

Scar se limitou a vestir um short jeans e encarar Bethany,


esperando o que viria a seguir.

— Realmente. — Bethany a encarou sem paciência. — Vai


me obrigar a recitar todo um pedido?

Scar cruzou os braços e a olhou com seu típico olhar de


deboche.

— Tá. — Bethany suspirou. — Confesso que fiquei com


inveja de algumas coisas, fiz coisas bobas e infantis esses
anos com você.

Não me orgulho disso. — Ela encarou Scar e parecia


arrependida. —

Não curto mais essa rivalidade feminina, isso me desgasta.


De verdade. Às vezes quero ser mais linda, mais inteligente,
a que fica com o cara mais gato, mas isso é desgastante,
isso me obriga a odiar quase todo mundo, porque sempre
vai ter alguém melhor. E
você também não ajuda com seu comportamento
debochado —

Bethany soltou, mas logo se corrigiu. — O que quero dizer é


que sinto muito, de verdade. Eu não sou uma pessoa ruim...
Tudo bem, posso ter desejado que seu cabelo caísse e ter te
excluído a maior parte do tempo, mas o problema era
inteiramente comigo, algo que tenho que resolver, não era
nada com você. Você nunca me fez nada, sei que é uma
pessoa boa, eu juro...

— Bethany — Scar a interrompeu e Bethany a olhou


ansiosa.

— Você é linda, da cabeça aos pés, você e todas as garotas


são.

Não precisa ser a melhor em tudo, sempre vai ter alguém


melhor do que a gente em alguma coisa. Não precisa agir
como se estivesse em um campo de batalha disputando
quem mais a atenção dos homens. — Scar revirou os olhos
com o pensamento. — Isso é infantil, mas eu entendo, não é
culpa sua, a gente cresceu achando que temos rivais. Não
se sinta pouca ou menos, porque você não é nada disso.

Scar falava com firmeza e Bethany ficou com os olhos


marejados.

— Não guardo mágoas suas — Scar continuou —, e nem de


nenhuma das meninas. Acho que vão acordar um dia e
pensar em como foram bobas, provavelmente vão ficar
envergonhadas de como agiram. Não se bote tanta pressão,
eu sei que você não é uma pessoa horrível, por mais que
goste de fazer os outros pensarem que é.

— Obrigada por isso — Bethany falou com a voz trêmula. —


Me desculpa, de verdade. Eu não quero ser assim, não
quero ser amarga e nem invejosa.

— Você não é nada disso. — Scar piscou para ela, elas


sorriram uma para outra e Bethany foi abraçá-la.

Ah, esperei tanto por esse momento! Nem cabia em mim de


felicidade, viva o feminismo! Entrei no abraço delas e rimos
as três juntas.

— Isso significa que vocês vão voltar pra fraternidade? —

Bethany perguntou quando nos largamos.

— Não, isso significa que vamos beber juntas pela primeira


vez. — Assim que terminei de falar, Johnny Jackson
apareceu na

área da piscina com Benny e Taylor logo atrás.

Johnny estava sem camiseta, só com uma bermuda preta de


banho e Meu Deus... Ele era de tirar o fôlego de qualquer
um, nunca pensei que fosse do tipo que gostasse de caras
tatuados, mas nele era sexy pra caralho. Não tinha um sinal
de gordura em todo o corpo, era puro músculo e definição.

— Ele é de molhar qualquer calcinha — Bethany comentou


atrás de mim e ri, porque era verdade.

Era incrível como ele tinha presença, não sei explicar, mas
parecia que sentíamos quando Johnny chegava em algum
lugar. As pessoas olhavam para ele com admiração ou
desejo, e nem acho que se referia ao hóquei ou a sua altura,
mas era algo que exalava dele, o jeito que andava, a
confiança, o olhar duro. Tudo.
Ele olhou ao redor procurando algo até seu olhar cair em
mim, assim que ele me viu um sorriso involuntário nasceu
no seu rosto, e eu sorri de volta para ele.

— Tá rolando algo entre vocês? — Scar perguntou com


desconfiança.

— Não, às vezes estamos nos matando, às vezes não... —

Dei de ombros. Ele veio em nossa direção com Benny e


Taylor.

— Oi, meninas — Taylor cumprimentou olhando em volta


parecendo procurar alguém.

— Querendo alguém hoje? — Scar provocou ele.

— Sim, algum cara que satisfaça todas as minhas vontades


e você? — Taylor brincou com Scar.

— A mesma coisa, vamos procurar juntos. — Scar pegou a


mão de Taylor e os dois começaram a seguir para dentro da
casa, mas ela se virou antes de ir. — Bethany? Também não
quer um cara que satisfaça todas as suas vontades?

Bethany sorriu para Scar e seguiu com eles, me deixando


sozinha com Johnny e Benny.

— Como vai o pé, querido? — perguntei a Benny, ainda me


sentindo culpada por ter machucado o seu pé.

— Melhorou, não foi nada. — Benny me surpreendeu


passando a mão na minha cintura e me dando um beijo
bem no canto da boca.

Fiquei desconcertada por um momento, mas lhe dei um


sorriso logo em seguida para não o deixar envergonhado.
Olhei para Johnny, mas ele estava com o rosto endurecido e
segurava a sua cerveja com muita força.

— Você está linda hoje — Benny elogiou perto do meu


ouvido e percebi que ele tinha bebido pelo cheiro de álcool.

O que era isso? Ele estava dando em cima de mim?

— Obrigada. — Sorri achando graça da sua situação, tomara


que ele nem se lembre disso amanhã ou morreria de
vergonha.

Johnny não estava achando nada engraçado, pois o jeito


que ele segurava a sua cerveja me fazia duvidar se não a
quebraria a qualquer momento.

— Você está sozinha hoje? — Benny perguntou olhando para


mim e fiquei confusa.

Pensei que ele estivesse brincando com aquele flerte. O que


era isso? Olhei para Johnny em busca de ajuda, mas ele
estava olhando para a mão do Benny na minha cintura com
o maxilar travado.

— Vou deixar vocês sozinhos. — Johnny saiu zangado e


caminhando até ao mar de pessoas que estava dentro da
sua casa.

Benny apertou mais a mão em mim e tive que dar um passo


para trás, abrir alguma distância entre nós.

— Benny, o quanto você bebeu? — perguntei rindo, porque


ele nunca faria aquilo sóbrio.

— O suficiente. — Ele ajeitou os óculos no rosto e foi


subindo a outra mão até a minha nuca.
Oh Meu Deus, ele ia me beijar!

— Tenho que fazer xixi! — gritei na cara dele, o fazendo


parar e me olhar confuso. — Isso! Estou muito apertada,
vamos ao banheiro. — Peguei a mão dele e segui para
dentro da casa sem saber o que fazer.

O que era aquilo? Teria que conversar com ele quando


estivesse sóbrio.

Chegando na sala encontrei Tyler e Drake jogando vídeo


game, com uma menina sentada no colo do Drake.

— Vocês sabem onde fica o banheiro? — perguntei, pois


quando estive aqui só fiquei no quarto do Johnny.

— O que ela disse? — gritou Tyler chapado em meio ao som


da música.

— Não sei, acho que perguntou algo sobre um carneiro. —

Drake respondeu sem tirar os olhos do jogo.

— Ah sim. — Tyler se virou para mim. — Não, não temos um


carneiro.

— Carneiro? — repeti rindo. — Quero saber onde acho um


banheiro.

Os dois olharam para mim sem entender.

— Você quer um jardineiro? — Drake tentou adivinhar


confuso.

— BANHEIRO! — gritei em meio à música — QUERO MIJAR,


FAZER XIXI! TIRAR A ÁGUA DO JOELHO.
Gritei para eles, mas bem na hora a música parou e foi
naquele momento que gritei bem alto.

— Meu Deus, Amber, por que está gritando desse jeito? Não
somos surdos — Tyler resmungou fumando sua maconha,
enquanto um monte de gente começou a me indicar onde
ficava o banheiro e a música começou a tocar de novo.

Me virei para Benny que ainda estava bêbado e o deixei no


sofá junto com Drake.

— Você está bem? — gritei no ouvido do Benny.

— Estou. — Benny bocejou já querendo dormir no sofá.

Sorri indo até o banheiro. Tinha certeza que amanhã ele


nem se lembraria disso e até preferia, porque do contrário
ficaria morto de vergonha e eu também.

Caminhei apressada pelo corredor dos quartos e entrei no


banheiro, que por sinal era muito limpo. Assim que terminei,
sai de lá e encontrei Colin em um momento muito íntimo
com duas garotas.

Uma delas estava com as pernas enlaçadas na cintura dele,


Colin a segurava com uma mão como se não pesasse nada,
enquanto a garota se esfregava freneticamente no seu
abdômen. A outra garota estava do lado dele com a blusa
abaixada enquanto ele a empurrava contra a parede e
chupava o seu seio exposto.

Olhei para os lados querendo sumir antes que começasse a


rir e atrapalhasse o momento deles. Entrei na primeira porta
que encontrei e a tranquei atrás de mim.

Respirando aliviada, olhei ao redor tentando identificar o


lugar no meio da escuridão do quarto.
— Amber? — Escutei a voz do Johnny na minha frente e vi a
sombra dele vestindo uma calça moletom. E pelo que podia
enxergar, estava com o peito nu.

— É o seu quarto? — Olhei confusa ao redor reconhecendo o


lugar.

— É. Você não estava com Benny? — atirou zangado.

— O deixei com os meninos, acho que estava com sono já.

Ele bebeu demais.

— Hum. — Johnny se jogou na cama e olhou para o teto,


parecendo estranhamente cansado.

Continuei encostada na porta, queria me aproximar, queria


sentir o cheiro dele, sentir a sua pele quente, não sei de
onde surgiu essa ânsia dentro de mim. Mas vendo ele ali eu
só quis me jogar.

Ele virou o rosto para mim e afastou mais o seu corpo na


cama, me convidando silenciosamente a deitar com ele.
Caminhei até sua cama e deitei bem do seu lado, encarando
o teto também.

Já estivemos nessa posição, mas agora era pior. A tensão


era pior, o desejo era pior, pelo menos da minha parte. A
mão dele desceu até a minha e entrelaçou os nossos dedos.
Fechei os olhos e respirei fundo.

Aquilo era tão bom, não sei explicar o que tinha no ato de
entrelaçar nossos dedos, mas parecia algo especial para
nós. Ele passou o polegar pelo meu pulso e me perguntei se
ele o sentiu acelerar.

— Por que saiu tão cedo? — Virei para olhá-lo.


— Não tinha nada pra mim lá. — Ele se virou para mim
também. — E você? Como veio parar aqui?

— Quando saí do banheiro, peguei Colin com duas garotas


em uma situação comprometedora.

— Novidade. — Ele riu. — Deve demorar uns 15 minutos até


ele ir pro quarto.

— Ótimo, se não se importa, vou ter que esperar aqui. —


Sorri para ele.

— Não me importo, mas minha noite não está muito


animada.

Quer fazer alguma coisa?

Montar em você.

— Não sei, o que você faz quando se esconde no seu quarto


como um antissocial? — brinquei.

— Na verdade, jogo vídeo game.

— Eu gosto, mas seria muito humilhante pra você jogar


comigo. — Pisquei para ele.

— Oh, é mesmo? — ele debochou.

— Sim, você tem NBA 2K?

— Ah, não — resmungou revirando os olhos. — Você é uma


fã de basquete?

— Sim, convicta.

— Você sabe que agora vou ter que te obrigar a assistir uma
partida de hóquei, né? — Ele se virou para mim falando
muito sério.

— Vamos fazer assim, a gente joga NBA 2K e quem ganhar


a partida pode pedir o que quiser para o outro — desafiei. —
Até mesmo me obrigar a ver um jogo de hóquei.

— Não sei por que acho que vou me arrepender disso — ele
reclamou.

— Se está com medo de perder, tudo bem. Eu entendo —

debochei.

Ele se levantou da cama me dando o dedo do meio, assim


que ligou o aparelho, a luz da TV iluminou o quarto. Johnny
voltou e sentou na cama, encostado na cabeceira.

Fui sentar ao lado dele e começamos a jogar. E advinha só?

Ele era péssimo, sim, até tentava me distrair me


empurrando pelo ombro ou me chutando, mas não
funcionou.

— Você pode ficar tentando fazer esse seu jogo sujo, mas
não vai colar. — Sorri tentando me concentrar enquanto ele
me empurrava de leve. — Ganhei!

Dei de ombros em deboche e ele revirou os olhos.

— Você só perde pra mim em tudo, é bom em alguma


coisa?

— provoquei.

— Você com toda certeza nunca me viu jogar hóquei —

Ergueu a sobrancelha —, ou foder.


Minha respiração ficou presa na garganta.

— Seu quarto tem a acústica boa. — Mudei de assunto


falando da música do lado de fora.

Ele sorriu malicioso, sabendo que eu estava afetada.

— É necessário — se gabou —, já que quando uma mulher


entra no meu quarto ela costuma gemer muito alto. —
Piscou para mim e revirei os olhos.

— Te garanto que essas paredes não me aguentariam —

provoquei. Se ele queria brincar, eu também sabia. Johnny


me encarou esperando uma explicação. — Não existe
pessoa que saiba fingir melhor um orgasmo do que eu, pra
falar a verdade, se nada der certo na vida posso virar atriz
pornô.

Ele olhou para mim com tanta intensidade que o ar do


quarto ficou pesado. Seu olhar desceu vagarosamente pelo
meu corpo, concentrado e depois voltou a fitar meu rosto.

— Isso não é muito presunçoso da sua parte? — atirou com


a voz grave, me fazendo imaginar como seria escutá-la bem
no pé do meu ouvido, falando coisas indecentes.

— Não. — Dei de ombros fingindo despreocupação. — Todos


nascem com algum dom, o seu é jogar hóquei, o meu é
fingir orgasmo.

— Espera aí — ele se ajeitou na cama e estreitou os olhos


para mim —, você nunca gozou de verdade no sexo?

— Claro que já, mas não é com muita frequência. Pra


algumas mulheres não vem com tanta facilidade assim.
— Mas por que fingir? — ele perguntou sem entender. —

Levantar o ego deles?

— Porque o cara fica achando que a culpa é dele, mas não


é.

Às vezes não rola, sabe? — Pisquei para ele.

— Já sei exatamente o que vou pedir quando ganhar essa


partida — ele falou determinado.

— Se você ganhar. Mas agora vou te perguntar uma coisa.


Me virei para ele animada, e Johnny suspirou já esperando o


que viria. — Me conte um segredo seu.

— Um segredo? — Ele se encostou na cama e me limitei a


balançar a cabeça animada para ouvir. — Tá bom.

— Uma coisa que você nunca disse a ninguém — completei.

— Deixe-me ver... — Ele pensou sobre. — Não gosto quando


falam que vou ser a primeira escolha no Draft.

— Por quê? — Fiquei curiosa.

— É muita pressão, é como se tivesse que estar sempre no


topo, eles não aceitariam menos do que isso de mim. Enfim,
fico com medo de decepcionar.

Aquilo me surpreendeu, porque ele sempre pareceu ser


muito autoconfiante, não pensaria que era inseguro com o
hóquei. Nunca o vi jogar, mas pelo que falam ele é
fenomenal.

— Mas você aceitaria? — perguntei.


— Como assim? — Ele estreitou os olhos, confuso.

— Aceitaria ter um resultado menor do que esperam de


você?

— Acho que sim. — Ele deu de ombros. — Quero dar o meu


melhor, não ser o melhor.

— Então é isso que importa. — Pisquei para ele e ele sorriu


para mim iniciando de novo o jogo.

Daquela vez parecia que ele estava determinado, porque o


cretino ganhou a partida. Assim que acabou ele me olhou
com a cara mais convencida que já vi.

— Então... — Johnny se encostou na cama relaxado. —

Preparada?

— Claro. — Dei de ombros despreocupada.

— Goza pra mim — Johnny disse olhando fundo nos meus


olhos e senti minha respiração falhar.

— O... o que? — gaguejei em choque.

— Você ouviu — ele declarou tranquilo, erguendo um lado


da boca em um sorriso safado. — Você disse que conseguia
enganar qualquer um com seus orgasmos fingidos, quero
saber se iria ser pego nisso.

— Você quer que eu finja um orgasmo? Aqui? — Olhei em


volta como se não estivéssemos em um quarto.

— Sim.

— E como vou saber se funcionou? Você vai dizer que não


acreditou. — Senti vontade de rir, ao mesmo tempo em que
fiquei excitada.

— Simples, se meu pau ficar duro pra você, funcionou. Se


não

— ele deu de ombros —, não cairia nisso.

— Como saberia se seu pau ficou duro? — perguntei


sentindo uma vontade incontrolável de torcer minhas
pernas.

Ele me encarou e desceu o olhar para a sua calça moletom


e segui o olhar... Ok, dava para perceber claramente o pênis
dele ali, devia estar sem cueca. Senti minha boca ficar seca,
minha boceta contraiu, piscando e minha respiração falhou.
Assim que olhei para o safado em questão, ele me encarou
com intensidade e até uma pontada de deboche, como se
soubesse que estou excitada.

Adotei uma expressão de desafio, fingindo que não estava


afetada. Ele achava que podia brincar comigo, mas quem
comanda as brincadeiras sou eu.

— Tudo bem — decidi calma e despreocupada. — Só


cuidado pra não acabar se melando todo.

— Tenho certeza que quem está melado aqui, não sou eu.

Ele sorriu para mim e se acomodou mais na cama para me


assistir, colocando os braços cruzados em frente ao peito.
Deixou a sua virilha em exposição, para eu ter uma livre
visão do seu pênis sob o moletom.

Respirei fundo tentando me concentrar e me lembrar de


como fingir um bom orgasmo. Mas eu não queria fingir um
orgasmo, eu queria provocá-lo, brincar com ele. Queria vê-lo
enlouquecer.
Por isso, passei os dedos entre os fios dos meus cabelos, os
bagunçando e encarei Johnny.

— Pra fingir um orgasmo, você tem que fingir uma situação


comecei sussurrando. — Por exemplo, eu posso imaginar


nesse momento que você empurrou a sua calça para baixo.
Só um pouco, só o suficiente pra ver a cabeça do seu pau...
Vermelha, em formato de cogumelo e melada na ponta. —
Ele me encarou sério, não tinha mais brincadeira ali, ele me
fitou como se quisesse me pegar ali e me dar uns tapas
fortes na bunda. — Eu passaria o meu dedo —

Coloquei meu indicador perto da minha boca e o chupei,


deixando-o

sair com um rastro da minha saliva —, na sua cabeça dura e


macia.

Depois o lamberia com calma, passando a língua na base, o


sentindo pulsar ansioso na minha boca.

Minha boceta estava melada. Eu queria esfregar meu clitóris


ali, queria colocar um dedo dentro de mim e gira-lo,
atingindo meu ponto de prazer. Queria o dedo dele,
especificamente.

Os olhos de Johnny estavam fogo puro, seus dedos


apertaram seus braços, tentando se segurar para não me
pegar. Sua respiração ficou pesada e ele abriu a boca para
deixar o ar sair por lá.

— E o que você faria depois? — Johnny perguntou, a voz


grave demais.
— Eu te deixaria bem lubrificado com minha baba, seu pau
iria ficar completamente melado e depois eu o colocaria
todo dentro da boca. — Soltei o ar devagar, sentindo um
desejo insuportável no meio das pernas. Meu clitóris
pulsava e o ambiente parecia mais quente.

— E essa boquinha me aguentaria todo? — Seus olhos


fitaram minha boca com desejo, quase pedindo para fodê-
la. Seu peito subiu e desceu com respirações pesadas.

— Eu não sei o seu tamanho... — respondi olhando para o


seu pau que já tinha ganhado vida há muito tempo. Fiquei
hipnotizada com aquela imagem, o seu pau desenhado na
calça, tão duro... Eu queria tocá-lo.

— É o suficiente pra te alargar — informou me fazendo olhá-


lo nos olhos. Minha calcinha já estava úmida, podia sentir o
suor no meio das minhas coxas. — O suficiente para te
deixar assadinha no dia seguinte. O suficiente pra você
reclamar quando eu fosse te comer de novo logo em
seguida. O suficiente pra você sempre lembrar de mim
quando fosse se sentar.

Johnny passou a língua pelo seu lábio inferior, molhando-o,


deixando-o brilhante e vermelho. E podia jurar que ele
estava fazendo aquilo por imaginar como seria sua língua
entre as minhas pernas, entrando na minha boceta
ensopada, babando-a, passando aquela língua nas minhas
dobras.

— Quando eu terminasse, te deixaria alargada, gozada,


piscando... E muito satisfeita — continuou sem desviar os
olhos dos meus.

Não me aguentei. Já estava suando, eu precisava fazer isso.


Precisava. O pau dele pulsou no moletom, levantando,
implorando pela minha atenção, implorando para ser tocado
e iria ficar pior para ele, pois eu abri meu short. O som do
zíper ecoou pelo quarto quando frouxei meu jeans. Johnny
prendeu a respiração e torceu o pescoço, tentando conter o
desejo. Minha pele arrepiou inteira vendo-o se segurar
assim, meus mamilos arrepiaram junto e eu já sem
aguentar, enfiei minha mão lá dentro, lentamente. Sem tirar
os olhos dos dele.

Johnny fechou as mãos em punho, com força, me avisando


que estava brincando com ele e que quando me pegasse eu
iria chorar. Só esperava que fosse por baixo.

Passei meu dedo pela minha calcinha úmida e acariciei


minha boceta por cima do tecido. Eu só precisava dar um
pouco de atenção para o meu clitóris, então por cima da
calcinha o apertei um pouquinho. Gemi ofegante e joguei
minha cabeça para trás com o tesão reprimido. Eu sentia
uma gota de suor descendo pelo meu pescoço e tinha
consciência que estava toda vermelha, pois o sangue gelou
nas minhas veias.

Fechei meus olhos por um momento e quando os abri de


novo, Johnny estava mordendo o lábio inferior e me olhando
com a mão dentro do moletom, acariciando o pau para mim.
O seu braço forte, musculoso, com as veias saltando,
batendo uma para mim.

— Sua calcinha — falou ofegante à medida que acariciava


levemente a sua ereção —, está muito melada?

— Não — menti, empurrando minha calcinha de lado e


passando o dedo pela bagunça que estava a entrada da
minha boceta. — Seca.
Ele conseguiu sorrir mesmo serrando os dentes pela
excitação e respirou fundo. A tensão do seu corpo era muito
evidente pelas veias saltadas nele.

Vê-lo daquele jeito, a curva da sua boca, os lábios brilhantes


e babados, o suor se formando no meio do seu peito, o
cheiro de

hortelã que exalava dele, foram o suficiente para me fazer


endurecer mais ainda os bicos dos seios, senti eles pesarem
e meti um dedo inteiro dentro de mim.

Quando o dedo entrou, eu empurrei o corpo para frente,


gemendo sem fechar os olhos. Não queria perder a
expressão dele.

E como punição, Johnny tirou o seu pau de dentro do


moletom, mostrando-o para mim, se exibindo.

Ofegante olhei para ele, brilhante, grosso, grande, duro e


irritado. As veias saltavam da pele esticada e um líquido
saía da sua cabeça já lubrificada. Johnny colocou a língua
para fora e passou o seu polegar nela, molhando-o sem tirar
os olhos de mim. Ele levou o dedo melado à cabeça do pau,
massageando-a com ele, passando a sua saliva ali.

— Você disse que estava seca... — zombou rouco. Pegou o


pênis com o punho fechado, subindo e descendo
vagarosamente, masturbando-se devagar. Se torturando,
me torturando.

Meti mais um dedo dentro de mim, mas quando meus olhos


encontraram os dele, eu sabia que tinha perdido todo o
controle. Nos fitamos travados, paramos nossos
movimentos à medida que nossa encarada ficou mais
intensa. Soltei o ar pesado pela boca, soprando um fio de
cabelo que estava no meio da minha cara. Parecia que o
tempo tinha parado por um momento. Senti o suor se
formar no meio dos meus seios, e eu estava pulsando
muito, ensopada de tesão.

Nos olhamos e em sincronia falamos:

— Johnny...

— Amber...

Eu não sei quem veio primeiro, mas nós dois nos atacamos
de uma vez e eu fui jogada na cama.

Ele me derrubou e montou em cima de mim. Separei


minhas pernas desesperada para sentir o seu corpo quente
no meu. Johnny segurou com as duas mãos o meu quadril e
ergueu para ele, me controlando e roçou o meio das minhas
pernas, preste a explodir, na sua coxa grossa e musculosa,
girando com força e me fazendo gemer por finalmente ter
meu clitóris esfregado com vontade.

Gemi com vontade, meu peito subiu e desceu com os


gemidos que saíam da minha boca. Segurei os seus braços
e cravei

as unhas nele, devia tê-lo ferido, mas não me importei. E


nem ele, pois Johnny pegou a minha mão que estava antes
entre as minhas pernas e a colocou aberta no meio da sua
cara. Ele inspirou com força o cheiro e passou a língua entre
meus dedos, chupando cada um deles. Ele sugou meus
dedos com vontade e desespero, grosseiro, como se
precisasse sentir o gosto da minha boceta naquele
momento.

Gemi com aquela agressão gostosa e ele colocou cada


braço de um lado da minha cabeça, me aprisionando, ainda
com a coxa roçando na minha boceta através do jeans. Seu
rosto suado ficou na altura do meu e nossas respirações se
misturaram.

— Geme bem na minha boca, vai... — pediu com a boca a


centímetros da minha.

Ele desceu devagar a cabeça até seus lábios estarem a um


centímetro dos meus. Abri minha boca ansiosa para beijá-lo,
mas Johnny segurou meu pescoço cuidadosamente com
uma mão, erguendo minha cabeça sem me beijar.

— Eu quero sentir todo o teu gosto — disse passando a


língua devagar ao redor dos meus lábios. Eu estava tão
excitada que minha boca se abriu querendo sugá-lo. Queria
que ele me beijasse logo, só que Johnny queria me
provocar, pois tirou a língua do meu alcance quando me
inclinei, querendo-o.

— Geme bem gostoso pra mim — ele pediu descendo mais


a boca e mordiscando meu lábio inferior, sugando-o, sem
entrar. Gemi para ele, quando o safado girou com mais força
a coxa no meu clitóris e subiu as mãos ásperas de jogador
de hóquei para dentro da minha blusa, massageando os
meus seios por baixo do sutiã. O

contato das mãos quentes dele nos meus bicos durinhos foi
insuportavelmente gostoso.

Quando a língua dele finalmente entrou na minha boca eu o


suguei com força, me sentindo fodida pela boca também.
Johnny não beijava, ele fazia sexo com um simples beijo.
Sugou o meu lábio inferior e minha língua. A sua ditou todo
o nosso beijo, entrando e saindo, chocando com a minha e
me babando ao redor. Johnny mordiscou os cantos e desceu
para meus seios. Baixou a alça da minha blusa com o sutiã
junto e abocanhou um mamilo.
Abri mais as pernas, desesperada para sentir a mão dele em
mim. Johnny colocou a mão dentro do meu jeans, passando
os dedos pela entrada da minha boceta lambuzada. Eu
estava toda úmida, a boca e os seios babados, a boceta
melada e o corpo suado.

Queria ser comida por ele.

Johnny entrou com dois dos seus dedos de uma vez em


mim, sem pena. Seus dedos grandes e calejados me
alargaram e me esfreguei neles freneticamente, com tanta
vontade que nem precisava mexê-los.

— Isso — incentivou no meu ouvido, lambendo meu pescoço


suado. — Mela meus dedos, delícia...

Minha mão desceu pelo corpo dele, porque precisava senti-


lo.

Desci pelo abdômen trincado até encontrar o seu pau duro,


ainda para fora do moletom. Segurei-o firme e comecei a
masturbá-lo.

Johnny gemeu e mordeu meu lábio inferior em advertência,


sugando-o.

Ele se esfregou na minha mão como eu fazia na dele, nós


dois gememos dentro do nosso beijo. A outra mão dele
ainda segurava meu pescoço para eu nunca desviar do
beijo, para deixá-lo me foder pela boca como fazia com os
dedos.

Em algum momento ele tirou os dedos de mim de uma vez


e quase chorei pela falta. Mas foi só para sugar os próprios
dedos melados, sentir o meu gosto e devolvê-los para
dentro da minha boceta.
Ele enfiou a língua na minha boca de novo, fazendo-me
provar o meu sabor enquanto segurava meu cabelo, para
me manter no lugar.

Empurrou mais ainda os dois dedos totalmente lambuzados


dentro de mim e passou o polegar no meu clitóris.

Gemi na sua boca e aumentei o ritmo da masturbação no


seu pau. Ele gemeu e revirou os olhos de excitação, se
esfregando com mais raiva em mim, parecendo me punir
por tê-lo deixado assim.

Suado, excitado e desesperado.

Quando minha boceta contraiu e esmagou os dedos dele,


Johnny gemeu e começou a metê-los com mais força, eles
saíam

totalmente lubrificados. Eu rebolei na sua mão, jogando a


cabeça para trás e soltando gemidos irregulares.

Johnny passou a língua pelo meu pescoço suado e eu gozei


ali. Arranhei os braços dele e terminei de gozar já
trabalhando minha mão na sua masturbação para sentir o
gozo dele em mim também.

Johnny tirou os dedos todos melados de dentro do meu


short e os passou no seu pau, o sujando com o meu
orgasmo e dessa vez fui eu que puxei sua boca para a
minha.

Beijei ele e minha mão desceu e subiu na extensão do seu


pênis duro. Johnny segurou meus quadris com uma mão e
com a outra agarrou o meu pescoço, deixando-me acaricia-
lo enquanto metia na minha mão. Olhava e pegava em mim
como se imaginasse que estava me fodendo de verdade. Ele
intensificou as esfregadas na minha mão e torceu o pescoço
suado, adotando uma expressão sofrida, parecendo sentir
dor e desespero.

Quando percebi que ia gozar intensifiquei a punheta. Johnny


de repente levantou a minha blusa quase toda e tirou o pau
da minha mão para gozar na minha barriga. O seu sêmen
jorrou na minha pele, o líquido branco saindo da cabeça
inchada do seu pau e indo parar nos meus quadris, umbigo
e cintura. O jogador de hóquei queria me pintar com a sua
gozada.

Quando ele terminou encarou o feito como posse, quase


uma marcação de território. Depois levantou o olhar para
mim e me puxou para um beijo. Estávamos exaustos, mas
não paramos de nos beijar.

Johnny caiu em cima de mim, melando o próprio tronco com


seu sêmen no processo.

Passei as mãos nas suas costas suadas e o puxei mais para


mim, mesmo que não desse para ficarmos mais perto do
que isso.

Ele segurou meu rosto com as mãos e seu beijo foi ficando
mais suave.

— Desculpa por isso. — Johnny ergueu o rosto, arrependido.

— Pelo o que? — perguntei confusa. Ele já tinha se


arrependido? Senti uma dor no meio do peito se alastrar em
mim.

Mas ele negou com a cabeça, indicando que eu estava


entendendo errado. Johnny olhou para minha barriga
marcada do seu sêmen e entendi ao que se referia.

— Juro que dá pra próxima vez, vou perguntar antes —


prometeu.

— Não tem problema.

Eu meio que gostei de ficar melada com o seu gozo.

Ele me beijou de novo e levantou para ir ao banheiro se


limpar. Sorri como uma boba por ele ter falado que teria
próxima vez.

Quando ele saiu do banheiro, eu entrei e me limpei,


vestindo uma camiseta limpa que Johnny deixou para mim.

Quando voltei ele estava sentado encostado na cabeceira


da cama com outra calça moletom e sem camiseta,
assistindo uma série. Assim que me viu perto da cama me
puxou de uma vez, me fazendo cair em cima dele.

— Eu não disse que você se melaria todo? — provoquei me


erguendo para ficar na altura do seu rosto.

— Você também se melou. — Piscou para mim convencido.

— Quem disse que foi real? — brinquei erguendo a


sobrancelha.

— Então, esse foi seu orgasmo fingido? — debochou sem


acreditar em mim.

— Exatamente — confirmei, Johnny me puxou para cair na


cama e nos cobriu com um edredom.

— Você é a criatura mais cínica e mentirosa que existe —

acusou colocando o braço ao me redor e beijando minha


cabeça.
— Você é o ser mais desprezível que já conheci — devolvi
bocejando contra o peito dele.

— Johnny.

— Oi, princesa.

Meu coração deu uma leve acelerada.

— Eu não vou dormir aqui — avisei sentindo meus olhos


pesarem. Gozar dá sono.

— Você não vai a lugar nenhum — determinou e revirei os


olhos.

— Johnny...

— O que é? — respondeu.

— Seu quarto tem uma acústica boa mesmo.

— Eu te disse que quando uma mulher entra aqui...

Belisquei ele e o babaca riu. Fiquei um pouco em silêncio,


mas não consegui me segurar e comentei sobre a série de
ficção científica que ele colocou.

— Johnny...

— O que foi agora? — resmungou.

— Essa sua série é horrível, tá me dando sono — disse


querendo rir.

— Você tá com sono porque gozou. Essa é uma das


melhores séries já criadas.

Revirei os olhos.
— Qual o nome? — perguntei.

— Dark.

— Eu não estou entendendo nada — revelei rindo.

— Não é pra entender —falou beijando minha cabeça.

Bocejei e o abracei, querendo cochilar. Em algum momento


lembrei de dizer mais uma coisa para ele.

— Johnny...

— O que? — suspirou cansado.

— Eu ainda te odeio, sabe? — informei abraçando-o e


deitando a cabeça no seu peito, meio dormindo meio
consciente.

— Eu também — devolveu acariciando meu cabelo. — Boa


noite, minha princesa.

AMBER FOSTER

Senti um beijo bem no meu pescoço, fazendo-me arrepiar


da cabeça aos pés. Resmunguei querendo dormir de novo,
mas os lábios voltaram, mais quentes e demorados. Quando
abri os olhos, Johnny Jackson apareceu em cima de mim me
encarando com divertimento.
— O que é? — resmunguei querendo dormir, fazendo a
criatura à minha frente beijar mais uma vez meu pescoço,
me arrepiando de novo.

— Não sei se você sabe, mas é segunda-feira. Você vai pra


faculdade ou não? — perguntou.

Sentei na cama observando que tinha amanhecido e que


Johnny estava só de toalha, seu cabelo molhado, como se
tivesse acabado de sair do chuveiro. E advinha?
Absurdamente lindo.

Deveria ser proibido alguém acordar assim.

— Sou obrigada? — Tentei puxar o edredom de volta para


cobrir meu rosto, mas Johnny o segurou.

— É, princesa. Anda, que tá todo mundo lá embaixo — ele


avisou tirando todos os lençóis da cama.

Mas que descaramento! Se bem que a casa é dele, né.

Suspirei e levantei da cama, me espreguiçando ainda


desorientada, tirei depressa a camiseta dele e vesti minha
blusa. Johnny parou na minha frente e me abraçou,
apertando os seus braços em volta da

minha cintura e enterrando o rosto no meu pescoço,


agarrei-o de volta.

— Você não sabe nada sobre as regras do dia seguinte —

brinquei ficando com a testa encostada na dele —, nada de


abraços, ou isso pode levar a pessoa a pensar no vestido de
noiva, nos nomes dos futuros filhos, ou no plano conjunto de
aposentadoria.
— Na minha situação, não tem muito o que fazer, Amber —

ele suspirou derrotado. — Quando pego uma garota ela


sempre se apaixona por mim, é inevitável.

— Você é um guerreiro, Johnny. — Fingi pena.

— Você vai precisar de uma terapia quando sair daqui —

continuou —, talvez anos depois ainda pense em mim.

— Estou pensando em tatuar o seu nome na minha bunda


nesse momento.

— Isso é comum — O cretino deu de ombros —, você


provavelmente vai querer cheirar as minhas cuecas.

— Creio que vicie mais que cocaína. — Apoiei as minhas


mãos no peito dele. — Mas você ainda lembra meu nome,
não é?

— Claro. Não se preocupe, eu te ligo, Angeline. — Ele piscou


para mim e fui rápida na minha tirada.

Enquanto fingia que ia passar a mão no seu abdômen puxei


sua toalha de uma vez e corri para a porta, fechando-a atrás
de mim e o deixando pelado, parado como um tolo.

— Sua pilantra... Espere só até eu te pegar — ameaçou do


outro lado da porta, mas podia ouvir o divertimento em sua
voz.

— Você mereceu. — Ri e coloquei a toalha no trinco da


porta.

Desci as escadas e paralisei no meio do caminho com a


cena que encontrei na cozinha. Sienna, Colin, Drake, Taylor,
Tyler, Scar e Maddie estavam todos na cozinha tomando
café da manhã juntos, vestidos e prontos para irem para
faculdade.

O que as meninas estavam fazendo aqui?

— Bom dia, crianças — cumprimentei eles.

— Bom dia — todos falaram em coro.

Os meninos estavam tão comportados e compostos que


suspeitei que tinha acontecido alguma coisa com eles.
Sienna olhou

para eles com orgulho enquanto comia seu waffle. Incrível


como ela conseguia ser fina até comendo waffles.

E entendi imediatamente o que aconteceu. Sienna arrasava


na cozinha e ela fazia essa mesma chantagem com a gente,
se nos comportássemos com classe, ela cozinhava para nós.

— Então, por que estamos comendo aqui? — perguntei para


elas enquanto me sentava.

— Vocês vão comer aqui todos os dias a partir de agora —

Drake determinou comendo os bolinhos que sabia que


tinham sido feitos por Sienna.

— Todos os dias — repetiu Colin tomando o chocolate


quente

—, podem preparar as malas.

— Até pensaria nisso — alfinetou Maddie por sobre o seu


copo de suco natural —, se não fosse por certas energias
pesadas vindas de algumas pessoas.
— Você e as suas energias podem ficar por lá mesmo. Não
farão falta. — Colin sorriu para ela.

— Ei, onde você foi parar ontem? — Tyler virou-se para mim
desconfiado. — Disse que ia ao banheiro e nunca mais
voltou.

— É mesmo — Drake pareceu lembrar-se do episódio —,


simplesmente desapareceu.

Todos se viraram para mim esperando uma explicação.

— Minha bexiga estava cheia. — Dei de ombros.

— Então, passou a noite toda mijando foi? — perguntou


Colin, sorrindo na minha direção.

— Cai dura em algum lugar. — Tentei fugir do assunto.

— Em que lugar? — Scar olhou para mim desconfiada.

— Hum, mas esses bolinhos estão ótimos — murmurei


comendo os bolinhos e tentando desviar a atenção do
grupo.

— Que lugar? — insistiu Taylor.

— O que? — Fiz-me de desentendida.

— Você dormiu — esclareceu Maddie.

— Onde? — questionei debilmente fazendo todos perderem


a paciência.

Mas fui salva no último segundo quando Johnny chegou na


cozinha já arrumado. Ele sentou no único lugar vago que
tinha ao
meu lado.

— Meu Deus, quem foi que fez esse café? — Johnny elogiou
abismado.

— Sienna — Taylor e Colin responderam ao mesmo tempo.

— Vamos aparecer para o café todo dia agora — Johnny


disse a Sienna que sorriu e corou.

— E você? Onde estava também? — perguntou Colin para


Johnny desconfiado.

— É verdade. — Drake se virou para o seu capitão — Você


também simplesmente sumiu.

— Eu? — Johnny se fingiu de desentendido.

— Sim, onde estava? — Taylor se inclinou na mesa curioso.

— Jogando vídeo game, você sabe, apertando alguns botões

— Johnny desconversou, e não me passou despercebido o


duplo sentido. Quase chutei sua perna pela provocação.

— Onde? Não foi com a gente — Drake disse de boca cheia.

— Como assim? — Johnny questionou debilmente.

— Onde você jogou vídeo game — falou Tyler já sem


paciência.

— Quando? — respondeu Johnny.

— Ontem — Scar interferiu irritada com as nossas tiradas.

— O que tem? — Johnny fingiu-se de confuso e todos na


mesa suspiraram cansados.
— Hoje está difícil ter uma conversa. — Sienna balançou a
cabeça em negação.

— Hum... quem fez esses brownies? — perguntou Maddie os


levando até a boca.

— NÃO! — Todo mundo gritou ao mesmo tempo, fazendo


Maddie parar com o brownie a caminho da boca.

— Oh, isso seria divertido. — Colin riu.

— É do Tyler, querida, não coma — Taylor avisou tirando o


brownie da mão de Maddie com cuidado.

— Ei, quando foi que vocês se conheceram mesmo? —

Apontei para eles, vendo a interação de Maddie e Taylor.


Tinha para mim que ela não tinha sido apresentada aos
gêmeos.

— Ontem na festa, e hoje já somos melhores amigos —

Maddie contou sorrindo para Taylor e mostrando suas


covinhas.

— Oh, mas ela é tão lindinha. — Tyler suspirou encantado e


Colin revirou os olhos.

— Bem, eu vou tomar banho — avisei me levantando, todo


mundo estava pronto, só faltava eu. — Me espere. — Fitei
Sienna.

— Hoje não posso te levar — Sienna murmurou


envergonhada.

— Por quê? — perguntei sem entender, sempre íamos com


Sienna, ela era a única com carro.
— Michael sumiu com o carro dela ontem — Scar esclareceu
com uma expressão de desgosto.

— O que? — Johnny olhou entre nós confuso.

— Brigamos e ele foi embora no meu carro — Sienna


revelou desconfortável. Pelo jeito não queria falar sobre isso
na frente dos meninos.

— Vocês vêm com a gente — determinou Johnny zangado.

— Mas nem todo mundo fica no mesmo prédio. — Maddie


pontuou.

— Paramos no central, de lá cada um segue pro seu —

Johnny disse para ela.

— Vocês não têm carro? — Colin se meteu na conversa,


curioso.

— Só Sienna, mas todas dirigimos — Scar respondeu —,


menos Amber.

— Você não sabe dirigir? — Taylor me fitou surpreso.

— Tirei a carteira, mas digamos que não pratiquei muito


depois disso — revelei me sentindo culpada.

— Espere aí, você disse que “ninguém tinha te ensinado” —

repetiu Johnny contrariado.

— E é a mesma coisa. — Dei de ombros. — Tirei a carteira,


mas depois ninguém quis praticar comigo.

— Bem, então você vai dirigindo hoje — Johnny decidiu e


todos na mesa o olharam assustados. — Vamos na minivan.
O que? Eles tinham uma minivan?

— Adoro quando andamos na minivan. — Colin empolgou-


se.

— Sinto que estou de volta ao maternal.

— Vocês têm uma minivan? — Scar riu achando graça.

— Nós não, Johnny — Tyler esclareceu e olhei surpresa para


Johnny. Já o tinha visto com um carro comum, mas não com
uma minivan.

— Por que você tem uma minivan? — perguntei rindo.

— Depois conto, é melhor você ir se arrumar logo, já


estamos atrasados — Johnny desconversou e percebi que
ele não queria falar disso ali.

Hum, não esqueceria de perguntar depois.

Fui para casa tomar banho e me arrumar. Quando voltei


vestindo calça jeans e um suéter vermelho eles estavam
entrando numa minivan prata estacionada do lado de fora,
que parecia muito conservada e moderna.

Assim que cheguei perto Johnny abriu a porta do carro para


mim. Sentei no assento do motorista sentindo as mãos
tremerem.

Olhando pelo retrovisor vi todo mundo me olhando com


caras diferentes de espanto.

— Me diga novamente por que ela vai dirigir — Tyler pediu


sem tirar os olhos das minhas mãos segurando o volante.

— E me explique por que concordamos com isso — Drake


completou se segurando mais no banco.
— Por que ela não tem prática e vamos todos apoiá-la —

determinou Johnny em tom de comando, sentando no banco


do passageiro —, e não é como se ela não soubesse dirigir
mesmo, até carteira tem.

Ele foi tão enfático que tive que acreditar nele. Podia fazer
isso. Suspirando olhei para os pedais confusa, sem me
lembrar da função de cada um.

— Onde fica o freio mesmo? — perguntei e todos no carro


começaram a falar ao mesmo tempo.

— Pelo amor de Deus, me deixa sair — Tyler suplicou


procurando passar por Maddie e sair do carro.

— Não acho que seja saudável botar ela no volante sozinha

— Taylor avisou sério.

— Eu vou sair — Scar procurou passar por Colin e todos


fizeram movimentos para sair ao mesmo tempo.

Mas Johnny travou todas as portas do banco do passageiro e


de repente fez-se um silêncio mortal dentro do carro.

— Ela tem que se sentir responsável por outras vidas


enquanto estiver no volante — Johnny discursou imponente
e se virou para mim.
— Mas tem que ser pelas nossas vidas? — Drake perguntou
botando a cabeça no campo de visão de Johnny.

— Você tem em mãos as vidas de todos nesse carro, Amber.

Lembre-se disso — Johnny disse se virando para mim.

Poderia se ouvir uma borboleta batendo asas, liguei o carro


sentindo uma vontade incontrolável de rir. E quando virei o
rosto para o meu copiloto que ajeitava o seu boné, vi que
ele também estava escondendo o riso.

Cretino.

JOHNNY JACKSON

Pelo meu retrovisor vi Taylor engolindo em seco, Sienna


nitidamente preocupada, Scarlett e Maddie estavam
morrendo de medo, agarrando os seus bancos como se
fossem botes salva-vidas.

Drake olhava para os lados procurando uma saída. E Tyler?

Acho que estava rezando. O único que estava muito bem


confortável era Colin, que cruzava as pernas em cima do
banco da frente, relaxado.

Olhei para Amber vendo que estava tentando segurar o riso.

Eu também estava.

— Pode soltar a embreagem e pisar no acelerador. —


Indiquei e ela pisou no acelerador com tudo, porque o carro
foi para frente, fazendo cada ser ali dentro gritar.

— Vamos manter a calma — gritei para eles e guiei o carro


na direção certa, e Amber desacelerou.
— VAMOS MANTER A CALMA? —Tyler gritou de volta. — Eu
quero sair daqui. Agora — falou procurando uma saída pelos
vidros.

— Meu horóscopo avisou para não sair de casa hoje. —

Maddie se agarrou ao seu banco.

Amber acelerou mais ainda e todos gritaram de novo. A


garota tinha o pé pesado.

— Amber, pelo amor de Deus! Eu não posso morrer —

Scarlett falou desesperada. — Tenho prova amanhã!

— E é com isso que você tá preocupada? — perguntou


Sienna como se a amiga estivesse enlouquecida.

— Acho que esse é o momento perfeito para confessarmos


os nossos pecados — Colin aconselhou relaxado do seu
banco olhando para Maddie. — Já que vamos todos morrer
mesmo.

Ele não estava ajudando.

— Vai sonhando — debochou Maddie.

Mas bem nesse momento Amber acelerou o carro mais


ainda, fazendo-nos segurarmos mais no assento.

— Ai Meu Deus, eu nunca tive um sexo selvagem na vida —

Sienna soltou olhando para cima.

Nos viramos em sincronia para ela, e assim que percebeu o


que disse ficou vermelha como uma pimenta.
— Esse é o seu pecado? — perguntou Amber confusa
olhando-a pelo retrovisor.

— Se sairmos vivos desse carro, resolverei esse seu


problema imediatamente — Drake gritou para ela do seu
banco, fazendo a garota ficar mais envergonhada ainda.

— Eu gastei a metade da minha vida jogando vídeo game —

Tyler disse.

— Meu pau é pequeno — Taylor revelou e o encaramos em


silêncio.

— Eu sabia! — Tyler apontou para ele convencido.

É, parece que eles estavam levando o conselho do Colin a


sério.

— Oh querido, isso não significa nada — Scarlett o consolou.

— Às vezes um do tamanho menor pode satisfazer até mais.

— Maddie se inclinou e apertou gentilmente o seu ombro.

— Tamanho não lhe define — Sienna ajudou.

— Não se importe com isso. — Drake deu de ombros.

— Isso não significa nada, cara, sério — falei para Taylor.

— Te provoco, mas isso é normal, irmão. — Tyler piscou para


o irmão.

E todos viraram para Colin esperando a sua contribuição,


mas ele nos olhou confuso, alheio à crise.
— O que? Não sei o que dizer, sinto muito, cara. Não sofro
desse problema — Colin se desculpou com ele e encostou-
se mais no banco.

— Babaca — Maddie sussurrou alto demais.

— E você, Madison? — Colin virou-se com determinação


para a ruiva — Quais os seus pecados? O que você estava
fazendo no nosso gramado, por exemplo?

— Não é da sua conta — ela devolveu.

— Eu tenho um pecado a confessar — Tyler declarou de


novo e o olhamos em expectativa. — Já transei com a irmã
do meu amigo.

— Ah, isso é besteira. — Drake deu de ombros. — Todo


mundo já fez isso.

— Graças a Deus que você pensa assim — Tyler suspirou


aliviado —, porque foi com a sua irmã.

— O QUE? — Drake tirou o cinto e foi para cima dele,


tentando passar pelos bancos.

Consegui segurá-lo pela camisa, enquanto Taylor o


empurrou de volta para o banco.

— Ei, o que está acontecendo aí? — gritou Amber tentando


acompanhar o assunto.

— Tyler dormiu com a irmã do Drake — Sienna gritou de


volta.

Drake tentou saltar do banco de novo, mas eu e Taylor o


seguramos no lugar. Tyler se encolheu atrás das meninas,
que tentavam o proteger. E começou uma gritaria de
defesas, ameaças de morte e risos dentro do carro.

Os risos eram exclusivos de Amber e Colin.

As pessoas que passavam na rua e dos outros carros


olhavam para a minivan nitidamente preocupados e
confusos.

— Mas que porra! Vocês podem se controlar?! — gritei para


eles. — Colin, você pode ajudar aqui, seu bosta? Foi você
que começou isso.

— Não acredito que você dormiu com Grace, seu


desgraçado!

— Drake rugiu do seu assento.

— Não dormi com Grace — Tyler se defendeu erguendo as


mãos.

— Não? — Drake suspirou aliviado.

— Não, foi com Patrícia — Tyler revelou.

— MINHA CAÇULA? — Drake se descontrolou de novo.

— Talvez tenha sido com as duas — Colin contribuiu dando


de ombros e Drake tentou avançar em Tyler mais uma vez.

— Colin, seu merda, se não ajuda, não atrapalha — rugi


para ele.

— Não dormi com a irmã de ninguém aqui — Colin se


defendeu erguendo as mãos.

— Johnny, vou fazer uma curva — chamou Amber temerosa


e me virei para ela.
— Desacelera, meu amor — falei suavemente para ela,
pegando no volante.

— MEU AMOR? — Os quatro cretinos perguntaram ao


mesmo tempo e fiquei desconcertado.

— O que? — perguntei sem jeito. — Chamo as garotas


assim.

— Não, chama não — falou Drake convicto.

Estava certo, não chamava.

— Ora, Johnny — Colin cantarolou desconfiado. — Por que


você não revela os seus segredos?

— E por que você não cala a sua boca? — devolvi para ele.

Amber riu e acelerou o carro de novo, todos foram para


frente assustados.

— Se alguém tem mais alguma coisa a dizer, fale agora —

Colin soltou.

— Não! Ninguém vai dizer mais nada aqui! — gritei, não iria
apartar outra briga.

— Espere, eu tenho algo a dizer — Drake pronunciou


segurando o seu assento e suspirei cansado.

— Estamos chegando, ninguém vai morrer aqui — avisei


para eles.

— Nunca se sabe — Colin jogou. — As mortes acontecem


nas situações mais inusitadas.
— Colin, quando esse carro parar eu vou te pegar —
ameacei furiosamente olhando para ele pelo retrovisor.

—Continue Drake — incentivou Colin.

— Sim, Drake, continue — falou Tyler, recebendo um olhar


de ódio de Drake.

— Bem, eu me...

— Chegamos! — Amber manifestou feliz estacionando o


carro e buzinando para as pessoas da rua. — Adorei essa
buzina.

— Mas parece que os pedestres não — ironizou Scarlett


olhando para os alunos que olhavam curiosos para a
minivan.

— Nunca mais piso nessa minivan — Taylor pronunciou


aliviado esperando todos saírem.

— O que foi dito nessa minivan, morre aqui — Sienna pediu


vermelha quando chegamos à calçada.

— Foi um surto coletivo — Maddie concordou.

— Acho que agora somos populares meninas — Amber


observou.

Várias pessoas olhavam em nossa direção, mas acho que


isso era meio que comum para nós, talvez não fosse para
elas.

— Subimos na escala social — provocou Maddie. — Éramos


pária da sociedade e agora andamos com os jogadores de
hóquei.
— Vocês nunca foram párias — apontou Scarlett com
delicadeza —, a única sem amigos aqui sou eu.

A morena sorriu triste e fiquei sentido pelo que aconteceu


com ela na fraternidade, parecia ser uma garota legal, não
entendia por que não tinha amigos.

Colin percebeu a tristeza da Scarlett e colocou o braço ao


redor dela.

— Mas que absurdo é esse? — Colin fingiu estar ofendido. —

E nós não somos seus amigos?

Ele passou o braço pelas pernas dela e a colocou sob seus


ombros, a garota riu contra suas costas.

— Me bota no chão, Colin. — Scarlett batia de leve nos


ombros dele.

— Pega, Johnny. — Ele me jogou Scarlett como se fosse uma


mercadoria leve e a peguei, colocando-a no ombro com ela
rindo.

— Agora, você é nossa mascote, Scarlett — declarei


andando com ela e jogando para Drake que a pegou no ar.

Era definitivo, se ela não tinha amigos, agora tem. Por mais
que fossemos canalhas declarados e ela muito linda,
nenhum de nós demonstrou que tinha qualquer interesse
romântico nela. Acho que era a primeira vez que
experimentaria como era ter amizade masculina sem
segundas intenções.

Drake andou com ela nos ombros e cantou o hino do nosso


time, depois a jogou para Taylor. Scarlett se resignou a rir e
acenar para as pessoas que observavam a cena.
Éramos um grupo estranho, com certeza. Quatro meninas
rejeitadas de uma fraternidade, cada uma com suas
peculiaridades, quatro jogadores de hóquei devassos e um
nerd maconheiro. As pessoas olhavam para nós e tinham
cara de quem se perguntava o que fazíamos juntos. Pois é,
também não sei. Mas gostava.

Amber apareceu do meu lado observando a amiga sendo


jogada de um ombro para outro com um sorriso no rosto.

— Obrigada por isso.

— Você que tem que dizer para ela se cuidar. — Sorri para
ela

— Ser nossa amiga não é fácil.

— Vocês não são tão terríveis assim. — Amber piscou para


mim. Caminhamos um ao lado do outro, enquanto o resto
do grupo se afastava.

— Tá, por que você tem uma minivan? — ela perguntou


parando no lugar.

— Era da minha mãe — respirei fundo ao falar —, meu pai


deu para ela, há uns três anos atrás, quando ficou grávida
das gêmeas.

— Não sabia que tinha irmãs — Amber sondou.

— Não tenho, ela as perdeu — Dei de ombros —, e a


minivan ficou. Acho que eles não queriam ficar olhando pra
um carro vazio, então trouxe comigo.

— Eu sinto muito. — Ela segurou a minha mão ali, em


público e tudo o que eu queria era entrelaçar nossos dedos
e caminhar com ela assim.
— Tudo bem, já passou. Então, qual prédio vai ficar? —
Tentei mudar de assunto.

— Por ali. — Ela apontou para a esquerda e começou a


caminhar naquela direção.

Caminhei do seu lado, não porque minha aula era na


mesma direção, mas porque queria ficar um pouco mais
com ela.

— O que eles fazem? — ela questionou depois de um tempo


em silêncio.

— Quem? Os meus pais?

— Isso. — Ela mordeu o lábio inferior e fiquei com vontade


de passar a língua ali.

— Somos do Brooklyn, meu pai é mecânico e minha mãe


tem um salão de beleza. Ela é super romântica e excêntrica
— sorri lembrando dela —, meu pai já é um homem prático.

— Eles parecem ser legais — murmurou parecendo feliz por


mim e ao mesmo tempo triste.

— E os seus pais? De onde são? — perguntei curioso.

— Sou da Flórida. Meu pai é dono de uma rede de hotéis. É

um coroa muito gato, o terror das novinhas — tentou


brincar comigo, mas percebi que não era um tema
confortável para ela. — Se você visse Lindsay, minha
madrasta, pensaria que ela é minha irmã.

Ao falar da madrasta ela riu de verdade, como se estivesse


com saudade.
— E sua mãe? — sondei curioso, com cuidado e a vi
enrijecer a postura e me olhar de canto, suplicando com os
olhos verdes para não tocar no assunto. — Tudo bem,
princesa — falei tranquilizando-a e ela suspirou aliviada.

Senti o meu bolso vibrar e peguei o celular, mas não queria


ter pegado. Pois olhar aquelas mensagens era como acordar
de um sonho bom. Um sonho onde eu ficava com Amber e
não me

preocupava com o que aconteceria no dia seguinte, onde


não lidaria com as consequências disso.

Benny: Tentei beijar ela ontem. Tô morto de vergonha.

Benny: Mas pelo menos tomei alguma iniciativa.

Benny: Temos uma aula juntos hoje, comprei o café dela.

Benny: Estou me sentindo corajoso, vou tentar me


aproximar de novo.

Benny: Depois conto como foi.

Benny: E Johnny? Obrigada por estar me ajudando, de


verdade.

Foi como um soco no estômago. Senti culpa, mas na mesma


proporção que senti raiva. Apertei o celular com meus
dedos até ficarem brancos, queria jogar o aparelho no chão
e pisar em cima.

Não queria que ele tentasse se aproximar dela, queria que


mantivesse as mãos bem longe dela.

Mas isso não estava ao meu alcance, eu sabia o que tinha


que fazer. Sabia o que era o certo. Estava estragando tudo
ou talvez já tenha estragado. Nem estava escrito o quanto
era egoísta da minha parte atrapalhar isso para Benny, ele
nunca esteve interessado em alguém, e justo quando isso
acontece eu me meto no meio.

Olhei para Amber, que me esperava na calçada segurando a


bolsa no ombro. O sol iluminando os seus fios loiros escuros,
os lábios rosados e os olhos verdes vivos. Tão linda. Tão
inalcançável.

— O que foi? — ela perguntou sorrindo vendo que a olhava


perdido.

— Nada. Vou indo pra minha aula. — Fui o mais evasivo


possível, ela me olhou confusa.

— Tá bom. Te vejo depois. —Ela deu aquele sorriso fácil para


mim e quando não sorri de volta ela me olhou sem
entender, como se estivesse procurando respostas no meu
rosto.

Ela quis dizer alguma coisa, mas não disse. Eu também não
falei. Só continuamos a nos olhar e tinha tudo ali, tudo.
Tinha alguma coisa no verde dos seus olhos que me atraia
para eles.

E me senti criança de novo, em um daqueles dias em que


queria muito um brinquedo lindo que outro garoto tinha e
eu não podia ter, era dele. Não era para mim.

Fiz o certo, abaixei minha cabeça e passei a caminhar na


direção contrária a ela, sem me despedir. Podia sentir seu
olhar nas minhas costas, eu percebi que ficou um pouco
magoada, mas não virei, segui em frente. Senti meu peito
arder e coloquei as mãos nos bolsos, quase me segurando
para não dar meia volta e pegá-la para mim.
Queria voltar, passar meus braços em volta dela e enfiar o
meu rosto no seu pescoço, sentir o seu cheiro, a pele macia,
escutar as suas risadas ridículas e conversas sem sentido.
Mas não era para mim, por isso abaixei minha cabeça e
caminhei derrotado, e me perguntei por que isso doía tanto.

Por que isso me quebrava por dentro?

AMBER FOSTER

— Esse lugar é tão lindo — Lindsay disse dirigindo pela


estrada deserta. O sol banhava o ambiente, deixando um
certo rastro de calor pelo lugar naturalmente fresco das
árvores que cobriam o lado direito da estrada.

Estávamos viajando apenas nós duas, eu e minha madrasta.

Adorávamos pegar a estrada para lugares incertos e ver a


paisagem pelo carro.

Mas aquele em especial era realmente lindo. Quando


coloquei minha cabeça para fora da janela vi, a alguns
metros de distância de onde estávamos, uma árvore que
parecia daquelas centenárias. Ela era gigante e chamava a
atenção de longe, magnífica, como se tivesse sido feita à
mão de tão perfeita.

— Meu Deus, Lin — sussurrei abismada com a beleza da


árvore.
— Eu acho que é um salgueiro — arriscou também
impressionada.

— Vamos parar lá — pedi inclinando-me para vê-la melhor.

Lindsay encostou o carro no acostamento quando chegamos


perto e saímos do carro. Não deveríamos ficar muito tempo,
pois era perigoso, era uma estrada deserta, mas entramos
em mútuo entendimento que tínhamos que vê-la de perto.

O salgueiro tinha um tronco enorme, quase do tamanho de


um caminhão. As suas raízes chegavam a sair da terra e as
folhas caíam sob o tronco, formando um casulo gigante.

Quando toquei o seu tronco me senti abençoada de alguma


forma. Parecia mágico.

— Quanto anos acha que ela tem? — perguntei dançando os


meus dedos pelo seu casco.

— Com certeza estava aqui muito antes de existirmos —

respondeu Lindsay, contornando a árvore e sumindo da


minha vista.

Levantei meu olhar vendo como a luz do sol refletia pelos


seus galhos, entrando nas folhas e aquecendo o ambiente
úmido da natureza. Aquele lugar cheirava à vida e eu nunca
senti um cheiro tão gostoso como aquele.

Em um momento impulsivo decidi escalá-la. Como Lindsay


não estava à vista, comecei a subir na árvore. Não iria
muito alto porque tinha consciência que seria perigoso, ela
era gigante, não daria para ir ao topo nem se eu quisesse.

Quando consegui chegar a um galho estendido na


horizontal me sentei nele. Parecia um braço erguido da
árvore, quase como se estivesse naquela posição
justamente para me receber sentada ali.

Passei os dedos na sua espessura e não sei o que deu em


mim, mas eu queria escrever algo ali. Marcá-la. Talvez um
“eu estive aqui” ou algo do tipo.

— O que você tá fazendo, sua maluca? — Lindsay gritou lá


de baixo.

— Você tem um canivete aí, não é? — pedi me lembrando


que ela sempre carregava um.

— Tenho, mas cuidado aí — avisou, tirando da sua bolsa um


canivete rosa e atirando-o para mim.

Peguei no ar e empurrei a lâmina para fora. Alisei de novo o


galho da árvore e pensei no que poderia escrever, algo que
tivesse um significado para mim.

Fechei os olhos e escutei o cantar dos pássaros. Escutei o


balançar das folhas. Escutei o vento e o som da minha
respiração.

Mas acima de tudo, eu escutei o som da vida soprando para


mim.

Então escrevi.

— Bonito — Lindsay disse olhando de baixo para o que


gravei na árvore. — Agora desce! Vai ficar perigoso, vamos.

Acenei com a cabeça e alisei mais uma vez a árvore, me


despedindo dela. Desci com cuidado e segui Lindsay até o
carro, olhando para trás uma última vez.
Não sei por que, mas senti como se tivesse deixado uma
parte minha ali.

Acordei escutando o despertador apitar e aliviada por pelo


menos daquela vez não ter sido um pesadelo.

Tomei banho e me vesti rápido para levar os cachorros para


passearem. Quando os levei para o gramado e ajeitei suas
coleiras, involuntariamente me virei para a casa ao lado,
soltando um suspiro triste.

Ele não estava interessado.

Era àquela conclusão que cheguei depois do Johnny passar


a semana me evitando e estava tudo bem. Não tínhamos
nada mesmo. Ele com certeza já viveu aquele tipo de
situação antes, ficava com alguma garota e depois tinha
que lidar com o inconveniente de ter que dispensá-la.

Era isso. O problema era... Não estava tudo bem. Achei que
tinha acontecido algo, não sei exatamente o que. Mas achei
que a gente tinha achado uma sintonia, uma conexão.

Que tolice, Amber. Mas ele foi tão carinhoso, tão amoroso...

Não sei, jurei mesmo que a gente tinha algo diferente e


estava triste.

A verdade era essa, estava me sentindo triste, e contra todo


o bom senso, sentia falta dele.

Sentia falta de ser abraçada por ele, de quando me


chamava de “princesa”, sentia falta de deitar no seu peito,
era ridículo. E me sentia tão tola por estar pensando em
uma pessoa que não deve nem lembrar que existo nesse
momento.
Era humilhante, mas era assim que me sentia. E ele nem
tinha culpa disso, claro. Não podia culpá-lo por não se
envolver, ele não era obrigado a gostar de mim. Aquelas
coisas simplesmente aconteciam e com ele não aconteceu.
Acho que o melhor era tentar

evitá-lo, me preservar de me machucar ou até mesmo de


incomodá-lo com isso.

Será que ele conseguiu ver nitidamente meu interesse?


Com certeza, me agarrei a ele como uma gatinha manhosa.
Deve ter pensado que eu era carente e pegajosa.

Só isso explicaria o fato de me evitar durante esses dias. E

como sei que ele está fugindo de mim? Era sexta-feira e


desde o café que Sienna fez segunda, os meninos estão
vindo todos os dias tomar café da manhã aqui. Todos eles
aparecem, exceto Johnny.

Ele não aparece mais quando vou passear com os


cachorros, nem no campus. Tudo bem, que era quase
impossível nos cruzarmos em meio às aulas. Mas ele estava
me evitando, era claro.

Pensei em mandar uma mensagem para ele, cheguei


mesmo a digitar uma mensagem e depois apaguei,
sentindo-me tola. Ele não me queria, seria ridículo da minha
parte ficar tentando chamar sua atenção.

Senti meu celular vibrar no bolso enquanto ajeitava a


coleira do Brad Pitt.

Benny: Bom dia!

Benny: Biblioteca hoje?


Eu: Hoje estou um pouco cansada, podemos deixar pra
próxima semana?

Benny: Claro.

Uma coisa boa daquela semana foi Benny ter se livrado um


pouco da timidez. Ele estava falando mais comigo, trazia o
meu café quando tínhamos aulas juntos, me chamava para
estudar com ele na biblioteca. Ele estava mais solto e eu
ficava feliz por isso.

Depois que terminei de colocar a coleira nos meus anjinhos,


a porta da casa ao lado se abriu e ninguém menos que
Johnny Jackson saiu de lá.

Johnny segurou a porta paralisado, vestindo uma calça


moletom de corrida, camiseta preta de manga curta,
deixando os braços tatuados e musculosos a mostra e com
o seu boné de sempre. Mas quando olhei para seu rosto
percebi que estava abatido.

Ele tinha olheiras e me olhava com tristeza... e algo mais.


Algo que não consegui identificar, mas parecia com
ansiedade.

Sabia que uma hora teríamos que nos cruzar e estava com
medo disso. Não queria que ele percebesse que eu estava
magoada, queria parecer indiferente, como se não tivesse
notado o seu sumiço.

Para falar a verdade, naquele momento estava sentindo


algo que acho que nunca senti na vida. Vergonha.

Vergonha por ter ficado emocionada daquele jeito só com


alguns “pegas”. E se ele soubesse disso seria bem pior.
Desviei o olhar dele constrangida e sem saber como agir.
Era ridículo! Sempre que alguns dos meus sexos casuais
acabavam, não pensava duas vezes sobre, e pelo amor de
Deus, nem mesmo transamos. Estava sendo idiota.

Olhei para ele tentando forçar um sorriso e ele veio na


minha direção hesitante. Oh, merda, ele sabia que eu
estava magoada.

Provavelmente, deveria estar com pena de mim. Sem saber


como reagir, olhei de novo para as coleiras dos meus
cachorros, até ele chegar perto o suficiente para sentir o
seu cheiro gostoso de hortelã.

— Oi — cumprimentou e tinha um sorriso sincero, como se


estivesse feliz em me ver, embora o seu olhar ainda fosse
triste.

— Oi — sorri para ele.

— Você veio passear com eles mais tarde hoje — comentou


e meu sorriso morreu.

Estava me evitando tanto ao ponto de mudar seu horário de


corrida só para não esbarrar comigo?

— Você sumiu essa semana. — As palavras saíram da minha


boca antes que pudesse controlar.

Perfeito! Agora ele ia pensar que estava tentando tirar


satisfações com ele.

— Desculpa por isso — Ele pareceu mais triste ainda e


passou as mãos pelo rosto —, temos um jogo amanhã e o
treino ficou mais pesado...

— Você não precisa me dar satisfação — falei suavemente


interrompendo-o —, só comentei. — Dei de ombros.
Johnny me encarou de volta e ficamos nos olhando. Até eu
começar a rir e estragar tudo, como faço em situações
constrangedoras.

— Do que está rindo? — ele perguntou com divertimento e


ternura.

— Como foi que nos metemos nisso, Johnny? — perguntei


querendo tratar do elefante na sala.

— Tudo começou com um drink azul — ele respondeu


pegando da minha mão duas guias dos cachorros e
começou a caminhar do meu lado.

— Achei que tudo tinha começado com um orgasmo fingido


brinquei.

— Que não foi fingido, por sinal — provocou.

— Está aí algo que você nunca vai saber — afrontei e ele


ergueu uma sobrancelha.

— Não foi fingido, e se tivesse sido, você ganharia o Oscar


na categoria melhor atriz pornô. — Ele se aproximou mais
de mim a cada passo.

— Pena que não existe essa categoria, somos uma classe


muito desprezada — brinquei me sentindo mais leve.

— Somos? Já entrou para o ramo? — Johnny se aproximou


mais, e senti o seu braço roçando no meu.

Estava fazendo isso de propósito?

— Você nunca viu os meus filmes? — fingi estar magoada.


— Mas não será problema, pode me mandar todos eles. —

Ele tocou o meu braço com a ponta do dedo e senti um


arrepio passar pelo meu corpo.

— Já não teve um show ao vivo? — perguntei erguendo a


sobrancelha em ironia para ele.

— Não foi suficiente — disse descendo os dedos até o dorso


da minha mão e enrolou nossos dedos mindinhos.

Senti a tensão do meu corpo relaxar com o ato. Sei que


deveria afastá-lo, mas eram tão bons esses carinhos...

— Vai ter que se contentar com isso, Sr. Jackson —


provoquei

—, sou uma atriz cara.

— Tem que ser — Ele entrelaçou mais dois dedos —, já que


é tão boa. Meryl Streep teria inveja.

— Acho que Meryl Streep se reviraria no túmulo, se


soubesse que está sendo comparada com uma atriz pornô.

Ele perdeu toda a compostura. Gargalhou bem alto ali,


chamando atenção de algumas pessoas que passavam na
rua.

Johnny passou o braço livre pela minha cintura e me puxou


para seu corpo enquanto ria.

— Meryl Streep não está morta, sua maluca — revelou com


carinho contra o meu cabelo e inspirou o meu cheiro,
plantando um beijo no meu pescoço.

— Não? — Me virei para ele confusa.


Ela estava viva? Acho que a confundi com outra atriz.

— Não — ele reafirmou divertido, olhando para mim com


ternura. — Deus, como senti sua falta. — Apertou-me mais
forte e beijou minha bochecha, perto da boca e agiu como
se tivesse se segurando para não me beijar mais.

— Sentiu? — perguntei confusa, ele não estava me


evitando?

— Tanta que você nem tem ideia, princesa — confessou


contra o meu cabelo.

— Eu também senti a sua — confessei sincera, e encostei


minha cabeça no seu peito. Ah, era tão bom.

Não sabia o que ele queria comigo. Estava me evitando e


agora dizia que sentia minha falta.

Será que estava mesmo só ocupado com o treino? Ou


queria ser só meu amigo?

— Que horas você quer ir pra aula hoje? — perguntou


voltando a caminhar, ainda com o braço me envolvendo.

— Umas nove, por quê?

— Eu te levo — informou.

— Na minivan?

— Não, no meu carro. Mas você pode dirigir. — Ele piscou


para mim.

— Tá bom — concordei me aconchegando nele. — Johnny?

— perguntei sem olhar para ele.


— Sim, meu amor? — ele perguntou caminhando.

Meu amor. Ele me chamava assim, andava abraçado


comigo, mas me evitava. Isso era muito confuso.

— Por que estava me evitando? De verdade — questionei


sem olhar para ele, não queria que soubesse que estava
magoada com isso.

— Desculpa por isso. — Me apertou mais, e sua voz me


pareceu muito agoniada e aborrecida. — Acredite quando
falo que estava no treino. É verdade.

Mas isso não respondia minha pergunta. Decidi deixar para


lá.

— Vamos ter um jogo importante amanhã, contra Yale —

continuou e pelo tom quis falar mais alguma coisa, mas se


calou.

Quando já estávamos voltando tropecei assim que Jennifer


Aniston puxou mais a sua guia, teria caído se Johnny não
tivesse me segurado.

— Acho que nunca conheci uma pessoa mais desastrada —

ele provocou me puxando.

— Meu herói — zombei —, o que seria de mim sem você?

— Alguém que tropeça demais. — Ele sorriu para mim.

— E o que seria de você sem mim? — perguntei já chegando


perto da minha casa.

— Apenas alguém que anda em linha reta demais. — Beijou


minha cabeça. — Vou só tomar banho e te espero aqui.
Ele caminhou de volta para sua casa e fiquei parada como
uma tola tentando entender o que tinha acontecido aqui.
Sai de casa achando que ele não queria nada comigo, agora
já acho que ele quer. Mas que diabo?

Acho que ia simplesmente deixar as coisas acontecerem,


sem pensar demais.

Balançando a cabeça entrei para me arrumar, trinta minutos


depois saí de casa pronta. As meninas ainda estavam
dormindo, provavelmente os garotos chegariam mais tarde
para mendigarem comida.

Johnny estava encostado no carro com os braços cruzados e


paralisei por um momento. Por que ele tinha que ser tão
bonito?

Quando me viu um sorriso leve se desenhou no seu rosto e


os dentes brancos demais apareceram pela sombra do
boné. Suspirei e

caminhei até ele, que abriu a porta do carro para mim como
um cavalheiro, mas antes de fechar a porta roubei o seu
boné e o coloquei na cabeça. Ele se limitou a passar as
mãos no cabelo, bagunçando-os.

— Por que o boné? — perguntei quando ele entrou no carro.

— Como assim? — Ele colocou o cinto em mim como se


fosse uma criança.

— Você quase sempre tá de boné. — Dei de ombros, já


ligando o carro.

— Quando chego em algum lugar, as pessoas olham —


contou olhando para frente. — Não sei, não gosto de ser
observado assim, o boné ajuda.

— Já era pra você ter se acostumado com isso? — soltei


enquanto virava uma rua. — Você começou a ser
reconhecido pelo hóquei com quantos anos?

— Uns 14 anos, foi aí que os jornais começaram a cair em


cima. Eu me acostumei, só prefiro ainda ter o boné. — Deu
de ombros. — Quer saber? — Se virou para mim.

— O que?

— Como é ser observada — ele disse sorrindo, parecendo


estar pensando em algo.

— O que você tá pensando? — Desconfiei do seu sorriso.

— Nada, quando chegarmos no campus, te mostro. — Se


sentou no banco e me observou dirigir. — Você não é ruim,
só não tinha prática.

— Obrigada — Pisquei para ele —, por praticar comigo.

— Mas ainda estou devendo um mergulho na piscina, não é?

— perguntou fingindo estar cansado.

— Vai entrar comigo de novo? — Olhei-o de canto tentando


não parecer muito animada.

— Vou — Ele riu da minha reação —, mas nada nessa vida é


de graça...

— Certo — cortei-o. — O que você quer?

— Uma coisa que estive pensando... — Ele se esticou no


banco, relaxado. — Você vai fazer um drink pra mim.
Um sorriso muito grande espalhou no meu rosto e não ousei
olhar para ele.

— Você quer provar os meus drinks? — Quis confirmar.

— Quero. Sei que são bons — disse com tanta certeza, como
se fosse óbvio, que meu coração se aqueceu.

— Você só provou a metade de um — lembrei-o.

— Sim, a outra metade foi parar na minha camiseta. Mas


dessa vez eu gostaria de beber, não de ser banhado por ele

provocou e lhe dei um tapa de leve no ombro.

— É, mas você mereceu aquele — avisei —, eu faço um pra


você. Mas em troca terá que ficar comigo na piscina por
pelo menos uma hora.

— Ok — respondeu rápido demais.

— Posso te contar uma coisa? — falei me sentindo


repentinamente insegura.

— Claro. — Virou-se para mim, atento.

— Não é um hobby. Essa coisa dos drinks. Quando me


formar quero abrir um bar gourmet, de bebidas artesanais.
— Ele ergueu a sobrancelha interessado. — Vou colocar no
cardápio meus drinks, alguns autorais, vão ter diversas
bebidas, destilados de todos os tipos, cervejas de qualidade.
Vai ser um lugar mais sofisticado, pra quem gosta de
apreciar bebidas de qualidade.

Quando virei para observá-lo o peguei me olhando com algo


que parecia orgulho.
— Vai ser um lugar que irei, pode ter certeza.

— Isso vai me trazer publicidade — provoquei —, o astro do


hóquei no meu bar.

— Amber?

— Hum. — Olhei de canto para ele.

— Consigo ver isso dando certo, você tem muito talento. Só


provei metade do seu drink, mas foi inesquecível.

— Inesquecível por que era gostoso ou por que você foi


banhado por ele? — Ri lembrando da cara dele quando lhe
joguei a bebida.

— Por isso e por outras coisas. Aconselho você a jogar eles


nos clientes, garanto que jamais irão esquecer a
experiência.

Levantei o dedo do meio para ele e me concentrei no


trânsito.

Quando chegamos, ele saiu do carro e veio até mim.

— Tá, vou te mostrar qual é a utilidade do boné — disse


tirando o boné da minha cabeça e colocando na sua.

— Como assim? — Fiquei confusa.

Mas ele não me explicou, apenas pegou minha mão e


entrelaçou nossos dedos. Johnny começou a caminhar em
direção ao prédio que eu iria assistir aula hoje e sim... As
pessoas olhavam para nós.

Eu meio que me acostumei com isso das vezes que


tínhamos estado juntos, mas ficar exposta daquele jeito, em
plena luz do dia, era estranho mesmo. Alguns alunos
encaravam nossas mãos unidas e olhavam para mim, como
se estivessem me avaliando e me arrependi por não ter
caprichado mais na roupa ou passado uma maquiagem.

Quando olhei para Johnny ele tinha uma expressão do tipo

“eu não disse?”. É, ele tinha razão, peguei o seu boné de


volta e coloquei na cabeça, me sentindo estranhamente
protegida da avaliação. Ele sorriu de lado para mim e me
puxou mais para perto, colocando o braço à minha volta,
me protegendo, e meio que enterrei o rosto no seu peito,
enquanto caminhávamos para dentro do prédio.

— Você provou o seu ponto. — Entrei no meu corredor,


devolvendo o boné dele.

— Exatamente. — Piscou para mim, e pareceu ansioso —

Então, você vai amanhã?

Sabia que ele perguntaria isso. Os garotos nos chamaram


para assistir ao jogo deles amanhã. Todas nós iríamos, por
mais que estivesse receosa de ele não me querer lá, iria
pelos meninos.

— Vou sim — revelei e ele sorriu para mim.

— Amber? — Uma voz que reconheci de imediato falou atrás


do Johnny.

E Tim Stone apareceu do seu lado. Merda.

Tim era um cara bonito, tinha os olhos castanhos, cabelo


cacheado da mesma cor. Ele estava usando calça jeans e
uma camisa polo azul que preenchia bem os seus músculos.
O cabelo
dele estava grande, os cachos quase caíam sobre os olhos,
ele precisava de um corte.

— Eu andei te procurando por toda parte, te liguei, mandei


mensagem. Sei que me bloqueou, e não sabia onde estava
morando. — Tim começou a falar sem parar, alheio à
presença do Johnny, que continuava entre nós e olhava Tim
com cara de poucos amigos. — Pedi pra Bethany falar com
você...

— Tim — chamei-o e ele me olhou ansioso. — O que você


quer? — perguntei direta.

— Me desculpar — Tim se apressou a explicar —, eu agi mal,


não deveria ter subido lá, o que tínhamos era bom...

— Não é a mim que deve desculpas — cortei e Tim me


olhou confuso. — Foi Scar que saiu prejudicada.

Johnny entendeu que Tim era o cara da confusão da


fraternidade, porque passou a olhá-lo com novo interesse,
ele parecia até mesmo perigoso. Tim percebeu a encarada e
só então olhou Johnny, como se o tivesse vendo pela
primeira vez, e o reconhecimento passou pelo seu rosto.

— Você está com Johnny Jackson? — Tim perguntou para


mim, sem tirar os olhos de Johnny.

— Não interessa...

— Está, algum problema com isso? — Johnny me


interrompeu e passou a encarar Tim, fazendo ele engolir em
seco.

— Por isso me bloqueou? — Tim olhou para mim como se eu


o tivesse traído.
Ora, mas era muito cara de pau.

— Bloqueei pelo que você fez a Scar — disse convicta.

— De novo essa garota? Já expliquei o que aconteceu, que


inferno — Tim começou a falar mais alto, querendo me
intimidar.

— Levante a porra da sua voz pra ela de novo e vai ficar


sem falar por um tempo — Johnny ameaçou indo na direção
do Tim, que deu um passo para trás com medo, mas ainda
afrontou.

— Não sabe mais se defender sozinha, Amber? — provocou


Tim, virando a cabeça na minha direção e fazendo os
cachos caírem nos olhos.

— Sei, mas não quero perder meu tempo com isso — falei
puxando Johnny para longe do Tim.

— Você não me deixou explicar o que aconteceu aquele dia

— Tim continuou a tentar falar comigo —, aquela garota


estava só em cima de mim.

— Quem vai acreditar nisso? — debochei zangada.

Mas fiz o que ele queria, pois Tim ficou feliz por eu ter dado
alguma atenção a ele.

Johnny passou um braço pela minha cintura, me puxando


com delicadeza para longe do Tim.

— Amber... Vamos. Você não pode jogar fora o que tínhamos


assim — Tim insistiu derrotado, e passou a falar mais
manso.
— Tim, quer um conselho? — soltei, ainda com Johnny me
segurando. — Corte o cabelo — Ele franziu a testa sem
entender e ri da sua cara — e deixe de ser um babaca.

— Pelo jeito você já arrumou alguém para me substituir —


Tim disse quando virei as costas para ele e senti os
músculos de Johnny endurecerem.

— Olha aqui, seu bostinha, ela não quer falar com você. —

Johnny apontou o dedo na direção do Sr. Bostinha e ele


parecia muito perigoso nesse momento. — E se ousar ao
menos pensar em olhar pra ela de novo, vamos nos
entender. Eu e você, fui claro?

Tim olhou para Johnny com um misto de medo e raiva, mas


viu que não era o momento para provocá-lo. Baixou a
cabeça e saiu dali.

Passei a mão no braço de Johnny procurando diminuir a


tensão. Quando ele virou para mim percebi que estava
cheio de perguntas para me fazer, mas não queria falar
daquilo agora, e já estava atrasada.

— Depois explico isso, eu já estou atrasada. — Apontei para


a porta e ele concordou com a cabeça.

E eu comecei a rir.

— Eu acabei de inventar um apelido para ele — expliquei


quando Johnny me olhou sem entender. — Sr. Bostinha.

Johnny revirou os olhos e me puxou para beijar minha testa.

— Você não consegue, não é? — perguntou e esclareceu


logo em seguida — Se manter séria e brigar com alguém.
— Não. — Dei de ombros e ele balançou a cabeça em
negação.

— A gente se vê amanhã, minha princesa — se despediu e


beijou minha bochecha antes de sair.

Assim que entrei pela porta aberta me bati em Nelly, que


estava parada assistindo tudo.

— Ai, Meu Deus! — Nelly ficou em choque olhando Johnny


sumir pelo corredor. — Você está pegando ele? —
Praticamente gritou.

— Não, não temos nada — me apressei a explicar, porque


não sabia mesmo o que era isso que tínhamos.

— Não acredito! — Nelly continuou a me puxar para dentro


da sala. — Agora eu sou famosa! — ela exclamou e revirei
os olhos divertida. — Você sentou na cara dele?

— Meu Deus, Nelly — falei rindo.

— Era o meu sonho — ela resmungou —, mas ele é tão


quente quanto dizem que é?

— Eu não sei o que você acha que aconteceu entre a gente,


mas não temos nada. Sério.

Sentei na cadeira e peguei meu celular quando o senti


vibrar.

Não deveria ter feito isso. Porque meu mundo desmoronou


de repente, e toda a leveza que Johnny me trouxe pareceu
que não serviu para nada, porque me senti afundar.

Número desconhecido: Preciso falar com vc, garota. Não


adianta fugir.
Número desconhecido: Ele parou de depositar o dinheiro
e isso não vai ficar assim, menina. Saiba disso.

Número desconhecido: Se tentar me ignorar, eu vou te


encontrar!

Senti meus olhos marejarem por ver como a pessoa que era
para me amar me tratava. Limpei uma lágrima com as
costas da mão. Ela nunca falou comigo, nem mesmo para
pedir desculpas e agora me mandava um ultimato? Pedindo
dinheiro?

Um dia eu mendiguei o amor da minha mãe, fiz tudo o que


ela quis e só me machuquei em troca. Ela me machucou.
Não queria falar com ela, queria que sumisse da minha vida,
assim como sumi da dela.

Era definitivo, eu não iria mais me afundar por ela. Nunca


mais.

JOHNNY JACKSON

Cada jogador tinha seu ritual no dia do jogo, o meu era


assistir as partidas antigas dos meus adversários, ver seus
pontos fracos e fortes, o que poderia ser tirado de
vantagem e o que não valia a pena tentar.

Por isso que eu e Taylor estávamos assistindo as últimas


partidas deles, estudando o inimigo que hoje à noite iríamos
enfrentar. É uma espécie de cola antes da prova, que
costumava dar certo.

Estava ciente do meu celular apitando do meu lado, e sabia


que era Benny, mas não iria responder. Meio que ignorei
quase todas as mensagens dele essa semana, e quando
respondi fui o mais sucinto possível. Não queria saber dos
seus avanços sobre uma garota que eu considerava minha.
Ou pelo menos no mundo fantástico de Johnny Jackson, ela
era minha.

Nada me preparou para a onda de saudade que senti da


minha princesa. Nada. Fiquei mal-humorado a semana toda,
descontei minha frustração nos treinos e em quem
aparecesse na minha frente. Descobri que não sou bom em
ficar longe de Amber Foster, era algo quase impossível.

Ver que cheguei a magoá-la me deu uma dor física que não
saberia descrever, acho que preferiria que cravassem uma
faca em mim do que ver aquela expressão no seu rosto de
novo, tentando

disfarçar que não ficou triste com meu sumiço. Ao mesmo


tempo fiquei aliviado, quase feliz, por saber que não estava
sozinho nisso, saber que ela sentiu minha falta como senti a
dela.

Quando a encontrei ontem, não resisti. Simplesmente não


resisti. Não pensei nas consequências, só em nós. E para
mim não dava mais para continuar assim, tinha que
conversar com Benny.

Não sei exatamente o que diria, que queria furar o seu olho
ou que o traí, mas tinha que me tirar disso, não podia mais
ficar longe dela.
Acho que tentaria convencê-lo a desistir de novo, conhecer
outras garotas, ou se ele se recusasse, iria dizer que não
poderia mais ajudá-lo. Iria cair fora daquela missão e pegá-
la para mim.

Ele com toda certeza irá me achar o maior canalha do


mundo, quando souber que estou interessado nela. E
“interessado” é a palavra mais leve que consigo usar para
definir minha situação aqui.

Mas era isso, não podia mais evitar, quando surgisse o


momento, teria uma conversa com ele.

— Colin enlouqueceu. — Drake apareceu em frente à


televisão da sala, atrapalhando a minha visão e do Taylor.

— Me conte uma novidade — resmunguei tentando ver o


jogo atrás do Drake.

— É sério. Agora é definitivo. Ele está obcecado — Drake


continuou a atrapalhar nosso jogo.

— Por quem? — Taylor perguntou entediado.

— Pela Maddie, óbvio — Drake respondeu.

Taylor e eu soltamos um suspiro. Não aguentávamos mais


aquela história. Todo dia Colin vinha nos contar de sua nova
teoria da conspiração sobre a nossa vizinha ruiva. Acho que
ele deveria trabalhar com investigações ou criando
histórias, porque alegava que a garota estava escondendo
alguma coisa muita séria.

— O que foi agora? — Não resisti a perguntar.

— Ele comprou um binóculo! Daqueles compridos, e está de


quatro na cama espionando ela pela janela — Drake contou
rindo.

— Um binóculo? — Taylor disse sem acreditar.

— Mas que inferno! — resmunguei indo até o quarto de


Colin com Taylor e Drake atrás de mim, ansiosos pela
bronca.

Quando cheguei lá, me deparei com a bunda do Colin


empinada pela calça jeans de frente para nós. Ele estava de
quatro na cama, inclinado sobre a janela com um binóculo
longo prata. Colin estava concentrado e sério, como se
estivesse desvendando um crime altamente perigoso.

— Ele enlouqueceu. É definitivo — Taylor murmurou rindo


atrás de mim.

— Colin, devo me preocupar com a sua sanidade? —

perguntei fazendo ele virar para nós.

— Venham! Venham! — Colin sussurrou nos chamando,


pronto para mostrar algo de suma importância.

Suspirando chegamos perto da sua janela, e vimos que


tinha uma janela aberta na casa das garotas. Mas não dava
para ver o que tinha lá dentro.

— Faz uns trinta minutos que ela passa de um lado para o


outro carregando caixas — Colin acrescentou concentrado.

— É isso que você faz quando vem pro seu quarto? Espia
nossa vizinha carregando caixas? — Coloquei as mãos no
quadril abismado.

— O que tem demais em carregar caixas? — Taylor ficou


confuso.
— Vocês não veem? — Colin apontou para a casa ao lado. —

Essa garota é perigosa. Acho que estamos morando ao lado


de uma psicopata.

— Se eu lhe dissesse nesse momento quem parece um


psicopata, você não acreditaria — afirmei para ele.

Colin revirou os olhos.

— Vocês estão cegos — Colin continuou a apontar o


binóculo para sua janela. — Ela manipulou vocês todos. Mas
não eu. Ela usa a fofura dela para tentar enganar as
pessoas, é um truque.

— Cara, você tá mal — lamentou Drake ainda rindo.

— Ah, é? Então me digam o que têm a dizer sobre isso: hoje


mesmo a vi passar pela janela com as mãos sujas de
sangue —

Colin falou e cruzou os braços esperando a nossa reação.

O que?

— Sangue? — Taylor perguntou sem entender.

— Sim — Colin disse convicto. — Ela estava esfregando as


mãos sujas de sangue no jeans. Ele estava todo manchado,
incrível como ela nem procura mais esconder as provas.

— Qual é o seu problema? — O encarei incrédulo. — Ela é


artista, lógico que as mãos dela vão estar sujas de tinta, seu
idiota.

— Tinta? — Colin riu da minha conclusão. — Vocês são tão


ingênuos, estamos diante de uma maníaca.
— Estamos mesmo — Drake comentou olhando para Colin
em negação.

— Ela faz rituais estranhos, ontem mesmo estava


acendendo umas velas...

— Colin — interrompi-o —, já entendemos que você está por


dentro de toda a rotina dela, agora você vai parar com isso!
Pode dar problema depois.

— Parar com isso? — Colin se jogou na cama relaxado. — O

que estou fazendo aqui é sério. Um serviço público.

— Um serviço público? — debochou Drake.

— Estou protegendo toda a vizinhança. — Colin apontou o


binóculo na nossa cara. — E vocês irão ver, provarei que
estou certo.

Ela não me engana, não vou cair na das covinhas.

— Covinhas? — perguntei confuso.

— É assim que ela manipula as pessoas, mostrando as


covinhas — esclareceu Colin.

— As covinhas dela são fofas mesmo — concordou Taylor.

— Não me interessa se ela tem ou não covinhas, ou quem


manipula. Você não tem nada a ver com isso...

— Acho que ela está escondendo um corpo — soltou Colin


me interrompendo.

— O que? — todos nós dissemos ao mesmo tempo


assustados.
— Isso mesmo — Colin empolgou-se, agora que tinha a
nossa atenção, levantando da cama. — O que vocês acham
que são essas caixas que ela carrega?

— Ah, pelo amor de Deus! — Drake resmungou. — Você está


obcecado por ela.

— Vocês não conseguem ver? O que poderiam ser essas


coisas que ela carrega o dia todo de um lado para o outro?

perguntou o maníaco à nossa frente.

— Não sei e não me interessa! — comuniquei a ele. — Eu


não sei qual o seu problema com essa garota, mas você vai
parar com isso, Colin!

— Imediatamente — Taylor concordou olhando em negação


para Colin.

— Estou me sentindo naqueles filmes em que o mocinho


tenta avisar a todos do bandido, mas ninguém acredita —
Colin gritou para nós quando já estávamos saindo do seu
quarto.

— Talvez você devesse parar de ver esses filmes, está


atiçando muito sua imaginação — ironizei fechando sua
porta.
Entrei no meu quarto e caí na cama, não tinha tempo para
tratar das loucuras do Colin, iríamos entrar em um ônibus
daqui algumas horas para jogar contra Yale.

E Amber estaria lá. Acho que estava tão obcecado quanto


Colin, mas de um jeito diferente.

AMBER FOSTER

Estava lotado.

O estádio de Yale era grande, mas era quase impossível


achar assento disponível. Encontramos alguns distantes,
mas acho que dava para ver bem os jogadores. Ainda não
tinha começado, daqui a pouco os meninos entrariam no
gelo.

— Vem aqui, amor — Michael pediu alto demais no ouvido


da Sienna.

Eu, Scar e Nelly estávamos voltando à nossa fileira,


tínhamos saído para comprar bebidas e alguns petiscos.
Quando olhamos

para os nossos assentos, Michael estava praticamente em


cima da Sienna, e Maddie estava tentando tirá-lo de perto
dela.

Ele estava vidrado, acho que tinha bebido. Sienna não


queria ele perto dela, era nítido, ela fez de tudo para ele
não vir, mas não deu certo. Assim que soube que viríamos
para o jogo, praticamente se jogou no carro, alegou que era
um grande fã dos meninos, e não podia perder aquela
partida. Só que quem não parecia uma grande fã dele nesse
momento era Sienna.
Minha amiga tinha uma paciência divina, se fosse qualquer
uma de nós já teríamos mandando-o tomar naquele lugar.
Mas Sienna? Ela não queria ter que protagonizar uma cena,
odiava ser o centro das atenções ou perder a calma. Para
falar a verdade, nem sei se ela já perdeu a calma alguma
vez na vida.

O problema era que dava para perceber que estava triste,


até mesmo abatida em ter que aguentar alguém bêbado no
seu ouvido falando todo tipo de besteira e tentando tocá-la
quando ela não queria contato.

— Michael — chamei-o —, por que não vamos comprar mais


bebidas? — Fui até ele e o puxei pelo braço.

Scar veio até nós e pegou o outro braço dele, o tirando de


perto da Sienna, que suspirou aliviada.

— Vamos perder o jogo — Michael resmungou débil,


enquanto o arrastávamos pelas fileiras.

— O que é isso? Vão perder o começo do jogo — perguntou


Nelly colocando as bebidas no assento sem entender o que
tinha acontecido com Michael.

— Vamos levá-lo para fora um pouco — esclareci para ela,


passando com Michael.

Quando chegamos do lado de fora Scar o empurrou com


força contra a parede. Michael olhou assustado para ela e
para mim.

Também tinha tomado um susto.

— Pode me dar, Michael. — Scar avisou perto do rosto dele,


o intimidando. — E depois você vai dar o fora daqui.
Entendeu? —
Scar ergueu a sobrancelha, desafiando-o a contradizê-la.

Entregar o que?

— Quem você pensa que é...

Scar o interrompeu lhe empurrando com mais força contra a


parede.

— Agora, porra. — Scar estendeu a mão esperando.

Michael meteu a mão no bolso e tirou um pacote com um pó


branco. Oh merda, ele estava usando cocaína?

Scar pegou o pacote e o empurrou de novo olhando


diretamente para ele.

— Você vai embora daqui. Agora. E se voltar a encostar nela


desse jeito de novo, vai encontrar os seus ovinhos
quebrados no outro dia. Entendido? — Scar comunicava de
um jeito manso, calmo, mas ao mesmo tempo fatal, do tipo
que não deixava dúvidas que ela iria quebrar os ovos dele
de verdade.

Michael tentou empurrá-la e eu já ia me meter na frente


quando Scar desviou dele. Agarrou o seu cabelo e o puxou
para trás empurrando sua cabeça na direção dela, ficando
cara a cara com ele.

— Você entendeu, Michael? — Scar ameaçou olhando


diretamente para ele, sem se abalar pela tentativa dele.

Michael engoliu em seco e balançou a cabeça em


afirmativo.

Scar lhe deu um sorriso e o largou, jogando o pacote de


cocaína que segurava no lixo ao lado. Scar pegou minha
mão e me afastou dele.

— Você sabia que ele usava cocaína? — perguntei ainda


assustada.

— Não, mas não quero mais ele perto da Sienna — ela falou
me puxando para longe.

— Também não. — Olhei para trás vendo-o ir na direção da


saída. — Você acha que ela sabe?

— Não — afirmou Scar. — Tenho certeza que não sabe, e pra


mim fica assim. Se ela soubesse, não terminaria nunca com
ele.

Concordei mesmo a contragosto. Também tinha certeza que


se Sienna soubesse, a primeira coisa que faria era tentar
ajudá-lo, antes de se ajudar, afastando-se dele. Esse era o
problema com as pessoas boas demais, elas preferiam se
machucar antes de ferir outra pessoa.

— Quando tiver que lidar com alguém drogado, já sei quem


vou chamar — sussurrei no ouvido da minha amiga, sem
conseguir

controlar a provocação.

Scar sorriu para mim e piscou de lado. Quando íamos passar


pelas arquibancadas meu celular vibrou e o nome da
Lindsay apareceu na tela. Ergui o telefone para Scar e
sinalizei que iria atender, ela olhou ao redor, verificando se
Michael ainda estava por lá.

— Não demora — avisou antes de subir pelas fileiras.

— Ei, me esperem — gritou Tyler vindo na nossa direção.


— Onde estava? — perguntei para ele.

— A minha atenção é muito solicitada — Tyler piscou para


mim e começou a acompanhar Scar. Tínhamos vindo no
carro dele e da Sienna, mas Tyler tinha sumido depois que
foi ao banheiro.

Coloquei o celular no ouvido e atendi a ligação da minha


madrasta.

— Eu vou sumir — Lindsay suspirou cansada.

— O que aconteceu? — perguntei preocupada.

— Tá, vou resumir. Seu pai não dormiu em casa ontem, não
sei onde ele se meteu, simplesmente chegou hoje de
manhã com perfume de outra mulher! — Senti meu coração
doer por ela. — Ele jura que não aconteceu nada, mas não
vou ficar nisso. Enfim, estou te comunicando que vou
desaparecer.

— Desaparecer? — repeti sem entender.

— Já fiz minhas malas e vou dar uma volta por aí sem avisar
a ele. Como forma de troco, sabe? — Lindsay falou animada
e sorri da sua ideia de vingança.

— Se você acha que precisa disso, faça — aconselhei.

— Talvez eu apareça aí. Estou com saudades — reclamou do


outro lado da linha.

— Eu também — suspirei com saudade. — Vem, que a gente


faz várias compras no cartão de crédito dele. Quer vingança
melhor do que essa?
— Esse é o espírito! E estou precisando de uns sapatos
novos mesmo — ela alertou animada.

Me debati se falava ou não que minha mãe falou comigo,


não queria jogar esse peso para Lindsay, mas também
queria falar para alguém caso ela tentasse se aproximar de
mim.

— Lindsay — chamei devagar, indicando que queria tratar


de outro assunto sério.

— Sim, querida?

— Ela falou comigo, mandou mensagem por um número


desconhecido, disse que ele não tá depositando o dinheiro
— soltei de uma vez e podia ouvir a respiração pesada da
minha madrasta.

— Aquela vaca plastificada! Que cara de pau! Bloqueie esse


número que ela mandou mensagem...

— Já bloqueei — expliquei com calma.

— Vou tentar falar com seu pai sobre isso.

— Você disse que não estava falando com ele — me


apressei a lembrá-la —, não precisa se preocupar com isso,
acho que ela vai desistir. Não quero falar dela, só contei
porque não queria ficar com isso sozinha.

— Vou tentar falar com ela diretamente.

— Não precisa, sério. Vai curtir o seu sumiço — tentei


brincar e escutei ela rir do outro lado.

— Eu vou! E vou aparecer aí a qualquer momento. Avise as


meninas, vamos fazer vááááárias compras no cartão dele e
beber todas. Agora tenho que ir. E se ela entrar em contato
de novo, me avise, ok? Te amo.

— Também te amo — declarei encerrando a ligação. Era


engraçado como adorava falar isso para ela, era verdadeiro.

Fui subir as fileiras de novo, mas assim que coloquei meu pé


no degrau o estádio ficou em um silêncio mórbido e
algumas luzes apagaram, deixando o ambiente mais escuro.
De repente luzes de celulares brilharam em todo o estádio,
e as pessoas começaram a bater o pé e as mãos em um
único ritmo, chamando os jogadores.

Tomei um susto quando começou a tocar We Will Rock You


do Queen e olhei ansiosa para o rinque de patinação, vendo
o momento em que Johnny e Colin apareceram. Os
torcedores começaram a gritar loucamente e bater o pé
mais forte nas arquibancadas, vibrando toda a estrutura. Eu
não sabia se o chão tremia por causa das batidas ou da
música alta, mas era uma energia do caralho.

Comecei a subir mais, sem deixar de admirar como eles


deslizavam sobre o gelo, saudando a multidão que gritava
por eles.

Mesmo os que torciam contra eles batiam os pés e as mãos


em um só som, recebendo-os. Balancei a cabeça
impressionada, isso era incrível. Esses caras eram deuses
no gelo.

Colin era claramente o que se saía melhor no carisma, ele


deslizava sorrindo para algumas garotas que suspiravam
por ele, Johnny se mantinha concentrado no jogo com Drake
e Taylor ao lado. Consegui identificar mais dois que conheci
no dia que Colin caiu em cima da Maddie.
Um deles parecia ser o goleiro, alto, negro e com cabelo
cacheado. Diferente dos meninos, ele era mais esguio do
que necessariamente musculoso, acho que o nome dele era
Peter Roberts. O outro estava no banco, acho que era
reserva, tinha o cabelo loiro grande, era possível ver que ia
na altura dos ombros, amarrado em um rabo de cavalo, ele
tinha olhos azuis e parecia relaxado. Lembrava dele da festa
do Colin, era Benjamin Nelson.

Assim que cheguei no meu assento verifiquei Sienna, que


parecia mais relaxada, como se tivéssemos tirado um peso
dela.

Quando sentei me virei para Nelly.

— É sempre assim? — perguntei para ela, que era a única


que entendia de hóquei ali.

— Você precisa ver como são os jogos em casa — contou


Nelly sem tirar os olhos dos jogadores. — Benny disse que
só vai conseguir vir no final — ela me avisou e assenti.

Os outros jogadores de Yale entraram no gelo e os seus


torcedores começaram a gritar por eles. Menos de dez
minutos depois o jogo já tinha começado, eles eram rápidos
e como eu não entendia muito de hóquei, dependia das
explicações da Nelly ou Tyler para acompanhar.

Mas uma coisa não me passou despercebida, Johnny quase


não tocava no disco, ele permanecia calmo analisando tudo,
enquanto dois jogadores grandes do outro time ficavam
perto dele.

— Por que ele não corre atrás do disco? — perguntei para


Nelly e Tyler riu da minha pergunta.
— Ele é o jogador mais marcado, está vendo os caras
grandes que estão em cima dele? — Nelly apontou para os
dois

jogadores de Yale. — Eles vão fazer de tudo para ele não


pegar naquele disco hoje.

— E como ele vai jogar assim? — questionei sem entender.

— Ah, não se preocupe com isso — ela riu. — Colin vai dar
um jeito de passar o disco pra ele, e aí você vai ver o show
acontecer.

— Só não pisca, se não perde — Tyler avisou sorrindo.

Drake permanecia atrás, ele era o jogador defensivo, ele e


Taylor formavam uma barreira para o outro time não
avançar. Colin e Johnny eram os dois atacantes, e era
engraçado ver como eles se comunicavam só com o olhar,
os dois tinham uma sintonia incrível dentro do jogo.

E como Nelly disse, Johnny era muito marcado, para onde


ele ia os jogadores o seguiam, mas ele era paciente e
calculista.

— Presta atenção! — Nelly gritou para mim quando Colin


pegou o disco e começou a correr no gelo, de uma hora
para outra ele o jogou para Johnny que conseguiu pegá-lo.

Assim que Johnny estabilizou o disco no gelo fez-se um


silêncio no estádio, e pude perceber que a multidão segurou
a respiração. E aconteceu tudo tão rápido que nem sei como
meu cérebro conseguiu processar. Johnny desviou da
marcação e começou a deslizar sobre o gelo, muito rápido,
e quando digo muito, quero dizer muito mesmo, quase que
meus olhos não conseguiram o acompanhar.
Ninguém pegava ele, fingia que ia para um lado e ia para o
outro, driblando os jogadores do outro time com uma
facilidade impressionante. Johnny simplesmente deixou
todos os jogadores perdidos tentando acompanhá-lo, fiquei
com pena do goleiro do outro time, porque quando Johnny
bateu o taco e jogou o disco dentro da rede, ele ainda
tentava entender de onde Johnny tinha surgido. Não tinha
como segurá-lo. Era impossível.

Tudo isso aconteceu em menos de 4 segundos, no máximo.

A multidão foi à loucura, gritavam o nome dele mesmo que


não torcessem para ele. Era incrível. Incrível. Meu queixo
estava caído, virei para Nelly e Tyler sorrindo, Maddie e
Sienna se

abraçavam e gritavam juntas. Scar estava chocada, ainda


tentando entender o que tinha acontecido, assim como eu.

— Puta merda, o que foi isso? — Scar perguntou para mim


em meio aos gritos.

— Eu não sei — respondi sorrindo e olhando para o cara que


estava cada vez mais encantada deslizando de volta para
sua posição.

— Ele faz isso sempre? — Scar estava abismada.

— Claro, ele é Johnny Jackson. — Tyler deu de ombros, como


se isso explicasse tudo.

E parece que todo mundo assistia ao jogo só para ver esses


momentos em que ele pegava no disco, era impressionante.
Não tinha outro jeito de descrever. Assisti ao jogo ansiosa,
esperando a hora em que ele faria todo mundo no gelo de
palhaço, tentando acompanhá-lo. Quase não pisquei, sentia
que se piscasse poderia perder toda uma jogada do Johnny.
É. Acho que assim como Nelly, acabei de virar uma fã de
hóquei.

O resto do jogo foi do mesmo jeito, Johnny sendo marcado,


ele e Colin fazendo pontos impressionantes e me deixando
de queixo caído. E ganhamos, não tinha como não ganhar.
Podia ser presunçoso da minha parte, mas para mim era
claro, nosso time era melhor e ponto final.

Quando a partida acabou, Johnny tirou a proteção da cabeça


e passou a mão tatuada nos cabelos, os bagunçando. Ele
olhou para trás e seu olhar veio direto na nossa direção,
como se soubesse o tempo todo exatamente onde
estávamos sentadas.

As meninas acenaram alegremente para ele, que devolveu


o aceno sorrindo para elas, até os seus olhos se fixarem em
mim e ele levantar dois dedos na minha direção, apontando
para mim. Acenei de volta e sorri balançando a cabeça para
ele. Estava impressionada, ele era incrível no gelo, e acho
que conseguiu ver isso no meu rosto, porque sorriu de volta
para mim e saiu do gelo junto com os outros jogadores.

Deus, isso foi demais. Esse jogo foi demais.

— Vocês estão se pegando, não é? — Scar sussurrou no meu


ouvido e a olhei sem saber o que dizer. — É meio óbvio...

— Da minha parte? — suspirei frustrada.

— Não, você ainda consegue disfarçar. Quem entrega tudo é


ele.

Sorri, mas não confirmei nada. Saímos das arquibancadas e


os esperamos do lado de fora. A verdade era que tinha
tanta gente querendo falar com eles, que achava difícil
conseguirmos dar nossos parabéns.
Mas quando a porta do vestiário se abriu e eles saíram de lá
com o treinador, vieram logo na nossa direção, desviando
das pessoas. E foda-se, não consegui me segurar de
empolgação.

Lancei-me bem em cima do Johnny que me pegou no ar.

Enrolei minhas pernas em volta da sua cintura e ele me


segurou pela bunda, fazendo algumas pessoas ao redor
olharem curiosas para nós.

— Isso foi INCRÍVEL! — expressei empolgada.

Johnny sorriu da minha animação e passou a mão no meu


rosto, tirando meu cabelo da frente.

— Pode falar vai, eu sou muito fodão — gabou-se e revirei


os olhos.

— Jamais vou admitir, mas Meu Deus! Foi o melhor jogo! —

exclamei ainda enérgica.

— Você não viu nada, loirinha. Nem foi nossa melhor


performance. — Colin passou por nós bagunçando meu
cabelo.

— E agora? Pra onde vamos? — gritou Johnny para Colin


enquanto ainda mantinha a mão na minha bunda. Acho que
esqueceu de me tirar de cima dele, e isso não passou
despercebido pelos meninos, que trocaram um olhar
engraçado.

— Tem uns lugares bons por aqui — disse Colin e Johnny


olhou para mim perguntando silenciosamente se dava para
nós.
Estávamos em New Haven, era para voltarmos para
Providence ainda hoje. Viemos no carro da Sienna e Tyler,
então os motoristas teriam que decidir.

Olhamos para Sienna e Tyler, que acenaram positivamente


para nós. É, iríamos comemorar hoje.

— Partiu — Drake chamou todos.

Johnny me abraçou mais apertado e plantou um beijo no


meu pescoço. Ele passou a seguir o pessoal, ainda me
segurando pela bunda, mantendo minhas pernas em volta
dele. É, acho que esqueceu de me soltar.

JOHNNY JACKSON

Quando Colin falou que tinham lugares bons por aqui,


entendi que era algum bar cheio de universitários, mas pelo
jeito não, ele estava se referindo a uma boate. As garotas se
olharam envergonhadas por estarem mal vestidas, usavam
calça legging e camiseta do time da Universidade Brown.

A camiseta da Amber era com o número e nome do Drake,


para minha total consternação e desgosto.

— Tenho que te arrumar uma camiseta com meu nome —

comuniquei no ouvido dela. — Não posso deixar minha


maior fã sem o meu número.
— Você até que joga bem — ela debochou —, mas sou fã
mesmo do Drake — brincou mostrando a camiseta.

Revirei os olhos, enquanto a puxava mais para mim.

O lugar estava lotado e estávamos na fila esperando para


entrar, mas Drake e Peter foram falar com alguém na frente
e voltaram nos chamando para entrar.

Assim que entramos na boate fomos reconhecidos. Batiam


nas minhas costas parabenizando pelo jogo, puxavam-me
para tirar foto e falar sobre a partida. Em nenhum momento
soltei a mão da Amber, ela seguia segurando as mãos das
meninas, fazendo uma corrente para ninguém se perder no
caminho.

Quando chegamos na mesa que Taylor achou para nós,


sentei e puxei Amber para meu colo, passando um braço
pela sua cintura.

Ela se aconchegou em mim e senti o olhar de todos na


mesa em nós.

Estava só esperando para saber quem seria o primeiro a


falar algo. Maddie ganhou.

— Vocês meio que não se odiavam? — Ela apontou achando


graça em ver minha garota no meu colo.

— Mas nós nos odiamos — declarou Amber.

— Não existe pessoa que me irrite mais na vida — completei


e era verdade.

Enterrei o rosto no seu pescoço e senti o seu cheiro de


morango. Como alguém pode cheirar tão bem?
— Eu sempre soube que ele era a fim dela — acrescentou
Colin convencido.

Não me importava quem soubesse que estávamos juntos.

Não que isso tenha sido discutido, mas assim que falasse
com Benny, seria.

— Ei, linda. Não fomos apresentados ainda — Benjamin


flertou sentando ao lado da Maddie no sofá que ela estava.
— Sou Benjamin, mas pode me chamar de Ben.

— Maddie — ela apresentou-se erguendo a mão e sorrindo


com simpatia para ele. Benjamin pegou a mãozinha da
Maddie e levou aos lábios, beijando.

— A gente se conheceu no dia em que você estava embaixo


da janela do Drake...

— Algo que ainda não foi explicado — resmungou Colin


interrompendo Ben e todos os meninos reviraram os olhos.

Eu sabia, no meu íntimo, que Colin de alguma maneira iria


se intrometer nisso. Então não foi surpresa quando ele
apareceu no meu campo de visão e se espremeu para
sentar bem no meio do sofá, entre Benjamin e Maddie,
forçando um espaço entre eles.

— Você não tem outro lugar para se sentar? — sugeriu


Benjamin para Colin, tentando ver Maddie por cima dele.

— Não — respondeu Colin mal-humorado bebendo sua


cerveja e tampando a visão do Benjamin.

Maddie apenas revirou os olhos para ele. Sinceramente, não


sabia qual era o problema dele com essa garota.
— Vamos comprar uns drinks? — pediu Sienna chamando a
atenção da Amber no meu colo.

Já ia me oferecer para ir comprar para elas, quando percebi


que Sienna estava com um semblante preocupado, acho
que queria falar em particular com Amber sem que os
outros ouvissem.

Relutante, larguei minha princesa e ela seguiu a amiga


preocupada.

Segui as duas com o olhar, vendo-as se posicionarem nos


bancos do bar e discutirem, o que parecia ser um assunto
sério.

Quando elas se levantaram do banco juntas e começaram a


seguir rumo à saída, levantei junto para segui-las.

Mas de repente um corpo menor se bateu com o meu e


ninguém menos do que Benny Nolan apareceu na minha
frente. Ele ajeitou os óculos no lugar e olhou para cima, me
reconhecendo.

— Benny? O que está fazendo aqui? — falei antes que


pudesse pensar melhor.

— Dependendo de você, nada — ele resmungou zangado. —

Por que não respondeu minhas mensagens?

— É... — Senti-me culpado, estava fugindo dele a semana


toda. — Preciso falar com você sobre uma coisa — suspirei
cansado.

— Tá bom — ele concordou enquanto íamos para um canto


mais reservado, onde era possível conversar melhor. — O
que deu em você? Tive que pegar a localização daqui com a
Nelly, porque não respondia minhas mensagens —
reclamou.

— Não sei por onde começar. — Engoli em seco e me


encostei na parede.

— O que aconteceu? — Benny ajeitou os óculos preocupado.

— Não posso mais fazer isso, Benny — soltei em um suspiro


agoniado, e Benny me encarou confuso. — Isso com a
Amber, não dá mais pra mim — expliquei.

— Você quase não tem ajudado mesmo — acusou cruzando


os braços.

— Olha, tem certeza que está mesmo apaixonado por ela?

Talvez seja só uma ilusão, não sei. Você pode estar confuso.

— De novo essa história? Não vou desistir dela, Johnny —

Benny alertou cansado de discutir isso.

— O que você sente por ela? — desafiei. Precisava disso,


saber exatamente o que ele sentia por ela.

— Como assim? — perguntou na defensiva.

— O que você sente por ela? O que te faz ser apaixonado


por ela? Não sei, me explica isso — continuei a incentivá-lo.

— Não sei — deu de ombros —, gosto do jeito dela, não sei


explicar. E pra quê você quer saber? — desconfiou me
olhando de um jeito diferente.

Sabia que iria perder a amizade dele. Sabia que estava


sendo o maior cretino do mundo, sabia também que se
Bruce tivesse a oportunidade, me daria um murro nesse
momento. Mas não dava mais, nunca fui egoísta na vida,
sempre coloquei os outros à minha frente. Sempre. Mas se
fosse para escolher um momento para aplicar esse egoísmo
seria agora. Iria ficar com ela.

— Eu a quero — confessei sentindo minha garganta apertar.

— O que? — Benny deu um passo para trás e seu rosto


adotou uma expressão de confusão, como se ele não
tivesse entendido.

Depois veio o entendimento e por último raiva, revolta,


indignação.

— Por quê? — Foi tudo que ele perguntou. — Por que está
fazendo isso comigo? O que ganha com isso?

— Não foi algo que planejei. Isso não é um capricho ou


disputa. —Apressei-me a explicar — Não é um leve
interesse...

— Você é o pior tipo de pessoa que existe, Johnny — Benny


me interrompeu, e sua expressão foi de nojo. Mágoa. — Não
sei o que você ganha com isso. É pra provar que é melhor
do que eu?

Que pode pegar algo que eu quero? — Ele me empurrou,


mas não me machucou, ele era menor do que eu.

Mas me feriu do jeito certo.

— Não sou melhor do que você. Nunca fui, Benny. Não sei
explicar o que aconteceu comigo — tentei explicar, e senti
minhas mãos suarem de nervosismo e agonia. — Eu só
penso nela. — Abri os braços perdido. — Durante todo o
tempo. E é algo tão forte que
me assusta. Não consigo controlar, todo dia me pego
precisando mais dela, às vezes tenho medo de onde isso vai
parar, mas não consigo mais. Não é uma brincadeira. Isso é
sério, acho que nunca falei tão sério na vida. — Olhei para
ele, abrindo o meu peito. —

Nunca me senti assim antes, estou perdido. Não consigo


mais afastar isso de mim. Em pouco tempo ela se tornou
uma pessoa pela qual eu faria tudo. Não sei explicar o que
aconteceu comigo.

— Você quer que eu acredite nisso? — esbravejou com


raiva.

— Você nunca se interessou por ninguém na vida e agora


quer ela?

Justo ela?

— Não posso controlar isso — argumentei.

Benny continuou a me empurrar e deixei. Deixei-o


descontar a sua raiva.

— Você é tóxico, Johnny, alguém que não quero na minha


vida. — E ele cuspiu as palavras que sabia que tocariam
bem na minha ferida. — Deveria ter ficado longe de você
depois do que fez com Bruce! Estava me traindo nas minhas
costas! Fique longe de mim e da minha família, você já fez
estrago o suficiente. — Ele apontou o dedo para mim, e
doeu. Doeu muito, porque ele e Bruce sempre foram meus
irmãos.

— Você poderia ter me pedido qualquer coisa, Benny —


disse alto para ele ouvir quando me virou as costas. —
Qualquer coisa, e eu faria. Mas isso não, não posso entregá-
la pra você.
— Espero que tudo o que você faz de ruim pros outros, volte
pra você um dia — amaldiçoou se afastando.

E só então percebi que várias pessoas olhavam em nossa


direção, assistindo a briga. Doeu. Era uma ruptura. Não
queria isso, Benny foi uma pessoa que prometi que
manteria na minha vida depois que fodi tudo com Bruce,
acabei de os perder de vez.

Mas não conseguia mais. Não dava para mentir para ele,
não dava para mentir para mim.

Passei a mão no rosto me lembrando que Amber sumiu com


Sienna. Peguei o celular e comecei a digitar uma mensagem
para ela.

Eu: Onde vocês estão?

Amber: Tive que ir embora. Um problema com Sienna.

Eu: Ela tá bem?

Eu: Vão voltar pra Providence?

Amber: Isso. Teve um problema com o namorado dela.

Eu: Vou pegar um carro pra Providence. Encontro vocês


daqui a pouco.
Amber: Não precisa, sério. Estou com ela, só vamos buscá-
lo.

Eu: Estou indo aí.

Duas horas depois estava em casa, dava para ter chegado


em Providence em uma hora e meia, mas o motorista não
estava ajudando. Subi as escadas com pressa, não sabia
onde Amber estava, ela não respondeu mais minhas
mensagens. Iria só trocar de roupa e sair por aí procurando-
a.

Eu: Onde você está?

Mandei a mensagem enquanto tirava meus tênis dentro do


quarto.

— Na sua frente. — Uma voz que conhecia bem falou para


mim. E olhei ao redor do quarto procurando-a, mas ela
estava sentada na sua janela, me olhando do seu quarto.

Suspirei aliviado e caminhei até a minha janela, sentando


nela também, assim como Amber estava sentada na dela.

Ela vestia um pijama branco, uma blusa de alcinha fina que


entregava que estava sem sutiã e um short curto do mesmo
tecido.

Deixando à mostra a pele cremosa. O cabelo loiro escuro


estava amarrado em um coque bagunçado e ela me olhava
com aqueles olhos verdes que pareciam conter tudo o que
queria na vida.

As suas pernas expostas estavam dobradas em cima da


janela, e ela as abraçava, descansando a cabeça sobre os
joelhos, sentada ali, como se estivesse me esperando na
janela durante toda a noite. Estava linda, malditamente
linda.

— Estava só esperando você chegar — declarou me dando


aquele seu sorriso bobo, e senti meu peito apertar.

— Eu também. — durante toda a minha vida. Foi tudo o que


pensei ao me encostar mais na janela, sem desviar o olhar
do seu.

AMBER FOSTER

Coloquei o celular de lado e sorri para ele, que se encostou


na sua janela. Ficamos olhando um para o outro.

— O que aconteceu com a sua amiga? — perguntou


preocupado.

— Ela só me disse que tinha que ajudar o namorado dela.

Fomos pegar ele em uma festa aqui perto e ela me deixou


aqui, ele está bem, mas ela quis ir dormir lá com ele —
revelei. — Você demorou a chegar.

— Tive que resolver uma coisa... Briguei com Benny —


soltou e seus olhos brilharam tristes.

— Por quê? — questionei preocupada e lembrei que Benny


ficou de ir ao jogo, mas não apareceu.
— Algo nosso — afirmou evasivo —, tenho o péssimo
costume de perder meus amigos.

— Não me parece — argumentei —, quando olho pra você


vejo alguém que faria qualquer coisa pelos seus amigos.

Ele deu uma risada sem humor.

— Você nunca esteve tão enganada, machuco os meus


amigos, sou tóxico — rebateu olhando para as estrelas.

— Quem te disse isso? — perguntei, mas ele não me


respondeu. — Não é isso que vejo em você. Vejo alguém
altruísta, você parece querer cuidar e proteger todo mundo
a sua volta. Se algum dos meninos se mete em algum
problema, é a você que eles recorrem, não por ser o capitão
deles, mas por ser alguém que se

pode contar — ele olhou para mim com uma intensidade


nova, quase ansiando por minhas palavras. — Se algum dia
eu precisasse de alguém, escolheria você, sem hesitar.

— Se algum dia eu precisasse de alguém, também


escolheria você — ele declarou e sorriu suavemente para
mim, e fiquei feliz por conseguir afastar um pouco da sua
tristeza.

Aquela noite parecia ter um ar diferente, estava tudo


silencioso e calmo. As estrelas brilhavam fortes no céu, e eu
sabia que o mundo ainda girava, que outras coisas
aconteciam à nossa volta, mas sentia que naquele
momento só existiam nós dois ali. Era um pensamento tolo,
mas cru e real.

Tinha algo no nosso olhar, algo não identificado ainda. Mas


existia, era como se um fio inquebrável se estendesse sobre
nós, nos atraindo como imã.
Olhamos em sincronia para as estrelas, que pareciam estar
assistindo a nossa interação.

— Posso te contar um segredo? — perguntou.

— Sempre — anunciei ainda olhando para o céu.

— Gosto de uma garota — ele comentou e podia sentir o


sorriso na sua voz.

Um sorriso sincero cresceu em mim também, mas não ousei


olhar para ele.

— É mesmo? — sondei. — E é recíproco?

— Acho que não. — Quando ele terminou de falar olhei-o


confusa.

Não tinha deixado claro os meus sentimentos?

— Por que acha isso? — indaguei sem entender.

— Por que o que sinto por ela é tão forte que parece quase
impossível que ela sinta o mesmo. — Ele ergueu o olhar
para mim.

— Ela sente — confessei em um sopro.

— Amber — avisou olhando para mim com ânsia, querendo


me pegar.

— Johnny — devolvi sem desviar.

Ele não aguentou mais. Levantou da janela e começou a


passar a perna para o lado de fora.

— O que está fazendo? — perguntei rindo e ao mesmo


tempo preocupada, mas ele parecia estar se divertindo,
porque simplesmente pulou da sua janela para o gramado
com muita facilidade, caindo em pé.

Inclinei-me sobre a minha janela para poder vê-lo melhor.

Johnny veio e começou a escalar as treliças que ficavam na


parede da minha casa.

— Seu louco — ri e o olhei escalar até chegar na minha


janela, ficando cara a cara comigo. — Nós temos porta da
frente —

avisei, levando a mão ao seu rosto corado do esforço,


alisando sua barba por fazer.

— Perderia toda a emoção. — Deu de ombros e passou um


braço pela minha cintura, puxando-me contra ele, enquanto
o outro braço o segurava na janela.

Só o contato do seu braço forte segurando minha cintura já


me aqueceu, quando encostei no seu peito meus mamilos
ficaram acessos. E ele percebeu, pois desceu o olhar para
minha blusa com fome. Johnny colocou a língua molhada
para fora e lambeu os próprios lábios, umedecendo-os. E eu
não me aguentei, o puxei para mim e o beijei.

Encostei minha boca nos lábios dele e os suguei. Ele metia a


língua em mim, como deveria querer fazer com o seu pau.
Ele mordiscou meu lábio inferior, o puxando e seu hálito
quente me incendiou por dentro.

Johnny me mordeu, sugou e lambeu, me deixando zonza


com o beijo. Ele desceu a boca pelo meu pescoço, babando
tudo no caminho, arranhando minha pele com sua barba e
me pegando forte com o seu braço, me segurando no lugar.
Em um movimento Johnny entrou no quarto de vez e passou
a me segurar com os dois braços. Me apertou tanto contra
si que meus pés saíram do chão. Não perdi tempo, me
agarrei a ele, enlaçando minhas pernas na sua cintura e os
braços no seu pescoço.

Senti seu pau duro dentro da calça encostando bem na


minha boceta, que já piscava para ele. Johnny agarrou o
meu cabelo com uma mão e puxou de leve minha cabeça
para trás, expondo meu

pescoço para ele, que deveria estar brilhante da saliva dele


e vermelho da irritação causada por sua barba.

— Tira a blusa — pediu baixinho e com carinho sem desviar


os olhos dos meus seios cobertos pelo pijama.

Soltei o pescoço dele e suas mãos seguraram cada banda


da minha bunda para me manter no lugar enquanto eu o
obedecia. Tirei minha blusa e meus bicos ficaram durinhos
pelo frio da noite e pelo olhar dele sobre mim.

Quando uma daquelas mãos grandes e ásperas deixou


minha bunda e subiram pela minha barriga, eu me melei
toda lá embaixo.

Minha boceta contraiu e meu clitóris deu uma pulsada em


vida.

A mão dele subiu devagar pela minha cintura e minha pele


arrepiou ansiosa. Prendi a respiração quando ele chegou nos
meus seios e colocou a palma ao redor de um, sentindo o
peso. Johnny me olhou com tanta possessividade que soltei
um suspiro involuntário quando ele esfregou de leve o
polegar no meu mamilo endurecido.
Ele massageou meu seio depois deu atenção ao outro,
minha pele quente com a mão áspera dele era o suficiente
para me lambuzar inteira. Comecei a me esfregar no seu
abdômen, sabendo que estava sujando todo o meu short
por estar sem calcinha.

Johnny segurou minha bunda e ajudou a me esfregar nele


empurrando meu quadril no seu tanquinho e brincando com
os bicos dos meus peitos. Em algum momento ele baixou a
cabeça e ansiei por ser chupada por ele.

Mas Johnny me provocou, soprou o seu hálito quente bem


em cima do meu seio e deu uns beijinhos envolta do bico.
Agarrei o seu cabelo com força, tentando puxá-lo de uma
vez para me colocar na boca, mas ele passou a língua ao
redor, lambendo e mordiscando a carne.

Me esfreguei mais nele e gemi. O cretino passou para o


outro seio sem chupar meus bicos, fazendo o mesmo
movimento e lambuzando a minha pele irritada pela barba
dele. Quando eu já não aguentava mais, Johnny me pegou
com as duas mãos pela bunda e me levantou mais uma vez,
finalmente colocando meu mamilo na boca e chupando.

Quase chorei de alívio ao sentir sua boca quente e úmida


me sugando, a língua girando bem em cima do biquinho.
Agarrei seu cabelo e gemi, sem deixar de rebolar no seu
abdômen, sentindo o suor se formar nas minhas costas e
meu sangue ferver nas veias.

Depois de dar atenção ao outro seio, ele subiu uma das


mãos para segurar meu cabelo de novo, e trouxe minha
cabeça para si, para me beijar. Sua língua entrou agressiva
na minha boca e eu o lambi todo, mordisquei seus lábios,
chupei sua língua e a esfreguei na minha. Arranhei seus
ombros, querendo sentir os seus músculos, mas sua
camiseta estava me atrapalhando.

Acho que ele sentiu a mesma necessidade que eu, pois sua
pegada ficou mais forte e seu pau me cutucou com vontade,
dando uma roçada. Ele caminhou comigo, já sem paciência
e me colocou na cama.

Johnny tirou a própria camiseta com pressa, se exibindo


com aquele peitoral musculoso e tatuado. Ele era todo
homem, másculo e eu queria o arranhar todo.

Me sentei na cama e passei meus dedos por sua pele


definida. Ele torceu o pescoço, como se o simples toque o
acendesse, assim como fazia comigo. Seus músculos se
contraíram, seu peito tinha uma linha de suor da tensão, e
me peguei olhando para o volume muito grande na sua
calça.

Minha boca ficou seca com a vontade de colocá-lo na boca.

— Fala — ordenou abrindo o zíper da calça e olhando para


mim com fome.

— O que? — perguntei confusa e a boceta pulsou melada.

— Me diz o que você quer. — Ele desceu o olhar para o


próprio pau e tirou a calça com a cueca junto, fazendo
aquele cacete grosso saltar ansioso na minha direção.

Quando umedeci meus lábios e fui na sua direção já com a


boca aberta querendo senti-lo, Johnny segurou o próprio pau
e o tirou do meu alcance. Passando a massageá-lo com
estocadas preguiçosas e me olhando com um sorriso sacana
quando o fuzilei com o olhar.

— Fala — mandou, se masturbando na minha frente.


— Eu quero colocar o seu pau na minha boca — cedi e o
babaca soltou o pau, que veio erguido de tão duro na minha
direção.

Passei a língua naquela cabeça grande e vermelha, e Johnny


gemeu impulsionando o quadril na minha direção. O
coloquei na boca de uma vez e o suguei ansiosa para
engoli-lo. Lambi a sua base e ele segurou meu cabelo com
cuidado, passando a acariciar meu rosto e apreciar a vista
de cima com um olhar bem territorial.

Ele fodeu minha boca, gemeu quando dei sugadas rápidas e


passou a segurar o pau, pintando os meus lábios
lubrificados, com a sua cabeça macia.

— Molha bem a cabeça, princesa — pediu e a chupei bem,


passando a língua sem entender o que ele queria. Johnny
tirou o seu cacete da minha boca devagar e o babei tanto
que quando saiu, um fio de saliva se estendeu entre nós.

Ele me empurrou de leve para trás e passou a cabeça do


pau toda melada no bico do meu peito, girando-a bem em
cima. Gemi me segurando nas suas coxas musculosas
enquanto ele alternava em cada mamilo.

Quando me jogou deitada na cama, entendi que ele queria


me comer agora. E eu já estava desesperada, tirei meu
short vendo que ele estava meio grudado na parte interna
de tão molhada que fiquei.

Johnny desceu o seu olhar para a minha boceta, aberta,


depilada e muito lambuzada para ele. Sua respiração ficou
pesada e de repente, o quarto estava pegando fogo de
calor. Abri mais ainda as pernas, só para provocá-lo e o
jogador de hóquei desceu para me chupar.
Ele primeiro soprou bem na entrada e involuntariamente
empurrei o quadril na sua direção, implorando para enfiar
logo a língua em mim.

— Sem provocações. — Apontei o dedo para ele, que me


olhou divertido e passou a língua bem na minha coxa sem
desviar o olhar, próximo de onde eu queria sua lambida.

Chutei o cretino no ombro por continuar me provocando e


ele pegou meu pé no ar me dando aquele sorriso gostoso.

— Vem aqui, monta essa boceta em mim — disse e deitou


na cama dando tapinhas nos próprios ombros. Eu obedeci,
coloquei

cada uma das minhas coxas em um lado dos seus ombros,


deixando minha boceta bem aberta para ele, que me
segurou pelo quadril.

Desci bem na sua cara e senti sua respiração quente me


assoprando, sua barba me arranhando e por último, seus
lábios sugando o meu pobre clitóris pulsante e ansioso.
Gemi alto, agarrando o seu cabelo para impedi-lo de sair
dali. Rebolei descaradamente na sua boca e ele passou a
língua pelas minhas dobras, lambuzando e chupando cada
lábio externo.

Johnny passou a língua em círculos em cima do clitóris e


depois meteu-a dentro de mim. Rocei mais, desesperada
por alívio, enquanto ele tirava e botava a língua na minha
boceta, em estocadas precisas. Quando olhei ofegante para
baixo quase gozei, minha visão estava embaçada pelo
tesão, mas Johnny Jackson me chupava como se eu fosse o
seu melhor banquete enquanto me esfregava nele, melando
o seu rosto.

Era sujo, grosseiro, gostoso e indecente.


— Me come — gemi sem deixar de rebolar. — Me come.

Johnny deu um puta tapa na minha bunda, a apertando logo


em seguida e gemi sorrindo em resposta. Amava tapas na
bunda.

Ele me girou, jogando-me na cama e me beijou, fazendo-me


provar do meu próprio gosto. Enfiou a língua na minha boca
e a suguei enquanto ele acariciava meu clitóris em círculos
preguiçosos com o polegar.

— Camisinha? — perguntou ansioso, com a respiração


ofegante e tenso de tesão.

— Naquela gaveta. — Apontei ofegante para a gaveta do


lado da minha cama.

Johnny rasgou a embalagem e se protegeu, para depois


subir em mim. Abri as pernas ansiosa para sentir aquele
pau. Gememos juntos quando ele entrou na minha boceta
completamente lubrificada. Começou a me bombardear
desesperado, com estocadas certeiras para me alargar e eu
me esfreguei no seu pau para ajudá-lo a meter tudo.

Cravei as unhas nas suas costas suadas e gemi baixinho no


seu ouvido.

— Me fode com força — solicitei abrindo mais ainda minhas


pernas e esfregando meu clitóris nele no processo.

Johnny suspirou aliviado. Meteu tudo de uma vez na minha


boceta tão molhada que escutei o som dos nossos quadris
lambuzados se tocando. Ele gemeu de prazer, seus olhos
reviraram de alívio e tesão, suas veias pulsaram no rosto e
eu achei que podia gozar só por vê-lo tão desesperado
assim.
O beijei, metendo minha língua na sua boca e apertando
seu pau lá embaixo, que deslizava com facilidade, mesmo
estando muito espremido e esmagado.

Enrolei minhas pernas na sua cintura e me esfreguei nele,


encontrando um ritmo nosso, tão intenso e louco que meus
peitos balançavam e eu ouvia a cama ranger. Meus gemidos
saíam entrecortados e incompletos de tão ofegante que
estava. Em algum momento Johnny se inclinou para
abocanhar meu mamilo e agarrei o seu cabelo.

Ele ergueu meu quadril com uma mão e começou a meter


muito rápido, e entrei em desespero com a onda de prazer
que me acertou. Ele estava atingindo bem fundo no meu
ponto G, não dando descanso para a minha boceta e
precisei me segurar nos seus ombros. Gozaria a qualquer
momento daquele jeito.

— Johnny... — suspirei de maneira irregular, sem saber


como ele ainda não tinha se cansado do ritmo intenso.

— Goza pra mim, minha gostosa — sussurrou baixinho no


meu ouvido e ouvir aquela voz grave foi suficiente.

Gemi e rebolei com velocidade parecida com a dele,


desesperada para gozar. Joguei a cabeça para trás, sentindo
minha boceta piscar e meu coração acelerar,
bombardeando sangue quente pelo meu corpo. Gozei
soltando gemidos de alívio pelo quarto.

Pensei que fosse diminuir a intensidade, mas Johnny veio


metendo tudo de novo, ele gemeu na minha boca e eu o
beijei, segurando o seu rosto e ajudando-o com reboladas.
Seus dedos apertaram meu cabelo e ele disse meu nome
tão sufocado, que meu peito se apertou, e o abracei.
Era tão bom senti-lo me abrindo assim que uma outra onda
de prazer surgiu logo em seguida. Senti uma vontade
absurda de gozar

de novo e Johnny percebendo, se afastou um pouco para


massagear o meu clitóris e lamber os meus seios.

Chorei de prazer, sem me aguentar o apertei com a minha


boceta e ele gemeu contra minha pele, inchando mais em
mim e subindo para me beijar de novo.

E gozei. Estremeci todo o meu corpo embaixo do dele,


sentindo que estava me desmanchando. Mas ele me pegou,
segurou meu pescoço e distribuiu beijos quentes e
molhados ali, sem deixar de meter em mim.

Johnny me apertou contra si e mordeu meu pescoço,


prestes a gozar. Olhou para mim pedindo permissão e
acenei com cabeça.

Ele saiu de mim de uma vez e tirou a camisinha, jorrando a


sua porra pela minha barriga e seios. O sêmen foi espirrado
em mim em jatos, e fui banhada por ele. Quando acabou,
Johnny subiu na altura do meu rosto e me beijou,
acariciando meu rosto, sem conseguir parar de fazer sexo
comigo, de todas as formas possíveis.

Estávamos exaustos, trêmulos, mas Johnny continuou a dar


beijos preguiçosos no meu rosto, em um gesto de carinho.
Em algum momento ele segurou a minha mão, entrelaçou
os nossos dedos e colou a testa na minha.

Eu me sentia leve, de um jeito que me fazia lembrar da


sensação de flutuar sob a água. Meu corpo estava relaxado
e o que me impedia de flutuar ali era o corpo dele em cima
do meu.
Quando Johnny me olhou ele parecia perdido, sem entender
o que era aquela energia entre nós.

— O que tá acontecendo com a gente? — sussurrou


confuso, olhando para meus olhos como se pudesse achar a
resposta.

— Eu não sei — sussurrei de volta, porque também estava


tão perdida quanto ele.

Johnny me abraçou muito apertado, colando o rosto no meu


pescoço, como se quisesse me colocar dentro de si.

— Johnny...

— Já estava demorando — reclamou, o belisquei e ele riu.

— Eu ia dizer que acho que devíamos nos limpar —


expliquei alisando suas costas.

— E eu ia dizer que acho que devemos foder de novo — ele


se ergueu nos braços e me olhou com um brilho diferente
nos olhos.

— Amber...

— Oi.

— Eu acho que não vou mais conseguir te largar, princesa


declarou com tanta intensidade que um arrepio passou pelo


meu corpo.

— Então não larga — falei e ele acariciou meu rosto


devagar.

Me levantei para ir ao banheiro, pois estava toda gozada. E


me lembrei de provocá-lo.

— É algum tipo de fetiche de gozar as garotas?

— Não — Me deu um sorriso de lado e contemplou o meu


corpo melado —, acho que desenvolvi agora. Não sei, você
fica tão linda com a minha porra. — Dei um beijo no seu
rosto bobo e safado.

Fui me levantando, mas ele me segurou por trás. — Deixa


eu te limpar, princesa. Toma banho comigo.

— Outro dia — disse me levantando, pois queria me limpar


sozinha.

Ele cedeu, assim que saí do banheiro depois do banho


Johnny entrou e fui me deitar na minha cama, pelada. Meus
olhos já estavam pesados quando senti um corpo quente
atrás de mim se grudando com o meu, me envolvendo em
uma conchinha gostosa de se dormir.

Ele beijou o meu ombro e enterrou o rosto no meu cabelo,


abraçando-me mais contra si. Johnny massageou
preguiçosamente minha barriga nua e disse sussurrando
que eu podia dormir. Que ele nunca deixaria nada acontecer
comigo.

E acreditei. E dormi. E sonhei que estava afundando no


negro dos seus olhos, mas estranhamente isso não me
causou medo, foi de um jeito bom. De um jeito que me fez
querer mergulhar mais profundamente.
AMBER FOSTER

Acordei sozinha na cama. Por um segundo pensei que


tivesse sonhado com a noite de sexo quente que tive, mas
quando percebi que ainda estava completamente nua,
confirmei que foi verdade mesmo.

Transei com Johnny Jackson. E dormi abraçada com ele, de


novo. E amei cada segundo. Oh Deus, estava fodida, em
todos os sentidos da palavra.

Estiquei os braços espreguiçando-me, renovada. Era assim


que me sentia, saciada e relaxada. Enfim, como uma garota
que recebeu orgasmos deve se sentir pela manhã.

Levantei pelada e caminhei até meu banheiro procurando


por Johnny, mas não foi necessário andar muito, porque ele
estava tomando banho com a porta do box fechada,
deixando os vidros embaçados.

Como sabia que não estava me vendo, escovei os dentes


rápido na pia e depois caminhei devagar até entrar no
chuveiro também. Senti o calor percorrer o meu corpo só
por vê-lo nu no ambiente abafado, com a água percorrendo
os músculos tatuados das suas costas.

Ele ficou tenso quando percebeu que entrei, mas não disse
nada. Sua respiração ficou mais pesada e suas mãos
pararam de passar o shampoo no cabelo.
O abracei por trás, deixando a água que caía nele me
molhasse também, minhas mãos desceram pelo seu
abdômen definido até chegar ao pau duro e erguido. Passei
os dedos no seu cacete gostoso, o segurando firme e Johnny
apertou meus braços, não sabia se era para me impedir ou
pedir para continuar.

— Você ficou duro lavando o cabelo? — provoquei falando


baixinho. — Isso é problemático.

Ele se virou para mim de uma vez e me ergueu, segurando-


me firme pela bunda. Me enrosquei toda nele, com as
pernas em volta da sua cintura e o rosto na altura do seu.

— Sempre que fico dentro de lugares apertados e úmidos


com você — brincou, seu hálito quente de creme dental
saindo da sua boca e entrando direto na minha.

— Fico feliz que tenha gostado do meu box, pode usá-lo


sempre que quiser.

Ele passou a língua quente vagarosamente pelo meu lábio


inferior, forçando entrada na minha boca, mas quando a
abri pronta para chupá-lo, Johnny a tirou do meu alcance em
provocação e desceu para o meu pescoço, lambendo tudo e
me arrepiando toda.

Estava me sentindo sufocada, com um calor insuportável


naquele lugar abafado, eu suava e me molhava ao mesmo
tempo. E

de alguma forma queria esfregar meu clitóris naquele


abdômen tanquinho, como se só assim meu corpo fosse ter
algum alívio.

Empurrei a cabeça dele e passei a dar chupões no seu


pescoço macio e gostoso. Ele jogou a cabeça para trás e
deixou a água correr pelo meu cabelo e seu peito. Não
resisti e comecei a massagear o seu cabelo para tirar o
excesso de shampoo que ainda tinha, enquanto unia nossas
bocas em um beijo excitante pra caralho.

Johnny agarrou com mais força minha bunda e passou a


ditar os movimentos do meu quadril, o esfregando na sua
barriga, bem onde eu queria ser roçada. Segurei o seu
cabelo mais forte e gemi na sua boca, rebolando e melando
minha boceta.

Meus seios pesados e molhados se chocando com o peito


duro dele quase me fizeram gozar. Estava piscando,
sentindo falta do seu pau entrando em mim, me
preenchendo.

Quando o shampoo já tinha saído completamente do seu


cabelo, ele me segurou com mais firmeza, encostando tanto
a minha virilha nele que cheguei a melar bem o seu
abdômen com a minha lubrificação. Ele abocanhou de uma
vez meu mamilo duro, dando chupadas e babando tudo.

Eu estava salivando por ele, precisava senti-lo, por isso


puxei o seu rosto de volta para mim e beijei seus lábios
inchados e vermelhos, sugando aquela língua que fodia
minha boca com vontade.

Tinha certeza que o formato das mãos dele ficaria na minha


bunda depois, pois espremia tanto meu corpo no seu, que
por um segundo, achei que queria me colocar dentro dele.

Meu desejo era tanto, que a leve esfregada passou a ficar


mais desesperada, rebolei tanto que meus peitos
balançavam no ar e o pau do Johnny me cutucava na bunda,
implorando para se enfiar em mim. Nosso beijo ficou mais
agressivo, mordíamos e sugávamos os lábios um do outro,
nossas línguas se chocavam, desesperadas e sedentas.
Agarrei mais forte o cabelo dele e Johnny encostou sua testa
na minha, parando para recuperar o fôlego. Eu estava com
tanto tesão que minhas pernas tremiam, minha boceta
estava babando em desespero e eu sentia meu coração
bombardear o sangue pelo meu corpo. Nunca na vida me
senti assim, com tanto prazer acumulado.

— Eu preciso te comer — ele murmurou sufocado e afastou


um pouco nossos rostos para olhar nos meus olhos. —
Agora —

disse com tanta intensidade que já me senti comida. Sua


boca encostou mais no meu ouvido e gemi antes mesmo de
escutá-lo sussurrar. — Eu preciso entrar nessa boceta
apertadinha — o dedo dele passou suavemente pela divisão
da minha bunda, descendo e se esfregando de leve na
minha entrada molhada sem penetrar —, preciso senti-la
melar o meu pau enquanto vou alargando e maltratando a
minha gostosa.

— Johnny... — gemi sufocada e tremendo.

Minhas pernas cederam e eu quase me desenrolei da sua


cintura, mas ele me pegou e me segurou no lugar, me
deixando

manhosa e entregue. Johnny desligou o chuveiro e saiu do


box comigo.

Ele não pegou toalha nem nada, só me beijou e entrou no


quarto me carregando, dizendo com aquilo que eu não
precisava me preocupar, ele me daria o que eu estava
pedindo desesperadamente.

O ar do quarto arrepiou minha pele molhada pelo chuveiro e


segurei-me mais nele, procurando calor, ainda enrolada no
seu corpo quentinho. Apertei seu cabelo molhado querendo-
o mais perto, mordendo forte o seu lábio inferior e ele me
deu um tapa na bunda como punição.

Joguei meu corpo para frente sedenta e minha boceta


pulsou em resposta. Me esfreguei nele de novo, dengosa,
querendo outro tapa na bunda.

— Mais forte — implorei vendo-o ergue a sobrancelha em


desafio.

— Você não iria aguentar. — Lambeu meu lábio e entrou


com a língua safada na minha boca.

— Me teste... — murmurei em meio ao beijo quente e antes


que eu calasse minha boca Johnny deu um puta tapa na
minha bunda e a ardência correu pelo corpo.

Um frio instalou-se pelo meu estômago e tesão escorreu


pela minha boceta, fazendo-a salivar. Tremi e gemi
querendo mais.

Ah, foda-se, isso era gostoso pra caralho. Com certeza ia


ficar toda marcada depois, mas era muito bom.

— Mais — supliquei cravando as unhas nos seus braços, a


pele dura e musculosa dele contra a minha macia.

— Estou lidando aqui com uma masoquista? — provocou


batendo na outra banda do meu bumbum e inclinei meu
corpo com o susto, esfregando o clitóris no caminho.

— Não... — gemi sufocada e rindo ao mesmo tempo. — Só


gosto de tapas na bunda mesmo. Sem dor.

— Ótimo, porque te machucar não me causa nada além de


angústia — falou no meu ouvindo. Lambeu e sugou o lóbulo
da minha orelha, e meteu um dedo em mim. Estava
lambuzando-o enquanto retirava e o metia de uma vez, e eu
quiquei nele.

Johnny passou a chupar meu pescoço, babando tudo e


descendo até chegar no mamilo já duro. Não sei como, mas
chegamos na minha escrivaninha, ele me tirou do seu colo e
sentou na minha cadeira de estudo, deixando-me em pé na
sua frente.

— Vira — mandou e obedeci imediatamente, ansiosa,


colocando minha bunda na altura do seu rosto.

Ele segurou os meus quadris por trás e começou a lamber a


polpa das minhas nádegas. A língua quente e macia passou
pela minha pele já ardente dos tapas e gemi alto. Torci
minhas pernas tentando aliviar a vontade de sentar no pau
dele imediatamente. Eu estava toda arrepiada e meus seios
pesados, desejosos.

Johnny separou mais minhas pernas com as suas e tive que


apoiar minhas mãos na escrivaninha à minha frente para
não cair, e senti sua respiração soprando a minha bunda.

Sufoquei um gemido e tremi com a tensão. Apertei firme a


madeira do móvel para evitar me tocar ali, era como uma
coceira que não podia coçar. Queria tocar meu clitóris e
sentir seu pau me alargando enquanto eu o melava.

Seus lábios fecharam em torno da minha bunda, perto do


meu orifício. Ele deu mordidas leves em torno, lambeu até
enfiar de vez a rosto ali, passando a língua no lugar onde
ninguém nunca tinha encostado daquele jeito.

Choraminguei. Tinha plena consciência que a casa toda


deveria estar escutando, mas não me importei. A sensação
da língua dele passando ali era boa demais, me inclinei para
trás querendo sentir mais, sua boca chupou e mordiscou
todo o lugar, a barba por fazer arranhava a pele da minha
bunda, dando uma acidez necessária à sensação doce que
estava sentindo.

Joguei minha cabeça para trás, meu cabelo ainda molhado


do chuveiro contra minhas costas suadas e arrepiadas de
tesão. Não aguentei mais, rebolei contra o seu rosto,
fazendo a sua língua circular mais ao redor. A mão dele
desceu para finalmente tocar meu clitóris, esfregando-o
com vontade, e uma corrente elétrica percorreu todo o meu
corpo.

Gemi alto e de repente me senti vazia, minha boceta


fechava procurando algo para preenchê-la, querendo ser
fodida. Eu ia gozar,

podia sentir o prazer escorrendo pelo meu corpo, mas


queria fazer isso rebolando no pau dele. Então abri depressa
minha gaveta da escrivaninha e procurei uma camisinha.
Quando achei, Johnny tirou da minha mão antes que eu
percebesse, ainda com a cara metida em mim.

Ele deu uma última lambida lenta no meu cuzinho, se


despedindo e começou a colocar a camisinha. Eu ainda
estava zonza de prazer e ao me virar, ele me lançou um
olhar predador, segurando o pau muito ereto apontado para
mim.

— Rebola no meu pau, princesa. — Antes que eu pudesse


responder qualquer coisa, ele me girou de novo, fazendo-
me cair de costas para ele.

Senti o seu peito subir e descer com a respiração pesada


contra as minhas costas e girei minha cabeça para beijá-lo.

Enquanto entrava com seu pau em mim, passei a língua na


sua boca, suguei-a ao mesmo tempo em que ele me fodia
aos poucos, me arregaçando.

Fiquei sentada no seu colo de costas para ele, mas suas


pernas afastaram as minhas pernas, me colocando bem
aberta e gemi quando seu pau meteu até a metade.
Naquela posição eu me sentia completamente mais
apertada e preenchida, o seu braço circulou minha cintura,
segurando-me no lugar, enquanto o outro guiava meu
quadril para descer mais nele.

Me restou segurar a lateral da cadeira para me equilibrar.

Quando o pau gostoso e totalmente duro entrou por inteiro,


tremi e rebolei como uma louca. O tesão no meu corpo foi
tanto que senti um líquido escorrer por mim, como se
tivesse mijando. Nem mesmo consegui ficar horrorizada,
pois gemia descontroladamente com a onda de prazer
absurda sendo liberada.

Eu quiquei no pau do Johnny, melando-o todo e pude


escutá-lo chiando e cerrando os dentes contra o meu
pescoço, ofegante, se segurando para não gozar também.

Eu rebolei em um deslizar completamente desesperado,


sentindo o pulsar da sua rola em mim e o som da nossa
trepada pelo quarto. Minha bunda batia no seu quadril
enquanto descia, ele

agarrou o meu cabelo, puxando minha cabeça para morder


e chupar meu pescoço.

A ânsia subiu em mim, queria subir e descer sem parar,


estava sedenta, meus seios eretos balançavam e meu corpo
todo pulsava. Achava que tinha chegado no limite, mas de
uma hora para outra Johnny empurrou a cadeira para o lado
e ficamos de frente para o meu espelho grande.
Suas duas mãos foram ao meu quadril e começaram a ditar
o ritmo das minhas descidas, ao mesmo tempo em que
começou me foder com força. Muita força.

Meu corpo todo se arrepiou e contorci de prazer, meus


gemidos já estavam incontroláveis e continuei a quicar nele
mesmo recebendo estocadas violentas. Eu ainda sentia o
líquido escorrer por mim, e era como se tivesse tendo um
orgasmo prolongado e muito gostoso. Meu coração pulsava
tanto que achei que a qualquer momento podia ter um
infarto de tanto tesão.

Quando olhei para frente pude nos observar pelo espelho e


puta merda, nunca vi algo tão erótico e pornográfico ao vivo
assim.

Como estava com as pernas bem abertas podia ver


nitidamente o seu pau grosso me comendo, entrando em
mim e saindo todo lambuzado e brilhante. Meu corpo
balançando e eu gemendo com as estocadas, Johnny com o
braço tatuado guiando o meu quadril e nossos corpos se
chocando loucamente.

Em algum momento nossos olhos se encontraram pelo


espelho e ele intensificou as metidas, mas não desviamos o
olhar.

Era como se tivéssemos usando o mesmo tipo de droga, me


segurei mais nos braços na cadeira e gemi rebolando,
encontrando um ritmo nosso.

Sua respiração vinha quente no meu pescoço, os gemidos


bem perto do meu ouvido. Senti-o me abrindo mais,
inchando dentro de mim. E uma nova onda de orgasmo me
atingiu, dando fim a toda energia liberada no meu corpo.
Gozei trêmula, minha visão escureceu por um momento e o
ar sumiu do meu pulmão, Johnny ainda meteu umas últimas
vezes antes de cerrar os dentes e contorcer o rosto como se
estivesse

sentindo dor. Gozando comigo e enchendo a camisinha com


sua porra.

Nossas respirações entraram em sintonia, ofegantes e


cansadas. Pensei que fosse cair para frente de tão exausta,
mas os seus braços me pegaram. Fechei os olhos por um
momento, me encostando no seu peito cansado e suado.

Quando os abri de novo, vi pelo espelho ele me observando.

Nos encaramos até cairmos na risada juntos.

De repente lamentei por todas as mulheres do mundo que


não foram fodidas por Johnny Jackson. Era uma experiência
inesquecível mesmo. Mas... Ele era só meu agora.

Sentindo-me zelosa, virei e passei meu braço por seu


pescoço, beijando seu rosto. Ficando surpreso e feliz pelo
meu carinho, tirou meu cabelo do rosto e beijou meu ombro
nu.

— Acha que eles ouviram? — perguntou no meu ouvido,


apertando-me mais contra si.

— Claro que não — declarei. — fomos silenciosos.

— Claro. — Johnny beijou o canto da minha boca. — Mas


seus gemidos não ajudaram.

— Seus tapas também não — completei.

— A cadeira rangeu. — Apontou e continuamos a nos olhar.


— Mas eles não ouviram — dissemos ao mesmo tempo e
sorrimos em cumplicidade.

Ele me abraçou mais e não resisti a provocá-lo, apertei seu


pau dentro de mim e ele se remexeu na cadeira, mas fui lá
e o apertei de novo, sentindo-o pulsar em vida. Ok, isso me
deixou impressionada.

— Amber... — avisou. — não comece, depois você não


aguenta.

— Não aguenta? — Ri em deboche. — Você se refere a esse


negócio pequeninho aqui? — perguntei contraindo de novo,
fazendo o seu pau endurecer mais.

— Você vai sair daqui assada só pelo atrevimento —


ameaçou subindo as mãos até meus seios e os segurando,
enquanto beijava meu rosto com carinho.

— Era exatamente essa minha intenção — sussurrei.

É. Poucas coisas na vida me davam mais prazer do que


provocar Johnny.

JOHNNY JACKSON

Depois de outro sexo quente e mais um banho, finalmente


saímos do quarto. Assim que chegamos na cozinha já sabia
que os mendigos estariam aqui, acho que era definitivo que
iríamos implorar pela comida da Sienna todos os dias.

Taylor, Scarlett e Drake fofocavam sentados na mesa da


cozinha. Como sabia que era fofoca e não um assunto sério?
Por que Drake estava envolvido.

Sienna cozinhava, Tyler estava no celular e Colin deitado no


sofá com os cachorros, observando a bunda da Maddie
erguida na posição da ioga que fazia no meio da sala. Ela
estava muito concentrada em inspirar e expirar o ar, e ele
muito concentrado na sua legging branca.

Quando nos viram chegar de mãos dadas trocaram um


olhar divertido.

— Suponho que passaram a noite no banheiro fazendo xixi


Colin ironizou.

— Minha bexiga é incontrolável — Amber respondeu


soltando minha mão e indo até os seus cachorros.

— O que aconteceu com os seus sapatos? — perguntou


Taylor vendo que eu estava descalço.

Deixei no meu quarto quando finalmente vim comer minha


futura namorada.

— Deixei por aí. — Dei de ombros e puxei uma cadeira ao


lado do Tyler.

— Tenho que falar contigo — Tyler sussurrou para mim e o


olhei curioso, quando ia gesticulando para levantarmos
alguém bateu
à porta da frente e Amber se levantou para abrir.

A porta da frente se abriu e uma mulher loira muito bonita


entrou na sala gritando animada e se jogando em cima da
minha garota que a abraçou e gritou de volta.

Sienna, Maddie e Scarlett correram para elas em igual


animação, gritando e dando pulos animados. Eu e os
meninos trocamos um olhar de confusão.

— AI MEU DEUS, QUE SAUDADE! — a mulher gritou


animada, desgrudando das meninas. — Esperem! Deixa-me
olhar pra vocês, como estão gostosas!

Devia ter uns vinte e sete anos, ou trinta, no máximo. Era


loira, tinha olhos castanhos, muito bonita e usava um
vestido branco totalmente colado ao corpo que vinha até
acima dos joelhos. A mulher vestia tudo de grife, a bolsa,
óculos de sol erguidos na cabeça, relógio, brincos, botas
pretas. Parecia que tinha saído de uma capa de revista da
Vogue.

— Não pensei que chegaria hoje! — animou-se Amber,


nitidamente feliz por vê-la.

Era sua irmã? Ou prima?

— Bem... — A loira suspirou cansada e foi entrando na sala


com a sua mala gigante. — Não sabia pra onde ir, o ruim de
fugir sem planejar direito é esse. Então, pensei em visitar
vocês.

— Fugir? — Maddie a olhou confusa.

— O que aconteceu? — Scarlett ficou preocupada.


— Amber é uma péssima fofoqueira — acusou a loira
olhando para Amber com desaprovação. — Provavelmente,
fui corna.

— Não, Lindsay. — Sienna colocou a mão na boca


horrorizada.

— Sim, meus chifres estão tão altos que nem sei como
passei pela porta. Mas não vamos falar sobre isso. — A
mulher dispensou o assunto com um aceno e pareceu
observar eu e o meninos pela primeira vez, olhou com
interesse de cima a baixo cada um. — Por favor, me digam
que são os seus namorados! — Colocou a mão no peito
dramaticamente.

— Não são — Maddie esclareceu rindo.

Amber pegou a mão da mulher e veio em nossa direção


apresentá-la.

— Esse é Taylor, Colin, Tyler, Drake...

— Nossa, que aperto de mão forte. — A mulher anunciou


com aprovação ao apertar a mão do Drake. Quando seus
olhos caíram em mim pareceu procurar algo no meu rosto.
— Acho que te conheço de algum lugar...

— Ele é Johnny Jackson — Amber apresentou antes que


pudesse responder.

— Não acredito! Meu marido é um fã seu! — gritou


animada.

— Seu marido? — perguntei rindo da empolgação dela.

— Sim — Amber confirmou —, o meu pai.


A olhamos sem entender por um momento, até que minha
mente deu um estalo.

Espera aí. Essa mulher era casada com o pai da Amber? Me


lembrei dela dizendo que a madrasta era nova, mas nunca
pensei que fosse só alguns anos mais velha. Juraria que era
no máximo sua irmã.

E o mais importante. O meu futuro sogro era meu fã? Oh,


isso era divino.

— Meu fã? — repeti para a madrasta com um sorriso


satisfeito no rosto.

Amber revirou os olhos.

— Sim! Ou ex-marido, depende de como vamos seguir. Mas


não vamos falar disso, meu nome é Lindsay! — Apertou
minha mão e só então observei os anéis de ouro nos seus
dedos.

Ok. O pai da Amber era rico ou sua madrasta era. E não sei
por que, isso me desconsertou por um momento.

— Prazer em conhecê-la. — Sorri para ela.

Lindsay se virou para Amber parecendo lembrar de algo.

— Você vai ganhar um carro! Zerado — Lindsay informou à


Amber, animada e pulando.

— O que? — Amber parecia ter ficado sem entender.

— Exatamente! Está nos meus planos de vingança! Vamos


gastar o dinheiro do seu pai! — exclamou Lindsay
triunfante.
— Você é traída e eu que ganho presentes? — Amber
brincou rindo.

— Se eu fosse você torceria pra eles brigarem mais vezes —

Colin se intrometeu na conversa, fazendo a madrasta de


Amber olhá-lo de novo.

— Meu Deus, como você é bonito. E você — Lindsay


apontou para Drake —, acho que nunca vi um homem mais
forte. Pelo amor de Deus, meninas, não percam tempo.

Todos rimos da mulher excêntrica a nossa frente.

— Espera aí todo mundo — Amber pediu pegando o celular


do bolso e mostrando para nós que era seu pai no telefone.
Ela pediu silêncio e atendeu a ligação no viva-voz.

— Amber! — Uma voz muito zangada gritou do outro lado


da linha.

— Sim, papai? — Amber chamou com uma voz falsamente


infantil, segurando o riso com a sua madrasta ao lado.

— Eu não sei como, mas você tem alguma coisa a ver com
isso! — gritou o homem no telefone.

— Com o que? — Fez-se de desentendida.

— Não se faça de sonsa, não combina com você. Cadê


Lindsay? — perguntou zangado.

— Ela sumiu? — Amber fingiu horror, fazendo sua madrasta


querer engasgar de rir ao seu lado.

Ele teve que conviver com as duas? Pobre homem.


— Não sei pra onde ela foi! Mas sei que você sabe
exatamente onde ela está!

— Não sei, ela não me disse nada... Aliás, soube que vou
ganhar um carro — revelou Amber sorrindo.

— Um carro? — O pai dela ficou confuso com a mudança de


assunto. — Compre um, não me importo, quero saber onde
está minha mulher!

— Ela disse que o senhor não dormiu em casa... — soltou


Amber e Lindsay apontou sua unha pintada de vermelho
furiosamente para o celular, como se quisesse quebrá-lo, só
de lembrar da situação.

— Ela não me deixou explicar! Amber, se você não me


disser nesse momento...

— O que vai acontecer? — arriscou Amber achando graça


da irritação do pai.

— Nada de carro. — Suspirou cansado sem saber como


ameaçá-la.

— Tudo bem. — A filha rebelde deu de ombros indiferente.

— Pra que diabo quer um carro? Nem sabe dirigir. — A voz


do seu pai estava irritada e exausta.

— Oh, eu aprendi! — Amber empolgou-se para contar, e


sorri para minha garota.

— Aprendeu? Nem sabia ligar um carro — pareceu confuso.

— Pois é, agora sei, então preciso de um.

— Se você não me contar onde está Lindsay não vai ter


nem uma bicicleta! — esbravejou do outro lado do telefone.
— Ah, papai, assim o senhor está destruindo a minha vida

ironizou Amber sorrindo.

— Sabe o que destrói uma vida? Casamento. — O homem


estava cansado, mas ela e a madrasta pareciam estar se
divertindo bastante em irritá-lo. — Você não vai me contar,
não é? Vai ficar do lado dela como sempre... Mas não se
preocupe! Avise a ela que vou encontrá-la, nem que tenha
que meter a polícia nisso!

— Certo, papai. Boa sorte, beijinhos — disse


carinhosamente para ele.

— Certo. Certo. Beijinhos — resmungou desligando.

Sorri do homem mais velho mesmo irritado mandando

“beijinhos” para a filha.

— Como ele é cínico! — Lindsay suspirou zangada. — “Ela


não me deixou explicar”. — Imitou a voz do homem. —
Dormiu fora de casa! Voltou com um cheiro de perfume
barato!

— Eu sinto muito. — Maddie pegou a mão da Lindsay


compadecida.

— E eu lhe entreguei os melhores anos da minha vida... —

Suspirou Lindsay dramaticamente e caiu no sofá.

Olhei para Amber como quem diz “agora entendi onde você
aprendeu a fazer teatro” e ela sorriu convencida para mim.

— Então, vamos sair pra comemorar o meu sumiço! —


Lindsay ficou subitamente empolgada, parecendo lembrar
do seu plano. — Me façam ter 20 anos de novo, por favor.

— E o que você quer fazer? — perguntou Scarlett para ela.

— Tudo! Beber todas e fazer várias compras estão na minha


lista! — Lindsay anunciou e Amber deu um tapinha na mão
erguida da madrasta em parceria.

As duas tinham algum tipo de companheirismo, pareciam


dispostas a fazerem tudo uma pela outra e se olhavam
como se fossem melhores amigas. Um tipo diferente de
parceria.

AMBER FOSTER

— A gente vai depois dessa aula — Nelly repreendeu ao me


puxar pelo braço.

— Não vai demorar nadinha, só preciso de um sanduíche —

resmunguei, mas Nelly não sentiu pena de mim, continuou


a me puxar.

— Não vou perder aula pra você comer. — Ela me empurrou


para dentro da sala e fomos procurar assentos.

Hoje estava puxado, já íamos para a quarta aula, trabalhos,


resenhas de livros, atividades e provas chegando. E tudo
isso sem pausa, pois minha colega de curso neurótica só
topa passar no refeitório depois da última aula do dia, como
pode?

E quando chegasse em casa não teria paz, pois Lindsay me


arrastaria para algum bar, shopping ou boate que desejasse
ir. Ela estava levando o seu plano de vingança a sério.
Comprava tudo o que queria, joias, roupas, botas, óculos...
Sinceramente? Seria mais barato para o meu pai se manter
fiel, pelo menos é um ótimo incentivo para o bolso.

Não sei como ela estava fazendo para não deixar rastros do
seu paradeiro com tantas compras, mas ele até agora a
procurava.

Me ligava diariamente fazendo diferentes tipos de ameaças


que não conseguia cumprir. Nossas ligações se limitavam a
ele irritado e eu

rindo, mas sei que não ia demorar muito até que meu pai
aparecesse na minha porta para buscar sua esposa.

Para falar a verdade ele estava até demorando a aparecer,


já fazia três dias que Lindsay tinha chegado e estava
adorando tê-la comigo. Amava aquela mulher e me sentia
melhor com sua presença, mais forte para ignorar as
ligações de números desconhecidos que apareciam no meu
celular.

Por mais que Lindsay quisesse entrar em contato com


minha mãe, a convenci a não perder tempo com isso. Ela
me ligava, mas era só bloquear o número, com o tempo
desistiria e iria procurar dinheiro em outro lugar. Simples.

Só tinha uma parte ruim da estadia da minha madrasta.


Como ela dormia comigo no quarto, não podia passar muito
tempo sozinha com Johnny.
Mas ele dava um jeito de estar comigo quase toda hora,
levava os cachorros para passear de manhã, me dava
carona, e quando chegava tarde do treino topava qualquer
coisa que Lindsay quisesse fazer. Sim, qualquer coisa. Meu
jogador de hóquei teve que fazer compras com a gente, nos
esperou na manicure, depiladora e ainda foi assistir um
filme de comédia romântica no cinema. Ele topava tudo que
minha madrasta ditava para nossa programação.

Deveria ser chato, mas Johnny não reclamava, para falar a


verdade, ele que se oferecia a ir para acompanhar, e meu
lado iludido gostava de pensar que era só para poder passar
mais tempo comigo.

Estava cada vez mais envolvida por ele, assim que o via
pela manhã ficava tão feliz que me sentia uma criança
recebendo presente de natal. Era tão carinhoso, não perdia
a oportunidade de andar de mãos dadas ou me abraçar em
público. Ele até mudou o meu nome de contato no celular
para “minha princesa”!

Era até patético o tanto que ansiava por vê-lo durante o dia.

Adorava abraça-lo, colocar a cabeça no seu peito e fazê-lo


rir de algo bobo que dizia.

E foi pensando em Johnny que vi Benny a umas cadeiras de


distância da minha. Acenei para ele, mas o ruivo não me
retornou o gesto. Benny ajeitou os óculos no rosto e virou-se
para frente.

Parecia chateado. Sabia que ele tinha brigado com Johnny,


mas estava zangado comigo também?

— O que Benny tem? — sussurrei para Nelly enquanto


pegava meu material.
— Não sei, tá estranho, também não falou comigo. — Nelly
deu de ombros.

Me lembraria de falar com ele depois, talvez não agora, pois


parecia zangado com alguma coisa, mas depois iria.

A próxima hora passou até rápido, e assim que saímos da


sala, obriguei Nelly a passar no refeitório comigo. Ao sentar
na mesa muito feliz com meu sanduíche, pude ver que
Emily Wade e Chloe White estavam vindo na nossa direção.
Sorri e acenei para minhas amigas da fraternidade, sentia
falta de morar com aquelas malucas.

— Precisamos ser vistas mais com você agora — brincou


Chloe me abraçando e sentando do meu lado.

— Como é ser um dos assuntos mais comentados? —

provocou Emily, ao pegar a cadeira ao lado da Nelly e


cumprimentá-la alegremente.

— Como assim? — Virei para elas confusa.

— Acho que elas estão falando do seu lance com meu


melhor amigo — Nelly ajudou tomando seu suco.

— Seu melhor amigo? — perguntei rindo.

— Sim — gabou-se Nelly —, ele me convidou pessoalmente


para ir ao jogo dele — mentiu com convicção para as
meninas que arregalaram os olhos encantadas. — Somos
muito amigos agora.

Dele e dos outros meninos.

Sorri contra meu sanduíche, mas me mantive calada.


— Por que eu também não sou amiga dele, hein? — Chloe
olhou feio para mim, como se eu ditasse quem eram as
amigas do Johnny.

— Faço mais questão de ser amiga do Colin, mas íntima. —

Emily suspirou apaixonada.

— Posso chamar vocês quando a gente for sair de novo —

ofereci.

— Você acha que ele se lembra de mim? — Emily olhou para


mim ansiosa e fiquei sem entender.

— Vocês já ficaram? — sugeri confusa.

— Não. — Emily choramingou dramaticamente. — Mas


naquela festa deles eu esbarrei nele sem querer, e Colin me
pegou no ar, depois me deu aquele sorriso de molhar
calcinhas, sabe?

Chloe e Nelly concordaram suspirando e revirei os olhos.

— E depois? — perguntou Nelly interessada.

— Depois ele disse como um cavalheiro para eu ter cuidado


e piscou pra mim! Ele piscou! — Emily se virou para mim,
como se quisesse que eu confirmasse que isso era um sinal.

— É, ele pode se lembrar... — Comi meu sanduíche com


interesse renovado.

Hum, estava gostoso mesmo.

— Eu achei que a gente se conectou — Emily confirmou


convicta.
— Sabe com quem você deveria conversar? — aconselhou
Nelly. — Com a Maddie, ela sabe dessas coisas de conexão e
tudo.

— Ela não gosta muito da gente — Chloe se meteu na


conversa parecendo arrependida. — Por falar nisso, a gente
falou com a Scar. Ela nos desculpou.

Sorri feliz para elas.

— Eu disse que um dia isso ia acontecer.

— Todas nos arrependemos — Emily disse envergonhada. —

Bethany conversou com a gente e acho que concordamos


em nunca mais excluir ninguém por lá.

— Eu fico feliz por isso — Pisquei para ela —, Scar não


guarda rancor de ninguém. Ela tem o coração enorme.

— Sim! Mas vamos voltar ao seu relacionamento com o Sr.

Fodão. — Chloe se empolgou na cadeira.

— Não estamos em um relacionamento — apressei a


explicar com medo do Johnny achar que eu estava
espalhando aquela história.

— Você sentou na cara dele?

Sentei.

Mas não respondi, só ri e passei a próxima meia hora


fofocando com elas. Depois de me despedir delas, sai com
Nelly

para fora do refeitório e acenei para alguns amigos


sentados embaixo de uma árvore no campus.
— Você deveria escrever um manual “Como ser amigo de
todo mundo” — debochou Nelly caminhando comigo.

— Isso é porque eu sou legal, você deveria praticar —

brinquei entrelaçando nossos braços, e Nelly me deu o dedo


do meio.

— Ou porque você força as pessoas a te suportarem.

— Um pouco dos dois.

Caminhamos mais um pouco pelo campus até a buzina de


um carro começar a chamar a atenção de todo mundo.
Olhamos ao redor e um Jaguar XK branco, novinho em folha
se aproximou de nós.

O carro estacionou o mais próximo permitido do gramado do


campus. A tintura brilhava, o som do motor era leve e
vibrante.

Quando o motorista baixou o vidro Johnny apareceu pela


janela, ele botou a cabeça para fora e acenou para nós.

Aproximando-me mais percebi que Lindsay estava no banco


do passageiro. Eles estavam se dando muito bem, ela e
Johnny agiam como se fossem melhores amigos desde que
se conheceram e aquilo aquecia meu coração.

— É um jaguar? — Nelly começou a circular o carro branco


impressionada.

— Isso mesmo — Johnny sorriu e olhou para mim ansioso. —

O que achou?

— Isso é incrível. — Foi tudo o que saiu da minha boca


vendo o carro à minha frente.
— É SEU! — Lindsay gritou do banco do passageiro, fazendo
Johnny coçar o ouvido.

Ok. Eu tinha um Jaguar. Não era do tipo consumista, quase


não fazia compras, por mais que o dinheiro do meu pai
permitisse comprar o que quisesse à vontade, mas não sei.
Essa nunca foi muito minha praia. Mas eu tinha um Jaguar,
aquilo era demais.

Johnny saiu do carro e caminhou na minha direção,


procurando algo na minha reação.

— Então? — ele perguntou nervoso.

— Ah! Isso é maravilhoso! — Joguei-me nele, que me


abraçou de volta, sorrindo aliviado. — Eu adorei, amor! — As
palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse
pensar e Johnny imediatamente me olhou surpreso pelo
nome carinhoso que usei.

Um sorriso cresceu no rosto dele e me apertou mais contra


si.

— Me chama assim de novo — sussurrou contra minha


boca.

— Você acabou de me dar um carro, vou te chamar do que


quiser — brinquei dando um selinho na sua boca e Johnny
me olhou meio desconsertado.

— Não fui eu que dei, só escolhi. Acredite, se tivesse


dinheiro te daria tudo...

— Amor — chamei interrompendo-o.

— Sim?

— Cala a boca — pedi antes de beijá-lo de vez.

Lindsay buzinava atrás de nós, Nelly tirava fotos do carro e


alguns estudantes espiavam ao redor. Mas ali só tinha eu e
o cara que a cada dia pegava mais meu coração para si.

JOHNNY JACKSON

Eu estava maluco por Amber Foster. Passava o dia pensando


em vê-la, tentando passar mais algum tempo com ela,
sentir o seu cheiro gostoso, tocar sua pele, sussurrar
besteiras no seu ouvido.

Não sei explicar o que aconteceu comigo.

Pela primeira vez na vida, queria que o treino acabasse


logo, meu tempo no gelo era contado para vê-la. E por mais
que quisesse entrar novamente na minha garota, gostava
muito mais de ficar apenas ao seu lado.

Quanto à Lindsay, decidi que gostava muito dela, primeiro


porque ela fazia bem à minha princesa. Segundo, porque
ela era divertida e excêntrica, mas tinha que admitir que
sua estadia estava causando minha falta de sono à noite.

Saber que estava a poucos metros da minha garota, e não


poder ir lá dormir com ela me irritava, mas era apenas
temporário.
Ou esperava que fosse. Era até engraçado ficar desse jeito
por uma pessoa, contando as horas só para enterrar o rosto
no seu cabelo, segurar a sua mão, rir de algo sem noção
que saía da sua boca ou apreciar a risada mais estridente
que já ouvi. Eram coisas bobas que nunca me dei conta
querer fazer com alguém, me sentia obcecado, mas
também leve.

O lado bom disso, é que percebia que ela também sentia


minha falta, o sorriso que me dava sempre que eu chegava
em um ambiente completava meu dia, sentia que levava
um soco no estômago e minhas mãos suavam para tocá-la.

— Vai ficar aqui? — Amber quis saber me olhando pelo


retrovisor enquanto estacionava o carro na porta da sua
casa.

Depois do nosso espetáculo no gramado, ela veio dirigindo


o carro temerosa. Deixou Nelly no dormitório e seguimos
para casa com Lindsay no banco do passageiro.

— Vou só tomar banho, já volto — avisei me inclinando no


banco da frente para beija-la.

— Conseguem ficar um minuto separados? — Lindsay


brincou, olhando em negação para nós dois.

Pisquei para a madrasta da Amber e saí do carro indo até


minha casa, quando cheguei na sala vi que Drake e Tyler
estavam jogando vídeo game e Colin na cozinha comendo.

Subi e tomei um banho rápido, mas quando já ia descendo


as escadas de novo, a campainha tocou e Drake se levantou
para atender.

— Johnny! — chamou Drake da porta quando eu ia abrindo a


geladeira.
— O que foi? — perguntei indo ver quem era, mas um dei
um passo para trás ao chegar na porta.

A polícia estava ali. A polícia.

Olhei para Drake e ele me lançou um olhar assustado que


dizia “o que fizemos dessa vez?”. Para mim só existia uma
explicação lógica para isso.

— Colin! O que você fez? — gritei chamando-o.

Colin apareceu na porta comendo uma maçã e vestindo só


uma calça moletom, com o peito de fora, despreocupado.

— O que foi? — questionou Colin percebendo os policiais ali.

Um policial era um senhor com a barriga acentuada e


cabelo grisalho, enquanto a outra era uma mulher na faixa
dos trinta e poucos anos, de cabelo preto e olhos da mesma
cor. Ela parecia estar impressionada com o peito nu do
Colin, que tinha só um colar prata que ele nunca tirava.

— Oh merda! — Colin xingou preocupado. — Se isso é por


conta das drogas, não são minhas!

— Colin — avisei, mas o babaca continuou.

— É verdade! Nós aqui somos atletas, não usamos drogas.

Tudo bem que uma vez lá e outra aqui —, Colin começou


explicar e Drake ficou a um passo de matá-lo — mas nada
muito sério. Se estão aqui procurando drogas não vão
encontrar nada! E se encontrarem, são todas do Tyler.

— Colin — Drake repreendeu o idiota.

O senhor mais velho parecia estar confuso e a mulher


estava muito interessada no abdômen exposto do meu
amigo sem noção.

— Mas quer saber? É até bom que estejam aqui mesmo —

Colin animou-se e se aproximou dos policias —, tem uma


ruiva nessa casa do lado...

— Ah, pelo amor de Deus — reclamou Drake já farto dessa


conversa.

— Isso é sério — Colin continuou piscando para a morena


que estava suspirando para ele —, suspeito que ela seja
uma sociopata.

É ruiva, muito gostosa, tem um metro e quarenta...

Cara, um metro e quarenta?

— Um metro e quarenta? — perguntou o agente mais velho


incrédulo.

— Sim, ou até menos. — Colin apontou para a casa das


meninas. — Tem uma elevação no gramado da parte da
frente, não me surpreenderia se encontrassem um corpo ali.

Ah não, isso já era demais. E o pior é que o cretino estava


com um olhar satisfeito, se segurando para não rir. Ele fazia
isso de propósito, só para irritar Maddie.

— Oh Deus, vamos investigar isso! — A policial pareceu


levar a sério tudo o que Colin dizia.

Eu não sabia como alguém conseguia levar a sério qualquer


coisa que ele falava.

— Não estamos aqui para isso — repreendeu o homem


grisalho —, estamos procurando uma mulher desaparecida.
Nesse momento Tyler chegou à porta olhando assustado
para os policiais e lhe lancei um olhar do tipo “não é sobre a
sua maconha”, e ele suspirou aliviado.

— Uma mulher desaparecida? — Drake se inclinou para ver


a foto que o policial mostrava para nós, preocupado.

Era Lindsay. É, o pai da Amber não estava brincando quando


disse que iria recorrer à polícia.

— Nunca vi essa mulher na vida — afirmei adotando uma


expressão confusa.

— Também não — Drake ajudou.

— Ora, mas essa não é a madras...

— Sinto muito por não poder ajudar — interrompi Tyler que


olhava sem entender para a foto sua frente.

— Onde esse mundo vai parar? — Colin balançou a cabeça


em negação olhando a foto, indignado — Pobre mulher.

— Vocês não a viram em algum lugar? — indagou de novo o


homem, passando a mão no rosto cansado.

— Não, lamento — Drake disse.

— Tudo bem... então, obrigada pela atenção — a morena


falou já se dirigindo para a casa das meninas.

— Oh, não se esqueçam da ruiva de um metro e quarenta!


Colin gritou da porta e o empurrei para dentro.

— Veremos isso! — garantiu a policial quando fechei a


porta.
Eu e Drake nos viramos para Colin ao mesmo tempo em que
ele começou a rir.

— Qual é o seu problema, seu idiota? — rosnei pegando o


celular para avisar Amber.

Eu: Esconda Lindsay, a polícia vai aparecer aí.

Eu: Estão procurando por ela.

Minha princesa: Obrigada por avisar. Que emocionante,


nunca me escondi da polícia antes.

— Um metro e quarenta? — Drake ainda estava sem


acreditar.

— Quem tem um metro e quarenta? — Tyler alternava o


olhar entre nós sem entender.

— Madison — respondeu Colin se recuperando do riso e


voltando a comer sua maçã.

— Você não pensou que isso poderia trazer problemas pra


ela, seu merda? — cuspi tirando a maçã da mão dele e
jogando no lixo.

Colin revirou os olhos.

— Sabem qual o problema de vocês? A subestimam. Ela vai


enrolar eles rapidinho, se duvidar vai conseguir convencê-
los de que eu sou o psicopata aqui.

— O que não está longe da verdade — declarei balançando


a cabeça.

— Relaxem. — Colin pegou o seu binóculo em cima do sofá


e se virou para nós querendo dizer mais alguma coisa.
Mas bem nesse momento a porta frente se abriu e Sienna,
Maddie e Amber entraram na sala.

O problema? Colin estava de costas para elas e não as viu


chegar.

— É por isso que a espiono — o idiota continuou a se gabar

—, sei que ela esconde alguma coisa, não sou manipulável


como vocês...

— Colin — tentei avisá-lo, mas ele me dispensou com um


aceno.

— Nem tente! Não vou parar, espiá-la virou meu hobby


favorito. — Colin apontou o binóculo na minha direção, e
Maddie abriu e fechou a boca em choque atrás dele.

— Colin... — Drake tentou chamá-lo.

— Tudo bem — Colin o interrompeu erguendo as mãos em


rendição —, posso ter dado um zoom nos seios dela uma ou
duas vezes. — Maddie colocou as mãos nos peitos
horrorizada. — Mas

nada muito sério. Não é como se eu a tivesse visto nua, o


que é realmente uma pena...

— SEU MALDITO! — Maddie gritou e Sienna a segurou no


lugar.

Amber parecia querer rir, mas se segurou vendo o olhar de


advertência da Sienna para ela.

Colin virou-se para trás lentamente com o rosto petrificado,


seu olhar encontrou o da ruiva, que vestia um macacão
jeans sujo de tinta como sempre. Ele arregalou os olhos e
começou a coçar a nuca.

Ótimo, queria saber como ele ia explicar aquilo agora.

— Madison...

— Eu vou te matar — Maddie falou com tanta convicção,


que nesse momento acreditei que ela iria realmente
esconder um corpo ainda essa noite.

— Vamos manter a calma — tentei acalmar todos, mas bem


nesse momento a confusão começou.

Maddie se desvencilhou da Sienna e começou a ir na


direção do Colin, que rodeou o sofá fugindo dela ainda
segurando o binóculo.

Amber soltou sua gargalhada estridente e Sienna seguiu


Maddie, tentando acalmá-la. Drake acompanhava tudo com
o olhar divertido e Tyler resolveu usar esse precioso
momento para enrolar sua maconha no papel.

Maddie pegou as almofadas do sofá da sala e começou a


atirá-las em Colin.

— Você ouviu o Johnny, vamos manter a calma — Colin


tentou acalmar Maddie, desviando das almofadas que a
ruiva lhe atirava.

— SEU PERVERTIDO! — A garota enfurecida tentou alcançá-


lo subindo no sofá, mas Colin deu um passo para trás
batendo em Sienna no caminho, e a segurando antes que
ela caísse. — Um metro e quarenta? — Maddie disse
indignada.
Fui até Amber e a puxei para mim, ela enterrou o rosto no
meu peito ainda sem conseguir parar de rir.

— Podemos todos conversar? Como adultos? — tentei falar,


mas ninguém me ouviu.

Maddie jogou outra almofada na direção do Colin, mas ele


desviou e o objeto bateu em uns copos que estavam na
mesa, os estilhaçando no chão da sala.

Sienna estava descalça, mas eu nem tinha percebido aquilo,


só me toquei depois que Drake apareceu no meu campo de
visão e a pegou, colocando-a sobre os ombros. A saia de
bailarina que ela usava subiu um pouco e a bunda da garota
ficou erguida próxima do rosto do Drake.

— Drake! — Sienna repreendeu surpresa e envergonhada


quando foi erguida.

— É isso ou cortar os pés — Drake respondeu rindo e


desviando de outra almofada que Maddie atirava em Colin.

— Um metro e quarenta! — Maddie alegou puta da vida.

— Baixinha... — disse Colin provocativo enquanto desviava


de uma almofada — eu disse que você podia estar
escondendo um corpo e é com isso que está preocupada?

— Mas o que diabo é isso? — Taylor apareceu nas escadas


vendo a confusão.

— Maddie descobriu que Colin estava espiando ela — Tyler


esclareceu se inclinando no balcão e fumando sua maconha.

Colin conseguiu passar para a ilha da cozinha e ficar atrás


do balcão.
— Eu estava investigando! — defendeu-se o stalker. — Achei
que estava escondendo alguma coisa.

— Você estava olhando os meus peitos! — Maddie acusou


pegando um pacote de trigo que estava em cima do balcão.

— Bem... — Colin pareceu desconsertado. — Eles estavam


lá, o que você queria eu fizesse? — perguntou para ela.

A ruiva perdeu toda a paciência e jogou o pacote de trigo


nele.

Mas estava aberto, o pó branco se espalhou por toda


cozinha e Colin ficou parecendo um fantasma coberto de
trigo.

— Mas que porra — ele resmungou tentando tirar o pó do


rosto.

Isso estava um inferno, achei que não tinha como piorar,


mas bem nesse momento os dois policiais apareceram de
novo adentrando a casa. Quem tinha deixado a porta
aberta?

Eles olharam assustados para Sienna erguida no ombro do


Drake, as almofadas espalhadas pela sala, os vidros
estilhaçados e para Colin coberto de trigo.

— Juro que não é isso que você está pensando. — Foi tudo o
que Colin disse, fazendo o policial pensar justamente o pior.

— Ele estava me espionando! Tenho certeza que isso é


crime

— Maddie alegou furiosamente.


— Estava investigando um suspeito — defendeu-se o
babaca coberto de pó.

— Mas o que é esse pó? — o policial mais velho foi até Colin
desconfiado e passou o dedo no seu rosto.

— É trigo! — Drake se apressou a esclarecer indo na direção


deles.

— E essa moça no seu ombro? — A agente morena indagou


franzindo o rosto.

— Estou descalça e tem vidro no chão — explicou Sienna


erguendo o corpo para olhar para eles.

— É trigo mesmo. — O senhor grisalho anunciou depois de


provar o pó. — E de péssima qualidade por sinal, vocês
precisam ir ao mercado.

— Nós iremos — Taylor prometeu.

— Pensei por um segundo que estavam usando drogas aqui

— O policial pareceu aliviado.

— Oh, não, ninguém usa drogas aqui — Tyler frisou


indignado já sem a sua maconha. Quando ele se livrou dela?

Os dois tiras olharam para ele desconfiados, mas desviaram


a atenção para Amber encolhida em mim, parecendo estar
chorando, mas estava rindo.

— O que essa jovem tem? — O senhor olhou preocupado


para ela.

— É que ela não consegue controlar o riso em algumas


situações — expliquei protetor, apertando mais os braços
em volta dela.
Assentindo o homem olhou de novo para Colin e Maddie.

— E qual o problema de vocês dois? Se acusando de


assassinato, sociopatia, espionagem...

— Mas é verdade! — Maddie apressou-se a interromper o


policial. — Ele estava me espionando.

— Já chega, Madison. — Colin suspirou cínico, fingindo estar


cansado. — Vamos parar de brincar com esses pobres
policiais, foi engraçado, mas eles têm trabalho a fazer.

— Seu desgraçado — resmungou baixinho Maddie, mas


parecendo concordar que era melhor eles irem embora. —
Era só uma brincadeira. — A ruiva sorriu para os policiais e
mostrou suas covinhas, colocando um cacho ruivo atrás da
orelha.

Oh, mas era tão fofa. E todos pareceram compartilhar desse


sentimento, porque suspiramos coletivamente. Menos Colin,
claro, que se encostou no balcão e cruzou os braços
sorrindo orgulhosamente para Maddie, admirado com a
capacidade da garota de dobrar facilmente qualquer
pessoa.

— Ora, claro que era uma brincadeira — comentou o senhor


barrigudo encantado. — Uma mocinha como você não faria
mal a ninguém.

Maddie se limitou a adotar uma expressão inocente para o


homem grisalho, piscando os olhos cor esmeralda, mas
quando os policiais viraram as costas ela lançou um olhar
diabólico a Colin, que jogou a cabeça para trás e riu.

— Essa é minha manipuladora. — Colin piscou em


aprovação para a ruiva.
— Bem... Estou cansando. Passei o dia procurando uma
mulher que nitidamente não quer ser encontrada, se vocês
não estão escondendo drogas aqui, já vamos — O policial
acenou para nós e caminhou com a sua parceira morena até
a porta.

— Bom trabalho! — Todos sorrimos e dissemos ao mesmo


tempo para eles enquanto fechavam a nossa porta.

Não perdi tempo, virei-me para cada um.

— Drake, vá arrumar um chinelo pra Sienna. Você — apontei


para Tyler —, vá esconder sua maconha e depois volte para
ajudar aqui. Taylor, vamos ajeitar essa bagunça, e você —
Virei duro na direção de Colin —, pare de arrumar confusão
e peça desculpas a Maddie.

— Sim, papai — Colin debochou e se voltou para a pequena,


sério. — Me desculpa, sério. — E pareceu sincero.

— Pelo o que? — Maddie ergueu a sobrancelha. Ela não iria


facilitar.

— Por espionar. Olha, eu só fiquei curioso, tá? — defendeu-


se tirando o trigo do rosto — Tem que admitir que faz coisas
estranhas.

E não fiz nada demais, só dei alguns zoons no decote.

Maddie corou e desviou o olhar por um instante,


envergonhada com a insinuação. Colin a olhou com
divertimento e ternura, sorrindo para a garota.

— Isso não muda nada, pode engolir as suas desculpas, não


ficaria satisfeita nem se lambesse os meus pés — a ruiva
retrucou erguendo o olhar desafiadoramente para ele.
— Oh, não se preocupe, não pretendo fazer isso. Mas eu
posso lamber outras partes... — jogou Colin para
envergonhá-la e conseguiu, pois a Maddie ficou vermelha e
levantou o dedo do meio para ele.

Revirei os olhos e percebi que Amber tinha parado de rir e


olhava para mim.

— E eu? O que devo fazer, capitão? — perguntou a loira


encostada no meu peito, enrolada em mim.

— Tenho algumas ideias... — declarei passando o polegar no


seu lábio inferior.

Iria enlouquecer antes de Lindsay ir embora.


Definitivamente, ela estava sendo uma empata-foda.

JOHNNY JACKSON

Depois da confusão com os policiais no dia anterior, achava


que já tinha atingido o ápice do estresse, mas estava
enganado. Pois hoje ainda tinha berros para ouvir.

Sr. Green estava furioso e com razão. Nosso treinador


seguia gritando furiosamente com os jogadores defensivos.
Ele não era aquele treinador do tipo paternal que nos
chamava de filho, o nome mais delicado que usava era
moleque mesmo.
Mas gostávamos dele, Oscar Green tinha quarenta e cinco
anos, mas muito conservado, musculoso, careca, de olhos
azuis e sobrancelhas grossas pretas. Era um cara
estressado por natureza, mas hoje em específico estava
com medo de sua veia na testa estourar.

Estávamos péssimos. E por mais que os atacantes


estivessem indo bem, hóquei era um jogo de casamento, se
os defensivos não contribuíssem tudo desandava.

— Falta quanto pra isso acabar? — sussurrou Colin


estremecendo com os gritos que o treinador dava.

— Acho que uns dez minutos. — Dei de ombros e Colin


lançou-me um olhar engraçado.

— Você está mais relaxado... Não sei, se fosse um tempo


atrás estaria berrando junto com ele. — Apontou para o Sr.
Green.

Não contestei, estava mais relaxado mesmo. E acho que


isso se devia a uma certa criatura loira que não vi mais
depois que ajudou a limpar a bagunça da noite passada.

As meninas decidiram que iam ter uma noite só de


mulheres, então fui excluído. De manhã Amber não levou os
cachorros para passear, só fui presenteado pelas fezes que
os delinquentes fizeram questão de deixar na minha porta,
como toda manhã.

Ela parecia estar atolada com as coisas da faculdade e não


iria atrapalhá-la, enquanto isso eu me atolava com as coisas
do hóquei.

— ESCUTARAM? — Sr. Green berrou e a veia na sua testa


continuava a me preocupar.
O treinador olhou o relógio no pulso e nos dispensou por
hoje.

Suspiramos aliviados e seguimos para o vestiário.

— Você não sabe o encontro que arrumei — Benjamin


gabou-se ao meu lado, sentando para tirar os patins.

— Com quem? — questionou Taylor aparecendo para


escutar a conversa.

— Sua vizinha, a ruiva do corpão.

Assim que Benjamin acabou de falar, o som de um armário


se fechando com muita força alastrou-se pelo local. Todos
ficaram em silêncio observando um Colin zangado passar
com a toalha no ombro.

— O que ele tem, hein? — Benjamin coçou a nuca, confuso.

Dei de ombros e abri meu armário, sentindo meu celular


vibrar com uma ligação, e já sabia quem era. Só existia uma
pessoa nesse mundo que ainda não aprendeu que as
pessoas se comunicam por mensagem.

— Por que a senhora só me liga quando estou no vestiário?

— perguntei e segurei o celular com o ombro pressionado


no rosto, enquanto sentava para tirar meus patins.

— É na próxima semana! — minha mãe gritou do outro lado


da linha, ignorando minha pergunta.

— O que?

— O casamento, Jackson! — Podia imaginar ela revirando os


olhos nesse momento.
— Mas já? Essas coisas não demoram? — indaguei confuso
e comecei a tirar as calças.

— Sim, demoram. Mas eles querem se casar logo! Estão tão


apaixonados... — Suspirou romântica. — E você vai! Nem
adianta arrumar desculpas, já vi com seu pai que não terá
jogo.

Engoli em seco. Evitava ir para esses eventos a todo custo.

Motivo? Os Nolan sempre compareciam, mesmo depois do


que aconteceu, minha mãe nunca deixava de chamar os
pais dos meninos para qualquer evento familiar.

Não sabia se estava pronto para isso.

Não queria encontrá-lo. Ou encontrá-los, agora que Benny


também me odiava, era mais um para lista. Meu amigo
tímido ignorava todas as minhas tentativas de falar com ele,
e por mais que sentisse sua falta, sabia que deveria dar
espaço.

Não queria perdê-lo também.

— Ele vai? — sussurrei ao telefone e percebi o clima da


ligação mudar. Não precisava explicar para ela a quem
estava me referindo.

— Ele foi convidado, querido, mas é quase certeza que não


vai. Tudo que eu sei é que Benny vai. Acho que já está na
hora de você lidar com isso — ela aconselhou
carinhosamente, daquele jeito que só as mães sabiam fazer.

— Tudo bem — confirmei, olhando impotente para minhas


mãos abertas e suadas.
Sabia que ela tinha razão, precisava finalmente encarar a
pessoa que mais me odiava no mundo, e com toda razão.

— Vai dar tudo certo — incentivou depois de um momento


em silêncio, e me lembrei de um algo que queria lhe contar.

— Eu posso levar alguém? — perguntei olhando ao redor e


vendo que os caras já estavam indo para o chuveiro. Ela
ficou em silêncio, acho que queria que eu repetisse — Mãe?
Posso levar alguém?

— Isso é sério? — Ofegou animada. — Uma garota?

— Isso — respondi sorrindo. — Queria levar ela comigo e


queria que a senhora a conhecesse também.

— Oh, Deus, sinto que te pari só para viver esse momento


balbuciou dramática. — Isso é sério? Quer dizer, vocês são


sérios?

Fiquei irritado por não saber como responder a isso. Para


mim? Já estávamos namorando, era seríssimo. Mas para
ela?

Queria um relacionamento sério? Não sabia responder isso,


não tínhamos conversado ainda e me parecia não ser o
momento, não queria apressar as coisas para ela. Iria no
seu tempo, por mais que eu já estivesse à 300km/h.

— Tudo o que eu posso dizer é que pra mim é muito sério.

— Ahhh, mas que romântico! — minha mãe me


interrompeu.
— Thomas! Johnny está apaixonado! — ela gritou para meu
pai e tinha certeza que todos os vizinhos sabiam disso
agora. — Vai levá-la ao casamento! — Ficou um minuto em
silêncio e ouvi meu pai dizer alguma coisa. — Não seja
idiota! Ele não está brincando. Você está brincando, Johnny?
— Minha mãe voltou a falar comigo zangada e sorri.

— Não, é sério. Muito — admiti pela primeira vez e isso não


me pegou de surpresa.

Era lógico que estava apaixonado, como podia não estar?


Ela era a melhor parte do meu dia, a melhor parte de mim.
Com ela eu era alguém diferente, alguém que faria de tudo
para tê-la.

Talvez não revelasse meus sentimentos, com certeza era


muito cedo para ela sentir o mesmo, mas eu era paciente.
Como no hóquei, sabia esperar o momento da jogada certa
e essa era a maior da minha vida.

— Ah Meu Deus! Me conte dela — pediu minha mãe ainda


discutindo com meu pai enquanto falava comigo ao mesmo
tempo.

— Ela é divertida — descrevi com um sorriso no rosto —, do


tipo que ri de tudo, literalmente. Fala o que lhe vem na
cabeça, totalmente sem filtro. É a garota mais linda do
mundo, sério. Sempre tenta ver o melhor nos outros,
consegue ser amiga de todo mundo.

Ah... e ela fala alto pra caralho, sabe fazer drinks


fantásticos... Vocês vão amá-la, prometo.

— Eu já a adoro! — minha mãe falou ofegante, acho que


estava pulando.
— Mas mãe, por favor, se ela aceitar ir, não fique em cima
dela, tá? — pedi sério. — Esse negócio de conhecer os pais
pode ser demais pra ela ainda, não quero que fique
desconfortável ou se sinta pressionada. Não vou perdê-la
por querer apressar as coisas.

— Prometo, vou me comportar! — garantiu empolgada. —

Nada de pressionar a garota, nada de pensar nos nomes dos


bebês...

— Exatamente — concordei rindo —, agora tenho que


desligar. Todo mundo já entrou no chuveiro, só falta eu.

— Certo! Beijos, querido.

Encerrei a ligação sorrindo. Iria tomar banho e depois tentar


passar casualmente na casa da minha garota.

Ia bater à porta da frente da casa das garotas quando ela se


abriu abruptamente e um coroa elegante se chocou comigo.

Ainda surpreso, dei um passo para trás e consegui ver


melhor o homem. Ele tinha o cabelo castanho com alguns
fios grisalhos que lhe deixavam com o ar charmoso. Era um
coroa bonitão, tinha olhos castanhos e pelo seu corpo, com
certeza se exercitava regularmente.
— O que faz parado aí? — resmungou o senhor olhando
para mim ainda perdido com o choque, mas assim que
observou meu rosto sua expressão mudou. — Você é Johnny
Jackson — anunciou debilmente —, mas o que faz aqui?

Como assim? Quem era esse cara?

— Ele é nosso vizinho, papai — Amber esclareceu


parecendo cansada e com olheiras.

Ela ficou ao lado do homem que agora soube ser seu pai. É,
não era um bom jeito de começar as coisas ali.

— Bem... — ele disse ainda sem acreditar. — Isso é


realmente surpreendente. Sou Arnold Foster. — Ergueu a
mão que apertei de volta.

— Prazer, senhor. Acho que já sabe o meu nome — falei e


ele me deu um sorriso.

— Acompanho sua carreira desde o colegial, garoto. Não há


dúvida que estará entre os grandes — afirmou convicto.

— Assim espero, senhor. — Sorri para ele.

— Pensei que estivesse aqui pra reconquistar sua mulher,


não falar sobre hóquei — Lindsay alfinetou do sofá, vendo
nossa interação.

— E estou. — Arnold se voltou para Lindsay de novo. — Mas


ela não quer falar comigo.

— Falar sobre o que? Vamos contar os meus chifres? —

Lindsay acusou.

— Que tal falar sobre os meus cartões, hein? — ele devolveu


passando a mão no rosto, cansado.
— Deveria ter pensado nisso antes de entrar em alguma
garota de vinte anos! — A mulher amassou a almofada que
segurava com as unhas grandes.

— Eu não entrei em ninguém, pelo amor de Deus! Ainda


mais em garotas com idade pra serem minha filha! — disse
indignado.

— Eu tenho idade para ser sua filha e isso não o impediu


antes. — Lindsay cruzou os braços sobre o peito.

Eles continuaram brigando, mas não dei muita atenção.

Estava observando Amber que parecia com o olhar perdido


e abatido. Fui até ela preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei tocando seu rosto


com olheiras.

— Nada. — Ela forçou um sorriso para mim e encostou a


cabeça no meu peito, se aconchegando. — Só um pouco
cansada.

Não era. Ela tinha alguma coisa.

— Alguma coisa com sua família? — tentei adivinhar


apontando para seu pai brigando com sua madrasta.

— Mais ou menos — relevou contra meu peito.

— Quer sair daqui, minha princesa? — convidei afagando


seu cabelo.

— Não... Tenho que me despedir deles. Vão brigar, mas


daqui a pouco vão voltar pra casa juntos.
Ela não me queria ali? Sentia que estava querendo ficar
sozinha. E por mais que quisesse ajudá-la, daria seu espaço.
Sua família parecia estar passando por um momento que
não deveria ter um estranho ali atrapalhando.

Por isso, afastei-me triste e beijei sua cabeça.

— Vou pra casa. Mas se precisar de mim, me chama. Não


importa a hora.

— Tudo bem... Obrigada. — Amber me deu um sorriso triste


e se inclinou para beijar o canto da minha boca. — Só estou
cansada.

Não acreditei. Ela não estava bem hoje, mas iria ficar por
perto para caso precisasse de mim. Bastava ela me chamar
que iria ao seu socorro.

Mas ela não chamou.

AMBER FOSTER

Cravei as unhas nos seus ombros, desesperada. Sentia meu


coração bater contra o peito e meu corpo suava de medo.
Os gritos que eu dava no seu ouvido pareciam não surtir
efeito, minha garganta fechava de dor e meu choro passou
de agoniado para rouco.
Não tinha o que fazer, não adiantava lutar, espernear, gritar
ou pedir por perdão, ela iria me jogar na piscina. Era
inevitável.

Minhas unhas apertaram mais o seu ombro, em uma última


súplica.

— Por favor, mamãe — sussurrei, mas a voz quase não saiu


da garganta seca e inflamada.

— Me desobedece, — ela acusou com a voz suave e mansa,


acariciando meu cabelo suado —, eu avisei que isso
aconteceria.

Acha que gosto de fazer isso? Odeio machucar meu bebê. —


Beijou carinhosamente meu rosto e comecei a chorar
descontroladamente.

— Por favor, por favor. — Agarrei seus ombros mais forte,


com medo dela me soltar na água a qualquer momento.

— Você ama a mamãe? — perguntou com ternura.

— Amo — afirmei rouca, sentindo as lágrimas descerem


pelo meu rosto pequeno.

E amava. Só me perguntava às vezes se era normal sentir


tanto medo de alguém que se ama.

— Também amo meu bebê, para sempre, lembra? —


mamãe declarou e relaxei mais nos seus braços, porque
adorava quando ela dizia isso para mim.

Mas bem quando minhas mãos não estavam a apertando


mais, ela me jogou. E eu caí. Afundei na água gelada da
nossa piscina funda. Meus braços se debateram e o ar
sumiu, assim como o amor dela.
Quando cheguei ao fundo, estranhamente, não fiquei mais
desesperada. Meus membros relaxaram na água e o tempo
parou.

Não fiquei procurando por ar, não senti a água entrar nos
meus pulmões, simplesmente deixei a água me levar mais
para baixo.

Os movimentos da luz do sol sobre a água ficaram suaves,


quase dançando. Pisquei meus olhos encantada com a paz
que sentia e sabia que tinha chegado ao fim. Era a última
página do meu livro. Era o meu último dia. Meu último
momento. Ela me deixou para morrer, daquela vez não me
puxaria de volta. Ela foi embora.

Mas bem quando atingi o fundo o anjo chegou. Ele colocou o


rosto dentro da água, tampando o sol e os raios rodearam
sua forma, fazendo com que não pudesse ver seu rosto,
mas enxerguei os seus olhos. Eram negros, intensos, vivos e
ferozes.

O anjo estendeu o braço para mim, em um gesto de


salvação.

Ele não fez nenhum movimento para me tirar da água e


entendi o recado. Ele não iria me salvar, se eu quisesse teria
que fazer isso por mim mesma, teria que ser meu próprio
alicerce, mas ele estaria ali para me segurar, estaria
comigo. Ele me salvaria, bastava eu querer.

Só que não estendi a mão para ele, eu não podia mais ser
salva, atingi o fundo, não tinha mais como sair dali.

— Acabou. Cheguei ao fundo — sussurrei sentindo vontade


de chorar.

— Ainda não. Vem — chamou calmo. — Eu te ajudo.


— Por quê? — perguntei querendo estender a mão para ele,
atraída. Quase como uma mariposa é atraída pela luz.

Precisava saber o porquê, eu não tinha propósito. Ninguém


me queria, eu não tinha amigo, minha mãe não me queria,
meu pai também não. Não teria ninguém esperando por
mim se chegasse à superfície, ninguém sentiria minha falta
se eu afundasse. Ninguém.

— Porque você vai me salvar também — falou e vi minha


mão ir em sua direção, lentamente, como se ainda não
tivesse certeza da decisão. Quando meu dedo tocou o dele
os seus olhos pretos acenderam.

E não sei como, mas a água começou a se movimentar de


novo. Não sei como, mas meus braços se debateram mais
uma vez.

Não sei como, mas alcancei a superfície. Não sei como, mas
cheguei à borda. Não sei como, mas consegui cuspir a água
dos meus pulmões. Não sei como, mas o sol ainda brilhava
sobre mim. Não sei como, mas o meu anjo sumiu.

E não sei como, mas nunca esqueci dos seus olhos e sentia
que ainda mergulharia neles de novo.

— Abre os olhos pra mim — Johnny pediu preocupado, me


acordando.

Acordei ofegante, assustada e encarei os seus olhos negros


me observando com aflição. Suas mãos seguraram meu
rosto com delicadeza e desmanchei nelas, caindo no choro.

De repente fiquei desesperada para abraçá-lo, enterrei o


rosto na curva cheirosa do seu pescoço e senti ele me
abraçar de volta.
— Shhh... — murmurou contra meu cabelo — O que
aconteceu, minha princesa? Fala comigo. Me deixa te
ajudar.

Seus braços continuaram apertando-me, ele percebeu que


não queria soltá-lo. Depois de um tempo chorando no seu
pescoço, consegui racionalizar tudo.

Estava no meu quarto e Johnny vestia apenas uma calça


moletom. Olhei ao redor, tentando compreender como ele
tinha

chegado ali de madrugada.

— Pela janela, estava aberta — respondeu quando viu


minha confusão. — Vi sua madrasta ir embora com seu pai
mais cedo e achei que você queria ficar sozinha. Mas não
consegui dormir —

explicou.

— Você me ouviu gritar do seu quarto? — perguntei


passando o dedo suavemente pelos seus traços perfeitos,
quase como se agradecesse sua presença.

Não sabia explicar, mas precisava dele. Não sei o que era
isso que tínhamos, mas sentia que se eu despedaçasse, ele
seria a pessoa que juntaria os meus pedaços depois.

— Não, não escutei. Simplesmente senti uma necessidade


de te ver — revelou beijando a palma da minha mão que
acariciava o seu rosto.

— Obrigada por vir, amor — agradeci beijando sua boca


macia e quente, me sentindo grata por ele ter vindo me
salvar.
— Por que você não me chamou? — Ele estava magoado,
desviando dos meus beijos. — Quero estar contigo quando
essas coisas acontecerem, vi que não estava bem. — Seu
cenho estava franzido, zangado. — Quero te ajudar, estar
aqui pra você.

— Você está. — Afirmei juntando nossas testas e sussurrei


contra sua boca. — Você está sempre aqui pra mim, mesmo
quando não sabe. Você é o único para sempre que acredito.

Ele suspirou e me apertou mais. Roçando nossos narizes.

Passou a mão nas minhas bochechas limpando as lágrimas.

— Me conta — implorou. —, me conta o que aconteceu, se


abre comigo. Por favor.

— Eu tenho medo — senti minha garganta fechar. —, se eu


trouxer essa parte minha de volta, talvez afunde de novo. —

Lágrimas silenciosas desceram pelo meu rosto.

— Eu estou aqui com você, vou te pegar. Sempre. — Beijou-


me e alisou minha bochecha. — Eu também tenho medos. O
maior deles é que algum dia você descubra as coisas que já
fiz, erros irreparáveis que cometi. — Ele me mostrou uma
vulnerabilidade ali que nunca tinha percebido antes. —
Sinto que se você souber, vai me deixar.

Olhei-o confusa, mas também amorosa. Não sei ao que ele


se referia, mas não importava. Era a melhor pessoa que
conhecia, não iria julgá-lo por algo que fez no passado.
Jamais faria isso.

Mas ele me deu um pedaço seu ali, um medo. E senti que


deveria entregar algo meu de volta. Meu pior pesadelo.
— Eu não fui uma criança feliz — sussurrei e a respiração
dele ficou pesada, esperando-me continuar —, sofria maus-
tratos.

As mãos dele se fecharam em punhos ao lado do meu rosto.

— Mas seu pai... — Ele me olhou intenso e neguei com a


cabeça suavemente.

— Minha mãe — revelei sentindo uma dor no peito. — Por


isso que estava estranha hoje, ela tem me mandado
mensagens grosseiras, por números diferentes.

— Vocês ainda mantêm contato? — perguntou sem


entender, com o cenho franzido e a expressão dura.

— Não... Ela me teve para tentar segurar meu pai, arrancar


dinheiro dele, mas não deu muito certo — contei passando o
dedo no seu rosto, tentando aliviar a tensão dos seus
músculos. — Papai seguiu em frente e pagava uma boa
pensão pra gente. Me via só nos fins de semana, mas era
distante, ele nunca soube ser um pai mesmo.

Ainda me ressentia disso. A nossa relação nunca avançou


como deveria, ainda sentia um pouco de dor por ele ter me
abandonado com ela.

— Ele não percebeu que era abusada? — A raiva de Johnny


poderia ser sentida a quilômetros.

— Não, ela me manipulava. Dizia que me amava, me


chamava de bebê e me tratava bem, e eu era muito
carente, fazia tudo o que ela pedia só pra vê-la me tratar
bem depois. Ela queria que eu fingisse que era doente, uma
criança com a saúde frágil, então papai colocava mais
dinheiro na conta, para médicos e remédios que não
existiam. Mas às vezes era difícil fazer exatamente o que
ela pedia, era uma criança, queria correr e brincar.

Ela fazia de tudo pra minha saúde ficar ruim, piorava minha
alimentação e me deixava magra, sem dormir, me forçava a
tomar remédios que faziam meu cabelo cair. — Passei a
alisar o seu cabelo

preto tentando acalmá-lo, pois ele parecia ao ponto de ir


matá-la. —

Quando papai desconfiava que algo estava errado, ela me


jogava na piscina, como punição por não seguir com o
“nosso plano”.

Johnny jogou a cabeça para trás, respirando fundo e


fechando os olhos com força. A sua garganta exposta me
deixou perceber que ele engolia em seco e seu maxilar
estava travado, a ponto de quebrar os dentes.

— Ou me afogava na banheira — acrescentei baixinho


dando tempo para ele absorver.

Ele respirou fundo de novo e quando voltou a abrir os olhos


vi angústia, preocupação, raiva, ódio, fúria. Dava para ver
em seu rosto que ele queria apagar isso de mim e me
vingar ao mesmo tempo.

Mas não tinha como.

— Quando seu pai tirou a cabeça da bunda? — perguntou


duro e ao mesmo tempo querendo ser gentil comigo,
alisando carinhosamente meu rosto.

— Não foi ele... — Senti um sorriso suave crescer em mim,


lembrando da única parte boa disso tudo. — Foi ela. Uma
modelo em ascensão de vinte e poucos anos, que tinha
acabado de casar com um homem mais velho e rico.
Alguém que todo mundo apontou como superficial, burra e
interesseira.

— Lindsay — ele entendeu.

— Sim. Ele a levou pra me conhecer em um dia de semana,


dois dias depois dela ter me deixado para morrer na piscina
— falei me referindo ao dia com que tinha acabado de
sonhar. — Assim que Lindsay me viu ela desconfiou. O
medo, a magreza, as olheiras, estava tudo ali. E me tirou de
lá. Ela não tinha ninguém e eu também não, então viramos
uma família. Nos apegamos, ela esteve comigo em todos os
momentos, não era uma figura maternal estava mais pra
uma amiga, mas era exatamente o que eu precisava, assim
como eu era pra ela. Meu pai se sentiu muito culpado por
não ter percebido nada — afirmei a verdade, mas Johnny
não estava disposto a ser benevolente com meu pai.

— Eu também o odiei, por muito tempo — contei. — Mas


depois percebi que ele mesmo sempre se odiaria por isso.
Depois que passei a morar com eles, papai me deu tudo.
Amor, atenção,

brinquedos. Acho que queria me compensar, mas ainda sou


receosa em relação a ele. — Encarei os olhos escuros do
homem à minha frente. — O perdoei. De verdade. Adoro
provocá-lo e me dou bem com ele. E o amo, só não consigo
amá-lo do mesmo jeito que amo Lindsay.

— Respeito sua escolha de perdoá-lo, mas não posso fazer o


mesmo. — Beijou a ponta arrebitada do meu nariz. — Agora
me explica por que essa mulher ainda manda mensagem.
Ela não foi presa?

— Eles a mantiveram longe de mim. Sabia que era em troca


de dinheiro, nunca mais tinha ouvido falar dela, até uns dias
atrás quando me mandou mensagem. Parece que meu pai
não está pagando mais ela.

— É assim que fica então? Ela fode com você e recebe


dinheiro por isso? — Sua expressão era de nojo, seus
punhos tão fechados que podiam estar machucando a mão.

— Só quero distância dela, não importa como eles fazem


isso.

— Peguei suas mãos e as abri, coloquei-as nas minhas e as


alisei suavemente. — Eu me sinto a pessoa mais tola que
existe, porque a criança em mim ainda lembra dos
momentos de carinho que tive com ela. E ver essas
mensagens tão cruas provam que era tudo encenação. Não
deveria, mas dói. — Uma lágrima solitária desceu pelo meu
rosto e Johnny a beijou.

— Ela não merece que você chore por ela, meu amor — ele
frisou me beijando. — Você fez terapia depois disso?

— Fiz e faço até hoje. — Aconcheguei-me mais e ele deitou


na cama, me puxando para seu peito.

Senti os seus músculos se contraírem e respirei seu cheiro.

Isso me fez relaxar.

— Pode dormir agora — abraçou-me —, nada vai te


machucar

— prometeu e fechei os olhos, cansada.

— Johnny? — chamei. — Que horas são?

— Quando saí do meu quarto eram duas da manhã —

sussurrou no meu ouvido e beijei o seu peito nu.


Não sei por que, mas isso era importante de alguma forma.

Meus olhos fecharam e dormi. Sem sonhos, um peso saiu de


mim ao falar daquela época, como acontecia quando estava
em terapia. Era incrível ter alguém com quem pudesse
contar assim.

Sentia-me forte.

Quando meus olhos abriram de novo, ainda era noite.


Johnny dormia embaixo de mim, sua respiração quente
soprando no meu rosto e seu braço me circulando, fazendo
um casulo de proteção com seu corpo. Era tão bonito.

De repente me lembrei que o afastei mais cedo e ele ficou


magoado. Não pedi desculpas.

— Me desculpa, amor — pedi colando meus lábios nos seus,


devagar.

E seus olhos se abriram, sonolentos e perdidos. Quando me


olhou, um sorriu cresceu no seu rosto.

— Me desculpa — falei de novo e ele me olhou confuso.

— Pelo o que, minha princesa? — Segurou meu rosto


carinhosamente e passou o polegar pela minha boca
entreaberta.

— Por não me abrir com você antes, quando foi embora à


tarde. — Beijei-o de novo.

Minhas mãos alcançaram seu peito nu, quente e duro.


Minha respiração ficou mais pesada, e ele se aproximou
mais de mim, juntando nossas testas. Abri mais minha boca
para sentir a língua dele entrar na minha boca, encontrando
com a minha ansiosa.
— Tudo bem — disse ofegante, se afastando apenas para
falar. Os seus dentes prenderam meu lábio inferior,
chupando-o, enquanto gemia na minha boca —, só não faça
mais isso. Eu quero estar com você quando precisar de
mim.

Arqueei o meu corpo desejoso e tirei minha camisola,


ficando completamente nua para ele.

— Princesa... — sussurrou sufocado, passando a palma da


mão quente na pele nua da minha barriga. — Você tem
certeza?

— Por favor, Johnny — implorei montando no seu colo e


melando o seu abdômen no processo. — Eu preciso de você.

Me sentia ansiosa, sentindo uma necessidade primitiva de


tê-lo o mais próximo possível. Queria fazer parte do seu
corpo, queria tê-lo dentro de mim.

Johnny levantou o tronco, me alcançando e passou a me


beijar de um jeito intenso, como se estivesse me marcando.
Passou a mão na minha boceta e entrou nela com dois
dedos, lambuzando-os. Gemi contra sua boca, ofegante,
meu coração acelerado e o clitóris pulsando.

— Me promete — pediu com carinho sem parar de entrar e


sair com os dedos de mim. Minha mão desceu por seu
abdômen, senti-o arrepiar sob o meu toque. Ele se contraiu
quando meus dedos desceram até alcançar o seu pau duro
no moletom.

Arqueou o corpo para aumentar o contato com minha mão e


gemeu na minha boca.

— Me promete, amor, que não vai mais se fechar pra mim.



Como se quisesse provar o que dizia abriu mais meus lábios
externos e levou o polegar melado com a minha lubrificação
ao clitóris, à medida que sua língua invadia minha boca.

Gemi e empurrei meu corpo para ele. Meus seios roçaram o


seu peito firme, nossas peles quentes se tocaram na noite
fria.

Apertei mais o seu pau dentro da sua calça e passei a fazer


movimentos para cima e para baixo. Johnny se deitou de
novo na cama e tirou a calça moletom em um movimento
rápido, esperando-me subir nele de novo. E subi.

Ele pegou meu rosto com as mãos e puxou para si.


— Me promete que vai me dar tudo — solicitou contra
minha boca, descendo a mão pelas minhas costas e
arrepiando meu corpo.

Afastei minhas pernas, encaixando o quadril bem no dele,


sentindo o seu pau duro pressionar contra meu clitóris. A
sua mão desceu para o guiar na minha boceta, lambuzando
a cabeça do seu pênis em mim. Gemi manhosa,
empurrando o quadril para baixo, querendo colocá-lo para
dentro logo, segurando os seus ombros.

Ele girou a cabeça do pau mais um pouco até entrar de uma


vez em mim. Como estava muito melada o seu pênis
deslizou lubrificado abrindo-me. Apertada em torno dele,
rebolei e colei minha boca na sua de novo.

— Você tem tudo de mim — declarou ofegante, controlando


o tesão que sentia quando descia e subia nele. Comecei os

movimentos de maneira lenta, apreciando ele me alargar. —


Tudo. —

Sua voz entrou na minha boca e engoli seus gemidos junto.

— Você também tem tudo de mim — sussurrei de volta


gemendo e chupando sua língua bem no momento em que
seu pau atingiu um lugar que me fez querer explodir de
prazer.

Meu corpo começou a se esfregar nele mais rápido e seu


quadril se movimentou comigo, encontramos um ritmo
nosso, suas mãos subiam e desciam nas minhas costas, em
uma carícia. Uma delas desceu para alisar minha bunda, em
carinho, empurrando-me mais para baixo e controlando as
reboladas que eu dava.
Senti uma necessidade de estar com ele, de me entregar de
todas as formas possíveis. E acho que ele estava na mesma
sintonia, pois pegou delicadamente minha mão apoiada no
seu ombro e entrelaçou nossos dedos, beijando em devoção
a minha palma, enquanto a sua outra mão segurava minha
bunda, ditando os movimentos das estocadas que dava.

Esfreguei meu corpo no seu, o quadril dele deu metidas


mais fortes à medida que foi chegando perto do nosso
orgasmo. Era nosso. O prazer dele era o meu e o meu era o
dele. Erámos um só ali.

Esse pensamento estava no ar da noite, nos nossos


gemidos e no nosso olhar. Estávamos entrelaçados de todas
as maneiras possíveis, tanto o corpo como a alma.

Sua mão apertou mais a minha e rebolei mais


freneticamente nele. Sentia a pele na pele, carne na carne,
eu melando o seu pau que de tão duro me esticava toda.
Sua boca chupou meu lábio inferior e passei a minha mão
livre na sua nuca, puxando-o para mim.

Ele começou a ir mais forte, entrando com tudo e soube que


estávamos quase lá.

— Eu sou completamente seu. Completamente. — Sua


declaração saiu mais como um suspiro sufocado, seu rosto
se torceu como se estivesse sentindo dor. Logo em seguida,
o seu gozo me encheu toda enquanto minha boceta fechava
babando em torno do seu pau.

Senti seu líquido quente me preencher quando meu próprio


orgasmo me atingiu. Ficamos um pouco ofegantes e caí em
cima dele, seus braços me pegaram imediatamente,
alisando minhas costas cansadas.
— E eu sou completamente sua — assegurei erguendo-me
para olhar aqueles olhos negros.

Eles continham uma intensidade e carinho palpável, e


entendi.

Não precisava que eu dissesse aquilo, ele sabia. Era uma


certeza.

Nossas pernas se entrelaçaram, meus braços o abraçaram e


meu coração bateu no ritmo do dele. Nada iria me
machucar, nunca mais. Tinha um anjo de olhos escuros do
meu lado que sempre me resgataria, e eu o salvaria de
volta.

Não importavam quais fossem os seus demônios, os


enfrentaria. Faria qualquer coisa por ele, assim como estava
disposto a fazer por mim.

JOHNNY JACKSON

Acordei com o celular da Amber apitando e levantei


depressa para desligar o alarme. Mas assim que desativei,
mensagens chegaram pelo seu Instagram.

Adivinha de quem? O filho da puta do Tim Stone. Apertei


tanto o celular contra os meus dedos que quase o quebrei.
Como se não bastasse tudo o que minha princesa está
passando, ainda tem que ficar lidando com as investidas
desse pau no cu?

As mensagens continham de tudo, ele pedia desculpas,


colocava a culpa em Scarlett, falava do tempo bom que
tiveram juntos. Aquela última parte quase me partiu no
meio, causando dor misturada com uma raiva que nunca
senti antes.

Ciúme. Só de pensar que outra pessoa já a tocou de forma


íntima, como eu fazia, fez meu corpo queimar em fúria. Eu
era inteiramente dela, cada pedaço e pensamento meu, e
sentia como se ela fosse minha também. Não entrava outra
pessoa e ponto final.

Aquele merda não a incomodaria de novo.

Coloquei o seu celular de volta na bancada e passei a mão


no meu rosto, zangado. Senti nojo ao ler o jeito que ele
falava da Scarlett, como se ela estivesse provocando-o e ele
fosse vítima de uma armadilha. Dava vontade até de rir
depois de ler aquilo, de tão absurdo que era. Não podia ver
uma mulher bonita que já se esquecia da Amber? Que porra
era aquela?

Suspeitava que havia sido ele a espalhar as fotos da


Scarlett, e aquilo me fez lembrar do dia que Tyler quis falar
sobre alguma coisa comigo e foi interrompido pela chegada
da Lindsay.

Depois ele não me chamou mais e eu também esqueci de


perguntar. Procurei meu celular, que tinha trazido na noite
passada e mandei mensagem para Tyler.

Eu: Chegou a encontrar o cara que espalhou os nudes da


Scarlett?
Tyler: Achei.

Tyler: Como sabia que era um homem?

Eu: Não é meio óbvio? Só preciso do nome dele.

Tyler: Por quê?

Eu: Tenho um palpite.

Tyler: Tim alguma coisa. Não lembro o sobrenome.

Aquele cara estava muito fodido. Muito.

Travei a tela do meu celular ao sentir mãos quentes e


macias subindo no meu peito nu. Amber beijou meu ombro
e me abraçou por trás. Seus seios colaram nas minhas
costas, e soltei uma respiração relaxada.

Virei-me para ela e abracei seu corpo nu. Enterrei o rosto no


seu cabelo e senti seu cheiro gostoso entrar nas minhas
narinas, acalmando-me imediatamente. Eu era um viciado e
ela, o meu vício.

— Como você tá hoje? — perguntei acariciando o seu rosto.

As bochechas coradas e marcadas do sono era uma visão


que queria ter todos os dias quando acordasse.

— Estou bem. As mensagens me afetam, mas sei lidar


melhor por causa da terapia — reafirmou passando a mão
no olho e bocejando.

— Que dia é sua terapia mesmo? — questionei preocupado.

— Eu escolho o dia da semana. É um programa da


universidade com os alunos de psicologia — contou
relaxada e sonolenta —, mas desde criança eu vou ao
psicólogo, é algo que não quero deixar de fazer.

— Posso te acompanhar? — pedi beijando suavemente os


seus seios expostos, minha respiração roçando a sua pele
macia e

quente. — Não para entrar ou atrapalhar a sessão, mas te


levar.

Ficar na fila de espera e estar lá quando você sair.

— Não acharia chato? — Ela franziu o cenho confusa e


sorriu.

— Você tem uma rotina pesada de treino, não vai ter tempo
pra gastar com isso...

— Quero gastar todo o meu tempo com você. — Subi os


beijos para seu pescoço gostoso, sentindo o seu cheiro.
Minha mão subindo e descendo da sua cintura até o quadril
em carícia, alisando-a.

Não tinha nada melhor do que ficar o dia inteiro passando


as mãos no corpo macio dela. Se pudesse passaria toda a
manhã beijando-a e dizendo como sou louco por ela.

— Tudo bem — cedeu ofegante, o peito subiu e desceu com


sua respiração pesada. As mãos dela foram para meu
cabelo, acariciando-os. — Obrigada por isso, amor.

Amor. Adorava quando ela me chamava assim, eu era um


completo bobo, um sorriso crescia no meu rosto de
imediato.

— Sempre. — Entrelacei nossos dedos e ela continuou a


acariciar o meu cabelo.
Ela estava confortável agora, mas sabia que tinha coisas
para lidar ainda. Eu tinha que resolver aquela coisa com o
cuzão, e queria muito dar um jeito de fazer com que a mãe
dela sumisse da sua vida.

Não sabia como, mas faria. Faria qualquer coisa por ela, o
que me pedisse era seu.

—Tenho que ir pra aula já, não vou poder passear com os
cachorros hoje — resmunguei no seu pescoço e apertei mais
meus braços na sua cintura, sem querer soltá-la.

— Você vai fazer a caminhada da vergonha só de moletom?

— Não a vi, mas sabia que ela estava com aquele sorriso
travesso que amava.

— Tenho que começar a vir aqui vestido — sugeri alisando


sua cintura fina, sentindo sua pele arrepiar.

— Ou pode trazer algumas roupas pra cá... — Ela deu de


ombros. — Gosto de dormir com você.

Levantei o rosto para olhá-la, ela ainda estava com a


expressão divertida, mas percebi que falava sério.

— Eu posso fazer isso. — Beijei a pontinha do seu nariz


arrebitado e lembrei-me de falar sobre uma coisa. — Ontem
fizemos sem camisinha, faço exame sempre, estou limpo.

— Tudo bem, eu uso pílula — revelou e voltei a plantar


beijinhos nos seus mamilos macios e quentes. Pelo jeito não
iria sair daqui nunca.

— Você não disse que estava atrasado? — brincou puxando


o meu rosto para o seu e beijando o meu pescoço, querendo
ser carinhosa comigo também.
— Ei... — chamei-a com o rosto colado no seu, minha
respiração coçando sua bochecha.

— Oi — respondeu com a boca próxima da minha e nossos


narizes se tocaram de leve.

— Tenho um convite pra fazer — contei vendo os seus olhos


verdes brilharem com interesse. — Mas se sinta livre pra
recusar, se achar que está cedo demais, não vou ficar
chateado. — Ela franziu a testa em confusão. — Minha
prima vai casar no próximo fim de semana, minha família
toda vai nesse casamento. Você quer ir comigo? — soltei de
uma vez esperando-a responder.

Um sorriso leve, que inclinou o canto dos seus olhos, se


espalhou pelo seu rosto e suspirei aliviado por não a ter
assustado.

— Quero. É em Nova York? — perguntou empolgada.

— Isso, menos de quatro horas de carro. Já esteve lá?

— Uma vez, mas foi uma viagem rápida — disse e meu


celular apitou com mensagens ao nosso lado.

— Tenho que ir já — resmunguei de novo beijando seus


seios mais uma vez, despedindo-me deles.

— Só tenho aula mais tarde hoje — comentou se


espreguiçando mais na cama.

Não era fácil sair dali sabendo que ela continuaria dormindo
nua na cama.

— Te vejo à noite, princesa. — Sai de cima dela e peguei


meu celular.
— O que vamos fazer hoje à noite? — Sentou na cama
empolgada e seu cabelo caiu todo desajeitado pelo rosto
corado e corpo nu. Tão linda...

Ah, foda-se. Fui até ela de novo e a beijei mais uma vez,
sentindo meu pau endurecer.

— Não vou te contar, mas vai gostar. Prometo — falei contra


sua boca e fui finalmente em direção à porta ou não sairia
dali nunca mais.

Fechei a porta do seu quarto pensando se estava fazendo o


certo. Queria ensiná-la a nadar hoje, não gostava de pensar
que ela ficaria privada de entrar sempre em uma piscina
pelos seus traumas.

Meu coração ainda apertava ao pensar no que ela passou e


minha raiva não tinha como ser contida. Mas faria tudo que
estivesse ao meu alcance para ajudá-la naquilo.

Descendo as escadas só de moletom e com o celular na


mão, me deparei com uma cena engraçada. Maddie estava
com roupas de corrida e segurava algo nas suas mãos
pequenas erguidas em cima da cabeça, enquanto os
cachorros pulavam nela tentando pegar o que segurava.
Como ela era baixinha e os cachorros grandes, quase
estavam conseguindo.

— Precisa de ajuda aí? — ofereci ajuda me aproximando e


ela acenou com a cabeça para mim.

Peguei-a com um braço e coloquei em cima da bancada da


cozinha. Ela sentou na madeira e abriu as mãos, revelando
um passarinho assustado.

— Encontrei ele hoje — contou sem desviar o olhar do


animal
—, acho que machucou a asa. Vou cuidar e depois soltá-lo.
Não é lindo? — Olhou para mim sorrindo, esperando uma
confirmação.

Apenas acenei com a cabeça. Não era. Era pequeno, magro


e assustado, mas ela parecia gostar dele, então dei de
ombros.

— Bem, vou deixar você aí com seus animais — brinquei


vendo os cachorros querendo subir na bancada para
alcançar Maddie. — Tenho que ir já.

— Eu sabia que você viria. — A ruiva disse distraída quando


cheguei à porta. Virei para ela confuso, vendo-a acariciar o
passarinho, que relaxava nas suas mãos, enfeitiçado.

— Como é? — Fiquei sem saber se ela estava falando


comigo ou com o pássaro.

— Eu sabia que você viria — repetiu ainda sem me dar


atenção —, por isso não coloquei a vela. Vocês não
precisam mais dela, as suas energias formam a chama. —
Ela deu de ombros e fiquei mais confuso ainda.

Existe algo interessante sobre Maddie, às vezes ela falava


coisas que não entediamos e não parecia nem um pingo
disposta a explicar depois. Meu palpite? Que ela achava
engraçado jogar seus enigmas e ver nossa cara confusa
depois.

E confirmando minha teoria, ela levantou o rosto e sorriu


vendo que eu estava perdido. Piscou na minha direção e
voltou à atenção para seu bichinho, como se não tivesse
dito nada estranho.

Apenas balancei a cabeça. Ia saindo de lá quando Scarlett


chegou à cozinha usando uma camisola branca curta e com
o rosto cansado. Provavelmente trabalhou na noite passada.

— Bom dia — Scarlett cumprimentou e amarrou o cabelo


castanho liso em um coque.

É, aqui estava minha oportunidade de resolver um assunto


com um certo merda.

— Você — Apontei para a morena. —, temos assuntos a


resolver.

— Temos, é? — Ela ergueu uma sobrancelha em ironia, mas


depois ficou desconfiada.

— Sim, te espero lá fora em 20 minutos — comuniquei


saindo de lá, a deixando confusa.

Tudo bem, confusa era até bom, porque quando eu contasse


o que descobri iria ver como era Scarlett Miller furiosa.

Scarlett bateu com muita calma na porta do quarto do Tim


Stone e vários garotos da fraternidade dele se aglomeraram
no corredor. Mas nenhum deles nos impediu ou
interrompeu.

Quase todos estavam ocupados babando em cima do jeans


apertado da Scarlett, que estava ciente da atenção deles.
Às vezes ela olhava para um e piscava, achando engraçado
provocá-los.

— Você não precisa me acompanhar — murmurou ela pela


milésima vez —, sei muito bem me defender.

— Não estou aqui pra te defender — informei dando de


ombros, impressionado com o seu autocontrole.

Sabia que estava puta, mas não demonstrava. Era fria e


calculista, tínhamos ido falar com Carter, líder daquela
fraternidade, e de alguma forma, Scarlett o convenceu a
expulsar Tim de lá. Achei que Carter nem prestou atenção
no que ela disse, só concordou com tudo enquanto
observava o jeito que a garota cruzava as pernas.

A morena ergueu o olhar desconfiado na minha direção.

— Então por que está aqui mesmo? — perguntou tentando


entender minha presença.

— Porque sou seu amigo — expliquei e pisquei logo em


seguida para ela.

Seu rosto suavizou e Scarlett me deu um sorriso leve de


lado.

E sincero. Não aqueles sedutores que ela esbanjava ou


irônicos e debochados. Não , aquele sorriso foi de verdade.

A porta se abriu e Tim apareceu vestido só de cueca com o


cabelo cacheado todo bagunçado. Ele olhou confuso para
Scarlett e depois para mim, mas nenhum de nós deu
explicações. Nem daria tempo mesmo, pois no mesmo
instante Scarlett o empurrou para dentro do quarto de novo.
Ela quase fechou a porta na minha cara, mas botei o pé
para impedir e entrei com eles, trancando a porta atrás de
mim.

Tudo bem que ela sabia se defender. Mas nunca na vida a


deixaria sozinha dentro de um quarto com aquele cuzão. O
que sabia sobre ele já mostrava que não dava para confiar.

Estava tudo muito silencioso, e podia apostar que seus


colegas estavam todos inclinados na porta pelo lado de
fora, ouvindo nossa conversa.

— O que vocês estão fazendo aqui? — O bosta resmungou


confuso, olhando Scarlett de cima a baixo, com nojo e
apreciação ao

mesmo tempo. — Procurando terminar o que começamos


naquele dia?

Ela não se abalou. Estava relaxada, encostada em uma


escrivaninha com os braços tatuados cruzados. Fui me
encostar na porta, impedindo a saída dele, para deixar claro
que estava preso ali.

— Soube que foi você que espalhou meus nudes —


comentou Scarlett erguendo a sobrancelha.

Tim arregalou os olhos surpreso por ter sido pego, mas


depois tentou disfarçar a reação e sorriu para ela.

— Isso é uma tentativa sua de me afastar da Amber?

Meu sangue ferveu só com a menção ao nome dela aqui.

Meus músculos contraíram ao pensar que ele já a tocou.


— Por falar nisso — me intrometi na conversa e o babaca
olhou na minha direção, temeroso —, você vai parar de
mandar mensagem para minha namorada. Entendeu? —
falei firme e alto a última parte, para que todos os garotos
que estavam atrás da porta escutassem também.

— Sua namorada? — revidou raivoso, seus olhos soltando


faísca. — Ela sabe disso? Porque não é muito chegada a
relacionamentos. O negócio dela é sexo fácil.

Não me aguentei. Fui na direção dele e dei um soco de


respeito no seu rosto, a força do impacto fez o corpo do Tim
ser jogado contra a parede de uma só vez.

— Que porra! — rugiu ele quando se recuperou do murro e


colocou as mãos no nariz que sangrava.

Tentei me acalmar respirando fundo.

— Se eu te pegar falando dela de novo desse jeito... —

ameacei enfurecido, e o cuzão engoliu em seco com medo.


—O

nariz será o menor de seus problemas, acredite.

Scarlett continuava muito calma encostada na escrivaninha,


apenas assistindo nossa interação com um olhar satisfeito e
divertido.

— Você não pode me mandar ficar longe dela — Tim cuspia


as palavras, tentando se fazer de valente. — Diferente de
todo

mundo aqui, eu não pago pau pra você, capitão. Nós


tínhamos um lance. Estou apaixonado por ela.
Entre na fila, você é o terceiro, pensei sem acreditar nele.

— Pode me testar, se quiser. — Olhei nos olhos dele, para


deixar claro que estava falando sério. — Mas se continuar
atormentando as garotas — Apontei com a cabeça para
Scarlett, deixando claro que a estava incluindo nisso. —,
minha visita aqui vai ser diferente.

Percebi naquele momento que tinha conseguido o que


queria, pois Tim estava se cagando. Queria ser afrontoso na
nossa frente, mas o temor o dominava.

— Terá que visitá-lo em outro lugar — Scarlett zombou. —,


já que ele foi expulso daqui.

— Como é? — resmungou, fungando o nariz que sangrava.

— Seu líder te chutou, vai ter que arrumar as malinhas e ir


embora. — Ela tinha um sorriso satisfeito no rosto — Pena,
não?

— Até imagino o que você teve que dar pra ele em troca —

alfinetou o babaca.

— Cada um com seus recursos. — Scarlett deu de ombros,


irônica e relaxada, sem se afetar. — E caso não se comporte
direitinho, vai ser expulso da universidade também.

Ela virou na minha direção dizendo com o olhar que estava


na hora de irmos. Abri a porta para revelar os garotos da
fraternidade aglomerados ali na porta, todos olhavam para
algo atrás de mim.

Quando virei confuso para trás, vi Scarlett indo até Tim. Ela
baixou sua cueca e o empurrou no chão em um só
movimento.
Ele se atrapalhou para se levantar e puxar a peça, mas o
processo demorou, e era tarde. Todo mundo já tinha visto
seu pinto murcho.

A morena saiu de lá muito satisfeita por tê-lo deixado nu,


exposto e sem casa, do mesmo jeito que ele fez com ela.

É, foi na mesma moeda.

Quando chegamos ao carro, perguntei:

— E aí? Qual foi a sensação da vingança?

— Satisfatória — reconheceu divertida. — Você falou pra ela


que a gente vinha aqui? — perguntou olhando para mim e
fiquei

desconsertado por um momento.

— Não. — Foi tudo o que respondi. Mas a verdade era que


fiquei com medo e inseguro de promover um encontro entre
eles, como o merdinha disse nas mensagens, eles tiveram
algo. Não sei o que levou ela a ficar com ele, mas tive medo
do sentimento voltar quando o visse.

E eu estava tão apaixonado por ela que não sei se me


curaria se ela me deixasse por outro. Resumindo,
insegurança e idiotice.

— Ela gosta de você — Scarlett falou suavemente


entendendo tudo. — Nós somos muito parecidas nisso, ela
não é nem um pouco emocionada e nunca tinha visto ela
com um cara assim como tá com você. É de verdade.

Suspirei me sentindo um pouco aliviado.


— Obrigado por isso — agradeci. — E você? Também nunca
se apaixonou?

— Eu sou muito fria pra isso — ela colocou o cabelo de lado,


e virou para a janela, escondendo o rosto da minha visão.
Entendi que não queria falar sobre e respeitei, mas ela
acabou soltando depois de um tempo em silêncio. —
Promete que não vai achar esquisito...

— Prometo — prometi sem nem mesmo saber o que ela iria


dizer.

— Quando eu era mais nova, conheci alguém... — Ela


suspirou ainda olhando para a janela. — Não deveria estar
falando disso, eu só o vi uma vez e foi há anos atrás. É
idiotice. — Balançou a cabeça e decidiu não falar mais.

— Eu não vou achar idiotice — comentei suavemente. —

Você ainda pensa nele? — sondei.

— Às vezes. — Ela olhou para mim de canto. — Teve alguma


coisa ali. Não sei explicar, mas algo aconteceu comigo. Algo
que nunca mais senti com ninguém. Então eu meio que
procuro por isso

— Deu de ombros. —, não aceito menos do que aquilo.

— Nunca mais o viu? O que aconteceu com ele?

Scarlett encostou a testa no vidro da janela e olhou para o


céu, quase como se o estivesse procurando.

— Também queria saber, nunca mais o encontrei. Talvez


nem se lembre de mim. — Ela abraçou o próprio corpo, em
uma posição defensiva.
— Talvez ele se lembre e talvez vocês ainda se encontrem
algum dia. — Tentei animá-la. — E quando isso acontecer,
vamos avaliá-lo antes.

Ela sorriu para mim.

— Ainda estou tentando me acostumar a ter homens me


defendendo. Não sei se fico ofendida ou acho isso fofo. —
Olhou para mim de canto e sorriu. — Acho que vou ficar
com a segunda opção.

Não perguntei se ela nunca teve um homem na vida dela,


como um pai ou um irmão. Acho que era um assunto íntimo
demais.

— Acho bom se acostumar, agora você tem cinco homens


pra te proteger. — Usei a última palavra de propósito só
para provocá-la, sabendo que com certeza estava na ponta
da sua língua falar “não preciso de proteção”.

Mas Scarlett não disse. Ela sabia que eu estava esperando a


frase, então só olhou divertida para mim e me deu língua
em um gesto infantil. Depois baixou o vidro e colocou a
cabeça para fora do carro, deixando o vento bagunçar o seu
cabelo. Era engraçado saber que existia uma menina dentro
da mulher sedutora que ela mostrava ser.

Sabia que Scarlett estava gostando de ter amigos homens,


mas a verdade era que eu também gostava. Não me lembro
de alguma vez ter me relacionado com garotas da minha
idade apenas com a intenção de ser amigo. E era bom.

Acho que era aquilo que acontecia quando se estava


apaixonado. Eu simplesmente não conseguia mais me ver
com outra mulher desse jeito. Não queria. Se dependesse
de mim, estava decidido a não tocar em mais ninguém na
vida, seria apenas da Amber.
Meu Deus, qual meu nível de emocionado?

Sei que se chegasse hoje lhe contando o quanto estou louco


por ela, provavelmente me acharia doentio ou louco. Mas
estava

disposto a esperar o tempo que fosse, até fazer com que ela
sentisse o mesmo por mim.

AMBER FOSTER

— Você acha que eu sou trouxa por acreditar nele? —

resmungou Lindsay assim que atendi a ligação.

— Se acredita nele, tudo bem, ninguém tem nada a ver com


isso. — Dei de ombros enquanto subia as escadas da minha
casa.

Também acreditava que meu pai não a traiu. Ele amava


aquela mulher, por mais que na maioria das vezes vivessem
brigando, eles se amavam. Não era novidade para mim
terem ido embora juntos.

— Se ele vacilar de novo comigo... — ameaçou. — Vai ser


pra valer, não vou voltar mais.

— E ninguém vai te julgar por isso — apressei-me a falar,


jogando a minha bolsa na cama.
— E como estão as coisas com o garotão aí do lado? — O

tom de voz dela mudou radicalmente para empolgado.

— Ah, Lin — Soltei um suspiro apaixonado. —, eu acho que


sou louca por ele. Sério.

— Você sentou nele de novo? — sussurrou no telefone e ri


dela.

— Pelo amor de Deus! Mas pra sua informação, sentei sim


confessei rindo e me lembrei de falar algo. — Ele me


convidou pra um casamento da família dele, no próximo fim
de semana. Vou

conhecer seus pais. — Estava super animada, mas também


com medo.

— Então isso é sério. — Lindsay suspirou feliz por mim. —

Aquele garoto está completamente apaixonado por você, tá


escrito na cara dele.

— Você acha? — perguntei sentindo meu coração saltar no


peito.

— É óbvio, Amber! — ela confirmou e depois pareceu


distraída ouvindo outra pessoa falar com ela.

— Lin? Ainda tá aí? — chamei-a confusa.

— Tô sim! — Voltou a me dar atenção, e o tom da ligação


ficou mais sério quando ela ficou em silêncio por um
segundo. —

Quero te contar uma coisa...


— O que? — sentei na cama preocupada.

— Eu estava com umas ideias... Olhando meus desenhos,


estava pensando em abrir uma loja virtual e vender vestidos
que desenhei — soltou insegura.

— Isso é incrível! — Quase gritei. Esperei tanto por esse


momento, em que ela fosse lutar por sua independência.

— Não sei... Não é como se eu fosse uma mulher de


negócios. — Podia visualizar o sorriso autodepreciativo que
ela costumava dar quando zombava de si mesma.

— Você é! Seus desenhos são incríveis! Não venha com


pensamentos negativos, o que Britney Spears diria disso? —
citei seu maior ídolo.

— Não vamos meter Britney nisso! — disse indignada, mas


logo voltou a ficar insegura — Nunca fiz algo assim, com
certeza vai ser um fracasso.

— Não tem como ser um fracasso, você por si só já é um


sucesso.

— Acho que só você pensa isso de mim — comentou


distraída.

— Acho que a única pessoa que não pensa isso é você —

opinei suavemente.

— Talvez tenha razão. Pensamento positivo! Bem... Vou


deixar você curtir sua sexta-feira. Beijinhos! Te amo.

— Te amo. — Encerrei a ligação feliz por ela, mas também


animada para encontrar com outra pessoa.
Tinha acabado de chegar em casa depois de passar a noite
quase toda na biblioteca. Não sabia para onde Johnny
queria me levar, mas era bom ele me dizer logo, não fazia
ideia do que vestir.

Eu: É bom você me dizer pra onde vamos ou irei pelada.

Johnny: É uma opção.

Johnny: Eu não reclamaria.

Eu: É sério! Não sei o que vestir.

Johnny: Um biquíni, e me espera em casa. Já chego,


princesa.

Iríamos entrar na piscina!

Era engraçado como morria de medo ao mesmo tempo em


que ficava ansiosa. Nunca experimentei uma sensação tão
gostosa na vida do que flutuar, não entendia por que as
pessoas não faziam isso o tempo todo.

Coloquei um biquíni por baixo da roupa e fui para casa do


Johnny, levando o material para fazer drinks para ele.

Os meninos não estavam em casa. Era sexta à noite, então


não podia esperar que voltassem ainda hoje. Maddie tinha
um encontro com Benjamin, Scar estava trabalhando e
Sienna estava com Michael. Seríamos apenas eu e ele. Não
tinha jeito melhor de passar a noite.

Comecei a espalhar o material pelo balcão da sua cozinha e


a fazer a “minha mágica”. Iria fazer um drink de limão com
hortelã, era um dos melhores, pois conseguia deixá-lo
adocicado mesmo com o azedo do limão.
Liguei o som assim que terminei o drink e a música se
alastrou pela cozinha. Não resisti, comecei a balançar meu
quadril de leve e meus pés se movimentaram por conta
própria. Era o que sempre acontecia quando ouvia música
sozinha em casa, dançava.

E era ridículo, eu sei que não tinha o mínimo jeito para a


coisa. Mas adorava balançar meu corpo aleatoriamente.

Minhas mãos foram para cima da minha cabeça e rebolei


minha bunda de acordo com a batida. Em algum momento
passei a cantar também, e minha voz não ajudava, eu sabia
disso. Joguei

meu cabelo de um lado para o outro e cantei sem me


preocupar se alguém estaria ouvindo.

Mas alguém ouviu. Por que em meio ao meu show escutei


uma risada e quando virei, assustada, Johnny estava
gargalhando encostado na porta, parecia que estava ali há
muito tempo. Levantei o meu dedo do meio na sua direção
e ele foi aumentar o som.

Parou ao meu lado e esperou eu começar a dançar de novo,


quando percebi sua intenção, ri, mas cedi e continuei a
dançar. E ele me acompanhou.

Imitou os meus movimentos de dança e estava tão ridículo


que não me aguentei e gargalhei enquanto dançava com
ele. Todo passo que fazia Johnny me acompanhava,
rebolava junto, jogava os braços para cima, girava o corpo.

Meu Deus, se eu contasse para alguém que o capitão do


time de hóquei estava nesse momento fazendo uma dança
horrorosa comigo, ninguém acreditaria. Entrei na dele e
dancei sem me importar com nada, mas em algum
momento nossos olhares se encontraram e caímos na risada
juntos.

O seu braço passou pela minha cintura e me puxou,


enterrando o rosto no meu pescoço.

— Nunca pensei que você dançasse tão bem — debochei e


ele me cutucou na cintura, fazendo cócegas.

Tentei sair do seu abraço, mas ele me segurou mais firme.

— Quando cheguei, pensei por um minuto que você tinha


levado um choque — brincou e dei um beliscão no seu
braço, mas o cretino nem sentiu e continuou a me provocar.
— Depois pensei que estava tendo algum tipo de reação
alérgica.

— Ha-ha-ha-ha você é tão engraçado. — Consegui sair dos


seus braços e contornei a bancada da cozinha. — Continue
com isso e não vai provar do seu drink. — Apontei para o
drink verde que estava em cima da pia.

Seus olhos brilharam de interesse.

— Esse vai ser jogado em mim também? — Rodeou a


bancada e pegou o drink.

— Lamento, não vou mais desperdiçar meus drinks. — Dei


de ombros.

— Irônico que depois de três anos, eu finalmente receba um


drink sem confusão — debochou e provou a bebida.

Seus olhos se fecharam e seu rosto adotou uma expressão


prazerosa. Ele soltou um suspiro e bebeu o drink de uma
vez, sem conseguir parar.
— Puta merda — resmungou recuperando o fôlego. —, isso
tá muito bom.

— Eu sei — falei convencida, mas também vibrando por


dentro pelo seu elogio.

— Quero outro — exigiu olhando em volta, procurando por


mais.

— Depois que me levar pra piscina — negociei, empurrando-


o para a área de fora.

— Por que a gente não bebe primeiro e depois entra na


piscina? — sugeriu tentando me subornar.

— Por que a gente não entra na piscina primeiro e bebe


depois? — devolvi, rindo dele.

— Ok, mas antes vou trocar essa playlist — ele disse e o


impedi.

— Eu não vou escutar música de gente morta, Johnny —

avisei.

— Como é? Gente morta? — Ele riu e confirmei. — Eu escuto


rock antigo...

— Emque todo mundo que já participou da produção já


morreu — completei o empurrando para a piscina. — Isso é
meio mórbido.

— Você é louca. — Me puxou pela cintura e beijou meu


rosto.

— Vou botar um calção primeiro. — Passou por mim e subiu


as escadas.
Como estava com o biquíni por baixo, apenas tirei meu
short e blusa. Esperei por ele no canto da piscina,
empolgada. Olhei para água temerosa, mas ao mesmo
tempo querendo experimentar a sensação de flutuar de
novo.

O senti chegar antes mesmo que ele falasse qualquer coisa.

Eu reconhecia o som dos seus passos, o seu cheiro e até o


jeito que

respirava. Quando seus braços rodearam minha cintura,


apertando-me, me senti em casa.

— Tudo bem? — perguntou com cuidado no meu ouvido e


assenti.

Virei e passei os braços pelo seu pescoço, esperando-o me


pegar. Quando fui erguida, enrosquei as pernas na sua
cintura e comecei a tremer, era involuntário.

— Solta a respiração com calma, meu amor — instruiu e me


acalmei ao ouvir sua voz. Ele entrou na água devagar,
esperando meu corpo relaxar mais. — Não vou te soltar... O
que você quer assistir hoje à noite? — Tentou me distrair.

— Não sei... só não quero ver séries que eu não entenda


nada — soltei, respirando fundo. — Algo engraçado.

— Gosta de Friends? — A água estava na minha cintura. Me


agarrei mais nele, cravando as unhas nos seus ombros.

— Shhhh — murmurou enquanto passava as mãos nas


minhas costas, aliviando a tensão.

— Eu... Gosto — respondi tremendo, tentando me


concentrar na conversa. — Tem a Jennifer Aniston.
— Isso, a sua cachorra cagona iria gostar — brincou e me
peguei relaxando, o seu corpo era tão quente e a água tão
fria.

— Não difame meus cachorros — devolvi e suspirei aliviada


por estar totalmente dentro da piscina sem surtar.

— Eles destruíram todos os meus tênis brancos — provocou


e beijou minha cabeça, andando na água comigo.

— A solução é não usar mais tênis branco de manhã —


disse e ele riu no meu ombro.

— Com toda certeza — debochou. — Por falar nisso, os


encontrei deitados na minha cama, sabe como os três foram
parar lá?

— Não faço a menor ideia — falei, respirando devagar.

— Tá melhor, princesa? — perguntou com calma, beijando


meu ombro.

— Sim... Continua falando — pedi e me aconcheguei mais


nele. Não porque ainda estava com medo, mas porque não
existia lugar melhor no mundo.

— Tenho algo pra te contar...

— O que foi? — Passei os dedos no seu cabelo macio e


enterrei o rosto no seu pescoço, sentindo seu cheiro.

— Eu vi pela manhã as mensagens daquele Tim no seu


celular. — Os músculos dele ficaram tensos e me assustei.

— Ele me manda mensagem sempre, mas eu nunca


respondo, juro — apressei a explicar, com medo dele pensar
que estava dando moral para Tim.
— Eu sei, não estou desconfiando de você, isso nem passou
pela minha cabeça — me tranquilizou dando um beijo leve
na ponta do meu nariz. — Mas isso me fez pensar que talvez
tenha sido ele a espalhar os nudes da Scarlett.

Meus olhos se arregalaram.

— Você acha que ele faria isso? — perguntei chocada.

— Ele fez. — Sua voz saiu firme. — Pedi pra Tyler investigar
quem tinha espalhado quando descobri sobre os nudes e ele
me disse que foi o Tim.

Fiquei surpresa, mas também furiosa. Que merda. O que ele


ganhava fazendo aquilo?

— Por que ele fez isso?

— Não sei, acho que estava com raiva por ela não ter
confirmado a história que contou — Johnny deu seu palpite.
— A questão é que contei pra Scarlett quando saí daqui de
manhã e fomos na fraternidade dele. Resumindo tudo, ele
foi expulso.

— Irônico, ele acabou do mesmo jeito que a gente. — Sorri


em deboche.

— Literalmente, porque quando íamos saindo Scarlett


baixou a cueca dele e ele ficou pelado na frente de todo
mundo da fraternidade.

— Não! — Gargalhei alto na piscina. — Que droga, eu queria


ter visto isso.

Johnny endureceu os músculos e franziu o cenho para mim,


entendendo errado minhas palavras, o que só me fez rir
mais ainda.
— Não... — Recuperei o fôlego. — Não queria ver ele pelado,
pelo amor de Deus!

— Acho bom, porque a partir de agora sou o único homem


pelado que você vai ver na vida. — E para enfatizar, apertou
mais ainda os braços em volta de mim e beijou
carinhosamente meu pescoço.

Gostei muito daquela ideia. Me agradou o tom definitivo


com que ele disse aquilo, como se fôssemos ficar juntos
para sempre.

Mas talvez tenha falado sem nem perceber, e não seria eu a


pressioná-lo agora só por um deslize.

— Mas sério, queria ter ido, vocês deveriam ter me levado


resmunguei ainda rindo ao imaginar a cena.

— A verdade é que fiquei com ciúme — revelou, ainda


enterrado no meu pescoço. —, não sabia que tipo de
envolvimento vocês tinham e não queria você tivesse a
chance de mudar de ideia.

— Nosso envolvimento era zero, não tínhamos nada —

comentei alisando as costas dele. — Mas eu queria ter visto


a cara do Sr. Bostinha. — Ri do apelido que dei a ele.

— Era exatamente isso que aconteceria se eu te levasse —

provocou. — Você ia começar a rir e estragar todo o clima


de ameaça ali.

Era verdade. Faria exatamente aquilo.


Ainda estava surpresa por Tim ter descido tão baixo. Ainda
bem que Johnny foi atrás de descobrir quem espalhou as
fotos.

E algo estava passando pela minha cabeça, uma lembrança.

— Me lembro que as fotos dela simplesmente


desapareceram... — comentei desconfiada. — Foram vocês?

— Tyler. Ele sabe como tirar essas merdas do ar —

respondeu. — Geralmente não precisamos nem falar, no fim


do dia a coisa toda sai do ar.

— Isso é muito legal da parte dele. — Fiquei admirada, a


maioria das pessoas não se daria ao trabalho. Todos os
garotos subiram ainda mais no meu conceito. — Obrigada
por isso. — Beijei ele de leve.

— Tem mais uma coisa, também falei pra algumas pessoas


que você era minha namorada — anunciou olhando para
mim, procurando algo no meu rosto.

— Foi? — perguntei, sentindo um sorriso crescer no meu


rosto. — E é isso o que eu sou?

— Não, você é muito mais que isso pra mim, mas no


momento é o que vou aceitar.

— Você também é muito mais que um namorado pra mim.


Beijei cada canto do seu rosto e desenrolei minhas pernas


da sua cintura, sentindo-me corajosa na piscina. — Você é
meu melhor amigo, meu pior inimigo e a única pessoa que
confio pra me segurar na água.
Minhas pernas dançaram na água e ele me apertou mais
contra si. Sua boca quente desceu pela minha, a língua
entrou em mim e sua barba me arranhou de leve.

— Eu queria te ensinar a nadar, sempre vou estar aqui, mas


queria que soubesse fazer isso sozinha também — avisou e
me olhou, a procura de consentimento.

E acho que foi ali que me apaixonei por Johnny Jackson.

Talvez tenha sido na primeira vez que o vi bebendo o meu


drink ou quando caí em cima dele no gramado. Talvez tenha
sido no dia em que ele entrou comigo na piscina pela
primeira vez ou na vez que escalou a minha janela. Eu não
sei, talvez tenha sido em todas aquelas vezes, mas me
apaixonei perdidamente por ele.

Nunca na minha vida conheci uma pessoa como ele.


Alguém que me faz ser mais forte a cada dia, a todo o
momento Johnny estava ali para mim, para me pegar se eu
caísse, mas também para me ensinar a caminhar sozinha.

Ele estava ali para me segurar na piscina, mas queria que


eu aprendesse a nadar. Ele estava ali para me dar carona,
mas queria me ensinar a dirigir. Ele me ajudava a caminhar
com os cachorros, mas também me mostrava como fazer.
Tudo para eu nunca precisar dele, nunca depender da sua
ajuda, apenas por querer o melhor para mim, apenas por
querer que eu fosse livre para tudo, até mesmo para ficar
sem ele um dia.

E acho que o amor é sobre isso.

Então olhei para aqueles olhos escuros que continham o


meu mundo inteiro e acenei com a cabeça. Confiando nele
para me guiar na água e entregando meu coração junto.
JOHNNY JACKSON

Na manhã seguinte abri a geladeira procurando algum


energético, mas não tinha quase nada, precisava ir ao
supermercado ainda hoje.

Peguei o único energético que achei e tomei. Estava


exausto.

Depois de começar a ensinar Amber a nadar na noite


passada, transamos pela casa toda durante a noite inteira.

Batizamos cada canto como dois coelhos.

Era uma coisa completamente inédita para mim, nunca


tinha transado sem camisinha, então a sensação era
diferente. Outra coisa inédita era gostar de acordar com o
braço dormente, sentir o cabelo dela coçando o meu nariz
ou o jeito que meu peito acordava babado quando ela
dormia de boca aberta.

Muito estranho gostar dessas coisas? Talvez fosse, mas


gostava pra caralho e queria aquilo todos os dias.

Quando fechei a geladeira vi Amber com os olhos inchados


de sono, descendo as escadas enrolada em um lençol. E
saber que ela estava nua por baixo já fez minha ereção
crescer no moletom.
Ela olhou em volta perdida até me encontrar e veio na
minha direção emburrada, tropeçando no tecido que cobria
seu corpo.

— Pra onde tinha ido? — resmungou me abraçando e


enterrou o rosto no meu peito, como se eu fosse seu
travesseiro e tivesse atrapalhado seu sono por levantar.

— Vim pegar um energético, meu amor. — Beijei sua cabeça


e o lençol abriu na parte de trás, revelando suas costas e
bunda lisinha.

Já ia alisar a bunda dela quando uma voz que conhecia bem


me assustou.

— Johnny! Eu tenho uma coisa pra contar...

— Que porra é essa? — rugi para Drake e cobri depressa o


corpo da Amber.

— Não vi nada. Juro. — Drake entrou na cozinha com as


mãos nos olhos.

— Acho bom, porque se tiver visto, vou arrancar os seus


olhos e enfiá-los na sua bunda! — ameacei e cobri mais
ainda minha garota, que ria contra meu peito.

— Tá. — Drake me dispensou com um aceno e se sentou em


uma cadeira. — Você nunca vai adivinhar o que aconteceu.

— Se você não me contar, não vou adivinhar mesmo — falei


entediado e com raiva por ele atrapalhar meu momento
com a bunda gostosa da minha namorada.

— Colin está organizando um enterro. — Drake se inclinou


na mesa para contar.
— O que? — perguntei sem acreditar e Amber olhou curiosa
para Drake, ainda agarrada em mim.

— Ele foi no meu quarto me acordar, dizendo que iríamos


fazer um enterro e me pediu pra não contar à ninguém que
era ele que estava organizando — Drake sussurrou para
nós.

— E a primeira coisa que você faz é vir aqui me contar. —

Balancei a cabeça em negação para ele.

— Exatamente — Drake disse sem se abalar.

— Mas isso é fácil de resolver — Amber interveio —, é só a


gente prometer não contar a ninguém também. — Ela sorriu
para nós parecendo ter acabado de resolver uma grande
questão. Drake piscou para ela em parceria.

Revirei os olhos.

— De quem é esse enterro? — Tentei me concentrar no


problema. Alguém tinha morrido aqui.

— Não sei. — Drake franziu a testa, chateado por não saber.

— Ora — reclamou Amber me abraçando mais e se


aconchegando. —, como você acorda a gente a essa hora e
ainda conta a fofoca só pela metade?

— Vocês já estão acordados — pontuou Drake.

— Eu não — resmungou Amber. —, ainda estou dormindo. —

Bocejou e acariciei seu cabelo enquanto olhava para Drake.

— Como você não sabe de quem é o enterro? Alguém


morreu... — Fui interrompido pela chegada do Tyler na
cozinha.

Ele chegou olhando para mim animado, mas assim que viu
Drake seu rosto murchou. Acho que queria contar a fofoca
primeiro.

— Drake chegou primeiro — Amber lamentou para Tyler. —,


mas foi incompleto. De quem é o enterro?

Ela se virou para ele curiosa para saber, mas o maldito


lençol quase caiu e a puxei de volta para mim.

— Se a porra desse lençol cair, eu mesmo vou furar os olhos


de vocês — alertei para os dois, que ergueram as mãos em
rendição e desviaram o olhar de Amber.

Ela se limitou a dar atenção a Tyler, esperando-o explicar de


quem era o enterro.

— De um passarinho. — Tyler se sentou em outra cadeira.

Ah, merda, o passarinho da Maddie.

— Ah não. — Amber colocou as mãos na boca, triste. — O

que a Maddie achou ontem?

— Esse mesmo — Tyler informou triste.

— Ela deve estar arrasada. — Amber me abraçou de novo e


passei a fazer carinho no seu cabelo, em conforto.

— Ah se fosse só isso... — Drake deixou a frase morrer no ar


para nos deixar curiosos.

E funcionou, porque Tyler e Amber se inclinaram


imediatamente para ouvi-lo. Deveriam abrir um clube de
fofoca
“Drake Informações”.

— Ontem à noite Benjamin saiu com Maddie, em um


encontro. E adivinha só quem apareceu lá? — Drake fez o
suspense e revirei os olhos.

Ele não precisa nem dizer, eu já tinha uma suspeita.

— Quem? — Amber estava a um passo de esganar Drake


para saber.

— Colin. Ele também estava em um encontro no mesmo


restaurante que eles — Drake respondeu.

— Colin? Em um encontro? — Tyler riu incrédulo.

Realmente, também não consigo imaginar Colin levando


uma garota em um encontro. Ele geralmente pulava aquela
parte e ia logo para cama.

— Sim — afirmou Drake, também parecendo estar surpreso.

—, eu também pensei a mesma coisa. E o mais estranho é


que o restaurante é vegetariano.

— Colin é vegetariano? — perguntou Amber confusa.

— Não — Drake e Tyler responderam ao mesmo tempo.

— Então por que diabo ele marcou um encontro lá? —


Amber ficou sem entender.

— Não sei, só se a garota que ele saiu fosse vegetariana. —

Drake se inclinou na mesa. — Benjamin disse que quando


Colin chegou ficou surpreso por encontrá-los lá e sentou na
mesma mesa que eles, dizendo que era uma ótima
oportunidade para um encontro de casais.
— Colin? Em um encontro de casais? — Tyler balançou a
cabeça em negação e começou a descascar uma banana.

— Ainda estou tentando entender o que ele fazia em um


restaurante vegetariano. — Amber olhou para mim em
busca de respostas, mas só sorri para ela.

— Benjamin falou que foi o encontro mais estranho da sua


vida. Maddie e Colin passaram a noite toda brigando e se
implicando. — Ninguém ficou surpreso com aquela
informação, eles só faziam isso desde que se conheceram.
— E quando chegou na hora de ir, Colin simplesmente levou
Maddie embora.

— Como assim? — perguntei confuso.

— Disse que não faria sentido ela ir com Benjamin se eles


moravam na mesma rua. Ele deixou o encontro dele com
Benjamin e convenceu Maddie a voltar com ele — Drake
finalizou, se encostando na cadeira.

— E ela foi? — Amber não acreditou naquilo.

Também achava difícil que Maddie tivesse entrado em um


carro com Colin espontaneamente.

— Na base do ódio e do cansaço, mas foi. — Drake revelou e


acreditei, se tinha uma pessoa que conseguia vencer um no
cansaço era Colin.

— Meu Deus, mas que confusão. — Amber balançou a


cabeça tentando entender toda a fofoca. — E pensar que
tudo isso só aconteceu porque ele foi comer em um
restaurante vegetariano.

Ri da teoria sem noção da maluca por quem era


apaixonado.

— Eu só sei que Benjamin foi totalmente dispensado nisso.


Drake riu do acontecido, depois se voltou para nós de novo,


lembrando de algo. — Vocês também não sabem o que
aconteceu ontem, um garoto foi expulso da frater...

— Ah, pelo amor de Deus, como você sabe da vida de todo


mundo? — questionei abismado.

Drake já ia responder quando Colin entrou pela porta da


frente e nos pegou no flagra. Ele entrou na cozinha vestindo
só uma calça jeans, seu abdômen estava todo sujo de terra.

— O que foi? — Colin perguntou ao perceber que todo


mundo se calou de repente. — Sobre o que estavam
falando?

— Sobre bananas. — Tyler tentou disfarçar comendo sua


banana.

— O que você estava fazendo? — Olhei para a calça dele


coberta de terra.

— Cavando uma cova. — Colin bebeu água e depois subiu


as escadas.
— Ok, deixem de fofocar, temos um enterro para ir — avisei
indo para cima com Amber e segurando seu maldito lençol
no lugar.

Todos foram de preto. Sienna estava com um vestido colado


chique, por ser sua única roupa preta, como ela alegou.
Scarlett

usava uma legging e blusa preta, assim como Amber.

Maddie? Estava com um macacão preto manchado de tinta.

Nenhuma novidade.

A ruiva estava arrasada, chorava silenciosamente encostada


no ombro do Taylor, que ficou a manhã toda com ela. O seu
nariz vermelho só a deixava mais fofa.

Colocamos o passarinho em uma caixa de sapato furada e a


cova pequena foi cavada na nossa parte do gramado.

Não sei por que, mas me deram a caixa para segurar, então
eu estava no centro, com todos olhando para mim e
esperando que dissesse alguma coisa. Virei exasperado
para Colin em busca de auxílio, pois foi ele que inventou
aquilo.

— Você é o capitão. — O cretino deu de ombros e tive


vontade de matá-lo, porque sabia que ele estava se
divertindo com meu desespero.

— Diga alguma coisa — Sienna gesticulou para mim


enquanto passava as mãos nas costas da Maddie em
conforto.

— Bem... — Comecei sem saber o que dizer. — Esse


pássaro... qual era mesmo o nome dele? — perguntei
perdido para Maddie.

— Vida — ela respondeu, enxugando os olhos cor esmeralda


com a mãozinha pequena.

Irônico. Olhamos todos para ela, mas ninguém disse nada,


creio que estavam pensando a mesma coisa.

— Vida — comecei de novo quando me recuperei. —, era um


pássaro muito querido por todos que o conheceram. —
Balançaram a cabeça coletivamente, em concordância. —
Ele esteve entre nós por um curto período de tempo... —
Quantas horas fazia que ela tinha pegado ele? — cerca de
um dia — joguei sem saber ao certo.

—, mas foi o suficiente para tocar nossos corações. Ele tinha


machucado a pata...

— A pata? — Tyler se virou para mim sem entender.

— A asa — corrigi e olhei feio para ele por me atrapalhar. —


E

Maddie foi ajudá-lo. Era um passarinho muito bonito... fofo...


descrevi sem saber o adjetivo que se usava para elogiar um


pássaro.

— Tinha as asas bonitas também.

— Pena que não funcionavam. — Colin suspirou fazendo


graça. Minha paciência com ele estava por um fio.

— Sim, uma pena — Amber concordou triste, consolando a


amiga baixinha que chorava.
— Não sei o que fiz de errado — Maddie chorou e encarou a
caixa —, ele estava bem ontem à noite. — Ela soluçou mais
e Sienna lhe estendeu um lenço. — Obrigada — Maddie
agradeceu a amiga elegante.

— Faça alguma coisa — resmungou Colin baixinho do meu


lado, agoniado com o choro da ruiva.

— Ora, “faça alguma coisa” — repeti em deboche para ele.


Foi você que me botou nisso. Você é quem deveria fazer


esse discurso. — Estendi a caixa para ele, mas o idiota deu
um passo para trás.

— Eu? — Colin colocou a mão no peito horrorizado.

— Sim — afirmei e coloquei a caixa em suas mãos, mas


bem nesse momento ele deu mais um passo para trás e a
caixa caiu no chão, abrindo e liberando o passarinho vivo.

Sim. Vivo. E voando.

Olhamos em choque para o pássaro que voava sobre nós,


quase zombando do enterro.

Mas que porra?

— Meu Deus — Maddie estava encantada. —, é um milagre.

— Você ia enterrar um pássaro vivo, seu idiota? — Virei para


Colin.

— Mas que descaramento! — Colin rugiu zangado para o


pássaro. — Se fingiu de morto!

— Quem disse que ele estava morto? — Taylor perguntou


para nós.
— Colin — respondeu Scarlett apontando para ele.

— E ele estava! — Colin virou-se indignado para nós. — Ele


não se mexia, não respirava, é um ator. Um fingido.

— Ressuscitou — Amber concluiu e sorriu da nossa cara.

— Pois eu acho que ele nos sacaneou mesmo. — Colin mirou


zangado a árvore que o pássaro tinha pousado. — Agora
estou com vontade de matá-lo eu mesmo.

— Não chegue perto dele — ameaçou Maddie, se


recuperando das lágrimas.

— Ele pode ter se sentindo ameaçado e aí se fingiu de


morto

— sugeriu Drake.

— Não tem mais o que fazer — Colin disse fatalista. —,


teremos que matá-lo agora.

— O que? — Maddie olhou para ele como se tivesse


acabado de enlouquecer.

— Eu não acordei cedo pra nada, e já cavei a cova. — Colin


apontou para o buraco no nosso gramado, parecendo achar
que aquilo era motivo suficiente para matar o animal.

Mas a coisa era... Ele estava provocando-a. O problema era


que falava tão sério que só quem o conhecia de verdade
sabia que a única intenção dele era irritá-la. Acho que era o
seu objetivo de vida.

— Pois é só cavar de volta — retrucou Maddie indignada.

— Eu não acabei com o meu gramado de graça, Madison. —


Colin chutou a caixa, chateado por não ter seu enterro.

— Essa parte do gramado não é sua. — Maddie chutou a


caixa de volta para ele.

— Vamos ter que colocar uma linha divisória nesse gramado

— comentou Drake para ninguém em específico.

— Esse enterro vai acontecer. — Colin bateu o pé no chão


para enfatizar.

— Só se for o seu. — Maddie o empurrou em direção à cova.

— Fui eu que organizei isso pra esse maldito pássaro. —

Colin apontou para o passarinho na árvore. — E agora ele


vai morrer.

— Você não vai tocar nele. — Maddie começou a jogar a


terra que estava amontoada no gramado em Colin, que
seguia na direção da nossa casa. — Onde pensa que vai?

— Não podemos resolver isso de maneira civilizada? —

perguntei tentando pará-los.

— Vou pegar minha espingarda — Colin respondeu e Maddie


foi para frente dele, impedindo-o.

— Você não tem uma espingarda — a ruiva debochou, sem


acreditar.

— Comprei desde que você se mudou pra cá. — Ele colocou


as mãos no quadril.

Não. Ele não tinha uma espingarda.


— Do mesmo jeito que comprou um binóculo pra espiar os
meus peitos? — Maddie ergueu a sobrancelha.

— Não se preocupe, estou me contentando em vê-los ao


vivo

— comentou observando descaradamente o decote da


baixinha, que corou.

Não sei se de vergonha ou raiva. Ela passou a mão suja de


terra na camiseta preta dele.

E lá vamos nós de novo. Olhei o celular constatando que já


era a hora de ir ao supermercado. Era sábado, ótimo dia
para fazer as compras. Sim, contém ironia.

Todos nós nos olhamos em mútuo consentimento que


deveríamos deixá-los ali. Com certeza essa briga só
terminaria à noite.

Para falar a verdade, tinha uma grande chance de um


enterro realmente acontecer, ou se essa espingarda
aparecesse, alguém levasse um tiro. Por isso puxei Amber
para longe da confusão dos dois.

— Vamos fazer compras — informei, a arrastando na direção


do carro.

— Aposto 30 que eles ainda vão estar brigando quando a


gente voltar — Amber falou segurando minha mão.

— 40 que vão comprar uma espingarda — apostei abrindo a


porta do carro para ela.

— Fechado. — Minha parceira piscou para mim sorrindo.


— Pra onde vocês vão? — Tyler veio correndo em nossa
direção.

— No supermercado — respondi entrando no carro.

— Por favor, deixa a gente ir junto — implorou Taylor


entrando no banco de trás.

— Não — neguei olhando pelo retrovisor para os gêmeos


que entraram no banco do trás. — Eu não vou comprar
bobagem, só o necessário, nem adianta ficar gritando no
meu ouvido.

— Um pote de Nutella não vai fazer mal a ninguém. —


insistiu Taylor e suspirei, girando a chave.

Toda vez era a mesma coisa. Tinha que sair escondido para
fazer as compras, porque as crianças da casa queriam levar
doce.

Incrível como tinha virado pai antes dos 23 anos.

AMBER FOSTER

Tinha vantagens em ser namorada do Johnny. Por exemplo,


quando os meninos queriam por alguma coisa no carrinho,
ele negava, mas quando eu colocava algo, ele só me
repreendia com o olhar e seguia caminho.
Ou seja, podia levar o que quisesse. Lógico que fui
subornada, Taylor me passava os potes de Nutella e eu os
colocava no carrinho com um sorriso cínico.

Johnny percebeu a tática dos gêmeos e me prendeu no


carrinho, colocando os braços tatuados de cada lado do
meu corpo, andando atrás de mim.

— Tenho certeza que estão pensando que somos de alguma


seita — Johnny sussurrou no meu ouvido e um arrepio
passou pelo meu corpo.

Me aconcheguei mais nele, encostando minhas costas no


seu peito.

— Ou que somos de alguma banda gótica — brinquei vendo


as pessoas olharem para nós vestidos todos de preto.

— Ou que viemos de um enterro fake. — Johnny beijou meu


rosto e passou um braço pela minha cintura, sua mão
entrou na minha blusa, para tocar a pele nua.

Fiquei excitada e esfreguei a bunda na ereção dele.

— Estou excitada — revelei e levantei os olhos para ele.

— Eu sei, se metesse meus dedos agora na sua calcinha,


eles sairiam melados. — Ele mordeu o lóbulo da minha
orelha e me cutucou com seu pau duro.

— E se eu pegasse seu pau agora, ele com certeza pulsaria


na minha mão — provoquei e senti sua respiração quente
arrepiando o meu pescoço.

Torci as pernas e respirei fundo para conter um gemido.


— Meu Deus, estamos em lugar público — Tyler resmungou
e olhou para nós em negação.

Ele tentou colocar uns petiscos no carrinho, mas Johnny o


impediu com o braço.

— Eu falei pra não trazer eles — ele resmungou no meu


pescoço.

— Por que ela pode levar tudo o que quiser? — perguntou


Taylor indignado apontando para mim, que já pegava mais
biscoitos recheados.

— Porque sim. — Foi tudo o que Johnny respondeu, sem se


abalar.

E lancei um olhar convencido para Taylor que levantou o


dedo do meio na minha direção, voltando a mexer no
celular.

A expressão dele mudou completamente, Taylor passou a


digitar e sorrir para o telefone.

— Hummm — murmurei cutucando a barriga dele —, com


quem está falando, hein?

— Felizmente, não é só você que transa. — Taylor piscou


para mim.

— Felizmente. Quem é? Ele é bonito? — Saí de dentro dos


braços do Johnny, que seguiu para pegar verduras e fui
espiar o celular do Taylor.

— Queria poder mostrar, mas ele não saiu do armário ainda.

— Taylor me deu um sorriso resignado. — Tudo o que posso


dizer é que é bonito. Muito.
— Quando ele sair do armário, você me mostra. — Enlacei
meu braço com o dele.

— Não acho que um dia ele vá se revelar, é bem machão. E

os amigos dele não ajudam também.

Hum. Não sei se gostei daquilo.

— Então vocês não são sérios? — Encostei minha cabeça no


ombro dele.

— Não — Taylor encostou a testa na minha. —, não conta


pra ninguém, mas acho que gosto dele. De verdade.

— Segredo guardado — sussurrei e caminhamos mais um


pouco agarrados.

Fiquei preocupada com ele, não queria que meu japonês se


magoasse, mas aquela era o tipo de situação em que não se
podia fazer nada.

Depois de entrar no corredor dos materiais de limpeza fiquei


com vontade de fazer xixi.

— Amor, vou procurar um banheiro — gritei para Johnny e


ele virou para mim com um sorriso feliz no rosto, acho que
era por eu tê-lo chamado de amor em público.

Como era bobo.

Fui feliz procurar um banheiro, mas não durou. Logo todo o


clima gostoso que estava experimentando foi embora.

Paralisei no lugar encarando uma mulher. Ela era magra,


muito magra, usava um vestido solto marrom, o cabelo loiro
escuro crespo estava amarrado em um coque. Os seus olhos
verdes, da mesma cor dos meus, estavam enrugados nos
cantos, fundos e com olheiras.

Meu sangue gelou, não tive reação. Minha respiração ficou


presa na garganta e meu coração bateu forte contra o peito.

Ela me olhou vidrada, não parecia surpresa em me ver. Acho


que estava me esperando.

Eu pensei nesse momento durante todo a minha vida.


Pensei no que diria, pensei o que falaria para ela, pensei em
como mostraria que cresci e em como ela nunca mais
poderia mexer comigo. Pensei em tudo, mas não consegui
por nada em prática, porque tudo o que conseguia pensar
era que a queria longe dele.

Sabia que se Johnny a encontrasse ali, iria se meter e ela o


envolveria naquela história. Ela o contaminaria, assim como
me contaminou. E foi aquilo que me deu coragem para ir
em sua direção, mesmo que meu corpo inteiro gritasse para
ficar longe.

Estava com medo, mas não a deixaria chegar perto dele.

Faria qualquer coisa por ele. Qualquer coisa.

Até mesmo vender minha alma ao diabo.

AMBER FOSTER
Ela estava acabada. Pensei que aquilo fosse me trazer
algum tipo de satisfação, mas não trouxe.

Margo Brown era uma mulher vaidosa e bonita, mas os anos


cobraram a conta. Ela tinha rugas nos cantos dos olhos, a
boca fina estava assustadora agora, seu cabelo perdeu a
vida e o seu corpo magro me preocupou por um momento.

Era minha mãe. Aquela pessoa que dizia que me amava


para sempre, aquela pessoa que me chamava de bebê à
noite. Mas também aquela pessoa que queria que eu ficasse
magra ao ponto doentio, aquela pessoa que me afogava por
diversão, aquela pessoa que me dava remédios que me
faziam mal e me deixou para morrer uma vez.

E era a mesma que mandava mensagens exigindo dinheiro.


E

eu não iria confundi-las, ela não iria mais me manipular, não


era mais uma criança.

Olhei ao redor sentindo meu coração acelerar, com medo do


Johnny aparecer ali.

— Não aqui — decretei firme e direta quando fiquei na


frente dela.

Acho que nunca na vida usei aquele tom de voz, de


comando e ordem. Mas era algo inegociável. Se ela queria
acabar com a minha vida de novo, que fosse, mas não
chegaria perto dele.

Margo ficou surpresa com o jeito que me dirigi a ela, mas


acenou e caminhou para fora do supermercado e eu a
segui.
Por um momento meu peito doeu e me senti criança de
novo.

Quando Lindsay me tirou dela eu esperei que minha mãe


fosse atrás de mim, fosse pedir desculpas, brigar por mim.
Esperei, mas ela não veio. Então eu cresci e entendi que
não a queria perto.

E ela passou a ser uma lembrança distante, passou a ser


meu pior pesadelo, passou a ser alguém que eu pagaria
para ficar longe.

Quando chegamos ao estacionamento ela virou para mim.

— Você ficou bonita. — Não foi um elogio, Margo estava me


analisando clinicamente.

— O que você quer? — Fui direto ao ponto e abracei meu


corpo, sentindo frio me percorrer.

Não queria adotar uma posição defensiva, mas foi


involuntário. E ela percebeu que eu não era tão forte quanto
queria parecer.

Ela me fazia sentir fraca. Diminuída.

— Sabe o que eu quero — Margo deu de ombro, sem deixar


de me encarar. —, sei que recebeu minhas mensagens.
Preciso de dinheiro.

— Não tenho. — Engoli em seco, tentando ser corajosa.

— Por favor — ela sorriu suavemente em deboche —, eu vi o


carro que ela te deu.

Estava me espionando? Arrepiei só com o pensamento. Não


a queria em nenhum aspecto da minha vida.
— Não te devo nada. — Tentei ser firme, mas estava
suando.

Por que eu tinha que ser tão fraca?

— Você ficou realmente bonita — repetiu abismada e me


encolhi mais sob seu olhar. — Eu jurei que ficaria uma
garota magra e estranha. Jurei.

— Se era só isso, não tenho mais nada pra falar. — Virei,


querendo ir embora.

— Eu vi que você tá andando com o garoto do hóquei.

Minhas costas ficaram tensas e fechei os olhos com força.

— Garota esperta — ela murmurou em aprovação.

— Não é sério — anunciei e virei para encará-la, mas estava


querendo fugir.

Não conseguia fazer aquilo.

— Você vai me dar o dinheiro, Amber. Preciso pagar umas


dívidas, — Ela começou a se aproximar. — E se você não der
um jeito de me pagar, acredite, eu vou voltar a atormentar
sua vida.

Senti ódio percorrer o meu corpo. Entendi o ódio que Johnny


sentiu quando contei do acordo que meu pai fez, sempre
quis que ela ficasse longe de mim, não importava o preço,
mas senti nojo ao pensar que teria que pagá-la para meu
próprio bem.

Seria sempre recompensada pelas coisas que fez comigo?

Quando aquilo acabaria? Quando eu teria que parar de ter


medo dela? Sabia que meu pai escolheu o caminho mais
fácil para se livrar do problema, mas aquilo só criou uma
chantagista.

— Eu não te devo nada — falei respirando fundo, acalmando


meus nervos, eu tinha que ser firme agora. — NADA. Vai pro
inferno.

— Já estou nele.

— E isso não é problema meu. Eu não vou te dar nada. Nem


meu pai. Nunca mais. Entendeu? Acabou.

Os olhos dela brilharam em fúria com a minha afronta.

— Você conseguiu tudo o que queria, não é? Traiu sua


própria mãe, menina nojenta — cuspiu as palavras em mim.
— Eu disse o que você tinha que fazer, era simples, mas foi
egoísta, ficou com tudo só pra você. Foi pra uma casa
bonita com aquela puta...

Dei um tapa nela. Não foi forte, mas dei. Acho que nunca na
minha vida bati em alguém. Mas não me arrependi, ela não
ia falar da Lindsay na minha frente.

— Não tem o direito de falar dela. — Apontei o dedo na cara


dela.

Margo perdeu a paciência e me devolveu o tapa. Mas o dela


foi forte e doeu.

Não reagi. Não iria protagonizar uma briga, não queria bater
em ninguém, queria apenas ir embora. Queria fugir, não
sabia fazer aquilo.

Virei sentindo meu rosto arder, mas ela ainda tentou me


segurar e me esquivei do seu toque. As suas unhas afiadas
me
arranharam e dei mais um passo apressado para trás,
fugindo.

— Isso não vai ficar assim. — Ela continuou a tentar me


alcançar, mas caminhei para longe. — Eu vou atrás de você!
Ou você me da a porra do dinheiro ou eu vou acabar com a
sua vida!

Você me escutou? Eu vou acabar com a sua vida!

O segurança do supermercado já estava vindo na nossa


direção, e eu não parei de caminhar. Atravessei a rua e
continuei, até não fazer ideia de onde estava.

Sabia que ela tinha ficado para trás e que não tinha mais
ninguém me perseguindo. Mas não parei, continuei a
caminhar.

Quando me encostei em uma loja de sapato puxei o celular


e vi mensagens do Johnny.

Johnny: Onde fica esse banheiro?

Johnny: Pra onde você foi? Não tô te encontrando. E sim,


invadi o banheiro das mulheres.

Johnny: Princesa?

Johnny: Já estou preocupado. Sério, Amber, onde você se


meteu?

A última mensagem tinha acabado de chegar. Senti as


lágrimas no meu rosto e meu queixo tremeu. Meu Deus, eu
era tão, mas tão fraca.

Por que não cresci?


— Me desculpa — sussurrei para o telefone com as mãos
tremendo, mas digitei uma mensagem para ele, inventando
uma desculpa qualquer.

Eu: Eu encontrei umas amigas da fraternidade. Elas me


arrastaram, parece que vai ter uma festa.

Eu: Depois te encontro.

Me agachei na calçada e as pessoas que passavam olhavam


para mim preocupadas com o meu choro.

Johnny: Como assim?

Johnny: Por que não veio me dizer?

Sabia que ele tinha ficado magoado e chorei mais ainda.

Sentindo uma dor no meu peito, por tê-lo machucado, por


ter afogado de novo, por me sentir covarde. Olhei para meu
braço arranhado e chorei mais ainda.

Ele digitou e depois parou, digitou de novo e depois parou.

Por último as mensagens finalmente chegaram.

Johnny: Desculpa pelo surto. Fiquei preocupado.

Johnny: Se diverte com as suas amigas, princesa.

Johnny: Me manda mensagem quando quiser ir embora,


por favor. Eu vou te buscar.

Johnny: Não importa a hora.

Ele digitou mais uma vez, mas não enviou mais mensagens.

Nem eu.
Continuei no chão, sentindo meu corpo se acalmar da
adrenalina. Eu só queria correr para ele, só queria deitar
minha cabeça no seu peito e ouvir que tudo ia ficar bem.
Deixá-lo expulsar todo o mal de mim, mas eu não podia.

Aquele era o meu problema. Eu ainda era uma criança ou


me comportava como uma. Sempre dei os meus problemas
para os outros, deixei meu pai lidar com a situação dela e
nunca assumi a responsabilidade. Eu nem mesmo sei por
que ele deixou de pagá-la, nunca quis me envolver, mas
aquele assunto era meu. E de ninguém mais.

Era tão covarde. Eu planejei aquele momento, quando


finalmente fosse encontrá-la, eu queria ter dito coisas
horríveis de volta, queria afrontá-la. E o que eu fiz? Fugi.
Como uma maldita criança.

Eu tinha que parar de colocar meus problemas nas costas


dos outros. Já era uma mulher de 22 anos. Uma mulher
fraca, mas ainda assim uma mulher. Não iria ligar para
Lindsay, não pediria dinheiro para o meu pai. Não deixaria
Margo se sustentar a vida inteira às minhas custas.

Uma hora aquilo iria parar e seria agora.

Levantei do chão e continuei a caminhar sem rumo. Em


algum momento minhas pernas começaram a doer e meu
rosto ainda ardia do tapa que ela me deu, mas não parei.
Queria sentir os braços do Johnny em mim, mas eu não iria
empurrar os meus problemas para ele.

Acho que foi aí que decidi finalmente lidar com aquilo. Acho
que foi ali que surgiu uma coragem em mim. Ela atrapalhou
minha
infância, parte da minha adolescência foi perturbada e
minha vida adulta era cheia de pesadelos. Mas alguém
estava me ensinando a nadar, eu iria ser forte por mim e
por ele.

O choro não parou, chorei sem parar, chorei até soluçar.

Chorei por me sentir fraca, chorei por querer ser forte,


chorei por ter machucado Johnny com aquelas mensagens,
chorei por não ter assumido o controle antes e chorei por
ainda permitir que ela me afetasse desse jeito.

Acho que deixei de ser criança quando descobri que os


adultos também choravam e me permiti ser adulta quando
aceitei que é normal chorar como uma criança às vezes.

Aquela era a minha vez. Eu quebrei em mil pedaços.

JOHNNY JACKSON

Quando Amber disse que foi embora com as amigas que


encontrou sem nem me dizer nada, senti que tinha levado
um soco no estômago.

Eu não vi problema nenhum em ela sair com as suas


amigas, mas ela não ter se dado ao trabalho de me avisar,
sendo que estava no mesmo lugar que ela, me fez sentir um
idiota.
Fiquei preocupado procurando-a por todo lugar, cheguei a
acionar a segurança e até invadi o banheiro feminino. Ela
poderia simplesmente ter ido até mim e avisado.

Mas me segurei, não disse que fiquei magoado. Tinha


acabado de entrar em um relacionamento com ela, não
queria parecer controlador ou algo do tipo. Tinha me
apaixonado muito rápido e talvez o jeito que eu me
comportava com ela acabasse assustando-a.

Tinha plena consciência de que não sabia disfarçar. Talvez


ela até já tivesse percebido. Ou ela pode gostar das coisas
mais

casuais, leves e eu esteja estragando tudo sendo intenso


demais.

Quando deu 17 horas, eu disse a mim mesmo que não iria


ficar indo atrás dela, nem mostraria que doeu ela não ter
tido a consideração de me avisar. Iria apenas esperar ela
me mandar mensagem pedindo para buscá-la. E esperava
que ela realmente mandasse, porque não queria que viesse
sozinha e provavelmente alcoolizada.

Quando percebi que eram 19 horas, eu sabia que ela não


responderia mais minhas mensagens e repassei cada
palavra que disse durante o dia. Tentando desvendar se de
alguma forma a chateei ou falei algo que não devia. Mas
achei que estava tudo bem, a última coisa que ela me falou
foi que ia ao banheiro e ainda me chamou de amor.

Quando chegou às 21 horas, comecei a me preocupar. Tinha


uma voz na minha consciência que ainda dizia para não ir
atrás dela e dar uma de namorado psicopata. Mas tinha
outra parte minha que queria desesperadamente pegar o
carro e sair procurando-a, só para saber se estava bem.
Ninguém nem me veria, só precisava olhar de longe e ver se
nada aconteceu.

Não me aguentei e comecei a mandar mensagens de novo.

Eu: Acha que vai demorar ainda?

Depois de ter passado meia hora sem resposta, perdi toda a


dignidade.

Eu: Me responde, por favor.

Eu: Não quero dar uma de stalker ou controlador, só queria


saber se você está bem.

Eu: De verdade.

Eu: Não pega carona com ninguém que tenha bebido. Me


liga, eu te busco.

Eu: Sério, em qualquer horário, em qualquer lugar. Eu te


busco, princesa.

Eu: Não importa onde você esteja.

Comecei a digitar outra mensagem, mas achei que já era


demais. Depois que li o que escrevi fiquei com vontade de
apagar tudo. Meu Deus, esperava com todo coração que
não a tivesse assustado daquela vez, no mínimo pensaria
que eu era um maníaco.

Provavelmente estava querendo se divertir e eu aqui


querendo estragar a noite dela.

Me joguei na cama frustrado e passei a mão no meu cabelo,


bagunçando-o. Meu peito doía de um jeito estranho. Estava
preocupado.
Que merda.

Quando olhei para o relógio do lado da minha cama e vi que


eram 22:30. Liguei o foda-se. Levantei e peguei a chave do
carro. Iria procurá-la.

Se ela quisesse chutar minha bunda ou me achasse maluco,


era melhor do que ficar pensando no que poderia ter
acontecido. Iria só ver se estava bem, caso estivesse,
simplesmente me manteria distante, ela nem mesmo me
veria.

Quando entrei no carro o meu celular começou a vibrar e


atendi logo no primeiro toque, desesperado.

— Alô?

— Johnny? — A voz de Amber saiu quase como um sussurro


e meu peito doeu, meu corpo inteiro, porque soube que ela
não estava bem.

— Onde você tá? — perguntei já ligando o carro. — Estou


chegando, só me diz onde você está, princesa.

— Meu celular tá descarregando. Eu não queria ficar te


incomodando...

— Pelo amor de Deus, Amber! Me diz agora onde você tá —

implorei, ignorando o absurdo sobre estar me incomodando.

Assim que ela passou o endereço, a ligação caiu. Acho que o


celular dela descarregou e fiquei mais nervoso ainda,
porque ela estava em um parque distante pra porra. Àquela
hora da noite era perigoso e pelo silêncio, não deveria ter
ninguém.
Mas que merda ela estava fazendo lá?

Acho nunca dirigi tão rápido na vida. Meu coração estava


batendo forte e minhas mãos suavam no volante. Estava
muito, muito preocupado. Era até assustador ficar
preocupado com alguém assim, uma pessoa ter tanta
importância na sua vida ao ponto de te deixar daquele jeito.

E conversaria com ela exatamente sobre aquilo. Estava


puto, ela nunca mais faria algo assim. Nunca mais. Que
porra.

Bati com força no volante, frustrado. Eu estava demais


nisso.

Ela não podia simplesmente brincar de andar as dez da


noite em um parque perigoso pra caralho, provavelmente
sozinha, sem me matar no processo. Sentia que estava a
ponto de infartar.

Que merda. Continuei a bater no volante com força e


infringir todas as regras de trânsito, até finalmente chegar
ao maldito parque escuro. A iluminação pública já tinha se
apagado, a única luz vinha da lua.

Desci do carro sentindo meu corpo suar mesmo estando


muito frio. A minha pele se arrepiou quando corri pelo
gramado, procurando por ela. Não sei quantos graus estava
fazendo, mas rezava para que ela tivesse trazido um casaco
ou perderia a cabeça ali mesmo.

O parque estava completamente vazio, não tinha ninguém.

Peguei o celular para tentar ligar de novo, sem parar de


correr até que a vi.
Ela estava encolhida embaixo de uma árvore distante,
parecia estar morrendo de frio. E senti minhas pernas
falharem com o impacto. Porque ali eu soube.

Eu a amava.

Não sei como aconteceu, mas a amava. Não era uma


paixonite, não era um sentimento passageiro. Era algo cru e
real. Eu estava fodido. Muito. Porque não conseguia
imaginar um dia da minha vida que não fosse com ela.

Corri em sua direção como um louco e ela levantou o olhar


para mim. Doeu ver que estava chorando, seus olhos
estavam inchados como se tivesse chorado o dia inteiro.

Quando percebeu que era eu, se levantou do chão e quase


caiu, estava fraca. Mas ela veio na minha direção com tudo.
Correu para mim tão desesperada como eu estava correndo
para ela.

E ali, naquele parque, nós nos encontramos. E quebramos


juntos.

Quase caí para trás com a força com que ela se jogou em
mim, mas a peguei. Sempre a pegaria. Sempre, porra.

Suas pernas enlaçaram minha cintura e eu a segurei com


desespero, respirando pela primeira vez desde que a perdi.
Todas as partes do corpo dela se encaixavam perfeitamente
em mim, acho que a apertei tanto que estava a um passo
de quebra-la no meio.

Aquela garota tinha nascido para mim, assim como eu fui


feito para ela. Era uma junção perfeita, os meus pedaços se
encaixavam nos seus e formávamos um só. Estávamos
presos um ao outro, antes mesmo de existirmos.
Minhas mãos tremiam quando as passei no seu corpo,
procurando algum sinal de que estivesse machucada.

— Princesa... — chamei tentando fazer com que ela


desagarrasse de mim para eu olhá-la.

— Não me solta. — Amber prendeu mais os braços em volta


do meu pescoço, me apertou com a toda a força que tinha
no corpo.

Quase como ela fazia quando íamos à piscina.

— Nunca. — A segurei mais forte. — Nunca.

— Promete — sussurrou para mim, sua voz rouca, a


garganta devia estar inflamada. — Promete que vai me
segurar quando eu quebrar.

— Prometo. — Encostei minha testa na dela e deixei sua


respiração entrar em mim. — Você também me promete
uma coisa?

— Ela acenou com a cabeça devagar, sem deixar de me


segurar. —

Nunca me deixe.

O que disse a abalou. Nossos narizes se tocaram e o seu


cabelo dançou no ar com o vento. Ela estava ofegante e
segurava meu rosto com as mãos, olhando para mim
hipnotizada, assim como eu olhava para ela.

— Nunca me deixe — repeti rouco. —, se você quiser algum


dia não continuar mais comigo, tudo bem, mas me deixa
ficar. Como amigo, como inimigo, como o que você quiser.
Mas não me deixa.
Não vai embora, nunca — revelei o meu maior medo.

Sua respiração se acalmou e ela alisou minha barba por


fazer com o seu polegar macio. Sua boca veio até a minha e
ela sussurrou com a voz rouca.

— Prometo. As nossas promessas se completam — nossas


testas estavam grudadas e entrelacei meus dedos nos dela
—,

porque se eu te deixar, sinto que quebraria.

A beijei. Minha boca capturou a dela, sua língua entrou na


minha boca e a chupei, sentindo o calor da sua boca contra
o frio da noite.

E aquilo me fez lembrar que ela deveria estar morrendo de


frio. Interrompi o beijo, nos deixando ofegantes.

— Tá com frio? Alguém mexeu com você?

— Não. Ninguém mexeu comigo, mas estou com frio.

Olhei melhor e ela parecia frágil. Cansada. Como se tivesse


corrido o dia inteiro. E chorado. Nem sei se ela chegou a
comer.

A coloquei no chão, tempo o suficiente para tirar a minha


camiseta e vestir nela. Quando a cobri, peguei-a de novo,
mas dessa vez no colo. Amber não lutou, apenas se
aconchegou em mim e caminhei até o carro.

Coloquei-a no banco do passageiro e dirigi até a lanchonete


mais próxima. Achava que ela precisava comer e beber
alguma coisa primeiro, não sabia o que tinha acontecido
ainda, mas era quase certeza que não comeu nem bebeu.
Desci rápido do carro e comprei sanduíche, suco de laranja
e batata frita. Quase não me deixaram entrar, por eu estar
sem camiseta, mas assim que me reconheceram aquilo não
foi mais problema.

Amber comeu tudo dentro do carro, estava realmente com


fome. Quando acabou, percebi que estava quentinha e um
pouco melhor.

Decidi confrontá-la.

— O que aconteceu?

— Eu sou tão fraca, Johnny. Tão fraca. — Seu queixo tremeu


e ela começou a chorar silenciosamente.

Me senti angustiado. Tirei o cinto dela e empurrei o meu


banco para trás. Nem precisei dizer nada, Amber subiu em
mim e ficou no meu colo, colocando o rosto no meu
pescoço.

— O que aconteceu, meu amor? — perguntei com todo o


cuidado possível, sabendo que estava frágil.

— Eu encontrei com ela hoje.

Fiquei um momento sem entender, até perceber a quem se


referia. Meu corpo inteiro endureceu e apertei-a mais,
consolando e me sentindo extremamente frustrado, porque
queria ter estado lá para protegê-la.

— Estava me esperando. Conversamos no estacionamento e


ela exigiu dinheiro.

— Já tinha encontrado com ela antes?

Negou com a cabeça e a beijei.


— Sinto muito. — Acariciei seu cabelo, querendo sugar tudo
o que estava sentindo. — Ela fez mais alguma coisa?

— A gente discutiu. Foi breve. Dei um tapa nela e ela me


bateu de volta. Foi isso.

Enxerguei vermelho. Sim, uma vaca desgraçada tinha


batido na minha princesa. Peguei seu rosto com cuidado
para ver o machucado. Dava para ver uma mancha no
rosto, mas era suave.

Beijei de leve o local, querendo apagar o toque e enterrei o


nariz no seu cabelo.

Aquilo nunca mais aconteceria. Ninguém nunca mais a


machucaria ou encostaria um dedo nela.

— Eu tinha tanta coisa pra dizer. Foi um desses momentos,


que você quer ser uma coisa e quando chega na hora não é.
Eu fugi.

— Senti suas lágrimas e a voz dela embargou. — Andei sem


rumo durante o dia inteiro. Eu não fiquei, não disse o que
tinha que dizer.

Fui covarde.

— Tudo bem — confortei. —, às vezes isso acontece. Muitas


vezes já pensei que deveria ter dito algo em uma situação e
não disse. Não saiu na hora, e isso não quer dizer que você
é fraca.

Ninguém deve ser imbatível o tempo todo.

— Eu não fiquei. Corri. Chorei. Não sei fazer isso. — Ela


estava tendo dificuldade para falar por causa do choro. —
Não quero chorar, quero ser forte. Queria ser afrontosa e
saber brigar, mas não sei fazer isso. Fica preso na minha
garganta e quando me dou conta, não falei.

— É porque você é a pessoa com o coração mais lindo do


mundo — contei limpando as lágrimas dela. — Você foi feita
para sorrir, achar alegria em tudo e quer saber de uma
coisa? Isso não te

faz fraca, você pode chorar, pode decidir andar sem rumo
pela cidade, é o seu jeito de reagir, mas isso não quer dizer
que não sabe se defender. Você sabe. É uma mulher forte,
mas do seu jeito.

Ela respirou fundo, tentando parar de chorar.

— Eu tenho que resolver isso — sussurrou rouca, a garganta


ainda devia estar doendo.

— Nós vamos resolver.

Amber encostou a testa na minha e passou a mão na minha


bochecha.

— Ela disse que ia acabar com a minha vida.

Não queria aquela vaca perto da Amber. Podia ser perigosa,


tentou matar uma criança. Sua própria filha, inferno. Senti
um medo diferente de tudo que já senti me possuir e
apertei sua cintura.

— Ela está apenas tentando te fazer medo, pra dar o que


ela quer.

— Acabou, Johnny. Eu sempre empurrei meus problemas


pros outros para mantê-la longe. Mas dessa vez eu não vou
fazer isso.
Quero ela presa pelo que ela fez, se ainda for possível.

Entendi a sua necessidade de assumir o controle, então


calei meu lado protetor, que queria resolver tudo para ela
sem dor e tê-la em segurança. Iria seguir e apoiá-la no que
quisesse.

— Nós vamos atrás disso, amor — concordei feliz por vê-la


parar de chorar.

— Não queria te contaminar com isso. — Sua mão traçou


meu pescoço. — Eu não deixaria ninguém te fazer mal,
Johnny. Nunca.

Faria qualquer coisa por você.

Fiquei atordoado por um momento, porque pelo jeito que


ela me olhava, acreditei. Acho que ninguém, além dos meus
pais, estava disposto a fazer qualquer coisa por mim. E
pensar que, justamente aquela garota que tinha meu
coração, se sentia tão protetora assim comigo, fez meu
peito apertar com amor e até mesmo arrogância.

Segurei sua mão na minha e beijei seu dorso em devoção.

— E eu também nunca deixaria ninguém te fazer mal. Faria


tudo por você.

— Johnny...

— Minha princesa.

— Eu falei sério, vou lidar com isso. Não queria nem te


contar o que acon...

— Amber — chamei firme, lembrando da loucura que passei


durante aquela noite. —, nunca mais faça isso. As últimas
horas foram as piores da minha vida. Se você tem um
problema, você me fala, ok? Isso aqui não é uma
brincadeira, não é um namorinho de faculdade, é pra valer.
É pra sempre, entendeu? Eu estou de um jeito que não sei
se tem mais volta. Preciso que você entenda que estamos
juntos em tudo. Se quiser sair caminhando pela cidade, eu
vou junto. Se quiser chorar, choro com você. É simples. Não
minta mais pra mim.

— Me desculpa — sussurrou e beijou meu rosto.

— Eu não estou com raiva — expliquei. —, só não quero


mais que me afaste.

Ela acenou e senti que estava cansada. Já era hora de levá-


la para casa. A coloquei de volta no seu banco e prendi o
cinto de segurança como se ela fosse uma criança. Amber
sorriu de leve pelo meu cuidado e encostou a cabeça no
vidro da janela.

Quando chegamos em casa, a peguei no colo de novo, ela já


estava um pouco dormente. Caminhar o dia inteiro pela
cidade deveria cansar.

Taylor estava na sala e se levantou preocupado assim que


me viu passar com ela nos braços. Lancei um olhar para ele,
pedindo silenciosamente para deixar para amanhã.

Ele também tinha ficado preocupado, procurando por ela no


supermercado, mas engoliu a história que tinha ido embora
com as amigas.

Quando cheguei ao meu quarto, tirei as roupas dela e lhe


dei um banho rápido, sem molhar o seu cabelo. Percebi que
tinha uns arranhões no braço e ela explicou que a
desgraçada a feriu. Ver aquilo fez meu estômago embrulhar.
Amber poderia resolver tudo da sua maneira que a apoiaria,
mas eu não sairia mais do seu lado um único segundo.
Ninguém a machucaria. Nunca mais.

Depois que a vesti com a minha camiseta, fui fazer algo


para ela comer, mas quando voltei Amber já tinha dormido
cansada. Deitei

na cama me sentindo exausto também. Olhei para o seu


rosto adormecido e suspirei.

Eu não era do tipo religioso, nunca fui, mas naquele dia


agradeci a Deus por tê-la trazido para mim. Agradeci por ter
bebido o seu drink, por mais que achasse que a nossa
ligação fosse bem mais antiga.

Peguei uma mecha do seu cabelo entre os dedos e sussurrei


para ela, querendo me infiltrar nos seus sonhos.

— Você é a garota mais forte do mundo pra mim. E não


precisa sair afrontando ninguém pra provar isso. Sua força
está no jeito que você sorri, no jeito que você diz o vem à
sua cabeça, no jeito que é carinhosa ou nas suas
brincadeiras inapropriadas. Sua força está até mesmo no
jeito que você chora. E isso é suficiente, você é suficiente.

E sempre será.

AMBER FOSTER
Fechei os olhos para sentir o sol no meu rosto. Meu cabelo
estava por todo lado, dançando com o vento.

Existia uma certa magia em viajar de carro. E não. Não era


algo bobo. Eu simplesmente adorava colocar uma música
gostosa, pegar a estrada e sentir o vento enquanto
observava a paisagem.

E que paisagem. O sol já estava se pondo, deixando aquele


rastro de cores espalhadas pelo céu, era quase como olhar
para uma pintura.

Johnny queria passar o máximo de tempo com a sua família,


então decidiu que íamos para Nova York logo na sexta, no
fim da tarde. Eu também sabia que, além disso, ele queria
me tirar um pouco de Providence.

Essa última semana fora agitada para nós. Fomos falar com
um advogado para ver a possibilidade da Margo ser julgada,
mas nada foi como queríamos. O primeiro problema era que
tinha passado muito tempo do crime, então eu teria que
provar em júri os abusos. O segundo problema era que
aquelas provas, além do meu depoimento, dependiam de
todos os relatórios de terapia que fiz ao longo dos anos.

E aqui vem o real problema, a clínica que me consultava


desde criança fechou e quando liguei tentando obter
qualquer informação, eles simplesmente disseram que
“tentariam” encontrar,

mas que não garantiam nada, já que fazia mais de três anos
que não funcionavam.

Fiquei extremamente frustrada em saber que o meu


depoimento e talvez até o do meu pai não fossem
suficientes para prendê-la. Fui ingênua também em achar
que teria uma solução de imediato, o julgamento não era
algo rápido e não trazia qualquer garantia com o que eu
tinha em mãos até agora. Johnny chegou a ver se
conseguiríamos alguma coisa com as ameaças por
mensagens, mas o máximo de proteção que me deram foi
uma medida protetiva.

Que para mim, era algo que não servia para muita coisa na
prática. Se alguém quisesse me fazer mal, faria, não seria
um pedaço de papel que impediria isso. Só se ele viesse
com um segurança particular de brinde.

E no meu caso, felizmente, eu tinha um segurança


particular.

Johnny não me deixou só nem por um momento aquela


semana e sabia que, parte disso era por medo de encontrar
com a Margo de novo. Dormimos juntos todas as noites,
minha escova de dente, calcinha e roupas ficaram no quarto
dele. Vivemos uma vida de casados essa semana e eu
adorei. Estava cada vez mais apegada e entrelaçada a ele,
por mais que fossemos completamente opostos.

Eu deixava minhas roupas espalhadas pelo quarto, as dele


eram organizadas metodicamente. E por cores! Eu acordava
de ótimo humor e ele resmungando. Eu queria comer
besteira no café da manhã, ele só coisas saudáveis. Eu
achava engraçado quando os cachorros faziam cocô no
gramado, e bem... Ele não. Eu queria sair todos os dias, ele
só queria passar mais uma noite em casa. Eu não ficava
bêbada, ele com cinco cervejas já estava totalmente aéreo.

Informação importante: Johnny Jackson era a criatura mais


engraçada do mundo bêbado.

Outra diferença nossa que eu tinha que aguentar era o


gosto musical. Incrível como ele só escutava música de
gente morta! Eu já era apaixonada por pop. Ariana Grande,
Dua Lipa, Selena Gomez, Jessie J e afins. Por exemplo, agora
mesmo estou sendo obrigada a

escutar uma banda estranha, que não faço ideia do nome e


os

“cantores” nem mesmo cantam!

— Quando é que esse povo vai começar a cantar? —

resmunguei, querendo chegar na parte do nosso acordo em


que eu começaria a colocar músicas de verdade.

— Os instrumentos precisam de espaço dentro da música —

recitou e revirei os olhos, observando o seu sorriso


presunçoso.

Meu Deus, que cara gato.

Ele estava usando óculos escuros e o seu cabelo macio era


curto, mas chegava a balançar um pouco com o vento. Os
músculos dos seus braços se desenhavam na camiseta
preta de manga comprida que vestia.

Era sexy, por mais que ainda preferisse observar suas


tatuagens.

— Amei o conceito da camiseta de manga comprida, mas


acho que prefiro suas tatuagens de fora — comentei
passando o dedo sugestivamente pelo seu braço.

— Lamento, só vai poder vê-las no nosso quarto. Minha mãe


não gosta, estou condenado às camisetas compridas.

— Você é um bebê — provoquei. — Se meu pai dissesse que


não gosta das minhas tatuagens, acho que andaria de
biquíni só pra provocá-lo.

— Isso é sua cara. Literalmente.

— Sim... E algo que eu incentivo, se você quiser andar só de


sunga esse fim de semana, eu super aprovaria. — Lancei
um olhar apreciativo para o seu corpo e ele respirou fundo.

— Amber... — repreendeu.

— Johnny...

Ele baixou os óculos escuros até o nariz e me olhou de


canto, seu olhar percorreu minhas pernas expostas pelo
meu vestido florido de alcinha, curto e colado ao corpo. Pelo
volume que observei na sua calça, diria que consegui o que
queria.

Sorri satisfeita, mas ele cortou todo o meu barato quando


voltou a prestar atenção na estrada e se remexeu no banco.

— Não vamos transar no meio da estrada — avisou


segurando o volante com força, doido para eu convencê-lo
do

contrário. — Isso seria muito errado.

— Absolutamente — concordei, cruzando as pernas e


fazendo o vestido subir mais. — Muito errado.

Encostei mais no banco e esfreguei minhas coxas uma na


outra, gemendo um pouquinho e respirando fundo.

— Pena que estou sem calcinha...

— Puta que pariu — xingou ofegante.


— ...desse jeito vou melar minhas coxas. Minha boceta está
quase escorrendo agora.

Johnny virou o volante e parou no acostamento. Ele tirou o


cinto e empurrou o seu banco para trás. Tirei meu cinto
depressa, animada para sentar no seu colo, enquanto ele
tirava os óculos escuros do rosto.

Gemi quando sua boca quase engoliu a minha, sua mão


áspera subiu pela minha coxa até alcançar a minha bunda e
apertá-la na sua ereção.

Passei minhas mãos nos seus ombros querendo sentir a pele


dele, mas a camiseta de manga estava me atrapalhando.
Puxei-a e ele levantou os braços para ajudar a tirá-la.

Assim que passou por sua cabeça, parei um segundo para


observar Johnny com os lábios brilhantes e inchados, o
cabelo bagunçado, seu peito tatuado e musculoso subindo e
descendo com respirações pesadas. Mas foi apenas um
segundo, porque logo ele pegou meu cabelo e puxou para
trás, abocanhando meu pescoço.

Sua língua quente e úmida passeou ali, ele chupou e


arranhou tudo com a sua barba, causando arrepio e fazendo
os bicos dos meus peitos endurecerem. Gemi sentindo meu
clitóris latejar, queria esfregá-lo.

Não estava brincando, estava melada e sem calcinha, já


podia sentir a umidade nas minhas coxas.

As lambidas desceram para meu decote e ele puxou meu


vestido para baixo, soltando meus seios. Abocanhou o
mamilo enquanto sua outra mão subia até minha boceta.
Assim que entrou em contato com meus lábios externos
melados, gemeu no meu seio.
— Pelo amor de Deus, quem viaja sem calcinha? —
Empurrou o quadril para cima, dando uma roçada e me
fazendo sentir o seu

pau duro. Cravei minhas unhas nos seus ombros, querendo


arranhá-lo.

— Quem espera ser comida pelo namorado no meio do


caminho — respondi ao me esfregar nele e chupar o seu
pescoço, deixando-o vermelho e babado.

Ele era meu mesmo, podia marcá-lo à vontade.

— Sobe — mandou batendo nos próprios ombros com a


mão.

— Quero meter minha língua bem gostoso na sua boceta


meladinha

— disse, entrando com um dedo em mim, lambuzando-o e


passou a língua no meu pescoço, fazendo com que eu
choramingasse.

Rebolei um pouco no seu dedo, sentindo-o melar mais


ainda, mas logo em seguida saí do seu colo, querendo sentir
a sua boca em mim.

Johnny empurrou o banco mais para trás, deixando-o


totalmente deitado, como uma cama e me esperou subir
nele. Mas não obedeci. Pois minha boca salivou quando vi o
tamanho da sua ereção.

Abri o zíper e soltei seu pau duro pra caralho no meu rosto.

Não resisti, assim que ficou ao meu alcance, o coloquei na


boca. E o chupei de uma vez, deslizando aquela cabeça
grossa e brilhante pelos meus lábios.
Johnny gemeu e agarrou meu cabelo, passando a foder com
a minha boca, com vontade.

— Sobe aqui, mela minha boca — ordenou de novo, sua voz


saindo mais como um gemido.

Apoiei os cotovelos nas suas coxas e coloquei cada perna de


um lado dos seus ombros, depois de muito malabarismos,
consegui ficar na posição 69. Minha boceta completamente
exposta na cara dele enquanto eu ainda mamava no seu
pau.

A respiração quente dele roçou a minha entrada lambuzada


e ele inspirou o meu cheiro, me provocando. Em troca eu
assoprei de leve a cabeça do seu pau toda babada. Quando
Johnny passou a língua no meu clitóris inchado, lambi toda a
base do seu cacete grosso, sugando o a pele e seguindo
para lamber os seus testículos.

Os lábios dele fecharam em torno da minha boceta,


molhando-a e sua língua entrou em mim. Gemi alto e
rebolei na cara

dele sem nenhuma vergonha, suas mãos apertaram meu


quadril e Johnny me deu um tapa na bunda.

E aquilo só me atiçou mais, empurrei mais no seu rosto e


suguei o seu pau com mais vontade, deslizando minha
língua pela cabeça e o sentindo cutucar minha garganta.
Seu gemido entrou em mim e ele começou a circular meu
clitóris com o polegar, enquanto empurrava de leve o pau
na minha boca com o quadril.

Em algum momento minha cabeça encostou no volante e


meu cotovelo bateu na marcha do carro, mas não me
importei com isso.
Quem se preocupava era Johnny, que até nesses momentos
colocava a mão no meu cabelo, segurando-o e impedindo
que me machucasse.

Com a outra mão ele massageou preguiçosamente o meu


clitóris, me torturando. E eu não sabia se o chupava, gemia
ou gozava. Então fiz os três ao mesmo tempo, gozei no
rosto dele, gemendo enquanto chupava o seu pau.

Meu corpo tremeu todo com a onda de prazer que escorria


em mim e precisei me segurar nas suas coxas para não cair
ali com o impacto do orgasmo. Johnny deu um tapa de leve
na minha bunda, chamando minha atenção.

Tirei o seu pau da boca e olhei para ele por cima do ombro,
quase não dando para vê-lo por conta da minha bunda que
tampava boa parte do seu rosto.

É, tinha virado uma contorcionista.

— Não quer gozar também? — Apontei para o seu pau


ansioso, que pulsava na minha frente.

— Quero, mas estou mais a fim de gozar dentro de você.

Monta em mim.

Ele começou a empurrar mais o seu jeans para baixo e a


sentar o banco do motorista. Não perdi tempo. Mudei de
posição e fiquei de frente para ele, montada no seu colo.
Quando me segurei nos seus ombros suados, ele já estava
melando a cabeça do seu pau na minha boceta gozada.

Desci com vontade, sentindo-o deslizar com facilidade e me


esticando toda. Gemi na sua boca e ele me beijou, sugando
minha língua, estocando em mim. Era demais, meu corpo
inteiro arrepiou e
quiquei no seu colo como uma desesperada, trancando e
lambuzando todo o seu pau dentro de mim.

Estava completamente molhada, tanto que sentia escorrer


pelo pau do Johnny, enquanto ele gemia na minha boca e
estocava com o quadril freneticamente, tão ansioso quanto
eu.

Uma das suas mãos subiu e baixou mais ainda o meu


vestido florido, até a cintura, soltando completamente meus
seios no ar, deixando-os balançar a cada estocada violenta.

Tinha certeza que o carro estava balançando também. Era


meio óbvio para quem passasse que estávamos fodendo
com gosto, nem nos demos o trabalho de subir o vidro. O
lado bom era que a estrada parecia estar deserta.

Johnny abocanhou meu mamilo arrepiado e segurei seu


cabelo, puxando-o mais para mim e o deixando me babar
toda. Desci no seu pau, que parecia bater bem no ponto em
que precisava para eu gozar de novo. Ia tão fundo, me
cutucando e preenchendo em todos os cantos.

Ele segurou minha bunda com mais força e passou a


estocar mais rápido. Gemi arranhando as suas costas,
querendo marcá-lo e ele fez a mesma coisa comigo, subindo
suas chupadas e arranhando todo o meu pescoço e colo.

Seu polegar desceu e apertou de leve meu clitóris. Foi meu


fim. Rebolei como uma louca, suada, desesperada e gozei
de novo.

E ele cumpriu a promessa, pois logo em seguida gozou


dentro de mim, foi gostoso sentir sua porra me enchendo.
Pra caralho.
Respiramos fundo, tentando recuperar o fôlego com as
testas coladas.

— Acabamos de fazer um 69 no meio da estrada? — ele


perguntou ofegante e divertido.

— Se tivéssemos parado só no 69...

Nos olhamos e caímos na risada juntos. Ele puxou meu


corpo mole mais para perto do seu, me abraçando e
mordendo de leve o meu pescoço.

— Você deveria ser menos gostosa — Cheirou minha pele e


me arrepiei toda. —, ou menos cheirosa.

Sua mão acariciou minha bunda por baixo do vestido e


beijei os seus ombros arranhados.

— Digo o mesmo de você — murmurei colocando o nariz no


seu pescoço e inalando seu cheiro de hortelã.

— Acho que te arranhei toda — falou olhando para mim.

Me afastei dele e olhei para baixo vendo que meus seios


estavam realmente babados, vermelhos, arranhados e
cheios de marcas de chupões.

— Meu Deus! — exclamei realmente preocupada. — Como é


que vou conhecer minha sogra desse jeito?

Johnny riu e dei um tapa no seu ombro em reprimenda. Já ia


começar a rir também, mas ele me puxou de uma vez para
seu peito, tampando os meus mamilos nus da vista do carro
que parou ao nosso lado.

Era um casal na faixa dos quarentas anos. Acho que iam


oferecer ajuda, mas quando viram o que estávamos fazendo
ficaram vermelhos de vergonha. A mulher colocou a mão na
boca, horrorizada e o homem se inclinou mais, para tentar
espiar os meus seios que estavam muito bem protegidos no
peitoral do Johnny.

Meu namorado cobriu mais minha pele com o braço e


lançou um olhar assassino para o homem, que temeroso já
se preparou para sair.

Não aguentei, sorri alegre para eles e acenei. A mulher


balançou a cabeça em negação para mim, enquanto o carro
deles seguia pela estrada.

— Que filho da puta — resmungou Johnny zangado


enquanto subia o meu vestido.

Saí de cima dele e sentei no meu assento para ajeitar a


minha roupa. Quando olhei para fora, percebi que o sol
estava quase se pondo completamente, faltava só uma
pequena pontinha e perdi o fôlego com a visão.

O céu estava mesclado entre rosa e um azul suave, algumas


estrelas já brilhavam, esperando a noite chegar. E elas
brilhavam tanto que me senti tocada por elas.

Era perfeito.

— Johnny... A gente tem que esperar o sol se pôr — chamei,


já abrindo a porta do carro e saindo.

Johnny desceu do carro também, ainda sem camiseta e me


abraçou por trás, descansando o queixo na minha cabeça.

— A gente não pode ir sem o sol se pôr — avisei.

— Por quê? — perguntou se inclinando para beijar meu


ombro.
— Porque ele está se pondo, na nossa frente — Apontei para
o céu. —, seria grosseiro da nossa parte não parar pra ver.

— Faz sentindo.

Não fazia. Mas ele conseguia dar sentido a todas as coisas


que saíam da minha boca. Ele topava todas as minhas
loucuras, ele me segurava quando eu queria chorar e ria
comigo quando era preciso.

Eu o amava. A compreensão desse sentimento me


preencheu de uma forma que eu soube ali, era para sempre.
Não teria um dia da minha vida que não o amaria, sentia
como se já o amasse antes mesmo de conhecê-lo.

Ficamos abraçados vendo o sol sumir e o azul tomar conta


do céu. Acho que por estarmos no meio da estrada, as
estrelas brilhavam mais forte ali. Me senti banhada por seu
brilho, como uma benção divina.

Fechei os olhos por um momento e me aconcheguei mais


nele.

Eu te amo.

Estava na ponta da língua, mas não falaria isso agora, era


muito cedo para ele sentir o mesmo, provavelmente só o
deixaria desconfortável.

Me virei e beijei-o, passando os braços no seu pescoço.

— Você é tudo pra mim — declarei na sua boca. Se não


podia dizer o que queria, podia contar essa outra verdade.

Seus braços me apertaram mais contra si e ele colou nossas


testas, encostando o nariz no meu.
— Você também é tudo pra mim, princesa. — Acariciou
suavemente o meu rosto. — Não tem nem ideia do quanto.
Você é a coisa mais preciosa da minha vida.

Beijou minha testa com ternura e me abraçou. Ficamos ali


por mais um tempo até decidirmos entrar de novo no carro
e seguir viagem.

Quando já estávamos chegando ao hotel, fiquei


subitamente nervosa.

— Me fala deles de novo — pedi, tentando pentear o meu


cabelo com os dedos.

Johnny pegou minha mão na sua e a beijou.

— Acho que nem adianta relembrar, você não conseguiria


decorar tantos nomes. Tudo o que tem que saber é que
tenho duas tias por parte de mãe e dois tios por parte de
pai.

— E um milhão de primos — completei. — Certo. Estou


lembrada. Só não consigo lembrar os nomes, o único nome
que não esqueço é do seu tio Arnold, mas só porque é o
mesmo nome do meu pai.

— Relaxa, princesa. Eles vão te adorar assim que você gritar


na cara deles.
Dei um tapa no seu ombro e o babaca riu.

— Por que eu gritaria na cara deles?

— Talvez você fale um pouco alto demais...

— Isso é um mito — rebati.

— Meus ouvidos que o digam — murmurou baixinho.

— Como é? — desafiei-o a repetir.

— Olha só, chegamos. — Apontou para o prédio chique à


nossa esquerda.
Parece que o noivo da prima do Johnny tinha alugado todos
os quartos de um hotel luxuoso em Upper East Side, onde
aconteceria o casamento e todos os convidados ficariam
hospedados.

Johnny levou nossa bagagem para a recepção e depois me


arrastou imediatamente para o bar do hotel, onde a família
dele estava reunida.

— Não acha melhor trocar de roupa antes? —perguntei


enquanto ele me trazia pela entrada. — Estou parecendo
uma louca, não quero ser apresentada desse jeito.

— De que jeito? — perguntou sem entender.

Revirei os olhos. Homens.

Quando entramos pelo bar pouco iluminado e luxuoso, vi


um grupo de pessoas acenando freneticamente para Johnny.
Ele acenou de volta e me levou até lá.

Era definitivo, tinha um milhão de primos. Era tanta gente


me abraçando e dando beijinhos no rosto que fiquei
perdida, não tinha como decorar o nome de todo mundo.
Então usei a mesma frase

“Oh, você é o primo (a) do Johnny? Ele falou tanto de você”.

Ele não tinha falado.

Os tios eu até consegui distinguir porque tinham só dois e


eram por parte de pai. Um deles tinha o nome do meu pai,
então era fácil.

— Oh, mas que moça bonita! — Tio Arnold me abraçou


nitidamente bêbado, segurando uma cerveja.
Ele tinha uma barriguinha acentuada e era careca, mas
parecia muito simpático.

— Como vai? — gritei no seu ouvido no meio da música e o


homem se assustou.

— Você tem uma garganta boa. — Ele sorriu para mim


coçando o ouvido em que gritei.

— Você não tem ideia, tio. — Johnny passou os braços pelos


meus ombros, já bebendo uma cerveja. — Se você a visse
em ação mais cedo...

Bati minha mão “sem querer” na cerveja do meu namorado,


o sujando todo.

— Meu Deus, amor — falei fingindo lamentar e tirando a


cerveja da mão dele. — Tome mais cuidado.

Dei um gole de respeito na cerveja, estava morrendo de


sede.

Mas assim que quase esvaziei a garrafa, vi que quase todos


os seus

primos estavam me olhando impressionados.

— Você definitivamente estava com sede — pontuou o outro


tio do Johnny.

Acenei sorrindo para ele, foi quando enxerguei outro homem


caminhando na nossa direção e se atirando em cima do
meu namorado.

Deveria ter uns quarenta e poucos anos e era quase uma


versão mais velha do Johnny. Deduzi que fosse o seu pai.
— Meu garoto! — O pai do Johnny o puxou pelos ombros e
começou a apresentá-lo para outras pessoas no bar que
estavam por perto e queriam tirar uma casquinha do astro
do hóquei.

Tive que rir daquela cena. Johnny tinha me contado que o


Sr.

Jackson era um grande fã de hóquei, desde pequeno, então


acho que o seu filho deveria ser o seu maior orgulho. Era
engraçado como ele o apresentava para as pessoas que o
reconheciam no lugar, quase dizia “Oh, esse é Johnny
Jackson, vocês o conhecem? Pois é, ele é meu filho. O seu
filho joga hóquei? Não? Patético”.

Enquanto o seu pai seguia com a sua exibição, me enturmei


com os milhares de primos.

— Pai, essa é minha namorada. — Johnny passou o braço na


minha cintura quando conseguiu arrastar o homem de volta
para nossa mesa.

— Mas que moça bonita! — O Sr. Jackson me abraçou.

— Obrigada. Prazer em conhecê-lo, Sr. Jackson.

— Pode me chamar de Thomas — corrigiu o meu sogro.

— Oh, você bebe? — perguntou uma tia de Johnny que tinha


acabado de chegar com um balde de cervejas geladas.

— Um pouco. — Tentei me fazer de tímida e afastei minha


garrafa vazia pela mesa.

Johnny riu no meu ombro e peguei outra cerveja, dando um


gole.
— Garota, cuidado. — Uma prima do Johnny riu para mim. —

Vai ficar bêbada desse jeito.

— Oh, não — garanti, tranquila. — Só estou com sede


mesmo, foi uma viagem longa.

— Ela nunca fica bêbada — esclareceu Johnny, me


abraçando por trás.

— Nunca? Duvido. — Um primo que não decorei o nome


estava incrédulo, me vendo dar mais um gole e quase
esvaziar a garrafa.

— Estou só dando um gole — gritei para ele no meio da


música. — Vou subir para tomar banho. Estou toda
descabelada.

— Você está toda vermelha aqui, querida. — A tia que


trouxe o balde apontou para o meu pescoço e decote.

É. Estava chupada, mordida, arranhada. Que ótimo, eles


devem pensar o que de mim agora?

— Mosquitos. — Foi a primeira coisa que pensei. — Viajamos


de janela aberta.

— Sim, Amber é sempre muito picada — Johnny lamentou


olhando descaradamente para as manchas dos meus peitos.

Iria matá-lo. Por mais que estivesse prendendo o riso.

— Oh, querida, é bom usar um pouco de repelente. — Sua


tia ajudou e me olhou com pena.

— Usarei — garanti puxando o braço de Johnny para


subirmos. — Não serei picada tão cedo.
— Aonde vocês vão? — Uma prima bem divertida de Johnny
chegou nos abraçando e impedindo nossa saída. — Vamos
dançar um pouco.

— Bem... — Olhei para a pista de dança e fiquei com


vontade de dançar mesmo.

Só um pouquinho, não custava nada... Não. Iria me


comportar, eles já me viram virando duas garrafas, já
deveriam estar pensando só o pior de mim.

— Você curte tequila? — perguntou a prima ainda agarrada


em nós.

Oh, Deus, o senhor está de prova que tentei, mas a


tentação foi maior.

— Eu tomo um pouco. — Me fiz de recatada, mas Johnny


estragou tudo rindo.

— Fechou! — A prima dele gritou e me arrastou para o bar.

Descobri que o nome da garota era Sarah, ela era cheia de


tatuagem, com o cabelo rosa tingido, usava roupas
provocantes e bebia altas doses de álcool. Deveria ser a
vergonha da família. E era com ela mesmo que eu ia me
juntar.

Nós duas viramos duas doses de tequila e fomos dançar


depois.

Deveria me comportar. Sei disso, não queria passar


vergonha com a família do meu namorado. E
definitivamente, não deveria beber mais uma dose de
tequila. Porque a verdade era... Eu nunca ficava bêbada.
Nunca.
A não ser que a bebida em questão fosse tequila.

JOHNNY JACKSON

Amber Foster estava bêbada.

Achei, sinceramente, que era impossível. Por quê? Já a vi


beber, ela virava garrafas atrás de garrafas, e acredite, não
ficava bêbada. Era quase um super poder da minha
namorada cachaceira.

Mas parece que duas cervejas e três doses de tequila foram


suficientes dessa vez.

— EU AMO ESSA MÚSICA. É A MINHA FAVORITA — Amber


gritou no meu ouvido, e nem vacilei, já estava acostumado
com seus gritos.

Ri e beijei sua cabeça, vendo-a rebolar até o chão,


preocupado com o seu vestido. Ela ainda estava sem
calcinha.

— ESSA É MINHA FAVORITA — repetiu para mim e não me


aguentei, tive que gargalhar.

Toda a música que tocava ela dizia que era sua favorita e
começava a dançar daquele jeito totalmente desengonçado.
Minha responsabilidade no momento era apenas tentar
manter o seu vestido no lugar e evitar que alguém visse a
sua preciosa boceta.

— Ah, sua Coca — Sarah chegou entregando uma Coca-Cola


que Amber pediu para ela.

As duas se deram super bem e eu não estava surpreso.

— AAAAH OBRIGADA — gritou minha namorada para minha


prima e pegou a Coca, dando goles no refrigerante.

Aproveitei aquele momento para levá-la até a nossa mesa


de novo, estava cansado de dançar, queria me sentar um
pouco. Sim, ela me obrigou a dançar todas as suas “músicas
favoritas” com ela.

— Pensei que ela nunca ficasse bêbada. — Tio Arnold


apontou para Amber quando sentamos e a puxei para o
meu colo.

— Não fico — Amber acariciou a careca do Tio Arnold,


parecia pensar em algo —, o senhor tem o nome do meu
pai.

— Pois ele deve ser um homem muito bonito.

— Ele é! E o senhor também. — Amber riu para o meu tio,


dando tapinhas na sua careca.

Quando o largou, ela se virou na minha direção e agarrou


meu cabelo, beijando meu pescoço.

— Johnny... — sussurrou no meu ouvido, mas não saiu como


um sussurro, ela não sabia sussurrar, estando bêbada ou
sóbria.

Toda minha família riu do seu ataque.


— Sim, meu amor?

— Não me deixe passar vergonha com a sua família.

— Jamais. — Ri e a apertei mais na cintura.

Oh, mas eu iria provocá-la sobre esse dia para sempre.

Amber bebeu mais sua Coca e tentou sentar direitinho no


meu colo, mantendo a postura ereta e fazendo o seu melhor
papel de boa moça. Que não durou nem um minuto, porque
assim que terminou seu refrigerante deu um arroto alto e
fofo. Olhamos para ela em susto.

Minha namorada colocou as mãos na boca e deu aquelas


gargalhadas gostosas dela.

— Isso sim é um arroto. — Sarah apareceu do nosso lado e


deu tapinhas nas costas de Amber, em aprovação.

— Oh, eu sou muito boa nisso, consigo arrotar o alfabeto


completo.

Meus parentes olharam ansiosos para ela, esperando o


show.

Até eu estava. Em menos de 20 segundos apareceu outra


Coca nas suas mãos e Amber bebeu um pouco, se
preparando para nos mostrar o seu talento.

— A... B... C... — Bebeu mais um pouco, passando a arrotar


alto e meus primos bateram palmas para ela.

— Você é tão talentosa, minha princesa. — Beijei seu


pescoço e Amber olhou para mim sorrindo, feliz.

Me levantei para pegar uma água para ela, mas no meio do


caminho enxerguei minha mãe vindo até nós. Fui em sua
direção e a abracei forte, estava com saudade.

— Mas vocês nem subiram? — perguntou quando a larguei.

— Deveriam ter descansado antes de vir pro bar —


repreendeu e olhou ansiosa por cima do meu ombro. —
Quem é sua namorada?

Olhei para trás e observei perplexo Amber continuar a


recitar o alfabeto em forma de arroto bem no rosto do Tio
Arnold, que ria dela.

— É aquela que está arrotando na cara do Tio Arnold. —

Apontei para a cena.

— Meu Deus, você nem deixou a menina subir pra pentear o


cabelo. — Bateu no meu ombro e ri, porque Amber estava
toda descabelada.

— Daqui a pouco eu subo com ela.

— Ela parece ser divertida.

— Ela é — afirmei olhando para minha princesa maluca.

— Então... Posso criar expectativas? — perguntou alegre. —

Vocês são sérios mesmo?

— Somos pra sempre. — Ela ficou muda com a minha


declaração. — Eu a amo, mãe.

Seus olhos escuros se arregalaram, mas logo em seguida


ela abriu um sorriso e voltou a observar Amber.

— Eu fico tão feliz por você, querido. — Minha mãe sorriu,


mas depois pareceu pensar em algo, pois voltou a me olhar
receosa.

— Ela sabe de tudo? Sobre o que aconteceu no passado?

Engoli em seco, porque ainda não tinha tido aquela


conversa com Amber.

— Não — falei e minhas mãos suaram de nervosismo.

— Só estou perguntando, porque se ele resolver aparecer


amanhã, é bom avisá-la antes, meu bem.

Estralei meu pescoço, não querendo tratar daquele assunto


ali.

— Eu vou contar — garanti. — , na hora certa.

— Não vamos falar mais disso. — Minha mãe sorriu para


mim e pegou minha mão, puxando-me de volta à mesa. —
Quero conhecer minha futura nora.

A levei até Amber, que ainda recitava o alfabeto em forma


de arroto.

— Princesa — gritei no seu ouvido e ela virou para mim


sorrindo. — Essa é minha mãe.

O rosto de Amber se iluminou e ela deu aquele seu sorriso


espontâneo e bobo para minha mãe, que se apaixonou
imediatamente pela minha namorada.

— Ahhhh, a senhora é gatíssima! — Amber a abraçou e


gritou no ouvida da sogra.

— Você também é linda... — Minha mãe disse admirando-a


de cima a baixo. — Querida, você tá toda vermelha. —
Apontou para o decote, cheio de chupões, da minha
princesa, preocupada.
— Seu filho andou me picando...

— Meu Deus, mas como tá tarde — Me apressei a


interrompê-la. —, acho melhor subirmos.

— Ah, não — Amber resmungou para mim. — Essa é minha


música favorita — disse, ouvindo a próxima música que
começou a tocar. — Vamos dançar!

Minha namorada arrastou minha mãe para dançar com ela e


fiquei apenas de longe, rindo com minha família, mas
sempre de olho, observando se alguém se aproximava
demais dela.

Sabia que Amber me mataria amanhã por apresentá-la


bêbada a todos da minha família, mas agora ela só queria
dançar e tinha certeza que estava falando todo tipo de
besteira no ouvido da minha mãe.

Quando Amber começou a bocejar, me despedi do pessoal e


fui até ela, pronto para coloca-la para dormir.

— Vamos pra cama já? — perguntei gentilmente para ela, a


abraçando e beijando sua cabeça. Amber se aconchegou
em mim e bocejou.

— Mas eu queria dançar mais um pouco — falou com os


olhos sonolentos. — Essa é minha música favorita.

Minha mãe riu e a abraçou, se despedindo dela e seguiu


para nossa mesa.

— Será que ela gostou de mim? — Amber gritou no meu


ouvido enquanto eu a arrastava para fora do bar.

— Amou — confirmei e segui com ela até o elevador.


Quando entramos no nosso quarto luxuoso ela ainda estava
agarrada em mim, sonolenta, coloquei-a sentada na cama e
me ajoelhei para tirar os seus sapatos.

— Você vai me pedir em casamento? — perguntou ainda


bêbada.

Seu cabelo estava todo bagunçado e ela tinha uma cara de


menina sapeca. Não resisti, me inclinei e beijei a ponta
arrebitada do seu nariz.

— Ainda não. Mas daqui alguns anos, sim, princesa.

Ela acenou com a cabeça em concordância e eu sabia que


amanhã nem se lembraria dessa conversa.

— Vamos fazer xixi e tomar banho? — convidei como se


estivesse conversando com uma criança que se põe para
dormir.

Amber caminhou até o banheiro e levantou os braços,


esperando-me tirar o seu vestido. Tirei a sua roupa,
deixando-a completamente pelada na minha frente. Meu
pau endureceu irritado dentro da calça, mas o ignorei.

— Nós vamos transar? — Ela bocejou e se sentou no vaso,


fazendo xixi.

— Não, vamos dormir — respondi passando o creme dental


na escova de dente que achei na sua mala.

— Você tá me vendo fazer xixi — murmurou horrorizada


quando se deu conta do que estava fazendo no vaso, mas
logo em seguida riu.

— Estou.
Quando terminou ela se levantou do vaso e seguiu para o
box do banheiro, meio zonza. Me apressei e peguei-a pela
cintura, com medo dela cair.

— Calma aí, vou entrar contigo, princesa — avisei a


sentando de novo no vaso fechado e tirando minhas
próprias roupas para segurá-la no banho.

— Você tem um corpo tão bonito — admirou enquanto eu


ficava só de cueca na sua frente.

— Você também — devolvi, tentando controlar o tesão que


subia em mim por vê-la nua.

Quando tirei toda a roupa, a puxei para dentro do box e


liguei o chuveiro, deixando a água cair sobre nós, fazendo-a
se aconchegar mais em mim. Ela descansou a cabeça no
meu peito e permitiu que eu a banhasse.

Molhei o seu cabelo e o lavei com o shampoo e


condicionador que tinham ali, enterrando os dedos dentro
dos seus fios e a ouvindo suspirar de prazer. Não era algo
sexual, estava mais para um carinho. Um carinho gentil e
prazeroso.

Ela fechou os olhos e se deixou ser mimada. Quando


terminei, a enxuguei e Amber estava tão manhosa que
acabei a pegando no colo e a levando até a pia, para
escovar os dentes.

Isso ela quis fazer sozinha, então a deixei no banheiro e fui


pegar na sua mala uma camiseta minha — viraram os seus
pijamas preferidos — e sua escova de cabelo. Coloquei uma
calça moletom e a esperei sentado na cama.

— Acabei — ela falou aparecendo na porta do banheiro e


perdi o fôlego por um minuto.
Incrível como ela parecia a coisa mais linda do mundo para
mim, mesmo estando vestida apenas com um roupão
branco simples e com o cabelo todo molhado.

— Escovou direito? — perguntei com carinho e ela veio até


mim abrindo a boca para mostrar os dentes, com um olhar
divertido.

— Muito bem, agora o pijama — brinquei, beijando sua mão


macia.

Amber tirou o roupão ficando nua na minha frente de novo e


meu pau chorou, mas apenas balancei a cabeça em
negação e vesti minha camiseta nela. Depois de vesti-la
para dormir, me encostei na cama e abri minhas pernas, a
puxando para ficar entre elas.

E ela veio, ficou de costas para mim, sentada entre minhas


pernas abertas.

— O que você tá fazendo? — perguntou rindo.

— Penteando seu cabelo — respondi, primeiro secando o


seu cabelo levemente com a toalha para depois penteá-lo.

Peguei uma mecha e passei a escova suavemente por ela,


da raiz até a ponta, segurando seu cabelo para
desembaraçar os fios.

Seu cheiro me embriagou e beijei sua cabeça. Ela encostou


mais em mim, respirando fundo e descansando a cabeça no
meu ombro, me deixando escovar seu cabelo em silêncio.

Amber parecia quase um gato recebendo carinho, sempre


que a escova entrava nos seus fios, ela inclinava o rosto
para trás, em prazer. Peguei o seu cabelo pesado e macio
entre os dedos, sentindo-o deslizar.
— Você tem o cabelo lindo — sussurrei em elogio, mas
parece que acertei bem em cima de um gatilho dela, pois
lágrimas silenciosas começaram a descer pelas suas
bochechas e seu queixo tremeu levemente.

Um segredo sobre Amber Foster que aprendi: Ela adorava


que todos ouvissem o seu riso, ele era alto e chamativo,
mas quando chorava, ela fazia isso em silêncio.

Abracei-a apertado por trás e beijei o seu rosto, sem saber o


que tinha dito de errado.

— Princesa? Falei alguma coisa errada?

Amber chorou mais ainda e balançou a cabeça, negando.

— Não. — Engoliu em seco e toquei o seu queixo, fazendo-a


virar o rosto na minha direção.

Foi um soco no estômago ver os seus olhos inchados e


vermelhos. Encostei a testa na dela, roçando nossos narizes
e limpando sua bochecha com o meu polegar.

— Meu cabelo é lindo. Eu adoro ele — disse em um sussurro


sufocado e outra lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.

— É sim — concordei, sem saber por que isso a fazia chorar.

— Você é toda linda.

Ela suspirou e encostou a cabeça no meu peito. Entendi o


seu pedido. Ela queria que eu continuasse a penteá-la, e
continuei.

Penteei todo o seu cabelo em silêncio até senti-lo ficar mais


seco. Em algum momento a ouvi fungar por causa do choro,
em outro a ouvi suspirar de prazer e teve o momento em
que entendi o porquê do seu choro.

Não parei de escovar o seu cabelo e acho que poderia fazer


isso todos os dias da minha vida. Eu poderia fazer tudo por
ela.

Quando senti que o amor da minha vida adormeceu, a deitei


na cama e trouxe-a para mim, ela colocou a cabeça no meu
peito, como gostava de fazer e suspirou, acordando.

— Obrigada — suspirou para mim e a apertei nos meus


braços, querendo dizer naquele momento que a amava
mais que tudo, mais do que pensei ser possível amar
alguém. — Ninguém nunca fez isso por mim antes — ela
continuou e afaguei seu cabelo.

— Fez o que? — perguntei mesmo que já tivesse uma


suspeita da resposta.

— Não tinha ninguém pra me esperar na porta do banheiro.

Nem pra perguntar se escovei os dentes, não tinha ninguém


pra pentear o meu cabelo. Não tinha ninguém para vestir o
meu pijama.

E não tinha ninguém para me esperar na borda da piscina.


Ninguém.

Senti minha garganta fechar e meu coração se quebrou. A


apertei mais ainda, querendo colocá-la dentro de mim se
possível.

— Eu esperei. Sempre esperei por você — disse beijando


sua cabeça e senti lágrimas tão silenciosas quanto às delas
escorrerem pelo meu rosto. — Você sempre teve alguém,
mesmo quando ainda não sabia. Eu já esperava por você
antes mesmo de nascer.

Sua respiração quente soprou no meu peito e ela se virou


para me olhar. O verde dos seus olhos brilhantes me atingiu
e Amber me abraçou, enterrando o rosto no meu pescoço,
molhando-o com suas lágrimas. E eu continuei a acariciar o
seu cabelo até senti-la adormecer de vez.

Não sei em que momento os meus olhos começaram a


pesar ou quando parei de acariciá-la. Tudo que sei é que
dormi abraçado com ela, agarrando-a, quase com medo de
acordar e descobrir que ela não era real.

Nos entrelaçamos à noite, os braços, o corpo, a alma, a


mente e os sonhos. Nos entrelaçamos de um jeito que eu
não me sentiria mais completo sem tê-la comigo.

AMBER FOSTER

— É assim que se faz? — perguntou a moça bonita à minha


frente, indecisa.

— Isso — respondi sem olhar para ela.

Eu estava chorando muito ultimamente, e mamãe me disse


que isso deixaria as pessoas desconfiadas. Eu tinha que
parar de chorar, só não conseguia ainda. Estava chorando a
dois dias seguidos, desde o momento em que ela me largou
na piscina, sem intenção de me puxar de volta.

A moça bonita era a nova namorada de papai e ela me


olhava com pena, assim como todo mundo. Eu não me
importava mais, só sentia vontade de chorar e me
perguntava por que não fiquei logo no fundo da piscina.
Ninguém me queria ali.

— Por que você tá chorando? — A moça perguntou


delicadamente, ainda tentando montar a casa de boneca
que papai me deu.

Não a respondi e não olhei para ela. Mamãe me disse que


não podia gostar dela, que não era boa pessoa. A verdade é
que a moça não me parecia má, estava a três horas
tentando conversar comigo sem sucesso, mas sem desistir.

— Eu não sei fazer isso. — Suspirou frustrada e bateu as


unhas grandes no piso, triste.

Decidi erguer o meu olhar para ela. Era linda, jovem, loira,
tinha os olhos castanhos tristes e cansados.

— O que? — perguntei com calma, conseguindo sufocar o


choro.

— Não sei lidar com crianças — Me lançou um olhar de


desculpas. —, não sei ser uma boa madrasta.

A olhei, pensando no que dizer para fazê-la se sentir melhor.

— Tudo bem — tentei consolá-la, por mais que ainda me


sentisse mais triste que ela —, eu também não sei ser uma
boa filha.
Ela me olhou com carinho e ternura, me avaliando de novo
clinicamente, como se tentasse desvendar meus segredos.
Ela vinha fazendo isso desde que chegou.

— Quem disse que você não é uma boa filha? — A moça


esticou o braço e acariciou o meu cabelo, cogitei por um
momento ficar ali e sentir o contato, por carência, mas
quando vi o tufo de fios que caiu na sua mão com um
simples toque me encolhi.

Eu não queria falar sobre meu cabelo, era um assunto


sensível para mim. Fazia uns quatro meses que eu não me
olhava no espelho, mas ainda lembrava da última imagem
que enxerguei quando encarei meu reflexo. Meu cabelo caiu
muito por conta dos remédios que mamãe me dava, tanto
que as falhas eram visíveis e tinha partes carecas na minha
cabeça, deixando a pele a mostra.

Eu não aguentava mais me olhar no espelho, não aguentava


mais perder peso, não aguentava mais encarar o meu rosto
pálido e sem vida. Não gostava quando tocavam na minha
cabeça, isso me quebrava, me destruía.

— Me desculpa. — A moça baixou o olhar triste, por ter me


afastado e meu coração doeu por magoá-la.

— Tudo bem. — Dei de ombros, sentindo vontade de chorar


de novo.

— Você não gosta de mim — concluiu e eu não a olhei,


estava envergonhada. — Mas eu queria ser sua amiga, você
tem amigas?

Meu coração deu um pequeno salto, mas balancei minha


cabeça em negação e continuei a alisar o cabelo da minha
boneca, com medo de deixar algum fio cair e deixá-la
parecida comigo.
— Eu também não — revelou e olhei-a surpresa. — Pois é,
também não tenho amigas. Você quer ser minha amiga?

Eu queria, queria muito ter uma amiga. Olhei ao redor


temerosa, com medo de que mamãe ouvisse minha
resposta e a moça estreitou os olhos de novo, com aquela
expressão de desconfiança.

— Ela disse pra você não falar comigo, não é? — perguntou


e meu sangue gelou, com medo do que aconteceria comigo
se mamãe

aparecesse ali. — Tudo bem, ela tá lá fora com seu pai. Você
pode me contar. — A moça se inclinou ansiosa, querendo
que eu falasse.

— Pode me falar qualquer coisa.

Ela me observava com tanta atenção que desviei o olhar


para a piscina, que estava a alguns metros de nós.

— Vamos fazer um trato? — A moça propôs e virei para ela


curiosa. — Eu te prometo que você será a única pessoa no
mundo pra quem eu nunca vou mentir, se você me
prometer me contar a verdade, ao menos uma vez.

Engoli em seco e disse a primeira coisa que me veio à


cabeça.

— Eu sou muito nova — falei e ela me olhou sem entender.


Pra ser sua amiga.

Só isso me interessava, eu queria ser sua amiga, não tinha


amigas e queria uma.
— Não, eu acho que você é perfeita. — Ela sorriu para mim
e estendeu o seu dedo mindinho. — Vamos fazer um pacto,
de melhores amigas.

Sorri feliz para ela, mas logo fiquei temerosa e olhei ao


redor, vendo se ninguém estava nos observando. Em um
momento de coragem estendi o meu dedo para ela e o
enrolei no seu.

— Melhores amigas — falei olhando agradecida para ela.

— Amber, eu te prometo sempre estar ao seu lado — recitou


imponente. —, te escutar e brincar de boneca com você,
prometo te contar a verdade até mesmo nos piores
momentos e nunca deixar você chorar ou rir sozinha.
Prometo que faremos coisas divertidas juntas, contaremos
segredos uma à outra e sempre andaremos de braços
dados como melhores amigas fazem.

Olhei-a encantada, sentindo uma alegria crescer em mim.

— E eu? O que prometo? — perguntei ansiosa.

— Você me promete ser minha melhor amiga. — Deu de


ombros.

— Eu prometo ser sua melhor amiga — repeti e ela estreitou


os olhos para mim, ficando desconfiada de novo.

— Melhores amigas ajudam uma à outra e sempre contam a


verdade. Então, me conta mais sobre seu problema de
saúde.

Minhas mãos suaram de pânico, mas eu falei. Eu falei para


ela, contei para a minha melhor amiga os meus maiores
medos, os meus pesadelos, contei sobre o plano da mamãe
e confiei nela.
Quando mamãe chegou com meu pai eu me virei para a
piscina novamente, e entrei no meu mundo, sem nunca
desviar a atenção da água. Em algum momento ouvi os
gritos, ouvi a moça bonita falar nomes feios, também
escutei sons de tapas e coisas se quebrando no chão. E
mais gritos, cheguei a ouvir o choro do meu pai
desesperado, mas não desviei meu olhar da piscina nem por
um único segundo.

Estava hipnotizada pela luz do sol naquela água cristalina e


pensei no que aconteceu dois dias atrás, pensei no
momento em que ele estendeu a mão para mim e eu o
toquei. Pensei na cor dos seus olhos.

Quando minha melhor amiga veio me pegar no colo, a


abracei de volta, mas sem desviar o olhar da piscina por
cima do seu ombro.

Ela me disse chorando que íamos embora, que melhores


amigas ficavam juntas e não podíamos mais nos separar. Eu
concordei.

Deixei minhas bonecas para trás, meus brinquedos e


roupas, também deixei minha mãe e a piscina. Mas sentia
que não ficaria com saudade de nada dali. De nada, a não
ser de olhar para aqueles olhos escuros.

Fitei a piscina uma última vez e acenei para ela. Me


despedindo dele e agradecendo-o por não ter me deixado
afundar, mesmo quando eu queria.

Agradecendo-o por me oferecer sua mão estendida.

Algo me acordou.

Abri os olhos e virei para Johnny preocupada. Ele estava


com o cenho franzido, sonhando. Mas parecia um pesadelo.
Beijei suavemente seu peito bem em cima da sua tatuagem
grega e alisei o seu cabelo.

— Shhh.... — Continuei com o carinho suave no seu cabelo


até sua respiração acalmar de novo, podia quase senti-lo
mergulhando em sonhos bons. — Também acontece comigo
às vezes, meu amor.

Beijei seu peito de novo e o deixei dormir. Diferente de mim,


ele ainda não tinha se aberto completamente, eu não sabia
sobre o que eram seus pesadelos, só esperava poder ajudá-
lo no momento certo, assim como ele fazia comigo. Mesmo
quando se tratava apenas de pentear o meu cabelo.

Acendi a tela do celular para ver as horas e voltei a dormir


abraçada com ele.

Duas da manhã.

AMBER FOSTER

Achei que passaria o dia andando pela cidade de Nova York


com Johnny. Estava enganada. Sim, eu passei o dia andando
pela cidade de Nova York, mas foi com a mãe dele.

Ainda estava morrendo de vergonha dela pelo meu vexame


de ontem, mas acho que concluí que a mulher gostou de
mim.
Alexandra Jackson era muito romântica, e eu a adorava, por
mais que tenha passado o dia dando indiretas sutis sobre
meu futuro casamento.

Minha sogra e as suas duas irmãs eram aquele tipo de


pessoa que queriam casar todo mundo, e eu já deveria
saber que, passando o dia fazendo compras com elas, me
colocariam em uma saia justa.

— Você pensa em ter filhos? — perguntou a Tia Ana, irmã da


mãe do Johnny, que conheci ontem à noite no bar.

Sorri para ela e tentei não me mexer para não atrapalhar a


manicure. Estávamos no salão de beleza da mãe do Johnny,
nos preparando para o casamento.

— Não sei... — disse sem saber o que seria certo responder.

— Nunca pensou no assunto ou não encontrou o homem


certo ainda? — sondou Tia Soraya, a outra irmã da minha
sogra.

— Eu...

— Ah, mas vocês dois vão fazer filhos tão lindos — concluiu
Tia Ana.

— Eu até imagino — suspirou minha sogra enquanto fazia o


cabelo de uma cliente. —, eles vão ter o cabelo preto do
Johnny e os olhos dela.

Meu. Deus. Ri de desespero.

— Oh, eles podem até ter a sua risada — comentou Tia


Soraya, planejando toda a minha vida sem me consultar.
— Eu acho que o casamento deveria ser em uma praia —
Tia Ana soltou do nada e a olhei confusa.

— Não gostou do hotel? — questionei, lembrando que a filha


dela iria casar daqui a pouco no hotel.

— Oh, amei. — Tia Ana sorriu. — Mas estava falando do seu.

— O meu?

— Sim, meu bem. Seu casamento.

— Ah, mas você ficaria linda em um vestido praiano. — Tia


Soraya olhou para o meu corpo, parecendo estar tirando as
medidas do meu vestido de noiva. — Quanto você calça?

— 36 — respondi no automático, mas preocupada, elas


pareciam achar que iríamos mesmo nos casar. — Mas não
vamos nos casar, estamos namorando a pouco tempo. Pra
falar a verdade, estamos na faculdade, não tem a menor
possibilidade de isso acontecer tão cedo — falei lançando
um olhar de desculpas para elas, por destruir sua fanfic.

— Não se preocupe com isso — a mãe do Johnny deu de


ombros sem me dar atenção. —, eu também me casei na
época da faculdade, não será problema.

— O que vocês acham que fica melhor para os convites? —

perguntou Tia Ana para as irmãs. — Amber & Johnny ou


Johnny & Amber?

Convites?

— Tanto faz, mas minha exigência é que as cores da


decoração sejam em tons dourados com azul claro — minha
sogra exigiu e a irmã dela anotou em um bloco tudo o que
ela estava ditando sobre a decoração do meu casamento
imaginário.

— As flores poderiam ser brancas, combinariam mais com o


ambiente praiano — Tia Soraya ajudou enquanto anotava no
seu bloquinho.

— Mas nós não vamos nos casar — fiz questão de lembrá-


las, rindo de nervoso.

— Oh querida, não se preocupe, para tudo tem um jeito. —

Tia Ana olhou para mim apenada, como se eu fosse tola por
me intrometer na sua conversa.

— Bom que eles já têm a minivan para andar com as


crianças.

— A mãe do meu namorado falou e eu pisquei débil, sem


acreditar no rumo da conversa.

— Crianças?

— As que vocês terão. Eu chuto umas quatro.

— Até o próximo ano — completou Tia Soraya.

— E como eu vou ter quatro crianças em um ano? —

perguntei confusa.

— Para tudo se tem um jeito — Tia Ana consolou.

Peguei o celular porque precisava compartilhar isso com


Johnny, nem que fosse para ele rir comigo.

Eu: Sabia que vamos casar na praia?


Johnny: Quando?

Eu: Acho que se depender das suas tias, na próxima


semana.

Você prefere Amber & Johnny ou Johnny & Amber para os


convites?

Johnny: Acho que fica mais bonito com meu nome na


frente.

Eu: Vai sonhando...

Eu: Aparentemente também teremos quatro filhos em um


ano.

Johnny: Agora fiquei nervoso, como vou fazer 4 filhos em


um ano?

Eu: Dê seu jeito. Sua família bota muita fé no seu sêmen,


Johnny.

Johnny: Agora entendi porque minha mãe me dava


legumes com fertilizantes.

Eu: Agora entendi porque nunca mais vou engolir o seu


esperma.

Johnny: Vai sonhando...

— O que você acha, querida? — Tia Ana estava olhando


para mim e a encarei de volta, confusa, tinha perdido a
conversa delas.

— Do que?

— Johber. — Tia Soraya anotou no seu bloquinho. — O nome


do seu primogênito.
— Meu primogênito? — repeti só para ter certeza que não
estava entendendo errado.

— Isso — confirmou a minha sogra sem me dar atenção.

— Eu não sei — respondi, prendendo o riso. — É a junção do


nome Johnny e Amber? — Elas confirmaram com um aceno.

Johber parece um nome de um remédio muito ruim, não


posso botar esse nome nem no meu cachorro, a criança me
odiaria. E eu não conseguiria nem chamá-lo sem rir, ele
seria zoado na escola e em casa também, muito
provavelmente, por mim.

— E qual nome você sugere? — questionou Tia Ana.

— Oh, vocês viram o novo namorado da Sarah? — Tentei


empurrar o meu casamento para a prima do Johnny e
esperava que ela não me matasse.

— Sim! Eles combinam tanto. — Tia Soraya suspirou


concordando.

— Acho que eles fariam filhos lindos. — A mãe do Johnny


finalmente desviou a atenção de mim e suspirei aliviada.

— Acabei — informou a manicure à minha frente.

Graças a Deus.

— Bem, foi ótimo passar o dia com as senhoras, mas já


tenho que me vestir, já está quase na hora do casamento.

— Não assustamos você, não é? — A mãe do Johnny se


virou para mim temorosa e a abracei, para tranquilizá-la.
— Claro que não — menti. —, adorei o nosso dia. — Beijei o
seu rosto e nos despedimos.

Peguei um táxi e 20 minutos depois já estava no hotel, mas


quando fui na direção do elevador vi de longe um certo
ruivo que estava doida para encontrar.

— Benny! — gritei e acenei alegremente para ele.

Johnny tinha me contado que encontraríamos Benny ali,


eles eram amigos de infância, então sua família também
tinha sido convidada. Ainda não entendia o que tinha
acontecido entre eles, mas além de estar zangado com
Johnny, Benny também não falava

mais comigo, e por mais que insistisse, meu namorado se


recusava a me dizer o motivo da briga.

Benny olhou para mim surpreso, parecia não estar


esperando me encontrar ali. Me aproximei dele lhe dando
um sorriso simpático.

— Você sumiu!

— Ele te trouxe aqui? — disparou olhando ao redor, como se


estivesse procurando Johnny.

— Como assim?

— Te apresentou a família dele? — perguntou confuso, sem


acreditar.

— Sim — respondi me sentindo desconfortável. — Qual o


problema?

— Pensei que vocês não fossem sérios — soltou rancoroso e


aquilo me afetou.
Erámos sérios, eu o amava.

— Nós somos — revelei começando a me sentir na


defensiva e Benny colocou as mãos no bolso da calça.

— Vocês não vão durar.

Quem era ele para dizer isso?

— Por que está fazendo isso? — perguntei magoada. — Você


não é maldoso assim.

— Não estou sendo maldoso. — Ajeitou os óculos no rosto.


Só estou te avisando, não espere muito dele. Johnny não é


alguém confiável, ele contamina as pessoas.

Acho que nunca fiquei com tanta raiva como naquele


momento. Nunca deixaria que ninguém falasse dele.

— Contamina as pessoas? Ele é a melhor pessoa que


conheço, faz tudo pelos outros e se você não reconhece
isso, não o merece como amigo.

— Ninguém deveria querê-lo como amigo, eu o conheço


melhor do que você...

— Eu acho que não — atirei raivosa, interrompendo-o. —

Acho que você não sabe de nada. — Empurrei o seu peito


impulsivamente e Benny deu um passo para trás, surpreso
com a minha explosão.
— Eu lamento que esteja desse jeito. — Deu mais um passo
para trás nervoso, querendo ir embora, mas não antes de
jogar o seu veneno. — Johnny só está brincando com você e
eu sinto muito que não tenha percebido ainda. Você não o
conhece, ele pode te dizer que o que vocês têm é sério,
mas não é.

— Vá à merda, Benny — disse com todo o ódio que sentia


no meu corpo e saí de perto dele com o coração pesado.

Entrei no elevador com uma dor estranha no peito, porque


Johnny não merecia que alguém falasse assim dele, muito
menos alguém que ele considerava um amigo de infância.

Ele passou a noite passada penteando o meu cabelo só


porque viu que aquilo me afetava, caramba! Não merecia
aquele veneno, nem a negatividade de Benny.

Não deixaria que ninguém ferisse o meu Johnny. Nunca.

JOHNNY JACKSON

— Você pode largar o garfo, por gentiliza? — pedi tirando o


garfo da mão de Amber e o entregando ao garçom parado
ao nosso lado. Ela estava o segurando a noite toda.

— Agora estou desprotegida — resmungou e olhou ao redor


do salão por cima do meu ombro, como se estivesse
procurando alguém.

— Sim — suspirei em lamento, passando o braço pela


cintura dela e a puxando para mim. — Tudo o que podemos
fazer agora é esperar que não sejamos assaltados aqui.

— É bom sempre andar prevenida — respondeu ainda


olhando ao redor.

— E se houvesse um assalto aqui, você salvaria a todos nós


com um garfo?

— Não, mas é melhor do que ficar completamente


desarmada.

— Princesa, você tá estranha — resolvi comentar. — Mais do


que já é normalmente.

— Não estou estranha — desconversou se sentando direito


e bebendo o seu champanhe. —, só estou cogitando nos
proteger de um possível assalto.

— Um assalto? Aqui? O quanto vocês já beberam? — Minha


prima Sarah se sentou ao lado de Amber.

— Nem me fale em bebida — disse minha namorada


virando a taça de champanhe de uma vez. — Nunca mais
vou beber tequila de novo. Atingi minha cota de vergonha.

— Pense pelo lado positivo, pelo menos não estão armando


o seu casamento — reclamou Sarah e Amber encheu mais
uma taça de champanhe em silêncio, prendendo o riso.

Minha prima continuou a se queixar das minhas tias


casamenteiras, mas de repente Amber arregalou os olhos e
se levantou, me puxando junto.
— Nós vamos dançar — ela avisou a Sarah, que nos
dispensou com um aceno.

Quando chegamos à pista de dança, decidi pegá-la firme


pela cintura e prendê-la no meu corpo.

— Tá, o que tá acontecendo? — decidi perguntar, enquanto


passava a perna entre as dela, fazendo-a perder um pouco
do fôlego e prender os seus seios no meu peitoral.

— Eu encontrei com o Benny hoje — soltou de uma vez.

Todos os músculos do meu corpo endureceram e soltei um


suspiro cansado. Eu o tinha visto com sua mãe no
casamento mais cedo, mas de longe e aquele sentimento
de culpa e tristeza se apossou de mim novamente. Não
consegui encarar nenhum dos dois, era difícil vê-los juntos
de novo.

— Ele foi grosseiro com você?

Me tratar mal era uma coisa, mas ele não tinha o direito de
atirar seu ódio nela.

— Não exatamente comigo... Ele disse coisas grosseiras


sobre você. Me irritei com ele.

— Ele está chateado. — Dei de ombros e passei a dançar


com ela lentamente.

— Acho que o vi quando estava na mesa, por isso te tirei de


lá. Não vai me falar, não é? Por que brigaram? — Ela
encostou o rosto no meu ombro, relaxando.

— Não é algo meu. Não é que não confie em você, mas essa
coisa com o Benny é um assunto pessoal dele.
Beijei o ombro de Amber e enterrei o rosto no seu pescoço,
inspirando o seu cheiro e dançando com ela o mais colado
possível.

— Era por isso que não saiu de perto de mim? Me obrigando


até a ir no banheiro com você?

— Exato, mas você já tem uma certa experiência em me ver


fazendo xixi — brincou, suspirando no meu ombro e
abraçando meu pescoço.

— E o garfo? Por que ficou segurando ele a noite toda? —

perguntei confuso, tentando entender a cabecinha da minha


princesa.

— Estava preparada para te proteger — disse apertando


mais o abraço no meu pescoço. — Se ele viesse te chatear,
eu o espetaria com o garfo.

Ri a abraçando mais forte, tanto que tirei os seus pés do


chão.

— Me escuta — pedi colocando-a no chão de novo e


voltando a dançar com ela. — Você nunca precisa me
proteger de nada, meu amor. Se eu te tenho na minha vida,
nada pode me atingir.

Amber afastou o rosto apenas o suficiente para encostar a


testa na minha e mexemos os corpos em sintonia com a
música lenta. Minha mão apertou mais sua cintura,
trazendo-a o mais próximo possível e nossos narizes se
roçaram. Soltamos um suspiro ao mesmo tempo, afetados.
Minha outra mão subiu até sua nuca, acariciando o seu
cabelo.
Minha perna entrou mais entre as suas e era tanta a
conexão, que me senti perdido. Quase como se por um
segundo a gravidade não existisse e eu tivesse que me
segurar nela para me equilibrar.

Senti a temperatura do seu corpo, a sua respiração


soprando minha boca, a maciez da sua pele e o seu cheiro.
Era como se só existíssemos nós no mundo naquele
momento.

Acariciei mais um pouco o seu cabelo e ela derreteu um


pouquinho nos meus braços, soltando um gemido baixo
quando minha perna entrou mais no meio das suas.

— Acho que precisamos de um lugar privado — sugeriu


ofegante saindo do meu abraço e me puxando pelo salão de
festa.

Estava duro, a segui tentando esconder minha ereção atrás


do seu vestido, enquanto passávamos pelos convidados. Os
noivos já estavam se preparando para a dança principal,
então quase ninguém notou quando saímos pelas portas
dos fundos.

O ar da noite nos cumprimentou com gosto e tirei o meu


terno para passar nos ombros de Amber. Entrelacei nossos
dedos e deixei-a nos guiar.

Entramos em um jardim escondido do hotel, que dava para


um parquinho isolado, com diversos brinquedos. Tinham
balanços, escorregas, aquelas casinhas de escalar e um
pula-pula...

Paramos no lugar, os dois ao mesmo tempo, um ao lado do


outro. Olhei de canto para Amber e ela tinha a mesma
expressão divertida que dizia “você está pensando na
mesma coisa que eu?”.
Parecia que sim, pois sem desviar o olhar dela tirei os meus
sapatos e ela fez o mesmo com os seus saltos. Não perdi
tempo sendo cavalheiro, ali eu queria ser criança, então
quando fiquei descalço corri, deixando-a para trás tentando
me alcançar.

— Seu cretino — xingou rindo e me empurrou para entrar no


pula-pula primeiro que eu.

Quando ela se meteu lá dentro na minha frente puxei o seu


pé, tentando atrasá-la, mas a criatura competitiva me
chutou no ombro e conseguiu se erguer na cama elástica.
Pulando feliz e exibida diante de mim.

— Eu te deixei passar — falei para aplacar meu orgulho


ferido e entrei de vez no pula-pula, dando alguns saltos
curtos.

— E olha que você é o jogador universitário mais rápido do


país... Você só perde pra mim — provocou, dando pulos
altos e se descabelando toda. — Sua sorte é que é bom no
hóquei, por que você nunca ganhou de mim em nada.

— É mesmo? — debochei indo na sua direção e ela passou a


correr em círculos, dando saltinhos, com medo do meu
ataque.

— Você perdeu pra mim na competição de virar bebida —

continuou a me provocar. —, perdeu no vídeo game...

— Mas pelo que eu me lembre, eu ganhei na nossa


brincadeira do orgasmo — pontuei indo na direção dela, e a
criança de cinco anos com quem namorava, fugiu pulando
como um canguru.

— Meu Deus, você acreditou mesmo naquele teatro, né? —


brincou rindo. — Você acreditou em todos até hoje...

— Ah, então todos foram fingidos? Você tem que competir


mesmo com Meryl Streep. — E só por que eu não podia
deixar essa passar: — Mas pena que ela morreu.

Amber parou de pular e se virou para mim irritada. Veio na


minha direção e passei a caminhar para o outro lado, longe
dela.

— Eu também ganhei na sinuca — lembrei-a.

— Nós nem terminamos o jogo!

— Porque você já estava babando no meu taco. — Pisquei


para ela, fugindo do seu ataque e ela riu.

— Você se acha tanto. Confesse, Johnny Jackson, você já


estava apaixonado por mim ali — disse convencida,
saltitando atrás de mim.

— Eu meio que sempre fui — murmurei, me virando de uma


vez para jogá-la na cama elástica, pegando-a desprevenida.

Amber soltou um gritinho de susto e caiu rindo, comigo por


cima. Me ergui em um braço para não a esmagar,
observando-a me olhar com uma expressão convencida.

— Então, você é apaixonado por mim?

Me abaixei até encostar a boca na dela, mas sem beijá-la.

— Eu já passei dessa fase — revelei, sentindo a tensão do


seu corpo por estar embaixo do meu.

— E em que fase você está? — sussurrou e ergueu o olhar


para encontrar com o meu, tão próximos... Ela mordeu o
lábio inferior e o soltou, brilhante e lubrificado. Dei um
selinho nela, só porque não consegui resistir.

— Eu estou na fase do pra sempre. — Encontrei sua mão e


entrelacei nossos dedos. — Eu te disse uma vez que certas
coisas são eternas e você me disse que não acreditava
nisso. — Meus

lábios sugaram os dela suavemente e Amber acariciou meu


rosto com a outra mão, suspirando de prazer e deixando um
gemido escapar quando afastei a boca. — Mas eu tenho
algo eterno pra você... Eu te amo, tanto que você não tem
ideia. E sinto que vou te amar pra sempre. E se você não
souber o que isso significa, saiba que vou te amar enquanto
o mundo girar ao redor do sol ou enquanto as estrelas ainda
brilharem. Eu vou te amar em uma infinidade de infinitos e
todos eles ainda não serão suficientes. Pra falar a verdade,
nem sei se existiu um dia na minha vida em que não te
amei.

Beijei-a de vez, segurei seu rosto e minha língua mergulhou


na sua boca doce e quente.

— Em uma infinidade de infinitos — repetiu entre os beijos,


passando as mãos macias no meu pescoço. — E se você
ainda não sabe, eu também te amo.

Meu coração quase parou, mas logo em seguida ele se


encheu com uma alegria que não podia ser contida.

Apertei-a mais contra mim, sentindo os seus peitos


pressionando minha camisa. Coloquei a minha perna entre
as suas e ela as afastou mais, querendo sentir minha perna
roçar nela. Meu pau pulsou em vida dentro da calça.

Quando minha coxa esfregou de leve, Amber estremeceu


embaixo de mim e ergueu o corpo para levantar o vestido
verde que estava usando até a cintura, revelando a calcinha
rendada. E essa visão fez meu coração acelerar.

A sua pele estava quente, suas bochechas rosadas e ela


entreabriu os lábios para deixar o ar escapar. Excitada.
Ofegante.

Prendi a respiração sentindo meu pau latejar duro por ela.


Sem conseguir ficar mais longe, segurei o seu rosto e toquei
suavemente sua boca com a minha. Suguei a sua língua,
brincando de meter a minha quando ela suspirava querendo
mais.

Amber abriu mais as pernas ansiosas, querendo me sentir


roçar o seu clitóris. Deu uma rebolada na minha coxa
coberta pela calça social, e parece que ela ficou impaciente
com a minha roupa, pois começou a desabotoar a minha
camisa. Ergui-me para arrancar completamente a camisa e
abrir um pouco o zíper da calça.

— Acho que pode ser meio indecente transar em um pula-


pula. — Ela me lembrou, tocando o meu peitoral nu.

— Péssimo momento pra me lembrar disso.

— Você nunca me disse o que significava — murmurou,


traçando a frase grega escrita no meu peito.

— Em outro momento.

Montei em cima dela de novo, sentindo a maciez e o calor


da sua pele que cheirava a morango. Ela toda cheirava tão
bem que me senti zonzo por um segundo.

Meu pau queria ser liberado da cueca, ele estava pesado de


tão duro, a ponto de explodir, babando por sua boceta
gostosa.
Voltei a foder com a sua boca inchada e lubrificada dos
beijos, passei a mão no seu corpo delicioso, sentindo a sua
pele arrepiar e um suspiro trêmulo escapou da sua boca, o
engoli imediatamente, traçando minha língua ao redor,
provocando-a.

Adorava quando a via desse jeito. Corada, com os olhos


desorientados de prazer e melada, tudo causado por mim.
Desci minhas lambidas pelo seu pescoço sedoso e meu
corpo ferveu quando ela espremeu as pernas ao redor do
meu quadril, fazendo-me sentir a umidade da sua calcinha.

Minha mão foi para seu decote do vestido e segurei o seu


seio médio através do tecido, sentindo o seu peso. Abaixei
as alcinhas do vestido e liberei os seus peitos, que saltaram
lindos na minha frente.

Abocanhei o mamilo macio e a minha boca salivou ao senti-


lo enrijecer na minha língua. Girei-a ao redor do bico
durinho, babando-a toda ali. Quando soltei o seu seio ele
estava brilhante, vermelho e inchado de tanto que foi
chupado.

Amber gemia manhosa, agarrando o meu cabelo e se


esfregando descaradamente no meu pau duro com a sua
boceta, toda aberta para mim. Meu pau já pulsava, inchado
e ansioso.

Enquanto provava o seu outro seio ansioso, levei meus


dedos para brincar com a sua boceta. Assim que alcancei a
calcinha, sentia úmida. Afastei-a de lado e passei meus
dedos onde ela estava toda molhada.

Suspirei de prazer no seu mamilo. Minha respiração falhou e


quase implorei para ser melado e apertado por ela.
Lambuzei a ponta dos meus dedos na superfície da sua
boceta aberta e levei-os para o clitóris pulsante dela. Girei o
meu dedo no nervinho e ela se esfregou em mim. Gemeu,
abrindo mais as pernas e suguei de novo os seus seios
expostos para mim.

— Geme pra mim, vai — incentivei sufocado.

Me sentia todo quente, o tesão insuportável acumulado só


no meu cacete. Amber abriu mais as pernas, quase
implorando para meter logo nela e atendi o seu pedido.

Mergulhei dois dedos dentro dela de uma vez. Eles ficaram


espremidos e lambuzados naquela boceta gostosa pra
caralho. Meti e tirei, sentindo melar tudo ao redor das suas
pernas. Sem aguentar, levei os dedos babados por sua
lubrificação até minha boca, provando o seu sabor. Suspirei
de prazer por sentir o gosto da minha garota, queria aquilo
no meu pau e não esperei mais.

Abri completamente o zíper da calça e puxei a cueca para


baixo, fazendo o pênis saltar para fora latejando, coberto
pelas veias pulsantes irritadas. Me inclinei para passar a
cabeça inchada do meu pau nos lábios externos melados da
sua boceta.

Amber ergueu o quadril, ansiosa e tirou a calcinha com a


minha ajuda. Assim que se livrou da peça abriu mais as
pernas, apenas me esperando.

— De costas — mandei segurando meu pau e dando umas


masturbadas nele, sem conseguir controlar a vontade de
comer a minha garota. — Eu vou te comer de costas pra
mim — expliquei quando ela me olhou confusa.

Amber, safada como era, se animou e virou na cama


elástica, empinando a bunda gostosa e cheia na minha
direção.

Dei um tapa de leve no seu rabo, vendo-o balançar e ficar


vermelho com a agressão. Abri a sua bunda, segurando de
cada lado e Amber empinou ela mais para trás. Vi o seu
cuzinho e desejei muito comê-lo, mas não faria isso agora.

— Em outro momento — avisei chupando o meu polegar e


levando-o babado ao orifício enrugado, circulando ao redor
dele.

Amber rebolou mais, implorando para ser fodida e enfiei o


meu pau duro com tudo na sua boceta melada. Alarguei-a
de uma

vez, sentindo deslizar e lambuzar tudo. Gemi e respirei


fundo para não gozar só por estar espremido dentro dela.

Deitei em cima do seu corpo, esmagando-a e colocando


cada braço em um lado da sua cabeça. Amber se esfregou,
gemeu e empurrou a bunda para trás, metendo mais o meu
pau dentro dela, desesperada para senti-lo.

Meu sangue esquentou de prazer e comecei a comê-la.

Estoquei lento para adaptar o ritmo com o balançar do pula-


pula, adorando pra caralho o jeito que meu pau saía melado
de dentro dela. Passei a dar estocadas mais fortes e tirei o
cabelo da sua nuca, lambendo seu pescoço úmido de suor.

— Ahh... Johnny — gemeu trêmula, rebolando no meu pau.

Segurei a sua bunda com força e lhe dei um tapa do jeito


que ela gostava. Cravei os dedos na sua nádega vermelha e
passei a foder com tudo. Amber jogou a cabeça para trás
enlouquecida e seu corpo estremeceu embaixo do meu.
Meti com mais força e a cama elástica balançou junto,
ajudando no movimento e fazendo meu pau afundar todo
nela.

Minhas bolas estocavam junto, sua bunda batia no meu


abdômen, nossos corpos se chocavam e acabamos
encontrando um ritmo bem intenso.

Com um braço, segurei o ferro externo que servia de apoio


ao pula-pula, para nos equilibrar e continuei a comer minha
namorada com vontade. A visão que tinha dali... Ela na
minha frente, com a bunda vermelha balançando e meu pau
saindo e entrando violentamente da sua boceta inchada e
melada, sendo sugado, me fez suspirar de prazer.

Sufoquei um gemido e tentei controlar meu orgasmo. Ia


gozar a qualquer momento naquele ritmo, não aguentaria
muito tempo.

— Preciso que você goze, meu amor — murmurei com a


respiração pesada e ela rebolou mais para trás, encaixando
meu pau mais nela.

Passei o outro braço pelo seu quadril e encontrei o seu


clitóris pulsante, passei a massageá-lo com calma, do jeito
que a fazia gozar e o seu corpo tremeu.

Ela gemeu e rebolou tanto que suspirei enlouquecido


sentindo meu gozo vir. Senti meu coração bater na garganta
e meti nela com mais força, minhas pernas tremeram e
minha visão escureceu. Era dor e alívio ao mesmo tempo.
Era o corpo dela. Era a minha casa.

Era a garota que eu amava sendo minha.

Amber gozou com suspiros trêmulos e minha porra jorrou


para dentro dela, preenchendo-a.
Podia ser primitivo, mas adorava essa parte, sentir que
estava enchendo-a com algo meu. Marcando ela como
minha.

Caí em cima do seu corpo mole e a cama elástica ainda


balançou de leve. Quase como se estivesse tão cansada
quanto nós pelo esforço. Tirei o seu cabelo bagunçado das
suas costas e plantei beijos quentes ali até chegar ao rosto.

— Eu te amo — declarei de novo, sentindo meu peito


apertar de satisfação por poder finalmente dizer isso para
ela.

Segurei sua mão e entrelacei nossos dedos, beijando a sua


palma em um gesto de devoção.

— Eu também te amo, amor — falou carinhosa e ofegante,


sorrindo para mim com a cabeça deitada, ainda débil, mas
daquele jeito bobo dela.

Enterrei o rosto no seu cabelo e inspirei o seu cheiro.

— Ultrapassamos todos os limites.

— Como assim? — perguntou relaxada, suspirando.

— Não sei se você percebeu, mas acabamos de transar em


um parquinho. Em um hotel e mais especificamente ainda,
no casamento da minha prima. Como deixei você me
convencer?

— E olha que dessa vez nem precisou, você que começou.


Piscou para mim.


— Você me corrompeu — Mordi seu ombro de leve. —, eu
que sou o cabeça da relação.

— Tem razão — Ela contraiu a boceta e fechou o meu pau


dentro dela. —, mas a sua cabeça tá muito bem enterrada
agora.

Dei um tapa de leve na sua bunda e me ergui para ajeitar a


minha cueca e calça.

— Nunca mais vou conseguir encarar um pula-pula sem rir.


Amber se espreguiçou, como sempre, ficando sonolenta


depois de

gozar.

Fechei o zíper da minha calça social e Amber se ergueu um


pouco para colocar o vestido no lugar.

— Ah, meu Deus! — murmurou assustada e olhei ao redor,


preocupado com a sua reação. — Vamos. — Me puxou para
fora da cama elástica.

— O que foi isso? — perguntei confuso, tentando cobrir o


seu seio nu, com a minha camisa que consegui pegar.

— Tem um homem parado na porta dos fundos olhando a


gente — disse correndo e segurando minha mão.

Me apressei a segurá-la pela cintura, cobrindo-a com meu


corpo e vestindo depressa minha camisa nela. Se tinha um
homem ali, a última coisa que ele veria era os seios da
minha namorada.
— Anda! — Amber me puxou impaciente e fomos para o
elevador de serviço mais próximo dali.

— Será que era algum parente meu? — Estremeci só de


pensar em alguém da minha família nos pegando em uma
situação como essa.

Mas parece que só eu estava preocupado, pois Amber ria da


situação.

— Não consegui ver o rosto, mas não era um parente seu.

Passei um braço por ela e puxei-a para dentro do elevador


quando ele chegou. Apertei o botão do nosso andar, mas
parei no lugar ao me dar conta de algo.

— Se não viu o rosto, como sabe que não era alguém da


minha família?

Ela me abraçou, sonolenta e descansou a cabeça no meu


peito.

— Ele estava contra a luz da porta, só vi que era alto e


forte.

Mas não era seu parente. — Bocejou e beijei sua cabeça. —

Enxerguei o cabelo dele. Era ruivo.

Todo o ar sumiu do ambiente.

Esperava mesmo que não fosse quem eu estava pensando.


JOHNNY JACKSON

— Você acha que eles sabem sobre o pula-pula? —


sussurrou Amber no meu ouvido.

Incrível como ela sempre esquecia que não sabia sussurrar.

— Vocês também ouviram falar do que aconteceu ontem à


noite? — Minha tia Ana se virou para nós, pegando parte da
nossa conversa. — A segurança achou uma calcinha jogada
por lá e de acordo com o gerente, parece que dois jovens
estavam fornicando no parquinho.

Fornicando?

— Não. — Amber colocou as mãos na boca. — Quem faria


isso? Logo no parquinho.

Balancei a cabeça em negação e me concentrei em beber


meu suco de laranja. Toda minha família estava tomando
um “chá da tarde” no hotel.

— Sim — concordou minha tia. — Parece que os jovens de


hoje não conhecem a palavra pudor. Na minha época, uma
coisa dessas não acontecia.

— Essa geração está perdida — falou Amber e acariciei sua


coxa por baixo da mesa. — Não se pode mais esperar o
mínimo.
— Sim. — Minha tia suspirou, indignada. — Em um ambiente
familiar. Imagine se algum de nós tivesse visto?

— Teria sido muito brochante, com toda certeza —


murmurei e me levantei da mesa, trazendo Amber comigo,
querendo fugir da conversa.

— Nós precisamos ligar pros nossos cachorros — avisei para


eles.

— Vocês vão ficar mais um dia? — Minha mãe perguntou


esperançosa e acenei com a cabeça.

Era para irmos embora hoje, mas convenci Amber a faltar


aula amanhã. Eu disse que queria passar mais tempo com a
minha família, mas na verdade queria tirá-la de Providence
por um tempo.

Não sabia se a mãe dela ainda estava por lá.

Acenamos em despedida e fomos para nosso quarto.


Quando fechei a porta fui logo ligando meu celular para
fazer uma chamada de vídeo.

— Já estava esperando essa ligação. Mas não precisa se


preocupar Johnny, estamos todos muito bem aqui — Drake
disse atendendo depois do terceiro toque, sentado no sofá
da casa das garotas.

— Eu não liguei pra saber sobre vocês, quero saber como


estão os cachorros.

Drake desviou o olhar e engoliu em seco, me deixando


preocupado. Amber se inclinou sobre meu ombro, nervosa e
já senti meu corpo estremecer, temendo o que os idiotas
fizeram.
— Drake... — chamei soando como um aviso de que iria
estrangular o seu pescoço se tivesse acontecido alguma
coisa com os cachorros da minha princesa.

— Sobre isso, tivemos um pequeno problema, nada muito


sério.

— O que aconteceu? — Amber perguntou preocupada,


quase entrando no celular.

Puxei-a para sentar no meu colo.

— Eu acho que você esqueceu de perguntar se Angelina


Jolie e Jennifer Aniston eram castradas quando as adotou —
contou Drake. — Elas entraram no cio. Ao mesmo tempo.

— E? — Amber acenou com a mão para ele continuar.

— Brad Pitt estava ficando louco, tivemos que separá-los.

— Eles não deixavam ninguém dormir. — Scar apareceu na


chamada, sentando ao lado de Drake no sofá. — Estavam
uivando e latindo. Elas querendo dar, ele querendo fazer
sexo...

— Nada muito diferente de como já é por aqui. — A voz do


Colin surgiu em algum lugar, interrompendo Scar, que
revirou os olhos.

— A questão é que pedimos pro Tyler comprar uns


tranquilizantes pra eles dormirem ou ninguém trabalharia
no dia seguinte — Scar falou.

— Mas o idiota aqui entendeu que era pra comprar laxante


Drake completou e quase engasguei.


— Vocês deram laxantes pros cachorros? — perguntei.

Meu Deus, será que eu não podia sair por um maldito fim de
semana em paz?

— Eles estão bem?! — Amber pulou no meu colo, temerosa.

— Sim, estão. Só cagaram bastante — Drake respondeu.

— Como se eles já não cagassem o tempo todo! —

resmunguei, mas estava aliviado. Amber relaxou e sentou


de novo na minha perna, quieta.

— E essa nem é a melhor parte — Scar ironizou sorrindo. —

Advinha só onde eles foram deixar esses presentes?

— Na porra da nossa porta! — Drake informou puto e não


me surpreendi. — Cheguei em casa e estava tudo cagado.
Tyler limpou, mas parece que os outros cachorros da
vizinhança acharam que nossa casa era um banheiro
coletivo.

— Tá de brincadeira — murmurei perplexo com nosso azar e


Amber começou a rir.

— Queria. Hoje de manhã acordei e encontrei uma cagada


coletiva no nosso gramado, uns sete cachorros, todos
agachados cagando seus toletes e destruindo nosso
gramado.

— Mas que bosta, Drake! — rugi sem acreditar.

— Sim, a merda aqui foi grande. Mas nós falamos com os


donos e dê Graças a Deus por termos pelo menos alguns
vizinhos decentes — soltou a indireta para as meninas, que
se fizeram de desentendidas. — Eles prometeram adestrar
os cachorros pra

deixarem longe do nosso gramado. Enquanto isso, os três


astros de Hollywood continuam fazendo a festa.

— Não acredito que vocês deram laxante pra três cachorros


que já são cagões por natureza — murmurei abismado.

— E viciados em sexo. Mais até que eu — avisou Drake.

— Seguindo o exemplo dos pais — Amber brincou baixinho e


lembrei que tinha outra coisa para falar com eles.

— Liguei pra avisar também que só vamos voltar amanhã.


Olhei para Drake já temeroso. — Cadê o idiota?

— Qual deles?

— O idiota master.

Drake virou a câmera para Colin que estava estirado no sofá


das meninas, vestindo só uma calça moletom e segurando
um pote de pipoca, enquanto assistia um filme.

Incrível como eram folgados, eles praticamente se


apossaram da casa das nossas vizinhas. Colin virou o rosto
na direção do celular e deu aquele sorriso de quem está
pensando em alguma coisa.

— Colin — Suspirei subitamente cansado. —, eu vou ficar


um dia a mais do que o previsto. Um único maldito dia e
você não vai dar uma festa.

— Ora, Johnny. — Colin se levantou do sofá e pegou o


celular da mão do Drake. — Assim você me ofende. O que
acha que vou fazer? Me aproveitar que você foi visitar os
seus pais pra fazer uma festa? Em pleno domingo? Sabendo
que amanhã tem aula?

— É exatamente isso que eu acho.

— Nunca — afirmou com tanta convicção, que quem não o


conhecesse até podia acreditar. — Não se preocupe com
nada. Vá sair com a sua namorada, divirta-se com seus pais,
aproveite sua viagem. Relaxe... Eu tenho tudo sob controle.

Fechei os olhos e respirei fundo, pedindo a Deus uma coisa


que eu não tinha: Paciência.

— Colin...

— Se divirta! Estamos todos sentindo a sua falta.

Imensamente — ele me cortou já se despedindo.

— Colin! Não se atreva a des...

Ele desligou na minha cara.

— Seu olho tá tremendo. — Amber apontou para o meu olho


esquerdo. — Você vai ter um derrame?

— Não me surpreenderia se tivesse. — Tirei-a do meu colo


com cuidado e comecei a jogar minhas roupas dentro da
mala depressa, com medo de não chegar a tempo. — Vamos
pra casa.

Agora.

— Agora? — Amber olhou para mim sem entender.

— Agora — confirmei abrindo a mala dela.


— Mas por quê?

— Porque existe a possibilidade de não encontrarmos uma


casa se não chegarmos a tempo. E com toda certeza, vamos
tirar alguém da cadeia.

— Você não ouviu o que Colin disse? Ele tem tudo sob
controle. — Ela ergueu os ombros, como se fosse óbvio.

— Princesa — chamei com toda a calma que ainda me


restava. —, se você quer encontrar todos bem, sugiro que
arrume suas coisas. — Ela me olhou assustada, vendo que
eu falava sério.

— Agora.

Amber colocou tudo dentro da mala, mesmo dizendo que eu


estava exagerando. Fomos nos despedir da minha família,
que não entendeu a nossa saída repentina, mas também
não nos questionou.

E 30 minutos depois já estávamos na estrada.

— Mas o que pode acontecer de tão terrível? — Amber


resolveu perguntar quando saímos de NY.

— Tudo pode acontecer. Em todos esses anos eu só fui


visitar minha família duas vezes. Duas. — Lhe mostrei dois
dedos para ela entender a situação. — Na primeira, Colin fez
uma “festa do pijama”.

Quando cheguei em casa, quase todo mundo estava pelado


e se pegando, uma verdadeira orgia. Ele “sem querer”
convidou alguns atores pornôs e os atores convidaram uns
amigos da produção, no fim das contas, decidiram que era
um bom momento para fazer um filme conceitual.
— Meu Deus — foi tudo o que Amber disse.

— Foi uma tragédia, a casa toda gemendo, diversas pessoas


peladas se pegando ao mesmo tempo, produtores pornôs
fazendo

seus filmes... Uma tragédia.

— Mas que coisa! Por que ninguém me convidou? —

resmungou emburrada.

— O casal que morava na sua casa ficou horrorizado, eles


ligaram pra polícia e adivinha só? Foi todo mundo preso.
Como eu era o único vestido ali, tive que tirá-los da cadeia.

— Eu daria tudo o que tenho pra ver isso. — Ela riu.

— Na segunda vez foi pior. A “festa do vermelho”, o idiota


colocou um plástico gigante na rua e derramou por cima
algum tipo de gel vermelho, pra todo sair deslizando de
biquíni. Ideia brilhante, né? — debochei, mas pela expressão
da minha namorada, ela parecia achar genial.

— Não, nada brilhante — informei. — Chamaram a polícia


de novo. Ele trancou a rua, nenhum carro passava, causou
um engarrafamento. Tinha tanta gente nessa festa que
parecia um festival. Foi todo mundo parar na delegacia e
tive que tirá-los de lá.

De novo.

— Eu soube dessa história! — Amber riu, animada. — Vocês


foram assunto por dias lá na fraternidade. Lendas do
campus.

— Que bom que servimos pra alimentar fofocas — ironizei.

Ela revirou os olhos.

— Eu acho que você tá sendo dramático. — Deu de ombros.

— Os meninos estão lá, não é? Eles tomam conta de tudo.

Não resisti, tive que ri.

— Com certeza... Drake e Taylor vão estar pegando alguém


e Tyler jogando vídeo game, eles só vão perceber alguma
coisa se a casa estiver pegando fogo.

— Ainda acho que tá exagerando, aposto que quando a


gente chegar vai estar tudo como deixamos.

— Meu Deus do céu.

Amber se assustou quando um cara que andava no meio da


nossa rua só de gravata se atirou em cima do nosso carro.

Ele vestia somente a gravata, sem nada mais. Ainda bem


que a peça era ridiculamente grande e cobria o seu pênis.

Não dava para passar com o carro porque tinha gente


demais andando na rua.
— Eu vou matá-lo — declarei me referindo a Colin e Amber
olhou para mim preocupada.

Parei o carro na esquina e desci, segurando a mão da minha


namorada para não me perder dela, enquanto passávamos
por diversas pessoas seminuas dançando.

— Ah, não! Eu não vim vestida a caráter! — reclamou


Amber.

— Deveríamos trocar de roupa.

— Não estamos aqui pra participar da festa — lembrei-a. —

Estamos aqui pra acabar com ela.

— Mas eu queria estar vestida, odeio ser a única diferente.

— Eu acho que o conceito aqui é não se vestir.

Todos os homens estavam de gravatas com uma camisa


social aberta e cueca, acho que o conceito era estar sem
calça. Já as garotas usavam apenas saia lápis social e sutiã,
sem blusa.

Pareciam executivos seminus.

— Tá vendo como você estava exagerando? — debochou


Amber. — Está tudo muito bem por aqui.

— Você tá de brincadeira?

Estava tão cheio que tinha comerciantes vendendo comidas


e bebidas, com mesas espalhadas na calçada... Parei em
choque sem acreditar no que encontrei quando passamos
em uma certa casa da vizinhança.
Zach, Miguel e Ozzy, as três crianças que moravam na
nossa rua e Amber conheceu no dia que caímos no gramado
da casa deles, tinham montado uma barraca e estavam
vendendo cerveja.

— Ah! Olha, estão vendendo cerveja! — Amber apontou


para a barraca das crianças.

— Que absurdo é esse? — berrei me aproximando de onde


os três pestinhas distribuíam bebidas animadamente para
as pessoas. — Cadê os pais de vocês?

— Capitão. — Zach, o pior de todos e mais velho, arregalou


os olhos por me ver ali. — Pensamos que você estava fora.

— Oi! — Amber cumprimentou eles dando uma olhada nas


bebidas.

— Mas o que vocês pensam que estão fazendo? — briguei e


Ozzy, o garoto de 10 anos gordinho, se escondeu atrás de
Zach.

— Estamos ganhando uma grana — respondeu Zach, com


todo o atrevimento que seus 12 anos permitiam.

— Vocês vão pra casa imediatamente! — mandei e me virei


para Amber, que só avaliava as bebidas.

— Estamos com uma promoção — informou Michael, o


gêmeo de Zach, que usava óculos. — Se você comprar 4
cervejas sai por 8 dólares.

Que descaramento.

— Meu Deus! — Amber suspirou abismada, tirando dinheiro


da bolsa — Tá muito barato! — Sorriu quando o garoto
entregou suas cervejas em uma sacola.
— Você vai contribuir pra esse tráfico? — perguntei
segurando a sacola pesada para ela.

— Mas, amor... — chamou mansa sabendo que eu era um


tolo e me derretia quando ela me chamava assim. — Estava
muito barato e eles só estão vendendo. Pense nos materiais
escolares que eles podem comprar com esse dinheiro.

Materiais escolares.

Olhei para as pestes, dando um último aviso para irem para


casa e peguei a mão da minha namorada, indo em direção à
concentração da festa.

— Deveríamos estar curtindo a festa — Amber sugeriu


quando nos aproximamos da casa dela. — Nada vai sair do
controle aqui.

Naquele momento alguém gritou e todo mundo abaixou a


cabeça em susto. Imediatamente cobri Amber com meu
corpo e escutei algo se quebrando.

O que diabo foi isso? Um tiro?

Olhei em volta procurando a causa do barulho até que


enxerguei pessoas no telhado da minha casa jogando golfe.

Pessoas. No telhado. Jogando golfe. Quase nuas.

Fui até lá protegendo o corpo da Amber, com medo dela ser


atingida por uma bola de golfe e uma garota quase nos
atropelou.

Ela segurava uma caixa de som nos ombros, o som quase


estourava os ouvidos, enquanto caras a seguiam dançando,
totalmente bêbados, fazendo uma fila.
Amber acenou animada para eles e continuei caminhando
até chegar perto de onde o pessoal do golfe atirava bolas.

— Ah! Steven! — Amber pulou do meu lado e gritou para


alguém que estava em cima do telhado.

Olhei para cima e enxerguei o cara que levou Amber para


casa no nosso primeiro encontro. Ele acenou sorrindo para
nós.

— Eiiii, casal!

— O que vocês estão fazendo aí em cima? — Amber


perguntou curiosa.

— Ah, eu não podia perder uma festa de Colin Scott. Ele


disse que podíamos usar o telhado à vontade.

Era definitivo, eu o estrangularia. Amber percebeu minha


raiva e tentou forçar um riso para o amigo.

— Eu tenho certeza que Colin não disse isso. — Ela lançou


um olhar de aviso para Steven, pedindo para comprar a sua
conversa, como se eu não estivesse vendo a comunicação
entre os dois.

Steven arregalou os olhos percebendo que falou demais,


mas o outro cara que estava do lado dele entregou tudo.

— Oh, ele disse isso mesmo — confirmou a história e Amber


balançou a cabeça em derrota. — Colin disse que podíamos
usar o telhado à vontade. Para qualquer tipo de jogo.

— Ele também disse que podiam quebrar as janelas dos


vizinhos? — ironizei.

O cara pareceu pensar.


— Não. Mas ele disse que se acabássemos atingindo aquela
janela ali — Apontou para a janela do quarto da Maddie. —,
não teria problema, pois a moradora adora festas.

— Acho que vocês vão precisar fazer uma fila pra matá-lo.

Foi tudo o que Amber disse.

Acenei para eles em despedida e entrei na casa com Amber


para procurar o grande babaca. Abracei firme o corpo da
minha namorada quando passamos pela área da piscina,
temendo que alguém acabasse jogando-a na água e ela se
agarrou em mim.

Quando não encontrei Colin, voltei para a sala querendo


tirar Amber de lá, pois bolas de golfe voavam para todo lado
e ela podia ser atingida.

Fui na direção da cozinha e no meio do caminho encontrei a


criatura desprezível.

Colin Pau No Cu Scott estava conversando com umas cinco


garotas, que sorriam para tudo que o cretino dizia. Ele
vestia só uma cueca preta, camisa social branca aberta com
uma gravata mal colocada, tinha em cima da cabeça uns
óculos escuros, que não entendi a serventia, já que estava
de noite.

No momento em que o olhar dele encontrou com o meu,


seu sorriso galanteador congelou no rosto. Amber riu do
meu lado e caminhei até ele querendo esganá-lo. Colin
olhou ao redor como se estivesse procurando uma fuga,
quando percebeu que não tinha como escapar, resolveu me
dar um sorriso falso.

— Johnny! — Ele abriu os braços. — Você chegou cedo.


— Seu babaca — rosnei e ele deu um passo para trás.

— Não é o que você está pensando! — Colin forçou um riso.

— Decidimos fazer uma pequena reuniãozinha.

— Uma reuniãozinha?

— Sim. Estamos todos aqui por um bom motivo, é um


evento importante. Um aniversário! — Colin disse animado
apontando para um bolo rosa gigante em cima de uma
mesa.

— É mesmo? — debochei. — De quem?

— Madison.

— O que? — Amber franziu o cenho. — Hoje não é o


aniversário da Maddie.

— Claro que é. — Colin deu de ombros. — Veja, aqui está o


bolo.

— E cadê a aniversariante? — questionei

Colin riu.

— Lógico que não a convidei.

Estava a um passo de estrangular o seu pescoço.

— Essa festa vai acabar agora, Colin! Você ficou louco? Tem
crianças vendendo bebida no gramado!

— 4 cervejas por 8 dólares — contribuiu Amber, erguendo


sua cerveja.
— Ora, mas que culpa eu tenho se eles querem abrir um
novo empreendimento? — Colin brindou a sua cerveja com
a da minha namorada.

— Um empreendimento? — repeti em sarcasmo.

— Eu briguei com eles, mas você sabe como eles são, não
obedecem a ninguém — continuou Colin. — E também, só
querem tirar um trocado. Por isso aconselhei a fazerem uma
promoção.

— Você enlouqueceu? — perguntei.

— Eles só querem alguma grana. Pense nos materiais


escolares que vão comprar com o dinheiro.

— Ah, eu disse a mesma coisa. — Amber se virou para Colin


sorrindo e eles brindaram suas cervejas de novo.

— Não é como se eu estivesse os ajudando a abrir uma


boca de fumo — esclareceu Colin.

— Por falar em boca de fumo, cadê Tyler? — Amber olhou


em volta.

— Na área dos maconheiros.

Olhei para onde Colin apontou e encontrei Tyler reunido com


um grupo de outras pessoas, fumando sua maconha. Todos
se vestiam de um jeito meio hippie.

— Eles são uma galera mais alternativa, estão há horas


tentando convencer todos nós a largar a faculdade e lutar
contra o sistema — contou Colin rindo.

— Colin, essa festa vai acabar nesse minuto — avisei.

Ele bufou.
— Não seja dramático. Não vai ser como das outras festas,
dessa vez tenho tudo sob controle.

E nesse momento um carrinho de golfe apareceu no quintal,


sem motorista e caiu direto na piscina. Algumas pessoas
gritaram assustadas e peguei Amber pela cintura, querendo
protegê-la.

Quando me aproximei da confusão percebi que tinham


alguns idiotas nas varandas dos quartos que davam para a
piscina, prontos para saltar na água e quebrar o pescoço no
processo.

Colin seguiu até a piscina e subiu em cima de uma cadeira


que tinha por perto, pedindo para desligarem o som.

— Está todo mundo vivo? — gritou.

— Sim! — Todos responderam já recuperados do susto e


ligaram o som de novo, voltando à festa como se nada
tivesse acontecido.

— Está vendo? Tudo resolvido — Colin gabou-se.

— Eu acho que se alguém tivesse morrido, não responderia


a sua pergunta — Amber pontuou.
Como uma lâmpada se acendendo, encontrei a solução
perfeita para meu problema.

— Quer saber? Tem razão — falei e Colin ficou surpreso com


minha reação. — Você tem tudo sob controle aqui.

— Tá vendo? Você se estressa à toa. — Ele deu tapinhas nas


minhas costas e saiu para aproveitar sua festa.

— No que tá pensando? — Amber me olhou desconfiada


enquanto bebia sua cerveja.

— Por que não convida Maddie? É o aniversário dela, tem


que aproveitar.

— Ela não viria — Amber avisou.

— Vem sim, basta dizer que queremos acabar com a festa


dele.

— Ok. — minha namorada pegou o celular e digitou


animada.

— Em trinta minutos ela chega.

Suspirei aliviado e relaxei, talvez daquela vez eu não


precisasse tirar ninguém da cadeia.

Conhecia meu amigo e sabia como irritá-lo. Ou quem era


necessário para isso.

Até agora só encontrei Maddie de macacão, mas ela decidiu


usar um vestido branco colado, tomara que caia, marcando
todas as suas curvas e salto, que deram alguns centímetros
a mais para a baixinha. Ela prendeu o cabelo em um coque,
fazendo alguns cachos ruivos escaparem.
— Uau. — Taylor assobiou de brincadeira para Maddie, que
corou quando se aproximou de nós.

Acabei encontrando ele e ficamos assistindo hóquei


enquanto minha namorada dançava com umas garotas que
nunca viu na vida, mas que em 5 minutos já tinham virado
suas amigas.

— Então, como é que acabo com a festa do Colin? —

perguntou a ruiva, respirando fundo e tentando não se


afetar com os olhares que recebia.

— É simples. — Dei de ombros. — Basta você se agarrar


com alguém aqui. Garanto que ele vai dar um jeito de
mandar todo mundo embora.

— E por que ele faria isso? — Ela riu sem entender.

— Confie em mim.

Amber apareceu ofegante e me abraçou, cansada de


dançar.

A peguei pela cintura, dando um beijo na sua cabeça.

— Ahhhh, mas você tá um arraso — elogiou a amiga.

— Obrigada.

— Meu Deus, era isso que você escondia debaixo do


macacão? — perguntou Tyler, chegando perto de nós.

— Sim. — Maddie riu, mas estava um pouco envergonhada.

— Agora preciso encontrar alguém pra me agarrar aqui.


— Olha eu aqui — Tyler abriu os braços de brincadeira, mas
a ruiva refletiu por um momento, puxou a camisa dele e o
beijou.

Fiquei em choque por um momento e Tyler também, mas


como não era idiota, se aproveitou e beijou ela de volta.
Tyler colocou as mãos na cintura da Maddie e a apertou
para ficar colada no peito dele, enquanto a baixinha
segurava o seu rosto e lhe dava um beijo bem quente.

Taylor ficou de queixo caído, Amber riu e eu olhei em volta


procurando Colin para ver se ele estava assistindo isso.

Ele estava.

Encontrei Colin paralisado no lugar, perto da piscina,


olhando o casal se pegando na nossa frente. O olhar dele
desceu para a mão do Tyler na cintura da Maddie e seu
rosto endureceu, suas mãos fecharam em punhos fortes e
quase me arrependi dessa ideia. Por que o que vi ali me
assustou, tinha tudo o que eu esperava, ciúme, posse e
raiva, como se alguém estivesse tocando em algo que fosse
dele, mas também tinha dor.

Esperei para ver o que ele faria, mas Colin simplesmente


sumiu da minha visão, passando pelas pessoas. Não entendi
nada, até a energia cair e todas as luzes da casa se
apagarem de uma vez.

Maddie e Tyler se separaram em um susto e ligamos a


lanterna do celular.

— ACABOU A FESTA — Colin gritou reaparecendo e subindo


em cima do sofá da sala.

— O que aconteceu? — alguém perguntou.


— Uma tragédia. Cortaram a energia, Johnny esqueceu de
pagar a conta — lamentou o idiota, tentando se fazer de
descontraído, mas seu olhar entregava que estava puto.
Bem puto, nem sei se algum dia já o vi puto.

Umas pessoas olharam para mim com reprovação e revirei


os olhos. Como eles caíam nisso? Não conseguia entender
como alguém ainda levava a sério qualquer coisa que Colin
dizia.

— Mas a gente pode ficar só com as lanternas. — Uma


garota sugeriu e mais pessoas aprovaram a ideia.

— Não podem. Aconteceu mais uma tragédia, eu encontrei


um homem armado andando por aqui — Colin mentiu.

— Oh Meu Deus! — alguém disse assustado e algumas


meninas gritaram de susto.

Amber riu no meu peito e Colin ergueu as mãos para


acamá-los.

— Mas não se preocupem, eu soube que ele está


procurando apenas Tyler.

Todos suspiraram aliviados. Menos Tyler, claro.

— Eu? — Tyler colocou a mão no peito, confuso.

— Sim — continuou Colin sem se dignar a olhá-lo. — Tem


grande probabilidade de ele morrer ainda hoje. Por isso,
sugiro que saiam logo ou podemos levar uma bala perdida.

Com isso, todo mundo se apressou a sair dali e Colin fez seu
papel de bom anfitrião ao leva-los até a porta e oferecer os
seus cumprimentos e lamentos pela falta de luz e o atirador
à solta, que ele procuraria como um herói.
— Tyler? — Taylor chamou-o.

— Sim — respondeu sem entender nada e com medo do


Colin.

— Corre — avisei e Tyler não esperou, subiu as escadas


como se seu rabo estivesse pegando fogo.

— Pobre Tyler — murmurou Amber.

— Bem... Meu aniversário foi rápido, mas intenso — Maddie


comentou satisfeita por acabar com a festa do Colin, ela
seguiu para o bolo rosa, partindo um pedaço.

— Está muito satisfeita, não é? Acabou com a festa. — Colin


voltou zangado assim que fechou a porta.

— Para falar a verdade, estou. — Maddie sorriu atrevida


para ele. — Obrigada pela festa de aniversário, foi muito
animada.

— Foi mesmo — comentou Amber bocejando no meu peito.

— Já estou com sono e olha que nem gozei.

Taylor, Colin e Maddie olharam para minha princesa com


olhos arregalados e ela riu.

— Ainda — avisei beijando sua cabeça e me despedi deles.

— Boa noite.

Subi com Amber me sentindo aliviado, não tive que tirar


ninguém da cadeia hoje. Estava no lucro.
AMBER FOSTER

— Bom dia! — cantarolei animada e fui beijar o rosto de


Sienna, que cozinhava no fogão da casa dos meninos. —
Não te vi ontem, estava na festa?

— Estava, como foi em NY? — perguntou amarrando seu


cabelo em um coque e sorrindo gentilmente para mim.

— Fantástico. Passei uma pequena vergonha no começo,


mas nada que impediu a mãe dele de planejar nosso
casamento.

— Está apaixonada mesmo, não é? — ela sugeriu feliz por


mim e abriu a geladeira, procurando algo para o nosso café.

—Ah, Sim — comentei apaixonada. — Eu o amo. Muito.

— Fico feliz por vocês. — Ela fechou a geladeira com uma


caixa de ovos e me deu um beijo no rosto.

— E você? — perguntei, querendo entrar em um assunto


que ela sempre fugia. — Está feliz?

Sienna desviou o olhar e virou de costas para mim, fingindo


estar mexendo em algo no fogão.

— Estou sim — mentiu baixinho e aquilo quebrou meu


coração, porque ela era a pessoa mais gentil e doce que
conhecia.

Não merecia ficar triste nunca.

Fui até ela e a abracei por trás, deitando meu rosto no seu
ombro.

— Eu também quero ficar feliz, por te ver feliz, sabe? —

sussurrei. — Acho que é esse o segredo da amizade. Eu não


sei o que tá acontecendo com Michael, nem sei por que
você não deixa a gente tocar nesse assunto, mas queremos
te ajudar. Sempre estaremos aqui.

— Eu sei — murmurou triste e se virou para me abraçar. —


Eu sei que vocês estão aqui. Só é algo que quero resolver
sozinha.

— Você está pensando em terminar com ele? — Tentei com


tudo de mim não parecer esperançosa.

— Não. — Ela matou meus sonhos. — Não posso, não agora.

— Sienna suspirou. — Mas não quero falar disso, tudo bem?


disse pedindo desculpa com o olhar.

— Tudo bem — concordei derrotada.

Ela parecia querer ficar um pouco só, então subi para


esperar Johnny tomar banho no seu quarto, mas parei no
lugar vendo ninguém menos do que Bethany andando toda
descabelada pelo corredor dos quartos dos meninos.

— Bethany? — chamei e ela arregalou os olhos quando me


viu. — O que aconteceu com você? — perguntei rindo.
Ela usava a saia do avesso, a alça da sua blusa foi
arrebentada e seu pescoço estava vermelho de chupões
violentos.

Sua expressão não negava. Ou ela foi atropelada por um


caminhão ou foi muito bem fodida.

Bethany pegou minha mão e me puxou para um canto do


corredor.

— Fala baixo — pediu sussurrando e tentou arrumar o


cabelo.

— Com quem foi? — questionei interessada, tentando


prender o riso.

— Quem disse que vou te contar? — Me olhou divertida,


querendo rir também.

— Eu nem sabia que você estava na festa — sussurrei de


volta, analisando os arranhões que ela tinha nas coxas. —
Meu Deus, ele te comeu ou estava tentando te matar?

— As duas coisas — suspirou satisfeita.

— Me contaaaa — implorei curiosa.

— Nossa, mas não foi propaganda enganosa, viu? — ela


comentou se encostando na parede, cansada e exausta. —
Recebi uns quatro orgasmos.

— Me fala, por favor! Quem foi?

— Drake Cross — gemeu o nome dele e dei tapinhas de


aprovação nas suas costas.

— Arrasou!
— Ele que arrasou comigo — disse e caímos na risada. —

Mas foi só sexo, acredita que ele chamou o nome de outra


menina quando gozou?

— Não acredito! — repreendi indignada, mas Bethany deu


de ombros.

— Querida, ele me deu quatro orgasmos. — Ela mostrou


quatro dedos para mim. — Se quisesse podia me chamar de
Rainha Elizabeth. Não me importo de ser usada, se ele
deixar eu usar seu corpo também. — Piscou para mim e eu
entendia bem essa lógica, pratiquei sexo casual a vida toda.

— E por quem ele chamou?

— Você ouviu que ele me deu quatro orgasmos? E ainda me


tratou super bem, acho que podemos virar amigos. Ele
merece que eu guarde esse segredinho pra ele.

— Tem alguma lógica nisso — apoiei, por mais que estivesse


curiosa.

— A única dica que dou é que é alguém que a gente


conhece.

— Bethany atiçou minha curiosidade e foi descendo as


escadas.

— Você não pode ir embora depois de soltar uma dessas!


Vou fazer mil teorias na minha cabeça.

— Já estou indo. Beijinhos. — Soprou beijos para mim


enquanto descia as escadas.

Que babado.
Corri para entrar no quarto do meu namorado e me joguei
em cima dele quando saiu do banho segurando a toalha.

— Bom dia, meu amor — cumprimentou me abraçando de


volta.

— Bom dia! Você acha que Drake é interessado em alguém


que a gente conhece? — soltei de uma vez.

Johnny franziu a testa.

— Não que eu saiba. Nesses anos que o conheço ele nunca


se interessou por ninguém, parece que tinha alguma garota
no passado dele. Mas não fala muito sobre isso, por quê?

Que coisa! Agora estava mais curiosa.

Olhei para Johnny sem saber como me explicar, era errado e


desagradável falar com quem Bethany dormiu e mais ainda
contar que Drake gemeu o nome de outra pessoa.

— Encontrei pessoa X no corredor, que esteve com Drake. E

pessoa X me contou que aconteceu uma situação Y, e essa


situação me fez pensar que talvez Drake estivesse
interessado em alguém que a gente conheça.

Johnny me encarou confuso.


— Minhas provas de física são mais fáceis do que esse
dilema.

— Não posso dar mais informações que isso. — Dei um beijo


rápido na sua boca. — Vamos levar os cachorros pra passear
hoje?

— Sim, vou só me vestir e vamos. — Ele me beijou e o


soltei, indo até a porta. — Ei, eu te amo, disse isso hoje?

— Disse, quando acordou e quando eu saí do banho a uns


10

minutos.

— Ótimo. — Piscou para mim.

— Ei — chamei.

— Oi — respondeu sorrindo.

— Eu te amo. — Sorri para ele e fechei a porta satisfeita por


poder trocar essas palavras com ele.

— Eles sentiram mais a minha falta — murmurei no seu


ombro.

— Se quiser dizer isso pro seu próprio consolo, tudo bem —

provocou. — Mas você viu o jeito que Brad Pitt pulou em


cima de

mim? Como se não me visse há anos.

— Eles fazem isso até quando voltamos do banheiro —

devolvi.
— Amber Foster? — chamou o aluno de psicologia que me
atendia, acenei para ele avisando que logo entraria. Ele
sorriu para nós e entrou de novo no consultório.

Me levantei e olhei para Johnny, que ficaria ali sentado


durante uma hora me esperando. Ele poderia estar fazendo
outra coisa, eu sabia que ele tinha treino mais tarde, sabia
que teria um jogo no fim de semana, sabia que tinha um
trabalho da faculdade para entregar. Também sabia que ele
iria me levar e me deixar na porta da minha sala de aula, só
para me proteger. Porque tinha medo que ela fosse falar
comigo novamente.

— Obrigada — agradeci a ele.

— Pelo o que, princesa?

— Por me esperar. — em todos os sentidos.

— Todos os dias — declarou sem desviar o olhar. — Eu


esperei por você todos os dias.

Meu coração deu um pequeno salto. Sabia que ele estava se


referindo a nossa conversa no hotel.

— Eu trocaria de lugar com você — continuou, apontando


para a porta fechada do consultório. — Te daria toda a
minha infância e sofreria no seu lugar se pudesse,
carregaria todos os seus traumas, todas as suas dores, eu
suportaria o peso por você. E a única coisa que pediria em
troca era que você fosse feliz, essa é a minha prioridade na
vida.

Sentindo minha garganta fechar estendi minha mão para


ele, quase como um gesto de salvação, já que ele estava
sentado e eu em pé. Johnny olhou para minha mão
estendida e a pegou. Senti um arrepio passar pelo meu
corpo e entrelacei nossos dedos, apertando-os.

— Eu faria o mesmo por você — revelei olhando no fundo


dos seus olhos escuros. — Sempre, Johnny. Sempre.

Johnny apertou minha mão e a beijou.

Quando caminhei até o consultório, não senti aquele peso


no coração que geralmente sempre tinha quando falava
sobre aquela

época. Eu me senti livre, quase como se Johnny tivesse me


dado asas. Eu podia voar, eu podia flutuar. Eu podia até
mesmo nadar.

Tinha alguém me esperando quando eu chegasse à borda.

Sempre teve.

Johnny gostava de me ver usar suas roupas e eu gostava de


vesti-las. Era um gesto possessivo da parte dele, mas que
eu curtia.

Gostava de usar suas camisetas, até mesmo quando ia para


aula e roubei quase todos os seus bonés.

Gostava de sentir o cheiro de hortelã dele durante o dia, era


quase como se ele me abraçasse mesmo não estando
comigo.

— Você viu o quanto ela é talentosa? — perguntou


caminhando comigo pelo campus, com um braço me
abraçando.

— Ela sempre foi — concordei com orgulho, encostando a


cabeça no seu peito.

— Já encomendei roupas masculinas com ela — informou,


vendo no celular as fotos das roupas que Lindsay
desenhava. Era engraçado ver o jeito que eles se davam
bem e trocavam mensagens.

— Ela vai adorar vestir o astro do hóquei — brinquei me


aconchegando mais nele.

Quando saí da sessão de terapia, Johnny estava sentado no


mesmo lugar, fazendo uns exercícios nerd no caderno. Ele já
estava atrasado para a aula e eu me sentia péssima por
atrapalhar sua rotina, mas entendia a sua necessidade de
me deixar na porta da minha aula.

— Vou pegar uma carona com Colin até em casa, esqueci


uns materiais lá — avisou beijando minha cabeça e me senti
culpada de novo. A gente vinha sempre no meu carro para
eu ir praticando a direção e ele acabava ficando sem
transporte.

— Pode levar o meu carro — tirei a chave da minha bolsa.

— Não precisa, Colin já está indo mesmo. — Deu de ombros


quando chegamos na porta da minha sala. — Se eu não
tiver chegado quando a sua aula acabar, me espera aqui,
por favor.
— Sabe, você não precisa agir como se fosse meu guarda-
costas, você tem uma vida também — lembrei-o.

— Tenho, você é minha vida. — Ele me pegou pela cintura e


me deu um beijo, suspirei na sua boca. — Eu te amo.

— Eu te amo, amor — respondi e Johnny se afastou, acenou


para mim e saiu caminhando pelo corredor do prédio.

Me virei para abrir a porta da sala, um pouco zonza por


causa do beijo e dei de cara com uma pessoa que estava
saindo. Alguém que não queria encontrar.

— Oi... — Benny ajeitou os óculos, envergonhado. — Voltei


de NY ontem, parece que você também — comentou
desajeitado, não sabendo como conversar comigo.

O que era ótimo, porque não queria falar com ele. Dei a
volta no seu corpo, mas ele segurou o meu braço com
cuidado.

— Me perdoa — desculpou-se e me soltou, dando um passo


para trás. — Você estava certa. Eu não sou maldoso assim,
fui idiota.

— Foi — concordei sem aliviar.

— Eu pensei que ele estava brincando com você, mas


estava errado.

— Sim, estava — afirmei.

— Ele não conta isso pra todo mundo, é uma ferida aberta

relatou e o olhei sem entender. — Toda essa coisa com meu


irmão...
— Do que você tá falando, Benny? — indaguei e Benny ficou
vermelho de vergonha quando se deu conta de que eu não
sabia do que diabos ele estava falando.

— Você não sabe — murmurou nervoso, ajeitando os óculos


e deu um passo para trás.

Eu não sabia.

Tinha consciência que Johnny escondia algo, pelo que


consegui pegar das coisas que ele já falou do seu passado,
suspeitava que ele deveria ter feito alguma coisa com um
amigo.

Mas não sabia que o irmão do Benny estava envolvido


nisso, sequer sabia que Benny tinha um irmão.

— O que eu não sei? — perguntei, mas Benny desviou o


olhar. — Quem é o seu irmão?

— Eu acho melhor você conversar isso com Johnny. — Benny


começou a se afastar, mas parou quando percebeu minha
expressão perdida. Ele suspirou resignado. — Bruce e
Johnny eram melhores amigos, cresceram juntos.

— Bruce é o seu irmão? O que aconteceu com eles?

— Converse com o Johnny, Amber. — Benny se afastou


triste, entrando na aula de novo e eu fiquei parada ali, sem
saber o que fazer.

Já tinha dado tempo para Johnny, eu sei que deveria ser


mais paciente, mas queria saber o que tinha acontecido,
queria lhe dizer que nada que ele pudesse ter feito seria
imperdoável aos meus olhos.
Encarei a porta da sala de aula e dei meia volta, decidindo ir
para casa encontrar com ele. Fui até o meu carro e senti
minhas mãos suarem quando toquei o volante. Não sabia o
que ia dizer, não poderia chegar exigindo respostas assim,
mas eu não conseguia mais me manter apagada dessa
parte da sua vida.

Dirigi até em casa sentindo um peso estranho no coração,


quando cheguei na porta vi que o carro do Colin estava ali,
eles estavam em casa. Subi os degraus da escada como se
estivesse em transe, não sabia como pedir para que ele me
contasse algo que não queria compartilhar comigo.

Abri a porta do seu quarto devagar e Johnny foi se


revelando para mim. Meu namorado estava sentado na sua
escrivaninha, abrindo as gavetas do armário,
provavelmente procurando seu material que esqueceu.

Não falei nada, apenas fiquei parada na porta esperando ele


notar minha presença, o que não demorou. Johnny paralisou
no lugar ao me ver ali em pé na porta. Ele veio até mim
preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou tocando meu


rosto com a ponta dos seus dedos. — Amber, ela te
procurou de novo?

Neguei com a cabeça para acalmá-lo.

— Johnny... — sussurrei sem saber como começar. — Quem


é Bruce?

Ele congelou. Johnny engoliu em seco e senti sua mão


tremer no meu rosto.

— Não me deixa — implorou com a voz rouca. — Por favor,


não me deixa. — Sua mão tremeu no meu rosto, mas ele
logo a tirou e deu um passo para trás, como se não fosse
digno de me tocar. —

Eu não sei mais viver sem você.

— Eu não vou a lugar nenhum — avisei, sem entender sua


reação. Johnny foi até a cama e se sentou, não conseguindo
ficar em pé.

— Me deixa ficar, me deixa cuidar de você, nem que seja


como amigo. — Os seus olhos marejaram quebrados e meu
coração se apertou.

Me sentei ao seu lado na cama e peguei sua mão trêmula.

— Eu não vou a lugar nenhum — repeti olhando nos seus


olhos. — Me conta. — Engoli em seco e entrelacei nossos
dedos.

Johnny olhou para cada canto do meu rosto. Seus olhos


fixaram na curva da minha boca e subiram pelo meu nariz,
ele traçou com o olhar cada canto do meu rosto, cada fio de
cabelo, quase me decorando.

Ele inclinou o rosto na direção do meu e encostou a testa na


minha, roçando nossos narizes.

— Você é o amor da minha vida — declarou com a voz


embargada, prendendo o choro. Sua mão foi para o meu
cabelo e passou uma mecha entre seus dedos, sem afastar
nossas testas. —

Eu queria ter dito que te amava naquele dia que te peguei


no parque.

Queria ter tido coragem pra falar antes, queria ter dito que
te amava no dia em que botei os olhos em você. Não foi
suficiente, eu não disse o suficiente.

Não sei em que momento senti as lágrimas descendo pelo


meu rosto, mas o abracei, despedaçada. Porque ele estava
se despedindo, mas não iria deixar que fosse para lugar
nenhum.

— Você foi feita pra ser minha. Só minha. E eu queria ter te


encontrado antes — murmurou.

Os braços dele me fecharam com força, me prendendo no


seu corpo. Ele enterrou o rosto no meu pescoço e inspirou,
sentindo meu

cheiro, como um viciado faz com seu vício. Agarrei seu


cabelo e o abracei forte.

— O que você fez com seu amigo, Johnny? — perguntei sem


saber o que pensar.

Johnny separou um pouco nossos corpos e me olhou


resignado, ele me largou, mesmo relutante e se afastou de
mim.

Chorei por vê-lo se distanciar e me senti vazia sem o calor


do seu corpo.

Vazia, uma parte minha faltava.

Johnny me olhou com os olhos marejados, mas sem desviar,


sem hesitar. Não sei quanto tempo passamos nos
encarando até ele decidir falar e preencher o quarto com a
sua voz.

— Eu o matei.
JOHNNY JACKSON

Passado

— Eu não quero ir pra casa — resmungou Bruce bêbado.

— Já tá tarde e ainda vamos pegar estrada — avisei, o


arrastando para fora da festa.

— Tinha uma garota lá dentro que poderia ir pra casa


comigo.

— Bruce cambaleou e o segurei pela jaqueta de couro que


ele usava, para não o deixar cair.

— Você não consegue nem sustentar as pernas, quem dirá


fazer sexo — provoquei, o levando até o carro dele.

— Eu deveria ficar ofendido, mas o álcool tá no meu sistema

— murmurou morrendo de frio, esperando eu abrir a porta


do carro.

Assim que destravei o carro nós entramos depressa. Isso se


chamava inverno em Nova York, ou quase, considerando
que estávamos em Easton, uma cidade que ficava à uma
hora de distância de NY, em uma festa que Bruce insistiu
que eu fosse.
Liguei o carro e Bruce encostou a cabeça no vidro da sua
janela, cansado. Eu iria dirigindo, pois não tinha bebido e
esse era um daqueles dias que tinha que ser babá.

— Tá, fala a verdade, pra onde você vai? — Bruce perguntou


quando já estávamos na estrada congelada e revirei os
olhos.

Ele estava me enchendo o saco sobre isso a noite toda.

— Já disse, não decidi ainda — respondi, sem querer


determinar toda a minha vida em um impulso.

Ainda não tinha escolhido para qual faculdade iria e por


mais que todos insistissem que eu fosse para Columbia,
achava que não era meu lugar.

— Você tá sentindo isso?

— O que?

— Sei lá, esse clima estranho. — Ele encostou de novo a


cabeça no vidro da janela do carro e olhou o céu. — Parece
que tudo acabou. O ensino médio acabou, nós vamos deixar
nossas famílias, talvez a gente se distancie, eu não vou
mais estar todo dia aqui pro Benny. Tudo que conhecemos
vai desaparecer. É como se a gente tivesse chegado
naquele momento da vida em que tudo se define.

Um... — Procurou a palavra certa, mas não encontrou.

— Um divisor de águas? — sugeri.

— Exatamente! — Ele estalou os dedos e eu ri. — Um divisor


de águas. Pra onde a vida vai levar a gente depois daqui?
Com quem vamos esbarrar? O que vamos fazer?
— Tem certeza que você só bebeu vodka hoje? — brinquei,
mas entendia o seu ponto de vista.

Bruce me deu o dedo do meio sem desviar a atenção das


estrelas no céu.

— Cara, o céu tá tão lindo — ele murmurou hipnotizado.

Olhei rapidamente o céu e percebi que as estrelas


brilhavam de um jeito diferente, quase como se estivessem
piscando para nós em um recado silencioso. A lua estava
cheia e brilhante, iluminando a noite.

Magnífico.

— Essa noite tá diferente mesmo — concordei


impressionado, voltando minha atenção para a estrada.

— Usando mais um pouco da minha filosofia de bêbado —


ele continuou e eu sorri —, você já parou pra pensar se isso
existe mesmo?

— O que? As estrelas?

— Não, seu idiota. A atração. Essa força que faz a terra


orbitar em volta do sol, será que existe o mesmo pra nós?
Será que

da pra sentir isso por alguém?

— Você tá ultrapassando todos os limites da filosofia de


bêbado — provoquei. — Mas vou entrar na onda. — refleti
um pouco sobre. — Se isso fosse real, seria como encontrar
alguém que roubasse o seu chão, sem gravidade ou direção,
como se não importasse pra onde você fosse ou que
caminho escolhesse, sempre seria atraído para um único
ponto. Pelo menos é assim com os astros.
— E depois eu que ultrapasso os limites. — Ele balançou a
cabeça. — Mas não respondeu minha pergunta, acha que
isso é real?

— Não sei — respondi sincero. — Nunca vivi nada parecido.

— Mas gostaria de viver?

— Por que tá perguntando isso agora? — perguntei.

— Sei lá. — Deu de ombro. — Pode botar a culpa na bebida.

Só quero pensar um pouco.

— Ser atraído por alguém como a terra é pelo sol... —


refleti.

— Acho que seria muita coincidência encontrar justamente


a única pessoa que te tire o chão no mundo todo. Quase
uma sorte, como ganhar na loteria. Então, sim. Gostaria.

— Então espero que seja real — murmurou observando a


paisagem da estrada. — Nossa, como esse lugar é
fantástico! Queria tirar uma foto, onde você deixou o meu
celular?

— Não peguei, achei que estava com você.

— E eu achei que estava com você. — Bruce bateu nos


bolsos da calça e quando não encontrou, tirou o cinto de
segurança e se inclinou para o banco de trás.

— Bruce, senta direito. A gente vai achar — avisei indo mais


devagar.

— Não precisa parar o carro, tá de madrugada — gritou com


a cabeça enfiada no banco de trás, mas diminui a
velocidade mesmo assim.
Só que o carro começou a derrapar no gelo da estrada e eu
perdi o controle da direção. Bruce gritou assustado e eu não
consegui colocar a porra do carro no lugar, ele deslizou sob
o gelo até bater com toda velocidade em um tronco.

Apaguei com o impacto.

Quando tentei abrir meus olhos de novo, senti uma dor na


cabeça e meu abdômen latejou, bem onde o cinto de
segurança apertou. Com o coração acelerado forcei meus
olhos a abrirem e uma luz forte me atingiu.

O farol do carro ainda estava ligado e estreitando a vista


consegui ver Bruce jogado no capô do carro, engasgando
com o próprio sangue.

Em desespero, tirei o meu cinto e corri para ele.

— Bruce! Bruce! — gritei virando o seu corpo de lado e ele


conseguiu cuspir o sangue e recuperar o fôlego. — Calma!
Vai dar tudo certo — disse ofegante, entrando em pânico.

Massageei as suas costas e minhas mãos começaram a


tremer.

— Eu preciso ligar pra emergência — avisei, o sentando com


o máximo de cuidado possível encostado no tronco da
árvore em que o carro colidiu e passei a mão no seu corpo,
procurando o lugar de onde o sangue jorrava. Tirei meu
casaco e pressionei o ferimento.

Bruce focou apenas em respirar, ele puxou e expulsou o ar


com calma. Enquanto isso eu corri para dentro do carro,
procurando meu maldito celular, que estava jogado entre os
pedais.
Liguei para emergência, para meus pais e para os pais do
Bruce, mas estávamos no meio da porra de uma estrada.
Iria demorar até chegarem. Quando me virei para meu
amigo, ele ainda estava encostado no tronco, olhando para
cima.

— Bruce — chamei chegando perto dele. — Você está


sentindo alguma coisa?

— Não — respondeu calmo. — Eu não sinto nada.

— Você não sente nada? — perguntei confuso, pressionando


o seu ferimento.

— Não — repetiu ainda olhando para cima.

Meu coração acelerou tanto que quase saiu pela boca,


estava com medo de ele ter tido algum tipo de lesão na
medula.

— Vai ficar tudo bem, Bruce — falei chorando, tentando


convencer ele e a mim também.

— Johnny — chamou baixinho, quase como se estivesse


enfeitiçado e lhe dei toda a minha atenção. — Você viu
como essa árvore é linda?

Encarei pela primeira vez a árvore em que colidimos. Era


um salgueiro gigante, o seu tronco era enorme, tanto que o
carro amassado pegou só metade da árvore. Seus galhos
desciam em um arco, formando um casulo para quem
entrava ali.

Nunca tinha visto algo tão lindo.

O farol ligado do carro proporcionava uma luz diferente para


suas folhas. Era um tom de verde vivo, um verde tão lindo
que quase me perdi ao olhá-lo.

— É linda, Bruce — concordei sentando no capô amassado


do carro e me encostando no tronco, ao seu lado. — Vai ficar
tudo bem — continuei falando com ele. — Eu liguei pra
emergência, talvez demore um pouco, mas eles vão chegar.

— Alguém veio salvar a gente — murmurou baixinho.

— O que? — questionei confuso, começando a achar que ele


estava delirando pelo impacto.

— Olha pra cima — pediu sem desviar a atenção de algum


ponto da árvore. — Alguém veio salvar a gente.

Olhei para cima sem entender, procurando entre os galhos


ao que ele estava se referindo, até que meus olhos pararam
em algo cravado em um galho erguido na horizontal acima
de nós. Estreitei os meus olhos e consegui ler a frase.

“Aceita minha mão estendida e me deixa te salvar


também.”

— Alguém veio salvar a gente — repetiu Bruce ainda em


transe e eu peguei a sua mão na minha.

Segurei a sua mão úmida de sangue e senti uma vontade


insuportável de chorar. Mas não desviei a atenção daquela
frase e aceitei a sua mão estendida.

Eu me deixei ser salvo.

Uma paz se instalou em mim e em algum momento eu


soube que meu amigo não estava mais ali. Eu não escutei
mais a sua respiração, senti a sua mão gelar na minha, eu
senti a vida ir embora do seu corpo aos poucos.
Desviei o olhar apenas para verificar as horas.

Bruce Nolan morreu às duas da manhã do dia 13 de


dezembro.

Eu teria um ataque de pânico por ter que ficar sozinho, no


meio do nada, com seu corpo ao lado do meu, mas não foi
isso que aconteceu. Eu me deixei ir também.

Olhei para cada letra da frase escrita acima de mim e me


senti atraído, quase como a terra é pelo sol. Não consegui
desviar a atenção da árvore, me perdi no seu verde, ele me
lembrava a vida, mesmo que a morte estivesse ao meu
lado.

Eu não consegui parar de olhá-la.

Mesmo quando a ambulância chegou, mesmo quando um


homem alto, forte e ruivo puxou o corpo sem vida de Bruce
para si, mesmo quando ouvi o seu choro desesperado,
mesmo quando o escutei me chamar de assassino, mesmo
quando o pai do meu amigo começou a soluçar e gritar.

Eu não desviei o olhar do verde daquela árvore, aquilo era


único. Aquele tom era único.

E eu só o encontrei de novo nos olhos de uma garota.

AMBER FOSTER
Não podia ser verdade.

Não podia.

Eu o salvei, mesmo quando ainda não o conhecia.

Meus olhos encontraram com os seus e Johnny percebeu


que eu estava em choque. Minha mão tremia na sua, meu
coração estava muito acelerado e eu senti lágrimas
silenciosas descerem por meu rosto.

— Eu sei — ele murmurou, chorando. — Eu sei. É demais. Eu


não vou te julgar... — continuou e eu não consegui dizer
nada, estava entalado na minha garganta. — Mas eu preciso
que você saiba que eu não estava bêbado. Eu não tomei
uma gota de álcool naquele dia...

Corri para seu colo e o abracei, sem conseguir mais me


manter longe dele. Meu Johnny era extremamente
responsável com tudo, sabia que era verdade.

Ele me abraçou despedaçado. Enterrei o rosto no seu


pescoço e alisei suas costas, tentando acalmá-lo.

— Não foi sua culpa — falei com o coração apertado. — Não


foi. O carro derrapou, Johnny. Não foi sua culpa.

Ele soltou um suspiro trêmulo e me apertou mais nos


braços.

— Eu ainda escrevo pra ele — informou. —, ainda encho a


sua caixa de e-mails, ainda olho pro computador e espero
que uma

mensagem chegue. Tem momentos que tudo o que mais


preciso é de uma resposta, mas não vem, nunca vem. — Ele
afastou meu cabelo e beijou meu pescoço. — Não consigo
parar, não consigo deixá-lo ir completamente. Falo pra ele
tudo sobre a minha vida, eu escrevo sobre você desde o dia
em que te conheci, eu contei como te olhava de longe,
como sua risada era linda. É um diário e pode ser louco,
mas suspeito que alguém lê tudo.

O apertei mais, sem deixar de fazer carinho nas suas


costas.

— Benny ainda fala comigo — continuou. —, e eu vou ser


grato pra sempre por isso. A mãe dele também, ela
continuou a amizade com a minha mãe e mesmo tendo
ficado destruída, foi me encontrar no dia do enterro, me
disse que não era culpa minha...

— Você não foi ao enterro?

— Não. — Johnny ficou tenso. — Alguém não me queria lá. O

pai do Bruce. Ele me odeia, eu lhe tirei o que mais amava.

Me afastei um pouco para olhar nos olhos dele.

— Ele era o homem que viu a gente no parquinho? —

arrisquei, me lembrando de como Johnny ficou tenso depois


que descrevi a pessoa.

— Eu acho que sim. Estava com medo de encontrá-lo no


casamento, depois que vim para Providence nunca mais nos
vimos.

Ele insistiu para a polícia que eu estava bêbado, que a culpa


era minha e mesmo quando foi constatado que não, ainda
guardou rancor. Nunca mais o vi, mas posso sentir a sua
raiva.
— Eu sinto muito... — lamentei limpando suas lágrimas. —

Você não precisava esconder isso de mim, eu entenderia.

— Eu deveria saber que sim. — Me olhou com todo o amor


que ele sentia por mim. — Desculpa. Eu deveria saber que
você não me deixaria.

— Nunca — declarei dando um breve beijo nele, acariciando


seu rosto. — O que aconteceu com Benny? Por que ele está
zangado com você?

Johnny desviou o olhar e soltou um suspiro.

— Ele achava que estava apaixonado por você.

O encarei sem acreditar por um momento. Eu nunca tinha


dado a entender a ele que tínhamos mais alguma coisa
além da

amizade, fui legal com ele, me aproximei, mas não foi com
essa intenção. Não pensei que Benny me via assim.

— Eu não dei a entender...

— Eu sei — Johnny me interrompeu. — Eu sei, foi algo que


ele confundiu. Me pediu ajuda pra juntar vocês dois.
— Não, Johnny — suspirei triste, enterrando meu rosto entre
as mãos.

Deveria ter sido horrível, Benny deveria ter se sentido


traído, mas ainda não tirava um pouco da minha raiva, por
ter falado tão mal de Johnny. Ele não tinha culpa pelo o que
aconteceu.

— Ele ficou com raiva quando soube que eu estava


apaixonado por você, com todo direito, claro. Mas não me
arrependo disso. — Johnny puxou com carinho meu rosto
até o dele. — Você é minha, Amber, sempre foi. Não podia
desistir de você, por nada na minha vida.

O abracei de novo, um pouco triste por ter sido o motivo da


briga dele com Benny. E tudo piorava com a história do seu
amigo.

Ficamos um tempo em silêncio, apenas sentindo o calor do


corpo um do outro.

E tinha uma coisa que não saía da minha cabeça.

— Johnny... — o chamei depois de um tempo e ele ergueu a


cabeça para mim. — Onde ficava essa árvore?

— Na estrada de Easton para NY, por quê?

Eu poderia falar, mas não era o momento para isso. Era um


momento dele, de se aliviar da culpa, de saber que eu
estava aqui para ele.

Então me calei.

— Por nada.
Quando Johnny adormeceu, eu saí da cama com medo de
acordá-lo, fui até a cozinha para preparar algo. Querendo
cuida-lo e

mimá-lo, do jeito que ele fazia comigo quando eu precisava.

— Ei, loirinha, você viu seu namorado? — Colin chegou por


trás dando um beijo na minha cabeça. — A gente já está
atrasado pro treino e o capitão nunca se atrasa.

— Eu acho melhor ele não ir hoje — avisei e Colin me olhou


preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? Ele tá doente?

— Não, mas eu acho que é melhor ele descansar um pouco.

Ele nunca faltou, não é?

— Nunca.

— Então é melhor deixá-lo dormir um pouco, só por hoje —

implorei e Colin coçou a nuca, indeciso.

— Eu vou inventar alguma coisa, mas o treinador vai ficar


puto. Johnny nunca falta.

Ele precisava disso, só por um dia.

— Obrigada. — Sorri para Colin.

— Ei... — chamou como se lembrasse de algo. — Achei essa


carta aqui pra você. Estava na sua porta.

Colin tirou uma carta do bolso da calça e me estendeu.


— De quem é? — perguntei pegando a carta e virando-a,
procurando pelo remetente e vendo que não tinha nada. Só
o nome

“Amber”.

— Não sei, achei na sua porta quando saí de lá agora —

avisou bagunçando meu cabelo e saindo da cozinha.

Alisei o papel e o abri, me arrependendo imediatamente


quando li o conteúdo.

Era incrível como um coração podia se partir inúmeras


vezes e nunca cansar.

Amber,

Você se lembra de como eu dizia que te amava? De como


você era especial para mim e de como eu sempre amaria
você?

Era mentira. Eu nunca senti nada por você, nem por um


único momento. Você nunca me deu alegria, nunca
preencheu nenhum vazio, nunca serviu para nenhum
conforto na minha vida.

Eu tinha um futuro, uma vida, mas você chegou e deformou


o meu corpo, tirou minhas noites de sono e eu me vi pressa
a você, como um cachorro é ao seu carrapato. Você foi
crescendo e eu me vi perdida, me perguntando se era
normal não sentir afeto por alguém que saiu de mim, mas
eu não sentia.

Me perguntei se o problema era comigo e hoje descobri que


não, o problema era com você, sempre foi, Amber. Você era
uma garota boba, ninguém queria você como amiga na
escola e eu fui bondosa o suficiente para te tirar de lá. Por
favor, não culpe a sua aparência na época, as crianças
sentem a índole de uma pessoa e a sua sempre foi suja.

Seu pai não queria aproximação com você no começo e


mais uma vez, eu fui boa o suficiente para fingir que você
estava doente ou ele nunca repararia em você. Ninguém
teria reparado em você se não fosse por mim, nem mesmo
a sua “melhor amiga”.

Você era uma menina carente, queria afeto, mas ninguém


te amava de verdade, Amber. Era impossível, eu sou a
prova disso. Se a sua própria mãe não conseguiu, quem
mais conseguiria?

Você acabou com a minha vida. Acabou. Me destruiu. Em


outra vida, onde eu não tivesse você como minha filha, eu
teria sido feliz. Fico pensando onde eu estaria agora se você
nunca tivesse existido, o que eu teria conquistado, mas
você existe, infelizmente.

Eu não aguento mais, Amber. Não aguento. E é assim que


eu me despeço de você. Quero que saiba que foi culpa sua,
não a quero no meu enterro, não quero as suas lágrimas
falsas e fingidas.

Mesmo depois de anos cuidando de você, dando a minha


vida a você, foi isso que recebi em troca. Traição. E é com
esse sentimento que eu vou embora.

Revolta.

Minhas pernas cederam e caí no chão da cozinha. Chorei


com dor no coração, daria tudo de mim para não ter lido
nada daquilo.
Abracei meus joelhos e chorei como uma criança. Johnny
precisava de mim, eu precisava de mim. Mas não
conseguia, não podia subir para o quarto dele e pedir
socorro como sempre fazia.

Não podia pedir para o meu amor me abraçar e dizer que ia


ficar

tudo bem, ele não podia ter mais coisas na cabeça, estava
tão quebrado quanto eu.

Era incrível como o amor funcionava, mas eu preferia me


afastar e sofrer sozinha a causar qualquer dor a ele. Preferia
lamber minhas feridas longe a ter que sugá-lo para aquilo.
Eu atrapalhava a sua vida diariamente e não podia nem
mesmo estar ali para ele quando precisava de mim.

Mas eu já estive, no momento em que ele mais precisou.

Mesmo antes de conhecê-lo.

Levantei com as pernas trêmulas, tomando uma coragem


que não sabia ter. Fui até minha casa, subi para o meu
quarto e larguei a carta no chão. Arrumei minha mala com
pressa e chorei dolorosamente ao olhar para a janela dele,
do meu quarto.

— Eu juro... eu vou resolver tudo. Pra você e pra mim —


murmurei para a janela dele. — Eu vou cuidar de você como
sempre fez comigo.

Peguei meu celular com a mão tremendo e digitei uma


mensagem, sentindo uma dor estranha no coração, quase
insuportável, por ter que me distanciar, mesmo que fosse
por pouco tempo.

Eu: Eu preciso resolver pendências minhas, preciso fazer


isso sozinha, por mim e por você. Por favor, entenda.

Eu: Eu te amo e eu vou voltar, prometo.

Eu: Eu faria tudo por você. Tudo.

Até mesmo quebrar sozinha e no silêncio.

Olhei uma última vez para a janela dele e acenei em


despedida.

Então, eu fui embora.

JOHNNY JACKSON

Acordei me sentindo mais leve por finalmente ter contado a


verdade para Amber. Tirei um peso de mim, o medo dela me
deixar, de me rejeitar, tudo isso aliviou.

Olhei em volta e percebi que ela não estava no quarto, mas


logo me lembrei da sua aula. E da minha.

Eu perdi a aula e o treino.

Íamos jogar em casa esse fim de semana, a pressão era


maior, o capitão do time não podia faltar assim, sem dar
explicação.
Olhei para o relógio ao lado da minha cama e me preocupei
mais ainda ao me dar conta de que minha princesa foi e
voltou do campus sozinha.

Desci as escadas apressado e encontrei os meninos abrindo


a porta, chegando do treino.

— Você não estava doente? — Taylor perguntou, jogando a


mochila no chão.

— O treinador está uma pilha de nervos, disse que vinha


aqui ver o que você tinha pessoalmente. Quer saber se vai
ter condição de jogar no sábado — Drake informou indo
para a cozinha.

— Vocês viram a Amber? Como ela voltou do campus? —

perguntei preocupado.

— Eu encontrei com ela mais cedo aqui — Colin me


respondeu. — Me pediu pra inventar uma desculpa, disse
que você não estava bem pro treino hoje.

Senti uma pontada de conforto no peito, por saber que ela


pensou e se preocupou comigo antes de sair.

Deixei-os falando sozinhos sobre minha falta no treino e fui


até a casa da minha namorada procurar por ela. Mas parei
no lugar assustado assim que abri a porta da casa.

Maddie estava sentada no chão da sala, olhando fixamente


para um cinzeiro. Ela estava queimando alguma carta e
mirava o fogo com raiva enquanto ele consumia o papel.

— Não interrompa — sussurrou Sienna da cozinha. — Ela


está fazendo algum tipo de ritual.
Acenei com a cabeça em silêncio e desviei da bruxinha no
chão, indo até o quarto da Amber.

— Princesa? — chamei abrindo a porta.

Senti um peso diferente no coração ao ver suas roupas


reviradas na cama. Ela era desorganizada, mas não desse
jeito.

Peguei meu celular para mandar uma mensagem e meu


coração parou ao ver o que ela escreveu para mim.

Ela prometia voltar, dizia que me amava, mas foi embora.

E acho que foi nesse momento que entendi aquele papo


com Bruce, porque ali eu me senti sem chão, sem gravidade
ou direção.

O meu sol tinha sido tirado de mim.

— Era real, Bruce. Sempre foi — sussurrei.

AMBER FOSTER

Bati na porta à minha frente com um certo frio na barriga,


não fazia ideia de como seria recebida, mas era a primeira
coisa que queria resolver.

Queria ser forte por Johnny.


A porta foi aberta e uma mulher morena de meia idade me
recebeu com um sorriso no rosto.

— Sim?

Respirei fundo e segurei minha bolsa com mais força,


nervosa.

— Você é a Sra. Nolan? — perguntei e a mulher confirmou


com um aceno. — Não chegamos a ser apresentadas, mas
eu sou a namorada do Johnny. — Mordi o lábio inferior, sem
saber qual seria a sua reação.

O rosto da mulher se iluminou e ela me pegou de surpresa


quando veio me abraçar.

— Ah! Que maravilha conhecer você, querida! Alexandra me


disse que vocês parecem ser feitos um para o outro —
contou se referindo à mãe do Johnny.

— Obrigada. — Sorri de leve para ela.

— Entre! — Gesticulou para mim e entrei na sua casa, que


tinha uma decoração acolhedora. — Ele não veio com você,
não é?

— O seu rosto murchou em tristeza.

— Não.

— Não vejo Johnny desde que ele foi pra universidade —

explicou, mas eu percebi que estava pisando em ovos para


falar comigo, talvez com receio de que eu não soubesse
sobre a história do seu filho.

— Eu sei por que ele se afastou — sussurrei para ela, sem


saber como tocar no assunto e os olhos da mulher à minha
frente se encheram de lágrimas.

— Me desculpe — ela pediu limpando os olhos. — Ninguém


prepara uma mãe pra isso.

Não sabia se podia tocá-la, ela era alguém que eu não tinha
a mínima intimidade. Mas me considerava péssima em
consolar pessoas, então fiz a primeira coisa que me veio à
cabeça: segurei a sua mão na minha.

— Eu não o culpo — afirmou e mais uma lágrima escapou


dela. — Meu Bruce amava o melhor amigo e eu não o culpo.
Teria acontecido de um jeito ou de outro.

— Eu sei disso. — Acariciei a sua mão sem saber como


confortar uma mãe que sente saudade do seu filho.

— Não falei com Johnny no casamento, porque sei como ele


se sente. Ainda não está preparado para nos encontrar, mas
nós o amamos.

— E ele ama vocês.

— Me desculpe, querida — pediu mais uma vez e limpou o


rosto, tentando se recompor. — Eu não lhe conheço e já
estou chorando em cima de você. Nem perguntei o motivo
da sua visita.

— Não precisa se desculpar, eu... — Olhei ao redor da sua


casa sem saber como dizer o que fui fazer ali. — Eu tenho
algo pra falar com o seu marido, sobre o acidente.

Ela arregalou os olhos, preocupada.

— Como assim?
— Não precisa se preocupar, é só algo que pode ajudá-lo
com Johnny — afirmei e a mulher ficou confusa, mas acenou
a cabeça em concordância para mim.

— É bom avisá-la que ele não vai ser muito amigável


quando souber que você é namorada do Johnny.

— Eu já esperava por isso — contei. Sra. Nolan apertou


minha mão antes de sair da sala e me deixar sozinha.

Andei de um lado para o outro nervosa, sem saber o que


fazer para convencê-lo a me acompanhar. Sentei no sofá
azul da sala e esperei o homem que tinha a redenção do
meu namorado nas mãos.

Quando o Sr. Nolan finalmente apareceu, eu paralisei ao


constatar que ele era de fato o homem que vi nos
observando no pula-pula. Alto, forte, bem conservado para
um senhor de meia idade e o seu cabelo era ruivo como o
de Benny. O mesmo tom que enxerguei contra a luz naquele
dia.

— O que você quer aqui? — perguntou e eu pude ver as


rugas nos cantos dos seus olhos cansados. — O que você
quer? —

repetiu grosseiro quando não respondi. — Ele lhe mandou


vir aqui?

— Não — neguei, me levantando. —, eu tenho algo pra


mostrar ao senhor.

Ele gesticulou com a mão, esperando que eu continuasse.

— No lugar do acidente do seu filho — completei e o homem


fechou a cara.
— Fora daqui — mandou apontando para a porta.

— Eu já estive lá — comentei e ele não estava querendo me


ouvir, pois foi abrir a porta da rua. — Eu já estive lá — repeti
indo até ele. —, antes de acontecer.

Isso lhe chamou a atenção.

— Como assim?

— Antes do seu filho falecer — falei com cuidado e seus


olhos me mostraram dor. — Eu estive lá.

O Sr. Nolan me olhou com desconfiança, receoso.

— Você está mentindo.

— Se o senhor for até lá comigo, posso lhe mostrar que não.

Ele me olhou perdido, pensando se o que eu estava dizendo


era verdade ou não.

— Saímos em dez minutos.

Acho que nada se comparava a beleza daquela árvore, a


energia que emanava dela conseguia me atingir. Eu senti a
mesma vibração de quando estive ali pela primeira vez.
Mas estava diferente, dava para perceber no seu tronco que
algo colidiu contra ela. Uma parte estava retorcida e tinha
uma cruz cravada na terra fofa que cobria as suas raízes.

O Sr. Nolan não ousou se aproximar, ficou longe, mas eu


não resisti a tocar e sentir a sua casca sob meus dedos.

— O que queria mostrar? — perguntou impaciente atrás de


mim, parecendo implorar para ir logo embora daquele lugar.

— Por que o senhor o culpa? — Decidi entrar no assunto.

— Você viajou até aqui pra defender o seu namorado?

— Eu só queria entender, o senhor sabe que o carro


derrapou, ele não estava bêbado...

— Isso é o que ele diz — rebateu com raiva.

— Mas já não foi comprovado? — argumentei sem olhá-lo,


concentrada apenas na árvore.

Eu não queria brigar com ele, ele já sofria demais.

— Ele não teve nada — murmurou baixinho e meu coração


apertou —, saiu ileso, mas matou o meu filho.

— Ninguém saiu ileso — comentei com calma e sentei no


chão, encostando minhas costas no tronco retorcido, bem
onde deveria ter sido o acidente.

Tinha uma energia diferente ali.

— O que você está fazendo? Eu vou voltar pra casa —

ameaçou e eu bati na terra ao meu lado, chamando-o para


se sentar comigo.
— Quando eu era pequena, minha mãe me jogou na piscina.

— Fechei os olhos e suspirei de prazer, sentindo conforto


por descansar as costas naquele tronco. — Ela não voltou
para me

pegar, me jogou fora, como se faz com alguma roupa que


não se quer mais usar.

Esperei pela sua resposta, mas não veio.

— Eu me lembro de ter sentido o tempo parar quando


cheguei ao fundo. Eu não sabia nadar. — Enterrei meus
dedos na terra úmida, querendo mais contato com aquele
ambiente. — Quando achei que era o fim, ele apareceu pra
mim e me estendeu a mão.

— Quem? — sua voz indicava que ele tinha se aproximado


mais.

— Era alguém com os olhos escuros e eu me senti atraída


para tocá-lo, mas fiquei com medo... Ninguém me queria,
ninguém fazia questão que eu chegasse à borda. — Senti
minha garganta fechar ao me lembrar da carta, mas respirei
fundo. — Quando eu o perguntei por que estava me
ajudando, ele disse que eu iria salvá-lo também.

Abri os meus olhos de uma vez e encontrei acima de mim a


frase cravada.

— Eu não acreditei na hora — continuei, sem desviar a


atenção da árvore. — Eu não podia salvar ninguém, nem a
mim mesma. Mas ele me fez crer que era possível e eu
aceitei a mão dele. Saí do fundo e cheguei à borda.

O Sr. Nolan se sentou do meu lado e olhou para cima, vendo


a frase escrita.
— Quem fez isso? — perguntou como se sentisse dor.

— Anos depois eu vim aqui e eu subi naquele galho. —

Apontei para o galho acima de nós. — Eu senti uma


oportunidade de retribuir o favor, mesmo achando que
talvez nunca fosse encontrá-lo.

— E você o encontrou? — Ele não tirou os olhos da frase.

— Sim — sussurrei, sentindo saudade dele. Era como se um


membro do meu corpo não estivesse comigo. — Eu o
encontrei. Ele e o seu filho sentaram aqui e olharam para
cima, do mesmo jeito que nós estamos agora e eu o salvei.

Nós passamos um momento em silêncio até o Sr. Nolan


decidir falar.

— Obrigado — agradeceu com a voz trêmula. — Por


também ter estendido a mão pro meu filho no caminho.

— Foi uma honra.

JOHNNY JACKSON

Eu: Volta pra mim.

Eu: Você está bem?


Eu: Me diz onde você tá, por favor. Eu juro que não vou
aparecer, só quero saber se você tá bem.

Eu: Meu coração dói, Amber. De um jeito que nunca doeu


antes.

Eu: Você não precisava ter ido embora, princesa. Nunca. Se


você quisesse um tempo, eu daria espaço, preferiria
atrapalhar minha vida a fazer isso com a sua.

Eu: Você me disse que faria tudo por mim, mas eu também
faria qualquer coisa por você. Somos pra sempre, lembra?
Eu faria tudo por você.

Até mesmo me afastar, se fosse isso que você quisesse.

Mesmo que me destruísse no caminho, por você, eu faria.

Sentei na minha cama e olhei para a janela dela. Era de


madrugada e não conseguia dormir, mais uma vez. Talvez
não fizesse sentido, mas não conseguia dormir sem ela do
meu lado.

Sem o seu corpo, o seu calor, o cheiro, sentindo que ela


estava babando no meu peito e segura nos meus braços.

Só queria saber onde ela estava, saber se estava bem.

Entendi que a história com Bruce foi demais para ela, eu


matei uma pessoa, caramba. Isso não é algo leviano, ela
precisava pensar, eu entendo. Mas eu queria que ela tivesse
me pedido esse tempo, eu sairia de circulação, daria
qualquer coisa que pedisse.

Eu a queria feliz e bem.


Fui até a minha janela e voltei a encarar a dela. Eu não
conseguia dormir desde que ela foi embora na segunda-
feira, o seu

cheiro estava no meu travesseiro, mas não era o suficiente,


precisava de mais.

Vesti uma camiseta e saí pela minha janela, tendo o déjà vu


do dia em que transamos pela primeira vez. Escalei até
chegar à sua janela e entrei no quarto.

Estava tudo vazio e sem vida, morto. Sem ela parecia que
tudo era assim. Me deitei na sua cama e abracei o
travesseiro, sentindo resquícios do cheiro de morango do
seu cabelo. Fechei os olhos apenas para fantasiar que ela
estava ali comigo e que eu podia ouvir o som da sua
respiração. Mas não era real.

Era apenas silêncio. E não lembrava de ter odiado tanto o


silêncio na vida.

Encarei o teto do seu quarto e tentei dormir, procurei por


sonhos bons e tranquilos que não vieram. Passei a mão no
peito sentindo uma dor, uma agonia ali. Algo que, no
primeiro momento, não soube identificar o que era. Mas
quando senti as lágrimas descerem pelo meu rosto, entendi
que era o choro que eu estava prendendo.
Chorei e me permiti sentir uma saudade absurda da minha
princesa que não me queria por perto.

E se ela foi embora por outro motivo?

Até agora só tinha pensado que queria distância de mim,


mas ela disse que iria “resolver pendências”. Podia ser algo
relacionado à sua mãe, podia ter sido ameaçada ou até
mesmo sequestrada.

— O que ela disse quando a viu pela última vez? —


perguntei para Colin, que me olhava apenado.

— Há quantos dias você não dorme?

— O que ela disse? — insisti sem paciência.

— Johnny! — berrou o treinador, puto. — Você vai jogar ou


ficar fofocando?

— O que ela disse? — repeti sem dar atenção ao treinador,


pois Colin estava fazendo uma cara de quem escondia
alguma coisa.

— Olha, quando a gente sair do treino...

— Agora, porra! — gritei e todos os caras pararam no gelo.

O treinador veio deslizando até nós, mas não parei de


encarar Colin.

— Eu entreguei uma carta pra ela no dia que foi embora.

— Como você só me diz isso agora? — Tentei empurrá-lo,


mas Colin desviou com facilidade. Taylor e Drake vieram me
segurar no lugar.
— Fora! — O treinador me olhou decepcionado. — Está
dispensado e tem sorte de não ficar no banco no jogo.

— O que tinha na carta? — perguntei desesperado, pouco


ligando para o que o treinador dizia e Colin suspirou.

— Eu não sei, cara. Só achei na porta da casa dela e


entreguei. Depois não a vi mais.

— Talvez ela só precise de um tempo, Johnny — Taylor


tentou ajudar.

— Você precisa se acalmar, ela vai voltar — Drake enfatizou,


mas não queria ouvir.

Dei às costas a eles e fui o mais rápido possível para longe


do rinque de patinação. Tinha que ir à polícia, não sabia o
que tinha acontecido, ela podia ter sido ameaçada, coagida
e Deus sabe onde poderia estar agora.

Talvez precisando de mim ou talvez não. Mas foda-se, eu


precisava dela.

— Olha, me desculpa. — Colin veio atrás de mim. — Quando


você me disse que ela mandou mensagem avisando que iria
viajar achei que não era relevante.

— Eu preciso ir à polícia.

— Johnny...

— Ela pode estar desaparecida.

— Johnny — chamou mais incisivo e lhe dei minha atenção.

— Ela avisou que iria embora, irmão e disse que voltaria.


Não pode ser enquadrada como desaparecida.
— Vou pedir pro Tyler tentar achá-la — lembrei já tirando
meu capacete.

— Ótimo, vamos lá. — Colin me acompanhou e começou a


tirar o equipamento do uniforme.

— Você vai faltar o treino? — perguntei apontando para o


gelo, onde os caras já estavam voltando para suas posições,
mesmo preocupados com minha explosão.

— Claro — respondeu como se fosse óbvio.

— Colin — chamei e ele me olhou de relance. —, obrigado.


Às vezes você não é um completo idiota.

Aquele era nosso jeito de dizer que nos importávamos um


com o outro.

— Depende do dia da semana. — Ele sorriu para mim e


fomos para o vestiário.

Assim que troquei de roupa liguei para Tyler. A cada


segundo que passava eu ficava mais tenso.

— Você consegue rastrear o celular da Amber? — atirei


quando ele atendeu.

— Por quê? Isso não é um pouco obsessivo demais da sua


parte? Ela disse que voltaria.

— Tyler — chamei com a pouca paciência que tinha. — Você


pode rastrear a porra do celular dela ou não?

— Posso tentar, mas essas coisas não são rápidas e eu não


sou tão bom assim com rastreamento.

— Por favor — implorei e Tyler ficou em silêncio, acho que


nunca me ouviu implorar por nada. — Faça isso. Por mim.
— Vou tentar. Mas não garanto nada, pode demorar alguns
dias.

— Certo — me despedi decepcionado e desliguei.

— Nada? — Colin se aproximou já pronto, mas ele parecia


um pouco zangado.

— Nada — murmurei. — Ele não é bom com rastreamento.

— Ele não é bom com muita coisa — resmungou com o


cenho franzido e seguimos para fora do ginásio.

— Ainda tá zangado com ele? Olha, foi a Maddie que o


beijou...

— Não quero falar disso, ok? — pediu puto e acenei.

Voltei minha atenção para o celular e liguei para Lindsay,


ela tinha que saber de alguma coisa.

— Hello — Lindsay cantarolou animada quando atendeu e


todas minhas esperanças foram por água abaixo.

— Lindsay, você sabe pra onde Amber viajou? — Tentei


sondar descontraído para não a deixar assustada.

— Não — ela murmurou confusa. — Ela viajou e não te disse


nada? Péssima namorada, tem que dar uns toques nela,
garotão.

— Certo — respondi desanimado. —, eu vou continuar


tentando ligar pra ela.

— Vocês brigaram?

— Não — desconversei. —, só estamos meio afastados.


— Ah, não — resmungou triste. — Pois mexa essa sua bunda
bonita e vá atrás dela! Peça desculpa, compre flores, tudo
vai se resolver!

— Sim, farei isso. Obrigado, Lindsay.

— Por nada, beijinhos!

Suspirei derrotado e entrei no carro de playboy do Colin,


sem saber o que fazer.

— Então, aonde vamos? — Meu amigo se virou para mim


assim que ligou o carro.

— Para o aeroporto.

— Então temos que passar em casa antes. — Colin colocou


os seus óculos escuros e começou a dirigir sem me
contrariar ou questionar.

Não podia ficar parado esperando acontecer alguma coisa


com minha princesa. Iria gastar os últimos centavos da
minha conta bancária, mas rodaria o país até encontrá-la.

Quando paramos em casa desci do carro depressa e me


deparei com duas pessoas me esperando na porta da
frente.

Benny e Nelly.

— O que aconteceu com a Amber? Ela não responde minhas


mensagens e faltou todas as aulas essa semana. — Nelly
me olhou preocupada.

— Ela também não me deu muitas dicas — respondi


entrando na casa e deixando a porta aberta para eles me
seguirem, tinha que arrumar minha mala. — Só disse que
voltaria, que precisava resolver algumas coisas.

— Falei com as meninas e elas disseram que estão


preocupadas — Nelly contou e engoli em seco, porque as
meninas ficaram preocupadas e sem entender, mas
acabaram se acalmando quando eu contei que Amber
mandou mensagem dizendo que voltaria.

— Eu vou procurá-la — informei subindo até o meu quarto,


estava sentindo uma necessidade de me mexer, não
conseguia ficar parado ou enlouqueceria.

— Johnny...

Fechei os olhos ao ouvir a voz de Benny atrás de mim. Em


qualquer outro momento eu gostaria de resolver o meu
problema com ele, mas ali não. Quando eu encontrasse
Amber a gente poderia conversar, mas agora eu só a queria
bem.

— Não é um bom momento, Benny — avisei pegando uma


mochila no meu guarda roupa.

— Eu só queria me desculpar. Eu pensei que você não


gostasse dela.

Olhei para o ruivo sem acreditar. Não era óbvio que eu


lambia o chão que minha namorada pisava?

— Hoje eu vejo que estava enganado. — Ergueu as mãos na


defensiva. — Você é louco por ela. Eu sei disso, me desculpa
por ter atrapalhado no começo.

Relaxei um pouco.
— Você não atrapalhou nada, Benny, eu que fui um péssimo
amigo. Eu peço desculpas por ter feito você sofrer, por
termos brigado, mas não por ter lutado por ela. — Fui o
mais sincero possível. — Amber sempre foi minha e eu teria
brigado com qualquer amigo pra tê-la.

Benny sorriu orgulhoso para mim.

— Bruce teria gostado dela — murmurou baixinho, sabendo


que esse era nosso assunto proibido.

— Ele teria a amado — concordei e Benny veio me abraçar.

E eu o abracei de volta. Foi bom finalmente resolver tudo


com ele, era como um irmão mais novo para mim e sempre
seria.

— Não foi sua culpa, Johnny — Benny murmurou e senti um


aperto no peito. — Não foi. Eu já disse isso a você, minha
mãe já disse, eu acho que você só está esperando mais
uma pessoa dizer, mas não espere. Nunca foi sua culpa.

— Eu sei disso, Benny — respondi, mas sabia que ainda


esperava pelo perdão do seu pai, às vezes sentia que
faltava só isso para ficar em paz.

— Eu falei coisas terríveis sobre você — comentou Benny se


afastando de mim e ajeitando os seus óculos. — Mas nada
era verdade.

— Está tudo bem, Benny — confortei.

— Você sempre esteve lá por mim, me protegeu, ficou do


meu lado nos piores momentos e mesmo assim falei coisas
horríveis sobre você no casamento. — Ele suspirou triste. —
Eu tinha encontrado com meu pai naquele dia e parecia que
tudo veio à tona, por um momento fiquei amargo também.
— Não precisa pedir desculpas.

Sabia que era uma situação difícil. O Sr. Nolan não deixava
de transmitir o seu ódio por mim sempre que encontrava
alguém da minha família e não deveria ser diferente com
Benny, até imagino as coisas que dizia para o caçula.

Ele nem sempre foi assim, quando éramos crianças, era


quase um segundo pai, mas hoje em dia se tornou a pessoa
que mais receio em encontrar.

— Estamos bem? — Benny ajeitou os óculos.

— Sempre, Benny — respondi bagunçando o seu cabelo. —

Agora eu preciso ir atrás da minha garota.

— Tem alguma ideia de onde ela esteja?

— Nenhuma — declarei fechando minha mochila e a


colocando nas costas.

— Eu conheço uma pessoa que pode nos ajudar — Colin


apareceu na porta do meu quarto com Nelly do seu lado.

— Quem? — perguntei desconfiado.

— O todo poderoso.
JOHNNY JACKSON

— Por que ele me ajudaria? Somos rivais no gelo —

questionei nervoso, a cada minuto que passava sentia que


poderia ter acontecido alguma coisa com ela.

— Tenho um palpite. — Colin deu de ombros,


despreocupado.

Tentei relaxar lembrando que Colin o conhecia melhor do


que eu, por mais que ainda achasse difícil Cameron ajudar
alguém por pura bondade do seu coração.

Pegamos um voo até a Universidade de Princeton para falar


com Cameron Payne, um dos bilionários mais jovens do
mundo. Pelo que dizem por aí a história do Todo Poderoso
não era nada bonita, os seus pais morreram quando ele era
apenas uma criança e teve que ser criado pelo seu avô, um
dos fundadores de uma empresa de petróleo e que tinha
muito, mas muito dinheiro.

O bilionário tinha uma família grande, filhos, netos, irmãos,


todos vivendo às suas custas. Mas quando morreu, deixou
tudo, até o último centavo para Cameron, seu neto favorito
de apenas 17 anos na época.

Todos conheciam a história dele, passou no jornal e virou


notícia no mundo, como um adolescente tinha virado
bilionário da noite para o dia. Muitos apostaram que ele iria
acabar sendo enganado pelos seus administradores ou que
perderia patrimônio.

Mas ninguém contava que cinco anos depois Cameron


conseguiria aumentar a herança que recebeu do avô. Ele
era frio, calculista e diziam que possuía uma inteligência
invejável.
Nós o conhecemos pelos jogos de hóquei da universidade,
mas ninguém se aproximava muito dele a não ser Colin, que
o conhecia desde pequeno.

— Por que ele tá sempre se mudando? — Colin perguntou


observando o apartamento muito luxuoso em que
estávamos esperando-o nos receber.

Iria mentir se dissesse que nunca me perguntei isso


também, já enfrentamos Cameron no hóquei pela
Universidade de Yale, Harvard, Columbia, e agora Princeton,
ele mudava constantemente de universidade, nunca parava
em um lugar.

— Quem é próximo dele aqui é você — pontuei.

— Podem vir comigo, ele está esperando vocês. — Uma


garota morena muito bonita apareceu na sala e nos guiou
até uma academia dentro do apartamento gigante.

Quando chegamos à porta, vimos que Cameron estava em


um ringue de luta com um homem negro, que deveria ser
seu treinador. O bilionário era alto, forte, tinha o cabelo loiro
curto e olhos muito azuis, que estavam concentrados no seu
oponente.

— Cameron — cumprimentou Colin se aproximando do


ringue.

Cameron não lhe deu atenção e desviou de um soco em um


movimento habilidoso, como se soubesse em que direção o
golpe iria antes do adversário se mexer.

— Preciso da sua ajuda, é um assunto sério — Colin tentou


de novo, mas Cameron o ignorou de novo e eu não tinha
tempo para esperar ele acabar o seu exercício.
— Um assunto urgente — reafirmei e o loiro virou para mim,
surpreso por me ver ali, mas isso lhe rendeu um soco
surpresa no abdômen.

Colin chiou do meu lado, mas Cameron nem piscou.

— A que devo a honra de ter o Fodão do hóquei na minha


casa? — perguntou sem desviar o olhar.

— Preciso da sua ajuda. — Engoli o orgulho e pedi. Não


éramos próximos, mas meio que rolava uma rivalidade no
gelo.

Ele parecia ser o tipo de pessoa que queria ser excelente


em tudo que fazia, mas no hóquei eu era o mais rápido.

— Estamos preocupados com uma pessoa e acho que você


pode ajudar — Colin completou por mim.

— Vocês não têm um jogo amanhã?

— Isso é mais importante que o jogo — respondi.

Cameron desviou de mais um soco sem tirar os olhos de


nós, depois voltou o seu olhar para seu treinador e levantou
a sobrancelha em uma expressão que dizia “Sério? Eu
estava em uma pausa”.

— Ninguém para pra conversar em uma briga de rua. — O

outro homem brincou e Cameron lhe deu um gancho de


direita que ninguém ali esperava. O seu treinador
cambaleou para trás e o loiro foi tirando as luvas de boxe
em um movimento calculado.

— Então... — Cameron gesticulou com a mão para


continuarmos e desceu do ringue.
— Uma pessoa próxima a nós sumiu, só deixou uma
mensagem dizendo que voltaria — Colin começou.

— Eu só preciso rastrear o telefone, pra saber a localização


falei e Cameron se sentou em uma cadeira para nos dar


atenção, passando uma toalha na sua testa suada.

— E por que eu os ajudaria? — perguntou pegando uma


garrafinha de água.

— Por que pode ter acontecido alguma coisa grave —


alertei.

— Não vejo o problema aqui. — Cameron deu de ombros. —

Pra mim alguém quis dar um tempo e vocês estão


atrapalhando. Não avisou que voltaria?

— Sim, mas pode ter sido uma coerção ou ameaça —

expliquei.

— Queremos ter certeza se está tudo bem — Colin


contribuiu, sentando em outra cadeira que tinha na
academia luxuosa.

— Eu não sei o que isso tem a ver comigo. — Cameron


esticou as pernas grandes e cruzou os braços em frente ao
peito, em

uma postura relaxada de quem não dava a mínima para


nossos problemas.

Sabia que ele não iria nos fazer um favor assim de graça, foi
perda de tempo. Lancei um olhar para Colin, em um aviso
silencioso para irmos embora.
Não podia mais ficar parado. Tinha perdido muito tempo
sofrendo, achando que ela não me queria, enquanto ela
podia estar passando por algo sério.

— Ele está procurando uma garota, Cameron — Colin contou


do nada, como se soubesse de alguma coisa. — Namorada
dele, ela foi embora e ele está preocupado.

Algo passou pelos olhos muito azuis de Cameron, por mais


que ele não permitisse que sua expressão se alterasse. Foi
tão passageiro que poderia até ter imaginado.

Meus olhos foram involuntariamente para a única tatuagem


dele à vista, bem na costela. Era uma mão feminina e
delicada, dedilhando um piano, as notas musicais saíam
pelo seu corpo até chegarem perto de onde ficava o coração
dele.

— Me fala a história dela — pediu Cameron, mais


interessado agora.

Eu contei um resumo da história da sua infância sem dar


muitos detalhes, não era algo que ela gostava de falar. Falei
sobre as ameaças, a carta que não sabíamos o que continha
e como ir à polícia não ajudou em nada até agora.

— Então, você quer que a vaca desapareça? — Cameron


perguntou, me analisando.

— Sim — respondi sem hesitar.

— Não desse jeito... — Colin se apressou a esclarecer. —


Nós viemos aqui apenas pra encontrar a Amber.

— Então o que você quer que aconteça com a mulher? —

Cameron ignorou Colin e me deu toda sua atenção.


— Vou respeitar a vontade da minha namorada, ela queria
que a mãe fosse presa. Essa foi sua única exigência, mas
sinceramente, eu estou pouco me importando com o que
acontecerá com ela, só a quero longe e com garantia que
nunca mais atormente Amber.

— Certo — Cameron concordou em um movimento e se


levantou.

— Você vai ajudar? — perguntei sem entender se ele tinha


concordado ou não.

— Talvez. — O loiro deu de ombros e nos deu as costas.

— Queremos achá-la logo, Cameron, se você puder dizer a


localização dela agora, vamos embora — Colin pediu.

— Podem ir, eu resolvo — respondeu Cameron nos


dispensando.

— Eu não vou pra casa sem ela. Se é tão fácil pra você
descobrir, pode fazer o favor de me dizer onde ela está? —
perguntei sem paciência.

— Não, eu disse que vou resolver — Cameron afrontou.

— Vai resolver? Eu não quero que você resolva, só quero a


maldita localização dela — avisei indo até ele e Colin se
apressou em se meter entre nós, sentindo a tensão.

— Já passou pela sua cabeça fodida que ela apenas queira


ficar longe de você? — Cameron atirou raivoso. — Que ela
não quer contato? Pode nem lembrar da sua existência
agora.

Ele pegou bem na ferida, pois passei esses dias pensando


que ela talvez estivesse fazendo isso. Por que ele não
enfiava logo uma faca no meu coração?

— Se é isso o que ela quer, perfeito. Mas vou verificar por


mim mesmo se está tudo bem.

— Talvez esteja com outro — continuou e fui para cima dele,


mas Colin me segurou pelo braço.

— Já chega — Colin rugiu para o loiro.

— Talvez nem pense em você enquanto procura por ela


como um louco — Cameron provocou e eu soube ali, que
isso não era sobre mim, era sobre ele.

— Vá pra puta que pariu, Cameron. — Me soltei de Colin e


fui para fora da academia.

Estava perdendo meu tempo e a cada minuto que passava,


podia estar acontecendo alguma coisa com ela. A vaca da
sua mãe tentou matar uma criança e se eu fosse por essa
linha de raciocínio enlouqueceria a qualquer momento.

Desci do prédio sem olhar para trás e esperei por Colin do


lado de fora. Mas não perdi tempo, fui logo comprando duas
passagens para Florida, talvez ela tenha ido para casa,
mesmo sem avisar Lindsay.

Colin apareceu do meu lado tenso, passando a mão pelo


cabelo.

— Não leva nada do que ele disse a sério...

— Vamos — o interrompi, não querendo falar disso.

Ela não me deixou, e definitivamente, não estava com


outro.
Isso não passou pela minha cabeça, na sua mensagem dizia
que me amava. E eu acreditava nisso.

Peguei meu celular em um momento de insegurança e lhe


mandei mais uma mensagem. Só para reforçar, só para que
ela soubesse.

Eu: Eu te amo, mais que tudo.

Entrei no carro que alugamos e segui com Colin para o


aeroporto.

— Por que eu nunca fiquei sabendo sobre essas merdas da


mãe da Amber? Cara, isso é horrível.

— Ela não gosta de falar sobre isso, então não comenta com
ninguém — pedi.

— Tudo bem. — Meu amigo me lançou um olhar


preocupado.

— Eu acho que você precisa dormir, de verdade.

— Não consigo — revelei, encostando minha cabeça no


vidro da janela e olhando para a rua, esperando que ela
aparecesse do nada caminhando pela calçada. — Não
consigo dormir sem ela.

— Eu achei que ele fosse ajudar — murmurou depois de um


tempo, quase pedindo desculpa.

— Não vou desistir, vamos pra Florida — avisei.

— Sempre amei a Disney.

Seguimos em silêncio até o aeroporto, mas assim que


cheguei descobri que esse não era o meu dia, com toda
certeza.
Nosso voo tinha sido adiado.

— Hoje não é o seu dia — ajudou Colin, se sentando em


uma cadeira.

— Definitivamente — concordei e deixei Colin sozinho para


caminhar um pouco pelo aeroporto e olhar ao redor, não
deixando de procura-la nem por um momento.

Mas não foi minha princesa que encontrei caminhando na


minha direção, foi Cameron.

Ele estava com uma calça social e camiseta simples preta,


usava óculos escuros em cima da cabeça e um relógio de
ouro que deveria valer mais que o meu carro.

Cameron andava com as mãos nos bolsos e tinha dois


seguranças que pareciam armários logo atrás.

— Achei sua garota — informou Cameron de má vontade


quando chegou até mim.

— Onde? — perguntei ansioso.

— Parece que sua namorada andou dando umas voltas por


aí. Mandei uma pessoa pra conferir se tinha algo de errado,
mas tudo o que precisa saber é que a garota está bem e vai
voltar no tempo dela. Também já foi resolvido o assunto da
mãe.

Olhei-o sem acreditar.

— Ela está mesmo bem?

— Ela está bem, eu juro — informou Cameron me olhando


sério e confiei nele.
Passei a mão pelo meu cabelo sem acreditar, uma onda de
alívio tomou conta do meu corpo por saber que não tinha
acontecido nada com ela. Mas também partiu o meu
coração entender que Amber simplesmente queria ficar
longe de mim.

— Obrigado, Cameron — agradeci, engolindo meu orgulho.

— Eu não faço nada de graça, Johnny — alertou erguendo


uma sobrancelha.

— Se ela estiver realmente bem, eu lhe devo todo o dinheiro


que ganhar no hóquei durante a vida.

O loiro riu em deboche

— Não quero o seu dinheiro.

— E o que você quer? — perguntei sem saber o que alguém


como ele poderia querer, já tinha tudo.

— No momento, nada que você possa me dar. — Colocou os


óculos escuros no rosto. — Não perca a sua garota de novo,
Johnny.

Talvez eu já tenha perdido.

— Pode deixar — garanti. — E Cameron? Também espero


que você encontre quem procura — joguei o meu palpite.
Ele ergueu a sobrancelha surpreso, mas logo me deu um
sorriso triste e colocou uma mão no bolso da sua calça
social.

— Ela não é tão fácil de achar assim. — Acenou em


despedida. — Vejo você no gelo.

Me despedi dele e o esperei sumir da minha vista para


voltar até Colin.

— Cameron a encontrou — revelei me sentando ao lado do


meu amigo. — Disse que ela está bem e já resolveu o
problema com a mãe dela.

— Que merda ele fez com a mãe dela? — Colin perguntou


preocupado.

Não ligava para aquilo, se Cameron quisesse sumir com a


mulher, eu não faria uma única pergunta.

— Amber está bem — enfatizei, porque era só isso que


importava.

— Então, podemos voltar? — sugeriu Colin.

— Podemos — suspirei derrotado.

— Eu queria mesmo ir pra Disney.

AMBER FOSTER

Horas antes no mesmo dia.

Eu não queria entrar naquela casa, não sabia o que


encontraria ali. Estava desconfiada com a carta, ela poderia
ter se matado de fato, mas também tinha a chance de ter
sido apenas uma armadilha — meu palpite dizia que era o
mais provável.
Quando cheguei na sala, um arrepio passou pelo corpo e
quis tanto os braços de Johnny para me aquecer, que quase
chorei por

sentir sua falta.

Os móveis estavam diferentes, gastos e envelhecidos, mas


tudo continuava no mesmo lugar. Na lateral da sala tinha
uma porta de vidro que dava para a maldita piscina e um
medo irracional me fez estremecer.

Não fazia sentido ter medo de uma piscina, eu


tecnicamente já sabia nadar, mesmo que nunca tenha
testado essa teoria sem Johnny.

Respirei fundo e me obriguei a ir até ela, vendo como a


água parecia calma, quase como se me pedisse para não
ter medo dela.

Fiquei um momento parada, tentando criar coragem para


fazer uma loucura.

Eu já ouvi alguém dizer uma vez que se você olhar demais


para o abismo, ele começa a olhar de volta para você.

Então decidi não olhar.

Tirei a blusa, o sapato e a calça jeans rapidamente, depois


segui para a piscina e tentei não olhar para nada, apenas
para o meu pé mergulhando na água gelada. Desci aos
poucos as escadas e a piscina foi me cobrindo.

Quando cheguei ao último degrau, a água atingiu o meu


pescoço e fechei os olhos de uma vez, permitindo-me sentir
a delícia que era balançar os braços ali e joguei levemente a
cabeça para trás, só para molhar o cabelo.
Quase podia ouvir a voz de Johnny sussurrada no meu
ouvido, falando para não ter medo, que eu conseguia. Eu
era forte.

Saltei o último degrau e mergulhei no meu abismo, sem


olhá-lo, sem dar oportunidade de ele me encarar de volta.

Meu corpo afundou de uma vez e senti o desespero tomar


conta de mim por um momento. Procurei com o braço pela
borda da piscina que estava ao meu alcance e me ergui o
suficiente para tomar fôlego.

Não iria desistir fácil.

Respirei fundo, prendi a respiração de novo e larguei a


borda da piscina em um empurrão. Não era sobre domar a
água, mas sobre deixar o seu corpo se adaptar a ela.

Mergulhei e mantive a calma, permiti que minhas pernas


dançassem levemente e meus braços me ajudaram a
sustentar o corpo na superfície. E então eu nadei. Sozinha.

Sozinha, caramba.

Eu fiz isso. E senti vontade de gritar ao perceber que estava


nadando.

Isso era inacreditável. Johnny me deu asas, ele me libertou.

Se algum dia me perguntassem o que era o amor, eu diria


que era como abrir a gaiola de um pássaro e deixá-lo voar.

Foi isso que ele fez comigo.

Olhei para a outra ponta da piscina, distante, mas também


alcançável, nada que eu não pudesse fazer. Mergulhei de
novo e deixei minhas pernas baterem contra a água, meus
braços entravam e saíam da superfície, e eu sentia vontade
de soltar um grito de alegria. Estava acontecendo.

Estava experimentando um tipo novo de sentimento:


orgulho de mim mesma.

Nadei até minha mão finalmente encostar na borda da


piscina, me apoiei ali para tomar fôlego e levei um susto ao
ver que tinha uma pessoa sentada na cadeira da sala, me
assistindo.

— Você demorou a chegar — Margo cumprimentou mansa.

— Passei em um lugar antes — comentei calma para lhe


mostrar que ela não me atingia. — Não era pra você estar
morta a essa altura? — Foi inevitável conter o tom de
deboche da minha voz.

Ergui meu corpo pela borda e saí da piscina, estremecendo


um pouco de frio.

— Eu nunca me mataria, ainda mais por você — zombou e


não lhe dei atenção, fui vestir minha calça jogada no chão.

— Você mentiu — revelei enquanto me vestia, feliz por estar


calma. E percebi que ela estava incomodada por não ter
conseguido me acuar até agora.

— Sobre o suicídio? Sim.

— Não, sobre o que você disse. — Continuei, terminando de


colocar minha blusa. — Sobre eu ser o problema. Era você.

— E o que te fez pensar com toda essa prepotência? —

questionou irônica e hipócrita.


— Por que eu tenho pessoas que me amam de verdade e
você é vazia. Oca. — Me virei para ela pela primeira vez,
queria que entendesse que não sentia medo dela, não
sentia nada. — Se você não é feliz, isso não é culpa minha.

— Tudo que aconteceu na minha vida foi culpa sua. — atirou


raivosa, mas era como se eu estivesse blindada, não
chegava qualquer insulto em mim. Não me atingia.

— Por que papai deixou de te pagar? — perguntei curiosa,


sem dar corda para o veneno dela.

— Eu pedi mais e ele disse que isso não ia continuar. —

Margo deu de ombros. — Seu pai achou mesmo que eu ia


me contentar com tão pouco a vida toda... mas não nasci
pra isso. Eu quero mais.

— Não vai ter — decretei passando por ela e entrando na


sala. — Sinto em informar que não vai ter nada nosso e já
estou logo avisando que vou abrir um processo contra você.

— Como ousa...

— Pode me ameaçar à vontade, nada do que você possa


fazer me atinge mais. — Senti necessidade de quebrar algo.
Peguei um vaso em cima da mesa de centro e o joguei com
tudo no chão.

Margo se levantou da cadeira assustada.

— Pode me escrever cartas e tentar arranhar meus braços


ou me dar tapas, mas saiba que eu vou revidar — continuei.

— Eu vou infernizar a sua vida! — prometeu indignada.


— Tente — afrontei olhando para ela e peguei uma bandeja
de copos de vidro que estava em cima da mesa de jantar e
a arremessei contra a parede. Isso era libertador.

— Pare com isso! — Ela veio para cima de mim, mas parou
no lugar ao me olhar, eu não estava brincando quando disse
que revidaria. — Eu vou atrás do jogador de hóquei.

Um arrepio passou pelo meu corpo, mas não demonstrei o


meu medo.

— Boa sorte, ele não é tão calmo quanto eu — avisei, dando


de ombros e seguindo pela cozinha, querendo quebrar tudo
ali.

— Não me desafie! Você não me conhece — gritou atrás de


mim e eu joguei um prato no chão.

Estava me sentindo ótima, queria passar o dia quebrando as


coisas daquela casa, queria demoli-la. Mas não consegui
seguir com o meu vandalismo, pois no momento em que
peguei mais um prato, a porta dos fundos foi arrombada e
dois homens entraram armados.

Um deles estava vestido de preto e com óculos escuros, o


outro era um policial.

— Você é Margo Brown? — perguntou o policial para Margo.

Ela engoliu em seco e acenou com a cabeça, no mesmo


instante ele a algemou.

Eu estava sem entender nada.

— Você está sendo presa por tráfico de drogas — informou o


homem vestido de preto.
Ela estava traficando drogas?

— Eu não trafico drogas! Pegaram a pessoa errada —

murmurou Margo algemada.

Não sabia se isso era verdade ou não, mas não iria


interferir, se ela fosse presa pelo que fez comigo ou por
outro motivo, não era do meu interesse.

— Você é Amber Foster? — O mesmo homem de preto se


virou para mim.

— Sim — afirmei e coloquei o prato que estava segurando


em cima da pia.

— Uma dica: da próxima vez que quiser fugir, leve outro


celular. Foi ridiculamente fácil encontrar você.

— E quem mandou você? Meu pai? — perguntei nervosa,


não queria preocupar ninguém assim.

— Não, o garoto do hóquei está muito preocupado com você

— contou e meu coração doeu.

— Eu sei. — Suspirei, culpada por não ter dado mais


informações para ele, mas sabia que insistiria em vir comigo
e eu precisava fazer isso sozinha.

— Quando você pretende voltar? — perguntou com cuidado.

Olhei uma última vez para aquele lugar e esperava mesmo


que aquela casa fosse demolida.

Podia voltar para casa, para a minha vida, para o meu


namorado e para meus amigos. Pessoas que me amavam
sem pedir
nada em troca.

Johnny estava me esperando.

— Eu tenho um jogo para ir amanhã e eu não posso faltar.

— Posso acompanhar você? — O homem de preto pediu e o


olhei desconfiada. — Só como garantia que vai chegar em
segurança — Ergueu as mãos. —, já trabalhei para a polícia,
você pode ver minha documentação.

— Eu vou pegar um voo, você pode me acompanhar se


quiser. — Dei de ombros, em paz.

Nada mais no mundo poderia me atingir, eu era livre agora.

AMBER FOSTER

Abri a porta da minha casa apressada, iria apenas trocar de


roupa e correr para o estádio da universidade.

— Já estava na hora.

Me virei assustada, vendo Maddie sentada na sala com uma


camiseta do time da Brown.

— Fiquei com saudade — disse minha bruxinha e se


levantou para me abraçar.
— Eu também. — A abracei de volta. — Precisava resolver
umas coisas comigo mesma.

— Eu sei. — Maddie se afastou e alisou o meu cabelo com


carinho. — Eu só queria dizer que te amo, muito. E se
alguém nesse mundo não conseguir amar você, o problema
sempre será da outra pessoa. Nunca seu.

— Eu também te amo, pequena — sussurrei como se


contasse um segredo e sorri para ela.

Deduzi que Maddie havia encontrado a carta e isso deveria


me causar desconforto, mas como ela mesma disse, o
problema não era comigo. Nunca foi e eu sabia disso.

— O que você fez com a carta? — perguntei.

— A queimei — revelou sem arrependimentos. — Tudo virou


cinzas, você está livre agora.

— Como nunca estive, Maddie — concordei e olhei as horas,


nervosa. — Agora preciso da sua ajuda pra fazer algo bem
romântico.

— Oh, pode contar comigo. — Sorriu animada.

— Só preciso que você e as meninas segurem alguns


cartazes na arquibancada. — Pisquei para ela. — Não sei se
sua altura vai ajudar, mas você pode subir em cima dos
assentos.

Sorri e Maddie revirou os olhos.

— Pensei que essa sua jornada fosse pra um


amadurecimento — brincou.
— E quem quer ser maduro? — Joguei um beijinho para ela
enquanto subia as escadas. — Não tem graça nenhuma.

— Ela voltou? — Scar perguntou descendo as escadas


depressa e esbarrando comigo no caminho. Dei um passo
para trás em choque e ela me segurou pelos ombros. — Ah,
eu estava com tanta saudade — declarou e eu abracei a
morena gata à minha frente.

— Eu também!

— Amber! — Sienna veio descendo as escadas e entrou no


abraço coletivo.

— Sua cretina! — Nelly veio raivosa. — Você não respondeu


minhas mensagens.

— E você chorou todas as noites, não foi? — provoquei,


largando as meninas e indo beijar o seu rosto.

— Olha só quem chegou! — Tyler apareceu e bagunçou o


meu cabelo. — Johnny ficou péssimo.

Engoli em seco e senti uma dor no meio do peito ao


imaginar que ele tenha sofrido.

— Eu vou encontrar com ele — revelei indo até o meu


quarto.

— E preciso da ajuda de vocês.

Entrei no meu quarto e retirei do guarda roupa uma


camiseta do capitão do time de hóquei que tinha comprado
antes de viajarmos para NY. Abracei-a e resmunguei
baixinho ao perceber que não tinha o cheiro dele ali.
Mas o aroma de hortelã estava no meu quarto,
especificamente na minha cama.

Ele tinha dormido ali, acho que pensando em mim, assim


como pensei nele cada segundo que passei fora. Era
definitivo, essa seria a última vez que iríamos nos separar.

— Oi, Amber — um cumprimento tímido me chamou


atenção e vi Benny parado na porta.

— Oi, Benny — devolvi o cumprimento me sentindo péssima


por ter sido tão grossa com ele sem saber que gostava de
mim e da história com o seu irmão.

— Você está falando comigo ou ainda estamos brigados? —

perguntou colocando as mãos nos bolsos.

— Estou falando, com certeza. — Sorri e ele suspirou


aliviado.

— Me desculpa por ter falado aquelas coisas do Johnny, eu


sinto muito. Já me desculpei com ele e estamos bem agora.

— Eu também sinto muito, pelo seu irmão — lamentei e


Benny baixou o olhar.

— A gente aprende a aceitar. — Deu de ombros. — Eu


queria dizer mais uma coisa... — Lhe dei minha atenção. —
Eu pedi pro Johnny me ajudar a conquistar você, achava que
estava apaixonado, mas não era verdade, eu só confundi as
coisas — se apressou a esclarecer enquanto ajeitava os
óculos.

Os seus olhos me contavam que era verdade, ele estava


envergonhado por falar disso, mas me encarava apenas
com o carinho que se tem por um amigo.
— Eu deveria agradecer você por isso — lembrei-o. —
Johnny não mexeria a bunda dele sem a sua ajuda.

— Uma hora ele mexeria sim. — Benny sorriu.

— Aliás, isso me lembra que preciso da sua ajuda, Benny.

— Para quê? — perguntou curioso.

— Quero fazer uma surpresa pra ele.

— E o que está planejando?

Uma vida.

Uma vida com ele.

JOHNNY JACKSON

— Ele vai te botar no banco, é isso que você quer, porra? —

Drake berrou irritado comigo.

— Vou tentar melhorar — murmurei, sem saber como me


defender.

Estava uma bosta. Tinha uma pressão quando os jogos


eram em casa, as arquibancadas lotavam, era uma energia
magnética, as pessoas gritavam os nossos nomes e traziam
cartazes apaixonados.

Mas nada disso estava funcionando para mim, estava lento.


E

essa era uma palavra que ninguém nunca usou para me


definir no gelo. Não conseguia correr como deveria quando
me passavam o disco, já tinha perdido mais jogadas do que
o aceitável e o treinador teve que pedir um tempo.

Coisa que ele quase não fazia.

— Se você não voltar ao normal, vai ficar suspenso dos


próximos jogos. Entendeu? — ameaçou o treinador, puto.

Acenei com a cabeça em silêncio e levei uma garrafinha à


boca, enquanto todos do time e até os adversários me
olhavam com decepção. Era estranho, com toda certeza. Eu
sempre fui o líder deles, o que aconselhava ou apresentava
as estratégias de jogo, eu marcava os pontos, porra.

Eles não estavam acostumados à versão Johnny Jackson de


coração partido.

Ela me deixou.

Eles não entendiam isso, ninguém ali entendia.

— Voltando — o treinador mandou e nos levantamos para


voltar ao jogo contra a Universidade de Boston.

Eles eram fodas no hóquei, mas fazia um tempo que não


conseguiam ganhar de nós. Até agora estavam muito
satisfeitos com
o desempenho, até deixaram de fazer marcação pesada em
cima de mim — coisa que nunca acontecia.

— Tenta se concentrar — gritou Colin para mim, deslizando


ao meu lado e indo para sua posição.

Respirei fundo e segurei firme o meu taco, só precisava me


concentrar. Pensar em algo que me acalmasse.

O verde dos olhos dela.

O tom rosado da sua boca.

O som da sua risada.

O jeito que ela gemia perto do meu ouvido quando gozava.

O disco passou por mim e eu não consegui segurá-lo no


lugar, o cara grande que me marcava riu em deboche e
passou o disco para o outro jogador do seu time.

PORRA!

Colin me encarou como se quisesse quebrar o meu pescoço


e ele era o que mais estava sendo o compreensivo ali.
Esperei pelas vaias dos torcedores, mas não veio nada, eles
estavam perplexos, sem acreditar no que estavam vendo.
Até o treinador do outro time me olhou com preocupação,
como se o talento tivesse sido tirado de mim do dia para a
noite.

Olhei para as arquibancadas e a procurei. Mirei cada loira


sentada ali, mas nenhuma era a minha.

Ela não veio me assistir.

O jogador que estava me marcando saiu de perto de mim


quando o jogo continuou e fiquei sozinho no gelo, perdido.
Não me lembrava da última vez em que fiquei sem
marcação durante o jogo, livre.

Segurei o taco com mais força e fechei brevemente os


olhos, tentando me concentrar. Escutei o som dos patins
deslizando no gelo, das respirações ofegantes dos
jogadores, os torcedores prendendo a respiração,
provavelmente esperando um lance.

Também escutei os xingamentos dos treinadores, mas um


som entre todos me chamou a atenção.

Os gritos de uma maluca.

A minha maluca.

Abri os olhos e a procurei entre a multidão até vê-la ali,


acenando para mim enquanto pulava em cima do seu
assento, procurando ser vista. Ela estava com a minha
camiseta do time e gritava tão alto que senti pena de quem
resolveu sentar ao seu lado.

Quando nossos olhares se encontraram ela sorriu para mim,


daquele jeito que eu amava. Meu coração quase parou e
não ousei desviar o olhar dela, tinha medo de piscar e
perceber que não passava de uma miragem.

Amber saiu de cima do banco e pegou um cartaz, ela


levantou-o para mim ao mesmo tempo que as pessoas que
estavam sentadas ao seu lado. Só então percebi quem
estava com ela: Maddie, Nelly, Scar, Sienna, Benny e Tyler.

Cada um segurava um cartaz e acho que eles não se


organizaram direito porque quando li, a frase ficou: da
tatuagem significado o qual?
Franzi a testa sem entender nada e Amber percebeu o erro,
ela riu e tirou o cartaz das mãos do Tyler e o colocou nas da
Sienna, agora fazendo sentido.

“Qual o significado da tatuagem?”

— Aceita a minha mão estendida e me deixa te salvar


também! — gritei mesmo sabendo que talvez ela não
conseguisse ouvir.

Mas o estranho foi que ela ouviu, então notei que todos
estavam em silêncio. Os jogadores tinham parado no lugar e
estavam assistindo a nossa interação.

Amber sorriu para mim e pegou outro cartaz junto com


todos os seus assistentes, dessa vez a frase foi correta de
primeira.

“Sempre foi você e sempre fui eu. Estava lá antes mesmo


de existirmos. Nós somos um tipo diferente de eterno.”

Sorri como um tolo para ela e não me aguentei mais,


deslizei até o fim do rinque. Amber percebeu a minha
intenção e veio correndo para mim, passando apressada
pelos assentos, com os torcedores abrindo caminho para
ela.

Mas os cartazes não pararam, os seus ajudantes fizeram o


trabalho por ela.

“Eu estive lá, antes de acontecer. Eu também te salvei.”

Não entendi a frase, mas tirei o capacete e em um gesto de


loucura, passei pela grade que dava para as arquibancadas.
As pessoas gritavam eufóricas e os cartazes não pararam.

“Eu nadei sozinha. ”


— Foi mesmo? — gritei orgulhoso para ela, enquanto a loira
tentava descer os degraus. Amber acenou com a cabeça
orgulhosa e parei no lugar, esperando-a se jogar em mim,
porque estava difícil caminhar com os patins.

Não demorou, menos de três segundos depois ela veio com


tudo e se jogou em cima de mim. A segurei tão apertado
que podia quebra-la no meio.

— Você nadou? — perguntei de novo, sorrindo e respirando


tranquilo pela primeira vez desde que a perdi.

Estava com medo de ser um sonho.

— Nadei — disse agarrada em mim. — Eu resolvi tudo,


Johnny. Sozinha. Eu a enfrentei sozinha.

— Você sempre foi capaz de fazer tudo sozinha — garanti,


ainda a segurando.

Meu coração deu um pequeno salto ao entender o motivo


de ela ter se afastado, de suas pendências. Ela precisava
resolver as coisas com a sua mãe só, precisava saber que
era independente e forte.

Não tinha nada a ver com me querer longe.

— Eu não deixei Margo me amedrontar — continuou. — Eu


também encontrei o pai do seu amigo, amor.

Me afastei para olhar o seu rosto, assustado.

— Por que fez isso?

— Porque era uma história minha também.

Franzi a testa e um flash de alguma câmera me cegou,


muitas pessoas tiravam fotos nossas e o telão do estádio
estava focado em nós.

— Eu a escrevi. — Amber colocou a mão no meu peito, em


cima de onde ficava a tatuagem. — Quando era mais nova,
eu subi no galho e escrevi com um canivete o que você tem
tatuado no peito.

Dei um passo para trás com o coração acelerado e escutei


os caras me chamando para o jogo que estava para
continuar.

Olhei Amber não acreditando, aquilo não podia ser verdade.

— Fui eu. — Ela sorriu para mim e se afastou, dando um


passo para trás, em um aviso que eu tinha que voltar ao
jogo. — E

foi você que me puxou do fundo, eram os seus olhos.

E com isso ela correu para longe, para onde estava sentada
e os torcedores começaram a reclamar para mim.

Me movi para o rinque ainda em transe, perdido. Lembrei do


dia em que lhe contei sobre o acidente e ela ficou tensa,
perplexa quando falei da árvore. Mas nunca passou pela
minha cabeça que poderia ser ela, nunca.

O juiz apitou para o jogo iniciar novamente e ajeitei o


capacete na cabeça, pronto para correr. Olhei uma última
vez para o lugar onde ela estava sentada e a mirei sem
acreditar que a tatuei na porra do meu peito antes mesmo
de por meus olhos nela pela primeira vez.

Apontei para ela sorrindo e segurei o taco com mais


firmeza, o jogo podia continuar.
Analisei cada movimento do disco, ele estava longe,
deslizando pelo gelo de um lado para o outro, todos corriam
atrás dele, mas eu não me mexi. O disco viria até mim.

E ele veio.

Paciência, esse era o segredo do hóquei. Quando estabilizei


o disco no lugar, os caras que estavam me marcando
vieram tentar me empurrar, mas eu já estava longe.

Eu estava fazendo o que sabia fazer de melhor: ser um


relâmpago no gelo.

Era como voar, os patins deslizavam em uma puta


velocidade e eu desviava de qualquer um que quisesse se
meter na minha frente, sem deixar de manter o disco no
lugar.

Vi pela minha visão periférica, o vulto dos rostos frustrados


dos meus adversários que não conseguiam me acompanhar.

Quando cheguei perto do goleiro ele ficou desesperado,


tentou acompanhar o disco e adivinhar para que direção eu
iria, mas o

problema era que enquanto ele ainda tentava processar


isso, eu já tinha socado o disco para dentro da rede.

Quase fiquei surdo com os gritos dos torcedores e olhei para


a multidão em busca de uma única pessoa. Quando a
encontrei, ela estava me olhando impressionada com a
jogada.

Apontei para o meu próprio peito, bem em cima da


tatuagem e falei sem voz, apenas movendo os lábios para
ela entender.
— Estava lá antes mesmo de existirmos.

Amber acenou em concordância um pouco emocionada e


voltei para o gelo. Eu podia jogar em paz, ela estaria ali
quando eu acabasse.

Ela sempre estaria ali.

Os próximos 20 minutos foram dedicados a virar o jogo, e


conseguimos. Voltei ao meu normal no gelo e acho que
consegui recuperar minha dignidade com os torcedores.

Assim que o juiz apitou para o fim, saí apressado para fora
do rinque. Acho que ninguém jamais viu um jogador mais
apressado do que eu no vestiário, estava ansioso para
abraça-la de novo.

E parece que ela também, pois estava me esperando do


lado de fora do estádio. Assim que me viu correu para mim
e a peguei nos braços.

— Você nunca mais faça isso, por favor — pedi sufocado,


enterrando o rosto no seu cabelo.

— Nunca — decidiu. — Eu precisava fazer isso sozinha, mas


agora vamos resolver tudo juntos. Eu prometo.

— Ela te machucou? — perguntei preocupado, por mais que


Cameron tenha resolvido o assunto, a vagabunda ainda
poderia ter ferido ela.

— Não, ela não tem esse poder. — Amber afastou o rosto só


para colar nossas testas. — Quem era o cara que você
mandou para me buscar?

— Eu pedi ajuda para um amigo do Colin. — Passei os dedos


pelos cabelos dela, com saudade de acariciá-los. — O que
tinha na carta, princesa?

— Nada, Johnny. Nada que valha a minha atenção. — Ela me


deu um selinho. — Eu fui à árvore com o pai do seu amigo.

Meu coração deu uma acelerada e a apertei mais.

— Isso é loucura — murmurei perplexo. — Sempre foi você.

— Segurei o seu rosto entre as mãos. — Sempre.

— Eu acho que sempre fomos nós, Johnny — ela concluiu.

Meu celular vibrou no bolso da calça e o puxei para ver


quem era. Congelei ao ver que tinha acabado de receber
um e-mail de alguém que eu não esperava.

— Quem é? — perguntou Amber, querendo olhar a


mensagem.

Abri o e-mail e li o conteúdo junto com Amber.

De: bruce.nolan18@gmail.com

Para: johnny.jackson@gmail.com

Caro Johnny,

Por favor, não se assuste, mas eu sempre soube a senha do


e-mail de Bruce. Então, eu li e reli todos os seus e-mails
mais do que gostaria de admitir.

Ler suas mensagens se tornou um hábito, talvez um


passatempo, quase como se você abrisse uma porta para
que eu pudesse encontrar com o meu Bruce novamente.

Eu não soube superar, Johnny. Eu procurei culpar alguém e


me apegar à raiva, quando na verdade eu deveria ter lhe
agradecido.

Obrigado, Johnny, por ter sido um ótimo amigo para o meu


filho. Obrigado por ter assumido o papel de irmão mais
velho do meu caçula. Obrigado por ter sido um bom ouvinte
quando ele precisou de você. Obrigado por não ter
permitido que Bruce se fosse sozinho.

Obrigado por ter sido a última pessoa a estar lá com ele.

Mas acima de tudo, Johnny. Obrigado por ter segurado a


mão do meu filho enquanto ele morria. Eu não sei se teria
tamanha coragem.

Nunca foi culpa sua, meu jovem. Nunca. Você simplesmente


era para estar lá naquele momento, tanto para se despedir
do seu melhor amigo, como para se encontrar com uma
certa garota.

P.S.: Eu tenho que concordar: Ela tem os olhos lindos. Como


você mesmo descreveu no primeiro e-mail em que a citou,
anos atrás. “Era um tom de verde vivo, único. Do tipo que
me deixava atraído, como a terra é pelo sol.”.

Com todo o amor que eu sinto por você,

Sr. Nolan.

JOHNNY JACKSON
1 ano e 9 meses depois

O Draft anual da NHL era um evento que todos os


apaixonados por hóquei esperavam ansiosamente. Era o
lugar em que um mero jogador universitário poderia se
tornar profissional e assinar um contrato milionário.

— Isso é tão emocionante. — Minha mão enxugou os olhos


pela milésima vez e meu pai revirou os dele.

— Daqui a alguns dias você nem vai poder andar sozinho na


rua. — O pai da Amber avisou sorrindo.

Era incrível a confiança que eles tinham em mim, nem


mesmo tinha começado a seleção e eles agiam como se eu
já tivesse sido escolhido.

— Vai precisar contratar um segurança — avisou minha


mãe, chorando. — Para você e para Amber.

— A seleção ainda nem aconteceu, mãe — lembrei-a,


sorrindo do seu drama.

— Bobagem! — Dessa vez foi meu pai que interferiu. —


Todo mundo sabe que você vai ser selecionado.

Preferi ficar calado sobre o seu excesso de confiança. Eu


não estava me botando tanta pressão, não fazia ideia de
qual time iria me pegar ou mesmo se iria entrar na primeira
rodada, tudo o que eu queria era jogar hóquei.

E comprar uma casa para morar com a minha princesa.

Amber já tinha planejado tudo sobre a sua “Casa dos


Drinks”, e eu tinha certeza que iria ser sucesso. Mas ela não
definiu ainda em que lugar abriria o estabelecimento,
decidimos esperar a seleção do Draft, então ela iria morar
comigo de vez.

Em um lar apenas nosso, como uma família.

— Isso tudo é tão empolgante. — Lindsay se abanou e


tomou o seu champanhe, enquanto acenava para os
fotógrafos.

Era um evento de gala, os jogadores convidados podiam


sentar em uma mesa e levar alguns familiares. Lógico que
minha família toda queria vir em peso, mas tinham
ingressos contados, então decidi convidar meus pais, o
amor da minha vida, o pai dela, Lindsay e mais um casal
importante para mim.

O Sr. e a Sra. Nolan se sentiram honrados quando os chamei


e trazia uma leveza ao meu coração vê-los tão bem e
orgulhosos das minhas conquistas.

— Você acha que eles pegaram o meu melhor ângulo? —

Lindsay perguntou para mim.

— Acho que sim. — Pisquei para ela.

— Isso também é uma oportunidade de propaganda gratuita


para minha loja. Então não amasse o smoking — Lindsay
repreendeu.

— Pode deixar.

Ela estava bombando com a sua loja de roupas online e


finalmente, conseguiu se tornar independente
financeiramente. O
que era de muito orgulho para mim e Amber, pois
amávamos aquela maluca.

Olhei em volta procurando minha namorada, que foi ao


banheiro e até agora não voltou. Já ia me levantando,
quando a avistei caminhando na minha direção, com o seu
vestido vermelho colado ao corpo.

Não queria secá-la na frente dos nossos parentes, mas...


puta que pariu, hein. Estava difícil, esperava que tivesse um
canto em que pudéssemos dar uma rapidinha.

— Sabe — Amber sorriu provocativamente para mim


quando chegou perto. —, não é saudável me olhar assim na
frente dos

nossos pais.

— Esse vestido também não é saudável para as minhas


bolas

— resmunguei passando um braço pelos seus ombros assim


que ela sentou ao meu lado.

— Será que tem algum parquinho por aqui? — sussurrou


perto do meu ouvido.

— O que vocês querem com um parquinho? — minha mãe


perguntou, sem entender.

— Acho que a essa altura você já deveria ter consciência


que não sabe sussurrar — avisei para minha namorada.

— Nada. — Amber sorriu para minha mãe. — Estava apenas


pensando em voz alta.
— Mas vocês deveriam mesmo pensar em ter um parquinho
na nova casa, para as crianças — comentou minha mãe.

— Sim, mal podemos esperar pela chegada de Johber —

provoquei, fazendo Amber rir do meu lado.

— Vocês não levam nada a sério — resmungou minha mãe,


voltando a chorar. — Isso é tão emocionante.

— O que? — perguntou o Sr. Nolan curioso, sem entender


porque minha mãe resolveu ligar as torneiras dos olhos.

— Homens — a Sra. Nolan reclamou e tirou uns lencinhos da


sua bolsa, acho que iria acompanhar a amiga no choro.

— E você? — Amber se virou para mim. — Está tranquilo?

Peguei a mão dela e entrelacei os nossos dedos.

— Estou com você, então claro que sim. — Beijei sua mão.

— Eu estou tão orgulhosa de você. — Ela alisou a minha


barba por fazer e olhou para mim com admiração. — Você é
extremamente talentoso e fico feliz que vá ter o trabalho
reconhecido.

— Você também é muito talentosa, minha princesa. — Beijei


a ponta do seu nariz. — E logo o mundo vai saber disso
também.

— Johnny...

— Sim?

— Eu te amo — declarou e olhei para os seus olhos verdes


lindos, vendo minha vida ali. Eu era o homem mais feliz do
mundo por tê-la.
— Eu também te amo. — Dei um beijo suave nos seus
lábios.

Quando me afastei percebi que ela estava com os olhos


marejados e brilhantes, mas com uma expressão muito feliz
no rosto.

— O que foi, meu amor? — perguntei com carinho.

— Você foi a primeira escolha do Draft, Johnny — ela contou


e só então percebi que estávamos tão envolvidos em um
casulo só nosso, que não notei quando começaram a
chamar os nomes dos draftados.

Olhei em volta e todos estavam com o foco em mim. As


câmeras, a imprensa, repórteres esportivos e outros
jogadores profissionais esperavam que eu me levantasse e
fosse até o palco apertar a mão do apresentador que tinha
acabado de ler meu nome sem eu perceber.

Segurei o rosto da minha princesa entre as mãos e lhe dei


um beijo quente antes de me levantar e ser ovacionado
pelo público.

Caminhei até o palco e descobri que tinha sido a primeira


escolha do New York Rangers, um time que eu adorava e
tinha um grande legado no hóquei profissional.

— Os Rangers podem esperar o seu melhor desempenho


nesses próximos anos? — perguntou o apresentador depois
de apertar minha mão em um cumprimento.

— Com toda certeza.

— Posso fazer uma pergunta que você já deve ter ouvido


muito? — questionou e confirmei com um aceno. — Por que
não entrou para a liga profissional, anos antes? Você deve
ter recebido propostas tentadoras de vários times.

— Sempre tive em mente terminar a minha faculdade antes


de seguir para o hóquei — falei no microfone que ele
estendeu para mim e minha resposta pareceu agradar a
mídia.

— Então, qual a primeira coisa que pretende comprar com o


novo status da sua conta bancária? — disse em tom de
brincadeira e algumas pessoas riram.

Procurei pela garota que tinha meu coração e a encontrei


me olhando com todo o orgulho que podia.

Eu só tinha uma resposta para essa pergunta:

— Um anel de noivado e uma casa que caiba três cachorros


grandes.

Não fui eu que escrevi esse livro, foi ele que me escreveu. A
cada palavra escrita ele foi ditando a minha própria vida e
eu espero que também tenha tocado a sua. Eu agradeço
demais a você por ter chegado até aqui, por ter me dado a
chance de contar a história do Johnny e da Amber, ela
precisava ser compartilhada.

Esse romance exigiu a participação de pessoas


maravilhosas que conheci nessa jornada, que me auxiliaram
e ajudaram até com os mínimos detalhes, sem pedir nada
em troca. Pessoas que eu vou levar para a vida e acho que
nenhum agradecimento pode expressar o quão grata eu sou
pelo o que elas fizeram por mim.

Primeiro eu agradeço aos meus pais e familiares por me


apoiarem! Principalmente à minha tia Cassandra Paiva, por
ter me dado ideias super criativas sobre os brindes.

Segundo, as minhas duas betas: Laís Paula e Francielle


Gomes. Duas autoras incríveis que me ajudaram em toda
construção do livro, me deram dicas, aguentaram os meus
surtos e me levantaram quando eu ficava insegura. Esse
livro é tão meu quanto é delas.

Em terceiro, agradeço a minha revisora Stephany C. Gomes.

Costumo dizer que ela caiu do céu! Teve paciência, escutou


os meus dramas e me incentivou do começo ao fim.

Também preciso agradecer as meninas que toparam ler


esse livro antes de todo mundo, elas foram essenciais para
o fechamento da história do Johnny e da Amber: Hanna
Câmara, Byanca Ismael

Borges e Bruna Celestino. E fiquem de olho nos projetos


dessas meninas! Pois a Bruna também é uma escritora
fantástica e logo os livros dela também vão estar por aqui.

Queria agradecer as minhas parceiras incríveis que me


auxiliaram durante todo o processo de divulgação, elas
foram o meu porto seguro durante os dias de pré-
lançamento, e eu nem sei se um agradecimento inteiro
seria digno do que elas fizeram por mim.

Também a escritora Camila Cocenza por ter tirado as


minhas dúvidas, me dado dicas e aquela força no momento
necessário.

Obrigada a todas! Vocês nem sabem o quanto são


necessárias.

Não posso deixar de agradecer também aos meus amigos


que me apoiaram desde o início: Davi Vasconcelos, Isla
Costa, Kellen Lopes, Maria Carolina Melo, Gisele Ribeiro,
Amanda Rocha, Ana Carolina Paiva, Alessandra Mata e todas
as pessoas que alguma vez me deram qualquer força!

Eu sou muita grata a todos vocês, de coração.

Sua avaliação é de extrema importância para mim e para os


futuros leitores. Avalie, comente e compartilhe.

Contato:

Para falar comigo, podem entrar em contato via Instagram.


Vou amar interagir e conversar com todos.

Instagram: @autorabrendapaiva

Tiktok: @autorabrendapaiva

Obrigada por me acompanharem até aqui!

Com Amor, Brenda.


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PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
EPÍLOGO
AGRADECIAMENTOS
AVALIE

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