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USCS Composição Corporal
USCS Composição Corporal
Fisiologia Integrada ao
crescimento e desenvolvimento humano
Fisiologia do envelhecimento humano
Professora Ms. Profa. Ms. Elke Lima Trigo
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Fisiologia Integrada ao crescimento e desenvolvimento humano - Fisiologia do envelhecimento humano
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Métodos de estudo do desenvolvimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Desenvolvimento humano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Desenvolvimento pré-natal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Desenvolvimento cognitivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Desenvolvimento motor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Crescimento humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Maturação sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Composição corporal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Capacidades físicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Treinamento físico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
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que pode ser avaliada a partir da idade morfológica, custo, alteração do padrão de avaliadores, evasão da
óssea, dental e sexual. amostra e número limitado de sujeitos.
Tabela 1: Divisão da idade cronológica (adaptado Quando o estudo é realizado de forma transversal,
de GALLAHUE; OZMUN, 2005). o pesquisador seleciona vários grupos com idades
diferentes e realiza a análise em apenas um momento.
Período Idade
Com isso, é possível apresentar padrões característicos
Pré-natal Da concepção ao nascimento
Primeira infância Do nascimento aos 24 meses
de cada faixa etária representativa da população, mas
Infância 2 a 10 anos sem medir as alterações proporcionadas pela idade.
Adolescência 10 aos 20 anos Nesse método, o custo e o tempo são menores,
Adulto jovem 20 aos 40 anos enquanto o estudo desenvolvimentista fica de lado,
Meia idade 40 aos 60 anos pois é apresentado o cenário de cada grupo naquele
Terceira idade Mais que 60 anos determinado momento.
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Durante o período zigótico, o zigoto tem seu sistema circulatório; a partir do momento em que o
tamanho pouco alterado e sobrevive de sua própria coração começa a bater, o crescimento é acelerado.
gordura, recebendo poucos nutrientes externos. Na fase final do primeiro mês, inicia-se a formação do
O comportamento materno nesse período pode sistema nervoso central.
prejudicar a evolução ou ser fatal ao zigoto, por
exemplo, o consumo de álcool, drogas, fumo, Antes da formação do encéfalo e da medula
especialmente porque a mãe não tem conhecimento espinhal, o processo de gastrulação é responsável
da fecundação. O aborto espontâneo nessa fase é pela definição do eixo anteroposterior e da linha
comum e assegura a sobrevivência dos zigotos mais média dos vertebrados, por intermédio da produção
aptos. Com a diferenciação celular, este passa a das camadas celulares e da formação da notocorda.
ser chamado de embrião, e tem início o período Esta se estende ao longo da linha média dentro de
embrionário da gravidez, que compreende da uma superfície chamada sulco primitivo, a partir
segunda semana ao segundo mês. de células mesodérmicas, e dará origem à linha
primitiva. Acima dela está a ectoderme, que dará
Ao final do primeiro mês, ocorre a divisão de origem à totalidade do sistema nervoso. A notocorda
três camadas celulares (endoderme, mesoderme e determina a topografia do embrião e a diferenciação
ectoderme), que são responsáveis pela formação dos neural por meio do envio de sinais indutores à
sistemas. Nesse período, o embrião é mais suscetível ectoderme, promovendo a diferenciação de células
às anomalias congênitas. Ele mede cerca de 6 mm neuroectodérmicas em precursoras neurais. Esse
e pesa 28 g. A estrutura é rudimentar, inclusive o processo recebe o nome de neurulação e promove
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também o espessamento da ectoderme, formando a pré-natal. O ácido retinoico (vitamina A), por exemplo,
placa neural. Nesta, ocorrem pregas internas, dando é um teratogênico capaz de ativar a expressão
origem ao tubo neural, que posteriormente originará gênica em vários sítios no embrião, inclusive no
o encéfalo e a medula espinhal (figura 2). desenvolvimento encefálico. O excesso ou falta dessa
vitamina pode interferir na diferenciação neuronal e
A identidade celular é resultante de sinais indutores no fechamento do tubo neural.
provenientes de moléculas sinalizadoras endógenas.
Então, além da indução neural, o sulco primitivo e a A exposição do embrião a drogas (álcool e
notocorda modulam a expressão gênica. Os estudos medicamentos) pode gerar sinais indutores em
para identificar o funcionamento dos sinais indutores tempo ou local impróprios, que levariam a patologias
são de suma importância para etiologia e prevenção do sistema nervoso. Outro exemplo de malformação
de doenças congênitas. congênita é a espinha bífida, não fechamento do
tubo neural posterior, que está altamente relacionada
Teratogênicos são agentes exógenos promotores com a deficiência de ácido fólico na dieta durante o
de doenças ligadas a problemas no desenvolvimento primeiro trimestre da gestação.
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Aguiar et al. (2003) realizaram um levantamento Ao sexto mês de gestação, o feto mede 33 cm
dos tipos e da incidência de malformações e 450 g, mas apresenta pouca gordura subcutânea.
congênitas do tubo neural durante dez anos em um Um nascimento prematuro nesse período representa
hospital universitário em Minas Gerais. Os autores baixa probabilidade de sobrevida do bebê. Embora ele
identificaram uma prevalência de 4,73 casos a cada apresente um choro fraco, a regulação da temperatura
1.000 partos, sendo 47,2% de ocorrência de espinha e da respiração voluntária não é suficiente.
bífida. Embora esse acontecimento possa estar ligado
a alguma síndrome, a maioria dos casos apresentaram No início do sétimo mês, o funcionamento dos
a anomalia isolada. A criança com espinha bífida é sistemas é considerado maduro, e o feto apresenta
dependente de tratamentos médicos e cirúrgicos 36 cm e 900 g. A gordura subcutânea aumenta, bem
e pode apresentar características que interferem como o controle cerebral sobre os sistemas. Embora o
no seu desenvolvimento global, como alteração da nascimento ao final do sétimo mês requeira cuidados
coluna vertebral, hidrocefalia, paralisia de membros, especiais, a chance de sobrevida é alta. Nos dois
disfunção intestinal e sexual, entre outras. Com o últimos meses de gestação, aumentam a atividade
objetivo de reduzir os riscos de um defeito do tubo do feto e o ganho do peso. O nascimento ocorre
neural, é recomendada a suplementação com ácido entre 38 e 42 semanas, com o bebê medindo de 48
fólico para mulheres que planejam engravidar e cm a 54 cm e 3 kg a 4 kg, em média.
durante o primeiro trimestre da gestação.
A estrutura neural de um adulto é dependente de
No final do segundo mês, o embrião tem cerca de fatores genéticos, interações celulares e experiências
4 cm e 57 g e passa a receber nutrientes da placenta da criança com o mundo externo. As estruturas
e do cordão umbilical. Isso marca o início do período neurológicas são formadas no período gestacional
fetal, do terceiro mês ao final da gestação. No início (figura 3) e, após o nascimento, a interação com o
desse período, identificam-se os primeiros movimentos ambiente determina a estruturação e a organização
reflexos, como sugar o polegar. No final do terceiro mês, do sistema nervoso diante de aspectos afetivos,
o feto alcança 7,6 cm e 86 g, dobrando esse tamanho cognitivos e motores (RÉ, 2011). Durante os primeiros
até o fim do quarto mês. No início do quinto mês, o anos de vida, o desenvolvimento funcional e estrutural
comprimento é de 20 cm a 26 cm e o peso, de 227 g. é mais acelerado, evidenciando a relevância da
Os órgãos internos continuam seu desenvolvimento e variedade de experiências e estimulações nessa fase
apresentam posições anatômicas adequadas. da vida (figura 4).
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Quadro 1: divisão do desenvolvimento cognitivo por faixa etária, segundo Piaget (1969).
Faixa etária Estágio Característica
Meninice (0-2 anos) Sensório-motor Inteligência prática
Primeira infância (2 a 6 anos) Pré-operacional Inteligência intuitiva
Segunda infância (7 a 10/12 anos) Operacional concreto Inteligência lógica concreta
Adolescência (10/12 anos em diante) Operacional formal Inteligência lógica abstrata
Desenvolvimento motor
As alterações do comportamento motor ao longo da vida são resultado da interação entre tarefa motora,
fatores individuais e condições ambientais. Gallahue e Ozmun (2005) utilizaram uma forma mais abrangente
de descrever o desenvolvimento motor, por intermédio de uma ampulheta heurística (figura 5). Esse modelo
mostra que o desenvolvimento motor é gradual, representado pelo formato da areia que se acumula. Um
novo estágio e fase não serão alcançados de forma completa e linear pelo avanço da idade; a criança pode
apresentar um comportamento esperado para uma idade posterior àquela em que se encontrar, dependendo
das experiências. A figura 6 demonstra de que forma a ampulheta recebe a areia. Uma jarra mostra a origem
genética, que é determinada no momento da concepção e não pode ser alterada, por isso ela apresenta
tampa. A outra fonte vem do ambiente, que não apresenta limitação e pode ser reabastecido para contribuir
com o desenvolvimento a fases mais elevadas.
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Figura 6: Fatores hereditários e ambientais no desenvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 65).
O desenvolvimento motor, em parte, pode ser extremidades dos membros. O controle muscular do
explicado pela teoria de Gesell (1954), que considera tronco e dos ombros ocorre antes do dos músculos
a direção céfalo-caudal da maturação. Com essa dos dedos, o que explica a execução, em crianças
consideração, a maturação do sistema nervoso nos primeiros anos de vida, de movimentos mais
seria a responsável pelo surgimento de novos grosseiros, sem precisão.
comportamentos motores. Isso pode ser identificado
no período pré-natal, quando a formação da cabeça A velocidade do desenvolvimento pode sofrer
ocorre antes da dos membros, e no pós-natal, quando interferências ao longo da vida. Somos capazes de
o controle muscular ocorre primeiro no pescoço, recuperar pequenos atrasos, porém os mais drásticos,
depois no tronco e nas pernas sequencialmente. como baixo peso ao nascer ou acometimento por
Outra direção do desenvolvimento é a próximo- doenças, especialmente nos dois primeiros anos
distal, em que a progressão ocorre do tronco para as de vida, podem levar a um déficit de crescimento
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A proporção corporal altera-se ao longo do crescimento pré e pós-natal (figura 7). Em um bebê recém-
nascido, a cabeça representa um quarto do comprimento do bebê; já na idade adulta, terá cerca de um
oitavo da altura corporal.
A medida do comprimento corporal é tomada na posição deitada do nascimento até dois a três anos
de idade. Após esse momento, ela passa a ser realizada em pé, na posição ereta, sendo denominada altura.
Em 2006 e 2007, a Organização Mundial de Saúde (OMS, World Health Organization - WHO) publicou novos
padrões do crescimento infantil. Foram avaliadas crianças de sete países, incluindo o Brasil. O Ministério da
Saúde distribui uma carteira de vacinação que, além de descrever os eventos esperados a cada fase da vida
da criança e seu acompanhamento de vacinação, contém os gráficos para acompanhamento de peso, altura,
circunferência do crânio e índice de massa corporal (IMC).
Para acessar os gráficos das curvas de crescimento de zero a cinco anos para peso, altura, índice de massa
corporal, circunferência da cabeça de meninos e meninas, acesse o link da OMS:
http://www.who.int/childgrowth/standards/en/.
Para dados de referência dos 5 aos 19 anos de peso, altura e índice de massa corporal, acesse
http://www.who.int/growthref/en/.
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Alguns trabalhos desenvolvidos para comparar o padrão brasileiro com o americano identificaram ora peso
superior para as crianças americanas, ora para as brasileiras (BERGMANN et al., 2009). O mesmo ocorreu
em relação à estatura, mas, em todos os casos, sem diferenças estatisticamente significantes. Além disso, ao
final da puberdade, a média das curvas dos diferentes estudos se sobrepõe.
Leone, Bertoli e Schoeps (2009) compararam as curvas da OMS (2006, 2007) com o padrão de crianças de
duas cidades do estado de São Paulo (figura 8). Os autores identificaram padrão de crescimento semelhante
entre os grupos, mas alterações nos extremos da curva que indicam obesidade e magreza. Para maior
confiabilidade e reprodutibilidade dos dados, são necessários estudos mais extensos tanto em relação a
número de sujeitos, municípios e classe social quanto a avaliação de 0 a 18 anos de idade.
Figura 8: Comparação de curvas de crescimento (LEONE; BERTOLI; SCHOEPS, 2009). Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rpp/v27n1/07.pdf.
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Após o nascimento, uma preocupação recorrente ao peso quanto à altura, cerca de 5 cm e 2,3 kg por
dos pais é a altura do filho. Embora existam fórmulas ano. Nesse período, existe uma pequena diferença,
para previsão da estatura final de uma criança, não significativa, entre meninos e meninas, com
somente o acompanhamento pode revelar se ela vantagem para os meninos.
segue o padrão médio populacional e, caso contrário,
se é necessária alguma intervenção. O crescimento volta a acelerar no início da
puberdade. Devido à alteração na produção hormonal,
De zero a dois anos, a criança apresenta ocorre o estirão do crescimento, primeiro nas meninas,
grande velocidade de crescimento, que se reduz cerca de dois a três anos antes dos meninos. O pico
gradativamente, estabilizando-se durante a infância. do crescimento é atingido dois anos após o início do
No primeiro ano de vida, o crescimento é muito estirão, e a fase seguinte de desaceleração dura mais
acelerado; no quinto mês, o peso é o dobro do peso três a quatro anos até a finalização do crescimento
ao nascer, e o triplo ao final do primeiro ano. Esse (figura 9). A puberdade tardia dos meninos
aumento também é devido ao consistente aumento possibilita mais tempo de crescimento, alcance de
da gordura subcutânea. No segundo ano, a velocidade estatura final cerca de 10% superior à das meninas
de crescimento diminui em relação ao primeiro, mas e maior densidade óssea. O fechamento das epífises
ainda apresenta grandes mudanças a cada mês. ósseas ao final da puberdade, que corresponde ao
encerramento do crescimento, é devido a parte da
Na fase da infância de 2 a 10 anos, o crescimento testosterona convertida em estrógenos.
é constante, mas pouco intenso, tanto em relação
Crianças que nascem pequenas para a idade gestacional devem ser acompanhadas para verificar se
ocorre uma recuperação da altura em relação à média populacional. Não há um consenso sobre as causas
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desse baixo comprimento. Em alguns casos, é o sono, estimulando as gônadas. O hormônio folículo-
identificada uma secreção reduzida de hormônio do estimulante (FSH) também sofre alterações durante
crescimento, e o tratamento com hormônio deve ser a puberdade, mas com menor amplitude que o LH. O
avaliado (BOGUSZEWSKI; BOGUSZEWSKI, 2008). O FSH e o LH são responsáveis pelo desenvolvimento
tratamento é mais eficiente quanto mais precoce é das características sexuais primárias e pela produção
iniciado, sendo melhor se a altura média é alcançada hormonal. As características sexuais secundárias
antes da puberdade. são promovidas por GH, testosterona, estrógeno,
progesterona e andrógenos adrenais.
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É importante destacar que as maturações das características sexuais não são concomitantes nem
apresentam a mesma velocidade, por exemplo, o desenvolvimento das mamas nas meninas e da
genitália masculina ocorrem antes do início do desenvolvimento dos pelos pubianos.
A distribuição dos pelos axilares em ambos os sexos da menarca e o índice de massa corporal (IMC). Os
foi dividida em três estágios, por ser de mais difícil autores identificaram um aumento médio de 7,54 cm
descrição. No primeiro, não há presença de pelos, (± 3,35cm) na estatura após a primeira menstruação,
no segundo, identifica-se um leve crescimento e, no que ocorreu com 12,67 anos (mediana). O crescimento
terceiro, a distribuição é de adulto. A identificação pós-menarca não apresentou correlação com o IMC
da puberdade não deve ser feita pelo surgimento de na menarca. Apesar da grande dispersão dos dados,
pelos axilares e pelas alterações da voz, pois esses o estudo apresentou correlação negativa entre a
eventos ocorrem na fase final. Assim, se houver uma idade da menarca e o crescimento: quanto mais cedo,
puberdade precoce, isso dificultaria os resultados de maior o crescimento posterior (figura 10). Embora os
uma intervenção médica. dados não possam ser generalizados, pois dependem
das características específicas do grupo estudado,
Outro acontecimento que muitas vezes é apresentam similaridade com outros estudos.
erroneamente associado ao início da puberdade é a
menarca nas meninas, que significa o primeiro ciclo
menstrual. A menarca significa maturidade sexual
feminina e ocorre na fase final da adolescência,
quando a velocidade de crescimento já está se
reduzindo e a produção hormonal está madura.
Identificar problemas de crescimento a partir da
menarca nem sempre possibilita uma intervenção
eficiente. O potencial de crescimento é altamente
correlacionado à herança genética, e algumas
fórmulas são sugeridas para predizer a estatura final
em diferentes fases do crescimento, uma das quais
é a menarca.
Castilho, Saito e Barros (2005) avaliaram o Figura 10: Dispersão do crescimento pós-menarca em relação à
crescimento pós-menarca e relacionaram com a idade idade na menarca (CASTILHO; SAITO; BARROS, 2005).
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Figura 11: Índice de massa corporal para meninas de 5 a 19 anos (OMS, 2007). Fonte: http://www.who.int/growthref/cht_bmifa_
girls_perc_5_19years.pdf.
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adolescência, o aumento da testosterona contribui variáveis para meninos de 8 a 18 anos, entre 48 ml/
para a hipertrofia muscular e o aumento da força. kg e 50 ml/kg. Para meninas, o valor decresce na
Antes da puberdade, o ganho de força é em parte adolescência de 45 ml/kg para 35 ml/kg (figura 12).
atribuído às adaptações neuromusculares promovidas Quando comparamos esses valores com as referências
pelo exercício. para adultos, verificamos que crianças apresentam
valores relativos de VO2máx semelhantes.
A capacidade aeróbia apresenta melhora em função
do avanço da idade, sendo que, para meninos, ocorre
aumento até 18 a 20 anos e, para as meninas, inicia-
se um platô por volta de 12 a 14 anos. Esse efeito
pode ser devido às alterações na composição corporal
(figura 11). Após essa fase, a melhora da capacidade
cardiorrespiratória é dependente do treinamento.
Durante a infância, os meninos apresentam
desempenho superior às meninas cerca de 12%,
e essa diferença tende a aumentar com o início da
puberdade. O desempenho aeróbio na infância sofre
interferência da massa e do tamanho corporal, e
seu aumento pode ser devido ao crescimento e ao
treinamento. Diferenciar esses fatores interferentes
é mais difícil devido à limitação nos procedimentos
experimentais de conseguir sujeitos e controlar as Figura 14: Comportamento do VO2 máx. relativo ao peso corporal
em crianças e adolescentes de ambos os sexos. Fonte: http://
variáveis. fisioexfisio.blogspot.com.br/2013/07/crianca-idoso-sudorese-
osseo-e-exercicio.html.
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Figura 15: Comportamento das capacidades físicas de acordo com a maturação sexual (LINHARES et al., 2009).
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Os gráficos apresentados na figura 16 representam parte dos resultados do estudo realizado por Minatto,
Petroski e Silva (2013) sobre avaliação física e maturação sexual, que será discutido no vídeo a seguir.
A C
B D
Figura 16: Valores médios da porcentagem de gordura e aptidão cardiorrespiratória de acordo com o estágio de maturação sexual
para meninos (gráficos A e C) e para meninas (gráficos B e D) (Adaptado de MINATTO; PETROSKI; SILVA, 2013).
A estimativa da frequência cardíaca máxima - (0,7 x idade)”, proposta por Tanaka et al. (2001).
(FCmáx) em crianças torna-se importante, pois esse é o Os autores identificaram que a FCmáx mensurada foi
parâmetro fisiológico que descreve o comportamento menor que a estimada pela fórmula (220-idade). Isso
cardiorrespiratório utilizado para determinação da sugere que a redução desse valor em decorrência
intensidade de esforço no treinamento físico, sendo do aumento da idade não pode ser completamente
de mais fácil aplicabilidade do que a avaliação do aplicada a crianças e adolescentes, levando a um
VO2máx. A FC de repouso em crianças varia de 60 a possível erro na predição de exercícios físicos. Por
80 batimentos por minuto (bpm) durante o esforço. outro lado, o resultado mensurado foi próximo à
A dificuldade em se determinar a FCmáx deve-se à fórmula “208 - (0,7 x idade)”, demonstrando maior
limitação das crianças em manter um esforço máximo confiabilidade na aplicação desse modelo para
de forma contínua por um determinado tempo. crianças. Nos resultados apresentados pelos autores,
houve um valor alto de desvio padrão: em uma
Machado e Denadai (2011) verificaram a relação mesma idade, as crianças apresentaram valores bem
da FCmáx medida e da estimada pela fórmula de distintos de FCmáx medida. Isso ressalta mais uma
autoria desconhecida “220-idade” e pela fórmula “208 vez a necessidade de mais investigações.
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Figura 17: Pirâmide etária dos anos 1960, 2000 e 2010. Fonte:
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/04/em-50-anos-
percentual-de-idosos-mais-que-dobra-no-brasil.html.
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As alterações promovidas pelo processo natural aumento de gordura e tecido conjuntivo e queda do
de envelhecimento, senescência, devem ser número de células musculares. Nas válvulas da aorta
diferenciadas daquelas provocadas por doenças, e na cúspide mitral, o avanço da idade aumenta a
senilidade. As mudanças na estrutura corporal fibrose e a calcificação. A diminuição de trifosfato de
ocorrem em diferentes aspectos e tornam-se mais adenosina (ATP) reduz a capacidade oxidativa das
evidentes com o passar dos anos. O envelhecimento mitocôndrias, com consequente menor produção de
pode ser descrito como uma incapacidade de energia. A trifosfatase adenosina (ATPase) reduz sua
adaptação às modificações do meio externo ou atividade nas miofibrilas, comprometendo a função
interno. A dificuldade do idoso em manter o equilíbrio contrátil, além de diminuição de catecolaminas,
homeostático diante de sobrecargas é dependente menor síntese de noradrenalina nas terminações
das alterações nos sensores, centros reguladores nervosas simpáticas e redução dos beta-receptores,
e efetores. Isso tem como origem o excesso de levando a redução do débito cardíaco.
demanda funcional ao longo dos anos e a existência
de processos patológicos. A artéria aorta tem aumentado seu diâmetro
interno e reduzida sua capacidade elástica, bem
A avaliação do idoso deve levar em consideração como aumenta a deposição de cálcio em sua parede.
diversos fatores, que podem atribuir a queixa a Com isso, a distribuição do sangue é comprometida,
senescência ou senilidade. Deve-se considerar exigindo do músculo cardíaco trabalho mais intenso. A
a presença de fadiga, perda de peso, cefaleia, redução da capacidade funcional das artérias, devido
distúrbios do sono, alterações psíquicas, tontura, a queda da elasticidade e espessamento da parede,
quedas, alterações auditivas, digestivas e urinárias, recebe o nome de arteriosclerose. Esse processo
queixas osteoarticulares e dispneia. atinge também artérias menores e arteríolas, sendo
mais evidente em idades mais avançadas. Nos
idosos, a arteriosclerose representa um aspecto do
Alterações morfológicas e envelhecimento devido à ação prolongada da pressão
intravascular. Essa ação pode ser identificada, por
funcionais
exemplo, na arteríola do labirinto, no ouvido interno
e nas arteríolas renais, mesmo na ausência de
hipertensão.
Sistema circulatório
As carótidas e as coronárias sofrem estreitamento
Alvo de grande atenção com o passar da idade, o
com o avanço da idade, mais intenso nos homens.
sistema circulatório é o foco de inúmeras patologias.
Outro fator que restringe o fornecimento sanguíneo
O músculo cardíaco apresenta aumento do seu peso
aos tecidos é a aterosclerose, formação de placas de
devido ao espessamento da parede do ventrículo
gordura (ateroma) na parede dos vasos. A cardiopatia
esquerdo. A lipofuscina também é identificada nesse
isquêmica, falta de oxigênio, é promovida por um
músculo com o envelhecimento, e ocorre diminuição
processo aterosclerótico (figura 15).
da densidade capilar. No nodo sinoatrial, verifica-se
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Figura 18: Formação de placas aterosclerótica e coágulos na artéria coronária. Fonte: http://www.sistemacardiovascular.com/artigos/
doencas-cardiovasculares/aterosclerose/.
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A hipertensão arterial promove prejuízos cerebrais, Matoso et al. (2013) identificaram desempenho
cardíacos e renais. A sobrecarga pressórica crônica cognitivo significativamente inferior em idosos
compromete a circulação coronariana, aumentando hipertensos quando comparados aos normotensos.
a hipertrofia do miocárdio e a chance de insuficiência Nessa pesquisa, os hipertensos necessitaram de
coronariana e cardíaca. As alterações renais, que maior tempo para execução dos testes e tiveram
serão citadas a seguir, são as mesmas em idosos menor percentil de desempenho (tabela 2).
hipertensos ou não, mas podem ser verificadas com
mais intensidade em hipertensos.
Sistema respiratório
A alteração pulmonar é discreta com o envelhecimento, mas a mobilidade da caixa torácica sofre restrição
devido à calcificação das articulações entre o esterno e as cartilagens costais. A redução da elasticidade
pulmonar diminui a capacidade expiratória, aumentando o volume residual. Diante disso, a relação ventilação/
perfusão é alterada, com consequente redução da pressão de oxigênio arterial. As alterações pulmonares e
musculoesqueléticas da caixa torácica promovem a queda da pressão inspiratória e expiratória. O gradiente
de pressão dificulta a tosse, o que, em idosos, pode significar retenção de secreções brônquicas e instalação
de um quadro infeccioso com maior facilidade.
Sistema nervoso
Com o avanço da idade, ocorre atrofia cerebral, com redução da massa e do volume do cérebro. Um
possível sinal do envelhecimento é o aparecimento de um pigmento chamado lipofuscina em células nervosas.
As áreas mais atingidas pela perda neuronal são: córtex dos giros pré-centrais (área motora voluntária),
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giros temporais (percepção auditiva, processamento perda de células de bastonetes da retina reduz a
da informação visual, compreensão da linguagem adaptação visual a escuridão e a visão periférica. O
e memória) e córtex do cerebelo (coordenação desempenho em tarefas visuais sofre declínio com
motora). É possível identificar alterações dos o envelhecimento, mas, para aumentar a segurança
reflexos, redução da força muscular, declínios da na locomoção, por exemplo, o idoso torna-se mais
cognição e diminuições sensoriais decorrentes do dependente da informação visual, como mecanismo
envelhecimento neurológico. compensatório da situação musculoesquelética e da
lentidão do processamento de informações. Diante
A velocidade de condução nervosa sofre redução da dificuldade de controle do equilíbrio postural, que
durante o envelhecimento. O número de terminações sofre alterações, para redução do risco de quedas, o
nervosas diminui, aumentando o limiar de transmissão idoso aumenta a dependência da informação visual.
das informações sensoriais. A sensibilidade periférica
é prejudicada devido à diminuição do número de A tomada de decisão em idosos é mais lenta
receptores táteis, que pode ser potencializada diante devido à desaceleração da condução nervosa, com
de patologias como a aterosclerose e as neuropatias declínio na capacidade de processar as informações
decorrentes do diabetes e álcool. Os idosos são e completar operações como comparação, seleção
mais vulneráveis a hipotermia e hipertermia, e codificação. Isso se deve a morte neuronal,
mas a sensibilidade a dor não sofre alteração. A diminuição do fluxo sanguíneo encefálico, alterações
propriocepção diminui, restringindo a capacidade de enzimáticas, entre outros. Com isso, os reflexos são
o idoso identificar pequenas alterações de posições mais lentos, e a resposta motora a uma perturbação,
corporais, o que reduz a precisão de movimentos. também. A aprendizagem de novas tarefas torna-se
mais lenta. A memória de longa duração é afetada,
Ocorre perda auditiva significativa proveniente o que dificulta recordar informações aprendidas.
do efeito crônico do ruído ambiental, da redução Segundo Levy e Mendonça (2004), a percepção
da elasticidade do tímpano e na vibração da cóclea visuoespacial e o desempenho em tarefas motoras
e do dano ao nervo auditivo. O tempo de reação são reduzidos, mas a capacidade de aprendizagem
auditivo aumenta, assim como a dificuldade de é mantida, requerendo maior tempo de prática. Em
detectar a direção do som e os zumbidos. A perda estudo realizado por Teixeira e Lima (2009), os idosos
da audição associada ao processo de envelhecimento apresentaram bom desempenho em uma tarefa de
recebe o nome de presbiacusia. A redução do fluxo interceptação de um sinal luminoso após treinamento.
sanguíneo no ouvido também contribui para a queda A dificuldade no processo de aprendizagem é devida a
da capacidade auditiva. Outra característica comum é redução da prática, redução da velocidade perceptiva
o aumento do cerume (cera dos ouvidos), decorrente e nível educacional.
do ressecamento e do afinamento do tecido no
canal auditivo externo. O excesso de cerume pode Para estimular a memória e a aprendizagem,
prejudicar a transmissão das ondas sonoras ao ouvido são recomendados exercícios cognitivos e físicos. A
médio e interno. Esse problema pode ser tratado pelo maior oxigenação cerebral promovida pelo exercício
médico especialista. regular pode auxiliar as conexões neurais. Coelho et
al. (2012) verificaram que o desempenho em testes
A acuidade visual reduz-se, em decorrência cognitivos para avaliar memória de curto prazo,
de menor mobilidade ocular, fraqueza muscular, linguagem, aprendizagem, taxa de esquecimento
rigidez da íris, alteração do cristalino, redução do e funções executivas foi semelhante entre jovens
fluido vítreo, opacidade da córnea, entre outras. A e idosos que praticavam atividade física regular,
independentemente do nível de escolaridade.
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espessura, e a do corpo esponjoso é mantida. Na maioria dos casos, a redução da potência sexual é devida a
fatores psicológicos. A dificuldade de ereção requisita um período de estimulação maior, que pode ser devido
ao aumento do período refratário.
Sistema musculoesquelético
O aumento da fragilidade dos sistemas ósseo, articular e muscular faz com que a ocorrência de patologias
e acidentes aumente também. O crânio tem aumento de sua rigidez pela substituição do tecido fibroso por
ósseo a partir dos 30 anos. O núcleo pulposo dos discos intervertebrais e os condrócitos das articulações
sinoviais perdem água e proteoglicanos e ganham fibras colágenas (número e espessura). Por outro lado,
nos discos intervertebrais, as fibras colágenas do anel fibroso ficam mais finas. Nas articulações sinoviais, as
cartilagens tornam-se mais finas e racham com facilidade (figuras 16 e 17).
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No processo de envelhecimento, a espessura do Figura 21: estrutura óssea (A) saudável, (B) acometida por
componente ósseo compacto sofre redução devido a osteoporose. Fonte: http://envelhecimentounb94.blogspot.com.
br/2011/09/envelhecimento-do-tecido-osseo.html.
reabsorção interna. Na parte esponjosa, as cavidades
entre tubérculos ósseos aumentam devido a perda
Nessa condição, o risco de fraturas em idosos é
de lâminas. Os osteomas aumentam seus canais,
maior, e seu processo de recuperação, mais lento.
formando zonas mais esponjosas, porosas e delgadas.
São vários os fatores ligados à a osteoporose, dentre
O controle do metabolismo extracelular, promovido
eles alterações hormonais, déficit de vitamina D e
pelos osteócitos, é afetado pela redução do número
de cálcio. Labronici et al. (2013) identificaram, em
e atividade deles, com consequente perda de cálcio.
mulheres pós-menopausa, níveis séricos de vitamina
D deficientes ou insuficientes em 82% da sua amostra.
No homem, a perda óssea inicia-se após os 30
Em relação aos músculos, verifica-se redução da
anos, enquanto na mulher ela só é significativa
secção transversa devido a diminuição das fibras
a partir da menopausa e mais intensa que neles.
musculares, substituídas por tecido conjuntivo, e
Quando a perda de massa óssea é evidente, instala-
aumento do colágeno intersticial.
se um quadro de osteoporose (figura 18).
As fibras brancas, de contração rápida, são mais
afetadas pela redução de volume. Para transmissão
do impulso nervoso, uma possível estratégia é o
aumento dos tubos T e do retículo sarcoplasmático.
Em contrapartida, as placas motoras apresentam
maior número de pregas e fendas sinápticas mais
amplas, o que reduz a comunicação do axônio com
a membrana celular. Uma das possíveis explicações
para esse efeito é o desuso. Em geral, adultos não
apresentam nas suas tarefas diárias atividades que
demandam velocidade ou potência de força, que
requerem fibras brancas.
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A redução da massa muscular pode não ser tão mesmo na ausência de patologias. Os desvios posturais
evidente devido ao aumento de gordura corporal. decorrentes dessas alterações musculoesqueléticas
Além disso, o idoso só apresentará restrições são comuns. A maior incidência é da cifose torácica,
funcionais relevantes com uma idade mais avançada. com redução da curvatura lombar e inclinação
O sedentarismo, a deficiência na dieta e fatores posterior da pelve (figura 19). Na postura ereta,
genéticos contribuem para esse processo. A redução verifica-se flexão de quadril e joelhos, promovendo
da força muscular é acentuada nas mulheres a dorsiflexão do tornozelo. Com isso, o centro de
com o início da menopausa, devido às alterações gravidade é deslocado para a frente, o que prejudica
metabólicas. o equilíbrio. Como mecanismo compensatório, os
braços são projetados para trás por meio da extensão
A degeneração articular é proporcionada pelo dos ombros.
desgaste devido a uso ao longo do tempo, traumas
e obesidade. A degeneração da cartilagem articular
promove redução da sua elasticidade e espessura,
expondo os ossos a processos inflamatórios. Como
consequência mais grave, pode-se chegar ao
enrijecimento articular e à limitação de movimentos,
com dificuldade para tarefas que exijam maior
controle postural. A redução do colágeno e da
elasticidade óssea resulta em maior possibilidade
de ruptura de tendões diante de atividades mais
intensas em idosos, processo facilitado pela menor
capilarização dos tendões.
Composição corporal
A partir dos 40 anos, a estatura começa a diminuir, devido a alteração da postura, diminuição dos espaços
ocupados pelos discos intervertebrais e redução dos arcos dos pés. Crescem nariz, pavilhões auditivos, crânio
e caixa torácica. O tecido adiposo sofre aumento nos omentos e na região perirrenal e substitui a perda
do parênquima dos órgãos. A distribuição subcutânea reduz-se nos membros para aumentar no tronco. A
redução da água e do potássio intracelular deve-se em especial à redução celular nos órgãos e promove
queda do gasto energético. A quantidade de água corporal pode reduzir-se de 15% a 20% com o avanço
da idade. Os rins e o fígado sofrem maior redução de massa, acompanhados de perda de massa muscular.
Embora a massa corporal total sofra aumento na idade adulta e discreta redução após os 50 anos, deve
ser considerada a composição de massa muscular, de gordura e óssea. Após um período de pequeno declínio
da massa muscular, seu decréscimo é intensificado desde a quarta década de vida, em decorrência das
alterações hormonais e metabólicas.
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isso, a apresentação do objetivo deve ser clara. Existe O exercício físico regular é indicado em qualquer
uma relação inversa entre velocidade e precisão: o fase da vida. Durante o processo de envelhecimento,
aumento da primeira promove perda na segunda. É ele torna-se importante aliado na prevenção e
possível, com a prática, maximizar o desempenho, no controle de patologias. Embora as alterações
inclusive de idosos. cardiovasculares, hormonais e metabólicas interfiram
no desempenho físico, os efeitos crônicos do exercício
A relevância da atividade física é destacada em físico contribuem para a redução das perdas funcionais
estudos como o desenvolvido por Spirduso (1975), e estruturais decorrentes do envelhecimento.
que revelou que idosos ativos apresentavam tempo de
reação semelhante ao de jovens não ativos, e que seu Com a prática regular, é possível que uma pessoa de
desempenhor foi bem superior ao dos que não eram 70 anos treinada apresente melhor condicionamento
ativos fisicamente. A inatividade física contribui para físico do que um adulto de 30 sedentário (figura
a deterioração do sistema nervoso central. Assim, a 20). A melhora da força, da resistência muscular
eficiência do processamento central em idosos ativos e da mobilidade articular auxilia nas atividades da
fisicamente pode ser atribuída à boa condução do vida diária e também no aumento da deposição
sistema nervoso central e à preservação das células de cálcio nos ossos, controlando o aumento da
cerebrais. E, com a atividade física, o aumento da gordura corporal. Deve-se ter cuidado com a prática
circulação sanguínea e a temperatura adequada nas de exercícios em ambientes muito quentes devido
extremidades do corpo aumentam a velocidade de à dificuldade de corrigir desequilíbrios hídricos e
condução nervosa dos sinais aos músculos. minerais, decorrentes das alterações renais.
Figura 23: Redução de massa muscular e força decorrente do envelhecimento. Fonte: http://www.centromedicoathenas.com.br/
detalhes-dos-programas-e-servicos-do-centro-medico-athenas.asp?cod_especificacao=1.
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