Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O uso das algemas sempre foi contestado a partir do momento que
não há sinais de violência, ou de tentar empreender fuga, de resistir a ordem de
uma autoridade policial, ou judiciária, neste momento não há questionamento de
que as algemas deve tornar se extremamente necessária, contudo, fora desta
órbita, o uso de tal equipamento de segurança, é abusiva e beira a necessidade
de demonstrar autoridade excessiva; portanto, na redação o texto legal exprime
além da forma de uso, demonstra quando não se deve usar, em hipótese
alguma, o que carrega a pergunta em caso de prisão civil, de caso de devedor
de pensão alimentícia, que não tenha nenhuma passagem criminal, e seja, como
o é grande parte, trabalhador, fica patente o abuso de autoridade, quando se faz
uso nestes casos específicos não se justificando o uso corredio deste manejo.
Palavras chaves: Algemas. Abuso. Devedor. Pensão. Alimentícia.
Abstract: The use of handcuffs has always been contested from the moment
that there are no signs of violence, or of trying to escape, of resisting the order of
a police or judicial authority, at this moment there is no question that handcuffs
should become extremely necessary, however, outside this orbit, the use of such
security equipment is abusive and borders on the need to demonstrate excessive
authority; Therefore, in the drafting, the legal text expresses, in addition to the
form of use, it demonstrates when it should not be used, under any
circumstances, which raises the question in the case of civil arrest, in the case of
a child support debtor, who does not have any criminal record , and is, as most
are, workers, the abuse of authority is clear, when it is used in these specific
cases, the correct use of this management is not justified.
Keywords: Handcuffs. Abuse. Debtor. Pension. Food.
Para delimitar o tema, muitas vezes exaltado como esforço heroico, se fixará o
estudo a presos devedores de pensão alimentícia para ex esposa, conduzido até
o distrito policial, mediante o uso de algemas, o que não raras vezes tem sido
usado de forma indiscriminada e sem limites.
Daí o exercício da condução coercitiva, ser ainda mais gravosa, uma vez que
contraria até o bom senso de quem está nesta situação não oferecendo nenhum
perigo aos servidores da secretária de segurança, que tem a incumbência de
conduzi-los para cumprimento de mandado de prisão, ora, que risco um devedor
de pensão alimentícia para ex esposa pode oferecer? Se fugir, que perigo
apresenta a sociedade? Se não for achado, que risco corre as pessoas que
encontrarem o fugitivo?
Estes são os elementos deste artigo, que se reporta em relembrar, que além de
um decreto vigente (no caso do uso das algemas), existe a questão primordial
de bom senso, e para além disso, a questão da humilhação de um trabalhador
(pois o fato de dever pensão a ex esposa, não o transforma em criminoso
perigoso e fugitivo, daí a questão de ser uma prisão civil, com caráter e
características diferentes da prisão criminal), sim, trabalhador não criminoso que
pode ser perigoso, fugitivo e causador de perigo a sociedade.
A diversidade que se tem dado, ou não composto dentro do embrião fulcral sobre
a importância de se separar prisão criminal de prisão civil, passa a ser
importantíssimo.
Não é difícil concluir, que o uso a partir do Decreto deve ser mormente,
presenciado única e exclusivamente, no caso de pessoa presa
reconhecidamente violenta, ou que estejam em processo de fuga, ou ainda
ofereça reconhecido risco a sociedade.
“Além disso, o artigo 474 do Código de Processo Penal, alterado pela Lei
11.689 /08, dispõe, em seu parágrafo 3º: "Não se permitirá o uso de algemas
no acusado durante o período em que permanecer no plenário do Júri, salvo
se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das
testemunhas ou à garantia da integridade física dos
presentes".https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/94831/sumula-vinculante-n-
11-regulamenta-o-uso-das-algemas
Resta demonstrado que o uso das algemas só pode ser utilizado em flagrante
perigo aqueles que estão no ambiente que se encontra a pessoa que está sendo
acusada, em julgamento ou que tem que ser conduzida coercitivamente para
uma delegacia, ou fórum, ou hospital ou qualquer ambiente com outras pessoas,
ou se aqueles que conduzem a pessoa sentem-se ameaçados. Não há dúvida
de quando e como se deve utilizar as algemas nos dias atuais.
Tem saltado aos olhos o uso excessivo de em caso de prisão por dívida de
pensão alimentícia, por parte dos integrantes da secretaria de segurança, o uso
de algemas como regra, não como exceção como imperativamente expõe o texto
da lei.
Chegou o tempo e está passando que a pessoa que é intimidada por este artifício
denuncie os maus tratos, o mal-uso empreendido e faça valer seus direitos,
afinal, se não há violência, recusa em se reportar a delegacia, nem tampouco
fuga, por que usar algemas? Quem sabe demonstração de quem manda, seria
adequado considerar. Todavia, é notório que se trata de prisão civil e como tal
deve ser tratada.
No tribunal do júri, local que trata de crimes contra a vida, ou seja, o bem jurídico
de maior valor e importância, extrai-se o seguinte teor:
Observa-se que o doutrinador demonstra de forma lúcida que uma pessoa que
sendo acusada de um crime de matar, ainda assim tal pessoa tem o direito de
se manter sem algemas, para que seu uso não interfira na condução de análise
dos jurados e serem influenciados com a demonstração clara de contenção
daquele que está sofrendo julgamento. Ora, este aspecto é cristalino uma vez
que resta demonstrado a possibilidade de tal fato induzir a reproduzir na mente
dos jurados espécie traumática a ponto de imaginar ser necessário serem
contundentes no julgamento uma vez, estar contido o julgado sobre as garras
das algemas.
Outrossim, depreende se de maneira efetiva a necessidade de demonstrar aos
assistentes no julgamento, aos jurados e se caso haja cobertura da imprensa, a
desnecessidade do uso violento das algemas, embora, havendo necessidade do
uso, deve o juiz perceber em sua sensibilidade esta viabilidade, deve ser regra
como muito bem demonstra o doutrinador; o não uso; sob pena de gerar
problema real para o júri e o julgamento ali realizado, como traz o texto.
Por isso, a regra passa a ser que o acusado fique livre das algemas durante
sua permanência em julgamento. Em especial, durante o interrogatório,
quando ele gesticula e se expressa de forma mais próxima aos jurados, com
maior razão. Por exceção e quando for absolutamente necessário (é preciso
não banalizar tal exceção) à ordem dos trabalhos, à segurança das
testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes poderá o réu
permanecer algemado. A decisão deve ser tomada pelo juiz de maneira
expressa, fundamentada e constar em ata. Se for abusiva, por não apresentar
motivação razoável, pode ensejar a nulidade do julgamento, tendo em vista o
cerceamento de defesa, em particular, da autodefesa. (NUCCI, 2016, p.779).
É evidente que o réu que tem garantido seu direito de contar e responder sua
versão dos fatos que ele está sendo julgado terá prejuízo na defesa caso fique
o tempo todo algemado, sem ser esta postura de extrema necessidade. Como
bem aponta o texto, sua fala que é uma forma de defesa fica prejudicada, sua
postura frente aos jurados também sofre evidente prejuízo, e sua apresentação
visual sofre o pré-julgamento.
Na extensão desta ideia de poder refletir sobre o uso deste mecanismo curial,
se tem de forma lúcida do argumento bem centrado da questão em lide.
Uso de algemas: durante anos, silenciou o Código de Processo Penal acerca
do uso de algemas, limitando-se a Lei de Execução Penal a dispor que o
emprego de algemas seria disciplinado por decreto federal (LEP, art. 199), o
qual não foi editado até o presente momento. Não obstante o silêncio do
Código de Processo Penal ao longo dos anos, é forçoso convir que a
Constituição Federal assegura aos presos o respeito à integridade física e
moral (CF, art. 5o, inciso XLIX). Ademais, admitindo a lei processual penal a
aplicação analógica, por força do art. 3o, caput, do CPP, mesmo antes das
alterações produzidas pela Lei n. 11.689/08, já deveria incidir no processo
penal comum o art. 234, §1°, do Código de Processo Penal Militar, segundo
o qual o emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo
de fuga ou de agressão da parte do preso. Em face da lacuna legal referente
ao uso de algemas quando do momento da prisão, mesmo antes da reforma
processual de 2008, o Supremo Tribunal Federal já havia se posicionado no
sentido de que o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de natureza
excepcional, a ser adotado nas seguintes hipóteses: a) com a finalidade de
impedir, prevenir ou dificultar a fuga ou reação indevida do preso, desde que
haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto venha a ocorrer; b)
com a finalidade de evitar agressão do preso contra os próprios policiais[..]
(BRASILEIRO, 2017, p.1222).
Não causa espécie a ponderação nos dias atuais que vem se antevendo na
aplicação de princípio não só lastreado por um decreto e entendimento do STF,
há também a máxima peculiaridade de se ter um princípio Constitucional
resguardado, ao se firmar entendimento junto ao uso excepcional das algemas,
não há de se transigir, pela clareza tanto do decreto, como do entendimento
como da própria situação assim se manter clara e cristalina.
Desta feita, não há de se ruir na questão latente, uma vez ser ela passiva de
revisão toda vez que se utilizar até que se possa trazer uma conduta dentro do
que se espera da sociedade, apontando a lei como fio condutor desta
possibilidade.
Cumpre dizer que a algema e a prisão são instituto caracterizado para ações
criminais em execução, ao se impedir a progressão de fato criminoso, ou no
cumprimento de mandado de prisão criminal.
Estranho a este ambiente instituído encontra-se a prisão civil, por dívida
executada de pensão alimentícia. Ora, a prisão tem um cunho civil, por tratar de
devedor de uma execução civil, não penal.
A distância entre uma esfera e outra é colossal. Veja-se que o mandado criminal
de prisão, a rigor pode surgir de algumas formas, como por exemplo: mandado
de prisão por sentença transitada e julgada, ou seja, sentença definitiva; pode
ser por prática de crime quando a polícia alcançou o flagrante; ou as prisões
temporárias e preventivas; o fato é que houve um crime para se decretar a
prisão, e só por este elemento classificador se pode perceber a diferença.
Numa prisão civil por dívida de pensão alimentícia, não há crime há uma dívida,
que para ser satisfeita, usa-se do meio da prisão para alcançar a solução.
Críticas à parte sobre o uso deste instituto é evidente a diferença de uma prisão
para a outra.
Percebe-se que este ato de resistência tem sentindo no devedor penal, pois sua
prática criminal pode o levar a cadeia por um período muito maior, infinitamente
maior que um devedor de pensão alimentícia. Além do que, na resistência, ou
desobediência ato legal, ou desacato, crimes que o devedor de pensão poderia
incorrer, é estranho ao seu mundo uma vez ter trabalho e, principalmente não
ser sua rotina o de ficar preso.
Ademais, se o seu tempo é de 30 dias, um exemplo, por que piorar sua situação,
tentando fugir, pondo em risco ser imputado no momento da prisão um crime
levando a uma situação muito pior? Por que se evadiria, se estando na prisão,
no momento que fizer o acordo e este for homologado por juiz, ele estará livre?
Destarte, sua prisão tem caráter coercitivo, ou seja, de fazer com que pague a
dívida o quanto antes; e não o é para cumprir uma pena.
Para fazer coro a situação do abuso, ainda se tratando de esfera criminal, aduz
se:
O uso de algemas não pode ser arbitrário e principalmente que a prisão não
é espetáculo, pois a atuação da Polícia Federal, principalmente, quando
presos temporários são expostos à ação devastadora das câmeras de
televisão, deve ser revista com urgência. Possivelmente, se não houvesse
registro midiático das prisões, sequer haveria provocação do STF sobre o
assunto, embora seja de todo recomendável essa manifestação pretoriana.
(A Relatora Ministra Carmen Lúcia, sobre o uso de algemas no HC 89429,
em 22 de agosto de 2006).
Doutro modo, ser coerente com o ocorrido, uma vez que a situação tem um
caráter menos vigoroso.
Ora é evidente que deve se bradar contra ato lesivo a dignidade, honra e caráter
de uma pessoa que tem uma situação malfadada civil, não criminal, desta feita
sendo necessária uma condução para aquele que pode ser sujeito civil de prisão
da mesma espécie e não haver tratamento brutal. A orientação policial na
abordagem, explicando que a pessoa será acompanhada até a delegacia por
haver um mandado de prisão, e que a pessoa deve ir tranquilamente, deve ser
o ritual usual, que sem dúvida evitará na maioria dos casos a necessidade de
algemas.
Alinha-se a isso ser aquele que é abordado por policias e comunicado que está
sendo procurado para ser preso por dívida alimentar, que não pode ser uma
abordagem além do não uso de algemas, com arma em punho, afinal, não trata
se de bandido, trata-se de trabalhador, e o respeito para quem paga imposto e
quem sabe, como muitos nem foram informados da dívida, nem se tentou
acordo, não pode e não deve ser tratado como criminoso.
Para não se pensar em estar falando de filhos menores, por se tratar de pensão
alimentícia, o teor do artigo é ressaltar a prisão quando esta é por pensão da ex
esposa. Veja, além de uma forma ainda a ser melhorada esta ideia de alimentar
a ex esposa, há também limitadores pela lei desta questão ainda nebulosa,
embora se tenha anos sendo executado ex esposo, se pode dizer, de forma
taxativa, sem ao menos se esgotar questão de propostas. Ou seja, sabendo a
ex esposa que pode resultar em prisão, se sente tentada a usar de critério
vingativo.
O Estado além de tutor, passa a ser fiador de um ato que o Direito há anos tenta
se livra que é o patrocínio da vingança. Quando o Estado assume o papel de
prender e cobrar através desta coerção, seu papel de interventor em questão de
juízo distorcido de valor, fica comprometido e, ressalta-se a esfera não brindada
pelo juízo de direito: vingança patrocinada.
O cerne da questão, algemas resta provado que não pode ser tratado com
leviandade e nem sequer por força uma vez atingir aqueles que estão apenas
tentando reconstruir sua vida, e que o Estado, deveria de maneira firme proteger.
Considerações Finais
O tema abre espaço para um debate amplo sobre tema que domina os porões
de cadeias, que também não está preparada para receber uma prisão civil,
estando aquele que não comete crime, sendo levado muitas vezes como
criminoso e, não raras vezes estando ao invés de uma prisão com pares, ou seja
devedor civil, fica misturado com devedores criminais.
O Estado que assume ser tutor desta dívida tem que repensar se tal medida,
ainda mais se tratando de ex esposa capaz, alimenta de verdade o quê? É
evidente que uma vingança particular e comezinha.
Fica claro que o uso da algema é estranho ao caráter da pessoa que será presa,
bem como seu caráter de punição; quando deveria ser de coerção e não de
punir.
Referências Bibliográficas
LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal comentado, 2. ed. rev. e
atual. – Salvador: JusPodivm, 2017.
NUCCI, Guilherme. Código de Processo Penal Comentado. 15ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, Rio de Janeiro.
TÁVORA, Nestor; ANTONNI, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 2ª ed.
Salvador: JusPODIVM, 2008.
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/94831/sumula-vinculante-n-11-regulamenta-
o-uso-das-algemas
http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=
18797&revista_caderno=14