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Úlceras de Córnea:

diagnóstico e tratamento
Viviane de Araújo Marques
Acadêmica do 9º período de Medicina Veterinária
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
(IFAM) 1
Introdução

• Principal afecção oftálmica na clínica geral.


• Afecção simples → consequências graves!
• Ceratite ulcerativa: Perda da
continuidade do tecido corneal (Úlcera de
córnea).
• Multifatorial → atenção do clínico geral!

Fonte: CachorroGato.

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Introdução

Anatomia Ocular
• Túnica Externa
 Esclera: Vascularização e inserção
muscular.
 Córnea: Meio refratário transparente.

• Túnica Média
 Íris: Divisão da câmara anterior e
posterior;
Pupila → regula a entrada de luz.
 Corpo ciliar: Acomoda o cristalino;
Produção do humor aquoso.

Fonte: Biologyforums.com 3
Introdução

Anatomia Ocular
• Túnica Média
 Coróide: Amplifica a luz no escuro;
Tapetum lucidum e região
pigmentada.

• Túnica Interna
 Retina: Captação da luz → nervo óptico;
Suporte pelo Humor Vítreo;

• Papila óptica e nervo óptico.


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Fonte: Oftalmo Bicci Veterinária.
Introdução

Anatomia Ocular
• Pálpebras:
Proteção ocular;
Acomodação dos cílios e glândulas;
Distribuição do filme lacrimal.

• Glândulas da Lágrima
Lacrimais e Nictante: aquosa;
Tarsais: olesosa;
Caliciformes: mucina.

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Introdução

Anatomia da Córnea
• Córnea
 Tecido avascular e transparente → permitir a entrada
de luz;
 Nutrida pelo humor aquoso, filme lacrimal e vasos do
limbo.

• Funções:
 Transmitir luz;
 Foco + íris e pupila.
 Proteção.

• Espessura: 0,45 a 0,55 mm.

Fonte: Leawo.
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Introdução

Anatomia da Córnea
Camada superficial da córnea
Nervos ciliares → inervação
sensorial.

Ceratócitos → colágeno

Membrana basal do endotélio.


Exposição: Emergência ocular!
Única camada de células
Fonte: TURNER, 2010.
Drenagem da córnea. 7
Introdução

Anatomia da Córnea

Fonte: TURNER, 2010.


Fonte: Laboratório Santgar.
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Introdução

Cicatrização da Córnea
• Estroma compacto impede a penetração de vasos e
imunoglobulinas:
 Transparência da Córnea;
x Demora na cicatrização → deslizamento.
• Lesões complicadas → neovascularização do limbo.
• Leucócitos e melanócitos.

Fonte: TURNER, 2010. 9


Introdução

Cicatrização da Córnea
Células epiteliais,
fibroblastos e Remoção de debris
leucócitos celulares e células
Colagenases
desvitalizadas
e
Proteases
Metabolização excessiva
Bactérias do colágeno corneal
(Pseudomonas sp.)

Fonte: TURNER, 2010. 10


Etiologia

Anomalias Palpebrais

• Entrópio: Inversão da
margem palpebral.
 Atrito com a córnea;
 Úlcera → perfuração;
 DOR!

Fonte: Portal do Dog. 11


Etiologia

Anomalias Palpebrais
• Entrópio → Correção cirúrgica.

Fonte: Dicas peludas.


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Etiologia

Anomalias Palpebrais
• Entrópio → Correção cirúrgica.

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Fonte: Universidade Federal do Paraná.
Etiologia

Anomalias Palpebrais
• Ectrópio: Eversão das pálpebras.
 Ressecamento das pálpebras.
 Correção cirúrgica.

Fonte: OftalmoVet.
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Etiologia

Anomalias Palpebrais
• Ectrópio: Eversão das pálpebras.
 Ressecamento das pálpebras.
 Correção cirúrgica.

Fonte: Veterian Key.


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Etiologia

Anomalias Palpebrais
• Neoformações
 Face interna da pálpebra → atrito com a córnea.
 ↑ invasivos, mas ↓ malignidade.
 Ressecção cirúrgica → biópsia.

Fonte: CARNEIRO, 2004. Fonte: Arquivo Pessoal. 16


Etiologia

Anomalias Ciliares
• Distiquíase: Cílios que se originam
da glândula tarsal → olho.

Fonte: M. V. Ana Carolina Rodarte.


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Etiologia

Anomalias Ciliares
• Triquíase: Cílio cresce no lugar certo, mas no
sentido oposto → olho.

Fonte: Oftalmovet.
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Etiologia

Anomalias Ciliares
• Cílio ectópico: Folículo piloso originado na
conjuntiva → córnea.

Fonte: M. V. Ana Carolina Rodarte. Fonte: Oftalmovet.


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Etiologia

Corpo estranho e traumas


• Cuidado na avaliação → relutância do animal.
• Arranhaduras e mordeduras.

Fonte: Isabela Ciniello. 20


Etiologia

Anomalias do filme lacrimal


• Deficiência na qualidade / quantidade de lágrima
 ↓ quantidade de lágrima ou de constituintes.
 Ceratoconjuntivite Seca → ceratite ulcerativa.
 Teste Lacrimal de Schirmer.

Fonte: Hospital Veterinário da Unoeste.


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Etiologia

Predisposição Racial
• Raças braquicefálicas:
 Maior exposição ocular;
 Lagoftalmia;
 Pregas nasais exuberantes.

Fonte: Universidade de Brasília. Fonte: M.V. Elaine Mello. 22


Etiologia

Iatrogênica
• Remoção da glândula da 3ª pálpebra
 Responsável por 1/3 da lágrima;
 Ceratoconjuntivite seca iatrogênica;
 Prolapso da glândula → sepultamento.

Fonte: M. V. Renato Baltar. Fonte: Oftalmologia Animal.


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Etiologia

Iatrogênica
• Uso indevido de corticoides
 Potencializam em 14x as colagenases;
 Agravamento agudo de úlceras.

• Descaso com a lubrificação ocular


 Procedimento anestésico prolongado;
 Animais internos;
 Ausência da semiologia oftálmica. Fonte: Stock Fotografia.

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Úlceras de Córnea

Úlcera Superficial
• Lesão no epitélio córneo;
• Terminações nervosas na
superfície → DOR!
• Resolução clínica no
diagnóstico precoce.
• Cicatrização rápida.

Fonte: Pet Care.

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Úlceras de Córnea

Úlcera Superficial

Fonte: Vet Smart.

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Úlceras de Córnea

Úlcera Profunda

• Acometimento do estroma corneal.


• Alto risco de contaminação e rápida
progressão;
• Pseudomonas aeruginosa: dissolução
do colágeno estromal.

Fonte: CachorroGato
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Úlceras de Córnea

Úlcera Profunda

Fonte: CachorroGato
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Úlceras de Córnea

Úlcera Profunda

Fonte: Universidade Federal do Paraná. Fonte: Oftalmologia Animal.


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Úlceras de Córnea

Descemetocele
• Úlcera profunda → Membrana de
Descemet;
• Emergência oftálmica → ruptura;
• Extremamente sensível e
agravamento rápido.
• Resolução cirúrgica!

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Fonte: Infoteca.
Úlceras de Córnea

Descemetocele

Fonte: Oftalmovet. Fonte: M.V. Ernie Ward. 31


Úlceras de Córnea

Úlcera Indolente
• Separação do epitélio do estroma corneal.
• Origem: Hemidesmossomos defeituosos;
• Aspecto de epitélio solto nos bordos da
lesão.
• Impossível resolução clínica → TTO
cirúrgico.

Fonte: Universidade Federal do Paraná.


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Úlceras de Córnea

Úlcera Indolente
• Fluoresceína se espalha além dos bordos da lesão,
por baixo do epitélio.

Fonte: Universidade Federal do Paraná. 33


Sinais Clínicos

• Dor;

• Blefaroespasmos;

• Miose;

• Fotofobia.

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Fonte: Diagnóstico Veterinário.
Sinais Clínicos

• Dor;

• Blefaroespasmos;

• Miose;

• Uveite;

• Fotofobia.

Fonte: Revista investigação Medicina Veterinária.

35
Sinais Clínicos
• Lacrimejamento;
• Secreção ocular;
• Edema corneal;
• Perda da transparência corneal;
• Hiperemia ocular;
• Neovascularização.

Fonte: TURNER, 2010.

36
Sinais Clínicos

• Edema corneal;
• Perda da transparência corneal;
• Hiperemia ocular;
• Neovascularização.

Fonte: TURNER, 2010.

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Sinais Clínicos
• Lacrimejamento;

• Edema corneal;
• Perda da transparência corneal;
• Hiperemia ocular;
• Neovascularização.

Fonte: Oftalmo Animal.

38
Complicações associadas
• Ruptura do endotélio corneano;
• Prolapso de íris;
• Sequestro corneano;
• “Melting eye”
• Perda da transparência corneana
→ visão;
• Infecção intraocular → hipópio;
Fonte: Acta Scientiae Veterinariae.

• Cegueira.
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Complicações associadas
• Ruptura do endotélio corneano;
• Prolapso de íris;
• Sequestro corneano;
• “Melting eye”
• Perda da transparência corneana
→ visão;
• Infecção intraocular → hipópio;
• Cegueira. Fonte: Veterinária de felinos.

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Complicações associadas
• Ruptura do endotélio corneano;
• Prolapso de íris;
• Sequestro corneano;
• “Melting eye”
• Perda da transparência corneana
→ visão;
• Infecção intraocular → hipópio;
• Cegueira.
Fonte: Universidade Federal do Paraná.

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Complicações associadas
• Ruptura do endotélio corneano;
• Prolapso de íris;
• Sequestro corneano;
• “Melting eye”
• Perda da transparência
corneana → visão;
• Infecção intraocular → hipópio;
• Cegueira. Fonte: Acta Scientiae Veterinariae.

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Complicações associadas
• Ruptura do endotélio corneano;
• Prolapso de íris;
• Sequestro corneano;
• “Melting eye”
• Perda da transparência corneana
→ visão;
• Infecção intraocular → hipópio;
• Cegueira. Fonte: Universidade Federal do Paraná.

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Diagnósticos
• Histórico + Sinais Clínicos;
• Exame ocular → descobrir a
causa base!
• Avaliação da córnea, câmara
anterior e conjuntiva:
 Anestésico tópico: tetracaína 1%.

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Fonte: Oftalmologia Animal.
Diagnósticos
• Fluoresceína:
 Corante hidrofílico que se adere ao colágeno presente no estroma corneal
(hidrofílico);
 Não se adere ao epitélio (lipofílicos) e membrana de Descemet;

Positiva: Úlcera estromal e


indolente.
Negativa: Epitélio íntegro,
ceratite e descemetocele.

Fonte: Oftalmologia Animal.


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Diagnósticos
• Fluoresceína:
 Azul de cobalto ↑ fluorescência.

Fonte: Universidade Federal do Paraná.


Fonte: Deskgram. 46
Diagnósticos
• Fluoresceína:
 Apresentações comerciais

Fonte: UFRGS
Fonte: Drogarias Minas. 47
Diagnósticos
• Lâmpada de Fenda
 Avalia a profundidade da lesão;
 Fonte de luz e magnificação.

Fonte: Oftalmo Bicci.


Fonte: Revista MedVep. 48
Tratamento Clínico
• Tratar a causa primária!
 Úlcera superficial:
• Antibióticos TO: Tobramicina, Enrofloxacino e Moxifloxacino..
 Simples: a cada 6 horas.
 Complicadas: a cada 2h → 4 horas (10 dias)

Fonte: Eldorado Farma.


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Tratamento Clínico
• Analgesia: Atropina TO, BID a TID,
5 dias.
 Midriático → relaxamento da
musculatura ciliar.

• Lágrima artificial
 Evitar o ressecamento e atrito da
córnea lesionada.

• Limpeza de secreções com soro


fisiológico. Fonte: Eldorado Farma.

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Tratamento Clínico
 Úlcera profunda e Descemetocele:
• Inibidores de proteases e colagenases: EDTA 0,3% e
acetilcisteína 10% TO.
 6 ou 8h em úlceras simples;
 2h em úlceras complicadas (“melting”)

• Vitaminas A e C na alimentação
 Crescimento de ceratócitos → remodelação e cicatrização da
ferida.
• Sulfato de Condroitina (Dunason Colírio®)
 Auxilia na reepitelização corneana – úlceras graves (TID).

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Tratamento Clínico
 Úlcera profunda e Descemetocele:
• ATB subconjuntival/sistêmico.
 Penicilinas e Cefalosporinas / Gentamicina e Enrofloxacina.

• TTO cirúrgico → integridade ocular.

Fonte: Scielo.
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Tratamento Clínico
• Anti-inflamatórios?
Efeitosf AIE* AINE
Prós - Diminui a vascularização, cél. - Auxilia na analgesia e redução do
inflamatórias e fibroblastos. edema local.
Contras - Aumenta a ação das colagenases. - Inibe a regeneração estromal e
- Diminui a resistência a infecções. cicatrização corneal.
- Progressão da úlcera.
Fármacos Prednisona Diclofenaco
Dexametasona Cetorolaco de trometamina
* Início após a total cicatrização da córnea.

 O uso de AINEs no tratamento de úlcera fica a critério do


Médico Veterinário.
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Tratamento Cirúrgico
• Indicadopara úlceras profundas, recidivantes,
descemetoceles e perfuração ocular.
 Recobrir a úlcera;
 Proteção mecânica;
 Vascularização da úlcera;
 Evitar a ruptura da córnea.

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Tratamento Cirúrgico
 Enxerto conjuntival
• Vascularização e proteção da úlcera.

Fonte: Oftalmologia Animal. Fonte: Clínica Veterinária El Parque. Fonte: Oftalmologia Animal.
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Tratamento Cirúrgico
 Flap de 3ª pálpebra
 Proteção mecânica.
 Questionamentos sobre seu
uso.
 Vascularização e visibilidade.

Fonte: Clínica Veterinária Dr. Abílio.


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Tratamentos cirúrgicos
 Membrana biológica

Fonte: Vetrix® BioSIS. Fonte: M. V. Ana Carolina Rodarte.

57
Tratamentos cirúrgicos
 Debridamento do epitélio corneal
 Úlcera indolente → estimula a reepitelização.

Fonte: M.V. João Alfredo Kleiner. Fonte: Oftalmopets. 58


Tratamentos

Fonte: CUNHA, 2008.

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Pós-operatório
• Colar elizabetano ou viseira de proteção;
• O tratamento clínico → pré e pós-cirúrgico;
• Avaliação a cada 7 dias → retirada dos pontos (21 dias).

Fonte: Visão Animal.


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Prognóstico
• Tempo de diagnóstico;
• Resolução clínica x cirúrgica;
• Comprometimento do tutor;
• Persistência no tratamento!

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Considerações Finais
Importância do exame oftalmológico na clínica
geral;
 Parceria entre o clínico geral e o especialista;
 Diagnóstico precoce → tratamento clínico;
 Sempre buscar a causa primária!
 Atenção aos olhos, sempre!

Fonte: Pet Care.


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Referências bibliográficas
• CARNEIRO, L. Oftalmologia veterinária: clínica e cirurgia. São Paulo: Roca, 2004.
• CUNHA, O. Manual de Oftalmologia Veterinária. Palotina: UFPR, 2008.
• SLATTER, D. Fundamentos de oftalmologia veterinária. São Paulo: Roca, 2005.
• TURNER, S. M. Oftalmologia em pequenos animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

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