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O uso de algemas no caso de prisão civil a devedores de pensão

alimentícia para ex esposa

Autor: Marcos Antonio Duarte Silva

Doutorando em Ciências Criminais, Mestre em Filosofia do


Direito e do Estado, Especialista em Filosofia Contemporânea,
Especialista em Direito Penal e Processo Penal, Bacharel em
Direito, Licenciatura em Filosofia, Bacharel em Teologia,
Professor Universitário.

Resumo: O uso das algemas sempre foi contestado a partir do momento que
não há sinais de violência, ou de tentar empreender fuga, de resistir a ordem de
uma autoridade policial, ou judiciária, neste momento não há questionamento de
que as algemas deve tornar se extremamente necessária, contudo, fora desta
órbita, o uso de tal equipamento de segurança, é abusiva e beira a necessidade
de demonstrar autoridade excessiva; portanto, na redação o texto legal exprime
além da forma de uso, demonstra quando não se deve usar, em hipótese
alguma, o que carrega a pergunta em caso de prisão civil, de caso de devedor
de pensão alimentícia, que não tenha nenhuma passagem criminal, e seja, como
o é grande parte, trabalhador, fica patente o abuso de autoridade, quando se faz
uso nestes casos específicos não se justificando o uso corredio deste manejo.
Palavras chaves: Algemas. Abuso. Devedor. Pensão. Alimentícia.

Abstract: The use of handcuffs has always been contested from the moment
that there are no signs of violence, or of trying to escape, of resisting the order of
a police or judicial authority, at this moment there is no question that handcuffs
should become extremely necessary, however, outside this orbit, the use of such
security equipment is abusive and borders on the need to demonstrate excessive
authority; Therefore, in the drafting, the legal text expresses, in addition to the
form of use, it demonstrates when it should not be used, under any
circumstances, which raises the question in the case of civil arrest, in the case of
a child support debtor, who does not have any criminal record , and is, as most
are, workers, the abuse of authority is clear, when it is used in these specific
cases, the correct use of this management is not justified.
Keywords: Handcuffs. Abuse. Debtor. Pension. Food.

Sumário: Introdução; 1. A lei das algemas e a realidade vivenciada; 2. O uso


das algemas na órbita criminal; 3. Algemas no âmbito de prisão civil; Consirações
Finais.
Introdução

As algemas durante muitos anos serviram como forma de demonstração de


autoridade e poder àqueles que sob o guarda-chuva, ou a desculpa de temor, a
usavam de forma indiscriminada e corrediça, aplicando sem critério o momento,
a pessoa, ou circunstância que seria melhor utilizada.

Seria muito bom anunciar que com o advento do Decreto n° 8.858, de 26 de


setembro de 2016, estaria posto fim ao abuso exercido por este mecanismo,
todavia, infelizmente, o que serve para proteção de alguns, e sem dúvida, em
caso necessário é uma ferramenta útil, também ajuda na intimidação de quem
não oferece nenhum perigo a sociedade, e muito menos àquele que tem que
conduzir tal pessoa até o distrito policial mais próximo.

Para delimitar o tema, muitas vezes exaltado como esforço heroico, se fixará o
estudo a presos devedores de pensão alimentícia para ex esposa, conduzido até
o distrito policial, mediante o uso de algemas, o que não raras vezes tem sido
usado de forma indiscriminada e sem limites.

Cumpre lembrar que o mandato de prisão para devedor de pensão alimentícia


para ex esposa é prisão civil, não é criminal.

Daí o exercício da condução coercitiva, ser ainda mais gravosa, uma vez que
contraria até o bom senso de quem está nesta situação não oferecendo nenhum
perigo aos servidores da secretária de segurança, que tem a incumbência de
conduzi-los para cumprimento de mandado de prisão, ora, que risco um devedor
de pensão alimentícia para ex esposa pode oferecer? Se fugir, que perigo
apresenta a sociedade? Se não for achado, que risco corre as pessoas que
encontrarem o fugitivo?

1. A lei das algemas e a realidade vivenciada

Estes são os elementos deste artigo, que se reporta em relembrar, que além de
um decreto vigente (no caso do uso das algemas), existe a questão primordial
de bom senso, e para além disso, a questão da humilhação de um trabalhador
(pois o fato de dever pensão a ex esposa, não o transforma em criminoso
perigoso e fugitivo, daí a questão de ser uma prisão civil, com caráter e
características diferentes da prisão criminal), sim, trabalhador não criminoso que
pode ser perigoso, fugitivo e causador de perigo a sociedade.

A diversidade que se tem dado, ou não composto dentro do embrião fulcral sobre
a importância de se separar prisão criminal de prisão civil, passa a ser
importantíssimo.

No cerne deste problema de dimensões ainda não imaginadas, encontra-se a


suposta, contudo real abuso de autoridade, se no teor do Decreto 8.858/2016,
se vislumbra uma forma de limitação ao uso deste acessório chamado algemas.

Não é difícil concluir, que o uso a partir do Decreto deve ser mormente,
presenciado única e exclusivamente, no caso de pessoa presa
reconhecidamente violenta, ou que estejam em processo de fuga, ou ainda
ofereça reconhecido risco a sociedade.

Pode se ainda vislumbrar outras possibilidades, todavia, à medida que Decreto


estiver sendo usado poderá com absoluta certeza elencar outras possibilidades.

Com o decreto em vigência, se depreende do texto legal:

“Além disso, o artigo 474 do Código de Processo Penal, alterado pela Lei
11.689 /08, dispõe, em seu parágrafo 3º: "Não se permitirá o uso de algemas
no acusado durante o período em que permanecer no plenário do Júri, salvo
se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das
testemunhas ou à garantia da integridade física dos
presentes".https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/94831/sumula-vinculante-n-
11-regulamenta-o-uso-das-algemas

O uso da algema a partir do dispositivo legal, mesmo em plenário do júri, não se


pode ser usada, a não ser em caso de absoluta necessidade, no caso de se
tornar impossível a continuação dos trabalhos do plenário do júri, neste aspecto
há este demonstrativo expresso de que mesmo em local fechado, a algema deve
ser usada apenas no caso específico e de nenhuma outra forma deve ser usada.

Na mesma esteira encontra o seguinte comentário tratando desta questão,


postulando sobre a matéria tratada.

“O uso de algemas não contou com uma regulamentação federal específica


até meados do presente ano. Apesar do artigo 199 da LEP, desde 1984
prever que "O emprego de algemas será disciplinado por decreto federal", só
neste ano a Lei 11.689 que deu nova redação ao artigo 474, tratou
explicitamente sobre o uso de algemas, vejamos o dispositivo:
Art. 474, CP § 3°: Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o
período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente
necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à
garantia da integridade física dos presentes.'
(NR).https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/94831/sumula-vinculante-n-11-
regulamenta-o-uso-das-algemas

Resta demonstrado que o uso das algemas só pode ser utilizado em flagrante
perigo aqueles que estão no ambiente que se encontra a pessoa que está sendo
acusada, em julgamento ou que tem que ser conduzida coercitivamente para
uma delegacia, ou fórum, ou hospital ou qualquer ambiente com outras pessoas,
ou se aqueles que conduzem a pessoa sentem-se ameaçados. Não há dúvida
de quando e como se deve utilizar as algemas nos dias atuais.

Tem saltado aos olhos o uso excessivo de em caso de prisão por dívida de
pensão alimentícia, por parte dos integrantes da secretaria de segurança, o uso
de algemas como regra, não como exceção como imperativamente expõe o texto
da lei.

O que motiva o uso de algemas nestes casos quando se está tratando de


devedor de pensão alimentícia, e se tratar de prisão civil, não criminal?

A resposta simples a esta indagação é a facilitação, a quase nenhuma


fiscalização, ou monitoramento para impedir esta prática excessiva, e quando
não se há nenhum tipo de controle, o que se pode extrair é que mesmo havendo
algum tipo de dispositivo legal, não se terá de forma alguma mudança de padrão.

Chegou o tempo e está passando que a pessoa que é intimidada por este artifício
denuncie os maus tratos, o mal-uso empreendido e faça valer seus direitos,
afinal, se não há violência, recusa em se reportar a delegacia, nem tampouco
fuga, por que usar algemas? Quem sabe demonstração de quem manda, seria
adequado considerar. Todavia, é notório que se trata de prisão civil e como tal
deve ser tratada.

2. O uso das algemas na órbita criminal


Ao trazer à baila evento que traz contrariedade ao dispositivo legal, há de se
perguntar se no caso de arbitrariedade ao não se distinguir o que vem a ser uma
prisão criminal, e uma prisão civil, no caso desta última com um condão
absolutamente estranho ao encarceramento criminal, por que se insiste em usar
as algemas? Não tem sido vitalizado tal comportamento, uma vez que o devedor
civil não carrega em seu bojo nenhuma espécie de violência.

Para melhor elucidar a questão, cumpre apresentar como se dá o cumprimento


de mandado de prisão criminal, a condução a uma delegacia, ou a um tribunal,
e qualquer lugar que seja necessária a presença do acusado, do condenado ou,
que estão em cárcere provisório, temporária ou condenatória. No último caso, a
sentença condenatória, já está transitado e julgado e, portanto, se está à mercê
da justiça criminal. A personalidade, e conduta deste que se torna condenado é
mormente violenta, ou por estar condenado, tende a buscar a liberdade fugindo,
ou resistindo de sua ausência.

No tribunal do júri, local que trata de crimes contra a vida, ou seja, o bem jurídico
de maior valor e importância, extrai-se o seguinte teor:

Uso de algemas em plenário: temos defendido há muito tempo que o uso de


algemas pelo réu em plenário do Tribunal do Júri é indevido e cerceia a
liberdade de expressão e de defesa. A simbologia trazida pelas algemas
ainda traduz, para muitos leigos (e os jurados o são), a figura da culpa ou da
periculosidade, que sempre é um aspecto negativo. Não é crível que o Estado
seja incapaz de assegurar a ordem e a segurança dentro do fórum, no
plenário do júri. Por isso, a regra passa a ser que o acusado fique livre das
algemas durante sua permanência em julgamento. (NUCCI, 2016, p.779).

Observa-se que o doutrinador demonstra de forma lúcida que uma pessoa que
sendo acusada de um crime de matar, ainda assim tal pessoa tem o direito de
se manter sem algemas, para que seu uso não interfira na condução de análise
dos jurados e serem influenciados com a demonstração clara de contenção
daquele que está sofrendo julgamento. Ora, este aspecto é cristalino uma vez
que resta demonstrado a possibilidade de tal fato induzir a reproduzir na mente
dos jurados espécie traumática a ponto de imaginar ser necessário serem
contundentes no julgamento uma vez, estar contido o julgado sobre as garras
das algemas.
Outrossim, depreende se de maneira efetiva a necessidade de demonstrar aos
assistentes no julgamento, aos jurados e se caso haja cobertura da imprensa, a
desnecessidade do uso violento das algemas, embora, havendo necessidade do
uso, deve o juiz perceber em sua sensibilidade esta viabilidade, deve ser regra
como muito bem demonstra o doutrinador; o não uso; sob pena de gerar
problema real para o júri e o julgamento ali realizado, como traz o texto.

Por isso, a regra passa a ser que o acusado fique livre das algemas durante
sua permanência em julgamento. Em especial, durante o interrogatório,
quando ele gesticula e se expressa de forma mais próxima aos jurados, com
maior razão. Por exceção e quando for absolutamente necessário (é preciso
não banalizar tal exceção) à ordem dos trabalhos, à segurança das
testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes poderá o réu
permanecer algemado. A decisão deve ser tomada pelo juiz de maneira
expressa, fundamentada e constar em ata. Se for abusiva, por não apresentar
motivação razoável, pode ensejar a nulidade do julgamento, tendo em vista o
cerceamento de defesa, em particular, da autodefesa. (NUCCI, 2016, p.779).

É evidente que o réu que tem garantido seu direito de contar e responder sua
versão dos fatos que ele está sendo julgado terá prejuízo na defesa caso fique
o tempo todo algemado, sem ser esta postura de extrema necessidade. Como
bem aponta o texto, sua fala que é uma forma de defesa fica prejudicada, sua
postura frente aos jurados também sofre evidente prejuízo, e sua apresentação
visual sofre o pré-julgamento.

Sumamente disposto que em caso de necessidade não se questiona o uso,


porém a rotina transformou algo que deveria ser usado excepcionalmente como
regra de uso, em qualquer caso sem exceção.

E na modernidade quando se pode perceber que se pode manter o uso restrito


ao que demanda a legalidade, deve se fazer ecoar a discordância peremptória
no uso abusivo, ou seja, sem a real necessidade. Para engendrar tal colocação
fixe como se manifestou o STF:

Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o uso de algemas


deve ser adotado em situações excepcionalíssimas, pois, do contrário,
violam-se importantes princípios constitucionais, dentre eles a dignidade da
pessoa humana. (NUCCI, 2016, p.779).

O superlativo demonstra sem deixar pairar dúvida a ocorrência prevista.

Na extensão desta ideia de poder refletir sobre o uso deste mecanismo curial,
se tem de forma lúcida do argumento bem centrado da questão em lide.
Uso de algemas: durante anos, silenciou o Código de Processo Penal acerca
do uso de algemas, limitando-se a Lei de Execução Penal a dispor que o
emprego de algemas seria disciplinado por decreto federal (LEP, art. 199), o
qual não foi editado até o presente momento. Não obstante o silêncio do
Código de Processo Penal ao longo dos anos, é forçoso convir que a
Constituição Federal assegura aos presos o respeito à integridade física e
moral (CF, art. 5o, inciso XLIX). Ademais, admitindo a lei processual penal a
aplicação analógica, por força do art. 3o, caput, do CPP, mesmo antes das
alterações produzidas pela Lei n. 11.689/08, já deveria incidir no processo
penal comum o art. 234, §1°, do Código de Processo Penal Militar, segundo
o qual o emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo
de fuga ou de agressão da parte do preso. Em face da lacuna legal referente
ao uso de algemas quando do momento da prisão, mesmo antes da reforma
processual de 2008, o Supremo Tribunal Federal já havia se posicionado no
sentido de que o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de natureza
excepcional, a ser adotado nas seguintes hipóteses: a) com a finalidade de
impedir, prevenir ou dificultar a fuga ou reação indevida do preso, desde que
haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto venha a ocorrer; b)
com a finalidade de evitar agressão do preso contra os próprios policiais[..]
(BRASILEIRO, 2017, p.1222).

Não causa espécie a ponderação nos dias atuais que vem se antevendo na
aplicação de princípio não só lastreado por um decreto e entendimento do STF,
há também a máxima peculiaridade de se ter um princípio Constitucional
resguardado, ao se firmar entendimento junto ao uso excepcional das algemas,
não há de se transigir, pela clareza tanto do decreto, como do entendimento
como da própria situação assim se manter clara e cristalina.

Desta feita, não há de se ruir na questão latente, uma vez ser ela passiva de
revisão toda vez que se utilizar até que se possa trazer uma conduta dentro do
que se espera da sociedade, apontando a lei como fio condutor desta
possibilidade.

A necessidade de positivar tal procedimento demonstra por si só que, se não


houver tal assertiva, de forma alguma o hábito de usar as algemas como regra
será perpetuado.

3. Algemas no âmbito de prisão civil

Cumpre dizer que a algema e a prisão são instituto caracterizado para ações
criminais em execução, ao se impedir a progressão de fato criminoso, ou no
cumprimento de mandado de prisão criminal.
Estranho a este ambiente instituído encontra-se a prisão civil, por dívida
executada de pensão alimentícia. Ora, a prisão tem um cunho civil, por tratar de
devedor de uma execução civil, não penal.

A distância entre uma esfera e outra é colossal. Veja-se que o mandado criminal
de prisão, a rigor pode surgir de algumas formas, como por exemplo: mandado
de prisão por sentença transitada e julgada, ou seja, sentença definitiva; pode
ser por prática de crime quando a polícia alcançou o flagrante; ou as prisões
temporárias e preventivas; o fato é que houve um crime para se decretar a
prisão, e só por este elemento classificador se pode perceber a diferença.

Numa prisão civil por dívida de pensão alimentícia, não há crime há uma dívida,
que para ser satisfeita, usa-se do meio da prisão para alcançar a solução.

Críticas à parte sobre o uso deste instituto é evidente a diferença de uma prisão
para a outra.

Outrossim há também a importante situação do sujeito em cada uma destas


prisões: o de origem criminal, desconhece ou conhece o tempo que irá ficar
preso (se for reclusão fechado, é porque o crime na sentença é mais de 8 anos,
se for prisões temporária ou preventiva, tenta se evitar piorar a situação para
persecução penal, a investigação em si, caso não haja esta condição, de estar
livre), no caso da prisão civil por pensão alimentícia, o tempo de prisão se revela
30 dias/ou mais dependendo se segunda ou terceira execução alimentar.

Só por este fator determinante, se desprende o ânimo de um sujeito e de outro,


sabendo que o caso da prisão civil, não se lida diretamente com criminoso, em
sua grande parte do tempo.

Então se pergunta, porque o uso das algemas, costumeiramente praticado?

Vejamos ainda quando é cabível o uso das algemas:

A resistência é definida como a possibilidade de o infrator “opor-se à


execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio”. O
segundo motivo traduz-se no receio de fuga, “justificado quando o infrator,
percebendo a atuação policial, empreende esforço para se evadir, ou quando
é capturado após perseguição”. E por último, está o perigo à integridade física
própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, já que o uso de algemas
“pode se materializar em expediente para conferir ao procedimento
segurança, evitando-se o mal maior que é o emprego de força física para
conter o preso ou seus comparsas, amigos, familiares, inclusive com a
utilização de armas, letais ou não. (TÁVORA, 2008, p.442).

Percebe-se que este ato de resistência tem sentindo no devedor penal, pois sua
prática criminal pode o levar a cadeia por um período muito maior, infinitamente
maior que um devedor de pensão alimentícia. Além do que, na resistência, ou
desobediência ato legal, ou desacato, crimes que o devedor de pensão poderia
incorrer, é estranho ao seu mundo uma vez ter trabalho e, principalmente não
ser sua rotina o de ficar preso.

Ademais, se o seu tempo é de 30 dias, um exemplo, por que piorar sua situação,
tentando fugir, pondo em risco ser imputado no momento da prisão um crime
levando a uma situação muito pior? Por que se evadiria, se estando na prisão,
no momento que fizer o acordo e este for homologado por juiz, ele estará livre?

Não faz sentido tratar tal pessoa como um devedor criminal.

Destarte, sua prisão tem caráter coercitivo, ou seja, de fazer com que pague a
dívida o quanto antes; e não o é para cumprir uma pena.

Pensando desta maneira, o uso da algema é desnecessário, arbitrário e


descomunal com a situação, percebe-se, no entanto, que é usual, frequente, e
costumeiro esta prática daninha, que humilha e expõe uma pessoa que de erro,
cometeu não o penal, mas o civil.

Não incomum, o uso das algemas é uma clara demonstração de força e de


subjugo da pessoa conduzida a delegacia, ainda mais se esta for devedor civil.

Para fazer coro a situação do abuso, ainda se tratando de esfera criminal, aduz
se:

O uso de algemas não pode ser arbitrário e principalmente que a prisão não
é espetáculo, pois a atuação da Polícia Federal, principalmente, quando
presos temporários são expostos à ação devastadora das câmeras de
televisão, deve ser revista com urgência. Possivelmente, se não houvesse
registro midiático das prisões, sequer haveria provocação do STF sobre o
assunto, embora seja de todo recomendável essa manifestação pretoriana.
(A Relatora Ministra Carmen Lúcia, sobre o uso de algemas no HC 89429,
em 22 de agosto de 2006).

Passa como bem conclui a Ministra Carmem Lúcia, em “espetáculo”, e mesmo


em caráter criminal, há limites a serem respeitados. Demonstração de
truculência, de força, de humilhação tem que ceder espaço para uma condição
mais inteligente e menos coercitiva. Veja, numa prisão temporária, ou seja, não
uma prisão ministrada por sentença condenatória, passa a ser desnecessária e
definitivamente abuso.

Doutro modo, ser coerente com o ocorrido, uma vez que a situação tem um
caráter menos vigoroso.

Nesta mesma esteira se produziu o seguinte teor:

“O uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de natureza excepcional,


a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar
a fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou
justificado receio de que tanto venha a ocorrer, e para evitar agressão do
preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou contra si mesmo. O
emprego dessa medida tem como balizamento jurídico necessário os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.” (HABEAS CORPUS.
PENAL. USO DE ALGEMAS NO MOMENTO DA PRISÃO. AUSÊNCIA DE
JUSTIFICATIVA EM FACE DA CONDUTA PASSIVA DO PACIENTE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PRECEDENTES. HC 89429 RO).

Resta absoluto, que evidentemente o caso para usar algemas é excepcional


sendo sua necessidade restrita, no caso de prisão civil, o próprio caráter da
prisão em curso, impede a necessidade primal e mesmo final de se utilizar de
meio vexatório a alguém que não vive da violência, nem tampouco é réu criminal,
mesmo sendo este último, não deve faltar a desnecessidade de uso desta
prática.

Ora é evidente que deve se bradar contra ato lesivo a dignidade, honra e caráter
de uma pessoa que tem uma situação malfadada civil, não criminal, desta feita
sendo necessária uma condução para aquele que pode ser sujeito civil de prisão
da mesma espécie e não haver tratamento brutal. A orientação policial na
abordagem, explicando que a pessoa será acompanhada até a delegacia por
haver um mandado de prisão, e que a pessoa deve ir tranquilamente, deve ser
o ritual usual, que sem dúvida evitará na maioria dos casos a necessidade de
algemas.

Alinha-se a isso ser aquele que é abordado por policias e comunicado que está
sendo procurado para ser preso por dívida alimentar, que não pode ser uma
abordagem além do não uso de algemas, com arma em punho, afinal, não trata
se de bandido, trata-se de trabalhador, e o respeito para quem paga imposto e
quem sabe, como muitos nem foram informados da dívida, nem se tentou
acordo, não pode e não deve ser tratado como criminoso.

Para não se pensar em estar falando de filhos menores, por se tratar de pensão
alimentícia, o teor do artigo é ressaltar a prisão quando esta é por pensão da ex
esposa. Veja, além de uma forma ainda a ser melhorada esta ideia de alimentar
a ex esposa, há também limitadores pela lei desta questão ainda nebulosa,
embora se tenha anos sendo executado ex esposo, se pode dizer, de forma
taxativa, sem ao menos se esgotar questão de propostas. Ou seja, sabendo a
ex esposa que pode resultar em prisão, se sente tentada a usar de critério
vingativo.

Claro e evidente, que o Estado fazendo o serviço de muitas vezes patrocinar


uma vingança (não são raros os casos que a ideia da ex mulher é se vingar,
prendendo o ex esposo), sendo balizado ainda a polícia para fazer tal
abordagem.

A natureza da prisão e o desserviço praticado para aqueles que tomaram a


decisão de seguir sua vida se responsabilizando pelos filhos e não ex esposa,
não tem sido um alento, ao contrário, tem sido assunto tormentoso, quiçá sendo
necessário se rever os pressupostos para esta aplicação por extensão da lei de
pensão alimentícia.

Tratando deste aspecto, se aduz:

Há uma diferença primária entre Direito Público e Direito Privado no primeiro


se oferece a interferência do estado se fazendo necessária e indispensável,
por questões de necessidade desta intervenção estatal, a população e o
estado fica à mercê desta manifestação até para que haja ingredientes
necessários e suficientes para manter a segurança e a mínima paz entre a
sociedade; contrário ao Direito Privado que procura a todo custo não interferir
nas questões que devem se ater ao acordo das partes e na melhor das
hipóteses, o magistrado, representante do estado para mediar situações
conflitantes, sem contudo, invadir a vida privada; em contraste a tudo isso, se
verifica o Direito de Família que é Direito Privado invadindo uma esfera não
casuística, mas de invasão e fugindo da esfera do privado e se cercando do
Direito Público para tratar de uma questão privada: a cobrança da pensão
alimentícia, podendo executar através da prisão, como forma de coerção, o
devedor através do encarceramento da sua liberdade deve pagar a pessoa
particular uma pecúnia em que o estado só terá custos, mantendo atrás das
grades os devedores e que ao final não receberá nada se não o cumprimento
for pleno, ou seja, ficar preso pelo período de 30, 60 ou 90 dias, gerando um
custo ao Estado, sem este receber nada em troca[…].
(http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo
_id=18797&revista_caderno=14).

O Estado além de tutor, passa a ser fiador de um ato que o Direito há anos tenta
se livra que é o patrocínio da vingança. Quando o Estado assume o papel de
prender e cobrar através desta coerção, seu papel de interventor em questão de
juízo distorcido de valor, fica comprometido e, ressalta-se a esfera não brindada
pelo juízo de direito: vingança patrocinada.

Aduz desta condição análoga é de se tentar a todo custo se dissociar sem,


contudo, se valer de expediente atroz.

O cerne da questão, algemas resta provado que não pode ser tratado com
leviandade e nem sequer por força uma vez atingir aqueles que estão apenas
tentando reconstruir sua vida, e que o Estado, deveria de maneira firme proteger.

Considerações Finais

O tema abre espaço para um debate amplo sobre tema que domina os porões
de cadeias, que também não está preparada para receber uma prisão civil,
estando aquele que não comete crime, sendo levado muitas vezes como
criminoso e, não raras vezes estando ao invés de uma prisão com pares, ou seja
devedor civil, fica misturado com devedores criminais.

Se o uso das algemas já se pode questionar com base na personalidade do


agente e, principalmente, por conta do caráter equacionado desta prisão,
imagina se levantar aonde ficam tais devedores civis? Que não estão sendo
aprisionados em ambiente próprio e sim, aonde se tem vaga.

O assunto é por demais tormentoso, uma vez, proporcionar possibilidades de a


injustiça ser maior e desnecessariamente praticada.

O Estado que assume ser tutor desta dívida tem que repensar se tal medida,
ainda mais se tratando de ex esposa capaz, alimenta de verdade o quê? É
evidente que uma vingança particular e comezinha.

Outrossim, e piorando, além de algemar, proporcionando um disparate, ainda se


está bancando a questão particular, não de menores que dependem do trabalho
do genitor para parte do seu sustento, mas sim, alimenta uma indústria de
vingança que cresce assustadoramente no Brasil.

Passou da hora de rever esta medida de oferecer pensão a ex esposa à custa


de tratamento igualitário ao ex marido de criminoso, na sua condução e pior,
aonde ficará para ser coagido.

Fica claro que o uso da algema é estranho ao caráter da pessoa que será presa,
bem como seu caráter de punição; quando deveria ser de coerção e não de
punir.

A esperança que na leitura e principalmente reflexão sobre a algema, possa se


cumprir o que o decreto propõe: só no último caso quando houver risco a
integridade de quem está praticando aquele ato. Dificilmente, numa prisão civil
será necessária esta media extrema.

Referências Bibliográficas

LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal comentado, 2. ed. rev. e
atual. – Salvador: JusPodivm, 2017.
NUCCI, Guilherme. Código de Processo Penal Comentado. 15ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, Rio de Janeiro.
TÁVORA, Nestor; ANTONNI, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 2ª ed.
Salvador: JusPODIVM, 2008.
https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/94831/sumula-vinculante-n-11-regulamenta-
o-uso-das-algemas
http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=
18797&revista_caderno=14

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