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NORMA DE PROCEDIMENTO DE ENFERMAGEM Atualizada: 2019

Elaborada por:
Júlio Belo Fernandes
COLHEITA DE SANGUE PARA
Revisão científica:
HEMOCULTURAS

DEFINIÇÃO
Procedimento de Enfermagem interdependente que consiste na recolha de uma amostra de
sangue venoso para um frasco com meio de cultura.

OBJECTIVOS
 Identificar a presença de microrganismos responsáveis pelo desenvolvimento
de doenças infeciosas.
 Diagnosticar a presença de doenças infeciosas.

INFORMAÇÕES GERAIS

Quem executa
 O enfermeiro segundo prescrição médica.

Horário
 Seguir prescrição médica ou protocolo do serviço/instituição.

Orientações para a execução


 Verifique a prescrição médica e a identificação da pessoa.
 Em caso de dúvida obtenha informação junto do laboratório, acerca das
condições da colheita, do transporte e da informação a registar nas
requisições.
 Utilize técnica asséptica. Aconselha-se a utilização de luvas esterilizadas. A
evidência científica demonstra a sua utilização diminui o risco de contaminação
da amostra.
 Sempre que possível, fazer as colheitas antes do início da antibioterapia.
 Realize as colheitas respeitando o número e o intervalo de tempo adequados à
situação clínica. Em regra deve fazer-se, pelo menos, 2 conjuntos de colheitas
distintas nas primeiras 24 horas. A realização de apenas 1 colheita é
desaconselhada porque pode impedir o esclarecimento da situação clinica.
 Um conjunto de hemoculturas é constituído por uma cultura aeróbia e
anaeróbia.
 A realização de 2 conjuntos de colheitas devem ser efetuados em locais de
punção diferentes, utilizando material distinto.
 Aconselha-se a realização da colheita de sangue periférico para a obtenção de
resultados otimizados. A colheita de sangue através do cateter venoso central
apresenta maior risco de contaminação por microrganismos.
 Verifique as condições das embalagens e frascos de hemocultura e respeite os
prazos de validade.
 Observe e selecione o local a puncionar. As veias mais superficiais e de maior
calibre são as veias basílica, cefálica, cubital e radiais, pelo que são as mais
aconselháveis para a execução da punção.
 Evite puncionar:
 Veias lesadas e locais próximos de punção recente;

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 Região cutânea com cicatrizes, veias esclerosadas, regiões de enxerto
vascular, edema, infeção ou alterações cutâneas como eczema, hematoma
ou equimoses;
 Na proximidade de acesso venoso periférico com perfusão de medicação;
 Membro com acesso vascular na pessoa com insuficiência renal crónica;
 Membro que possa vir a ser utilizado para efetuar acesso vascular na
pessoa com insuficiência renal aguda (normalmente o membro não
dominante);
 Membro superior do lado afetado nas pessoas mastectomizadas, se
presença de linfedema, ou com lesões neurológicas (diminuição da
sensibilidade impede alertar para a dor ou outras complicações).
 Respeite a sequência de preenchimento dos frascos de colheita:
 Utilizando um sistema de colheita fechado a vácuo deve preencher
primeiro o frasco de hemocultura aeróbico, para evitar transferir o ar
presente no sistema de colheita para o frasco de hemoculturas anaeróbico;
 Utilizando uma seringa e agulha, deve preencher primeiro o frasco de
culturas anaeróbico para evitar a introdução de ar no frasco.
 Preencha os frascos de hemocultura respeitando a sinalização presente no
respetivo frasco (3 a 10ml).
 Para homogeneizar a amostra inverta lentamente o frasco de hemocultura o
número de vezes recomendado pelo fabricante.

MATERIAL
Tabuleiro com:
 Requisição corretamente preenchida
 Etiquetas de identificação da pessoa
 Resguardo descartável impermeável
 Mascara de proteção
 Luvas esterilizadas
 Campo esterilizado
 Taça esterilizada
 Compressas esterilizadas
 Agulhas 21 a 23G
 Seringa de capacidade adequada à colheita
 Antisséptico (digluconato de clorohexidina 2% em álcool isopropílico 70%,
álcool isopropílico 70% ou Iodopovidona)
 Frascos de hemocultura
 Garrote
 Pensos rápidos
 Tina reniforme
 Contentor de corto-perfurantes

PROCEDIMENTO

Intervenção Justificação
1. Verifique a prescrição médica. 1. Validar a prescrição.

2. Lave higienicamente as mãos. 2. Prevenir a infeção.

3. Prepare o material necessário para a 3. Economizar tempo e facilitar o


realização do procedimento. procedimento.

4. Verifique o estado de todas as embalagens 4. Garantir a manutenção da assepsia.

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e os prazos da esterilização.

5. Identifique a pessoa. 5. Assegurar a execução à pessoa certa.

6. Providencie privacidade. 6. Assegurar o respeito pela privacidade.

7. Explique o procedimento à pessoa e solicite 7. Obter o consentimento informado e a


a sua colaboração. colaboração.

8. Permita que a pessoa coloque questões e 8. Diminuir o nível de ansiedade. A


discuta qualquer problema que tenha ansiedade causa vasoconstrição.
surgido.

9. Questione a pessoa acerca de preferências 9. Assegurar o envolvimento no


e problemas que tenha experienciado tratamento e conhecer o historial de
previamente. punção venosa periférica da pessoa.

10. Solicite à pessoa que se posicione ou 10. Melhorar a sensação de conforto da


auxilie-a a posicionar-se de forma pessoa durante o procedimento e
confortável, expondo a área pretendida. permite melhor visibilidade da veia.

11. Providencie iluminação adequada. 11. Preparar o ambiente.

12. Coloque um resguardo descartável 12. Proteger a pessoa e ambiente de


impermeável sob o braço da pessoa. eventuais perdas de sangue.

13. Coloque a máscara. 13. Prevenir a infeção através da


utilização da barreira protetora.

14. Lave higienicamente as mãos. 14. Prevenir a infeção.

15. Prepare o campo esterilizado, abra as 15. Permitir a realização do procedimento


embalagens e coloque o material mantendo a assepsia.
esterilizado sobre o campo (taça
esterilizada, compressas, seringa e agulha).

16. Retire as tampas dos frascos de 16. Manter a assepsia.


hemocultura e desinfete o selo com
antisséptico e compressas esterilizadas.

17. Selecione a veia a puncionar, de acordo 17. Preparar a execução adequada da


com o objetivo da punção. punção.

18. Observe a área circundante da veia 18. Identificar sinais que contraindiquem
selecionada. a punção.

19. Faça a distensão da veia através da 19. Assegurar a acessibilidade da veia,


aplicação do garrote, cerca de 5 a 10 cm impedindo o retorno venoso, sem
acima do local da punção, tendo o cuidado ocluir o fluxo arterial. Se não
de não obstruir o fluxo de sangue arterial. conseguir palpar o pulso radial
desaperte o garrote.

20. Se a aplicação do garrote não permite a 20. Melhorar a acessibilidade da veia


distensão da veia:
a) Posicione o membro a puncionar numa a) Utilizar a gravidade.
posição de declive;
b) Massaje o membro dirigindo o fluxo b) Promover o aumento de fluxo de
venoso, no sentido ascendente; sangue ao local.
c) Peça à pessoa para abrir e fechar a c) Aumentar o fluxo de sangue.

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mão, repetidas vezes;
d) Toque vigorosamente na veia, duas a d) Promover a libertação de histamina
três vezes; permitindo a vasodilatação.
e) Aplique um saco de água quente ou e) Promover o aumento de fluxo de
compressas quentes. sangue ao local.

21. Palpe a veia. 21. Ajudar a localizar a veia.

22. Desinfete o local a puncionar pulverizando 22. Prevenir a infeção e a contaminação


com o antisséptico. da amostra.

23. Realize a lavagem asséptica das mãos. 23. Prevenir a infeção.

24. Calce as luvas esterilizadas 24. Prevenir a infeção e a contaminação


do estudante.

25. Com as compressas esterilizadas realize 25. Prevenir a infeção e a contaminação


movimentos unidirecionais, numa linha de 5 da amostra.
centímetros. Descarte a compressa a após
cada movimento.

Caso não exista antisséptico pulverizador

Com a compressa esterilizada embebida em


solução antisséptica realize movimentos
unidirecionais, numa linha de 5 centímetros.
Descarte a compressa a após cada
movimento.

26. Deixe atuar e secar o antisséptico de 26. Permitir a ação do antisséptico e


acordo com as indicações do fabricante (por diminuir a possibilidade de espasmo
norma 30 segundos). venoso provocado por algumas
soluções antissépticas.

27. Não volte a palpar a veia ou tocar na pele 27. Prevenir a infeção e contaminação da
circundante. amostra.

28. Adapte a agulha e seringa, tendo em 28. Permitir a realização do


atenção o alinhamento do bisel com a procedimento.
graduação da seringa.

29. Retire a cápsula protetora da agulha. 29. Preparar o material para realizar o
procedimento.

30. Imobilize a veia, fixando a pele com o 30. Imobilizar a veia na posição
polegar da mão não dominante, 2 a 3 adequada facilita a punção.
centímetros abaixo da zona selecionada
para a punção.

31. Com a mão dominante, segure a seringa e 31. Permitir a perfuração da pele.
agulha com o bisel para cima. Inicie o
movimento de punção perfazendo um
ângulo aproximado de 30 graus sobre a pele

32. Reduza o ângulo da agulha com a pele 32. Prevenir a perfuração da veia e
assim que verificar o retorno venoso ou permitir a progressão e colocação
sentir penetrar a veia, progredindo segura no seu interior.
ligeiramente no seu interior.

33. Não exerça pressão sobre a agulha. 33. Prevenir a perfuração da veia.

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34. Durante o procedimento observe a reação 34. Despistar sinais e sintomas de
da pessoa. complicações.

35. Observe a zona de punção para detetar o 35. Despistar sinais de complicações.
desenvolvimento de hematoma ou
hemorragia.

36. Proceda à retração do êmbolo da seringa 36. Prevenir a ocorrência de erros. Uma
lentamente e utilize a menor força possível, pressão elevada durante a aspiração
para colher a quantidade de sangue pode provocar alterações dos
necessária. constituintes do sangue.

37. Com a mão não dominante retire o garrote e 37. Diminuir a pressão exercida sobre as
segure a seringa. veias.

38. Com a mão dominante retire uma 38. Prevenir a contaminação da amostra
compressa esterilizada embebida em e promover a hemóstase.
antisséptico e aplique sobre o local de
punção.

39. Retire a agulha com a seringa, aplicando 39. Promover a hemóstase e prevenir o
pressão com a mão dominante que segura a risco de hemorragia /hematoma.
compressa. Instrua a pessoa para não fletir
o braço.

40. Se necessário peça à pessoa para 40. Facilitar a transferência do sangue


pressionar a compressa. para os respetivos frascos.

41. Com a mesma agulha perfure o selo dos 41. Garantir resultados corretos.
frascos de hemocultura e preencha com a
quantidade necessária. Tenha em atenção a
ordem de preenchimento dos frascos.

42. Proceda à homogeneização da amostra de 42. Evitar a coagulação sanguínea.


sangue invertendo lentamente o frasco de
colheita.

43. Segure na seringa e utilizando a ranhura de 43. Prevenir acidentes.


segurança do contentor de corto-perfurantes
retire a agulha.

44. Inspecione o local puncionado. 44. Verificar se ocorreu hemóstase.

45. Aplique um penso rápido no local 45. Cobrir o local de punção e prevenir a
puncionado. ocorrência de perdas hemáticas.

46. Retire as luvas e descarte-as no contentor 46. Assegurar a correta triagem de


de resíduos hospitalares adequado. resíduos hospitalares.

47. Proceda à lavagem higiénica das mãos. 47. Prevenir infeções.

48. Identifique os frascos de hemoculturas com 48. Evitar erros de identificação.


as etiquetas da pessoa. Caso os frascos
possuam códigos de garras, destaque a
etiqueta com o respetivo código e cole na
requisição da análise.

49. Se necessário posicione a pessoa 49. Proporcionar conforto.


confortavelmente.

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50. Recolha e arrume o material utilizado. 50. Manter a unidade arrumada e
prevenir acidentes.

51. Coloque os frascos no local reservado ao 51. Facilitar o encaminhamento para o


transporte juntamente com a requisição. laboratório.

52. Proceda à lavagem higiénica das mãos. 52. Prevenir infeções.

53. Proceda aos respetivos registos. 53. Confirmar a realização do


procedimento e assegurar a
continuidade de cuidados.

BIBLIOGRAFIA

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