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FACULDADE MAURICIO DE NASSAU

CURSO: BACHARELADO EM DIREITO


DISCIPLINA: TÓPICOS INTEGRADORES III
PROFESSOR: ANTONIO DE PÁDUA CARVALHO PEREIRA

KESYA MEYRY AIRES ADRIANO – Mat. 21016972

RELATÓRIO AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA SIMULADA

Parnaíba
2022
1. A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

1.1-CONCEITO E PROCEDIMENTO

Depreende-se dos textos dos pactos internacionais que a audiência de custódia


consiste basicamente: “no direito de (todo) cidadão preso ser conduzido, sem
demora, à presença de um juiz para que, nesta ocasião, se faça cessar eventuais
atos de maus tratos ou de tortura e, também, para que se promova um espaço
democrático de discussão acerca da legalidade e da necessidade da prisão.”
(LOPES JR, Aury; PAIVA, Caio. Audiência de custódia e a imediata
apresentação do preso ao juiz: rumo à evolução civilizatória do processo penal.
Revista Liberdades, 15p)

Em outras palavras, a audiência de custódia é o momento em que o réu deverá


ser apresentado, num prazo de até 24 horas de sua prisão, assistido por
defensor público e/ou advogado, na presença do Ministério Público e do Juiz.

Na audiência de custódia deverão ser analisadas, fundamentalmente, duas


questões. A legalidade da prisão, ou seja, se foram respeitados todos os
procedimentos legais, a dignidade do preso e se houve excesso por parte da
polícia, deve analisar também a necessidade de manutenção da prisão
decretada, convertendo-se a prisão em flagrante em prisão preventiva, se o
caso.

A audiência de custódia tem natureza garantista e visa, principalmente,


assegurar a validade e a eficácia dos atos produzidos. Possui também uma
natureza fiscalizatória da atividade policial, pois mostra ser um meio eficaz de
controlar os excessos policiais e carcerários, objetivando assim, cumprir os
preceitos norteadores dos Direitos Humanos.

Seus procedimentos estão detalhadamente descritos na Resolução 213 do CNJ,


e é composto por algumas etapas.
O preso terá o auto de prisão lavrado em delegacia e caso constitua defensor,
este deverá ser notificado da prisão.

Os autos deverão ser encaminhados ao cartório criminal, juntamente com o


preso, que será encaminhado ao juízo. No cartório, os autos serão recebidos,
autuados, devendo ser juntada a pesquisa de antecedentes do réu, a nomeação
de defensor dativo, se o caso e notificando-se ainda o Ministério.

Ao preso será assegurado o direito de conversar reservadamente e livremente


com seu defensor antes da audiência de custódia.

A audiência será instalada com a presença do réu, de seu defensor, do


representante do Ministério Público e do Juiz. Ela será integralmente gravada, e
em ata constará apenas um breve relato dos atos praticados e a decisão
completa do juiz. O Juiz realizará a qualificação do réu e questionará sobre a
maneira com que se deu a prisão, inclusive sobre a ocorrência de eventuais
agressões ou torturas, após, será aberto às partes o direito de reperguntas.

É importante ressaltar que neste momento não será avaliado o mérito, e toda e
qualquer pergunta que tenha em vista a produção de prova de mérito deverá ser
indeferida.

Encerradas as perguntas, será aberta a palavra ao Ministério Público e à defesa,


respectivamente, para que se manifestem sobre a manutenção da prisão. Por
fim, o juiz decidirá sobre todas as questões apresentadas, inclusive, sobre a
prisão. O cumprimento das determinações deverá ser imediato.

Trata-se, então, de um procedimento rápido e de natureza simples, mas com


profundo respeito ao contraditório, à ampla defesa, ao momento processual e à
imparcialidade do juiz, uma vez que não se visa à produção de provas e toda e
qualquer questão referente ao mérito deverá ser suprimida.

1.2. A QUESTÃO CARCERÁRIA E A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA


Na exposição de motivos da já citada Resolução 213, traz-se como
fundamentos para a efetivação do projeto audiência de custódia a questão
carcerária.

É sabido que, na Constituição Federal em seu artigo 5º incisos LXV e LXVI existe
a previsão de que a prisão deverá ser usada como ultima ratio, sendo medida
de natureza extrema, e que se deve priorizar a aplicação de outras medidas
cautelares que supram as necessidades de controle. Nesse mesmo sentido foi
promulgada em 2011 a lei 12.403 que vincula a atividade jurisdicional à utilização
da prisão preventiva apenas e unicamente em casos previstos em lei e somente
quando a situação fática não ensejar a aplicação de medidas cautelares.

Assim sendo, desde 2011, têm-se esperado, com expectativa, que houvesse
uma sensível diminuição da população carcerária, em especial, de presos
provisórios.

Ocorre que tal expectativa não se tem cumprido. Conforme dados apresentados
pelo próprio Conselho Nacional de Justiça, o Brasil é atualmente o país com a
4ª maior população carcerária no mundo, perfazendo um total de 996.223 presos
(dados atualizados em 14/12/2016), apresentando um crescimento exponencial
da população carcerária ano a ano sem nunca reduzir, sendo que no período de
1990 a 2013 o aumento foi de 507%.

No encalço seguiram também os níveis de criminalidade, pois hoje, o Brasil se


encontra na 91ª posição na lista de países mais seguros do mundo, sendo que
em 2013 encontrava-se na 86ª posição. As taxas de homicídios também
cresceram de forma alarmante nas últimas décadas, em 1980 o país possuía
cerca de 11,7 homicídios por 100 mil habitantes, já em 2003 essa taxa subiu
para 28,9 homicídios para cada 100 mil habitantes.

O que essas estatísticas indicam é que o aumento da população carcerária não


se mostrou um fator determinante para a redução da criminalidade no país.
No entanto, estatísticas mais recentes, proveniente dos projetos pilotos de
implantação das audiências de custódia nas capitais, demonstrou ares de
mudança nesse paradigma. Foram realizadas até outubro do presente ano
153.403 audiências de custódia, dentre as quais 70.827 dos réus foram postos
em liberdade, o que representa 46,17% dos presos. Bem como 17.102 casos
foram encaminhados para acompanhamento assistencial ou social, o que
corresponde a 11,15% do total, e por fim, 7.250 presos informaram terem sofrido
maus tratos ou tortura, índice que corresponde a 4,73% dos casos.

A audiência de custódia vem trazer uma nova proposta à questão prisional, a


ideia de que a prisão nem sempre é a melhor escolha e que talvez, uma atitude
mais humana, um contato mais justo, possa trazer uma mudança no
comportamento social, proporcionar uma maior acuidade na aplicação de
medidas extremas como o cerceamento da liberdade. Ainda é cedo para se
afirmar qualquer relação entre essa nova postura e uma eventual redução na
taxa da criminalidade, mas os idealizadores do projeto apostam nessa nova
conduta.

1.3 PROCEDIMENTO PARA A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

1) Prisão em flagrante;
2) Apresentação do flagranteado à autoridade policial (Delegado de Polícia);
3) Lavratura do auto de prisão em flagrante;
4) Agendamento da audiência de custódia (se o flagranteado declinou nome de
advogado, este deverá ser intimado da data marcada; se não informou
advogado, a Defensoria Pública será intimada);
5) Protocolização do auto de prisão em flagrante e apresentação do autuado
preso ao juiz;
6) Entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado ou Defensor
Público;
7) Início da audiência de custódia, que deverá ter a participação do preso, do
juiz, do membro do MP e da defesa (advogado constituído ou Defensor Público);
8) O membro do Ministério Público manifesta-se sobre o caso;
9) O autuado é entrevistado (são feitas perguntas a ele);
10) A defesa manifesta-se sobre o caso;
11) O magistrado profere uma decisão que poderá ser, dentre outras, uma das
seguintes:
a) Relaxamento de eventual prisão ilegal (art. 310, I, do CPP);
b) Concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança (art. 310, III);
c) Substituição da prisão em flagrante por medidas cautelares diversas (art. 319);
d) Conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva (art. 310, II);
e) Análise da consideração do cabimento da mediação penal, evitando a
judicialização do conflito, corroborando para a instituição de práticas
restaurativas.

2. RELÁTORIO
A audiência de Custódia simulada ocorrera no dia 07 de Abril de 2022, na
Faculdade Uninassau, (Parnaíba - PI), em seu Núcleo de Prática Jurídica (NPJ),
contando com a ilustre presença do Juiz da Central de Custódia da Comarca de
Parnaíba, Dr. Georges Cobinia.
O caso se tratava de uma tentativa de homicídio. A audiência foi presidida
pela Juíza Ana Paula, Ministério Público Patrício, Advogado João Máximo,
Escrivão Paulo Afonso, Agentes Dimas e Pedro, Custodiado Paulo César e
Vítima Natalícia de Sousa Silva.
Quando a juíza perguntou sobre as circunstâncias da prisão, Paulo
respondeu que voltava da praia e que, ao chegar em casa , descobriu que alguns
de seus pertences haviam sido roubados e que estavam guardados no varal de
sua casa .Disse que tem um beco perto de seu quintal que lhe dava acesso à
rua , e que estavam roubando seus pertences através dele e disse ainda que o
varal pertencia a sua avó.
No entanto, o varal pertencia a Natalícia, esposa de seu pai , que veio
dizer que não havia levado as vestes do varal , provocando uma discussão entre
Natalícia e sua esposa.
Em seguida, Paulo relatou que, foi para casa e pegou uma faca de cortar
alimentos, e que Natalicia se aproximou dele, que no momento com muita raiva
acabou atingindo a mão dela, que após o fato jogou a arma no chão, pegou sua
bicicleta e saiu, por volta das 10:00 horas da manhã, e retornou às 14:00 horas,
momento o qual os policiais já estavam presentes em sua casa, e que o mesmo
foi apreendido em flagrante. Rela também que não sofreu nenhum tipo de
agressão por parte dos policiais, e que sua prisão fora comunicada a sua família.
A Juíza passou a palavra ao Ministério Público, que não fez nenhuma
pergunta ao custodiado, apenas deu seu parecer no sentido de que o custodiado
agiu por motivo fútil, que o mesmo é um risco para a ordem pública e para a
própria vítima e pediu a prisão preventiva de Paulo.
Seguida a Juíza passou a palavra ao Advogado, que requereu o
relaxamento da prisão conforme o artigo 5°, inciso LXV da Constituição Federal
e art. 312 e 310, I do Código de Processo Penal e com base também no Pacto
de São José da Costa Rica, requereu a liberdade provisória com fiança ou
medidas cautelares. Alegou também que o preso tem residência fixa, esposa e
filha menor de idade, e que o mesmo é o provedor do sustento da família.
Logo após escutar o Ministério Público e o Advogado, a Juíza proferiu a
decisão: Homologando o flagrante, não o transformando em prisão preventiva.
O custodiado será solto sem fiança, mediante medidas cautelares, bem como
monitoramento eletrônico através de tornozeleira eletrônica, terá que manter 200
metros de distância da vítima, não permanecer na rua após as 18:00 horas,
ficando restrito também frequentar bares e festas, e comparecer mensalmente a
juízo para informar e justificar suas atividades. Com isso a Juíza declarou
encerrada a audiência de Custódia simulada.
Por fim, o professor Antônio de Pádua passou a palavra ao Ilustre Juiz da
Central de Custódia da Comarca de Parnaíba, Dr. Georges, para que
despusesse de suas considerações, onde o mesmo comentou da sua
importância daquele momento o qual estávamos tendo a oportunidade de
simular uma audiência de custódia e trazer para nossa realidade a prática de
como funciona de fato. Falou a respeito da audiência de custódia, de como ele
a presidia no seu dia a dia, nos alertando de pontos extremamente importantes
e trazendo essa prática para mais próximo da nossa realidade através de suas
palavras e vivencia no Judiciário.
Encerrou, parabenizando os alunos, pois houve uma belíssima
encenação do caso, que foi reproduzida muito bem as diligencias ocorridas
durante a audiência de custodia, em especial, parabenizou a aluna Ana Paula
(que fez o papel da juíza), pela sua calma e controle em presidir a audiência.
REFERENCIAL TEÓRICO:

https://nadiainyt.jusbrasil.com.br/artigos/504150447/audiencia-de-
custodia-origem-conceito-e-seu-enquadramento-na-atual-sistematica-juridico-
processual-penal-brasileira

Como funciona a audiência de custódia. Jus Brasil, 2018. Disponível em:


https://audienciabrasil.jusbrasil.com.br/noticias/590013936/como-funciona-uma-
audiencia-de-custodia.

Pimenta, Luciana. Audiência de custódia: o que é e como funciona.


Migalhas, 2016. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/239559/audiencia-de-custodia--o-que-e-e-
como-funciona.

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