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02/12/2015

Introdução
A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa, progressiva,
heterogênea nos seus aspectos etiológico, clínico e neuropatológico. Esta
relacionada com um declínio progressivo funcional e uma perda gradual da
autonomia que, em consequência, ocasiona nos indivíduos por ela afetados,
uma incapacidade funcional total.
Desafios Nutricionais no Paciente
Demenciado

Carvalho, B, Frank, Andrea Abdala. Nutrição na maturidade,


desafios nutricionais no paciente demenciado, 2010.

Como ainda não se conhece completamente a etiopatogênese da


DA, não é possível curar a doença, portanto, podemos fornecer um
cuidado bem sucedido, uma vez instalada a enfermidade.
O diagnóstico precoce e preciso, a intervenção interdisciplinar, o
envolvimento da família e dos grupos de apoio são de fundamental
importância na abordagem de pacientes com DA.
A prevalência da DA em indivíduos que consomem dietas ricas em
colesterol e gorduras saturadas e pobres em fibras, vegetais e frutas.
Porém, uma alimentação equilibrada, rica em fibras, vitamina B12,
B6 e ômega -3, ajuda a diminuir a incidência de doenças
Pacientes e seus familiares, muitas vezes, atribuem os sintomas iniciais da degenerativas em geral (MORRIS, 2003).
demência ao processo de envelhecimento.
Apesar de ainda não dispormos de drogas capazes de interromper ou modificar o
curso da DA, há melhora cognitiva e sintomática é demonstrada cientificamente,
com o uso de vários agentes farmacológicos, intervenções psicossociais e técnicas
de reabilitação cognitiva (MACHADO, 2002).

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Impactos da DA no Estado
Existem tipos de demências que
podem ser reversíveis, tais como Nutricional
hidrocefalia de pressão normal,
distúrbios cognitivos ligados ao álcool O principal fator que ocasiona a desnutrição, é a incapacidade funcional.
e deficiência de folato. Quando perdem a sua capacidade de discernimento, começam a esquecer
Dentre as demências irreversíveis de se alimentar ou esquecem os valores nutritivos das refeições.
temos a DA, demência de Corpúsculo
de Lewy, demência frontotemporal
(Pick) e demência vascular. À medida que se isolam socialmente, começam a perder a capacidade de fazer
O diagnóstico correto nos permite um as suas compras, deprimem por se alimentarem sozinhos, mudam os seus
prognóstico da evolução da doença, o hábitos alimentares, deixam de preparar as suas refeições, além de não
que é fundamental para o conseguirem se alimentar sozinhos em uma fase mais avançada.
planejamento alimentar do paciente.
A depressão é outro fator causador da desnutrição, e se instala devido à
percepção do declínio funcional.

A perda de peso e a caquexia são achados importantes em pacientes com DA,


sendo considerados sintomas para a definição do diagnóstico.

Conduta Alimentar nas Fases


Avaliação Nutricional
da Doença
Um dos métodos mais utilizados para a avaliação
nutricional nas demências é a Mini Avaliação A DA é dividida em três fases: inicial, intermediária e final.
Nutricional (MAN, em inglês MNA = Mini Nutritional
Para iniciarmos o planejamento alimentar, é fundamental o
Assessment).
A MAN avalia o idoso de uma maneira ampla. Ela conhecimento do tipo de demência e em que fase ela está, pois
avalia a capacidade funcional, por exemplo, se o idoso para cada fase teremos uma conduta diferenciada.
deambula ou não, se é capaz de alimentar-se sozinho
ou não e se apresenta um quadro de demência ou não
e qual o grau da demência. Ela concilia a avaliação da
capacidade funcional com um breve inquérito
alimentar e a avaliação antropométrica.

A importância do diagnóstico de risco de


desnutrição dada pela MAN é que idosos assim
classificados não apresentam perda de peso
significativa ou alterações dos padrões bioquí-
micos, como hipoalbuminemia ou níveis
séricos baixos de vitaminas.

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Fase Inicial Fase Intermediária


• A fase inicial dura de 2 a 3 anos e o comprometimento da Esta fase é marcada por intensificação do déficit
memória é, em geral, o sintoma mais proeminente. cognitivo, aumentando o número de delírios e
• Podem apresentar no início perda da concentração, confusões mentais. A capacidade de aprendizado
desatenção, depressão ou mesmo agitação e hiperatividade. fica seriamente prejudicada.
• Geralmente nessa fase, em relação à MAN, encontramos A partir dessa fase, os déficits não cognitivos,
idosos eutróficos ou com risco nutricional. Muitos idosos conhecidos como os sintomas psicológicos e de
chegam a uma fase moderada ou grave desnutridos, por não comportamento das demências, estão mais
terem sido devidamente cuidados na fase inicial. presentes, tais como: agitação, perambulação,
• O idoso que apresenta risco nutricional necessita de agressividade, questionamentos repetidos, reações
suplementação nutricional para evitar a desnutrição e catastróficas, distúrbios do sono e “síndrome do
acompanhamento da fonoaudióloga juntamente com a entardecer” (como chamamos a agitação frequente
que há nesses pacientes ao entardecer)
nutricionista.
(Machado,2002).

Em muitos desses momentos, devido aos distúrbios de comportamento,


os pacientes podem apresentar uma ingestão calórica e protéica baixa,
precisando identificar o principal agente causador e colocar em uso as Fase Avançada
práticas alimentares, suplementação nutricional, buscar atuações
conjuntas com a equipe multidisciplinar e, acima de tudo, controlar a Esta fase corresponde ao estágio terminal.
nossa ansiedade profissional frente ao paciente e seus familiares. Todas as funções cognitivas estão gravemente
comprometidas, havendo até mesmo
dificuldade para conhecer faces e espaços
Devido a esses distúrbios de
familiares.
comportamento, o aumenta gasto
Os pacientes tornam-se totalmente
energético do paciente, diminui e
dependentes e passam a se comunicar
também a sua ingestão alimentar.
somente através de sons incompreensíveis. Nessa fase, a disfagia pode estar
Em relação ao estado nutricional, é
Ficam acamados com incontinência urinária e instalada e a consistência dos
uma fase marcada por perdas
fecal. Não conseguem mais se alimentar alimentos pela via oral deve ser
ponderais, sendo o declínio
sozinhos e a alimentação pela via oral está pastosa ou liquidificada. Estamos
cognitivo um fator importante de
mais vulnerável ao comprometimento. Os diante de um paciente que
déficit nutricional.
pacientes apresentam maior incidência de necessita de um aporte calórico
Essa fase é marcada por momentos
inadequação calórica e protéica dependendo maior e uso de espessantes, pois é
de agitação, ambivalência de
de cada caso. nessa fase que encontramos os
sentimentos, momentos tranquilos
e conturbados. casos mais graves de desnutrição. A
grande maioria tem a sua
deglutição ou mastigação afetada.

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É fundamental a intervenção
interdisciplinar, com inclusão do
fonoaudiólogo, nutricionista e médicos,
para a avaliação da segurança
alimentar, assim como para a decisão
A desnutrição é um dos principais fatores que da via de alimentação.
predispõem às úlceras de pressão e também
atua como um dificultador da sua cicatrização. A via oral deve ser mantida sempre que
Enquanto não se atua na desnutrição do possível. O acompanhamento desde o
paciente não se alcança a cicatrização. O início da doença permite muitas das
tratamento das úlceras de pressão é de fato vezes a manutenção da via oral nessa
um tratamento multiprofissional, não adianta fase. Quando a via oral não for mais
um excelente aporte nutricional se os curativos
possível a gastrostomia é considerada a
não estiverem sendo orientados e executados
via de eleição.
corretamente pela enfermagem.
Como estamos trabalhando com dietas
mais pastosas e líquidas, o teor calórico
é baixo e, portanto, nessa fase, é
fundamental a utilização do
suplemento nutricional para aumentar
esse valor calórico e protéico.

REFERÊNCIAS
1.GUIGOZ, Y. The mini nutritional assessment (MNA) review of the literature – what does it tell us? The Journal of Nutrition, Health
and Ageing, v. 10, n. 6, p.466-487, 2006.

2. VELLAS, B.; VILLARS, H.; ABELLAN, G.; et al.; P. Overview of the MNA – Its History and Challenges. The Journal of Nutrition,
Health and Ageing, v. 10, n. 6, p. 456-465, 2006.

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BMJ. 325: 1-5,2002.

7. ANDRÉA ABDALA FRANK & ELIANE DE ABREU SOARES ; NUTRIÇÃO NO ENVELHECER. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.
320 pp. ISBN: 85-7379- 541 Souza.

8. ALVES J. ; Perda de peso corporal em idosos com doença de Alzheimer. Monografia apresentada no Curso de Especialização
em Nutrição Clínica INJC – UFRJ; 2008.

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2003.

10. UNICOVSKY M A R; ABUCHAIM S. Úlceras de Pressão in Busnello F.M. Aspectos Nutricionais no Processo do
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