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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

HERMESON PEREIRA DOS REIS

PRÁTICAS SOCIOCULTURAIS DE LAZER DA JUVENTUDE NO CENTRO


URBANO E PERIFÉRICO NO CONTEXTO DE CAMPINA GRANDE/PB E
DESAFIOS ENFRENTADOS POR ESSA POPULAÇÃO

CAMPINA GRANDE/PB

FEV/2024
Resumo: Este projeto de mestrado investiga as práticas de lazer da juventude em
Campina Grande/PB, com foco nas áreas urbanas e periféricas, a fim de
compreender a complexa interação entre fatores econômicos e socioculturais que
moldam as experiências de lazer dessa população diversificada. Por meio de uma
abordagem qualitativa de pesquisa de campo, este estudo visa analisar como essas
práticas são influenciadas por diversos fatores, incluindo aspectos socioculturais e
geográficos. Além disso, o projeto busca identificar desafios significativos
enfrentados pela juventude, como questões de segurança, transporte e
infraestrutura, que variam de acordo com a localização geográfica. Ao analisar as
práticas de lazer, este estudo contribui para uma compreensão mais profunda das
influências socioculturais que moldam as escolhas de lazer dos jovens em Campina
Grande/PB, bem como para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes e
inclusivas.
Palavras-Chave: Lazer, Juventude, Socioculturais, Campina Grande/PB.
Abstract: This master's project investigates the leisure practices of youth in Campina
Grande, a city in the state of Paraíba, Brazil, with a focus on both urban and
peripheral areas. The aim is to comprehend the intricate interplay between economic
and sociocultural factors that shape the leisure experiences of this diverse
population. Utilizing a qualitative field research approach, this study seeks to analyze
how these practices are influenced by a myriad of factors, including sociocultural and
geographical aspects. Furthermore, the project seeks to identify significant
challenges faced by the youth, such as issues related to safety, transportation, and
infrastructure, which vary based on geographical location. By examining leisure
practices, this study contributes to a deeper understanding of the sociocultural
influences that shape the leisure choices of young people in Campina Grande,
Paraíba. Moreover, it offers insights for the development of more effective and
inclusive public policies.
Keywords: Leisure, Youth, Sociocultural, Campina Grande/PB.
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1 INTRODUÇÃO

As práticas de lazer são fenômenos sociais que transcendem simples


atividades e se transformam em construtos sociais complexos, revelando-se como
expressões da criatividade humana e manifestações das capacidades dos atores
sociais de construir suas existências a partir de múltiplas expressões,
frequentemente desvinculadas da lógica estritamente racional (SILVA, 2018).
Dumazedier (1973) um autor clássico nos estudos sobre lazer, argumentava
que o lazer era uma atividade realizada pelos indivíduos depois de se livrarem das
obrigações profissionais e familiares. Ele enfatizava a importância de dedicar tempo
ao lazer como uma dimensão essencial da vida humana, onde a liberdade individual
e a escolha autônoma de atividades desempenham um papel central.
De acordo com Silva (2018) pensar em práticas de lazer é abraçar um
universo plural, que envolve atividades que têm como objetivo estar junto, sem uma
utilidade imediata ou evidente, e que não necessariamente resultam em um produto
materializável. Ao fazer isso, os indivíduos buscam não apenas o entretenimento,
mas também a satisfação de suas necessidades sociais e culturais.
O sociólogo Simmel (2006) observou que, em diversas formas de associação
humana, o sentimento de socialização e a satisfação de fazer parte da sociedade
são elementos centrais, independentemente dos objetivos específicos dessas
associações. Esses momentos de sociabilidade são marcados pela sensação de
pertencimento e pela formação de laços sociais, tornando-se um aspecto
significativo da experiência humana.
Como ressaltou Magnani (2003), os entretenimentos podem servir como uma
via de acesso ao conhecimento dos valores, maneira de pensar e estilo de vida dos
trabalhadores. Isso reflete que as práticas de lazer não são meramente atividades
individuais, mas sim expressões coletivas que refletem e moldam a cultura de uma
sociedade.
No entanto, a relação entre lazer e sociedade não é isenta de controvérsias.
Pois Marcuse (1981), por exemplo, via o lazer como uma forma de alienação, uma
ilusão de auto-satisfação das necessidades do indivíduo, criada e manipulada pelas
forças econômicas da produção e do consumo em massa. Nesse sentido, o lazer
seria uma válvula de escape que mantém o status quo e evita questionamentos
sobre as estruturas sociais.
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Em contraste, Caillois (2017) enfatizou que o prazer no lazer é composto por


excitação, ilusão, desorientação consentida e choques inofensivos. Ele argumentou
que o lazer é uma busca ativa pelo prazer e que as atividades de lazer podem servir
como um terreno fértil para a expressão da criatividade e da imaginação humana.
Todavia, muitas atividades de lazer são consideradas "marginais" à ordem
capitalista. A pichação praticada por jovens das periferias em muitas cidades
brasileiras é, indiscutivelmente, uma atividade de busca de prazer e de contestação
por parte da juventude que pratica e demarca os espaços da cidade de maneiras
inversas àquelas que a lógica higienista burguesa deseja (SILVA, 2018).
Essas manifestações de lazer são expressões da liberdade individual, uma
dimensão profundamente significativa da existência humana e ilustrativa do social
(GUTIERREZ, 2001). A atividade de lazer é essencialmente uma opção íntima,
individual, regida pela liberdade, e constitui um espaço da vida em que a
personalidade de cada um se manifesta com maior autonomia do que em qualquer
outro espaço da vida em sociedade.
Vale ressaltar que a juventude representa um segmento social diversificado,
dividido por interesses, origens sociais e aspirações variadas. Nesse contexto, as
práticas de lazer são influenciadas pelos valores e culturas juvenis, que podem ser
adotados por jovens de diferentes meios e condições sociais (PAIS, 1990).
Pais (1990) argumenta que a juventude é socialmente dividida em função de
seus interesses, origens sociais e perspectivas, e que as culturas juvenis
representam um sistema de valores socialmente dominantes atribuídos à juventude
como um conjunto referido a uma fase da vida. Essas culturas juvenis
desempenham um papel fundamental na formação das identidades dos jovens.
Esta pesquisa é de extrema importância para a cidade de Campina
Grande/PB, pois busca preencher uma lacuna no entendimento das práticas de lazer
da juventude nesta região, considerando tanto os centros urbanos quanto as áreas
periféricas.
A cidade enfrenta desafios e oportunidades únicos no que diz respeito ao
lazer da juventude, e compreender essas dinâmicas é fundamental para o
desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes e a promoção do bem-estar
dessa população.
Além disso, ao destacar as influências socioculturais e geográficas nas
escolhas de lazer dos jovens, esta pesquisa pode fornecer insights valiosos para
6

outros contextos urbanos semelhantes, contribuindo assim para o campo mais


amplo dos estudos sobre juventude e lazer.
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2 PROBLEMÁTICA DA INVESTIGAÇÃO

A pergunta problematizadora desta pesquisa busca abordar quais os


principais desafios e oportunidades enfrentados pela juventude de Campina
Grande/PB em relação ao acesso a atividades de lazer em diferentes partes da
cidade, considerando o contexto sociocultural?
A complexidade dessa questão reside na diversidade de fatores que podem
influenciar as práticas de lazer, incluindo aspectos econômicos, geográficos,
culturais e sociais. Dessa forma, esta pesquisa visa analisar de maneira
aprofundada como esses fatores se entrelaçam e afetam as escolhas de lazer dos
jovens, bem como identificar possíveis desigualdades e barreiras que podem estar
presentes em diferentes áreas da cidade.
A pesquisa procura fornecer uma compreensão holística das experiências de
lazer da juventude de Campina Grande/PB, contribuindo para uma visão mais
completa das dinâmicas socioculturais e geográficas que moldam suas vidas.
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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Investigar as práticas de lazer da juventude em Campina Grande/PB,


considerando tanto os centros urbanos quanto as áreas periféricas, e analisar os
principais desafios enfrentados por essa população em relação ao acesso a
atividades de lazer.

3.2 Objetivos Específicos

Mapear e descrever as diferentes práticas de lazer preferidas pela juventude


em Campina Grande/PB, tanto nos centros urbanos quanto nas áreas periféricas.
Identificar os fatores socioculturais que influenciam as escolhas de lazer da
juventude em diferentes partes da cidade.
Avaliar os desafios específicos enfrentados pela juventude em termos de
segurança, transporte e infraestrutura relacionados ao lazer em diferentes partes da
cidade.
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4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Culturas Juvenis e Busca de Práticas de Identidade e Liberdade

Neste tópico, será explorada uma discussão sobre as diversas perspectivas


teóricas que lançam luz sobre a cultura juvenil. Essa exploração mais profunda
permitirá uma compreensão mais abrangente e enriquecedora do contexto teórico
que permeia o projeto em questão.
A emergência das culturas juvenis no pós-guerra representou uma mudança
sísmica na cultura popular, desencadeando reflexões e investigações que se
mostraram crucial nas décadas subsequentes (BENNETT E PETERSON, 2004).
Esse período pós-guerra testemunhou os jovens em busca de liberdade, intensidade
e uma quebra com as normas tradicionais, manifestando essas aspirações em
práticas socioculturais de lazer, como a música.
Essa busca ardente por identidade e autonomia, conforme delineado por
Brake (1980), levou ao surgimento de diversas subculturas juvenis, incluindo, mas
não se limitando a, teddy boys, hippies, mods e punks. Para esses jovens, o
rock'n'roll não era apenas um gênero musical, mas um ícone de liberdade,
expressão e resistência às restrições sociais (SAVAGE, 2002).
Acompanhando o surgimento das culturas juvenis, foram desenvolvidos
conceitos como subculturas, contraculturas, tribos, neotribos, cenas, microculturas e
comunidades. Esses termos oferecem abordagens teóricas distintas, mas todos têm
a música como um elemento central (HODKINSON E DEICKE, 2009).
Já a teoria de Cohen (1966), argumenta que as culturas juvenis representam
conjuntos de valores e normas compartilhados pelos participantes, que se unem
devido a problemas de ajustamento social semelhantes. Cloward e Ohlin (1960)
enfatizam a capacidade dos grupos de jovens de criar quadros de referência
subcultural.
McCracken (1998) introduziu o conceito de "little culture", destacando a
heterogeneidade dos grupos de jovens e sua capacidade de protesto e
transformação cultural. McCracken também observa que os jovens podem pertencer
a várias culturas juvenis ao longo de suas vidas, desenvolvendo um estilo pessoal
influenciado por gostos musicais, culturais, simbólicos e interações sociais
complexas.
10

Thornton (1996) propõe o conceito de "capital subcultural", que está


relacionado ao conhecimento e habilidades específicos das culturas juvenis. O
capital subcultural é análogo ao capital cultural de Bourdieu, mas se concentra nas
práticas culturais e nos códigos compartilhados pelos membros de uma cultura
jovem. Bennett (2004), por sua vez, discute o fenômeno das "tribos urbanas", que
são grupos de jovens caracterizados por fronteiras fluidas e estilos de vida distintos.
De acordo com o modelo analítico de Feixa (1999), que enfatiza a
heterogeneidade e dinamismo das culturas juvenis contemporâneas, os jovens de
hoje não se limitam a adotar um único estilo; em vez disso, são influenciados por
vários e constroem um estilo pessoal por meio de uma bricolagem cultural. Isso
ocorre em um contexto de fronteiras tênues e intensa troca de estilos.
Peterson e Bennett (2004) introduzem a ideia de cenas locais, translocais e
virtuais, refletindo diferentes contextos de comunicação, lazer e estilos de vida. A
diversidade da juventude, como categoria social, é notável, levando ao
desenvolvimento de uma sociologia da juventude que considera as diferenças
individuais (PAIS, 1990).
A noção de hibridização, proposta por Feixa e Fernández (2014), descreve a
criação de algo novo a partir de materiais pré-existentes nas culturas juvenis. Isso é
particularmente relevante nas culturas juvenis globais, que incorporam elementos
locais e globais, desafiando as fronteiras geográficas e culturais.
Análises sociológicas das culturas juvenis contemporâneas também destacam
como os jovens redefinem suas práticas de cidadania, lazer e intervenção política.
Eles influenciam as hierarquias subculturais, subvertendo normas estabelecidas e
moldando as agendas culturais e políticas (SILVA E GUERRA, 2015).
A teoria de Bourdieu sobre habitus e campos oferece insights valiosos para
entender como as culturas juvenis operam. O habitus, segundo Bourdieu (2001), é
um sistema de disposições que molda a ação dos indivíduos de maneira individual e
coletiva, de acordo com suas interações sociais.
Os campos são espaços de relações objetivas com lógicas próprias, onde os
agentes atuam de acordo com suas posições relativas. Os campos são produtos da
diferenciação social e criam seu próprio objeto e princípio de compreensão
(BOURDIEU, 1996).
A posição relativa em um campo é determinada pelo capital que o agente
possui, incluindo o capital cultural. As lutas pelo reconhecimento e pelo capital
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simbólico desempenham um papel fundamental nas culturas juvenis (BOURDIEU,


1987; BOURDIEU E PASSERON, 1964).
Sarah Thornton (1996) adiciona o conceito de capital subcultural, relacionado
ao conhecimento e habilidades específicos das culturas juvenis. A identidade dos
jovens é moldada por narrativas e textos identitários que refletem suas experiências
e interações (HALL, 1996).
Nas práticas culturais urbanas de lazer contemporâneas, como o Hip Hop, os
jovens encontram espaço para uma fala contra-hegemônica. Eles retratam o
cotidiano das comunidades periféricas e desafiam as representações dominantes
por meio da música, da dança e da arte (ARAÚJO & COUTINHO, 2008).
Segundo Gohn (2009), por meio das redes de socialidade, os coletivos
juvenis se tornam atores sociais, intervindo em suas comunidades e reivindicando
direitos. A cultura juvenil contemporânea também se manifesta em fenômenos como
os fandoms, onde os jovens se apropriam e reinterpretam produtos culturais de
maneira ativa e criativa (HILLS, 2002).
Portanto, à luz da exploração dessas diversas perspectivas teóricas que
lançam luz sobre a cultura juvenil e sua busca por identidade e liberdade, torna-se
evidente que a compreensão da cultura juvenil e suas interseções com as práticas
de lazer e a construção da identidade emergem como um campo de estudo
complexo e multifacetado.
Esta revisão teórica sólida estabelece as bases necessárias para a pesquisa
proposta, fornecendo uma visão abrangente das teorias e conceitos relevantes. A
próxima seção se concentrará nas “Politicas Públicas de Lazer e Participação da
Juventude”.
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4.2 Políticas Públicas de Lazer e Participação da Juventude

A participação ativa na esfera pública é de vital importância para a cultura,


especialmente quando se considera o envolvimento da juventude. Nesse contexto, o
espaço público emerge como o ambiente central, onde os indivíduos exercem sua
liberdade e participam ativamente na vida política da sociedade. Essa participação
não se limita ao exercício do voto, abrangendo uma ampla gama de atividades
públicas que desempenham um papel fundamental na formação da identidade
cultural e na consolidação da democracia (Arendt, 1983).
Willis (1991), em sua etnografia sobre jovens e escolaridade, oferece insights
significativos sobre como a cultura da juventude influencia as decisões relacionadas
ao emprego e ao lazer. Seu estudo revela que os jovens frequentemente buscam
empregos que não se resumem a meros meios de subsistência, mas também
proporcionam momentos de prazer e diversão, influenciados pela cultura "contra-
escolar".
Para Willis (1991), as políticas públicas de lazer devem levar em
consideração as preferências culturais e as perspectivas dos jovens, visando a
promover sua participação ativa e eficaz na esfera pública. Portanto, as políticas de
lazer devem ser concebidas como parte integrante de um contexto cultural mais
amplo que molda as escolhas dos jovens.
Sader (2005) menciona que o cenário global é marcado por transformações
econômicas e sociais, na qual observa-se um desmantelamento da noção de
"Estado de bem-estar social", com impactos diretos nos direitos sociais. As
mudanças na organização do trabalho, decorrentes da revolução tecnológica,
geraram desemprego e aumentaram os índices de miséria.
Isso resultou em uma tendência de transferência de responsabilidades do
Estado para a sociedade civil e o setor privado, caracterizando um processo de
desresponsabilização do Estado em relação aos direitos sociais (SADER, 2005).
Segundo Mascarenhas (1997), no Brasil, esse processo de reformas ganhou
destaque durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que promoveu um modelo
de Estado neoliberal. Esse modelo favoreceu a autorregulação do mercado e
incentivou a busca de investimentos no setor privado pelas universidades públicas.
As políticas sociais, incluindo as políticas de educação e lazer, foram afetadas
por essas mudanças. No contexto da educação, a nova Lei de Diretrizes e Bases da
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Educação Nacional (LDB) de 1996 introduziu modificações significativas,


destacando-se a ênfase na autonomia financeira das instituições públicas de ensino
(MASCARENHAS, 1997).
Para Castellani Filho (1999), a relação entre o esporte e a política pública de
lazer assume um papel crucial no cenário atual. A complexidade do sistema
esportivo está intrinsecamente ligada à dinâmica social, econômica e política. No
entanto, o esporte muitas vezes se encontra imerso em um jogo político entre o
poder público e o setor privado.
A alocação de recursos para o setor de cultura, esporte e lazer nos
orçamentos municipais dos estados brasileiros é relativamente limitada. Essa
escassez de recursos, associada à ideia de uma "sociedade de escassez", resulta
na desresponsabilização do Estado em relação às políticas sociais e na busca de
financiamento no setor privado (CASTELLANI FILHO, 1999).
Suassuna & Almeida (2005) relata que no contexto das políticas sociais
esportivas, surgem os "projetos sociais esportivos" destinados principalmente a
crianças e jovens de baixa renda como complemento à educação formal, visando
reduzir as desigualdades.
Embora esses projetos frequentemente justifiquem sua existência com base
na falta de opções de lazer e na prevenção do envolvimento de jovens em atividades
criminosas, eles também podem desempenhar um papel importante na descoberta
de talentos e na promoção do entretenimento. Nesse sentido, o lazer assume uma
dimensão paradoxal que pode ter tanto uma função funcionalista quanto
emancipatória (SUASSUNA & ALMEIDA, 2005).
De acordo com Castellani Filho (1999), a visão de que a prática esportiva é
um direito social e, portanto, deve ser uma preocupação do Estado é essencial. No
entanto, a compreensão das políticas esportivas muitas vezes se limita ao esporte
de alto rendimento, negligenciando as dimensões educacionais e de lazer.
Essa abordagem restrita contribui para a mercantilização das práticas
corporais, transformando os interesses físico-esportivos em produtos da indústria
consumsta, em vez de prevalecer e garantir os direitos sociais (CASTELLANI
FILHO, 1999).
Em última análise, é fundamental reconhecer que as políticas públicas de
lazer e esporte devem ser concebidas de maneira mais abrangente, considerando
as diversas dimensões do lazer, a influência da cultura da juventude e a
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necessidade de promover a participação ativa da juventude na esfera pública.


Essas políticas não podem ser isoladas dos contextos econômicos e sociais
mais amplos, mas devem ser moldadas para atender às necessidades e
preferências dos jovens, visando a uma sociedade mais inclusiva e participativa.
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4.3 Abordagens Teóricas da Prática de Lazer na Juventude em Contextos


Urbanos e Periféricos

As práticas de lazer na juventude em contextos urbanos e periféricos são


fenômenos sociais complexos que vão além de atividades simples. Elas são
reveladoras da criatividade humana e das capacidades dos atores sociais de
construir suas existências, muitas vezes desvinculadas da lógica estritamente
racional (SILVA, 2018).
Nesse contexto, a compreensão das práticas de lazer se torna essencial, pois
elas não são meramente passatempos, mas expressões das necessidades sociais e
culturais dos jovens. Dumazedier (1973) argumenta que o lazer era uma atividade
realizada pelos indivíduos após o cumprimento de suas obrigações profissionais e
familiares.
A importância de dedicar tempo ao lazer como uma dimensão crucial da vida
humana, onde a liberdade individual e a escolha autônoma de atividades
desempenham um papel central. Essa visão destaca o lazer como um espaço de
liberdade, onde os jovens podem explorar suas preferências e interesses de maneira
autônoma (DUMAZEDIER, 1973).
Silva (2018) adiciona uma dimensão mais contemporânea a essa visão do
lazer. Segundo o autor, as práticas de lazer são uma manifestação da necessidade
de estar junto, sem que haja uma utilidade imediata ou evidente. Elas não se limitam
ao entretenimento; ao contrário, buscam satisfazer necessidades sociais e culturais
mais profundas. Isso implica que o lazer é uma oportunidade para os jovens se
conectarem e construírem relações dentro de seus contextos específicos.
Além disso, Pais (1990) destaca a importância de compreender as culturas
juvenis, que representam um sistema de valores socialmente dominantes atribuídos
à juventude. Isso se refere a um conjunto de valores que os jovens de diferentes
origens e condições sociais compartilham. Esses valores moldam suas interações e
práticas de lazer, influenciando a forma como eles se relacionam com o espaço
público e com suas identidades dentro da sociedade.
Oldenburg (1989) introduziu o conceito de "terceiro lugar" como locais onde
as pessoas se reúnem para vivenciar momentos de lazer baseados na interação e
na conversa. Ele propôs que o primeiro lugar é a casa, o segundo é o local de
trabalho, e o terceiro é onde as pessoas se encontram para interagir geralmente nos
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espaços urbanos.
Esses encontros não têm um objetivo específico, mas são justificados pelo
prazer de passar tempo com outras pessoas, conversando sobre temas que
interessam a todos, sem restrições de tempo. Os terceiros lugares, como cafeterias
e bares, desempenham um papel vital na vida pública informal, proporcionando
oportunidades para a interação entre pessoas de diferentes origens, crenças e
valores (OLDENBURG, 1989).
Frúgoli Jr. (2007) fornece uma perspectiva mais ampla sobre a sociabilidade
urbana, enfatizando a obra de Georg Simmel, que se concentra na cidade moderna
e na sociabilidade. Para Simmel (1967), as trocas e interações entre indivíduos na
sociedade são fundamentais para a formação dos vínculos sociais.
Simmel (1967) desenvolveu a ideia de "relacionismo ontológico,"
argumentando que tanto a sociedade quanto o indivíduo existem em relação uns aos
outros, e as interações sociais desempenham um papel central na construção
desses vínculos. Isso lança luz sobre a importância das interações sociais nos
contextos urbanos e periféricos.
De acordo com o estudo de Silva e Colaboradores (2019), a adaptação
criativa à falta de investimento estatal em infraestruturas de lazer é uma
característica distintiva das zonas periféricas. Silva. A comunidade demonstrou
notável criatividade ao ocupar e ressignificar os espaços disponíveis, por exemplo, a
linha do trem se tornou um local popular para soltar pipas e assistir a jogos de
futebol (SILVA et al.; 2019).
As dinâmicas de interação online e offline também desempenham um papel
essencial na vida dos jovens em comunidades periféricas, pois elas se conectam
não apenas nas calçadas, mas também por meio de aplicativos de mensagens e
redes sociais. Essa combinação de interações online e offline ilustra a complexidade
das práticas de sociabilidade na era digital, onde os espaços virtuais se entrelaçam
tanto nos espaços urbanos como nos periféricos (SILVA et al.; 2019).
Em resumo, as abordagens teóricas destacam a importância da sociabilidade,
da liberdade individual e da interação social na compreensão das práticas de lazer
da juventude. Esses elementos fornecem uma base sólida para entender como as
práticas de lazer se entrelaçam com as vidas dos jovens em contextos urbanos e
periféricos, contribuindo para a formação de suas identidades e a construção de
suas comunidades.
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5 METODOLOGIA

5.1 Abordagem da Pesquisa

Este estudo adotará uma abordagem qualitativa de pesquisa de campo. A


escolha por uma abordagem qualitativa se justifica pela natureza exploratória do
projeto, que busca compreender em profundidade as experiências, percepções e
significados atribuídos pelas jovens às práticas de lazer em contextos urbanos e
periféricos de Campina Grande/PB.
A pesquisa qualitativa permitirá uma análise rica e contextualizada das
dinâmicas de lazer da juventude, considerando suas interações socioculturais e
geográficas. Além disso, esta pesquisa será conduzida em conformidade com os
princípios éticos da pesquisa acadêmica (DENZIN & LINCOLN, 2011; CRESWELL &
POTH, 2016).

5.2 Cenário da Pesquisa

O foco da presente pesquisa será investigar as práticas de lazer da juventude


em Campina Grande, Paraíba, abrangendo tanto os centros urbanos quanto as
áreas periféricas. No entanto, é crucial abordar esse contexto com sensibilidade,
uma vez que as áreas periféricas frequentemente sofrem com estigmatização e
preconceitos resultantes de uma cobertura midiática que as associa a suspeitos de
crimes na cidade e região.
Devemos abordar essa realidade evitando cair em clichês preconceituosos
que perpetuam visões distorcidas sobre essas comunidades e seus jovens
residentes. É importante ressaltar que a suavização do termo não deve obscurecer
as difíceis condições de vida enfrentadas pelas populações que habitam essas
"aglomerações subnormais" no Brasil.
Esses números destacam a presença significativa de comunidades periféricas
no cenário urbano de Campina Grande e em todo o Brasil, que não podem ser
ignoradas quando se analisa as práticas de lazer da juventude. Portanto, é
necessário compreender as complexidades e desafios enfrentados por essas
comunidades a fim de estabelecer um contexto adequado para nossa pesquisa.
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5.3 Participantes da Pesquisa

Os participantes deste estudo serão jovens com idades entre 18 e 30 anos,


residentes em áreas urbanas e periféricas de Campina Grande/PB. A seleção dos
participantes será realizada por meio de amostragem intencional, buscando
representar uma diversidade de experiências e backgrounds socioculturais dentro
dessa faixa etária. Serão incluídos participantes de ambos os sexos, com diferentes
níveis socioeconômicos e culturais, a fim de capturar uma variedade de
perspectivas.

5.4 Coleta de Dados

A coleta de dados será realizada por meio de entrevistas semiestruturadas.


Essas entrevistas permitirão aos participantes expressar suas vivências de lazer,
incluindo suas preferências, práticas, desafios enfrentados e oportunidades
aproveitadas. Serão utilizados roteiros de entrevistas flexíveis, permitindo a
exploração aprofundada dos temas emergentes durante o processo.

5.5 Critérios de Inclusão e Exclusão

Para critérios de inclusão serão jovens residentes na cidade de Campina


Grande/PB, com faixa etária entre 18 e 30 anos, que sejam moradores de áreas
urbanas e periféricas da cidade. E de exclusão, indivíduos que vieram se
estabelecer em Campina Grande com tempo inferior a um ano. Que no dia das
entrevistas não comparecer ao local da aplicação dos questionários.

5.6 Procedimentos

5.6.1 Seleção de Participantes:

Após a identificação dos bairros urbanos e periféricos de Campina Grande/PB


que serão incluídos na pesquisa, os participantes serão selecionados de acordo com
critérios de idade e localização geográfica.
19

5.6.2 Consentimento Informado e Termo de Gravação de Áudio:

Antes de participar da pesquisa, todos os participantes serão fornecidos com


um Termo de Consentimento Livre e Esclarecidos (TCLE), explicando os objetivos
da pesquisa, os procedimentos envolvidos, os direitos dos participantes e a garantia
de confidencialidade. Além disso, será obtido o consentimento dos participantes
para a gravação de áudio das entrevistas, com base em um Termo de Gravação de
Áudio.

5.6.3 Entrevistas Semiestruturadas:

As entrevistas serão agendadas com os participantes e realizadas em locais


convenientes para eles, visando criar um ambiente confortável para compartilhar
suas experiências. Todas as entrevistas serão gravadas e posteriormente transcritas
para análise.

5.6.4 Análise de Dados:

A análise de dados seguirá o método de análise de conteúdo proposto por


Bardin (2004). Nesta abordagem, os dados transcritos serão codificados e
categorizados de acordo com os temas e conceitos emergentes. A análise será
conduzida de forma sistemática e rigorosa.

5.6 Ética e Consentimento

A ética desta pesquisa será rigorosamente mantida em todas as fases do


estudo. Os participantes serão abordado com um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) que descreverá os objetivos da pesquisa, os procedimentos
envolvidos, os direitos dos participantes e as garantias de confidencialidade. Será
obtido o consentimento dos participantes para a gravação de áudio das entrevistas
com base em um Termo de Gravação de Áudio separado.
Todos os dados coletados serão mantidos de forma estritamente confidencial,
e qualquer informação que possa identificar os participantes será tratada com o mais
alto grau de discrição e privacidade. Este projeto de pesquisa será conduzido em
20

conformidade com as diretrizes éticas estabelecidas na resolução 466/12 do


Conselho Nacional de Saúde (CNS) e com outras diretrizes éticas aplicáveis à
pesquisa em ciências sociais.
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6 CRONOGRAMA

MÊS DE
PERÍODO E ESTUDO/2023/2024
ETAPAS DO
PROJETO

NOV

JAN

FEV
OUT

DEZ
Planejamento e Levantamento Bibliográfico X X
Definir Tema, Pergunta Problema e X X X

X
X
Objetivos
Construção do Referencial Teórico X X
Elaboração da Metodologia X X X
Desenvolver Slides de Apresentação X
Defesa do Projeto X
22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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