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Doenças vesiculares

Profa. Heloisa Godoy


Introdução
Definição de doença vesicular

Importância para as atividades de vigilância e emergência sanitária

 Instrução Normativa nº 44, 2 de outubro de 2007, conforme padrões


internacionais da OIE
Introdução

a) caso suspeito de doença vesicular: notificação apresentada ao serviço


veterinário oficial indicando a possibilidade de existência de um ou mais
animais apresentando sinais clínicos compatíveis com doença vesicular
infecciosa;

b) caso provável de doença vesicular: constatação pelo serviço veterinário oficial


de animais apresentando sinais clínicos compatíveis com doença vesicular
infecciosa, exigindo adoção imediata de medidas de biossegurança e de
providências para o diagnóstico laboratorial;
c) caso descartado de doença vesicular: todo caso suspeito de doença vesicular
investigado pelo serviço veterinário oficial cujos sinais clínicos não são
compatíveis com doença vesicular infecciosa;

d) caso ou foco de febre aftosa: registro, em uma unidade epidemiológica, de pelo


menos um caso que atenda a um ou mais dos seguintes critérios:
- isolamento e identificação do vírus da febre aftosa em amostras procedentes de
animais suscetíveis, com ou sem sinais clínicos da doença, ou em produtos obtidos
desses animais;
- detecção de antígeno viral específico do vírus da febre aftosa em amostras
procedentes de casos confirmados de doença vesicular, ou de animais que
possam ter tido contato prévio, direto ou indireto, com o agente etiológico;

- existência de vínculo epidemiológico com outro foco de febre aftosa,


constatando-se, também, pelo menos uma das seguintes condições:
1- presença de um ou mais casos prováveis de doença vesicular;
2- detecção de anticorpos contra proteínas estruturais (ou capsidais) do vírus da
febre aftosa em animais não-vacinados contra essa doença;
3 -detecção de anticorpos contra proteínas não-estruturais (ou não capsidais) do
vírus da febre aftosa, desde que a hipótese de infecção não possa ser descartada
pela investigação epidemiológica;
e) caso descartado de febre aftosa: todo caso provável de doença
vesicular que não atenda aos critérios para confirmação de caso ou
foco de febre aftosa.
Caso não seja Febre Aftosa???

• Estomatite Vesicular
• Varíola
• Doença vesicular dos suínos
• IBR
• BVD
Febre Aftosa
Introdução
• A febre aftosa é definida como uma doença viral aguda, ALTAMENTE
TRANSMISSÍVEL

• Acomete preferencialmente animais de casco fendido, como bovinos, bubalinos,


ovinos, caprinos e suínos (biangulados)

• Apresentam perda de peso, febre, presença de vesículas e ulceras na cavidade


oral, casco e espaço inter digital e ainda em vacas lactantes afetam os tetos
Introdução

• Comercialização dos produtos( queda brusca nos índices de exportação)

• O destino de animais infectados é o abate no rifle, em seguida incinerados e


enterrados.
Histórico
• A febre aftosa foi descoberta na Itália no século XVI

• No século XIX, a doença foi observada em vários países da Europa, Ásia, África e
América

• Com o desenvolvimento da agricultura houve também uma grande preocupação


em controlar esta enfermidade e no início do século passado vários países
decidiram combatê-la

(LIMA, et al, 2005).


...no Brasil
Importação de animais europeus pelas planícies da Bacia do Prata

• 1870 – Buenos Aires – simultaneante no costa leste do EUA, Chile, Uruguai e Rio
Grande do Sul

• Enfermidade desconhecida e passividade dos governos em medidas preventivas a


enfermidade se espalha pelo pais, Bolívia ,Paraguai e Peru

• 1950 Venezuela e Colômbia


• 1961 Equador
Histórico

1929 – EUA Programas para


1947 – México a Erradicação da
1952 - Canadá enfermidade

Enquanto nos países da América do Sul a doença


estava disseminando
Histórico
1959 - Embargo de entrada de carnes de países com Febre Aftosa nos EUA
Inicio então aos programas de controle e erradicação na América do Sul
- Argentina (1961)
- Sul do Brasil (1965)
- Paraguai e Uruguai (1968)
- Chile (1970)
- Colômbia (1972)

BID – BANCO INTEAMERICANO DO DESENVOLVIMENTO


PANAFTOSA – ORIENTAÇÕES TÉCNICAS
Agente etiológico

Enfermidade infecciosa altamente contagiosa causada por um vírus

Família Picornaviridae

Gênero Aphtovirus
Agente etiológico
Estrutura do vírus
Capsídeo icosaédrico
Ausência de envelope
Fita simples de molécula de ácido ribonucléico (RNA) ~ 8.400
nucleotídeos

(CARRILLO et al., 2005).


Agente etiológico

Genoma viral codifica 12 proteínas


4 destas envolvidas na formação do capsídeo e responsáveis pela
antigenicidade e ligação a célula hospedeira

Proteínas estruturais (VP1, VP2, VP3 e VP4)

PATON et al., 2006


Agente etiológico

Proteínas não estruturais (L, 2A, 2B, 2C, 3A, 3B, 3C e 3D)

exercem funções diversas para a manutenção e replicação do vírus;


além disso, a maioria dos testes de diagnóstico sorológico são baseados
em uma ou mais dessas proteínas
Agente etiológico
Sete sorotipos do vírus

A
O Ocorrência no Brasil
C
diversos subtipos com diferentes graus de virulência,
Ásia-1 especialmente entre os sorotipos A e O
SAT-1
SAT-2
SAT-3
O tipo Ásia 1 ocorre somente na Ásia, o tipo SAT 1
é encontrado tanto na Ásia quanto na África, e os tipos
SAT 2 e SAT 3
estão limitados à África.
Resistência
O vírus pode ser preservado por refrigeração ou congelamento

Inativado em temperaturas acima de 50°C

pH acima de 9 ou abaixo de 6 (na musculatura essa condição é alcançada após o


rigor mortis)

 A presença de matéria orgânica dificulta a inativação do vírus que é sensível a


hidróxido de sódio (2%), carbonato de sódio (4%) e ácido cítrico (0,2%).
Resistência
• Longos períodos em coágulos sanguíneos, medula óssea, gânglios linfáticos,
fragmentos ósseos e vísceras

• Tecidos não sofrem a queda de pH que acompanha o rigor mortis

• O pH da carne bovina no momento do abate é cerca de 7,2 e uma hora depois


oscila entre 6,5 – 6,8

• Após 24 horas de armazenamento, sob temperatura levemente superior ao ponto


de congelação, o pH médio situa-se entre 5,6 –5,8

PITUCO, 2012
Epidemiologia

Febre aftosa é considerada endêmica em partes da Ásia, África, Oriente Médio


- países são classificados conforme o status sanitário dos rebanhos, que
atualmente se divide em
- “países livres de febre aftosa sem vacinação” e
- “países livres de febre aftosa com vacinação” em que estão agrupados China,
Taipei e Uruguai.

OIE
Essa mesma classificação também é regionalizada em duas
categorias:
“países contendo zonas livres de febre aftosa sem vacinação”
como África do Sul, Botsuana, Filipinas, Malásia, Namíbia e Peru

“países contendo zonas livres de febre aftosa com vacinação”


como Bolívia e Paraguai

Todavia, alguns países que apresentam situações distintas em seus territórios,


como Argentina, Brasil e Colômbia, figuram nas duas categorias.

OIE, 2008
ANO FOCOS
1992 1.232
1993 1.432
1994 2.093
1995 589
1996 215
1997 167
1998 36
1999 37
2000 47
2001 37
2002 0
2003 0
2004 2
2005 39
Últimos registro no Brasil
• 2015 – Caso suspeito em suínos GO/PR
• 2016 – Ribeira SP
• 2005 - Naviraí
Situação de Roraima
Epidemiologia

Hospedeiros
• Principalmente em bovinos, bubalinos, suínos, ovinos e caprinos, a doença é
capaz de afetar qualquer animal biangulado, doméstico ou selvagem, que pode
servir como reservatório do vírus.
Epidemiologia

Os camelídeos (camelos, dromedários, lhamas, vicunhas e alpacas)


apresentam baixa suscetibilidade à infecção

-catetos, elefantes, girafa, javali


- Entre as espécies de animais não bi ungulados que podem ser
afetados estão ouriços, tatus, cangurus, capivaras, ratos, camundongos

OIE, 2008
Humanos apresentam um risco de suscetibilidade desprezível à infecção pelo vírus.
Entretanto, foram descritos raros casos de doença ocupacional, de caráter benigno,
com febre e lesões vesiculares na boca e nas mãos de ordenhadores e indivíduos
que manipularam carcaças ou vírus em laboratório
Transmissão

A transmissão direta ocorre pelo contato entre animais infectados e


suscetíveis pela ingestão (principalmente em suínos) podem ser
animais clinicamente sadios ou portadores

- 4 dias antes dos sinais clínicos ou até 30 dias após a cura


Transmissão

- inalação de partículas virais contidas em secreções e excreções

Infeccioso
Virulento
Disseminação
• Humanos - carrear material infectante em roupas ou sapatos

• veículos, implementos, instrumentos veterinários e, particularmente,


produtos cárneos não processados e leite in natura contaminados

• Aglomeração e feiras(EXPOFERR)
Fontes de vírus – via de eliminação
• Eliminadas nas secreções e excreções de animais clinicamente
afetados ou que estejam em período de incubação

Respiração
Gotículas de saliva
Fezes
Urina
Leite
Sêmen
Carne in natura e os subprodutos, cujo pH tenha
permanecido acima de 6
Fonte de infecção
• Suínos – sinais clínicos

• Ruminantes, os animais portadores parecem desempenhar um papel


na manutenção do vírus no ambiente, pois este é capaz de persistir
na faringe de bovinos e bubalinos e ser detectado cerca de dois anos
ou mais após a infecção.

(FENNER et al., 1993)


Patogenia e sinais clínicos
• Vírus tem tropismo por células epiteliais
• Migração local - com replicação viral - e disseminação para outros tecidos e
órgãos via circulação.
• A excreção viral inicia cerca de 24 horas antes da manifestação de sinais clínicos e
continua por vários dias

• Período de Incubação (PI): 3 a 8 dias


-1º sinais da doença, manifestos na forma de febre, depressão e vesículas
dolorosas no palato, lábios, gengiva, narinas, espaços interdigitais e bandas
coronárias das patas
Patogenia e sinais clínicos

• Esse quadro acarreta emagrecimento pela diminuição da ingestão de


alimentos em função da dificuldade de deglutição, bem como
laminite e claudicação por causa das lesões localizadas nas patas
Patogenia e sinais clínicos

• Por volta de 120 horas após a infecção, as vesículas se rompem originando


úlceras formadas pelas extensas áreas de epitélio descamado.

• A partir do décimo dia, observa-se cura das lesões, mas o vírus pode permanecer
na faringe por longos períodos, exceto em suínos

• Em ovinos e caprinos, a doença se manifesta de forma mais branda enquanto


suínos apresentam lesões severas no focinho e em torno da banda coronária das
patas, que podem se desprender e impedir a locomoção
Outros sinais Clínicos
• vesículas nos tetos quando estão amamentando

• animais prenhes que podem abortar

• Sequelas no rebanho, levando a uma síndrome crônica de dispnéia,


anemia, e super crescimento de pelagem e ausência de tolerância ao
calor (ofegante)

RADOSTITS. et al, 2002


Diagnóstico

Em caso de suspeita de febre aftosa é preciso comunicar


imediatamente o serviço veterinário oficial local

Para diagnóstico laboratorial devem ser


• colhidos fluidos ou tecidos conforme a necessidade para a técnica
utilizada
• A detecção do vírus ou antígenos
- Isolamento viral
- ELISA
- Fixação do Complemento
- Transcrição reversa-reação em cadeia da polimerase (RT-PCR)
- Microscopia eletrônica

Conteúdo de vesículas ou fluido esofágico


copo de Probang, em caso de ruminantes, ou suabes
condições controladas de biossegurança para evitar escape de vírus
• Para pesquisa de anticorpos
-Neutralização viral
-ELISA indireto
-Imunodifusão em gel de ágar com antígeno associado à infecção viral
(IDGA-VIAA)

Um dos problemas enfrentados no diagnóstico sorológico da


febre aftosa é a dificuldade de diferenciação entre animais
vacinados e naturalmente infectados.
No Brasil, o diagnóstico sorológico da febre aftosa é realizado por ELISA
indireto, que utiliza o polipeptídio não estrutural 3ABC, expresso em
Escherichia coli e EITB contendo os antígenos 2C, 3A, 3B, 3D e 3ABC,
como teste confirmatório
Prevenção e controle
• compreensão sobre o comportamento epidemiológico do agente
associadoà adoção de políticas públicas de vigilância sanitária
eficientes
• A prevenção e o controle da enfermidade no Brasil estão baseados no
Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA)
-Calendário de vacinação de bovinos e bubalinos regionalizado
-Controle interno e de fronteiras sobre o trânsito de animais
-Ações organizadas de emergência em casos de focos, monitoramento
soroepidemiológico e campanhas de educação sanitária.
Vacinação

• No Brasil, é recomendada vacina oleosa, polivalente (A, O e C) e inativada


produzida em cultivo celular em monocamadas ou suspensão

• Além disso, antes da comercialização, as vacinas contra febre aftosa são


submetidas a rigoroso controle de qualidade, no qual são avaliadas
esterilidade, inocuidade, potência e estabilidade térmica

(BRASIL, 1995; BRASIL,2004).


Vacinação
• Eficiência protetora da vacina está diretamente relacionada aos
seguintes fatores:
- composição
- conservação
- correta aplicação
• Em relação à composição da vacina, as amostras virais selecionadas
desempenham papel fundamental, pois não é observada proteção
cruzada entre os sorotipos
Fim!!!!!

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