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ResumosExameDireitosReais
CAPITULOI–OSPRINCIPIOSDOSDIREITOSREAIS
I. OPRINCIPIODATIPICIDADE
Aautonomiadoparticularérestringidaàpossibilidadedeescolhadosdireitosreaisprevistosna
lei.Osistemapostulaumnumerofinitodedireitosreais.
Falaseassimemtipicidade,sóexistemosdireitosreaisqueolegisladorconsagrar.
Esteprincipioestápresentenoart.º1306/1CC.
Aformulaaquiimpostapareceassimdesatualizada,parecelimitartecnicamenteaviolaçãoda
tipicidade à criação de restrições a um direito real. No entanto, esta violação pode derivar
igualmentedeumaumentodoaproveitamentopermitidodotipodedireitorealconsiderado,
quenãoconstituitecnicamenteumarestrição.
Assim,oprincipiodatipicidadetemduasvertentes:
Proibição da criação de um direito real Prendesecomoconteúdododireitoreal.Atipicidadeimplica
diferentedoqueconstanocatalogolegal. queosparticularesnãopossamcomporoconteúdododireito
realaseuprazer,poisassimabrangerseiammúltiplosdireitos
distintosdebaixodeumadesignaçãounitária.
Por isso, o respeito pelo principio da tipicidade acarreta a
proibiçãodemodificaroconteúdoinjuntivotípicododireito
realprevistonalei.
Aautonomiaprivadadáaosparticularesapossibilidadedesemoveremlivrementenoâmbito
supletivodoregimedecadatipodedireitoreal,masestáafastadanaquelequerespeitaao
caracterinjuntivododireitoreal.Deoutraforma,atipicidadeseriaatingida,umavezqueos
particularesacabariamporcriarumdireitorealdiferentedaqueleprevistonalei,emboracom
omesmonome.
Quenormasimperativassãoessasquenãopodemserafastadaspelosparticulares?
Sãoasquemoldamotipolegaldodireitoreal.Sãoasnormasqueestabelecemumdeterminado
conteúdodeaproveitamentododireitoreal.Individualmenteconsiderados,osdireitosreaisnão
sãoclassificadoscomotipos,massimcomoconceitosouclasses.
As notas distintivas do direito real formam o “desenho” do tipo legal de direito real, o seu
conteúdoinjuntivotípico.Comotalelasnãoestãonadisponibilidadedaspartes,deacordocom
oprincipiodatipicidade(1306º/1).
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DeacordocomJAVosdireitosreaisnãosãoabertos,sãojustamenteooposto.Sendoaexceção
destateoriaaservidão,queconstituiumdireitorealaberto.
II. OPRINCIPIODAINERÊNCIA
Osdireitosreaistêmporobjetocoisascorpóreas.Cadadireitorealtemumacoisadeterminada
por objeto e, na ausência de causa legal, não pode ser dissociado ou separado dela,
nomeadamente,parateroutracoisacomoobjeto.
Aligaçãoentreodireitorealeacoisachamaseinerência.
Temosaquitambémduasfacetas:
Acoisacorpóreaéobjetodeumdireitorealenão Se a coisa que é objeto do direito real perecer, o
pode ser separada dele. Se um direito real se direitorealextinguese.Inseparabilidadedodireito
constituisobreumacoisa,elesópodeterporobjeto dacoisa.
essa coisa e não outra coisa diversa.
Em alguns casos, com o perecimento da coisa é
Nomeadamente,nãopodesertransferidoparauma
atribuída ao titular do direito real outra coisa em
outracoisa.
substituição da primeira. Falase aqui em sub
rogaçãorealespecial(692º,1479º,1480ºe1481º).
III. PRINCIPIODAESPECIALIDADE
Odireitorealincidesobreumacoisacertaedeterminada(existênciaatualedeterminaçãoda
coisa).
Emprimeiralinha,oprincipiodaespecialidadepostulaqueodireitorealsópodeterporobjeto
umacoisacomexistênciaatualedeterminada.
Nesse sentido estabelece o art.º 408/2 CC que a transferência do direito real ocorre apenas
quandoacoisa(coisafutura)foradquiridapeloalienanteoudeterminadacomoconhecimento
deambasaspartes.
Umacoisaquenãoexistenãopodeserobjetodedireitoreal.
Se a coisa for genérica, ainda que existente, o direito real apenas se constitui ou transmite
quandoadeterminaçãoocorracomconhecimentodeambasaspartes,semprejuízodoregime
dasobrigaçõesgenéricasedocontratodeempreitada.
Odireitoreallimitaseàscoisascorpóreas,talcomovimos(1302ºCC).
Oproblemasurgenascoisascompostas:umaprimeiraleiturado206ºCCtransmiteaideiade
queacoisacompostaintegraumamultiplicidadedecoisasmoveis.Tomadoàletrao206º/1
abandona a ideia do direito real ter por objeto várias coisas simultaneamente, todas as que
compuseremacoisacomposta,dandoumargumentocontráriaaoprincipiodaespecialidade.
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OJAVdistingueassimdoisníveis:
• Odauniversalidade(comocoisacomposta):recaiumdireitorealunitário(quesópode
serpropriedade);
• Odascoisasqueacompõem:háigualmenteumdireitodepropriedade,masdistinto
daquele,esteincidesobrecasaumadascoisassimples.
Mesmosuperadooproblemadaduplaatribuiçãodedireitosreaisdamesmanaturezasobre
um objeto, constatamos que as vicissitudes jurídicas afetam exclusivamente cada uma das
coisassingularesqueintegramauniversalidadeenãoumpretensodireitosobreela.
Assim,demonstrasequeasvicissitudesjurídicasafetamascoisassingularesquesãoparteda
universalidadeenãoestacomocoisacomposta,pondoemcausaasuaexistênciacomotal.
Não haverá, no entanto, vicissitudes que respeitem exclusivamente à universalidade e que
justifiquemaautonomiadacoisacomposta?
Umavezmais,aeficáciadocontratotranslativoouconstitutivodedireitosreaisafetacadauma
dascoisasdoconjuntoenãooconjuntounitariamente(porissoarespostaénão!).
Oquerestaafinaldoconceitodecoisacompostadoart.º206?
Meramente a possibilidade de desencadear com uma única declaração negocial os efeitos
relativosacoisasdiversasintegradasnumconjuntounitário.Esseconjuntonãosesobrepõeou
acresceàscoisasqueointegram,nemconstituiumobjetodeumdireitounitário,vindoapenas
aserconsideradoparaefeitospráticosqueseligamàpossibilidadededispor,atravésdeuma
única declaração negocial, de todos os direitos reais relativos às coisas simples que o
compõem.
Quantoaoexercíciodedefesacontraaviolaçãodapropriedadeoupossesobretodasascoisas
doconjuntopoderseáfalarnumreivindicaçãodauniversalidadeounaaçãodereivindicaçãoe
exemplificarcomareivindicaçãodorebanhooucomarestituiçãodeste.
Oreivindicanteoupossuidoresbulhadonãoestálibertodoónusdedeterminarcadaumadas
coisasqueseincluemnauniversalidade.
CONCLUSÕES:
• Ainexistênciadeumdireitounitáriosobreoconjuntoetornainútilinsistirnoponto.
• Auniversalidadedefactonãoconstituiumacoisae,portantetambémnãoumacoisa
composta.
• Acomparaçãodauniversalidadedefactoàscoisascompostasdo206ºéinteiramente
infeliz.
• Comoresultadodoprincipiodaespecialidadeencontramosalimitaçãodosdireitosreais
àscoisas(corpóreas)individualizadas,certasedeterminadas.
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IV. PRINCIPIODAABSOLUTIDADE
Se entendermos uma situação jurídica absoluta como aquele que existe por si, sem
dependência de uma outra situação de sinal contrário, então o direito real é uma situação
jurídicaabsoluta.
Acontraposiçãoentredireitosabsolutoserelativospodeseranalisadaatravésde3critérios:
a. Responsabilidadecivil;
b. Estruturadasituaçãojurídicaconsiderada;
c. Oponibilidade.
O critério que aqui nos interessa é o da oponibilidade. Segundo este os direitos reais são
absolutos,poiselespermitemaotitularfazervaleroseudireitocontraquemquersesejaque
oviole,semlimitaçãoapessoaouapessoasdeterminadas.
Ainoponibilidadedeumterceirodeboafénãosejustificanonossosistemajurídico,quenão
consagrouoprincipiodapossevaletitulo.
Anãooponibilidadedapossenoconflitocomotitulardodireitorealdegozoexplicasepelo
papelqueelatemnosistemadosdireitosreais,quecedenaturalmentequandoooponente
demonstraquetemumdireitodefinitivosobreacoisa.
Masfaltandoaoponibilidadeemalgumassituações,aposseéumdireitorealabsoluto.
Ocaracterabsolutodosdireitosreaisresultadomodocomooregimejurídicoestruturada
defesadotitular.
Nos direitos reais de gozo, a absolutidade revelase da defesa por reivindicação (1311º e
1315º).
Otitulardodireitorealdegozopodedemandaroterceiroque,semqualquerdireito,estejana
posseoudetençãodacoisa.Aofazelo,nãotemdeinvocaroudemonstrarainvalidadedotitulo
constitutivododemandado,nemdeoutrosanteriores;bastalheprovaroseudireitoeexigira
entregadacoisadopossuidoroudetentorquetemacoisaemseupoder.
V. PRINCIPIODACONSENSUALIDADE
Esteprincipioveioaseracolhidonoart.º408/1doCC.Sendoqueesteéreiteradonosart.º
879/ae954º.
O direito real constituise ou transferese no momento da celebração do contrato,
automaticamente e instantaneamente, sem necessidade de entrega da coisa ou do registo
(relativamente aos imóveis) e sem qualquer dependência do cumprimento das obrigações
estabelecidas.
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Ocontratoéassimaumtemporealeobrigacional,produzindosimultaneamenteosdoistipos
deefeitos,semquehajainterferênciareciprocaentreeles.
Atransmissãodapropriedadedásemesmoque,nacompraevenda,ovendedornãoentregue
acoisa.
Oart.º408/2introduzalgumasexceçõesrelativamenteaomomentodeaquisiçãododireito
real,dissociandoodomomentodacelebraçãodocontrato.
Ocontratonãodeixadeseroúnicotitulodeaquisiçãododireitoreal,eporestavianãose
registaqualquerexceçãoaoconsensualismo,masomomentodeaquisiçãonãoéomomento
deconclusãodocontrato,ficandodiferidonashipótesescomtempladasnoartigo.
Assim:
• Transmissãododireitorealsobrecoisafuturaomomentodeaquisiçãododireitoreal
éomomentodeaquisiçãododireitopeloalienante;
• Transmissãododireitorealsobrecoisaindeterminadaéomomentodadeterminação
dacoisacomconhecimentodeambasaspartes;
• Na transmissão de direitos reais sobre frutos naturais a transmissão ocorre no
momentodacolheita;
• Partes componentes ou integrantes o direito real transmitese com a separação
material.
Oprincipiodaconsensualidadetemomesmosignificadoparaascoisasmóveiseimóveis.
VI. PRINCIPIODACAUSALIDADEEOPRINCIPIODAUNIDADE
Oprincipiodacausalidade,ondevalha,significaqueaaquisiçãododireitorealsupõeaeficácia
donegóciojurídicoquelheestánabase(compraevenda,permuta,doação,etc.).Seestefor
nuloouvieraseranulado,aaquisiçãododireitorealnãotemlugar.Elasupõeassimumacausa
válida.
Esteprincipiocontrapõeseaoprincipiodaabstração,querepousanaseparaçãoentreonegócio
jurídico(contrato)obrigacionaleonegóciojurídico(contrato)real.Pressupõeseaindaqueo
ordenamento torne eficaz o negócio real independentemente da eficácia do negócio
obrigacional.
Assim, a compra e venda pode ser nula, pela incidência de qualquer vicio, e ainda assim o
compradoradquirirodireitoreal,porqueocontratorealéeficaz.
A ordem jurídica portuguesa acolhe o principio da causalidade, ou seja, a constituição do
direitorealsóocorrequandoacausajurídicadoefeitorealsejaeficaz,sejaumnegóciojurídico
autónomo, seja um negócio simultaneamente produtor dos efeitos reais e dos efeitos
obrigacionais.
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Outroproblemaéodesaberseessaaquisiçãosefazpormeiodeumnegóciojurídicopróprio
eautónomodonegócioobrigacionalouseumúniconegóciojurídicopodesimultaneamente
desencadearosdoisefeitos?
Naordemjurídicaportuguesa,valetambémparaosdireitosreaisoprincipiodequeosnegócios
jurídicossãocausais.Istoquerdizer,queaaquisiçãododireitorealsedáunicamentequando
ofactorespetivoforjuridicamenteeficaz.
Seacompraevendafordeclaradanulaouanulada,todososefeitosdonegóciojurídicosão
atingidospelainvalidadee,naturalmente,tambémumefeitoreal(879º/a).
Portanto, quando o 408º/1 estabelece que o direito real se constitui ou transmite com o
contrato(realquoadeffectum),deveentendersetratarsedeumcontratoeficaz.
Casoonegóciojurídicoqueservedecausaàconstituiçãooutransmissãododireitorealnãoseja
válido, o efeito real não se produz e o direito permanece com o disponente, mesmo em
detrimentodaconfiançalegitimadeumterceiro.
VII. PRINCIPIODABOAFÉ
O principio da boa fé não surge elencado nas exposições sobre os princípios normativos de
direitosreais.
MasdeacordocomJAVesteprincipiotemumagrandeimportâncianosdireitosreais.E,surge
fundamentalmenteemdoisdomínios:
• Posse (incluindo usucapião): a boa fé aparece como critério sistemático de
caracterização da posse (1258º). A ela está associado um tratamento jurídico mais
favoráveldopossuidor.
• Acessão industrial: a união ou mistura de coisas pertencentes a donos diferentes
realizadadeboaféestásujeitaaumregimemaisfavoráveldoqueademáfé.
Perguntase,noentanto,seestamosperanteumaboaféemsentidopsicológicoouseaboa
féaquetodosospreceitosaludemdeveserentendidacomoboafésubjetivaética?
Boafésubjetivaética:
Boaféemsentidopsicológico:
Aboafépostulaocumprimentodedeveresde
Consistenameraignorânciadosujeito
relativamenteacertosfactosouestadode
diligência,ouseja,umaignorânciadesculpáveldo
coisas. sujeitorelativamenteafactosouestadodecoisas.
Estatemumníveldeexigênciamuitosuperioràboafé
emsentidopsicológico.
O prof. JAV afirma que a boa fé que está postulada no regime da posse e da propriedade
industrialéaboafésubjetivaética,assimcomonoregisto.
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Deacordocomesta,estádeboaféaquelequedesculpavelmenteignorava,aoadquiriraposse,
quelesavaodireitodeoutrem;ou,inversamenteestádemáféaquelequeconheciaaviolação
dodireitoalheioeaindaoque,pornãoobservardeveresdecuidadoquenocasocabiam,não
conheciaessaviolação,ouseja,ignoravacomculpaalesãododireitodeoutrem.
Também ocorrem manifestações gerais da boa fé em sentido objetivo (deveres de cuidado,
informação–boafécomoregradeconduta)nosdireitosreais.
VIII. PRINCIPIODATERRITORIALIDADE
Aordemjurídicaportuguesaéaúnicaadeterminaroregimejurídicorealdascoisassituadas
emterritórioportuguês.
IX. PRINCIPIODAPUBLICIDADE
Apublicidadenosdireitosreaispodeserespontâneaouorganizada.
Aleipodepartirdocontrolomaterialdacoisa Surgeatravésdoregisto.Noentantoestenãoé
paraaferiratitularidadeouparadesencadeara
global,apenasabarcapartedascoisascorpóreas.
transmissãododireitoreal.Apossefunciona Cadaumdosregistosestásujeitoaumregime
destemodocomoummeioespontâneode jurídicopróprioenãotemcomunicaçãocomos
publicidadededireitosreais. restantes.
Não podemos associar um efeito de transmissão associado à publicidade, podemos apenas
falardeumefeitopresuntivo.Tantoopossuidor(1268º/1)comoaqueleafavordaqualéfeita
ainscriçãoregistal(7º/1CRP)beneficiamdeumapresunçãodetitularidadedodireitoreala
queserefereaposseouoregisto.
A publicidade fundada na posse não protege o terceiro de boa fé contra a reivindicação do
proprietáriooudoutrotitulardedireitorealdegozo.Nãovalendo“apossevaletitulo”,aposse
dotitularaparentenãoasseguraaproteçãodoterceirodeboafé,mesmoquetenhahavido
tradiçãodacoisa.
Asituaçãomuda,noentanto,quantoàpublicidaderegistal.Falaseentãonumefeitoatributivo
doregistopredialouemaquisiçãotabular.
Aaquisiçãotabularconstituiumefeitodapublicidaderegistal,concretamentedapresunçãode
titularidadedodireitoquelheestáassociado.
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(salteipág.227a237–verseoqueestáaquiditooJAVdizmaisàfrente).
CAPÍTULOII–APUBLICIDADEREGISTAL
I. ATOSEPRINCÍPIOSDOREGISTOPREDIAL
1. OSATOSDOREGISTO
Sãotrêsosatosdoregistoqueimportaconsiderar:
• Descriçãopredial:temporfimaidentificaçãofísicaeeconómicadosprédios(art.º79
CRP). Apenas é feita na dependência da inscrição ou averbamento (80º/1 CRP). E,
nenhum ato registal (averbamento e inscrição) é feito sem que a descrição esteja
lançada;
• Inscrição:éaesteatoquesealudequandosemencionaoregisto.Reportaseaosfactos
sujeitosaregistosegundoodispostonosart.º2e3docódigoderegistopredial.Esta
podeserdefinitivaouprovisória.
• Averbamento:formadealteração,atualizaçãoouretificaçãodasdescriçõeseinscrições
(88º/1e100º).
2. OOBJETODOREGISTO
Quandosefalaemobjetodoregistotemseemvistaoatodeinscriçãoregistal.Acentuaseque
oregistotemporobjetofactosjurídicos(acompraevenda,apermuta,asucessão,etc.)enão
situaçõesjurídicas(direitosououtras).
Art.º1CódigodoRegistoPredial.
3. OTÍTULOPARAREGISTO
Comodissemos,ainscriçãoregistaltemporobjetofactosjurídicos,osfactoscujaordemjurídica
pretendequesejampublicitados.Paraquesejapromovidooregisto,porém,ofactoaregistar
temdeestartituladoemdocumentoescrito(43º/1CRP).
4. ALEGITIMIDADEPARAREGISTAR
Oart.º36afirmaquealegitimidadepararegistar:ouseja,quempodepediroregisto?
àspartesdonegóciojurídico;
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interessados:éaquelecujaposiçãojurídicapodeserafetadapelafaltaderegisto.São
tipicamenteoscredoresdoadquirente.Paraalémdestes,qualquerpessoaquepara
registar um facto que lhe respeita tenha de fazer outra inscrição previa, tem
legitimidadepararegistarofactodequedependeoseuregisto.
Deacordocomoart.º8B,todosaquelesquetenhamodeverderegistartêmlegitimidadepara
ofazer.
5. ALEGITIMAÇÃOREGISTAL
Prendesecomaregrasegundooqualsópodesertituladoumfactojurídicoseodisponente
tiverpreviainscriçãoregistalaseufavor.Estaregraconstadoart.º9/1.
Osnº2e3doart.º9atenuamosefeitosdaimposição,excecionandoquesejatituladoum
factoconstitutivooutranslativoemcasosnosquaisodisponentenãotemregisto.
Perguntase,noentanto,qualéovalorjurídicodoatodeconstituiçãooutransmissãodeum
direitoseomesmohouversidocelebradomesmosemodisponenteterregistodoseufacto
aquisitivo?
A,proprietáriodoprédioXcomregistodecompraevendaaseufavor,vendeapropriedade
aB,quenãoregista.Comcomplacênciadonotário,BvendeposteriormenteaC.
Segundooprof.MENEZESCORDEIROestamosperanteumanulidade.DeacordocomJAV,não
hámotivoparaanulidade.
Oart.º9/1nãoéumcomandodirigidoàspartes,masaonotárioouaojuizquetitulaoato.A
sua violação, não deve, por isso, atingir a eficácia do negocio pretendido pelas partes, mas
atingirsomenteoagentedaviolação.
Emsuma,havendoviolaçãodoart.º9/1onegócioéválido,havendolugaràaplicaçãodesanções
disciplinares,seforocaso.
II. PRINCIPIOSDOREGISTOPREDIAL
Oregistopredialtemosseguintesprincípios:
Obrigatoriedade;
Legalidade;
Instancia;
Tratosucessivo;
Prioridade.
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1º. PRINCIPIODAOBRIGATORIEDADE
A obrigatoriedade do registo dos factos elencados no art.º 2 e 3 do CRP (8ºA), embora se
prevejamalgumasexceções(8ºA/1).
Aobrigatoriedadedoregistonadatemahavercomosefeitosreais.
Como se explicou a propósito do principio da consensualidade, a eficácia real decorre do
contrato,porefeitodacelebraçãoválidadeste,enãodependedoregisto.
Aobrigatoriedaderegistalconcretizasepelaimposiçãodeumdeverderegistaraumacategoria
dedestinatários(8ºB).
2º. PRINCIPIODALEGALIDADE
Vemprevistonoart.º69CRP.
OCRPadotouumsistemadelegalidadesubstancial,ouseja,cabeaoconservadormaisdoque
aapreciaçãodorespeitopelaformalegalealegitimidadedaspartes,umverdadeirocontrolo
devalidadedoatosujeitoaregisto.
Havendoalgumaanomalia,oconservadordeverecusaroregistonoscasosprevistosdoart.º
69,lançandooregistocomoprovisórioporduvidanassituaçõesdoart.º70.
Oconservadornãopodetermaispoderesdoquetemojuiznumprocessocivil.
3º. PRINCIPIODAINSTÂNCIA
Estánoart.º41.Ainiciativapraticadosatosregistaispertenceaosinteressadosnoregisto;o
conservadornãolançaosregistosoficiosamente.
4º. PRINCIPIODOTRATOSUCESSIVO
Vemprevistonoart.º34doCRP.
O registo predial tem por finalidade dar a conhecer aos interessados a situação jurídica dos
prédios, deve patentear toda a sequencia dos factos jurídicos que respeitam a cada prédio
descrito.
Procurase,destemodo,queahistóriajurídicadoprédiosejaretratadapeloRegistoPrediale
queaconsultadestepelosinteressadosreveleosfactosjurídicosrelativosaele.
Exemplodeviolaçãodotratosucessivo:
AvendeuapropriedadeaB.Acompraevendanãofoiregistadaporninguém.Bconsegue
venderodireitoaCeoconservadorregistaaaquisiçãoafavordeste,semterantesinscritoa
vendaafavordeB.
Oregistofeitocomviolaçãodotratosucessivoénulo(16º/e).
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Este principio tem o conservador como destinatário e não os particulares que requerem o
registo. Por isso, a violação do mesmo é da responsabilidade do conservador, que o deve
respeitar(34º/1).
5º. PRINCIPIODAPRIORIDADE
Oart.º6comportaumaregradeprioridade,ouseja,deprevalênciaentredireitoscompatíveis,
quevaleantesdemaisparaosdireitosreaisqueseconstituemcomoregisto,nomeadamentea
hipoteca.
Comonenhumoutrodireitorealdegozo,garantiaouaquisiçãoseconstituicomoregistoete,
a sua oponibilidade a terceiros dependente do registo correspondente do facto aquisitivo, o
principiodaprioridadenãotemaplicaçãoquantoaqualquerumdessesdireitos.
III. EFEITOSSUBSTANTIVOSDOREGISTO
DIVERGÊNCIA ENTRE OREM REGISTAL
1. AORDEMSUBSTANTIVAEAORDEMREGISTAL E ORDEM SUBSTANTIVA
Osistemaportuguêsdáprevalênciaàordemsubstantivasobreaordemregistal,infereseisto
danaturezailidíveldoart.º7CRP.
• Incompletudedoregisto:quandoumfactoqueaeleestavasujeitonãofoiregistado.O
registoficadesatualizado,nãoexprimindoaeficáciajurídicadofactoquenãofoilevado
aregisto.
• Ineficáciadoregisto:abrangeassituaçõesdeinexistência(14º)edenulidade(16º):
Oregistoinexistentenãoproduzefeitos,podendoainexistênciaserrequerida
porqualquerpessoa;
A nulidade tem de ser declarada judicialmente e só depois do transito em
julgadodadecisãopodeserinvocada(17º).
Adesconformidadedeumregistoineficazésemelhanteàdesconformidadedeum
registoincompleto.Oatoregistalestáviciado.
• Inexatidãodoregisto:estápresentenoart.º18.E,podeserretificadonostermosdo
120º.
• Invalidade do facto jurídico registado: o registo é valido e apenas o facto jurídico
registadoseencontraferidodeinvalidade.Estenãoénulo,neminexato.Éapenasum
registodesconformeàordemsubstantiva.
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2. OSEFEITOSSUBSTANTIVOSDOREGISTOPREDIAL.ENUNCIAÇÃOGENÉRICA
Efeitopresuntivo;
Efeitoconsolidativo;
Efeitoconstitutivo;
Efeitoatributivoouaquisiçãotabular;
Efeitoenunciativo.
2.1. Efeitopresuntivo
Este efeito fundase no art.º 7. Estamos perante uma presunção ilidível, por conseguinte
suscetível de ser afastada mediante prova em contrário (350º/2). Quem tem a presunção
registalaseufavor,escusadeprovaratitulariedadedodireitoaqueoregistoalude.
Apresunçãofundadanoregistopodecolidircomapresunçãofundadanaposse(1268º/1),
aquiprevaleceamaisantiga.Istoquerdizer,queapresunçãoassentenoregistopredialnão
valenadasehouverumaposseanterioraoregisto.
Apresunçãoregistalvalenoscasosdetitulonulo,masnãoderegistojuridicamenteinexistente
(art.º15/1).
2.2. Efeitoconsolidativo
Porforçadoprincipiodaconsensualidade(408º/1),aconstituiçãooutransmissãododireitoreal
opera por mera eficácia do contrato, portanto, independentemente do registo, que, para o
efeito,nãoénecessário,podendodeixardeserfeito.
Nestecontextonormativo,oregistonãoéparteintegrantedofactoaquisitivododireitoreal.
Perguntaseentão,queefeito(substantivo)temoregisto?
Evitaaaquisiçãotabulardeumterceiro.
2.3. Efeitoconstitutivo
Oregistonãotemefeitoconstitutivo,oúnicocasoqueteméahipoteca.
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Se o registo estiver incompleto existe o risco de quem vier a praticar um ato jurídico nada
adquira,nomeadamentepelotitularinscritonãoserotitulardodireitonaordemsubstantivae
nãoter,desdemodo,legitimidadeparadispordoseudireito.
AvendeuaBapropriedadedoprédioX.Estavendanãofoiregistada.Emseguida,Aconstando
aindadoregistodoaoprédioxaC.Esteregistaasuaaquisição.
Atendendoaqueaordemsubstantivaprevalecesobreaordemregistal,otitulardodireito
realpodepedireobter,emprincipio,ocancelamentodoregistopredialdonãotitular(art.º
13),quevê,assim,asuaposiçãoaserdestruída.
Oscasosdeineficácia,deinexistênciaedenulidadejurídicadoregistoacrescentamoutrotrecho
dedesconformidade.
Protegerumterceiroque“adquire”umdireitonabasedeumasituaçãoregistaldesconforme
àrealidadesubstantivasignificapreterirsempreotitulardodireitorealnaordemsubstantiva,
emultimaanalise,oproprietário,afavordequemnãoadquiriuvalidamenteoseudireito.
A proteção de terceiros com base na ordem registal, a acontecer, constitui umainversão da
prevalênciadaordemsubstantivasobrearegistaleergueoatoderegisto(inscriçãoregistal)
emverdadeirofactoaquisitivodedireitosreais.
Estaproteçãodenominaseaquisiçãotabulareconstituiumasituaçãojurídicaexcecional.Esta
proteçãotemcomofundamentoafépublicaregistal.
Existemquatropreceitosondedeveradicarumaaquisiçãotabularouefeitoatributivodoregisto
predial:
• Art.º5CRP;
• Art.º17/2eart.º122CRP;
• Art.º291CC.
A. AQUISIÇÃOTABULARDOART.º5CRP:
Oart.º5/1comoobjetoaproteçãodeterceirosque,confiandonaaparênciadeumasituação
registaldesconformeàrealidadesubstantiva,celebraumnegóciojurídicoinvalidocomotitular
inscritoeregistaasuaaquisição.
Paraaplicarmosoart.º5têmdeestarpreenchidosalgunsrequisitos:
1º. Requisito: abrange apenas os casos de registo incompleto (nos quais um terceiro
adquireumdireitodeumnegóciojurídicoinvalido,concretamentenulo,porfaltade
legitimidadedoseudisponente)eregistaofacto.
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AvendeapropriedadedoprédioXaBeestenãoregista.Avendeapropriedadedo
prédio X a C. A primeira situação está desconforme pois como não foi registada,
aparentementeAaindacontinuaaserproprietáriodoimóvelX.
2º. Requisito:paraoterceiroserprotegidotemdeinscreverofactoaquisitivo.Semregisto
docorrespondentefactooterceironãoobtémproteção.
Caso o titular do direito real na ordem substantiva registe a sua aquisição antes do
terceiro,estenãobeneficiarádasuaproteçãoregistal.
Queméoterceiroparaefeitosderegisto?
Deacordocomaconceçãorestritivaadotadanoart.º5/4,sóficaprotegidooterceiroque,tendo
registadoasuaposição,hajaadquiridodomesmodisponenteodireitorealincompatível.
Acomregistoaseufavor,vendeuapropriedadedoprédioXaB,quenãoregistou.Omesmo
A vende depois o mesmo direito a C, que regista a sua aquisição. C tem um “direito”
incompatívelcomBeadquiriuesse“direito”deautorcomum,A.Céterceiroparaefeitosdo
registopredialsegundoaconceçãoassentenoart.º5/1e4doCRP.
3º. Requisito:aproteçãoregistalestálimitadaaosterceirosquetenhamadquiridooseu
(pseudo)direitodamesmapessoaqueotransmitiuaotitulardodireitoincompatível.O
que restringe a proteção registal aos casos de dupla disposição. Ou seja, a mesma
pessoadispõeduasvezesdomesmodireitorealsobreomesmoprédio.
AvendeaBodireitodepropriedadesobreoprédioX.Bnãoregista.Avendeposteriormente
apropriedadedoprédioXaC,queregista.
Aprimeiravendaévalidanaordemsubstantiva.Osegundoatodedisposiçãoé,porém,nulo,
porfaltadelegitimidadedodisponente.Seestedispôsdodireitonoprimeiroato,jánãotem
legitimidadeparadispornosegundoato(939º892ºCC).
Contudo, uma vez que o registo está incompleto, e enquanto estiver, qualquer interessado
consegueregistarosegundoatodedisposição.
Estasituaçãoassemelhaseaoseguinteesquema:
B
AR
CR
Osignificadodestaproteçãoéaaquisiçãoporviatabulardeumdireitoquenãohaviaadquirido
naordemsubstantiva.Oterceiroadquireporforçadoregistoodireitorealaqueserefereasua
inscriçãoregistal.Daífalarseemefeitoatributivodoregistopredialouaquisiçãotabular.
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4º.Requisito:queoterceiroestejadeboafé.Oart.º5/1nãofazqualquermençãoàboa
fé, mas esta é a imposição decorrente da integração sistemática do preceito e da sua
teleologia.Aproteçãodoterceirotemporfundamentoafépublicaregistalevisapreservar
aconfiançaqueoregistopredialdevesuscitarenquantoinstituiçãoorganizadaemantida
peloEstado.
Compreendesequeoterceirodemáfénuncarecebaaproteçãoregistal(oterceiroque
desconhececulposamenteestádemáfé).
Oconceitorelevanteparaaboafédetodasasmodalidadesdeaquisiçãotabularestáno
art.º 291/3 CC e apresenta a boa fé subjetiva ética, ou seja, não basta, pois, o mero
desconhecimento,temdeserumdesconhecimentodesculpável.
5º.Requisito:oterceirotemdecelebrarumnegóciojurídicooneroso.
Emsuma,temoscomorequisitos:
Préexistênciadeumregistodesconformeàrealidadesubstantiva(registoincompleto);
Atodedisposiçãopraticadocombasenasituaçãoregistaldesconforme;
Boafédeterceiro;
Caracteronerosodonegóciojurídicodedisposição;
Queoterceiroregistoasuaaquisiçãoantesdoregistodofactoaquisitivodotitulardo
direitorealnaordemsubstantiva.
Estandoverificadostodosestesrequisitosoterceiroadquireodireitoquelheétransmitido.
B. AQUISIÇÃOTABULARDOART.º17/2CRP
Estepreceitoligasediretamenteàdeclaraçãojudicialdenulidadedoregistoprevistanonº1.
Oterceiroqueadquiraumaposiçãojurídicacombasenumregistonulopodeteradquiridoa
alguémquenãoerasubstantivamenteotitulardodireitorealquefoiobjetodedisposição.
Aleiregistaldispõeassim,queverificadososrequisitosdo17º/2,oterceiroadquirentenãovê
asuaposiçãoaserafetadapeladeclaraçãodenulidadedoregistopredial.
O 17º/2 só tem aplicação nos casos em que o ato de disposição fundado no registo nulo é
invalido,porfaltadetitularidadedodireitorealcombasenoqualesseatoécelebrado.
Porisso,apenasquandooregistonuloinduzumadesconformidadecomaordemsubstantiva
temlugaraaplicaçãodoart.º17/2.
Emsegundolugar,o17º/2sóatuacontraotitulardodireitorealquenãotenharegistodo
factoaquisitivodoseudireito.Seesteregistoexiste,opreceitotambémnãoiráteraplicação.
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Oefeitoatributivodoregistopredialnãoprevalecesobreoefeitoconsolidativo,queédefinitivo.
Se o titular do direito real na ordem substantiva regista o facto aquisitivo, consolida
definitivamente a sua aquisição, fica protegido contra uma eventual aquisição tabular de
terceiro.
Porisso,oefeitoatributivosósecompatibilizacomoefeitoconsolidativoquandootitulardo
direitorealnaordemsubstantivanãotiverregistoaseufavor.
Podemossistematizaralgunsrequisitosparaaaplicaçãodoart.º17/2:
1.º :préexistênciadeumregistonulo(comdesconformidadesubstantiva).Oregistoé
nulonoscasosdoart.º16,ficandodeforadoscasosdoregistojuridicamenteinexistente
(14º).
2.º :Atodedisposiçãofundadonoregistonulo.Ouseja,otitularinscritodispõedoseu
pseudodireitoafavordeumterceirocombasenoregistonulo.
3.º :queoterceiroestejadeboafé,deacordocomoart.º291/2(boafésubjetivaética).
4.º :Onerosidadedaaquisiçãodoterceiro.
5.º : O registo do facto aquisitivo do terceiro tem de preceder o registo da ação de
declaraçãodenulidadedoatodedisposiçãofundadonoregistonulo,quenãoé,por
conseguinte,otitulardodireitorealnaordemsubstantiva.
O art.º 17/2 protege um terceiro subadquirente, cuja posição adveio da celebração de um
negóciojurídicocomotitularinscritocomregistonulo,quenãoé,porconseguinte,otitulardo
direitorealnaordemsubstantiva.
Notese que o terceiro protegido nunca é aquele que beneficia do registo nulo, mas sim o
adquirenteemnegócioconcluídocombasenoregistonulo,umsubadquirente.
Para além de ser reportar a uma situação se subaquisição, o art.º 17/2 distinguese
nomeadamentedoart.º291CC,queprotegeigualmenteumsubadquirente,poroseuâmbito
deaplicaçãosuporapreexistênciadeumanulidaderegistalenãoumainvalidadesubstantiva.
Tratasedeumasubaquisiçãocomnulidaderegistal.
Assim,oart.º17/2atribuiodireitorealaqueserefereofactoregistado,adquirindooterceiro
odireitoreal.
C. AQUISIÇÃOTABULARDO291ºCC
Oart.º291éumpreceitoatinenteàaquisiçãotabular,pressupondo,porissoapréexistência
deumregistodesconformeàrealidadesubstantivaporinvalidadedonegócioregistado.
Ofundamentodaproteçãoéomesmodasoutrashipóteses:fépúblicaregistal.
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O291ºprotegeosubadquirentecominvalidadesubstantiva.
AdoouaBapropriedadedoprédioX,tendoesteultimoregistadoasuaaquisição.Emseguida
BvendeomesmodireitoaC,quetambémregista.EntretantoDfazdeclararjudicialmentea
nulidadedadoaçãodeAaB.Comanulidadedoprimeironegócio(dadoação),Bvêafeadaa
sualegitimidadeparatransmitirvalidamenteodireitoaC;estavendaé,poisnula(892º).Como,
nomomentodoregistodasuaaquisição,oregistopredialostentavaapropriedadedeB,seu
vendedor,colocaseoproblemadaproteçãodeCdefrontedeA.Éesseoproblemaqueo291º
pretenderesolver.
Portanto,oart.º291temporescopodefiniraproteçãodoterceirodeboaféqueadquirea
suaposiçãocombasenumregistodesconformeporinvalidadesubstantivadonegóciojurídico
registado.
Paraaplicarmoso291ºtêmdeestarpreenchidosalgunsrequisitos:
1.º Requisito: a situação registal desconforme com a realidade substantiva, por força da
inscriçãodeumnegóciojurídicoinvalido,nuloouanulável,ouseja,apréexistenciade
umregistodesconformeporinvalidadesubstantivadonegóciojurídicoregistado.
2.º Requisito:devehaverumatodedisposiçãododireitoaquesereportaofactoregistado.
O titular inscrito praticou um ato de disposição negocial do seu “direito” a favor de
terceiro.Esseatodedisposiçãoestáferidodeilegitimidade,causando,destemodo,a
nulidadedonegóciojurídicocelebradoe,comisso,anãoproduçãodaeficáciarealno
planosubstantivo.
3.º Requisito: o terceiro só recebe a proteção se estiver de boa fé (nº3). É uma boa fé
subjetivaética.
4.º Requisito:sóoadquirenteemnegócioonerosovemaserprotegido.
5.º Requisito: o terceiro tem de registar a sua aquisição antes do registo da ação de
declaraçãodenulidadeouanulaçãodonegóciojurídico.
6.º Requisito: se a ação de declaração de nulidade ou de anulação do negócio jurídico
invalidoforpropostaeregistadanostrêsanossubsequentesàsuacelebração,osefeitos
da invalidade produzemse, arrastando consigo a nulidade dos negócios jurídicos
subsequentes.
Oprazode3anoscontasedadatadacelebraçãodoprimeironegócioinvalido,aquele
justamentequeafetaalegitimidadenegocialdossucessivosdisponentes,enãodecada
umdossubsequentesnegóciosquevenhamaserposteriormentecelebrados.
Decorridosos3anosdoart.º291/2,oterceiroquereúnacumulativamenteosrestantes
requisitosficaprotegidocontraotitulardodireitorealnaordemsubstantiva.Istoquer
dizer,queadquiretabularmenteodireitorealaquesereportaoregisto.Oart.º291
constituiumdoscasosdeefeitoatributivodoregistopredialprevistosnaordemjurídica
portuguesa.
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Oefeitoatributivodoregistopredialdásesemprecontraalguém,emúltimaanalise,contrao
proprietáriodoprédio.Podeafetarigualmenteoutrosdireitosreaismenores,masrepercutese
semprenapropriedade.
I. Aaquisiçãotabularpoderespeitaraqualquerdireitorealcujofactoaquisitivoesteja
sujeitoaregisto,nomeadamentedireitosreaismenores.Vamosentãoanalisaresta
questão.
A,comregistoaseufavor,doouaBapropriedadedoprédioX.Adoaçãonãofoiregistada.
PosteriormenteomesmoAvendeuaCodireitodesuperfície,tendoesteultimoregistado
deimediatoasuaaquisição,antes,portantodoregistodadoação.CasoCestejadeboafé,
eleadquiretabularmenteodireitodesuperfície(art.º5CRP),vistoquedopontodevista
substantivoavendaénula,porfaltadelegitimidadedeAparaavenda(892ºCC).
Aproteçãodestaaquisiçãosobraaposiçãodoproprietárioéevidente:apropriedadefica
oneradacomodireitorealmenoradquiridotabularmente.
Emcasoscomoeste,emqueoefeitoatributivodpregistosedánostermosdodireitoreal
menor,oproprietáriovêoseudireitoficaroneradocomodireitorealmenor.Nãoháaqui
qualquerextinçãoaconsiderar.
II. Umahipótesediversaéaqueleemqueaaquisiçãotabulartemlugarrelativamente
àpropriedade.
Parecenoscrucialadmitirqueapropriedadedoterceirodeboafépelaaquisiçãotabularse
fazcomosacrifíciodaposiçãodoanteriorproprietário,cujodireitoseextingue.
Oefeitoatributivodoregistopredialéoresultadodeumavaloraçãofavorávelàprevaleça
da situação registal sobre a situação substantiva e, portanto, à extinção da propriedade,
quandoesteforodireitoconflituantecomaposiçãodoterceiro.
Emsuma,dáseaextinçãododireitorealincompatível,aplicandoseatodososcasosda
mesmanatureza.
NOTA:ausucapiãoeoefeitoatributivo:Oterceiroquebeneficiadeaquisiçãotabularnãopode
fazer valer a proteção registal contra o titular do direito real adquirido por usucapião. A
usucapião que impede o efeito atributivo do registo predial é a que resulta do regime geral
previstonosart.º1287ess.Elapoderesultartantodasucessãodepossestalcomodaacessão.
2.5. Oefeitoenunciativodoregisto
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O registo pode não desempenhar uma função de publicidade relativamente a alguns atos
suscetíveisderegisto.Sãoestesosatosdo5º/2eaposse.
Osatosrelativamenteaosquaisoregistoéenunciativopodemnãoconstardoregistopredial
quenemporissootitulardodireitorealficasujeitoaperderoseudireitoporfaltadele.
Assim, vimos anteriormente que o beneficiário da usucapião não registada pode invocala
contraterceirodeboaféqueregistaasuaaquisição.
Afaltadoregistonãoimpedeosucessodainvocação,poisapublicidaderegistalémeramente
enunciativaquantoàusucapião.
CAPÍTULOIII–OCONTÉUDODOSDIREITOSREAIS
I. OCONTEÚDOPOSITIVODOSDIREITOSREAIS
O direito real tem uma coisa corpórea por objeto. O escopo legal deste direito está em
providenciaraotitularoaproveitamentodela.
Cadadireitoreal,namedidaemquetemumconteúdoespecifico,permiteoaproveitamento
diferentedosdemaisdireitosreais.
A ordem jurídica implementa um principio de numerus clausus, limita à partida o
aproveitamentodacoisaaostiposlegaispreviamentedefinidos,nãoreconhecendonenhum
outroaproveitamento,pelomenos,sujeitoàdisciplinadosdireitosreais,jáqueaafetaçãode
umacoisacorpóreapormeiodedireitospessoaisdegozonãoconheceentraves.
Os tipos de direitos reais consagrados podem ser agrupados em categorias em atenção ao
escopodeaproveitamentoqueatribuemaotitular:
1. Direitosreaisdegozo:ogozodacoisa;
2. Direitosreaisdegarantia:agarantiadocumprimentodeumaobrigação;
3. Direitosreaisdeaquisição:aaquisiçãodeumoutrodireito.
Oaproveitamentodacoisapelotitulardodireitorealédefinidopeloconteúdodessedireito,
quefixaotipolegaldodireitoreal.Aoconteúdododireitorealpertencemsituaçõesjurídicas
ativasepassivas.
Oconteúdododireitorealémuitasvezesdescritocomointegrandovários“direitos”.Utilizando
oexemplodoart.º1305apropriedaderepresentaoúnicodireitoaconsiderarnesteartigo;o
uso, a fruição e a disposição não são direitos, constituindo situações jurídicas menores
(poderesefaculdades)queintegramodireitodepropriedade.
Ousoeafruiçãoquesurgemnoconteúdodosdireitosreaisdegozoconstituempoderesem
sentidotécnico.Jáadisposiçãopodeserdecompostaemváriassituaçõesjurídicasmenores:na
alienaçãoouoneraçãododireito,sendoporissoumafaculdade.
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Oestudodoconteúdodosdireitosreaiscompreendeigualmenteavertentepassivadodireito.
Dentro do conteúdo do direito real distinguimos o conteúdo típico injuntivo (normas
imperativas)eoconteúdosupletivo.
Relativamenteàsprimeiras,estasregrasjurídicasnãopodemserafastadaspelosparticulares
atravésdeclausulasnegociaissobpenadeviolaremoprincipiodatipicidade.
O regime jurídico da maioria dos direitos reais deixa alguma margem de conformação do
conteúdododireitorealnadisponibilidadedosparticulares.
1. Oconteúdodosdireitosreaisdegozo
Osdireitosreaisdegozopermitemoaproveitamentodacoisaatravésdogozo.
Noseuconjuntoogozocompreendeospoderesde:uso,fruiçãoetransformaçãodacoisa.Estes
constituemonúcleodogozodacoisaquecaracterizaacategoriadosdireitosreaisdegozo.
Todososdireitosreaisdegozocombinamemmedidadiversaospoderesdegozo.
Écerto,queapropriedadecompreendetodosospoderesdegozo,nasuaextensãomáxima;
osrestantesdireitosreaisdegozo,cadaumdelestemoseuconteúdotípico.
Oconteúdodosdireitosdereaisdegozonãoestálimitadoaospoderesdegozo.Estesdireitos
tambémintegramafaculdadededisposiçãonoseuconteúdo.
Acategoriadosdireitosreaisdegozoautomatizasepelofactodeatribuirogozodacoisa,na
medidavariável,enãoporconteúdodessesdireitosselimitaraele.
II. OCONTÉUDONEGATIVODOSDIREITOSREAIS
Salteipág.288a291.
CAPÍTULOIV–ACOMUNHÃODEDIREITOSREAIS
I. Comunhãogeraleespecial
Aplica-se o regime da
compropriedade de forma direta (e
não por analogia) ao regime da Oregimejurídicodacomunhãoemgeralencontrasenosartigos1403ºess.
comunhão de dtos de propriedade.
Em dtos reais, a compropriedade Encontramos,todavia,regimesdacomunhãoemespecial,taiscomo:1370ºa1375º;1398ºa
constitui apenas a comunhão do dto
de propriedade, podendo existir 1492º;1420ºess.
comunhão de outros dtos reais, de
gozo, garantia e aquisição.
II. Aconstituiçãodacomunhãoemdireitosreais
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ResumosExameDireitosReais
A comunhão pode resultar dos mesmos factos jurídicos que desencadeiam a constituição de
váriosdireitosreais.
Assim,acomunhãopodeconstituirse:
• Factojurídiconegocial,contratual(compraevenda,doação,permuta,etc.);
• Factojurídiconãonegocial(usucapião,acessão,ocupação);
• Porforçadalei;
• Pordeclaraçãojudicial.
A comunhão de direitos reais advém da existência do concurso de vários direitos reais da
mesma espécie sobre a uma mesma coisa, pelo que o facto que constitui a comunhão deve
determinaraaquisiçãododireitorealporumapluralidadedepessoas.
III. Oconteúdododireitodocomunheiro
Cadacomunheiroétitulardeumdireitoindependentedosdemais,comaparticularidades
destedireitopartilharoseuobjetocomoutrosdireitosreaisdamesmaespécie.
Assim,ocomproprietário,sendoumproprietário,temoconteúdododireitoquealeifixapara
apropriedadesingular(1305º).Eomesmosedigaquantoaocousufruto,àcosuperficie,eaos
demaisdireitossuscetíveisdecomunhão.
Portanto, o conteúdo do direito real do comunheiro corresponde ao aproveitamento
A comunhão trás especificidades ao
permitidopelotipolegaldedireitorealqueestiveremcomunhão. conteúdo do dto do comunheiro.
Mas,háalgumasespecificidadesrelativamenteaoconteúdododireitodocomunheiro:
Quantificação da posição do comunheiro numa porção ideal ou abstrata da coisa
comum: a quota. A quota não faz variar o conteúdo do direito do comunheiro, mas
diferencia a posição dos comunheiros no exercício de alguns poderes e deveres que
fazempartedele.
Comoconteúdonegativo:ocomproprietárionãopodeprivarosoutroscomunheiros
dousoaquetambémtemdireito(1406º).Todososcomunheirosquetenhamdireito
aousodacoisa,sejaqualforodireitodegozoconsiderado,sofremaincidênciadeste
dever,quelimitaaextensãodogozoadmitidapelotipodedireitorealemcomunhão.
IV. Aquotadocomunheiro
Asquotasdoscomunheirosresultamdotituloconstitutivo.Porém,seesteforomissoquantoa PIRES DE LIMA e ANTUNES
VARELA exemplificam com o diferente
elas,aleipresumequeasquotasdoscomunheirossãoiguais(1403º/2fim). preço pago pelos compradores num
contrato de compra e venda, que seria
indicstivo de uma quota proporcional ao
A indicação do valor das quotas não tem de ser expressa, podendo resultar do contexto do montante do preço suportado por cada
negóciooudeoutrascircunstanciasreveladasnotituloconstitutivo. um deles.
Aquotadocomunheironãotemdepermanecersempreamesma,podealterarse:
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• O valor da quota do comunheiro pode variar por força da eficácia de factos
supervenientes que tenham justamente o efeito de alterar o valor da mesma. O
comunheiropodedispor(vender,doar,trocar)detodaoupartedasuaquota(1408º/1).
A posse da coisa nos termos de uma quota de valor superior - p.e. Por inversão do título da posse (art. 1406°, n°2
• Ausucapiãopodealteraraquota. no fim) - possibilita ao possuidor a usucapião do dto do comunheiro preterido na posse.
• Iusadcrescendi:foiexpressamenteprevistoparaarenuncialiberatória(1411º/3),mas
aregravaleigualmenteparaarenúnciaabdicativa.Seumcomunheirorenunciaoseu
direito,esteacresceaosoutrosnaporçãodasrespetivasquotas.
À quota estão associados efeitos importantes, tais como os dos art.º: 1405º/1; 1407º/1;
1409º/3;1411º.
V. Opoderdeusaracoisa
Oart.º1406/1regulaopoderdousodocomunheiro.Cadacomunheiropodeusarlivremente
acoisa,independentementedovalordasuaquotae,portanto,aindaqueestasejamínima.
A quota do comunheiro não tem projeção sobre o uso da coisa, que é igual para todos os
comunheiros,sejaqualforovalordasrespetivasquotas.O uso a que os comunheiros têm direito é o uso integral da coisa, de toda a coisa, e
todos eles podem usar a coisa simultaneamente, contando que tal seja possível.
Ousodocomunheiroestásujeitoadoislimites:
Oregulamentodousodacoisacomumtemeficáciameramenteobrigacionalevinculaapenas
oscomunheirosqueohajamcelebrado,mesmoqueconstedoregistopredial.
Comefeito,talregulamentonãopodeenvolveraperdadefinitivaouso,sobpenadeviolação
doprincipiodatipicidade.
(Art. 1306°, n°1) se o tipo de dto real contempla o uso da coisa, a renúncia a este aspeto do conteúdo
do direito arrasta necessariamente a criação de um direito real atípico.
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ResumosExameDireitosReais
VI. Opoderdefruiredebeneficiardeoutroscréditosouvantagens
geradaspelacoisa
Opoderdefruiçãotemumaexpressãoquantificadaqueédadapelaquota.
Contandoqueodireitorealemcomunhãoatribuiopoderdefruir,cadacomunheirotemdireito
aosfrutosnaproporçãodasuaquota(1405º/12ªparte).Aregraéamesmaparaoscréditose
outrosproveitosdacoisa. O poder de fruição é de exercício individual
Opoderdefruiçãotemdeserconjugadocomopoderdeadministração.Senaadministração
estes concordarem um momento para a colheita dos frutos, o comunheiro deve respeitar o
momentodessadeliberação.
VII. Opoderdetransformaracoisa
Envolve ou pode envolver a alteração da substancia da coisa, o seu exercício cabe
conjuntamenteatodososcomunheiros.
A lei portuguesa é omissa quanto à falta de acordo dos comunheiros no exercício do poder de
Emcasodefaltadeacordodevemrecorreràviajudicial. transformação. Parece imperativo o recurso ao tribunal, para que este decida das pretensões
divergentes dos comunheiros.
Regimejurídicodeatosdedisposiçãodo Atosdedisposiçãosobreacoisacomum,de
direitodocomunheiro:oprincipioéodalivre
todaoupartedela:nãopode.–irpágina24.
disponibilidadedodireitodocomunheiro.Este
podealienaroseudireitoaterceiro,notodo
ouemparte,comopodeonerálo,constituindo
outrosdireitosreais.
Opoderdedisposiçãoenvolveigualmentearenunciaaodireito.Arenúnciapode,noentanto,
serabdicativaouliberatória.Sãoambasadmissíveis?
Nãohánenhumareferencianoregimeda Éadmissívelporviadoart.º1411.Arenuncia
comunhão.Éadmissível.Noentanto,aoabrigo nãodependedoconsentimentodosoutros.
dopoderdedisposiçãoincluídonodireitoreal,
ocomunheiropodevalidamenteeeficazmente
renunciaraoseudireito.Estarenuncianão
dependetambémnoconsentimentodos
restantescomunheiros.
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ResumosExameDireitosReais
Emcasoderenúncia,verificaseoacrescerdaposiçãodosoutroscomunheiroseosdireitosdos
outroscomunheirosexpandese,numamanifestaçãodeelasticidadedosdireitosreais.
IX. Opoderdepreferirnavendaounadaçãoemcumprimentoa
terceirosdodireitodocomunheiro
Oart.º1409confereaocomunheiroopoderdepreferência,masapenasnocasodevendaou
daçãoemcumprimento.
Cadaumexerceopoderdepreferirnaproporçãodasuaquota(1409º/3).
Caso algum dos comunheiros não queira preferir, a preferência cabe aos demais segundo as
regrasdaporporçãofixadano1409º/3.
Serestarapenasumdoscomunheirosapreferir,elepodepreferirpelatotalidade.
X. Opoderdeadministraracoisacomum
Cada comunheiro tem no conteúdo do seu direito o poder de administrar a coisa comum
(985º/1+1407º/1).Todososcomunheirostêmigualpoderparaadministraracoisacomum,
independentementedovalordecadaquota.
Tambémsepodemoporaatosdeadministração(985º/2+1407º/1).
Havendoconflitoentrecomunheirossobreadecisãoatomar,cabeàmaioriadecidir.Oart.º
1407º/12ªp.afirmaqualamaiorianecessária.
Oart.º985abreapossibilidadedeaadministraçãodacoisacomumserentregueaalgumou
algunsdoscomunheirosnostermosdeconvençãoacordadaentreeles.
Mas e se a oposição se gerar só após a
Nafaltadeacordodosadministradores,deveentendersequeasdeliberaçõessãotomadas prática do ato? — O poder de oposição
pode ser exercido pelo comunheiro mesmo
pelamaioriadeles,independentementedofactoderepresentaremounãometadedovalordas após a prática do ato jurídico de
administração por outro comunheiro. No
quotas,salvoseoregulamentodeadministraçãodispuserocontrário. entanto, se a maioria legal decide em
sentido contrário a ele, não é a sua
Osatosjurídicospraticadospelocomunheirocontraadecisãodamaioriadoscomunheiros validade que está em causa, uma vez que
essa é aferida no momemto da sua prática,
são anuláveis a requerimento de qualquer um dos comunheiros. Estes atos podem ser mas antes a respetiva eficácia jurídica. O
desfeitos, repondose a situação anterior. O comunheiro será civilmente responsável pelos ato jurídico será ineficaz perante os outros
comunheiros.
danoscausadosaosrestantescomunheiros(1407º/3).
XI. Opoderdedisposiçãodacoisacomum
Esteéopoderdedisposiçãodetodaoupartedacoisacomum.Comesteefeitodispõeoart.º
1408.
Ocomunheiropodedispordoseudireitocomoquiser,masselhefossepermitidofazeromesmo
quantoàcoisacomumoupartedela,eleestariaadisporsobreumacoisaquenãoésua,ounão
éapenassua.
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ResumosExameDireitosReais O poder de disposição da coisa ou de parte especificada dela é um poder de exercício conjunto com os
outros comunheiros e sujeito à regra da unanimidade.
Oatodedisposiçãodeparteespecificadadacoisaoudetodaeletemdesercelebradocomo
consentimentodetodososcomunheiros,anãoserquehajaconsentimentoprévio(prestado
namesmaformadoatodedisposição).
Afaltadeconsentimentoprovocaumvíciodeilegitimidade.Oatodedisposiçãoéhavidocomo
disposiçãodecoisaalheia(1408º/2).
Art. 892° e 939°
Onegóciocelebradosemoconsentimentoénuloeineficaz.
XII. Opoderdesuscitaradivisãodacoisacomum
Ocomunheirotemopoderpotestativodeaqualquermomento,pediradivisãodecoisacomum
(1412º).Essadivisãoéfeitanostermosdoacordoaquetodososcomunheiroscheguem,oqual
estásujeitoàformadacompraevenda(1312º/2).
Casooscomunheirosnãocheguemaacordoélicitoorecursoaotribunal(1413º/1).
Os comunheiros podem convencionar a indivisão da coisa no título constitutivo ou
posteriormente(1412º/1).
XIII. Opoderdereivindicação
Podeefetuaradefesacomrecursoatodososmeiosdetuteladoordenamento.
Iraoart.º1405/2.
XIV. O dever de pagar as despesas e de participar nos encargos
geradospelacoisa
Participanosencargosedespesasnaproporçãodasuaquota(1405º/1+1411º).Nadaimpede
ummétododiferenteacordadoentreoscomunheiros.
XV. Extinçãodacomunhão
Aextinçãodacomunhãoocorrequando:
1. Acoisaperece;
2. Osdireitosdoscomunheirosseextinguem:podeocorrercomarenuncia,expropriação,
decursodoprazo,usucapião;
3. Direitossãoadquiridosporumaúnicapessoa;
4. Quandoacoisajuridicamentedivisívelédividiapeloscomunheiros.
Aextinçãopodeterlugarjudicialmentecomoextrajudicialmente(1413º/1).
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ResumosExameDireitosReais
CAPÍTULOV–OSFACTOSJURÍDICOSCOMEFICÁCIAREAL
I. FACTOSCONSTITUTIVOSDODIREITOREAL
Existemapenastrêsfactosjurídicoscomeficáciaconstitutivaparatodasascategoriasdos
direitosreais:
1. Alei;
2. Adecisãojudicial;
3. Onegóciojurídico.
A. AUSUCAPIÃO
Ausucapiãosurgecomoumfactoconstitutivoquerespeitaunicamenteaosdireitosreaisde
gozo.
Ausucapiãosópermiteaaquisiçãodedireitosreaisdegozo.Nenhumoutrodireitorealoude
outranaturezaésuscetíveldeusucapião.
Todavia,nemtodososdireitosreaisdegozosãousucapiveis:nãosãosuscetíveisdeusucapião
o direito de uso, habitação, servidões prediais não aparentes (1293º CC) – não podem ser
aquiridosporusucapião.
Nada obsta à aquisição por usucapião dos direitos nus. Assim, a nua propriedade pode ser
adquiridapelopossuidorformalqueexerceumapossenostermosdapropriedadeoneradapor
usufrutoouporumasuperfície.
Ausucapiãotemaextensãodaposseexercida,apenaspermitindoaaquisiçãododireitoaque
elaserefere,asuaeficáciaocorrenosprecisostermosdaposse.Seestaseexteriorizacomo
umapropriedadeonerada,odireitoéusucapidonostermosdaposseexercida.
1. REQUISITOSGERAISDAUSUCAPIÃO:
a. Umaposseboaparausucapião:
b. Odecursodoprazolegaldaposse(duraçãodaposse);
c. Ainvocaçãodausucapiãopelopossuidor.
1.1. Aposseboaparaausucapião
26
ResumosExameDireitosReais
Nem toda a posse serve para este efeito. A posse boa é a posse que tem de revestir
determinadoscaracteres,nomeadamenteserpublicaepacifica(coisasimoveis–1297º;coisas
móveis–1300º).
Seausucapiãoforadquiridadeformaviolenta,oprazosócomeçaacontarapartirdomomento
emqueelasetornarpacifica,destemodoaposseocultanãocontaparaausucapiãoatése
tornarpublica.
Háaquiumterceirorequisito:sercontinuaeinterrupta–apossesópodeservirparaausucapião
seopossuidoramanteveduranteoprazolegalparaoefeito,masnãosetratadeumrequisito
atenienteàposse,massimàduração,logonãotemosaquiumterceirorequisito.
Aposseboaéaverdadeiraposse.Adetençãoouposseprecárianãopodefundarusucapião
(1290º)–apenasosdetentoresquehajaminvertidootitulodapossee,sejamporconseguinte
possuidores,podembeneficiardausucapião,começandoacontaroprazonarespetivadatade
inversão.
1.2. Aduraçãodaposseparaefeitosdeusucapião:
O principal critério da lei para distribuir a duração, reside na distinção de coisas móveis e
imóveis.
a. Relativamenteàscoisasimóveis:
• Possuidores que tenham titulo aquisitivo + registo: 1294º este artigo
estabelecedoisprazosdiferentes,queropossuidorestejadeboaféoumáfé:
Havendoregistoeboafédopossuidoroprazosão10anos.Contando
seoprazoapartirdadatadoregisto(al.a);
Havendoregistodetituloemáfédopossuidor,oprazoéde15anos.
Contaseoprazoapartirdadatadoregisto(al.b).
A existência de um titulo não se confunde com a existência de um titulo válido. Os títulos
podemserinválidos,desdequeainscriçãoregistaltenhasidofeitaemconformidadecomas
disposiçõesregistais.Existeaquitituloregistadoparaefeitosdausucapião,aindaqueofacto
jurídicosejainválidoeopossuidorpodeinvocarausucapiãonostermosdo1294º.
• Titulo aquisitivo, mas não têm registo: 1296º também se aplica se o
possuidornãotivertitulonenhum.Aquialeitambémutilizaocritériodaboa
féoumáfédopossuidor.
Nãohavendoregistodotituloesendoapossedeboafé,oprazoéde
15anos;
Nãohavendoregistoesendoapossedemáféoprazoéde20anos.
Contudo,aleiportuguesaprevêummododeopossuidorsemtituloousemtituloregistável
poderobterumtitulojudicialeregistalo,beneficiandoassimdaaplicaçãodeprazosmenores.
Comefeito,oart.º1295/2prevêqueopossuidorpossadeclararjudicialmentequepossuiposse
publica e pacificamente uma coisa nos termos de um direito,desde que a posse tenha pelo
menos5anos.
27
ResumosExameDireitosReais
Comoregistodadecisãojudicial(meraposse),oprazodausucapiãoserá:
• Cincoanoscontadosdadatadoregisto,seapossefordeboafé(1295/a);
• Dezanoscontadosdadatadoregisto,seapossefordemáfé(1295º/b).
b. No tocante à usucapião de direitos sobre coisas móveis, o critério assenta na
distinção entre coisas móveis sujeitas a registo e coisas móveis não sujeitas a
registo.
• Relativamente a coisas móveis sujeitas a registo, o prazo está no 1298º: aqui o
prazovariaconsoantehajaounãoregisto.
• Havendoregisto:
o Doisanosseopossuidorestiverdeboafé(1298º/a);
o Quatroanosseopossuidorestiverdemáfé(1298º/b).
• Nãohavendoregisto:aquioprazoéde10anos,independentementeda
boaféoumáfé(1298º/b).
• Coisasmóveisnãosujeitasaregisto:aquiháaindaumnovocritérioparaalémda
boaoumáfédopossuidor,sendoesteaexistênciadejustotitulo(1299º).Havendo
boaféejustotitulooprazodausucapiãoéde3anos;senãohouvertitulo,estando
opossuidordeboaféoumáféoprazosãode6anos(1299º).
Oart.º1300/2consagraumprazoexcecionalparaausucapiãodecoisasmóveis:quandoaposse
móvel houver sido adquirida às ocultas ou com violência e o adquirente da posse a tiver
transmitidoaterceirodeboafé,oprazoseráde4anosou7,consoanteapossedesteultima
tiversidotituladaounãotitulada.
Oprazodeduraçãodapossetemdesercontinuoenãopodeserinterrompido.
O art.º 1254/1 prevê uma importante presunção de posse com aplicação em matéria de
usucapião: se o possuidor atual possuiu em tempo mais remoto, presumese que possuiu
igualmenteemtermointermedio.Onº2afirmaquequandoaposseétitulada,presumeseque
hápossedesdeadataotitulo.
1.3. Duraçãodaposseeacessãodaposse:
Paracomputaroprazodapossenecessárioàusucapião,opossuidornãoficalimitadoaoseu
tempodeposse,podendojuntarasuaposseàpossedoseuantecessor.
Nestesentidodispõeoart.º1256/1:“aquelequehouversucedidonapossedeoutremportitulo
diversodasucessãopormortepodejuntarasuaposseàpossedoantecessor”.
28
ResumosExameDireitosReais
Este preceito alude ao adquirente que recebeu a posse por transmissão: abrange os factos
translativosdaposse,ouseja,modospelosquaisapossepodesertransmitidaaterceiro.Dito
isto,atravésdosquaisapossepodesertransferida,ouseja,atradição(1263º/b)eoconstituto
possessório(1263º/c+1264º).
Ora,seoinstitutodaacessãovisafacilitarofuncionamentodausucapião,tendosidonoseu
contextoqueseencontrouaaplicação,nãofazsentidoexigirparaelamaisrequisitosdoque
aquelesquesecolocamàprópriausucapião.
Nestaordemdeideias,opossuidoratualpodejuntarasuaposseàpossedoantecessorcaso
tenha adquirido a posse deste por qualquer um dos modos de transmissão da posse que o
direitoportuguêsreconhece,independentementedavalidadedotitulodetransmissão.Otitulo
podemesmofaltardetodosemqueaacessãodapossesejaprejudicada.
Aacessãodaposseconstituiumpoderdopossuidorcujoexercícioéfacultativo.
Oelementoliteraldoart.º1256/1parececonfinaraacessãodepossesentreopossuidoratual
eopossuidordaqualaquelerecebeuaposse.
Mas,paraoJAVistonãofazsentido,dizendoqueopossuidoratualpodejuntaraspossesde
todososseusantecessores.
Éofactodeaposseseramesmaquepermitequeopossuidoratualbeneficiedetodootempo
dela, desde que começou. A acessão de posses com caracteres diferentes está sujeita ao
dispostonoart.º1256/2.
Assim,opossuídoatualapenaspoderárecorreràacessãodapossedoseutransmitentecasoa
usucapiãonãovenhaafuncionarcontraele.
Oart.º1256/2estabelecelimitesàacessãodaposse.
Possede“menorâmbito”significa,emprimeirolugar,posserelativaaumdireitorealmenor.A
somadasduas(oumaisposses)podeenvolverpossesexercidasnostermosdedireitosreaisde
gozodiferentes.Contudo,segundooart.º1256/2,ausucapiãosópodeocorrerrelativamente
aodireitorealmenor.
Posse de “menor âmbito” é, em segundo lugar, uma posse que tenha piores caracteres. Por
exemploapossedemáfééumapossedemenorâmbito.
A acessão da posse opera unicamente entre posses. Não pode haver acessão entre posse e
detenção.
2. SUSPENSÃOEINTERRUPÇÃODACONTAGEMDOPRAZODEPOSSE
PARAUSUCAPIÃO
Oprazodeduraçãodaposseparausucapiãopodeserinterrompido.Oart.º1292determinaa
aplicaçãoàusucapiãodoregimelegalprevistoparainterrupçãodaprescrição(323ºa327º).
A interrupção do prazo da usucapião determina a inutilização de todo o tempo de posse
decorridoatéaíeorecomeçodacontagemdoprazoapartirdoatointerruptivo(326º/1),exceto
nos casos em que a interrupção ocorre por força de citação ou notificação no âmbito de
processojudicial(327º/1).
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ResumosExameDireitosReais
Osfactosinterruptivosdoprazoparausucapiãosão:
• Acitaçãoounotificaçãojudicial(323º/1);
• 324º;
• 325º;
• A nova posse de outrem contra a vontade do possuidor mantida por um
prazo superior a um ano sem que o possuidor esbulhado haja intentado
duranteumanoaçãopossessóriaderestituiçãoparareaveracoisa(causa
deinterrupçãoespecifica).
O prazo da posse para a usucapião pode ser suspenso conforme determina o 1292º (318º a
322º).Asuspensãonãoinutilizaoprazodaposseparaausucapiãodecorridoatéàverificação
dofactosuspensivo,apenasobstandoaqueaquelecontinueadecorrer.
3. AINVOCAÇÃODAUSUCAPIÃOPELOPOSSUIDOR
Aeficáciadausucapiãonãoocorremeramentecomodecursodoprazodaposse.Paraquea
usucapião adquira eficácia o possuidor deve invocala, ou seja, manifestar a sua vontade em
usucapirodireitoaqueserefereaposse(1292º).
Passadooprazolegaleopossuidornadadisser,ausucapiãonãoproduzqualquerefeito.
Ainvocaçãodausucapiãopodeserfeitajudicialmenteouextrajudicialmente.
Sendoextrajudicialfazsemediantedeclaraçãocujafinalidadeéjustamenteoefeitoaquisitivo
dodireitoaquesereporta.Valeparaelaaregradaliberdadedeforma(219º).
Ainvocaçãodausucapiãotambémpodeserexpressaoutácita,valendoestanostermosgerais
(217º).
Ausucapiãotambémpodeserinvocadapeloscredoresinteressadosouporoutrosterceiroscom
interesselegitimonasuadeclaração(305º+1292º).
4. OMOMENTODAEFICÁCIADAUSUCAPIÃO
Invocadaausucapiãoaeficáciadamesmaretroageatéaomomentodoiniciodaposse(1288º).
5. AEFICÁCIADAUSUCAPIÃOEODIREITOUSUCAPIDO
O efeito primário da usucapião é o efeito aquisitivo (1287º). Pela usucapião o possuidor
usucapienteadquireodireitorealdegozoaqueasuapossesereportaesomenteeste.
Ausucapiãoconfereaousucapienteaaquisiçãododireitoexteriorizadopelaposse.Importa,no
entantoperguntaraamplitudedessaaquisiçãoquandoexistemoutrosdireitosreaismenores
constituídossobreamesmacoisapossuída?
Ausucapiãosódeterminaasuaextinção(dosdireitosreaismenores)casoapossedo
usucapientehajasidomantidaemoposiçãoaestes.Ouseja,todososdireitosmenores
quesejamincompatíveiscomapossedousucapienteextinguemsecomausucapião;
30
ResumosExameDireitosReais
Pelocontrário,seousucapienteexteriorizouasuaposseemconcorrênciacomasdos
titularesdedireitosreaismenores,ausucapiãonãoosafeta.
Concluiseassimqueausucapiãopodeteraindaoutraeficácia,nomeadamenteaextintiva.
A usucapião atua sempre contra o proprietário da coisa sobre o qual ocorre a aquisição do
direito.Noentantopoderánãoafetarsempreoproprietáriodamesmamaneira:
• Seausucapiãoserefereaodireitodepropriedade,apropriedadeanteriorextinguese.
Verificasesimultaneamenteumefeitoextintivoeaquisitivodausucapião.
• Quandoodireitousucapidoéumdireitorealmenor(usufruto,superfície,servidão),a
usucapião não determina a extinção do direito de propriedade, mas apenas a sua
oneração.
II. FACTOSTRANSLATIVOSDOSDIREITOSREAIS
Sendodireitos denatureza patrimonial, osdireitosreaissão,emregra,transmissíveisentre
vivosemortiscausa.
Emmatériadetransmissãodedireitosreais,oprincipiodaconsensualidadeconstituioprincipio
fundamental, devendo este ser conjugado com o principio da causalidade: a aquisição do
direitorealportransmissãosópoderesultardeumnegóciojurídicocausal.
Háexceçõesaoprincipiodalivretransmissibilidade:
Usufruto:odireitodousufrutoextinguesecomamortedousufrutuário(1443º);
Direitos de uso e habitação: a lei declara expressamente a sua intransmissibilidade
(1488º).
Osfactostranslativossão:osmesmosqueindicámosparaosconstitutivos,excetoausucapião.
III. OSFACTOSMODIFICATIVOSDOSDIREITOSREAIS
Saltei(pág.380a383).
Osfactosmodificativossãoosmesmosqueosconstitutivos.
CAPÍTULOVI–OSFACTOSEXTINTIVOSDOSDIREITOSREAIS
I. OSFACTOSEXTINTIVOSGERAIS
Aextinçãodeumdireitorealoperaporforçadoatojurídicoaoqualodireitoatribuieficácia.
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ResumosExameDireitosReais
Comofactosextintivosgeraistemos:
• Aperdaoudestruiçãodacoisa;
• Arenuncia;
• Aprescrição;
• Acaducidade;
• Aconfusão;
• Aexpropriação;
• Aextinçãoporforçadaaquisiçãoouextinçãodeoutrosdireitosreais.
1. Aperdaoudestruiçãodacoisa
Osdireitosreaissãodireitosinerentesaumacoisacorpórea,seacoisapereceouédestruídao
direitorealextinguese.Éumadasconsequênciasdainerênciadosdireitosreais.
2. Arenúncia
Osdireitosreaissãonormalmentedireitospatrimoniaiseistosignificanormalmentequesão
livremente disponíveis. O poder de disposição do titular do direito real, muito variável em
funçãododireitoaquesetrata,asseguralheapossibilidadedeextinguirodireitoseforessaa
suaopção.
Inexistindoaproibiçãoderenunciaotitulardodireitorealpodefazelo.
A renuncia exteriorizase mediante declaração, que constitui um negócio jurídico unilateral,
estandoestesujeitoàformalegalparaonegóciojurídicoemquestão,sobpenadenulidade
(220º).
Aeficáciarealdarenunciaéinstantânea(224º).
Darenunciadevedistinguirseoabandono,respeitandoesteunicamenteàposse,originandoa
extinçãodaquela(1267º/1al.a).
Arenúncianãoapareceprevistaparatodososdireitosreais.
Nocampodosdireitosreaisdegozo,arenunciasurgeemsededecompropriedade(1411º),de
usufruto(4176º),direitodeusoehabitação(1485º+1472º/3)edeservidão(1569º+1567º).
Arenunciatambémpodeocorrernodireitodepropriedadeapesardenãoestarexpressamente
prevista, pois resultando de um ato de disposição, está compreendida no âmbito do poder
respetivo.
Arenunciasópodesereficazcomoconsentimentodoterceirotitulardeumoutrodireitoreal
sobreacoisaseelaacarretaraextinçãodesteúltimo.
Arenuncianãocarecedoconsentimentodosoutrostitularesdedireitosreaissenãoimplicara
suaextinção.
Háquedistinguirentre:
32
ResumosExameDireitosReais
• Renunciaabdicativa:constituiumnegóciojurídicodirigidounicamenteàextinçãodo
direitoreal.Delerevelaumpropósitopuroesimplesdeextinçãododireito.
• Renuncia liberatória: visa a exoneração das obrigações propter rem que recaem no
titulardodireitoreal.Assim,otitulardodireitorealquenãoquerounãopodecumprir
as obrigações propter rem conteúdo do seu direito real tem a alternativa de se
desvincularrenunciandoaeleafavordocredor.Estánosart.º1375/5;1411º;1472º/3;
1567/2e4.
3. Aprescrição
Pág.397e398
4. Caducidade
Osdireitosreaiscaducamsenãoforemexercidosdentrodoprazoestabelecido,porleioupor
negóciojurídico,ousedecorreroprazoparaoqualfoiestabelecido.
Pág.398e399.
5. Confusão
Aconfusãodesignaofactoextintivodecorrentedareuniãonamesmapessoadatitularidadedo
direitorealoneradoredodireitorealonerado.Emregra,estahipótesesucedequandosereúne
namesmapessoatitularidadedeumdireitorealmaiorededireitorealmenor.
Pode, no entanto, acontecer que se trate de dois direitos reais da mesma natureza, nas
hipótesesdecomunhãodedireitosreaisentrecontitulares.
Aconfusãoestápresentenosart.º:1476º/1al.b);1536º/1al.b);1569º/1.
Afirmase que não há confusão quando a reunião de dois direitos na mesma pessoa pode
envolveraextinçãodeumdireitodeterceiro(699º/3;1541º;871º/1).
6. Aexpropriação
7. Extinçãoporforçadaconstituiçãodeumdireitoincompatível
8. Aextinçãoporforçadaextinçãodeumdireitomaioronerado
Quando um direito real menor está constituído sobre um direito real maior (que não seja a
propriedade),aextinçãododireitooneradoimplicaaextinçãododireitorealmenor.
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ResumosExameDireitosReais
II. FACTOSEXTINTIVOSDOSDIREITOSREAISDEGOZO
Osdireitosreaisdegozotêmfigurasextintivasespecificas:
• Onãouso
• Usucapiolibertatis
1. Onãouso
Osdireitosreaisdegozonãoestãosujeitosàprescrição.Oart.º298/3éexpressonessesentido.
Emcontrapartida,podemextinguirsepornãousonoscasosespecialmenteprevistosnalei.
Estescasossão:
• Usufruto:1476º/1al.c);
• Direitodeusoehabitação:1485º;
• Direitodesuperfície:1536º/1al.a);
• Servidão:1569º/1al.b).
• Propriedade:apenasnocasodoart.º1397.Emtodososoutroscasosapropriedadenão
estásujeitaaonãouso.
Onãousosópodeserinvocadoquandoaleioprevir.Portanto,oscasosemqueonãouso
provocaaextinçãododireitorealsãotípicos.Semprevisãolegalespecifica,odireitorealde
gozonãoseextinguepornãouso.
Osartigos1570ºa1573ºconstituemverdadeiramenteoregimegeraldonãouso,semprejuízo
destas especificidades, particularmente de prazo, que se encontra a propósito dos outros
direitosreaisdegozosujeitosaonãouso.
Oquedeveentendersepornãousoparaefeitosdaextinçãodosdireitosreaisdegozo?
Significaonãoexercíciododireito,sejaaníveldeatuaçãomaterialsobreacoisa,sejaatravés
doexercíciodopoderdedisposiçãododireito(exercíciojurídico).
Portanto, a extinção do direito real por não uso é uma extinção de todo o direito, não é
legalmente possível a extinção parcelar do direito real relativamente aos poderes e outras
situaçõesativasnãoexercidas.
Na hipótese de existirem vários comunheiros, basta o exercício de um deles para impedir a
extinçãodosdireitosdosrestantes.Éoqueresultadoart.º1570/3.
Oprazoparaaextinçãododireitorealdegozopornãousocontaseapartirdomomentoem
queoexercíciocessou(1570º/1).
Seotitulardodireitorealnuncachegouainiciaroexercíciodomesmo,oprazoparaonãouso
contasedadatadeconstituiçãododireito.Sechegouaexercelo,esseprazoécontadodadata
doultimoatodeexercício.
Oaproveitamentodacoisa,sejamaterialsejajurídico,impedesempreacontagemdoprazodo
nãouso.
O não uso está sujeito às regras da caducidade em tudo o que não se ache especificamente
reguladoapropósitodestefactoextintivo(298º/3).
34
ResumosExameDireitosReais
2. Usucapiolibertatis
Art.º1574.Nadatemahavercomausucapião.
Aleimencionaaoposiçãodoproprietáriodopredioservientecontraotitulardaservidão,mas
nãoexistenenhumarazãoparalimitaraoposiçãoaoproprietário.
Destemodo,qualquertitulardeumdireitorealdegozomaiorquesatisfizerosrequisitoslegais
dousucapiolibertatispodeconseguiradesoneraçãodoseudireitoquantoàservidãoprediala
cujoexercícioseopôs.
DeacordocomoJAVestafigurapodeseraplicadaaqualquerumdosdireitosreaisdegozo
menores (o usufruto, o uso e habitação, servidão, superfície), desde que preencham os
requisitosdoart.º1574.Sendo,porisso,estafiguraumfactoextintivogeraldosdireitosreais
degozo.
Requisitoslegais:
a. Oposiçãodotitulardodireitorealmaior:significaaperdadocorpuspossessóriodo
direito real menor por ação do titular do direito real maior, implicando a quebra do
controlo material da coisa por aquele. O que importa acentuar é a privação do
aproveitamentodacoisaaonívelpossessório,comoafastamentodopossuidortitular
dodireitorealmenor.Deveserinterpretadarestritamente,abrangendoapenasaposse.
b. Decursodoprazolegal:oprazoestánoart.º1574/2.Masnãodizexatamentequalé,
porisso,temseentendidoqueesseprazoéocorrespondenteaoregimedausucapião.
Adatadecontagemdoprazoiniciasenadatadodesapossamentodopossuidornos
termosdodireitorealmenor.
c. Invocação pelo beneficiário: aplicamse aqui os art.º 303 e 1292 do CC. A invocação
pode ser feita judicialmente ou extrajudicialmente. Quando extrajudicial fazse por
declaração.Tambémpodeserinvocadapeloscredoresouporterceiros.
Estanãooperaapenasparaofuturo,retroageparaopassado.Aplicamseosart.º1288e1274º.
Aeficáciadausucapiolibertatiséextintiva.
CAPÍTULOVII–VIOLAÇÃOEDEFESADODIREITOREAL
I. AVIOLAÇÃODODIREITOREALEASAÇÕESREAIS
Há violação de um direito real quando um terceiro impede ou diminui de alguma forma o
aproveitamentodacoisacontraavontadedotitular.
Aviolaçãododireitorealpodesucederdemúltiplasformas.Nemtodaselasrequerem,porém,
umadefesapelotitulardeaçõesreais.
35
ResumosExameDireitosReais
Nosdireitosreaisdegozo,podemhaverváriasformasdeviolaçãododireitoreal:Amaiscomum
consistenaprivaçãodaposseatravésdeesbulho.Éaperdadepossequelegitimaorecursoà
açãodereivindicação,emboraestapodeigualmenteterlugaremsituaçõesemquenemsequer
ocorreunenhumesbulho.
A ameaça da perturbação do aproveitamento da coisa também consiste, assim como a
perturbaçãoefetiva,mesmosemdesapossamentoconstituemsituaçõesdeviolaçãododireito
real.
Porultimo,oincumprimentodaprestaçãocorrespondenteàobrigaçãopropterremrepresenta
tambémaviolaçãododireitorealcorrespondente.
Aquiterceiroéonãotitulardodireitoreal.
II. VIOLAÇÃODODIREITOREAL,ILICITUDEEAÇÃOREAL
Énecessáriosepararaquiaviolaçãodailicitude.
A violação designa a situação objetiva que atinge o aproveitamento da coisa pelo titular do
direitorealeéindependentedequalquervaloraçãoqueodireitofaçaàcondutadealguém,
querdizeraocomportamentodaquelequeviolouodireitoreal.
A defesa do direito real supõe a violação do mesmo. É, contudo, irrelevante que o autor da
violaçãohajacometidoumfactoilícito.
A ação real tem por escopo propiciar ao titular do direito real o aproveitamento da coisa,
permitidopelodireito,pondofimàsuaviolação,sejalicitaounão.
III. ASAÇÕESREAIS
Quandoéquesepodedizerqueumaaçãoéreal?
As ações que promovem a devolução da coisa titular do direito real ou que previnem a
perturbaçãonapossesãoaçõesreais.Assim,açãorealéaaçãodereivindicação(1311ºe1315º),
açõespossessóriasdeprevenção,demanutençãoederestituição(1276ºess.).
Anaturezarealdeumaaçãonãoresultasomentedadiscussãopossessóriasobreacoisa.Por
maioria de razão, quando o pedido principal (ou um deles) da ação consiste na declaração
judicialdeexistênciaouinexistênciadeumdireitorealsobreacoisa,aaçãoéreal.
Paraalémdestescasos,aaçãotemnaturezarealquandooseuobjetosejaodefixarcontornar
físicosdoobjeto,ouaindadefixaraatuaçãodotitulardodireitorealsobreacoisa.
1. Açãodereivindicação
Segundo o art.º 1311 a ação de reivindicação pode ser intentada contra o possuidor ou o
detentorquetenhacoisaconsigo.
36
ResumosExameDireitosReais
Aquele que tiver a coisa em seu poder pode ser demandado na ação de reivindicação, seja
possuidor,sejadetentor.
A ação de reivindicação não pode ser vista como uma ação de defesa de propriedade. Com
efeito,oart.º1315declaraaplicáveloregimedareivindicaçãoàdefesadetodoodireitoreal,o
quemostrabemqueareivindicaçãonãoéespecificadapropriedade,constituindoomeiode
defesadeumacategoriadosdireitosreais:osdireitosreaisdegozo.
Afinalidadedaaçãodereivindicaçãonãoseencontranaapreciaçãojudicialdaexistênciado
direitodoreivindicante,masnacondenaçãodoréunaentregadacoisa.
Ouseja,sãonecessáriodoispedidos:declaraçãodaexistênciadodireitodegozonatitularidade
doautor+condenaroreuaentregarlheacoisa.
(salteipág.426a429)
A procedência da ação de reivindicação encontrase, no entanto, sujeita à demonstração
cumulativade3condições:
• Oautorsejatitulardodireitorealdegozoinvocado;
• Oréutenhaacoisaemseupoder,comopossuidoroudetentor;
• Oréunãoprovesertitulardeumdireitoquelhepermitateracoisaconsigo.
(salteipág.429a435)
2. Açãonegatória
Aaçãonegatóriasurgiucomoumaaçãodedefesadepropriedade.Oseuespetroé,porém,bem
maior. Ela pode ser intentada pelo titular de um direito real maior, e não apenas pelo
proprietário,contraaquelequesearrogadatitularidadedodireitorealmenoretemporobjeto
principalademonstraçãodeumónusinvocadopeloréunãoexiste.
Comonegatóriaéaaçãoemqueoproprietáriopossuidorpedeaotribunalquedeclarequeo
réunãoéproprietário.
Tratasedeafastaralguémquesearrogadomesmodireitoqueoautor.
Ofundamentodaaçãonegatóriaéodireitorealdoautor;acausadepedir,ofactodoqual
emergeodireitorealinvocadopeloautornaaçãoeopedido,adeclaraçãodeinexistênciade
umdireitoreal(maior).
Comocondiçõesdeprecedênciatemos:
• Oautorsejaotitulardodireitorealqueinvoca;
• Oréunãoprovequeodireitorealmenorexiste.
Ononliquidfuncionasemprecontraoréunaaçãonegatória.
3. Açãoconfessória
37
ResumosExameDireitosReais
Oautorpretendeafirmarcontraoréuaexistênciadeumdireitorealmenorqueesteultimonão
aceita.
O pedido é a declaração de existência de um direito real menor do réu. O autor alegando a
titularidadedeumdireitorealmenor,aduzofactodeaquisiçãododireitoqueinvocaededuz
aotribunaladeclaraçãodeexistênciadodireitodoréu.
Condiçõesdeprocedência:
• Oautorsejatitulardodireitorealinvocado.
Naaçãoconfessóriaoautorapenaspedeadeclaraçãodeexistênciadodireito.
CAPÍTULOVIII–APOSSE
I. NOÇÃOLEGALDEPOSSE
Oart.º1251defineaposse:“aposseéopoderquesemanifestaquandoalguématuaporforma
correspondenteaoexercíciododireitodepropriedadeoudeoutrodireitoreal”.
Oprof.JoséAlbertoVieiracriticaestadefinição:
1) Ao nível técnico jurídico, a utilização do termo “poder” acarreta ambiguidade. Na
dogmáticajurídica,poderconsistenumasituaçãojurídicaativamenosextensaqueum
direitosubjetivo,doqualsedistingue.Aposseenglobaváriopoderesenãosóum.
2) A posse não engloba apenas um comportamento ativo do possuidor, como afirma o
1251º, pois que no art.º 1257º/1 é certo que há posse desde que o possuidor possa
atuar materialmente sobre a coisa quando queira, por conseguinte mesmo que não
atue.
3) Apossepodetambémserreferenteaumdireitopessoaldegozo.
II. AAUTONOMIADAPOSSE
Aposseémuitasvezesconfundidacomapropriedade.Contudo,dentrodosdireitosreaisessa
confusãonãodeveserfeita.
Há que separar a posse da propriedade. Admitese um regime jurídico distinto para as duas
realidades, como também uma possibilidade de dissociação entre a propriedade e a posse
investidas em pessoas diferentes. Ou seja, uma pessoa pode ter a propriedade do bem X,
enquantoaoutratemapossedomesmobem.
Aautonomiadapossefaceàpropriedade,advémdofactodeapossesereferirtambémaoutros
direitos,paraalémdapropriedade.
A isto acresce que a posse pode existir sem eu o direito a que se refere esteja validamente
constituído,istoé,semquehajaumdireitoquelhecorresponda.
38
ResumosExameDireitosReais
Aposseformalnãodeixadeserumaverdadeiraposse.
III. FUNÇÃODAPOSSE
Oprof.JoséAlbertoVieiradiznosquenãoháapenasumaúnicafunçãodaposse.
Temosassimcomofunçõesdaposse:
1) Atribuiçãoprovisóriadeumdireitonostermosemqueéexercida:
Éafunçãodeatribuirprovisoriamenteumdireitoaquemtemocontrolomaterialdeuma
coisacorpórea.
Aatribuiçãodizseprovisóriaporqueseapresentaresolúvelemalgunsfactos.Ouseja,quando
aposseéformaleoproprietário(ououtrotitulardodireitorealdegozo)fazvaleroseudireito
contra o possuidor, nomeadamente através de uma ação de reivindicação, a posse cede no
confrontocomapropriedadeououtrodireitorealdegozoevemaextinguirse.Opossuidor
realperdeentãoasuaposiçãoparaotitulardodireitoreal.
Opossuidorformalsóconservaasuaposseenquantoatitularidadedodireitorealdegozonão
édemonstrada(1278º/1).Omesmoaconteceparaopossuidorcausalquenãoinvocaoseu
direitonoconfrontocomoutrotitulardodireitodegozo.
Havendoconflitoentreaposseeodireitoreal,apossecedesempreafavordodireitoreal.
Odireitorealconstituiumaafetaçãodefinitivadacoisaaoseutitular,enquantoqueaposse
confereapenasumaatribuiçãoprovisória.
Essaatribuiçãoprovisóriarepresentaemsiumdireitosubjetivoeimplicaumaproibiçãode
ingerência para terceiros, podendo o possuidor defender a sua posição com recurso aos
esquemasdetuteladeposse.
2) Garantiadapazsocial,atravésdaprevençãodaviolência:
Sabemosassimqueaposseconstituiumaafetaçãojurídicadacoisaaopossuidor,equeuma
ofensaaelaconstituiumaaçãoilícitaereprimidapelaordemjurídica.
Aatribuiçãoprovisóriadeumdireito(aposse)aquemtemocontrolomaterial,nostermosdesse
direito, fazse com total independência da titularidade desse direito. Daí falarse em posse
formal.Aproteçãopossessóriaocorremesmoquandoopossuidornãosejatitulardodireitoa
queserefereaposse(posseformal).
Ogozodacoisasupõequasesemprequeacoisaestejaempoderdotitulardodireito.Ora,éa
possedacoisaqueasseguraaotitulardodireitodegozoocontrolomaterialsobreela.Sem
posse,ficaopoderdedisposiçãojurídicadodireitoquandosejanormativamenteconsagrado,
masnãoousoeafruiçãodacoisa,quesóapossegarante.
Porisso,tambémotitulardodireitorealdegozocarecedaposseparaoexercerquantoauma
largafatiadoseuconteúdo.
39
ResumosExameDireitosReais
3) Publicidade:
Poroutrolado,ocontrolomaterialdacoisaarrastaconsigoumaaparênciadetitularidadede
umdireitosobreela.
Presumealeiportuguesaque,quemtemaposse,éotitulardodireitoaqueapossesereporte
(1268º/1).
Afunçãodepublicidadedaposseétransmitidapelapresunçãodetitularidadedodireitoreal
nostermosdosquaisaposseéexercida(1268º).
Desenvolvesesobretudoparacoisasmóveis,umavezquequantoaosimóveistemososistema
doregistopredial,queasseguraapublicidaderespetivaeasseguratambémumapresunçãode
titularidade(7ºCRP).
4) Conversação/consolidação:
Paraoprof.JAVestafunçãofundamentasenausucapião.Quandoopossuidornãoétitulardo
direito real de gozo exteriorizado pela posse, o ordenamento facultalhe, verificados os
requisitoslegais,aaquisiçãodessedireito,compreterição(emultimaanálise)doproprietário
dacoisa.
O ordenamento consegue assim que a exteriorização do direito coincida com a atribuição
jurídicadomesmoaopossuidor.
IV. APOSSECOMOEXTERIORIZAÇÃODEUMDIREITO
A posse exercese sempre nos termos do direito que exterioriza. Retirase isto de vários
preceitoslegaiscomooart.º1251,1263º/a,1257º.
Sealigaçãodaposseàexteriorizaçãodeumdireitovemaserquebrada,aposseextinguese.
Éistoqueresultadoart.º1253al.a).
A posse passa a detenção quando aquele que tem a coisa em seu poder esclarece para a
comunidadequenãoatuasobreacoisanostermosdeumdireitopróprio.
Assim,aposseconstituiaexteriorizaçãodeumdireitosobreumacoisa.Seaquelequetema
coisa em seu poder, deixar de atuar como titular de um direito, a ordem jurídica negalhe a
posse,atribuindolheoestatutodedetentor(1253º/a).
Oefeitopresuntivodatitularidadedodireito,atuteladaposse,apossibilidadedeusucapião,
etc.,repousamnopressupostoqueopossuidoragenostermosdeumdireito.Quandoaligação
da posse à exteriorização não existe, o ordenamento recusa a posse,qualificando a situação
comomeradetenção.
V. ELEMENTOSDAPOSSE
40
ResumosExameDireitosReais
Teoriasubjetivista: Teoriaobjetivista:
Apossedesdobraseemdoiselementos: 1) Corpuspossessório;
2) Intençãoinerenteàaçãodopossuidor.
• Corpus:elementofísicodarelaçãomaterial
entreosujeitoeacoisa; Havendocorpus,háemprincipioposse,anãoserque
• Animus:vontadedeatuarcomoproprietárioou descaracterizeasituaçãoparaameradetenção.Quemtem
vontadedeatuarcomotitulardeumdireitode ocorpuspossessórioterátambémvontadedeatuarcomo
gozo. titulardeumdireitoreal.
Faltandooanimusapossenãoexiste,apenashaveria Ninguémagesemtervontade.Porisso,quemtemocorpus
detenção. possessório,terávontadedeatuarcomotitulardodireito
real.
Temdeexistirumcontrolomaterialsobreacoisaeum
animusdeteracoisa,deserpossuidor.Temdeexistir Simplesmenteoanimusouavontadenãoserevelacomo
umelementointencional. umelementoautónomodaposse,eleintegraopróprio
corpuspossessório
1. Oordenamentojurídicoportuguês
O art.º 1251 apresenta uma noção de posse sem fazer nenhuma referencia à intenção ou
vontadedopossuidor.Dispõesimplesmentequeaposseéopoderquesemanifestaquando
alguématuaporformacorrespondenteaoexercíciodeumdireitoreal.
Nosartigosseguintes(1252ºe1253º/a)vemseafirmandoqueestepoderéumpoderdefacto:
ele pretende tradicionalmente traduzir o corpus possessório, ou seja, o controlo material da
coisapelosujeito.
Assim, a noção vertida no art.º 1251 faz coincidir a posse com o corpus possessório. Não
surgindooanimus.
O art.º 1253 elenca grupos de casos em que, não obstante de haver poder de facto, não é
atribuídaposse,massimmeradetenção.Aquiacolheusepartedateoriaobjetivistanavertente
que afirma que desde que houvesse corpus haveria sempre posse, exceto de alguma norma
jurídicapretendesequedasituaçãoseextraísseameradetenção.Éesteocasodoart.º1253.
Asal.b)ec)doart.º1253nãosupõequalqueranimussegundoJAV,ouseja,asuasoluçãonão
seiriaalterarqualquersejaoanimusdodetentor.Éodireitoquemdecidequemtemaposse,e
nãoavontadedosujeitoquetemacoisaemseupoder.
DeacordocomJAVaal.a)doart.º1253nãoconsagranenhumateoriasubjetivistaparaposse
noordenamentoportuguês,porvariadasrazões:
i) Porque não resulta deste artigo que a intenção é um elemento constitutivo da
posse.Aquiaintençãofuncionacomoumvetordeexclusãodaposseenãocomo
atribuiçãodamesma.Assimoartigopretendedefiniradetençãocomo:corpus–
animus.
Concluiseassim,quenoordenamentoportuguêsoanimuséumelementoque
serveparadescaracterizarumasituação,queàpartidaseriadeposse.
41
ResumosExameDireitosReais
Quandoéquesepodedizerqueaintençãoafastaapossesegundooart.º1253?
Aal.a)doart.º1253aplicaseaoscasosemqueaquelequetemocorpuspossessórioesclarece
socialmentequenãotemnenhumdireitosobreela.Porquantoaposseétuteladaenquanto
exteriorizaçãodeumdireito,quandoaquelequetemacoisaemseupodersecomportadecomo
aesclareceràcomunidadequenãosearrogadenenhumdireitosobreela,aordemjurídicatrata
asituaçãocomomeradetenção.
Aintençãodemonstradanaal.a)sópodeserumaintençãodeclarada.Adeclaraçãodopróprio
sujeitoquetemdomíniomaterialdacoisa,dequenãoatuasobreelanostermosdeumdireito,
éaproveitadapelodireitoparadescaracterizaraposse.
Emsuma,semexteriorizaçãodeumdireitonãoháposse.
Concluindo:
i) OCódigoCivilportuguêsrequerumelementoobjetivo:umadeclaração.Masnão
é qualquer intenção que revela, nomeadamente aquela que permanecer no
interior do sujeito não revela; apenas a intenção declarada tem relevância. A
intenção desempenha uma função de descaracterizar para a detenção uma
situação que à partida seria de posse. A posse permanece sempre como
exteriorizaçãodeumdireito.
ii) O CC é integralmente objetivista ao regular a posse. Ou seja, havendo corpus
possessório e não incidindo nenhuma norma jurídica que descaracterize a
situação para a mera detenção (nomeadamente qualquer das al. do artº 1253)
existiráposse.Oanimusnãoéassimumdoselementosdaposse.
2. Caracterizaçãodocorpuspossessório
Ocorpuspossessóriotraduzumasituaçãodesujeiçãodeumacoisaaumapessoa,implicando
porissoumcontrolomaterialsobreela.
Adecisãosobresedadasituaçãoconstituiocorpuspossessórioéoprodutodainterpretação
/aplicaçãoderegrasjurídicas,regrasquealudemaopoderdefacto.
Estasregrasconstamdosart.º1252,1253ºe1257º.Todosestespreceitostêmemvistaocorpus
possessório. Deles resulta que o poder de facto acarreta a pratica de atos que traduzem o
exercíciodeumdireitorealou,pelomenos,apraticadessesatos.
Ora, a atuação material sobre a coisa ou a possibilidade dessa atuação supõe o controlo
material dela, ou domínio da coisa. O corpus possessório protejase a um nível físico,
significando que alguém pode praticar atos de aproveitamento da coisa correspondentes ao
direitoqueelaexterioriza.
Porisso,ocorpuspossessórioaludesimplesmenteaoestadodefactoemqueumsujeitotem
ocontrolomaterialdacoisaepodeatuarsobreela,nostermosdeumdireito.
Umcontactotemporárionãoatribuiaosujeitoumasituaçãodeposse.
42
ResumosExameDireitosReais
O corpus possessório não requer uma ligação física constante do possuidor à coisa. Essa
ligaçãoéessencialnomomentodaaquisiçãodaposse,masapartirdessemomentoocorpus
subsistecomamerapossibilidadedeatuaçãomaterialsobreacoisa.
Oart.º1257deixaclaroqueapossesemantémenquantodurarapossibilidadedeatuação
correspondenteaoexercíciododireito.
Ocorpuspossessórioexistemesmoexistindooutraspossessobreamesmacoisa.Éoqueocorre
na:
• Composse: várias pessoas controlam materialmente a coisa nos termos do mesmo
direito;
• Sobreposição de posses: são exteriorizados diferentes direitos reais de gozo sobre a
coisaeasituaçãonormasécorresponderumaposseacadaumdeles.
Desdemodo,ocorpuspossessórionãotemdeserexclusivo,nosentidodesópoderexistirum
controlomaterialporumapessoaousónostermosdomesmodireito.
Ocontrolomaterialdopossuidornostermosdoseudireito,nãoprejudicaocontroloqueoutro
exerçasobraacoisaemrelaçãoaoutrodireitocompatível.
IMATERIALIZAÇÃO DA POSSE: é um fenómeno que tem uma das suas manifestações na
possibilidadedeapossesubsistirsemcorpuspossessório.Estahipótesevemprevistanoart.º
1267/1al.a).Emcasodeesbulho,apossemantémsenoprazodeumano.Oesbulhoconsiste
naperdadopoderdefactosobreacoisaporforçadaintervençãodeumterceironãoautorizado
pelopossuidor.Duranteumanoapossevemasermantidaenquantodireito,semasituaçãode
facto a ele correspondente, para permitir a recuperação da coisa pelo possuidor esbulhado.
Porquenãopodeexistirumapossesemocorpuspossessórioporumperíodoindeterminado,
emqueocontrolomaterialdacoisanãoéexercido.
VI. POSSEEDETENÇÃO
Nemtodoocontrolomaterial(poderdefactooucorpus)atribuiaposse.
Paraseafirmardaexistênciadepossenumdadocasoconcreto,paraalémdocorpus,deve
averiguarseaincidênciadeumanormajurídicaquequalifiqueasituaçãocomoumamera
detenção.
Havendocorpus,masnãocorrespondendoeleàposse,falaseemdetenção.
Odetentoéaquelequetemopoderdefacto(ocorpus)sobreacoisa,nãolhesendo,noentanto,
reconhecidaaposse.Tratasedeumapurasituaçãodefactoaqueodireitonãoassocianenhum
efeito.
Odetentornãorecebequalquerproteçãodoordenamento.
Adetençãoresultadaincidênciadeumanormajurídicaqueretiraaocorpusasuaconsequência
normaldeatribuiçãodaposse.Oart.º1253afastaaposseemtrêsgruposdecasos:
i) Os que exercem o poder de facto sem a intenção de agir como beneficiários do
direito;
43
ResumosExameDireitosReais
ii) Osquesimplesmenteseaproveitamdatolerânciadotitulardodireito;
iii) Os representantes ou mandatários do possuidor, e de modo geral, todos os que
possuememnomedeoutrem.
Emtodasestassituaçõesàcorpusmasnãoháposse.
Jáopossuidorbeneficiadosefeitosdaposse:
1) Presumesetitulardodireitoaqueserefere(1268º);
2) Recebetutelapossessória(1276ºess.);
3) Temodireitodeserindemnizadoemcasodeviolaçãodaposse(1284º);
4) Temdireitoaosfrutosseestiverdeboafé(1270º/1);
5) Ficasujeitoaoregimedebenfeitorias(1273ºa1275º);
6) Goza de um regime excecional de responsabilidade civil em caso de perda ou
deterioração(1269º).
VII. ÂMBITODAPOSSE
Existe posse em relação a todos os direitos que permitam a tutela possessória – ações
possessórias.Nomeadamente:
• Direitosreaisdegozo;
• Direitosreaisdegarantia:penhoredireitoderetenção;
• Direitosreaisdecredito:locação,comodato,parceria,depósito.
De acordo com JAV, se nos libertarmos do espartilho doutrinário do subjetivismo, não há
nenhuma razão para limitarmos o âmbito da posse aos direitos reais de gozo. Se a posse
repousanumaatuaçãomaterialsobreacoisacorpóreanostermosdeumdireito,elapodeser
referida a todos os direitos subjetivos que confiram poderes para essa atuação,
independentementedasuanatureza,realououtra,dodireitosubjetivoemquestão.Anãoser,
claro,quehajaumanormajurídicaquenegueapossenestescasos.
Emabstrato,aordemjurídicaportuguesapoderiarestringiraposseaosdireitosreaisdegozo.
Todavia,olegisladorportuguêsnãohesitouemconsagrarumatutelapossessórianoquadrode
direitosubjetivosquenãodireitosreais.Essatutelaestávertidanalocação,comodato,parceria
pecuniária,etc.
Poroutrolado,aprevisãodetutelapossessóriaparaunscasosenãoparaoutros,semquese
vislumbre qualquer razão de fundo para um tratamento diferenciado, atenta ao principio da
legalidade,poistratadedomodesigualsituaçõesiguaisousemelhantes.
VIII. POSSEIMEDIATAEPOSSECOMINTERMEDIAÇÃO
Opossuidoratuadiretamentesobreacoisaque Acoisaaparecedetidaporumterceiroqueageem
controlafisicamente;énistoemqueconsisteo nomedopossuidor.Opossuidorcontinuaatera
corpuspossessório.
posse,umaposseexercidaporoutrem(1252º/1).
Aquelequeatuasobreacoisacorpóreaemnomede
outreméummerodetentor(1253º/c). 44
As i l ái é id d *
ResumosExameDireitosReais
*direitopessoaldegozoqueexterioriza(usufruto),masépossuidorquantoàpropriedade.
Omesmosediznarelaçãoenteopossuidornostermosdeumdireitorealmaioreopossuidor
nos termos de um direito real menor: o usufrutuário, que tem a coisa em seu poder para
exercer o direito, é possuidor nos termos do usufruto, mas detentor nos termos da
propriedade,atuandoemnomedoproprietárioquantoaessedireito.
Adetençãodacoisaporterceiropermiteacoexistênciadeváriaspossesnostermosdosdireitos
reaisdiferentes,semimpossibilitarasubsistênciadaposse,nostermosdodireitorealmaior,
quandoacoisadevaestarcomotitulardodireitorealmenorparaoefetivoexercício.
IX. CLASSIFICAÇÕESDAPOSSE
Presentesnoart.º1258.
1. PosseCausalePosseFormal
Quandoopossuidoré Quandoopossuidornãotema
simultaneamentetitulardodireito titularidadedodireitorealaquese
realaqueapossesereporta. reporta.
Afaltadetitularidadedodireitorealdegozoaquesereportanãorepresentenenhumobstáculo
àexistênciadaposseedasuatutela.
Emcasodeconflitopossessório,opossuidorformalapenaspodeinvocarasuapossecontra
aquelecomoqualtemoconflito.
Opossuidorcausalpodeinvocaroseudireitorealdegozoparavenceraoposiçãodopossuidor
formal(1278º/1).
2. PosseCivilePosseInterdictal
Aquelaqueseexercenostermos Aquelaquecorrespondeadireitos
dosdireitosreaisdegozo.
reaisdegarantiaouadireitos
pessoaisdegozo.
3. PosseEfetivaePosseNãoEfetiva
Quandopermanececomomerodireito,desacompanhadodecorpus.
Quandoopossuidormantémo
Asituaçãopossessóriaresultaapenasdalei(1267º/d).Aquiaposse
controlomaterialdacoisaatravés 45
édesacompanhadadepoderdefacto.
do corpus possessório
ResumosExameDireitosReais
X. CLASSIFICAÇÕESLEGAIS
1. PosseTituladaePosseNãoTitulada
Nodireitoportuguêsatual,apossenãotemdesertitulada,quedizer,aausênciadeumtitulo
deaquisiçãododireitoexteriorizadoatravésdapossenãoprejudicaaexistênciadesta,embora
depoishajaaspetosdoregimeemqueadiferençaganharelevância.
• Possetitulada(1259º):apossetituladaéaquelaquesefundanummodolegitimode
adquirir a posse, independentemente do direito do transmitente ou da validade
substancialdonegóciojurídico.
Pressupõequeopossuidorafiraasuaatuaçãosobreacoisaaumfactoaquisitivodo
direito.Essefactojurídicoquetitulaaposserefereseàaquisiçãododireitonostermos
doqualaposseseexterioriza(propriedade,usufruto,etc.)enãoàprópriaposse.
Ofactojurídicoquetitulaaposserefereseàaquisiçãododireito,nostermosdoqualaposse
seexterioriza.
O facto jurídico que titula a posse deve ter eficácia real, para determinar a constituição ou
transmissão,paraopossuidordodireitoaqueserefere.Abstraisedavalidadesubstancialdo
factojurídicocomeficáciarealparaqualificarapossecomotitulada.
Aindaseacentuaqueofactojurídicodeveseridóneo,emabstrato,paraproduziraconstituição
outransmissãododireitorealemcausa,aindaqueemconcretosejaineficaz,porvirtudede
algum vício de natureza substancial, incluindo expressamente a falta de legitimidade do
disponente.
• Possenãotitulada:quandohávíciodeformadonegóciojurídico.
Apossetituladapresumesedeboafé.Otítulonãosepresume,asuaexistênciatemdeser
provada.
Havendotitulo,apossepresumesedesdeadatadotitulo(1254º/2).Nãohavendotitulo,ter
seádeprovaromomentodoseuinicio.
Emcasodeconflitodeposses,emquehajanecessidadedeatribuiracoisaaumdoslitigantes
pelamelhorposse(1278º/2),apossetituladalevavantagemsobreanãotitulada(1278º/3).
2. PossedeBoaféePossedeMáFé(1260º)
Nãoseverificaaignorânciano
Opossuidordesconhecesemculpa,
momentodaaquisiçãodaposse.
queasuaposselesaosdireitos
alheios(boafésubjetivaética–
291/3).
Aferesenomomentodeaquisiçãodaposse.
46
ResumosExameDireitosReais
3. PossePacíficaePosseViolenta
Posseadquiriasemviolência.Uma Quandoéexercidacoaçãofísicaoupsicológicanos
posseadquiridasemviolênciaé
termosdo255º,sobreopossuidor.Podedizer
pacificaparasempre,aindaque respeitoàpessoaouapatrimóniodopossuidorou
mantidacomviolência. deterceiros(255º/2).
JAV:aviolênciatemopossuidorcomodestinatárioenãoacoisa.Umaatuaçãosobreesta,
ainda que com recurso a meios violentos, só pode significar coação física ou psicológica se
dirigidaaopossuidor.
Aposseviolentaétidacomopossedemáfé,sempossibilidadedeconsiderarocontrário.
Oprazodeumanodoart.º1267/1al.a)nãoseiniciaatéaviolêncianãocessar.Enquanto
duraraviolênciaapossenãoéboaparausucapir.
4. PossePúblicaePosseOculta
Aferesenomomentoemqueéexercida.
Osinteressadosemconhecerapossesãotodosaquelesquetiverempossesobreacoisa,mas
nãosó,tambémostitularesdosdireitosreaisdegozoquenãosejampossuidores.
• Posseoculta:quandonãosejapossíveloconhecimentopelosinteressados.Ocaracter
oculto da posse não a descaracteriza enquanto tal, pois existe corpus possessório
(controlomaterialsobreacoisa).
Diferençasdoregime:
Quandoaposseéoculta,oprazodeumanoparaaperdadaposse(1267º/1al.d)e2)
sócomeçaacontarquandoestaforpublica;
O prazo para usucapião não começa a contar enquanto a posse for oculta (1300º e
1297º);
Aposseocultaéapossesemusucapião,massóenquantoforoculta;
Apossepublicaémelhorqueaposseocultaeprevalecesobreestaemcasodeconflito.
O possuidor só pode obter o titulo judicial para registo da posse desde que tenha
possuídopublicamenteepacificamenteportemponãoinferiracincoanos(1295º/2).
47
ResumosExameDireitosReais
XI. FACTOSCONSTITUTIVOSDAPOSSE
Nodireitoportuguêsexistemdoisfactosconstitutivosdaposse:oapossamentoeainversãodo
titulodaposse.
1. Oapossamento
Oapossamentodesignaaapreensãodocontrolomaterialdacoisaporaquelequeatéaínãoa
tinhaemseupoder.
Deacordocomoart.º1263al.a)sãonecessários3requisitosparahaverapossamento:
a. Umapráticadeatosmateriais;
b. Reiteraçãodapraticadeatosmateriais;
c. Publicidadedosatosmateriais.
a. Apraticadeatosmateriais:
Oapossamentoconstituiatomadadocontrolomaterialdacoisaeconcretizaseatravésdos
atos físicos necessários à sua apreensão. O agente tem de atuar de molde a ter o corpus
possessórioemseupoder.
Ex.:B,sabendoqueoprédioestádevoluto,arrombaafechaduraeinstalaselá.Cfurtaaschaves
doautomóveldeDnorestauranteefogecomele,escondendoonasuagaragem.
Oapossamentopressupõeumcomportamentoatravésdoqualoagenteganhaoseucontrolo
material.
Seoproprietáriooriginalcontinuaaatuarsobreacoisa,entãoquerdizerqueoapossamento
nãoseconcretizou.
O apossamento pode ocorrer nos termos de qualquer direito de gozo e não apenas na
propriedade.
b. Reiteraçãodapraticadeatosmateriais:
Decisivoseráassimnãoarepetiçãodaatuaçãomaterial,masaintensidadedeatuaçãosobrea
coisaparaconsumarocontrolodela.
Umcontroloepisódico,efémeroetransitórionãoésuficienteparaoapossamento.Esterequer
que o possuidor esteja em condições de atuar duradouramente sobre a coisa, ou seja, de a
conservaremseupoder.
O que interesse aqui é se o possuidor chegou a consumar a apreensão material e se tinha a
possibilidadedemanterocontrolodacoisa.
O tempo não é aqui relevante para o apossamento; o que conta é sempre a intensidade da
atuaçãoparacriarocontrolomaterialdacoisapelosujeito.
48
ResumosExameDireitosReais
c. Publicidadedosatosmateriais:
Sempre que a atuação material sobre a coisa corpórea permita criar o controlo sobre ela,
permitindo que o agente possa renovar a sua atuação sempre que queira, por si ou por
representante,háapossamentosemnecessidadedeaferiroanimusdaposse.
Ocaracterocultodaatuaçãomaterialdoagentenãoobstaàconstituiçãodeumaposseafavor
deste,porapossamento,semprequeesteenvolvaumcontrolomaterialdacoisa.
Notas:Oapossamentopodeterlugaratravésdealguémqueatueporcontadoadquirenteda
posse.Podetambémserlevadaacaboporumapessoacoletiva.
2. Ainversãodotítulodaposse
Oart.º1263/ddispõequeaposseseadquireporinversãodotitulodaposse,quevemaser
reguladanoart.º1265º.
Nainversãodotitulodaposseodetentordacoisapassaaexteriorizarumdireitoprópriosobre
ela,ouseja,aafirmaraposseemnomepróprio.
Aquelequeatéaíatuavaemnomealheiro,emnomedopossuidor,começaafazelonostermos
doprópriodireito.
Écompletamenteindiferentequenãosejaotitulardessedireito;ainversãodotitulodaposse
nãoéumfactoaquisitivodeumdireitoreal,massimdaposse.
Ainversãodotitulodaposseprovocaaaquisiçãodaposserelativaaqueodetentoparaa
referirasuaatuaçãosobreacoisa.
Ainversãodotitulodaposseoperasempreporumdetentor,istoé,alguémquetemocorpus
possesório,semqueodireitoreconheçaasuaposse(1253º).
Faltandoocorpusnãopodehaverinversãodotitulodaposse.
Ainversãonãopodeserconfundidacomoapossamento,porquenoapossamentonãohácorpus
possessórioprévio,enquantonainversãotemmesmodehavercorpuspossessório.
A inversão do titulo da posse opera também relativamente aos possuidores que sejam
simultaneamentepossuidoresdeumdireitopróprio.
Temlugarmesmocontraavontadedopossuidorcontraoqualeleatua.
Paraocorrerplenamenteainversãodotítulodapossetêmdeestarpreenchidosdoisrequisitos:
a. Oposiçãododetentorcontraaqueleemcujonomepossuía;
b. Atodeterceiro.
a. Oposiçãododetentor:
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Aoposiçãopodesermaterial,jurídicaourevestirasduasformas.Aoposiçãonãotemnatureza
jurídiconegocial. A conduta de oposição não tem de ter forçosamente um conteúdo de
comunicação.Trataseantesdeumatojurídico.
Podeserjudicialouextrajudicial.Odetentorquedemandaopossuidor,pedindoaotribunal
quedeclaresereleotitulardeumdireitoenãoopossuidorquepeçaaotribunalquedeclare
sereleotitulardeumdireitocontroopossuidorinverteotitulodaposse.
Ocomportamentodeoposiçãodeveserexteriormentereconhecívelpelopossuidorquandoa
oposição não lhe é comunicada e significar, inequivocamente, a afirmação de um direito
própriopelodetentor,diversodoexteriorizadoatéaí.
b. Oatodeterceiro:
Podeserumnegóciojurídicounilateraloumultilateral.
Deveter,emabstrato,eficáciarealparafundaraconstituiçãooutransmissãododireitoreal
emcausaafavordodetentor.
Dizse em abstrato, porque o art.º 1265 não supõe a validade do negócio, apenas a sua
idoneidadeparafundarapossenostermosdodireitorealpróprio.
Onegóciojurídicoquebeneficiaodetentorpermiteaesteexteriorizarumdireitorealqueaté
aínãoexercia.
Diferentementedoquesucedenaoposição,ocorreaquiaincidênciadeumnovotitulo,queé
constituídopelonegóciojurídicoquebeneficiaodetentor.
Aíodetentorpassaapossuidor.
Notas:
Ainversãodotitulodapossemudaasituaçãojurídicorealdacoisaapenasnoquerespeitaà
posse:odetentorpassaapossuidor.
Ainversãodotitulodaposseconfiguraumfactoconstitutivodaposse,ouseja,ummodode
aquisiçãoorigináriodaposse.Aposseadquiridaéumapossenova.
Aquelequeinverteotitulodaposseetemumapossepublicaepacificapodeadquirirodireito
realaqueserefere,contandoqueseverificamosoutrosrequisitos(1290º).
O prazo para usucapião contase desde a data da inversão do titulo, pois só a partir desse
momentoéqueháposse.
XII. OSFACTOSTRANSLATIVOSDAPOSSE
Sãodoisosfactostranslativosdaposse:
1) Atradição;
2) Oconstitutopossessório.
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1. Atradiçãodacoisa
Atradiçãoéofactodetransmissãodaposse.Elasignificaaperdavoluntáriadocontrolomaterial
dacoisapeloantigopossuidormedianteaentregadestaaonovopossuidor.
Atradiçãorequerapassagemdocontrolomaterialparaonovopossuidor,oqueéfeitoatravés
doatodeentrega.
Oart.º1263/bapenasdistingueentretradiçãomaterial(respeitaàentregadacoisamãoamão,
possivelmenteunicamenterespeitaàscoisasmóveis)eatradiçãosimbólica(abrangetodasas
formas pelas quais o possuidor renuncia voluntariamente ao seu senhorio sobre a coisa,
colocandoaàdisposiçãodoadquirente).
Atradiçãodeumacoisapodeterlugarporforçadeumatodeconstituiçãooutransmissãode
umdireitoreal(normalmenteéistoqueocorre).
Atradiçãopode,porém,operarporforçadeumcontratotranslativodoprópriaposseemesmo
quenãohajaacordo,seademissãodocorpusseprocessarvoluntariamenteafavordeoutra
pessoa,ouseja,seaentregadacoisaseconsumar.
Atradiçãoocorresimplesmentequandoficaconsumadaaentrega,materialousimbólica,da
coisaeocorpuspossessóriopassaparaoadquirente.
Atransmissãodaposseportradiçãonãovemaserafetadapelainvalidade(ouineficáciaem
sentidoamplo)donegóciojurídicoeulheserviudecausa,sehouver.
Fora dos casos de constituto possessório, a transmissão da posse supõe a tradição da coisa.
Faltandoesta,apossenãosetransmiteaindaqueodireitorealaqueelasereferesetransmita.
2. Constitutopossessório
No constituto possessório o possuidor passa a detentor, continuando embora a ter a coisa
consigo.
Hipótesespraticasdeconstitutopossessórioocorremquandooproprietáriovendeacoisa,mas
celebrasimultaneamentecomocompradorumarrendamento,comodato,umdeposito,oudoa
apropriedadeereservaousufrutoparasi.
Oconstitutopossessóriointegraumatransmissãodaposseporsimplesconsenso.
Oart.º1264estabelece3requisitos:
1) Umnegóciojurídicodetransmissãododireitorealdegozo:oconstitutosurgecomo
efeito jurídico de um contrato real quanto aos seus efeitos. A transmissão da posse
acompanhaatransmissãododireitorealaelarelativo;
2) Queotransmitentedodireitorealsejapossuidor:seotransmitentedodireitorealnão
épossuidor,nãopodetransmitirumapossequenãotem;
3) Umacausajurídicaparaadetençãodacoisa:oconstitutopossessóriorequerumacausa
jurídica. Esta causa é antes de mais um contrato. Pode, no entanto, ser uma mera
convençãonegocialdocontratodetransmissão.
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Destemodo,oatodetransmissãododireitorealconstantenoart.º1264/1deveserentendido
comoumatojurídicoválido.
3. Asucessãonaposse
Art.º1255.
XIII. OSFACTOSEXTINTIVOSDAPOSSE
Oart.º1267/1estabeleceosfactosextintivos:
a) Oabandono;
b) Aperdaoudestruiçãodacoisa;
c) Acolocaçãodacoisaforadocomercio;
d) Oesbulho.
Estaenumeraçãonãoétaxativa,ouseja,apossepodeextinguirseporoutrosfactos,taiscomo
aexpropriaçãodacoisa.
Acedênciamencionadanaal.c)doart.º1267nãoconstituiumfactoextintivo,umavezquese
ligaàtransmissãodaposseaoutrem.–nãosepodeconsiderarfactoextintivo!
Oscasosdeextinçãodaposseretratamsituaçõesemqueocorpuspossessóriofoiperdidooua
leiinterveiodispondoaextinçãodaposse.
1. Oabandono
Oabandonoconsistenaperdavoluntáriadocorpuspelopossuidor.Noabandono,opossuidor
quebra o controlo material sobre a coisa, deixando de o exercer por opção própria. Como
consequênciaaposseextinguese(1267º/1al.a).
Oabandonosóextingueapossehavendoperdadocorpuspossessório.Nãobastaumíntimoe
escondidodesejodeabandonodopossuidorparaqueaposseseextinga;énecessárioquese
extingaocontrolomaterialdacoisa.
Aquiaintenção(animus)nãotemqualquerrelevância.
2. Aperdadacoisa
Existequandoinvoluntariamente,opossuidordeixadeestarnocontrolomaterialdela,semque
talsedevaaumatodeterceiro(contraposiçãocomoabandono).
Sóháextinçãoquandoopossuidorestiverimpossibilitadodedescobriracoisa.
3. Destruiçãomaterialdacoisa
Principiodainerência.
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ResumosExameDireitosReais
4. Acolocaçãodacoisaforadocomércio
Seumacoisaépostanodomíniopublico,extingueseapossequesobreelaincidia.
5. Oesbulho
Oesbulhoconsistenaprivaçãodacoisaporatodeterceirocontraavontadedopossuidor.O
corpuspossessóriofica,assim,destruídoe,comissoapossecessa.
Asformastípicasdeesbulhosão:oapossamentoeainversãodotitulodaposse.
Aleiportuguesa,porém,nãoprevêaextinçãodapossenomomentoemqueoesbulhofica
consumado.Comefeito,opossuidoresbulhadosóperdeaposseumanoapósoesbulhoe,com
isso,apossecessa.
Duranteesseano,oesbulhadopermanecepossuidorcoexistindoasuapossecomanovaposse
doesbulhador,adquiridapeloapossamentooupelainversãodotitulodaposse.
Esteprazodeveserarticuladocomadefesapossessória.
6. Pretensosfactosextintivosdaposse.Referenciaaonãousoeàaquisiçãopor
terceirodeboafé
O não uso nunca pode ser considerado um facto extintivo da posse, devido até à própria
definiçãodecorpuspossessórioconstruídapeladoutrinaportuguesa(1257º/1).Queristodizer,
queoqueinteressaéqueopossuidortenhaapossibilidadedeagirmaterialmentesobreacoisa,
masnãotemdeestarpermanentementeafazelo.Devidoaestajunçãodeideiasparecenos
controversoaextinçãodapossepornãouso.
7. Efeitosdaposse:
Oprincipalefeitodapossevemprevistonoart.º1268/1.Apossefazpresumiratitularidadedo
direito a que essa posse se reporta. Quem tem posse como proprietário presumese
proprietário,quemtemapossecomousufrutuário,presumeseusufrutuário,etc.
Apresunçãodetitularidadedodireitoprendesediretamentecomafunçãodepublicidadea
queapossesereporta.
IX.OSMEIOSDEDEFESADAPOSSE
Odireitoprovidenciaaospossuidoresmeiosdedefesadaposse.
Asaçõespossessóriassãotípicas,istoé,sóexistemaquelasquealeiprevê.AtualmenteoCC
consagratrêsaçõespossessóriaseumprocedimentocautelar.Aestesmeiosdedefesaàque
juntarosembargosdeterceiros(1285º).
Asaçõespossessóriassão:
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Açãodeprevenção(1276º):destinaseapreveniratosdeperturbaçãoouesbulhode
terceiro, sejam eles judiciais ou extrajudiciais e, neste ultimo caso, materiais ou
jurídicos.Nãobastaosimplesreceio,massimojustoreceio.Nãopodehavernenhuma
condenação,poisaindanãohouveviolaçãodaposse,apenashaverãosanções;
Açãodemanutençãodaposse(1278º):supõequeumterceiroconcretizouumaação
de violação da posse, através da pratica de atos de perturbação. São atos de
perturbação todos os atos materiais que não impliquem o esbulho, isto é,
desapossamento efetivo da coisa. Esta ação pressupõe que o possuidor mantenha a
coisa consigo, não tendo sido consumado o desapossamento. A reação contra a
tentativafalhadadeesbulhodeveserfeitapormeiodeaçãodemanutençãodaposse
enãopormeiodeaçãoderestituiçãodaposse;
Açãoderestituiçãodaposse(1278º):temlugarquandoopossuidorforprivadodacoisa
pelo esbulho. Neste caso o corpus possessório é destruído pela intervenção de um
terceiro,queconcretizaodesapossamentodacoisa,retirandoadaesferadepoderdo
possuidor.
OPROCEDIMENTOCAUTELARéarestituiçãoprovisóriadaposseeencontrasenoart.º1279.
Nãosãoumaaçãopossessória,massãoummeiodedefesajudicialdaposseemprocessode
execução.
Paraestaaçãooart.º1279exige:
• Aexistênciadeumaposse;
• Umatodeesbulhodacoisa;
• Aviolênciadoesbulho.
A especificidade deste meio de tutela da posse advém da reação a um esbulho violento. De
acordocomoart.º1261/2oesbulhoéviolentosemprequeoesbulhadorempreguecoação
físicaoupsicológicasobreopossuidorparaobteracoisa.
Oprocedimentocautelarespecificoencontrasenosart.º393a395CC.
1. Legitimidadepassivaparaaçãoderestituiçãodaposse:ainoponibilidadeda
posseaterceirodeboafé
Oart.º1281dispõequeaaçãoderestituiçãopodeserinterpostacontraoesbulhador.
Podeacontecer,porém,queoesbulhadortransmitaacoisaaterceiro.Perguntasenessecaso,
seaaçãoderestituiçãopodesermovidacontraele?
Oart.º1281/1distingueoterceirodeboaféedemáfé.Ora,seoterceiroestiverdeboaféa
possenãolheéoponível.Nãosetrata,noentanto,deumproblemadelegitimidadepassiva
paraaaçãoderestituição,massimplesmentedeinoponibilidadedeumdireito(aposse)contra
terceiro.
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ResumosExameDireitosReais
A ação de restituição, se movida contra terceiro de boa fé, será improcedente por falta de
oponibilidadedeterceiro.
(salteipág.550a573)
CAPÍTULOIX–APROPRIEDADE
I. NOÇÃODEPROPRIEDADE
Oart.º1305fixaoconteúdododireitodepropriedade.
Odireitodepropriedadeatribuiaotitulartodosospoderesoufaculdadesqueàcoisasepodem
referir.Oproprietáriopodefazerqualqueraproveitamentodacoisaquealeinãoproíba,oque
levaaconsiderarparaasuadelimitaçãosomenteasrestriçõesaesseaproveitamento(conteúdo
negativo).
Emrelaçãoàpropriedadeconsideramos:
• Opoderdeuso;
• Opoderdefruição;
• Opoderdetransformação;
• Opoderdereivindicação;
• Opoderdeexcluirterceirosnãoautorizadosdogozodacoisa;
• Opoderdedemarcação(decoisasimóveis);
• Afaculdadededisposição,incluindoopoderparaalienar,opoderparaonerareopoder
pararenunciar.
Estes são os poderes conferidos pedo ordenamento ao proprietário. A possibilidade do seu
exercícionãosurge,noentantoigualemtodasascoisas.
Oconteúdotípicodapropriedadepertenceàssituaçõesjurídicaspassivas(conteúdonegativo).
Estas delimitam a medida do aproveitamento da coisa concedido pelo conteúdo positivo do
direitoe,nessamedida,conformamaextensãodotipolegaldodireitodepropriedade.
Qualquerlimitaçãoconvencionalaodireitodepropriedadeencontrasesujeitoaoprincipioda
tipicidade,quevalenaturalmentetambémparaele.
Apenasaleipodecriaroconteúdonegativo(situaçõesjurídicaspassivas)paraapropriedade.
As restrições negociais da propriedade de que tenham este alcance violam o principio da
tipicidade,comoexpressamentedispõeoart.º1306egeramanulidadedonegóciojurídicoem
causa.
Em todo o caso, havendo uma limitação convencional ao aproveitamento da coisa, importa
distinguirconsoanteelatemnaturezarealouobrigacional.
O principio da tipicidade só é colocado em causa quando a convenção negocial respeita ao
contudo típico (injuntivo) do direito, ou seja, dito por outras palavras, quando altera a sua
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ResumosExameDireitosReais
eficáciareal.Oquedeixadeforaaslimitaçõesaoaproveitamentodacoisaquetenhamnatureza
meramenteobrigacional.
Taisvinculaçõesdoproprietário,constituindomerasobrigações,nãoredundamemqualquer
violaçãodoprincipiodatipicidadeesão,porconseguinte,válidas.
II. FACTOSCONSTITUTIVOSDEPROPRIEDADE
Paraalémdosfactosaquisitivosgenéricos,existemfactosjurídicosespeciaisdapropriedade,
factosconstitutivosquesórespeitamaestedireito.Sãotrêsestesfactos:
• Aacessão;
• Aocupação;
• Oachamento.
1. Aacessão
a. Noçãoerequisitosdafigura:
OCCprevêaacessãocomoumfactoconstitutivododireitodepropriedadenoart.º1317/d.a
acessãovemdepoisaserdefinidanoart.º1325.
Deacordocomesteart.ºaacessãopressupõedoisrequisitos:
1) Auniãooumistura(confusão)deduas(oumais)coisas;
2) A inseparabilidade da coisa resultante da união ou mistura de duas ou mais coisas
autónomas.
1) Auniãooumisturadeduasoumaiscoisas:
Por virtude de uma qualquer causa, que pode ser natural ou provir da ação do homem,
intencional ou causal, duas ou mais coisas combinamse ou fundemse uma na outra. O
fenómenoédeordemmaterialoufísica.
Aacessãotemlugarquernauniãoquercomamistura,semqueoregimeportuguêsdiferencie
oregimeentreambas,comosepodevernosart.º1333,1334ºe1335º.
Auniãonãoérequeridaemtodasashipótesesdeacessão.Nãooé,nomeadamente,nahipótese
deavulsão(1329º).
2) Inseparabilidade da coisa resultante da união ou mistura de duas ou mais coisas
autónomas:
Se duas ou mais coisas se ligam entre si por qualquer facto, mantendose, no entanto, a
possibilidade de separação, a acessão não se dá e qualquer dos proprietários pode exigir a
separaçãoereivindicarasuacoisadequemativeremseupoder.
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ResumosExameDireitosReais
Destemodo,auniãooumisturadecoisaséprecária,nãodefinitivaeelaspodemvoltaràsua
formaoriginalatravésdeumatodeseparação,logonãopoderáhaveraquiacessão.
Ainseparabilidadenãovemmencionadacomorequisitodaacessãonoart.º1325.Noentanto,
dispõeexplicitamenteoart.º1333/1sobreamesma.Tambémnosart.º1334ºe1335ºsefala
eminseparabilidade.
Ainseparabilidadeaplicaseatodasasformasdeacessão.
Ainseparabilidadedequefalamoscomorequisitodaacessãonãodeveservistaemsentido
material. Falase em sentido normativo, esse sentido está presente nos art.º 1333, 1334º e
1335º. Aqui evidenciase a inseparabilidade, não apenas se a separação das coisas não for
materialmentepossível,mastambémquandoqualquerdascoisasunidasoumisturadasnão
pudersepararsedaquelaquefoiunidaoumisturadasemsofrerprejuízo,istoé,semseperder
oudeteriorar.
Ocritérionormativoassenta,pois,napossibilidadedeascoisas,ambasouumadelas,poderem
voltaràsuaprimariaformasemsofreremdanoirreparável.
Ou seja, se houver detrimento de uma das coisas, mesmo havendo possibilidade técnica de
separação,háinseparabilidadeparaefeitosdeacessão.
b. Oâmbitodaacessão.Delimitaçãonegativa:
O regime da acessão só se aplica à hipótese de união ou mistura de coisas pertencentes a
proprietáriosdiferentesquandonãohajaoutroregimequereguleespecificamenteasituação.
Umauniãodecoisasrealizadaporumadaspartesdocontratocujasregrasaregulamouporum
possuidornãoéreguladopelasregrasdaacessão.
Assim,oregimedaacessãoésubsidiário.
c. Acessãoebenfeitorias:
Háumaverdadeiradificuldadenosistemaemdistinguiroregimejurídicodaacessãoeoregime
dasbenfeitorias.
Para JAV, fora dos casos em que a lei preveja especificamente a aplicação do regime de
benfeitorias,todaauniãooumisturadecoisaspertencentesaproprietáriosdiferentesestá
sujeitaaoregimedaacessão,mesmoqueoagentedaincorporaçãosejapossuidor.
d. Acessãoeboafé:
Oregimedaacessãodivergeconsoanteoautordauniãoestejadeboaféoudemáfé.
Aleiportuguesaestabeleceoquesedeveentenderporboafénoart.º1340.Oraesteartigo
parece darnos uma conceção subjetiva psicológica de boa fé. De acordo com o JAV, esta
conceçãonãocorrespondehojeàsexigênciasdotraficojurídico.
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ResumosExameDireitosReais
Aspessoasnãopodemficaràmercedainerciaedaignorânciadosoutrosnoconhecimentodos
seusdireitos,sujeitandoseaosdesígniosdacondutadaquelesquejustamentenãorevelaram
qualqueriniciativaparaosrespeitar.
Devidoaestafundamentaçãooprof.JAVafirmaquedevemosinterpretaraconceçãodaboafé
ética,ouseja,odesconhecimentonãoéasimplesignorância,temdeserumdesconhecimento
desculpáveldessedireito.
(salteipág.601à604).
e. Acessãoindustrialimobiliária:
Aarrumaçãodasmatériaséfeitaem4hipóteses:
1) Obras,sementeiraseplantaçõesemsoloprópriocommateriaisalheios(1339º):
Oproprietáriofazobrasnoseuterrenocommateriaisalheios(ouseja,semconsentimentodo
proprietáriodosmateriais).Havendoinseparabilidade,nosentidoanteriormentediscutido,o
proprietáriodoterrenobeneficiadaacessão,estandoobrigadoapagarovalordascoisasque
utilizou ao proprietário das mesmas, bem como indemnizar (sendo o caso) pelos danos
causados.
Aquioproprietáriodosoloadquiresempreapropriedadedascoisasqueincorporaqueresteja
deboaféoudemáfé.Aoproprietáriodascoisasnuncaésequerdadoodireitodeacessão,
apenasodireitoareceberopreçodascoisas.
2) Obras,sementeiraseplantaçõesfeitasemterrenoalheio,distinguindoseaboaféou
amáfédoautordaunião(1340ºe1341º):
Seauniãohouversidofeitadeboafé: Seauniãohouversidofeitademáfé:
Acessão:obedeceao
Reconstituiçãoda
Nocasodeaobra principiosuperfícies
Casoavalorizaçãotrazida Quandooimplantenão situaçãoexistente
acrescentarao solocedit.Apenaso
peloimplanteaoprédio trásaoprédioumvalor prédioovalorexato paraoprédioantesda
formaiordoqueeletinha superioraovalorqueele proprietáriodoprédio
união:oproprietário
queeletinhaantes podeadquirira
antesdaimplantação,o
tinhaantesdaunião,o doprédiopode
deelaocorrer,irá propriedadedo
direitodeacessão direitodeacessãoé destruiroimplante,
haverumalicitação implante,nãooautor
pertenceaoautordaobra, atribuídoaoproprietário entreos recaindosobreoautor
emdetrimentodo dauniãoocustode daunião.Exercendoa
doprédio(1340º/3). proprietários
proprietáriodoprédio reposição,assimcomo acessão,oproprietário
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(1340º/2+1333º). do prédio deve
(1340º/1) uma indeminização
ResumosExameDireitosReais
*daunião.Aindeminizaçãosurge,porém,oregimedoenriquecimentosemcausa(1341ºno
fim).
3) Obras,sementeiraseplantaçõesfeitascommateriaisalheiosemterrenoalheio
(1343º):
Oautordauniãonãobeneficiadaacessão.Emcontrapartida,essedireitopertenceaodonodo
prédioouaodonodosmateriais,deacordocomoestabelecidonoart.º1340;nº1enº3seeste
ultimonãotiverculpanaatuaçãodoautordamistura(1342º/1e21ªp.).Estaregraaplicase
independentementedoautordauniãoestardeboaféoudemáfé.
Havendoculpadoproprietáriodosmateriaistemlugaraaplicaçãodoart.º1341,mesmoqueo
autordauniãoestejadeboafé.Seestiverdemáfé,aresponsabilidadeprevistanoart.º1341
paraoautordaincorporaçãoésolidariaentreesteeoproprietáriodosmateriais,cabendolhes
aindeminizaçãoporenriquecimentosemcausa(1342º/2nofim).
4) Prolongamentodoedifícioemterrenoalheio(1343º):
O art.º 1343 permite àquele que construiu parte de o edifício em terreno alheio adquirir a
parceladeterrenoocupadapelaconstrução.Opreceitoestabelecetrêsrequisitosparaoefeito:
• Aboafédoautordaconstrução:seesteestiverdemáféoproprietáriodoterrenopor
ondeseprolongouoedifíciopodeexigiradestruiçãodaparteerguidanoseuprédio,às
custasdoconstrutor,devendoaindaindemnizarpelosdanoscausados;
• O decurso de 3 meses sem oposição do proprietário do terreno ocupado:
independentementedaboafédoconstrutor,oproprietáriodosolopodesemprereagir
pedindoadestruição,casonãohajampassadoos3mesesdoiniciodaconstrução.Seo
fizer,tambémnãohaveráacessão;oprazocontaseapartirdomomentodaconstrução
emterrenoalheioenãodoapossamentodeste.Aoposiçãopodeserfeitaatravésde
qualquer modo que exprima o descontentamento e o prepósito de não autorizar a
feituradaobra.Podeserextrajudicialmenteoujudicialmente.
• O pagamento de uma indeminização pelo valor do terreno e por outros danos
causadosaoproprietárioeaosoutrostitularesdedireitosreais(1343º/2).
f. Direitoàacessãoedireitosreaismenores:
Tambémpodeacontecerqueumadascoisasunidasoumisturadassejaobjetodeumdireito
realmenor.
Perguntaseentãoseobeneficiáriodaacessãoésóoproprietárioouseumtitulardeoutro
direitorealdegozopodeigualmentebeneficiardesseregime?
Arespostadadapeladoutrinatemsidoafirmativa(MenezesCordeiroeOliveiraAscensão).A
ideiaésimples.Semprequeauniãooumisturasedánoâmbitodoconteúdododireitoreal
menor (de gozo), o titular desse direito beneficia da acessão. Esta é uma decorrência da
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ResumosExameDireitosReais
oneraçãododireitodepropriedade.Oproprietárionãopoderáexerceroseudireitonaparte
emqueodireitoestáonerado,podendoapenasousufrutuário(porexemplo)exercer.
(densificarcomaspáginas610e611)
g. Odireitoadquiridopelaacessãoésempreapropriedade:
Admitindose que o titular do direito menor pode beneficiar da acessão, levantase então a
questãodesaberqualodireitoqueeleadquire?
Oprof.MenezesCordeiroeOliveiraAscensãosustentamquesepodemconstituirporviada
acessãooutrosdireitosreais.
DeacordocomJAVistoéimpensável.Defenderqueumtitulardedireitorealdegozomenor
possa beneficiar da acessão não implica logicamente sustentar que o direito adquirido pelo
beneficiáriosejaomesmoquelhepermitiuaacessão.
Pelocontrário,pensamosqueodireitorealadquiridoporviadaacessãoésempreodireitode
propriedade,mesmoquandoodireitoquepermiteaacessãoéoutrodireitoreal.
Se por exemplo no regime do usufruto, o usufrutuário fizer obras (transformações na coisa
objetodousufruto),ficaproprietáriodestas,sendoindemnizadospeloproprietáriodacoisaa
nível de benfeitorias, porque razão seria diferente no regime da acessão? Não há nenhuma
razãológicaquejustifiqueaafirmaçãodoprof.MenezesCordeiro.
(salteipág.614a618)
h. Omomentodaaquisiçãodapropriedadeporacessão:
Oart.º1317al.d)estabelecequeomomentodaaquisiçãoporacessãoéodaverificaçãodo
factorespetivo.Mas,estaexpressãosuscitaduvidas.
Qualéentãoomomento,aqueserefereaal.d)doart.º1317?
De acordo com o Supremo Tribunal de Justiça o momento de aquisição da acessão é “o
momentodaincorporação”,segueaposiçãodoprof.AntunesVarela.
Mas,paraJAVestemomentocorrespondeaopagamentodaindeminizaçãocomaaquisiçãodo
direitorealpelobeneficiáriodaacessão,comoensinaoprof.OliveiraAscensão.
Não há qualquer retroatividade da acessão ao momento da união ou mistura; o pagamento
determinaomomentodaaquisiçãododireitodepropriedadepelobeneficiáriodaacessãoque
exerceodireitopotestativorespetivo.
Somentecomessepagamentoobeneficiáriodaacessãoadquireapropriedadedacoisaunida
oumisturada.
i. Acessãoeautonomiaprivada:
Seoproprietáriodoprédioacordarcomoconstrutoquebeneficiadaacessão,porforça
doart.º1340/3oudoart.º1341.Podeconvencionar.
60
ResumosExameDireitosReais
(pág.619).
2. Ocupação
a. Noçãolegalerequisitos:
O CC (art.º 1318) limita a ocupação às coisas móveis e as animais nullius. Os imóveis são
insuscetíveisdeocupação.
Ascoisasmóveiseosanimaissãonulliusporquenuncativeramdonoouporque,tendotido,o
proprietáriorenunciouaoseudireito.Nesteultimocaso,éaindanecessárioqueoproprietário
deixedeserpossuidordacoisa,peloabandono,poisaocupaçãoprocessasepelaapreensão
materialdacoisa.
Osrequisitosapresentadosnoart.º1318parahaverocupaçãosão:
1) Queacoisamóvelouanimalsejanullius;
2) Aapreensãomaterialdacoisaouanimal.
1) Queacoisamóvelouanimalsejanullius:
Requersequeacoisanãotenhadono,sejanullius,porquenuncafoiatribuídaaninguémpelo
ordenamentoouporqueapropriedadeseextinguiusemquehajaconstituídonovodireitoa
favordeoutrapessoa(p.e.renunciadoanteriorproprietário).
2) Apreensãomaterialdacoisaouanimal:
Aocupaçãotemsubjacenteumatodeapossamento,quegeraigualmenteaconstituiçãoda
possepeloocupantesobreacoisaouanimal(1263º/a).Comoapossamentooagentenãose
limita a adquirir a posse, mas também adquire a propriedade. Este é o efeito especifico da
ocupação(1316ºe1318º).
Uma vez que a ocupação se processa através de um apossamento, a regra da capacidade a
entenderéaqueconstadoart.º1266.Qualquerpessoa,capazdeexercícioounão,podeocupar
coisasmóveiseanimaisnullius.
Nadaimpedequeaapreensãomaterialsejalevadaacaboporváriaspessoasetambémpor
pessoascoletivas(1252º/1).
b. Casosespeciais:
Pág.622a624.
c. Eficáciadaocupação:
61
ResumosExameDireitosReais
Aocupaçãoconstituiumfactoaquisitivododireitodepropriedade(1316ºe1317º/d).Edóestes
direitopodeseradquiridoatravésdela.Quemseapossadeumacoisaouanimalsemdonoé
seuproprietário.
Odireitodepropriedadequeseconstituicomaocupaçãoéumdireitonovo,mesmonocasode
coisaouanimalabandonado.
d. Momentodaaquisiçãodapropriedade:
Naocupaçãoomomentodaaquisiçãodapropriedadeéaapreensãomaterialdacoisaouanimal
nullius. A constituição da propriedade por ocupação ocorre no momento em que o agente
concluioapossamentodacoisaouanimalnullius.
3. Oachamento
Operarelativamenteacoisasmóveisouanimaisperdidos,portantocomdono.Englobatambém
coisasouanimaisescondidos.
Porinterpretaçãoextensivadoart.º1323/1aplicaseigualmenteàscoisasescondidasquesejam
encontradasporalguémenãopossamserqualificadascomotesourosnosentidodoart.º1324.
O efeito aquisitivo do achamento (constituição da propriedade) ocorre apenas se forem
cumpridaspeloachadorasformalidadesestabelecidasnoart.º1323/1eaindadecorridooprazo
fixadononº2domesmoartigo(umano).
Assim, o apossamento da coisa perdida ou escondida não tem um efeito automático de
aquisiçãodepropriedade.
Naverdade,doart.º1323resultaqueoachadordeve:
Restituir o achado ao proprietário ou avisalo de que a sua coisa ou animal foi
encontrado,sesouberquemeleé;
Anunciaroachado,tendoemcontaovalordacoisaouanimal,ouavisarasautoridades,
deacordocomosusosdaterraseoshouver,senãosouberqueméoproprietário.
Avisandooproprietário,feitooanunciooucomunicadoàsautoridades,oachadoradquirea
propriedade da coisa ou animal perdido ou escondido se o proprietário não reclamar a sua
devoluçãonoprazodeumano(1323º/2).
Aleiportuguesaaindaatribuiaoachadorodireitodeindeminizaçãonoscasosdoart.º1323/3.
Porultimo,aleiestabeleceumregimefavorávelparaoachadoremmatériaderesponsabilidade
civilpelaperdaoudeterioraçãodacoisa,determinandoqueessaresponsabilidadeexisteapenas
emcasodedoloouculpagraveenãoquandoexistaapenasmeranegligencia.
(salteipág.627a629).
III. APROPRIEDADEHORIZONTAL
62
ResumosExameDireitosReais
1. Otipolegaldepropriedadehorizontal
Asujeiçãodeumedifícioaoregimedapropriedadehorizontaltornapossívelquecadaumadas
fraçõesemquesedecompõemjuridicamenteomesmosejaobjetodeumaafetaçãojurídica
diferenciada das demais. Deixa de haver uma propriedade sobre todo o edifício e passam a
coexistirváriaspropriedadessobrecadaumadasfraçõesemqueoedifíciofoirepartido.
Aconstituiçãodapropriedadehorizontalnãoseesgotacomadivisãodoedifícioporfraçõesou,
dito por outras palavras, as frações autónomas não são o único objeto a considerar na
propriedadehorizontal.
Paraalémdasfraçõesautónomas,subsisteoproblemadaspartescomuns.
Oart.º1421/1estabeleceaspartesdoedifícioqueseconsideramimperativamentecomuns,ou
seja, cuja natureza comum não pode ser afastada do titulo constitutivo. O nº2 do mesmo
preceitoafirmaqueodireitodepropriedadehorizontalestendesesimultaneamenteàfração
autónomaeàspartescomuns.
Oconteúdotípicododireitodepropriedadehorizontalexprimeestaduplicidade.
No que toca à fração autónoma, o conteúdo do condómino tem a mesma feição do da
propriedade: o conteúdo positivo do tipo deste direito (1305º), que se aplica igualmente à
propriedadehorizontal.
Porconseguinte,ocondóminopodeusarefruirafraçãoeaspartescomunsdoedifício,assim
comodispordoseudireito.
O conteúdo do direito do condómino relativamente às partes comuns não está sujeito à
aplicaçãodiretadoregimedacompropriedade.Istoporquealeiprevêumregimeespecifico
paraacompropriedadedaspartescomuns,queestáespalhadonosart.º1423e1420ess.
Porém, em tudo o que não contrarie o regime da propriedade horizontal, pode aplicarse
subsidariamenteoregimedacompropriedade.
Em suma: o direito de propriedade horizontal é o direito do condómino sobre o edifício
constituído nesse regime. Dizer que se trata apenas de um direito sobre a fração autónoma
representaignoraraextensãododireitoàspartescomunsdoedifício.Poroutrolado,rejeitamos
atesedaexistênciadedoisdireitos(àfraçãoautónomaeàspartescomuns);existeapenasum
único direito: o direito de propriedade horizontal. O conteúdo desse direito exprime uma
duplicidadedoseuobjetoeoregimejurídicodecadapartedomesmoseencontrasujeito.
2. Adelimitaçãonegativadotipodepropriedadehorizontal
A delimitação negativa do direito de propriedade horizontal é a mesma do direito de
propriedade(1422º).
Mas, ainda assim à uma especificidade que conformam o conteúdo negativa deste mesmo
direito,estãopresentesnoart.º1422/2(irveroart.º).
Outrosdeveresespecíficossurgemdispersospeloregimejurídicodapropriedadehorizontal.
63
ResumosExameDireitosReais
3. Adualidadedoobjetodapropriedadehorizontal
Podemosdizerqueoobjetodapropriedadehorizontalsecompõenasfraçõesautónomasenas
partescomuns.
Aspartescomunspodemvariarconsoanteotituloconstitutivodapropriedadehorizontal.Essa
variação respeita apenas às partes supletivamente comuns, não obstante disposição em
contráriodotituloconstitutivo.
Aspartesimperativamentecomunssãoasquesurgemenumeradasnoart.º1421/1.Seotitulo
constitutivoespecificaquealgumadelasintegraumafraçãoautónoma,eleénulo,porviolação
deumanormainjuntiva(280º/1e294º).
Aspartesdoedifícioindicadasnoart.º1241/2presumemseapenascomuns.Queristodizer
quenotituloconstitutivodapropriedadehorizontalpodeserdeterminadoquefazempartede
umadadafraçãoautónomaouqueconstituemmesmoumafraçãoautónoma.
Algumasdaspartesdoedifícioquealeiconsideraimperativamentecomunspodemserafetas
aousoexclusivodeumcondómino(1421º/3).
4. Requisitoscivisdeconstituiçãodapropriedadehorizontal.Otítuloconstitutivo
Osrequisitossãoosseguintes(1414º):
Apropriedadehorizontalsópoderecairsobreumedifício,portanto,sobreumacoisa
imóvelcomdeterminadacaracterísticadeconstrução;
Osedifícios,porsuavez,têmdeestardivididosemfraçõesautónomas;
Asfraçõesautónomasdoedifíciotêmdeserindependentesentresi.
Noart.º1415afirmasequeseforemdistintaseisoladasentresicomasaídaprópriaparauma
partecomumdoprédioouparaaviapublica.
No art.º 1416 dispõese que a falta dos requisitos exigidos importa a nulidade do titulo
constitutivo.
Portanto, em caso de nulidade do titulo constitutivo, o edifício ficará sujeito ao regime da
propriedadesingularoudecompropriedadeconsoanteonumerodeadquirentesdas“frações
autónomas”.Sehouverapenasumcondóminooregimeficaempropriedadesingular.
Comosabemos,otituloconstitutivodeumdireitorealérepresentadopelofactoouconjunto
defactosjurídicosdoqualnasceasituaçãojurídica.Aleielencanoart.º1417quaisosfactos
suscetíveisdeconstituiroregimedepropriedadehorizontalsobreoedifíciocomosrequisitos
acimaelencados.
Importa,noentanto,realçarque,paraalémdosrequisitoscivisdapropriedadehorizontal,alei
estabeleceaindarequisitosdevalidadedoprópriotituloconstitutivo(1418º/1):
• Asfraçõesdevemserindividualizadas;
• Ovaloratribuídoacadafraçãodeveserexpressoempercentagemoupermilagemdo
valortotaldoprédio.
A falta de cumprimento destas especificidades do titulo acarreta a nulidade do mesmo
(1418º/3).
64
ResumosExameDireitosReais
Paraalémdasindicaçõesobrigatóriasdotituloconstitutivo,oart.º1418/2preceituaaindaa
possibilidadedotituloconstitutivoconter:
Mençãodofimaquesedestinacadafraçãooupartecomum(al.a);
Regulamentodecondomínio;
Previsãodecomportamentoarbitralparaaresoluçãodelitígiosemergentesdarelação
decondomínio.
Aindicaçãodofimaquesedestinacadafraçãooupartecomumémeramentesupletiva,mas,
nesse caso, ela tem de bater certo com o prepósito que foi aprovado pela entidade
administradoracompetente,sobpenadenulidadedotituloconstitutivo(1418º/3).
5. Otituloconstitutivoeaposiçãodocondómino
O titulo constitutivo deve especificar a percentagem ou permilagem de cada fração no valor
totaldoprédio,sobpenadenulidade(1418º/3).
Adeterminaçãodapercentagemoupermilagemdafraçãonovalortotaldoprédiorepercute
sediretamentenoexercíciododireitodepropriedadehorizontaldocondómino.
Assim:
A cada condómino cabe a fruição nos rendimentos gerados pelas partes comuns do
edifíciodeacordocomovalordepercentagemoupermilagemdasuafração;
As despesas e encargos gerados pelas partes comuns, assim como as despesas de
inovações devem ser suportadas pelos condóminos na proporção do valor das suas
frações(1424º/1e1426º/1);
O voto do condomínio na assembleia de condóminos aferese pelo valor, em
percentagemoupermilagemdasuafraçãonoconjuntodovalortotaldoedifício.
O titulo constitutivo pode, no entanto, consagrar desvios a estas regras conforme se admite
expressamentenoart.º1424/1.
Emtodoocaso,enotocanteàfruição,otituloconstitutivonãopodeeliminardetodoopoder
de fruição do condómino, sob pena de violação do principio da tipicidade legal e
consequentementeanulidadedotituloconstitutivo(1306º/1).Nãohápropriedadesemfruição
(1305º).
Umavezassenteaposiçãodocondóminonotituloconstitutivo,elasópodeseralteradacoma
modificaçãodeste(1419º/1).
6. Efeitosdaconstituiçãodapropriedadehorizontal
Apenasoproprietáriosingulareoscomproprietários,voluntariamenteouemaçãodedivisão
decoisacomumpodemsubmeteroedifícioaoregimedapropriedadehorizontal.
Emcontrapartidadaconstituiçãodapropriedadehorizontal,odireitodepropriedadesingular
oucompropriedadesobreoimóvelextinguese.Deixadehaverumdireitodepropriedade(ou
vários de compropriedade) sobre todo o imóvel, para passar a haver tantos direitos de
propriedadehorizontalquantasasfraçõesautónomasindividualizadasnotituloconstitutivo.
65
ResumosExameDireitosReais
7. Asfontesnormativasdotituloconstitutivo
1) Alei(art.º1218);
2) O titulo constitutivo: quer o regulamento quer as deliberações da assembleia devem
estaremconformidadecomeste,sobpenadenulidade;
3) O regulamento: a elaboração deste é obrigatória em edifícios com mais de 4 frações
autónomas(1429ºA/1);
4) Deliberações da assembleia de condóminos: devem somente incidir sobre a
administração das frações comuns do edifício, única matéria sobre a qual têm
competência.Doart.º1433retirasequeestasdevemestaremconformidadecomalei,
regulamentoetituloconstitutivo.
8. Competênciadosórgãosdocondomínio.Administraçãodaspartescomuns
Os órgãos do condomínio são a assembleia de condóminos, onde têm assento todos os
condóminos,eoadministrador,queéeleitoeexoneradopelaassembleia(1435º/1).
Existemunicamenteparaaadministraçãodaspartescomuns(1430º/1).
Nãotêmcompetênciadedeliberaçãoouexecuçãorelativamenteàsfraçõesautónomas.
Esta delimitação de competência dos órgãos de condomínio não se reflete somente nas
deliberações da assembleia, podendo repercutirse igualmente nas normas aprovadas no
regulamentodocondomínio.
Nocasodeviolaçãodeumdeverdevizinhançapeloproprietáriodeumafraçãoautónoma,cabe
aocondóminooucondóminosafetadosreagirnostermosgeraisdodireito,incluindoopedido
judicialdecondenaçãonacessaçãodaatividadeilícitaeindeminizaçãopelosdanossofridos.
9. Deliberaçõesdaassembleiadecondóminos
(pág.638a640)
10.Ovalorjurídicodasdeliberações
Asdeliberaçõesdaassembleiacontráriasàleiouaoregulamentoanteriormenteaprovadassão
anuláveisarequerimentodequalquercondóminoquenãoastenhaaprovado,dispõeoart.º
1433/1.
Estepreceitotemdeserinterpretadocomcuidado.
Esteart.ºabrangeapenasasdeliberaçõestomadassobrematériasparaasquaisaassembleia
temcompetência,ouseja,aadministraçãodaspartescomuns(1430º/1).Qualquerdeliberação
tomada fora do âmbito da competência da assembleia é juridicamente nula e não apenas
anulável.Ocondóminoafetadonãotem,pois,delhedaroseucumprimento,umavezqueela
nãoovincula.
66
ResumosExameDireitosReais
Aimpugnaçãodasdeliberaçõesanuláveissegueatramitaçãoprevistanoart.º1433/2e3.
(salteidapág.641a645)
CAPÍTULOXXUSUFRUTO
I. OTIPOLEGALDOUSUFRUTO.DELIMITAÇÃOPOSITIVA
Oart.º1439dánosadefiniçãodousufruto.
Oaproveitamentocompreendidonotipolegaldeusufrutoabrange,assim,desdelogo:
• Ousoefruiçãodacoisa;
• Atransformaçãodacoisa,dentrodoslimitesnegativosdousufruto;
• Opoderdereivindicaracoisa.
Ousufrutoreservaparaousufrutuárioatotalidadedafruição,englobandoosfrutosnaturaise
civis. Porém, os créditos produzidos pela coisa que não sejam de qualificar como frutos
pertencemaoproprietário,salvoseoutracoisaresultardotituloconstitutivodousufruto.
Aadministraçãoordináriadacoisacabeaousufrutuárioenquantoduraroseudireito(1446º).
Asdespesascomaadministraçãoestãoacargodousufrutuário(1472º/1).
Ousufrutuáriotambémpodetransformaracoisa,emboraestásujeitoaoslimitesdorespeito
pelaformaousubstanciadacoisa.Comefeito,aleipermitearealizaçãodebenfeitoriasuteise
voluptuárias(1450º/1).
Oart.º1439ºnãomencionaadisposiçãododireito,masoart.º1444confereaousufrutuário
poderesealienareoneraroseudireito.
Opoderdedisposiçãonãopertenceaotipolegaldeusufruto.Podehaverusufrutoenãohaver
poder de disposição, porque a lei o proíbe ou porque o titulo constitutivo afasta devido à
vontadedaspartesapossibilidadedetodaequalquercedênciadogozodousufrutuário,sejaa
tituloobrigacionalsejaatítuloreal.
Quandootituloconstitutivosejaomissoealeinãoprevejaqualquerlimitação/proibição,o
usufrutuário pode livremente transmitir o usufruto a terceiro, constituir direitos pessoais de
gozoeoneraroseudireitocomoutrosdireitosreaisdegozooudegarantia(1444º).
Adisposiçãodousufrutofica,noentanto,sujeitaàlimitaçãoprovenientedoprazodeduração
dodireito.Oart.º1460afirmaquevaleaconstituiçãodequalquerdireitopelousufrutuário,seja
qualforanatureza(obrigacionalououtra).Nenhumdireitoconstituídopelousufrutuárioafavor
deterceiropodeterumaduraçãosuperioraousufruto,setalacontecer,ocontratoseránulo,
semprejuízodapossibilidadedereduçãonegocial(292º)paraoprazododireitodeusufruto.
Assim, os direitos constituídos pelo usufrutuário a favor de terceiro caducam no final do
usufruto.
67
ResumosExameDireitosReais
O tipo legal do usufruto compreende, assim, o gozo da coisa, todo o uso, fruição e ainda a
transformaçãoquenãoatinjaoslimitesnegativosdorespeitopelaformaesubstanciadacoisa.
Assim,ousufrutuáriotemogozoplenodacoisa(1439º).Queristodizer,queenquantoduraro
proprietárioficainibidodeagozar.
Falaseentãoemnuapropriedadeouemnuproprietário.Onuproprietárioestáimpedidodea
gozaracoisaenquantodurarousufruto,restalheopoderdedisposiçãoeoaproveitamento
residualeoscréditosquenãoconstituamfrutos.
Porisso,aconcorrênciadapropriedaderelativamenteaousufrutocorrespondeaumaoneração
dodireitodepropriedade,resolvidaafavordodireitorealmenor.
Teremos agora de analisar a possibilidade de as partes, no titulo constitutivo, restringirem o
exercíciodealgunsdospoderesrelativosaogozoouaté,nolimite,suprimilo?
JAVdiscordaqueistosepossafazer.Oargumentoextraídodoart.º1445,segundooqual,o
usufrutoseriareguladonotituloconstitutivotemdeserarticuladocomatipicidadelegaldos
direitosreais.Aconformaçãolivredoconteúdodeumdireitorealcontendecomonumerus
clausus,permitindoacriaçãodedireitosreaiscomoaproveitamentopretendidopelaspartes.
Ora,oprincipiodatipicidadenãosebastacomameraobservanmciadonumerusjúrisdodireito
real,mascomorespeitopeloconteúdotípicoinjuntivododireito.
E pensamos que isso sucede com qualquer diminuição dos poderes o uso, fruição e
transformaçãoque,nãooseliminadodetodo,lhesintroduzimosrestrições.
Oqueficaentãoparaaregulaçãodotituloconstitutivo?Muitacoisa,nãoincluindoasnormas
deconteúdoinjuntivo.
Umultimoaspetoareferirprendesecomaadmissibilidadedeumadelimitaçãoconvencional
doconteúdodousufrutoquetenhameraeficáciaobrigacional.Aquioprincipiodatipicidade
nãofunciona,poisesteapenasrespeitaaoconteúdotípicododireitoreal.
II. OTIPOLEGALDEUSUFRUTO.DELIMITAÇÃONEGATIVA
Oart.º1439mencionaorespeitonãoapenasdasubstanciadacoisa,mastambémdasuaforma.
Eistointroduzumsentidocomplementarqueimportaesclarecer.
Paraalémdapreservaçãodaessênciadacoisa,sempreseentendeuqueousufrutuáriodevia
igualmente manter o estado económico da coisa como o proprietário havia definido. Isto
constituiumdeverdousufrutuário.
Comefeito,dispõesenospreceitosdosart.º1446e1450/1queusufrutuárioestáobrigadoa
respeitarodestinoeconómicodacoisa(1446º)eanãoalterara“suaformaesubstancia,nem
oseudestinoeconómico”(1450º/1).
Questionase se o respeito pelo destino económico da coisa tem caracter supletivo ou
imperativo e sobre a necessária articulação com o limite de respeito da forma e substancia
contidonoart.º1439.
68
ResumosExameDireitosReais
Paraoprof.MenezesCordeiroestespreceitostêmcaractersupletivo.
De acordo com JAV, os art.º 1446 a 1467 não comportam apenas normas supletivas, mas
tambémimperativas.
Afirmasequeosart.º1446e1450reiteramoslimitesnegativostípicosdousufruto(orespeito
pelaformaesubstanciadacoisa),coartandoaautonomiaprivadaquandoestaospõeemcausa.
Assim, no art.º 1446ª lei portuguesa sujeita ao uso, fruição e a administração da coisa a um
critério de diligencia: o bom pai de família. Apenas o critério é supletivo e as partes podem
consagrarumoutroqueentendammaisadequadoparaoefeito.Senãoofizerem,éobompai
defamíliaquevale.
Porém,sejaqualforocritérioquefixem,oexercíciodequalquerumdestespoderesnãopode
conduziraumaalteraçãoeconómicadodestinodacoisa.
Na economia do art.º 1446 a supletividade respeita unicamente ao critério do uso, fruição e
administraçãodacoisaenãoàpartefinal,aqualéumelementoconstitutivodotipolegaldo
usufruto (o respeito pela forma e destinação económica da coisa), tem assim natureza
imperativa,estandoforadodomíniodaautonomiaprivadadaspartes.
Noart.º1450/1estáemcausaopoderdetransformaçãoeéestequepodejustamentepôrem
causaasubsistênciadacoisa,oquenãosucedequandooqueestáemcausaémeramenteo
uso,fruiçãoeadministraçãodacoisa.
Aformuladoart.º1450/1temumsentidoadicional,queéanecessidadedeassegurarqueo
usufrutonãopode,emqualquermomento,colocaremcausaasubsistênciadacoisaouasua
preservação(1439º).
Querdizer,aspartespodemcolocarnotituloconstitutivoregularomododousufrutuáriolevar
a cabo benfeitorias que lhe são permitidas, mas a transformação não podem, em momento
algum,colocaremcausaasubsistênciadacoisacomoelaéeodestinoeconómicoexistenteà
datadaconstituiçãodousufruto.
Osart.º1446e1450ºapenasreiteramproibiçõesgeraisqueencerramoslimitesnegativosdo
usufrutoequeconstamdoart.º1439.
Odestinoeconómicodacoisaouasuaformanocontextodosentidodoart.º1439afereseà
datadaconstituiçãodousufruto,ouseja,partesedofimeconómicoqueoproprietáriodeuà
coisaequeexistianomomentodaconstituiçãodousufruto(critériosubjetivo).
Oproprietáriopodeautorizarposteriormenteoutrodestinoeconómicoparaacoisa?
DeacordocomJAVnãopode,poisiriaimplicarsempreumaalteraçãodotipolegaldeusufruto
e,nessamedidanãopodeseradmitidopelaleiportuguesa(1306/1–númerosclausus).
III. ADURAÇÃODOUSUFRUTOCOMOELEMENTODOTIPOLEGAL
Atemporalidadedousufrutorepresenta,destemodo,umelementodotipolegaldestedireito
(conteúdo injuntivo típico) que não pode ser afastado pelas partes, sob pena de violação do
principiodatipicidade(1306º).
Nousufrutoconstituídoafavordepessoasingularaspartestêmduasalternativas:
69
ResumosExameDireitosReais
1) Constituirousufrutopelotempodevidadousufrutuário(usufrutovitalício);
2) Fixaroutrotermo;
3) Se não estabelecerem nenhum prazo, e na falta de indicação em contrário, deve
entendersequeoprazode30anosfuncionacomoprazosupletivo.
Seotitularorigináriododireitodeusufrutoporumapessoacoletiva,oart.º1443estabelece
queaduraçãodousufrutonãopodeexcederos30anos.
IV. OOBJETODOUSUFRUTO
Segundooart.º1439oobjetodousufrutopodeserumacoisaouumdireitoalheio.Acoisa
objetodousufrutopodesermóveleimóveleésempreumacoisacorpórea.
Adoutrinavaleparaquaisqueroutrosdireitosquepermitamoaproveitamentodeoutrascoisas
aoproprietáriodoprédioobjetodousufruto.
Doart.º1439parecedecorrerqueousufrutopodeterobjetodireitos(usufrutodecréditos,
usufrutodepenhor,etc.).
O JAV rejeita que haja direitos sobre direitos e que estes possam ser objeto de usufruto. O
usufrutosópoderáreferirseàcoisacorpóreaquesejaobjetododireito“usufrutuído”,nãoao
própriodireito.
V. OQUASEUSUFRUTO
O usufrutuário de coisas consumíveis adquiria a propriedade das coisas consumíveis e podia
consumilas,emsentidoprópriooujurídico,devendorestituiroutrastantascoisasemgéneroe
qualidade.
Ao usufruto sobre coisas consumíveis foi dada a designação de quase usufruto. A ligação ao
regime do usufruto é, todavia, circunstancial. O regime tem uma maior proximidade com o
regimedomútuo.
Estápresentenosart.º1451e1452º.
VI. OUSUFRUTOSIMULTANEOEOUSUFRUTOSUCESSIVO
Aleiportuguesadenominaosnoart.º1441.
Ousufrutosimultâneo:éaformadecomunhãodousufrutoeencontrasesujeitoaoregimeda
comunhão de direitos reais, que é o da compropriedade, coma as necessárias adaptações
(1404º).
Ousufrutosucessivo:designaumusufrutoconstituídoafavordeváriaspessoas,emque,na
ordemdispostanotituloconstitutivo,cadaumadelasvaisendoinvestidanodireitodeusufruto
logoqueousufrutodoanteriorusufrutuárioseextinga.
70
ResumosExameDireitosReais
O usufruto simultâneo e o usufruto sucessivo apenas se constituem se todas as pessoas
existiremaotempoemqueoprimeirousufrutosetorneeficaz.
VII. OBRIGAÇÕESDOUSUFRUTUÁRIO
Asobrigaçõesdousufrutuárioconstamdosart.º1468a1475.
Nesse regime faltam, porém, duas obrigações principais do usufrutuário que respeitam à
delimitaçãonegativadotipolegaldousufruto.Sãoestas:
Aobrigaçãoderespeitarasubstanciadacoisa(1439º+1450º);
A obrigação de respeitar a forma e o destino económico da coisa determinado pelo
proprietário(1439º+1446º).
Comodissemos,ousufrutotemporobjetocoisasnãoconsumíveis,nãopodendoousufrutuário
destruiroudeterioraracoisa.
Ambasasobrigaçõesformamoconteúdonegativoenãoestãonadisponibilidadedaspartes,
sobpenadeviolaçãodoprincipiodatipicidade.
Aviolaçãoilícitaeculposadequalquerdestasobrigaçõesrepresentaaviolaçãododireitode
nuapropriedadeeconfereaoproprietárioodireitoaserindemnizadopelosdanossofridos,nos
termosgeraisdaresponsabilidadecivilextracontratual.
Paracomeçar,realçamosqueaameaçaouconsumaçãodedeterioraçãoouperdadacoisa,bem
comoaalteraçãododestinoeconómicoporseratuaçãovoluntáriadousufrutuário,constituem
umextravasardodireitodeusufrutoparaalémdosseuslimitespositivos.
Nestescasos,oproprietáriopode,deimediato,reivindicaracoisa,estandonaturalmenteaseu
disporosmeiosdeprocedimentoscautelares.
Opoderdereivindicaracoisaemcasodeviolaçãodequalquerdestasobrigaçõesnãosignifica
forçosamenteaextinçãodousufruto.Nocasodomauusodacoisaobjetodestedireito,oart.º
1482prevêopoderdousufrutuárioexigiraentregadacoisa,semquetalsignifiqueaextinção
dousufruto.Tambémemcasodeviolaçãodequalquerdasduasobrigaçõesreferidassepoderia
sustentaridênticasolução.
Estamosemcrerqueaextinçãodousufrutonassituaçõesmaisgravesdaviolaçãodeobrigações
derespeitodaformaesubstanciadacoisaseimpõepelaquebradaconfiançaquetemdeexistir
entreousufrutuárioeoproprietárioquantoaorespeitododireitodeste.
Sustentamosporisso,quenassituaçõesreferidas,deviolaçãogravedasobrigaçõesderespeito
da forma (económica) e substancia da coisa, o proprietário possa requerer a extinção do
usufruto.
Paraalémdasobrigaçõesreferidas,ousufrutuárioestásujeitoaoutrasobrigações,taiscomo:
• Relacionarascoisas;
• Prestarcaução;
• Administraracoisa;
• Suportarosencargosedespesascomacoisadeterminadospelalei;
• Conservaçãoordináriadacoisa;
71
ResumosExameDireitosReais
• Informaçãodonuproprietário;
• Entregadacoisa.
Estasobrigaçõesencontramsenosart.º1468,1470º,1474º,1472º,1473º,1475º,1483º(irler
osartigos).
VIII. DIREITOSDONUPROPRIETÁRIO
Deummodogeral,oproprietárioconservaoexercíciodospoderesnãoafetadospeloconteúdo
dousufruto,dosquaissedestacaopoderdedisposição.
Podemoselencaralgunsdireitos:
1) Possibilidade de introduzir melhoramentos na coisa (1471º). Estas são obras de
conservação da coisa, embora a cargo do proprietário. Têm um limite: ele não pode
introduziradesvalorizaçãodousufruto(1471º/1fim).Seissoacontecerousufrutuário
poderáoporseaoexercíciodopoderdetransformaçãodoproprietário,inviabilizando
asobrasoumelhoramentospretendidosporeste.
2) Poder de constituir servidões prediais: apenas se não houver desvalorização do
usufruto (1460º/2). No que toca às servidões prediais ativas, e desde que não
repercutamnumadesvalorizaçãodousufruto,oproprietáriomantémointegropoder
dedisposição(1449º).
A realização de inovações na coisa pelo proprietário (1471º) ou de obras extraordinárias de
conservação(1473º)poderedundarnaretomadealgumpoderdefruiçãopelonuproprietário.
Oart.º1471/2aplicaseigualmentequandooproprietáriolevaacaboobrasdeconservação
extraordinárias(1473º/3).
Isto mostra que a propriedade onerada com o usufruto pode ainda render frutos ao nu
proprietário,quandoporforçadeintervençãodoproprietárionarealizaçãodeinovaçõesou
obrasextraordináriasdeinovação,acoisaaumenteorendimentoliquido.Afruiçãolimitase
nestescasosaoaumentodorendimentoliquidodacoisaobjetodousufruto.
IX. OBRIGAÇÕESDONUPROPRIETÁRIO
Oprincipaldeveréodeverderespeitodousufrutoeapossedousufrutuário.Senãorespeitar
odireitodousufrutuário,oproprietáriosujeitaseàresponsabilidadecivilpelosdanoscausados,
podendonaturalmenteserdemandadopelousufrutuárionumaaçãodereivindicação(1311º)
ouemaçãopossessóriadeprevenção,manutençãoourestituição).
Paraalémdesta,háaindaoutrasobrigações:
1) Odeverderealizarobrasextraordináriasdeconservaçãodacoisa(1473º);
2) O dever de indemnizar o usufrutuário pela realização de obras extraordinárias de
conservaçãodacoisaquenãocabemaousufrutuáriosuportar(1473º/2);
3) Odeverdeindemnizarousufrutuárioporbenfeitoriasfeitasnacoisa(1450º/2).
72
ResumosExameDireitosReais
X. AEXTINÇÃODOUSUFRUTOPELAMORTEDOUSUFRUTUÁRIO
Ousufrutovitalícioextinguesecomamortedousufrutuário(1476º/1al.a).Noentanto,deve
sedistinguirconsoanteamorteafetaousufrutuáriooriginalouotransmissáriodousufruto.
Seousufrutofoitransmitidoaterceiroeousufrutuáriooriginalcontinuavivo,ousufrutoentra
na sucessão do usufrutuário falecido, vindo a extinguirse apenas quando o primeiro
usufrutuáriofalecer.
XI. OMAUUSODOUSUFRUTUÁRIO
Aleiportuguesadispõeque“ousufrutonãoseextingueaindaqueousufrutuáriofaçaummau
usodacoisausufruída”.
Doâmbitodomauuso,devemexcluirseoscasosdeviolaçãodoslimitesnegativosdousufruto.
Mais do que o mau uso tratase aí de um ataque direito a direito do proprietário, um
comportamentoqueexcedeaatribuiçãodacoisafeitamedianteodireitodeusufruto.Daíque
noscasosdoart.º1482nãorecebaaplicação,podendoinclusivamenteocorreraextinçãodo
usufruto,seagravidadedocomportamentodousufrutuárioojustificar.
Com a tipificação de grupos de casos onde se regista um mau uso da coisa por parte do
usufrutuário. Parecenos desde já, poderem apontarse dois grandes grupos de casos,
consoante:
1) Oexercíciododireito,oufaltadele,porpartedousufrutuárioimpliqueumadiminuição
dovalordacoisa;
2) Daatuaçãodousufrutuárioresulteadeterioraçãodacoisa,desdequeestanãopossa
serqualificadacomoalteraçãodeformaousubstânciadacoisa.
(salteipág.670a672).
CAPÍTULOXI–OSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃO
I. AAUTONOMIADOSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃOFACEAO
USUFRUTO
Osdireitosdeusoehabitaçãosãotiposdedireitosreais(degozo)diversosdosrestantes,não
sereconduzindo,porconseguinte,aousufrutonavestedeumsubtipodeste.
II. OTIPOLEGALDODIREITODEUSOEDODIREITODE
HABITAÇÃO.DELIMITAÇÃOPOSITIVA
73
ResumosExameDireitosReais
1) Odireitodeuso:
Odireitodeusotemevidentementeumconteúdodeaproveitamentoqueintegrapoderesde
gozodacoisa.Onúcleofundamentaldessegozoéconstituídopordoispoderes:
• Opoderdeusodacoisa;
• Opoderdefruiçãodacoisanamedidadasnecessidadesdotitularedasuafamília.
A estes dois poderes (uso e fruição) acrescem um limitado (mas existente) o poder de
transformação,umpoderderenunciaeumpoderdereivindicação.
O poder de usar a coisa não está confinado a um fim especifico, como sucede no direito de
habitação.Ousuáriopodeusaracoisaparaqualquerfim,nomeadamente,nocontextodeuma
atividadeeconómica.
Ousadacoisaéumusoexclusivo:oproprietárioestáinibidodeausar,cabendoexclusivamente
aousuárioservirsedela.
Olimitenegativoconstantedapartefinaldoart.º1484/1referesesomenteàfruiçãoenãoao
uso.
Otipolegaldodireitodeusotambémincluiafruiçãodacoisa.
Ousuárionãotemafruiçãodacoisaplena,masapenaslimitadaàsnecessidadesdousuárioe
dasuafamília,oquepermiteconsiderarafruiçãodoproprietárioparaosfrutosrestantes.
Quanto ao poder de transformação, julgamos que não pode considerarse completamente
afastado.Oart.º1490determinaaaplicaçãodasregrasdoart.º1450,comoslimitesnegativos
aípresentes,sepodeigualmenteconsideraraplicávelaodireitodeuso,levandoaincluiropoder
detransformaçãonoconteúdodogozodousuário,apardonúcleofundamentalconstituído
pelospoderesdeusoefruição.
2) Odireitodehabitação:
Odireitorealdehabitaçãomoldaseemrelaçãoaoobjeto(casasdemoradadefamília)eaofim
do gozo: a habitação do morador usuário. O seu conteúdo típico, é no entanto o mesmo do
direitodeuso,incluindoospoderesdeusoefruição.
Quanto ao uso estamos convictos que ele se reveste de exclusividade, mesmo que as
necessidadesdomoradorusuáriooudasuafamíliaselimitemaumapartedela.
Alimitaçãopelasnecessidadesdotitularoudasuafamílialigamseunicamenteaopoderde
fruiçãoenãoaopoderdeusodacoisa.
Édesupor,noentanto,quetendoemcontaoescopodousoconsentido(habitação),limitação
doobjeto(casademoradadefamília)eaproibiçãodecessãodegozoaterceiros(1488º),tanto
ousocomoafruiçãotenhamumaextensãobemmaismodestadoqueaquelequeofereceo
direitodeuso.
3) Aplicaseaosdois:
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ResumosExameDireitosReais
O poder de disposição não entrega o conteúdo típico dos direitos de uso e habitação. A
transmissãoeoneraçãododireitoencontramseexpressamenteproibidaspeloart.º1488.
Restaadestruiçãodacoisaconsumível,noscasosdequaseuso,eopoderderenunciaaodireito,
quesurgesalvaguardadapelaaplicaçãodaal.c)doart.º1476/1(1490º).
III. OTIPOLEGALDODIREITODEUSOEDODIREITODEHABITAÇÃO.
DELIMITAÇÃONEGATIVA
Osdireitosdeusoehabitaçãotêmdoislimitesnegativosimplícitoseumexplicito.
Oslimitesimplícitossão(osmesmosdousufruto):
Respeitopelaforma(destinoeconómico);
Respeitopelasubstanciadacoisa.
Olimiteexplicito:
• Está previsto no art.º 1484/1: a fruição consentida do usufrutuário medese pelas
necessidadesdeleedasuafamília.Paraalémdamedidadenecessidadedotitulareda
suafamília,osfrutosdacoisadadaemusoouemhabitaçãopertencemaoproprietário.
IV. OOBJETODOSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃO
Tantoascoisasmóveiscomoimóveispodemserobjetodeumdireitodeuso.Aoinvés,odireito
de habitação apenas pode ter como objeto coisas imóveis, e dentro dessas coisas, casa (de
habitação).
Umproblemaquesetemcolocadoquantoaodireitodeusoéodesaberseelepodeterpor
objeto coisas consumíveis. A ser afirmativa a resposta teríamos um quase uso, de modo
semelhanteaoquaseusufruto.
Odenominadoconsumojurídicoestávedadoaousuário,restandolheoconsumomaterialda
coisa.Istodeixadeforaousosobreodinheiro.
Porquanto,comoquaseusootitularobtémapropriedadedascoisasobjetododireito,ficando
com o dever de restituir o seu valor, se houverem sido estimadas, ou a entregar outras do
mesmogénero,qualidadeequantidade(1451º+1490º).
Nadaimpedequeodireitodeusotenhaporobjetoumapartedecoisaoucoisaemcomunhão.
V. ATITLARIDADEDOSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃO
Relativamenteaodireitodehabitação,nãorestadúvidasqueapenaspessoassingularespodem
sertitularesdele.
Quantoaodireitodeuso,discutesesepessoasjurídicaspodemsertitularesdele.Arespostaé
negativa,somentepodempessoassingulares.
75
ResumosExameDireitosReais
2. Proibiçãodetransmissãoeoneração
Nemousonemodireitodehabitaçãopermitemaoseutitulartransmitiroscorrespondentes
direitos(1488º).Sejaatitulogratuitosejaatitulooneroso.
Casoviolemestaproibição,onegóciojurídicoseránulo.Ovícioéduplo:faltadelegitimidade
dodisponente(892ºe939ºe956º)eviolaçãodanormalegalimperativa(294º).
3. Aplicaçãodasnormasdeusufrutoaodireitodeusoehabitação
Art.º1490,comanecessáriaponderaçãocomoconteúdodestesdireitosespecíficos.
CAPÍTULOXII–DIREITODESUPERFÍCIE
I. OTIPOLEGALDODIREITODESUPERFICIE.DELIMITAÇÃO
POSITIVA
Outorgaoconteúdotípicodeaproveitamentodeumacoisa,quenestecasoterádesersempre
umimóvel.
Osuperficiárionãotemoconteúdonormaldogozo,nomeadamenteousoeafruiçãodoimóvel.
Estespertencemaoproprietáriodosolo.
Emcontrapartida,ospoderestípicosdestesão:
Opoderdeconstruiroufazeraplantaçãodoprédio(poderdetransformação);
Opoderdemanteraobraouplantaçãosobreousobsoloalheioduranteotempode
duraçãododireito;
Opoderdedisposição.
Opoderdetransformaçãointegrasempreoconteúdotípicododireitodesuperfície.
Oart.º1534proclamaatransmissibilidadedodireitodesuperfície.Tratandosedeumdireito
realmenorodireitodesuperfíciepodeseronerado(p.e.hipoteca)–art.º1534+688º.
76
ResumosExameDireitosReais
Oregimedasuperfícievisaimpediraaplicaçãodoregimedaacessão.
O direito de superfície enquanto direito real não requer que a obra ou plantação tenha
existência atual. Uma vez constituído, ele onera imediatamente a propriedade do prédio e
confereaosuperficiárioapossibilidadedetutelageral,contraoproprietárioecontraterceiros,
nomeadamenteatravésdeumaaçãodereivindicação.
Tratasedodireitodeconstruiroumanteraobraoufazerplantaçãoemprédioalheio.
O direito de superfície deve manterse separado do direito de propriedade sobra a obra ou
plantação.
Odireitodesuperfícieincidesobreosolo.Háentãodoisdireitosaconsiderar,ambostendoa
mesma como por objeto: a propriedade do solo (proprietário) e o direito de superfície
(superficiário).
Contudo,quandoaobraouplantaçãoexiste,asituaçãojurídicaémaiscomplexa.Aosdireitos
depropriedadeedesuperfíciesobreoprédioacresceagoraumdireitodepropriedadesobrea
obraouplantação,queestánatitularidadedosuperficiário.
Odireitorealdesuperfícietemoconteúdomoldadosobreacoisanaqualrecai.
Representaamaisforteoneraçãoaodireitodepropriedade.
(salteipág.294a296)
Aconstituiçãodapropriedadehorizontalinseresenoexercíciododireitodedisposição.
Umavezconstruídaapropriedadehorizontaloscondóminosserãoproprietáriosdasuafração
autónoma, comproprietários nas partes comuns, com exceção do solo, em que serão
comunheirosdodireitodesuperfície.
Diversamente do regime jurídico da propriedade do solo, se a superfície for temporária a
propriedadedasfraçõesserátransferidaparaoproprietáriodosolocomextinçãodasuperfície
(1538º/1).
III. OOBJETODODIREITODESUPERFICIE
Odireitodesuperfícietemsempreporobjetoumacoisaimóvel,sendoessacoisaumterreno.
Destemodo,oobjetododireitodesuperfícienãopodeserconfundidocomaobraouplantação
eventualmente existente no solo (a propriedade desta é do superficiário – juridicamente
individualizadaeautónoma).
Osuperficiáriodetémassimdoisdireitos:
77
ResumosExameDireitosReais
• Odireitodesuperfície(quetemporobjetoosolo);
• Direitodepropriedade(oimplantematerialouvegetal).
Asuperfícienãopodeserconstituídavalidamenterelativamenteaqualquerobraouplantação:
acoisaaconstruirsobreoterrenodevesersuscetíveldecausarofuncionamentodaacessão.
Osrequisitosdeste,devemestarverificados.
IV. OBRIGAÇÕESDOSUPERFICIÁRIO
Asobrigaçõesdosuperficiárioresultamemregradotituloconstitutivo.
A lei portuguesa ocupase em particular do cânon superficiário (1530º): designa a prestação
anualemdinheiroqueosuperficiárioficaobrigadoapagar,porcertotempoouparasempre.
Comooutrasobrigaçõesdosuperficiáriotemos:
Aobrigaçãodedarpreferênciaaoproprietáriodosolo,emcasodevendaoudaçãoem
cumprimentododireitodesuperfície(1535º/1);
Aobrigaçãodeconservaraobraouplantaçãoapósaextinçãodasuperfície,sobpena
deresponsabilidadecivilperanteoproprietário(1538º/3);
Aobrigaçãodecomunicaraoproprietáriodosoloosatosdeterceiroscapazesdelesar
oseudireito(1475ºporanalogia);
Aobrigaçãoderestituiroterrenoobjetodasuperfície,bemcomoaobraouplantação,
quandooseudireitoseextinguir.
Nadaimpedequeosuperficiáriofiquevinculadoaconstruiraobraouarealizaraplantação.
Umatalconvenção,porém,apenaspodevalercomeficáciaobrigacional.
V. APOSIÇAOJURIDICAATIVADOPROPRIETÁRIODOSOLO
Oproprietáriodosolotemoconteúdoresidualdeaproveitamentodacoisa,quenãoéafetado
pelaconstituiçãododireitodesuperfície(1305º).
Porém,ousoeafruiçãodoprédiopertencemexclusivamenteaoproprietáriodosolo(1532º).
Porisso,enquantonãoseiniciaraconstruçãoouaplantaçãooproprietáriopodecontinuara
gozaracoisa.Estepodenãosóusalacomofruiladiretamente,comopodeconstituiroutros
direitos a favor de terceiros concedendolhes o gozo. Todavia tais direitos não podem ser
construídoscomumaduraçãosuperioraogozodoproprietáriodosolo,sobpenadenulidade.
Ogozodosubsolomanterseádurantetodootempopeloqualodireitodesuperfícieestiver
constituído, uma vez que a superfície não o afeta. A licitude desse gozo, cessa no entanto,
quando causa danos ao superficiário (1533º). Nesse caso, o proprietário do solo terá de
indemnizarosuperficiário.
Oiniciodaconstruçãoouplantaçãopõefimaogozodoproprietáriorelativamenteàporçãode
terrenoondefoicelebradaasuperfície.
78
ResumosExameDireitosReais
Osuperficiáriodeveestaratodootempoprontoparadesencadearaconstruçãodaobraou
plantação.
O proprietário do solo encontrase obrigado a não impedir ou a tornar mais dispendiosa a
construçãoouplantaçãodosuperficiário,sobpenaderesponsabilidadecivil.
Aoneraçãoresultantedaconstituiçãododireitodesuperfíciepodenãoseraúnicaquesofreo
direitodepropriedade.Comefeito,prevêseapossibilidadedeconstituiçãodeservidõesafavor
dosuperficiário,demodoaqueestepossagozardaobraouplantação(1529º/1).
Estasservidõespodemsercoercivamenteimpostas,casooproprietáriodosolonãoasconstitua
voluntariamente.
Existepois,umestadodesujeiçãodoproprietáriodosoloàconstituiçãodeservidõesquese
afiguremnecessáriasaogozodaobraouplantação(art.º1529).
O proprietário do solo terá de pagar ao superficiária uma indeminização pela aquisição da
propriedadedaobraouplantaçãoquandoasuperfícieseextinguir(1538º/2).
Asoluçãolegalésupletiva,ouseja,nadaimpedequeaspartesestabeleceremoutracoisa.
VII. ACONSTITUIÇAODODIREITODESUPERFICIEPELAALIENAÇÃO
DOSOLOSEPARADADAOBRAOUDAPLANTAÇÃO
Aconstituiçãododireitodesuperfíciepodeserfeitapelosfactoscomeficáciarealquedemos
conta.
Oproprietárioéaúnicapessoalegitimadaaconstituirodireitodesuperfície.Senesteexistejá
aobraouaplantação,aleiconferelheopoderdealienarapropriedadedaobraseparadamente
dapropriedadedosolo(1528º/1).
Aseparaçãodaobraoudaplantaçãodapropriedadedosolodesencadeiaautomaticamentea
constituiçãodeumdireitodesuperfícieafavordoadquirentedoimplante(1528º/1).Otitulo
datransmissãoseparadapropriedadedaobraéassimsuficienteparaoregistodaaquisiçãoda
superfície.
Estahipótesetemcomoobjetoaneutralizaçãodoregimejurídicodaacessão.
79
ResumosExameDireitosReais
Seposteriormenteaobravieraserconstruídaouaplantaçãorealizada,eàmedidaqueissofor
feito, nasce uma nova coisa (imóvel), autónoma e individualizada relativamente ao tereno
objetodasuperfícieedapropriedadedosolo.
Sobreanovacoisaincideumdireitodepropriedade(propriedadesuperficiária).Éumdireito
novoadquiridooriginariamentepelotitulardodireitodesuperfície.
IX. DURAÇAODODIREITODESUPERFICIE
Podeserperpétuooutemporário.Sendoperpétuo,elerepresentaumaoneraçãoconstanteda
propriedade,quepode,noentanto,acabar,seocorreralgumfactoextintivo.
Aperpetuidadedasuperfícienãoatornaimuneaosfactosextintivosgeraisdosdireitosreais
(1536º/1).
A lei preceitua expressamente que a propriedade pode ser constituída a termo (1524º), não
estabelecendo,contudo,otempomínimodeduração,ficandoestenainteiradisponibilidade
daspartes.Odecursodomesmoprovocaaextinçãododireito(1536º/c).
X. EXTINÇÃODODIREITODESUPERFICIE.ODESTINODAOBRAOU
PLANTAÇÃO
Aincidênciadeumfactoextintivofazcessarodireitodesuperfície.
O art.º 1538 determina a aplicação da regra superfícies solo cedit. A obra passa a integrar o
prédioeodominussoliadquirearespetivapropriedade.
Opreceitoestendeseatodasashipótesesdeextinçãodasuperfície.
Aaquisiçãodaobraouplantaçãopeloproprietáriodosoloconstituiumefeitoautomáticode
extinçãododireitodesuperfícieenãocarecedenenhumadeclaraçãodosinteressados.
Oart.º1538/1temumanaturezasupletiva.
Casoaspartesnãotenhamafastadoodeverdeindemnizardoart.º1538/2,oproprietáriodo
soloficaobrigadoaindemnizarosuperficiário.
XI. EXTINÇÃODODIREITODESUPERFICIE.OUTROSEFEITOS
Aextinçãododireitodesuperfíciecolocaaquestãododestinodosdireitosreaismenoresque
oneravamapropriedadedosuperficiáriosobreaobraouplantação.
Oregimejurídicodosart.º1539a1541ºdistingueduashipóteses:
1) Odireitodesuperfície,temporário,extinguesenofinaldoprazo(art.º1539e1540):
80
ResumosExameDireitosReais
Todososdireitosreaismenoresqueoneravamapropriedadedosuperficiário,sejamdireitos
reaisdegozo(usufruto,usoehabitação,servidões)sejamdireitosreaisdegarantiaextinguem
seigualmente(art.º1539/1).
Atransmissãododomíniodaobraouplantaçãoparaoproprietáriodosolo,fazse,assim,de
modoplenoeexclusivo,ouseja,semqualqueroneraçãodapropriedade.
Oart.º1539/2colocaocenáriodosuperficiárioterdireitoareceberalgumaindeminizaçãonos
termosdo1538º/2,dispondo,quenessecaso,ostitularesdosdireitosreaismenorespossam
valer os seus mecanismos de subrogação real, o que pode suceder com a hipoteca e com o
usufruto(1480º/2).
2) Odireitodesuperfície,temporário,extingueseantesofinaldoprazoouextinguese
odireitodesuperfícieperpétuo:
Aleiaquiatendeaosdireitosdaquelesquenãocontavamcomaextinçãodasuperfícieantesdo
finaldoprazo.Determinandoamanutençãodessesdireitoscomoseasuperfícienãohouvesse
extinguidoeoproprietáriodosoloadquiridoapropriedadedaobraouplantação.
Sendoasuperfícietemporária:osdireitosreaisdeterceirosextinguemsenamesmaaofinaldo
prazoprevistoparaaextinçãodasuperfície(1541ºfim)+1542º.
Salteipág.708a711
CAPÍTULOXIII–DIREITODESERVIDÃO
(saltei713à721)
I. OTIPOLEGALDODIREITODESERVIDÃO.ASERVIDÃOCOMO
TIPOABERTO
O art.º 1543 define servidão como o “encargo imposto num prédio em aproveitamento
exclusivodeoutroprédio,pertencenteadonodiferente”.
Arelaçãonãosedáentredoisprédios,processasenaturalmenteentreostitularesdosdireitos
reaissobreeles.
Oart.º1543pareceacolheroprincipioromanoneminiressuaservit.
Parecenos, no entanto, discutível que não possa haver uma servidão entre dois prédios
pertencentesaomesmotitular.
81
ResumosExameDireitosReais
O direito de servidão encontrase numa relação de dependência ou acessoriedade a outro
direitoreal.Estaacessoriedadevemmuitasvezesaserexplicadaporreferenciaaoprincipioda
inseparabilidadedasservidões(1545º).
Amudançadetitularidadedodireitorealnoprédiodominanteouservientenãoserefletena
existência da servidão e, por conseguinte, tanto o novo proprietário do prédio serviente
continuarácomoseudireitooneradopelaservidão,comooproprietáriodoprédioserviente
beneficiarádela.
Ninguémpodesertitulardeumdireitodeservidãosenãofortitulardeumdireitorealdegozo
sobreumprédioeaextensãolegaldoseudireitopermitabeneficiardaservidão.Porisso,o
direitodeservidãoéacessóriodessedireitorealsobreoprédiodominante.
Aservidãosópodeconstituirsesobreoprédiovizinho.Oart.º1543nadaapontasobreisto,por
isso,temosdeiraosart.º1550,1557ºe1558º.
Deste modo, a fim de se encontrar um conteúdo típico que molda o tipo legal do direito de
servidão,ointerpretetemiraoart.º1544.
Deútilparaaconstruçãodotipolegaldodireitodeservidão,anoçãolegaldoart.º1543contém
trêsnotasdistintas:
• Confinaodireitodeservidãoàsservidõesprediais;
• Limitaasservidõesprediaisàsrelaçõesdevizinhança;
• Admiteaconstituiçãodeservidõessomenteentretitularesnãocoincidentesdedireitos
reaissobreosprédios.
Falta,noentanto,oconteúdodeaproveitamentoqueotiporealpropiciaaotribunal,quese
encontra,comodissemos,noart.º1544.
Segundo este preceito, podem pertencer ao conteúdo das servidões “quaisquer utilidades,
ainda que futuras ou eventuais, suscetíveis de ser gozadas por intermedio do prédio
dominante”.
Direito de servidão reside no aproveitamento de uma utilidade que o prédio serviente seja
suscetívelbeneficiaroprédiodominante.
Este conteúdo sugere um tipo aberto, com múltiplas possibilidades de concretização, tantas
quantasasutilidadesqueumimóvelpossafazerbeneficiaroutroesemquesejanecessárias
queaquelasestejamtodasdefinidasàpartidapelalei.
Autilidadedoprédiodominanteafereseobjetivamente,semconsideraçãopelasnecessidades
puramentesubjetivasdotitularcircunstancialdoprédiodominante.Autilidade,afereseassim,
nomeadamenteseaíéaptaasatisfazeralgumanecessidade.
Nadadistoseprendecomoaumentodovalordoprédiodominante.Autilidadenãopodeassim
seraferidaemfunçãodofactodetrazeroumaisvalorparaoprédiodominante.
Autilidadepodeserconcedidaemfunçãododestinoeconómicodoprédioaoqualesteainda
nãoseencontreafetoequepodeaténemviraestar.
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Autilidadedoconteúdodeservidãotemdeserconcretamentedeterminada.Otipolegalde
servidão consagra um conceito indeterminado que abrange todas as utilidades em abstrato.
Porém, a servidão só será validamente constituída se individualizar a utilidade do prédio
servienteaaproveitarpeloprédiodominante(avista,opasto,apassagem,alenha,etc.).
Oconteúdotípicodaservidãotraduzseassimnopoderoupoderesjurídicosquepermitemao
titulardaservidãofazeroaproveitamentodautilidadeaqueserefereodireito.
Nasservidõesnegativas,oconteúdodaservidãolimitaseaopoderdeexigiraotitulardodireito
realoneradocomaservidãoouaqualquerpessoaononfacereemcausa(nãoconstruir,não
abrirportas,etc.).
Nasservidõespositivasoconteúdotípicodaservidãoenvolveumpatidostitularesdosdireitos
reaissobreoprédioserviente,quetemcomocontrapartidaapossibilidadedeatuaçãosobreo
prédioserviente.
Existemaindaoutrospoderesacessórios,quesãoaquelesquesedestinamatornarpossívelo
exercíciodaservidãoaolongodotempodeduraçãododireito.Estespertencemaoconteúdo
supletivo do direito de servidão, estando a sua existência dependente do que dispuser a
propósitodotituloconstitutivo(1564º+1565).
Opoderdefazerobrasnoprédioservienteéumpoderacessório,casonãosejaafastadopelo
tituloconstitutivo(1566ºe1567º).
Podemosassimdefinirodireitodeservidãocomoodireitodeumtitulardeumdireitorealsobre
umprédioaproveitarumadadautilidadedeoutroprédio.
II. OOBJETODODIREITODESERVIDÃO
Temporobjetooprédioserviente.Recaisobreacoisacujautilidadebeneficiaaqueleprédio.A
coisasobreaqualrecaiaservidãoéoprédioserviente.
III. MODALIDADESDASERVIDÃO
Art.º1547+1548+1460+1362
(salteipág.729a732)
IV. SERVIDÕESCOATIVAS.TIPOSLEGAIS.
Art.º1550+1553º+1551.
V. INDIVISIBILIDADEEINSEPARABILIDADEDASSERVIDÕES
Segundooart.º1545asservidõesnãopodemserseparadasdosprédiosaquepertencem.Sea
utilidadedaservidãoforrepostadaaoutroprédiotaldesencadeiaaconstituiçãodeumanova
servidão,comextinçãodaanterior.
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O principio da inseparabilidade implica a permanência da servidão perante uma hipótese de
divisãodoprédiodominanteouserviente(1546º).Sefordivididooprédiodominante,osnovos
prédiosresultantesdadivisãocontinuamabeneficiarativamentedaservidãoanterior.
Seadivisãoincidirnoprédioserviente,osprédiosqueemergiramdelaficamsujeitosàservidão.
Háumlimiteaconsiderar:otitulardodireitorealmenorpodevalidamenteconstituirdireitos
deservidãoafavordeterceiros,masnãopodefazeremtermosqueexcedamaduraçãodoseu
direito. De outro modo, a oneração recairia no proprietário que não constituiu o direito de
servidão.
+1575.
Todosostitularesdedireitosreaisdegozo,excetoostitularesdedireitodeservidão,podemser
titularesdodireitodeservidãonotocanteaprédiosvizinhos.
Constituídaaservidão,qualquerumtemodireitogenéricodearespeitar.
Art.º1575.
VIII. CONSTITUIÇÃO DA SERVIDÃO POR DESTINAÇÃO DE PAI DE
FAMILIA
(salteipág.737e738)
IX. USUCAPIOLIBERATATIS
Remeteseparaocapitulodosfactosgenéricosextintivosdosdireitosreaisdegozo.
X. EXERCICIODASERVIDÃO
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Art.º1564.Aregulaçãodoexercícioquecontendacomoconteúdotípicoinjuntivododireito
realnãoéadmitida,sobpenadenulidade(1306º).
A regra fundamental do exercício consiste no art.º 1565/2 parte final. Assim, o direito de
servidão só pode ser exercido nos termos em que traga o menor prejuízo para o prédio
serviente.
XI. EXTINÇÃODASERVIDÃOPORDESNECISSIDADE
Estásujeitaaumfactoextintivoespecifico:desnecessidade.
Nãooperanasservidõesvoluntárias,masapenasparaasservidõesconstituídasporusucapião
(1569º/2)eparaasservidõeslegais,qualquersejaoseutituloconstitutivo(1569º/31ªp.).
Adesnecessidaderepresentaaperdatotaldautilidadedoprédiodominante.Essaperdaavalia
seobjetivamenteemfunçãodasnecessidadesdoprédiodominante.
(salteipág.740a742).
CAPÍTULOXIV–DIREITOÀHABITAÇÃOPERIÓDICA
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