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lOMoARcPSD|6201926

ResumosExameDireitosReais

CAPITULOI–OSPRINCIPIOSDOSDIREITOSREAIS

I. OPRINCIPIODATIPICIDADE
Aautonomiadoparticularérestringidaàpossibilidadedeescolhadosdireitosreaisprevistosna
lei.Osistemapostulaumnumerofinitodedireitosreais.

Falaseassimemtipicidade,sóexistemosdireitosreaisqueolegisladorconsagrar.

Esteprincipioestápresentenoart.º1306/1CC.

Aformulaaquiimpostapareceassimdesatualizada,parecelimitartecnicamenteaviolaçãoda
tipicidade à criação de restrições a um direito real. No entanto, esta violação pode derivar
igualmentedeumaumentodoaproveitamentopermitidodotipodedireitorealconsiderado,
quenãoconstituitecnicamenteumarestrição.

Assim,oprincipiodatipicidadetemduasvertentes:


Proibição da criação de um direito real Prendesecomoconteúdododireitoreal.Atipicidadeimplica

diferentedoqueconstanocatalogolegal. queosparticularesnãopossamcomporoconteúdododireito
 realaseuprazer,poisassimabrangerseiammúltiplosdireitos
distintosdebaixodeumadesignaçãounitária.

Por isso, o respeito pelo principio da tipicidade acarreta a

proibiçãodemodificaroconteúdoinjuntivotípicododireito
 realprevistonalei.

Aautonomiaprivadadáaosparticularesapossibilidadedesemoveremlivrementenoâmbito
supletivodoregimedecadatipodedireitoreal,masestáafastadanaquelequerespeitaao
caracterinjuntivododireitoreal.Deoutraforma,atipicidadeseriaatingida,umavezqueos
particularesacabariamporcriarumdireitorealdiferentedaqueleprevistonalei,emboracom
omesmonome.

Quenormasimperativassãoessasquenãopodemserafastadaspelosparticulares?

Sãoasquemoldamotipolegaldodireitoreal.Sãoasnormasqueestabelecemumdeterminado
conteúdodeaproveitamentododireitoreal.Individualmenteconsiderados,osdireitosreaisnão
sãoclassificadoscomotipos,massimcomoconceitosouclasses.

As notas distintivas do direito real formam o “desenho” do tipo legal de direito real, o seu
conteúdoinjuntivotípico.Comotalelasnãoestãonadisponibilidadedaspartes,deacordocom
oprincipiodatipicidade(1306º/1).

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DeacordocomJAVosdireitosreaisnãosãoabertos,sãojustamenteooposto.Sendoaexceção
destateoriaaservidão,queconstituiumdireitorealaberto.

II. OPRINCIPIODAINERÊNCIA
Osdireitosreaistêmporobjetocoisascorpóreas.Cadadireitorealtemumacoisadeterminada
por objeto e, na ausência de causa legal, não pode ser dissociado ou separado dela,
nomeadamente,parateroutracoisacomoobjeto.

Aligaçãoentreodireitorealeacoisachamaseinerência.

Temosaquitambémduasfacetas:


Acoisacorpóreaéobjetodeumdireitorealenão Se a coisa que é objeto do direito real perecer, o

pode ser separada dele. Se um direito real se direitorealextinguese.Inseparabilidadedodireito
constituisobreumacoisa,elesópodeterporobjeto dacoisa.

essa coisa e não outra coisa diversa.
Em alguns casos, com o perecimento da coisa é
Nomeadamente,nãopodesertransferidoparauma

atribuída ao titular do direito real outra coisa em
outracoisa.
 substituição da primeira. Falase aqui em sub
rogaçãorealespecial(692º,1479º,1480ºe1481º).


III. PRINCIPIODAESPECIALIDADE
Odireitorealincidesobreumacoisacertaedeterminada(existênciaatualedeterminaçãoda
coisa).

Emprimeiralinha,oprincipiodaespecialidadepostulaqueodireitorealsópodeterporobjeto
umacoisacomexistênciaatualedeterminada.

Nesse sentido estabelece o art.º 408/2 CC que a transferência do direito real ocorre apenas
quandoacoisa(coisafutura)foradquiridapeloalienanteoudeterminadacomoconhecimento
deambasaspartes.

Umacoisaquenãoexistenãopodeserobjetodedireitoreal.

Se a coisa for genérica, ainda que existente, o direito real apenas se constitui ou transmite
quandoadeterminaçãoocorracomconhecimentodeambasaspartes,semprejuízodoregime
dasobrigaçõesgenéricasedocontratodeempreitada.

Odireitoreallimitaseàscoisascorpóreas,talcomovimos(1302ºCC).

Oproblemasurgenascoisascompostas:umaprimeiraleiturado206ºCCtransmiteaideiade
queacoisacompostaintegraumamultiplicidadedecoisasmoveis.Tomadoàletrao206º/1
abandona a ideia do direito real ter por objeto várias coisas simultaneamente, todas as que
compuseremacoisacomposta,dandoumargumentocontráriaaoprincipiodaespecialidade.

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OJAVdistingueassimdoisníveis:

• Odauniversalidade(comocoisacomposta):recaiumdireitorealunitário(quesópode
serpropriedade);
• Odascoisasqueacompõem:háigualmenteumdireitodepropriedade,masdistinto
daquele,esteincidesobrecasaumadascoisassimples.

Mesmosuperadooproblemadaduplaatribuiçãodedireitosreaisdamesmanaturezasobre
um objeto, constatamos que as vicissitudes jurídicas afetam exclusivamente cada uma das
coisassingularesqueintegramauniversalidadeenãoumpretensodireitosobreela.

Assim,demonstrasequeasvicissitudesjurídicasafetamascoisassingularesquesãoparteda
universalidadeenãoestacomocoisacomposta,pondoemcausaasuaexistênciacomotal.

Não haverá, no entanto, vicissitudes que respeitem exclusivamente à universalidade e que
justifiquemaautonomiadacoisacomposta?

Umavezmais,aeficáciadocontratotranslativoouconstitutivodedireitosreaisafetacadauma
dascoisasdoconjuntoenãooconjuntounitariamente(porissoarespostaénão!).

Oquerestaafinaldoconceitodecoisacompostadoart.º206?

Meramente a possibilidade de desencadear com uma única declaração negocial os efeitos
relativosacoisasdiversasintegradasnumconjuntounitário.Esseconjuntonãosesobrepõeou
acresceàscoisasqueointegram,nemconstituiumobjetodeumdireitounitário,vindoapenas
aserconsideradoparaefeitospráticosqueseligamàpossibilidadededispor,atravésdeuma
única declaração negocial, de todos os direitos reais relativos às coisas simples que o
compõem.

Quantoaoexercíciodedefesacontraaviolaçãodapropriedadeoupossesobretodasascoisas
doconjuntopoderseáfalarnumreivindicaçãodauniversalidadeounaaçãodereivindicaçãoe
exemplificarcomareivindicaçãodorebanhooucomarestituiçãodeste.

Oreivindicanteoupossuidoresbulhadonãoestálibertodoónusdedeterminarcadaumadas
coisasqueseincluemnauniversalidade.

CONCLUSÕES:

• Ainexistênciadeumdireitounitáriosobreoconjuntoetornainútilinsistirnoponto.

• Auniversalidadedefactonãoconstituiumacoisae,portantetambémnãoumacoisa
composta.

• Acomparaçãodauniversalidadedefactoàscoisascompostasdo206ºéinteiramente
infeliz.

• Comoresultadodoprincipiodaespecialidadeencontramosalimitaçãodosdireitosreais
àscoisas(corpóreas)individualizadas,certasedeterminadas.

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IV. PRINCIPIODAABSOLUTIDADE

Se entendermos uma situação jurídica absoluta como aquele que existe por si, sem
dependência de uma outra situação de sinal contrário, então o direito real é uma situação
jurídicaabsoluta.

Acontraposiçãoentredireitosabsolutoserelativospodeseranalisadaatravésde3critérios:

a. Responsabilidadecivil;
b. Estruturadasituaçãojurídicaconsiderada;
c. Oponibilidade.

O critério que aqui nos interessa é o da oponibilidade. Segundo este os direitos reais são
absolutos,poiselespermitemaotitularfazervaleroseudireitocontraquemquersesejaque
oviole,semlimitaçãoapessoaouapessoasdeterminadas.

Ainoponibilidadedeumterceirodeboafénãosejustificanonossosistemajurídico,quenão
consagrouoprincipiodapossevaletitulo.

Anãooponibilidadedapossenoconflitocomotitulardodireitorealdegozoexplicasepelo
papelqueelatemnosistemadosdireitosreais,quecedenaturalmentequandoooponente
demonstraquetemumdireitodefinitivosobreacoisa.

Masfaltandoaoponibilidadeemalgumassituações,aposseéumdireitorealabsoluto.

Ocaracterabsolutodosdireitosreaisresultadomodocomooregimejurídicoestruturada
defesadotitular.

Nos direitos reais de gozo, a absolutidade revelase da defesa por reivindicação (1311º e
1315º).

Otitulardodireitorealdegozopodedemandaroterceiroque,semqualquerdireito,estejana
posseoudetençãodacoisa.Aofazelo,nãotemdeinvocaroudemonstrarainvalidadedotitulo
constitutivododemandado,nemdeoutrosanteriores;bastalheprovaroseudireitoeexigira
entregadacoisadopossuidoroudetentorquetemacoisaemseupoder.

V. PRINCIPIODACONSENSUALIDADE
Esteprincipioveioaseracolhidonoart.º408/1doCC.Sendoqueesteéreiteradonosart.º
879/ae954º.

O direito real constituise ou transferese no momento da celebração do contrato,
automaticamente e instantaneamente, sem necessidade de entrega da coisa ou do registo
(relativamente aos imóveis) e sem qualquer dependência do cumprimento das obrigações
estabelecidas.

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Ocontratoéassimaumtemporealeobrigacional,produzindosimultaneamenteosdoistipos
deefeitos,semquehajainterferênciareciprocaentreeles.

Atransmissãodapropriedadedásemesmoque,nacompraevenda,ovendedornãoentregue
acoisa.

Oart.º408/2introduzalgumasexceçõesrelativamenteaomomentodeaquisiçãododireito
real,dissociandoodomomentodacelebraçãodocontrato.

Ocontratonãodeixadeseroúnicotitulodeaquisiçãododireitoreal,eporestavianãose
registaqualquerexceçãoaoconsensualismo,masomomentodeaquisiçãonãoéomomento
deconclusãodocontrato,ficandodiferidonashipótesescomtempladasnoartigo.

Assim:

• Transmissãododireitorealsobrecoisafuturaomomentodeaquisiçãododireitoreal
éomomentodeaquisiçãododireitopeloalienante;

• Transmissãododireitorealsobrecoisaindeterminadaéomomentodadeterminação
dacoisacomconhecimentodeambasaspartes;

• Na transmissão de direitos reais sobre frutos naturais a transmissão ocorre no
momentodacolheita;

• Partes componentes ou integrantes o direito real transmitese com a separação
material.

Oprincipiodaconsensualidadetemomesmosignificadoparaascoisasmóveiseimóveis.

VI. PRINCIPIODACAUSALIDADEEOPRINCIPIODAUNIDADE

Oprincipiodacausalidade,ondevalha,significaqueaaquisiçãododireitorealsupõeaeficácia
donegóciojurídicoquelheestánabase(compraevenda,permuta,doação,etc.).Seestefor
nuloouvieraseranulado,aaquisiçãododireitorealnãotemlugar.Elasupõeassimumacausa
válida.

Esteprincipiocontrapõeseaoprincipiodaabstração,querepousanaseparaçãoentreonegócio
jurídico(contrato)obrigacionaleonegóciojurídico(contrato)real.Pressupõeseaindaqueo
ordenamento torne eficaz o negócio real independentemente da eficácia do negócio
obrigacional.

Assim, a compra e venda pode ser nula, pela incidência de qualquer vicio, e ainda assim o
compradoradquirirodireitoreal,porqueocontratorealéeficaz.

A ordem jurídica portuguesa acolhe o principio da causalidade, ou seja, a constituição do
direitorealsóocorrequandoacausajurídicadoefeitorealsejaeficaz,sejaumnegóciojurídico
autónomo, seja um negócio simultaneamente produtor dos efeitos reais e dos efeitos
obrigacionais.

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Outroproblemaéodesaberseessaaquisiçãosefazpormeiodeumnegóciojurídicopróprio
eautónomodonegócioobrigacionalouseumúniconegóciojurídicopodesimultaneamente
desencadearosdoisefeitos?

Naordemjurídicaportuguesa,valetambémparaosdireitosreaisoprincipiodequeosnegócios
jurídicossãocausais.Istoquerdizer,queaaquisiçãododireitorealsedáunicamentequando
ofactorespetivoforjuridicamenteeficaz.

Seacompraevendafordeclaradanulaouanulada,todososefeitosdonegóciojurídicosão
atingidospelainvalidadee,naturalmente,tambémumefeitoreal(879º/a).

Portanto, quando o 408º/1 estabelece que o direito real se constitui ou transmite com o
contrato(realquoadeffectum),deveentendersetratarsedeumcontratoeficaz.

Casoonegóciojurídicoqueservedecausaàconstituiçãooutransmissãododireitorealnãoseja
válido, o efeito real não se produz e o direito permanece com o disponente, mesmo em
detrimentodaconfiançalegitimadeumterceiro.

VII. PRINCIPIODABOAFÉ
O principio da boa fé não surge elencado nas exposições sobre os princípios normativos de
direitosreais.

MasdeacordocomJAVesteprincipiotemumagrandeimportâncianosdireitosreais.E,surge
fundamentalmenteemdoisdomínios:

• Posse (incluindo usucapião): a boa fé aparece como critério sistemático de
caracterização da posse (1258º). A ela está associado um tratamento jurídico mais
favoráveldopossuidor.
• Acessão industrial: a união ou mistura de coisas pertencentes a donos diferentes
realizadadeboaféestásujeitaaumregimemaisfavoráveldoqueademáfé.

Perguntase,noentanto,seestamosperanteumaboaféemsentidopsicológicoouseaboa
féaquetodosospreceitosaludemdeveserentendidacomoboafésubjetivaética?

 Boafésubjetivaética:
Boaféemsentidopsicológico:
 Aboafépostulaocumprimentodedeveresde
Consistenameraignorânciadosujeito
relativamenteacertosfactosouestadode
 diligência,ouseja,umaignorânciadesculpáveldo
coisas. sujeitorelativamenteafactosouestadodecoisas.
 Estatemumníveldeexigênciamuitosuperioràboafé
 emsentidopsicológico.

O prof. JAV afirma que a boa fé que está postulada no regime da posse e da propriedade
industrialéaboafésubjetivaética,assimcomonoregisto.

6

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Deacordocomesta,estádeboaféaquelequedesculpavelmenteignorava,aoadquiriraposse,
quelesavaodireitodeoutrem;ou,inversamenteestádemáféaquelequeconheciaaviolação
dodireitoalheioeaindaoque,pornãoobservardeveresdecuidadoquenocasocabiam,não
conheciaessaviolação,ouseja,ignoravacomculpaalesãododireitodeoutrem.

Também ocorrem manifestações gerais da boa fé em sentido objetivo (deveres de cuidado,
informação–boafécomoregradeconduta)nosdireitosreais.

VIII. PRINCIPIODATERRITORIALIDADE
Aordemjurídicaportuguesaéaúnicaadeterminaroregimejurídicorealdascoisassituadas
emterritórioportuguês.


IX. PRINCIPIODAPUBLICIDADE
Apublicidadenosdireitosreaispodeserespontâneaouorganizada.


Aleipodepartirdocontrolomaterialdacoisa Surgeatravésdoregisto.Noentantoestenãoé
paraaferiratitularidadeouparadesencadeara
 global,apenasabarcapartedascoisascorpóreas.
transmissãododireitoreal.Apossefunciona Cadaumdosregistosestásujeitoaumregime

destemodocomoummeioespontâneode jurídicopróprioenãotemcomunicaçãocomos
publicidadededireitosreais. restantes.

Não podemos associar um efeito de transmissão associado à publicidade, podemos apenas
falardeumefeitopresuntivo.Tantoopossuidor(1268º/1)comoaqueleafavordaqualéfeita
ainscriçãoregistal(7º/1CRP)beneficiamdeumapresunçãodetitularidadedodireitoreala
queserefereaposseouoregisto.

A publicidade fundada na posse não protege o terceiro de boa fé contra a reivindicação do
proprietáriooudoutrotitulardedireitorealdegozo.Nãovalendo“apossevaletitulo”,aposse
dotitularaparentenãoasseguraaproteçãodoterceirodeboafé,mesmoquetenhahavido
tradiçãodacoisa.

Asituaçãomuda,noentanto,quantoàpublicidaderegistal.Falaseentãonumefeitoatributivo
doregistopredialouemaquisiçãotabular.

Aaquisiçãotabularconstituiumefeitodapublicidaderegistal,concretamentedapresunçãode
titularidadedodireitoquelheestáassociado.

7

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(salteipág.227a237–verseoqueestáaquiditooJAVdizmaisàfrente).


CAPÍTULOII–APUBLICIDADEREGISTAL

I. ATOSEPRINCÍPIOSDOREGISTOPREDIAL

1. OSATOSDOREGISTO
Sãotrêsosatosdoregistoqueimportaconsiderar:

• Descriçãopredial:temporfimaidentificaçãofísicaeeconómicadosprédios(art.º79
CRP). Apenas é feita na dependência da inscrição ou averbamento (80º/1 CRP). E,
nenhum ato registal (averbamento e inscrição) é feito sem que a descrição esteja
lançada;

• Inscrição:éaesteatoquesealudequandosemencionaoregisto.Reportaseaosfactos
sujeitosaregistosegundoodispostonosart.º2e3docódigoderegistopredial.Esta
podeserdefinitivaouprovisória.

• Averbamento:formadealteração,atualizaçãoouretificaçãodasdescriçõeseinscrições
(88º/1e100º).


2. OOBJETODOREGISTO
Quandosefalaemobjetodoregistotemseemvistaoatodeinscriçãoregistal.Acentuaseque
oregistotemporobjetofactosjurídicos(acompraevenda,apermuta,asucessão,etc.)enão
situaçõesjurídicas(direitosououtras).

Art.º1CódigodoRegistoPredial.

3. OTÍTULOPARAREGISTO
Comodissemos,ainscriçãoregistaltemporobjetofactosjurídicos,osfactoscujaordemjurídica
pretendequesejampublicitados.Paraquesejapromovidooregisto,porém,ofactoaregistar
temdeestartituladoemdocumentoescrito(43º/1CRP).


4. ALEGITIMIDADEPARAREGISTAR
Oart.º36afirmaquealegitimidadepararegistar:ouseja,quempodepediroregisto?

 àspartesdonegóciojurídico;

8

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 interessados:éaquelecujaposiçãojurídicapodeserafetadapelafaltaderegisto.São
tipicamenteoscredoresdoadquirente.Paraalémdestes,qualquerpessoaquepara
registar um facto que lhe respeita tenha de fazer outra inscrição previa, tem
legitimidadepararegistarofactodequedependeoseuregisto.

Deacordocomoart.º8B,todosaquelesquetenhamodeverderegistartêmlegitimidadepara
ofazer.


5. ALEGITIMAÇÃOREGISTAL
Prendesecomaregrasegundooqualsópodesertituladoumfactojurídicoseodisponente
tiverpreviainscriçãoregistalaseufavor.Estaregraconstadoart.º9/1.

Osnº2e3doart.º9atenuamosefeitosdaimposição,excecionandoquesejatituladoum
factoconstitutivooutranslativoemcasosnosquaisodisponentenãotemregisto.

Perguntase,noentanto,qualéovalorjurídicodoatodeconstituiçãooutransmissãodeum
direitoseomesmohouversidocelebradomesmosemodisponenteterregistodoseufacto
aquisitivo?

A,proprietáriodoprédioXcomregistodecompraevendaaseufavor,vendeapropriedade
aB,quenãoregista.Comcomplacênciadonotário,BvendeposteriormenteaC.

Segundooprof.MENEZESCORDEIROestamosperanteumanulidade.DeacordocomJAV,não
hámotivoparaanulidade.

Oart.º9/1nãoéumcomandodirigidoàspartes,masaonotárioouaojuizquetitulaoato.A
sua violação, não deve, por isso, atingir a eficácia do negocio pretendido pelas partes, mas
atingirsomenteoagentedaviolação.

Emsuma,havendoviolaçãodoart.º9/1onegócioéválido,havendolugaràaplicaçãodesanções
disciplinares,seforocaso.



II. PRINCIPIOSDOREGISTOPREDIAL

Oregistopredialtemosseguintesprincípios:

 Obrigatoriedade;
 Legalidade;
 Instancia;
 Tratosucessivo;
 Prioridade.

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1º. PRINCIPIODAOBRIGATORIEDADE
A obrigatoriedade do registo dos factos elencados no art.º 2 e 3 do CRP (8ºA), embora se
prevejamalgumasexceções(8ºA/1).

Aobrigatoriedadedoregistonadatemahavercomosefeitosreais.

Como se explicou a propósito do principio da consensualidade, a eficácia real decorre do
contrato,porefeitodacelebraçãoválidadeste,enãodependedoregisto.

Aobrigatoriedaderegistalconcretizasepelaimposiçãodeumdeverderegistaraumacategoria
dedestinatários(8ºB).

2º. PRINCIPIODALEGALIDADE
Vemprevistonoart.º69CRP.

OCRPadotouumsistemadelegalidadesubstancial,ouseja,cabeaoconservadormaisdoque
aapreciaçãodorespeitopelaformalegalealegitimidadedaspartes,umverdadeirocontrolo
devalidadedoatosujeitoaregisto.

Havendoalgumaanomalia,oconservadordeverecusaroregistonoscasosprevistosdoart.º
69,lançandooregistocomoprovisórioporduvidanassituaçõesdoart.º70.

Oconservadornãopodetermaispoderesdoquetemojuiznumprocessocivil.

3º. PRINCIPIODAINSTÂNCIA
Estánoart.º41.Ainiciativapraticadosatosregistaispertenceaosinteressadosnoregisto;o
conservadornãolançaosregistosoficiosamente.


4º. PRINCIPIODOTRATOSUCESSIVO
Vemprevistonoart.º34doCRP.

O registo predial tem por finalidade dar a conhecer aos interessados a situação jurídica dos
prédios, deve patentear toda a sequencia dos factos jurídicos que respeitam a cada prédio
descrito.

Procurase,destemodo,queahistóriajurídicadoprédiosejaretratadapeloRegistoPrediale
queaconsultadestepelosinteressadosreveleosfactosjurídicosrelativosaele.

Exemplodeviolaçãodotratosucessivo:

AvendeuapropriedadeaB.Acompraevendanãofoiregistadaporninguém.Bconsegue
venderodireitoaCeoconservadorregistaaaquisiçãoafavordeste,semterantesinscritoa
vendaafavordeB.

Oregistofeitocomviolaçãodotratosucessivoénulo(16º/e).

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Este principio tem o conservador como destinatário e não os particulares que requerem o
registo. Por isso, a violação do mesmo é da responsabilidade do conservador, que o deve
respeitar(34º/1).

5º. PRINCIPIODAPRIORIDADE
Oart.º6comportaumaregradeprioridade,ouseja,deprevalênciaentredireitoscompatíveis,
quevaleantesdemaisparaosdireitosreaisqueseconstituemcomoregisto,nomeadamentea
hipoteca.

Comonenhumoutrodireitorealdegozo,garantiaouaquisiçãoseconstituicomoregistoete,
a sua oponibilidade a terceiros dependente do registo correspondente do facto aquisitivo, o
principiodaprioridadenãotemaplicaçãoquantoaqualquerumdessesdireitos.


III. EFEITOSSUBSTANTIVOSDOREGISTO

DIVERGÊNCIA ENTRE OREM REGISTAL
1. AORDEMSUBSTANTIVAEAORDEMREGISTAL E ORDEM SUBSTANTIVA

Osistemaportuguêsdáprevalênciaàordemsubstantivasobreaordemregistal,infereseisto
danaturezailidíveldoart.º7CRP.

A divergência ou desconformidade entre a situação registal e a situação substantiva pode


aconteceremquatrocasos:

• Incompletudedoregisto:quandoumfactoqueaeleestavasujeitonãofoiregistado.O
registoficadesatualizado,nãoexprimindoaeficáciajurídicadofactoquenãofoilevado
aregisto.

• Ineficáciadoregisto:abrangeassituaçõesdeinexistência(14º)edenulidade(16º):

 Oregistoinexistentenãoproduzefeitos,podendoainexistênciaserrequerida
porqualquerpessoa;
 A nulidade tem de ser declarada judicialmente e só depois do transito em
julgadodadecisãopodeserinvocada(17º).

Adesconformidadedeumregistoineficazésemelhanteàdesconformidadedeum
registoincompleto.Oatoregistalestáviciado.

• Inexatidãodoregisto:estápresentenoart.º18.E,podeserretificadonostermosdo
120º.

• Invalidade do facto jurídico registado: o registo é valido e apenas o facto jurídico
registadoseencontraferidodeinvalidade.Estenãoénulo,neminexato.Éapenasum
registodesconformeàordemsubstantiva.

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2. OSEFEITOSSUBSTANTIVOSDOREGISTOPREDIAL.ENUNCIAÇÃOGENÉRICA

 Efeitopresuntivo;
 Efeitoconsolidativo;
 Efeitoconstitutivo;
 Efeitoatributivoouaquisiçãotabular;
 Efeitoenunciativo.

2.1. Efeitopresuntivo
Este efeito fundase no art.º 7. Estamos perante uma presunção ilidível, por conseguinte
suscetível de ser afastada mediante prova em contrário (350º/2). Quem tem a presunção
registalaseufavor,escusadeprovaratitulariedadedodireitoaqueoregistoalude.

Apresunçãofundadanoregistopodecolidircomapresunçãofundadanaposse(1268º/1),
aquiprevaleceamaisantiga.Istoquerdizer,queapresunçãoassentenoregistopredialnão
valenadasehouverumaposseanterioraoregisto.

Apresunçãoregistalvalenoscasosdetitulonulo,masnãoderegistojuridicamenteinexistente
(art.º15/1).

2.2. Efeitoconsolidativo
Porforçadoprincipiodaconsensualidade(408º/1),aconstituiçãooutransmissãododireitoreal
opera por mera eficácia do contrato, portanto, independentemente do registo, que, para o
efeito,nãoénecessário,podendodeixardeserfeito.

Nestecontextonormativo,oregistonãoéparteintegrantedofactoaquisitivododireitoreal.

Perguntaseentão,queefeito(substantivo)temoregisto?

Evitaaaquisiçãotabulardeumterceiro.

2.3. Efeitoconstitutivo

Oregistonãotemefeitoconstitutivo,oúnicocasoqueteméahipoteca.

2.4. Efeito atributivo (aquisição


tabular)
No sistema registal português, vigorando embora uma obrigatoriedade de registar, pode
acontecer que o registo fique incompleto, e desse modo inexato em face da realidade
substantiva,pornãoserregistadoofactoaelesujeito.

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Se o registo estiver incompleto existe o risco de quem vier a praticar um ato jurídico nada
adquira,nomeadamentepelotitularinscritonãoserotitulardodireitonaordemsubstantivae
nãoter,desdemodo,legitimidadeparadispordoseudireito.

AvendeuaBapropriedadedoprédioX.Estavendanãofoiregistada.Emseguida,Aconstando
aindadoregistodoaoprédioxaC.Esteregistaasuaaquisição.

Atendendoaqueaordemsubstantivaprevalecesobreaordemregistal,otitulardodireito
realpodepedireobter,emprincipio,ocancelamentodoregistopredialdonãotitular(art.º
13),quevê,assim,asuaposiçãoaserdestruída.

Oscasosdeineficácia,deinexistênciaedenulidadejurídicadoregistoacrescentamoutrotrecho
dedesconformidade.

Protegerumterceiroque“adquire”umdireitonabasedeumasituaçãoregistaldesconforme
àrealidadesubstantivasignificapreterirsempreotitulardodireitorealnaordemsubstantiva,
emultimaanalise,oproprietário,afavordequemnãoadquiriuvalidamenteoseudireito.

A proteção de terceiros com base na ordem registal, a acontecer, constitui umainversão da
prevalênciadaordemsubstantivasobrearegistaleergueoatoderegisto(inscriçãoregistal)
emverdadeirofactoaquisitivodedireitosreais.

Estaproteçãodenominaseaquisiçãotabulareconstituiumasituaçãojurídicaexcecional.Esta
proteçãotemcomofundamentoafépublicaregistal.

Existemquatropreceitosondedeveradicarumaaquisiçãotabularouefeitoatributivodoregisto
predial:

• Art.º5CRP;
• Art.º17/2eart.º122CRP;
• Art.º291CC.



A. AQUISIÇÃOTABULARDOART.º5CRP:

Oart.º5/1comoobjetoaproteçãodeterceirosque,confiandonaaparênciadeumasituação
registaldesconformeàrealidadesubstantiva,celebraumnegóciojurídicoinvalidocomotitular
inscritoeregistaasuaaquisição.

Paraaplicarmosoart.º5têmdeestarpreenchidosalgunsrequisitos:

1º. Requisito: abrange apenas os casos de registo incompleto (nos quais um terceiro
adquireumdireitodeumnegóciojurídicoinvalido,concretamentenulo,porfaltade
legitimidadedoseudisponente)eregistaofacto.

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AvendeapropriedadedoprédioXaBeestenãoregista.Avendeapropriedadedo
prédio X a C. A primeira situação está desconforme pois como não foi registada,
aparentementeAaindacontinuaaserproprietáriodoimóvelX.

2º. Requisito:paraoterceiroserprotegidotemdeinscreverofactoaquisitivo.Semregisto
docorrespondentefactooterceironãoobtémproteção.
Caso o titular do direito real na ordem substantiva registe a sua aquisição antes do
terceiro,estenãobeneficiarádasuaproteçãoregistal.

Queméoterceiroparaefeitosderegisto?

Deacordocomaconceçãorestritivaadotadanoart.º5/4,sóficaprotegidooterceiroque,tendo
registadoasuaposição,hajaadquiridodomesmodisponenteodireitorealincompatível.

Acomregistoaseufavor,vendeuapropriedadedoprédioXaB,quenãoregistou.Omesmo
A vende depois o mesmo direito a C, que regista a sua aquisição. C tem um “direito”
incompatívelcomBeadquiriuesse“direito”deautorcomum,A.Céterceiroparaefeitosdo
registopredialsegundoaconceçãoassentenoart.º5/1e4doCRP.

3º. Requisito:aproteçãoregistalestálimitadaaosterceirosquetenhamadquiridooseu
(pseudo)direitodamesmapessoaqueotransmitiuaotitulardodireitoincompatível.O
que restringe a proteção registal aos casos de dupla disposição. Ou seja, a mesma
pessoadispõeduasvezesdomesmodireitorealsobreomesmoprédio.

AvendeaBodireitodepropriedadesobreoprédioX.Bnãoregista.Avendeposteriormente
apropriedadedoprédioXaC,queregista.

Aprimeiravendaévalidanaordemsubstantiva.Osegundoatodedisposiçãoé,porém,nulo,
porfaltadelegitimidadedodisponente.Seestedispôsdodireitonoprimeiroato,jánãotem
legitimidadeparadispornosegundoato(939º892ºCC).

Contudo, uma vez que o registo está incompleto, e enquanto estiver, qualquer interessado
consegueregistarosegundoatodedisposição.

Estasituaçãoassemelhaseaoseguinteesquema:

B

 AR

CR

Osignificadodestaproteçãoéaaquisiçãoporviatabulardeumdireitoquenãohaviaadquirido
naordemsubstantiva.Oterceiroadquireporforçadoregistoodireitorealaqueserefereasua
inscriçãoregistal.Daífalarseemefeitoatributivodoregistopredialouaquisiçãotabular.

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4º.Requisito:queoterceiroestejadeboafé.Oart.º5/1nãofazqualquermençãoàboa
fé, mas esta é a imposição decorrente da integração sistemática do preceito e da sua
teleologia.Aproteçãodoterceirotemporfundamentoafépublicaregistalevisapreservar
aconfiançaqueoregistopredialdevesuscitarenquantoinstituiçãoorganizadaemantida
peloEstado.

Compreendesequeoterceirodemáfénuncarecebaaproteçãoregistal(oterceiroque
desconhececulposamenteestádemáfé).

Oconceitorelevanteparaaboafédetodasasmodalidadesdeaquisiçãotabularestáno
art.º 291/3 CC e apresenta a boa fé subjetiva ética, ou seja, não basta, pois, o mero
desconhecimento,temdeserumdesconhecimentodesculpável.

5º.Requisito:oterceirotemdecelebrarumnegóciojurídicooneroso.

Emsuma,temoscomorequisitos:

 Préexistênciadeumregistodesconformeàrealidadesubstantiva(registoincompleto);
 Atodedisposiçãopraticadocombasenasituaçãoregistaldesconforme;
 Boafédeterceiro;
 Caracteronerosodonegóciojurídicodedisposição;
 Queoterceiroregistoasuaaquisiçãoantesdoregistodofactoaquisitivodotitulardo
direitorealnaordemsubstantiva.

Estandoverificadostodosestesrequisitosoterceiroadquireodireitoquelheétransmitido.


B. AQUISIÇÃOTABULARDOART.º17/2CRP

Estepreceitoligasediretamenteàdeclaraçãojudicialdenulidadedoregistoprevistanonº1.
Oterceiroqueadquiraumaposiçãojurídicacombasenumregistonulopodeteradquiridoa
alguémquenãoerasubstantivamenteotitulardodireitorealquefoiobjetodedisposição.

Aleiregistaldispõeassim,queverificadososrequisitosdo17º/2,oterceiroadquirentenãovê
asuaposiçãoaserafetadapeladeclaraçãodenulidadedoregistopredial.

O 17º/2 só tem aplicação nos casos em que o ato de disposição fundado no registo nulo é
invalido,porfaltadetitularidadedodireitorealcombasenoqualesseatoécelebrado.

Porisso,apenasquandooregistonuloinduzumadesconformidadecomaordemsubstantiva
temlugaraaplicaçãodoart.º17/2.

Emsegundolugar,o17º/2sóatuacontraotitulardodireitorealquenãotenharegistodo
factoaquisitivodoseudireito.Seesteregistoexiste,opreceitotambémnãoiráteraplicação.

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Oefeitoatributivodoregistopredialnãoprevalecesobreoefeitoconsolidativo,queédefinitivo.
Se o titular do direito real na ordem substantiva regista o facto aquisitivo, consolida
definitivamente a sua aquisição, fica protegido contra uma eventual aquisição tabular de
terceiro.

Porisso,oefeitoatributivosósecompatibilizacomoefeitoconsolidativoquandootitulardo
direitorealnaordemsubstantivanãotiverregistoaseufavor.

Podemossistematizaralgunsrequisitosparaaaplicaçãodoart.º17/2:

1.º :préexistênciadeumregistonulo(comdesconformidadesubstantiva).Oregistoé
nulonoscasosdoart.º16,ficandodeforadoscasosdoregistojuridicamenteinexistente
(14º).
2.º :Atodedisposiçãofundadonoregistonulo.Ouseja,otitularinscritodispõedoseu
pseudodireitoafavordeumterceirocombasenoregistonulo.

3.º :queoterceiroestejadeboafé,deacordocomoart.º291/2(boafésubjetivaética).

4.º :Onerosidadedaaquisiçãodoterceiro.

5.º : O registo do facto aquisitivo do terceiro tem de preceder o registo da ação de
declaraçãodenulidadedoatodedisposiçãofundadonoregistonulo,quenãoé,por
conseguinte,otitulardodireitorealnaordemsubstantiva.

O art.º 17/2 protege um terceiro subadquirente, cuja posição adveio da celebração de um
negóciojurídicocomotitularinscritocomregistonulo,quenãoé,porconseguinte,otitulardo
direitorealnaordemsubstantiva.

Notese que o terceiro protegido nunca é aquele que beneficia do registo nulo, mas sim o
adquirenteemnegócioconcluídocombasenoregistonulo,umsubadquirente.

Para além de ser reportar a uma situação se subaquisição, o art.º 17/2 distinguese
nomeadamentedoart.º291CC,queprotegeigualmenteumsubadquirente,poroseuâmbito
deaplicaçãosuporapreexistênciadeumanulidaderegistalenãoumainvalidadesubstantiva.
Tratasedeumasubaquisiçãocomnulidaderegistal.

Assim,oart.º17/2atribuiodireitorealaqueserefereofactoregistado,adquirindooterceiro
odireitoreal.


C. AQUISIÇÃOTABULARDO291ºCC
Oart.º291éumpreceitoatinenteàaquisiçãotabular,pressupondo,porissoapréexistência
deumregistodesconformeàrealidadesubstantivaporinvalidadedonegócioregistado.

Ofundamentodaproteçãoéomesmodasoutrashipóteses:fépúblicaregistal.

16

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O291ºprotegeosubadquirentecominvalidadesubstantiva.

AdoouaBapropriedadedoprédioX,tendoesteultimoregistadoasuaaquisição.Emseguida
BvendeomesmodireitoaC,quetambémregista.EntretantoDfazdeclararjudicialmentea
nulidadedadoaçãodeAaB.Comanulidadedoprimeironegócio(dadoação),Bvêafeadaa
sualegitimidadeparatransmitirvalidamenteodireitoaC;estavendaé,poisnula(892º).Como,
nomomentodoregistodasuaaquisição,oregistopredialostentavaapropriedadedeB,seu
vendedor,colocaseoproblemadaproteçãodeCdefrontedeA.Éesseoproblemaqueo291º
pretenderesolver.

Portanto,oart.º291temporescopodefiniraproteçãodoterceirodeboaféqueadquirea
suaposiçãocombasenumregistodesconformeporinvalidadesubstantivadonegóciojurídico
registado.

Paraaplicarmoso291ºtêmdeestarpreenchidosalgunsrequisitos:

1.º Requisito: a situação registal desconforme com a realidade substantiva, por força da
inscriçãodeumnegóciojurídicoinvalido,nuloouanulável,ouseja,apréexistenciade
umregistodesconformeporinvalidadesubstantivadonegóciojurídicoregistado.

2.º Requisito:devehaverumatodedisposiçãododireitoaquesereportaofactoregistado.
O titular inscrito praticou um ato de disposição negocial do seu “direito” a favor de
terceiro.Esseatodedisposiçãoestáferidodeilegitimidade,causando,destemodo,a
nulidadedonegóciojurídicocelebradoe,comisso,anãoproduçãodaeficáciarealno
planosubstantivo.

3.º Requisito: o terceiro só recebe a proteção se estiver de boa fé (nº3). É uma boa fé
subjetivaética.

4.º Requisito:sóoadquirenteemnegócioonerosovemaserprotegido.

5.º Requisito: o terceiro tem de registar a sua aquisição antes do registo da ação de
declaraçãodenulidadeouanulaçãodonegóciojurídico.

6.º Requisito: se a ação de declaração de nulidade ou de anulação do negócio jurídico
invalidoforpropostaeregistadanostrêsanossubsequentesàsuacelebração,osefeitos
da invalidade produzemse, arrastando consigo a nulidade dos negócios jurídicos
subsequentes.

Oprazode3anoscontasedadatadacelebraçãodoprimeironegócioinvalido,aquele
justamentequeafetaalegitimidadenegocialdossucessivosdisponentes,enãodecada
umdossubsequentesnegóciosquevenhamaserposteriormentecelebrados.

Decorridosos3anosdoart.º291/2,oterceiroquereúnacumulativamenteosrestantes
requisitosficaprotegidocontraotitulardodireitorealnaordemsubstantiva.Istoquer
dizer,queadquiretabularmenteodireitorealaquesereportaoregisto.Oart.º291
constituiumdoscasosdeefeitoatributivodoregistopredialprevistosnaordemjurídica
portuguesa.

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D. A POSIÇÃO DO TITULAR DO DIREITO REAL PRETERIDO PELA


AQUISIÇÃOTABULARDETERCEIRO
Aaquisiçãotabulartemumreverso:asituaçãoemqueficaotitulardodireitorealpreterido
peloefeitoatributivodoregistopredial.

Oefeitoatributivodoregistopredialdásesemprecontraalguém,emúltimaanalise,contrao
proprietáriodoprédio.Podeafetarigualmenteoutrosdireitosreaismenores,masrepercutese
semprenapropriedade.

I. Aaquisiçãotabularpoderespeitaraqualquerdireitorealcujofactoaquisitivoesteja
sujeitoaregisto,nomeadamentedireitosreaismenores.Vamosentãoanalisaresta
questão.

A,comregistoaseufavor,doouaBapropriedadedoprédioX.Adoaçãonãofoiregistada.
PosteriormenteomesmoAvendeuaCodireitodesuperfície,tendoesteultimoregistado
deimediatoasuaaquisição,antes,portantodoregistodadoação.CasoCestejadeboafé,
eleadquiretabularmenteodireitodesuperfície(art.º5CRP),vistoquedopontodevista
substantivoavendaénula,porfaltadelegitimidadedeAparaavenda(892ºCC).

Aproteçãodestaaquisiçãosobraaposiçãodoproprietárioéevidente:apropriedadefica
oneradacomodireitorealmenoradquiridotabularmente.

Emcasoscomoeste,emqueoefeitoatributivodpregistosedánostermosdodireitoreal
menor,oproprietáriovêoseudireitoficaroneradocomodireitorealmenor.Nãoháaqui
qualquerextinçãoaconsiderar.

II. Umahipótesediversaéaqueleemqueaaquisiçãotabulartemlugarrelativamente
àpropriedade.

Parecenoscrucialadmitirqueapropriedadedoterceirodeboafépelaaquisiçãotabularse
fazcomosacrifíciodaposiçãodoanteriorproprietário,cujodireitoseextingue.

Oefeitoatributivodoregistopredialéoresultadodeumavaloraçãofavorávelàprevaleça
da situação registal sobre a situação substantiva e, portanto, à extinção da propriedade,
quandoesteforodireitoconflituantecomaposiçãodoterceiro.

Emsuma,dáseaextinçãododireitorealincompatível,aplicandoseatodososcasosda
mesmanatureza.

NOTA:ausucapiãoeoefeitoatributivo:Oterceiroquebeneficiadeaquisiçãotabularnãopode
fazer valer a proteção registal contra o titular do direito real adquirido por usucapião. A
usucapião que impede o efeito atributivo do registo predial é a que resulta do regime geral
previstonosart.º1287ess.Elapoderesultartantodasucessãodepossestalcomodaacessão.

2.5. Oefeitoenunciativodoregisto

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O registo pode não desempenhar uma função de publicidade relativamente a alguns atos
suscetíveisderegisto.Sãoestesosatosdo5º/2eaposse.

Osatosrelativamenteaosquaisoregistoéenunciativopodemnãoconstardoregistopredial
quenemporissootitulardodireitorealficasujeitoaperderoseudireitoporfaltadele.

Assim, vimos anteriormente que o beneficiário da usucapião não registada pode invocala
contraterceirodeboaféqueregistaasuaaquisição.

Afaltadoregistonãoimpedeosucessodainvocação,poisapublicidaderegistalémeramente
enunciativaquantoàusucapião.

CAPÍTULOIII–OCONTÉUDODOSDIREITOSREAIS

I. OCONTEÚDOPOSITIVODOSDIREITOSREAIS
O direito real tem uma coisa corpórea por objeto. O escopo legal deste direito está em
providenciaraotitularoaproveitamentodela.

Cadadireitoreal,namedidaemquetemumconteúdoespecifico,permiteoaproveitamento
diferentedosdemaisdireitosreais.

A ordem jurídica implementa um principio de numerus clausus, limita à partida o
aproveitamentodacoisaaostiposlegaispreviamentedefinidos,nãoreconhecendonenhum
outroaproveitamento,pelomenos,sujeitoàdisciplinadosdireitosreais,jáqueaafetaçãode
umacoisacorpóreapormeiodedireitospessoaisdegozonãoconheceentraves.

Os tipos de direitos reais consagrados podem ser agrupados em categorias em atenção ao
escopodeaproveitamentoqueatribuemaotitular:

1. Direitosreaisdegozo:ogozodacoisa;
2. Direitosreaisdegarantia:agarantiadocumprimentodeumaobrigação;
3. Direitosreaisdeaquisição:aaquisiçãodeumoutrodireito.

Oaproveitamentodacoisapelotitulardodireitorealédefinidopeloconteúdodessedireito,
quefixaotipolegaldodireitoreal.Aoconteúdododireitorealpertencemsituaçõesjurídicas
ativasepassivas.

Oconteúdododireitorealémuitasvezesdescritocomointegrandovários“direitos”.Utilizando
oexemplodoart.º1305apropriedaderepresentaoúnicodireitoaconsiderarnesteartigo;o
uso, a fruição e a disposição não são direitos, constituindo situações jurídicas menores
(poderesefaculdades)queintegramodireitodepropriedade.

Ousoeafruiçãoquesurgemnoconteúdodosdireitosreaisdegozoconstituempoderesem
sentidotécnico.Jáadisposiçãopodeserdecompostaemváriassituaçõesjurídicasmenores:na
alienaçãoouoneraçãododireito,sendoporissoumafaculdade.

19

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Oestudodoconteúdodosdireitosreaiscompreendeigualmenteavertentepassivadodireito.
Dentro do conteúdo do direito real distinguimos o conteúdo típico injuntivo (normas
imperativas)eoconteúdosupletivo.

Relativamenteàsprimeiras,estasregrasjurídicasnãopodemserafastadaspelosparticulares
atravésdeclausulasnegociaissobpenadeviolaremoprincipiodatipicidade.

O regime jurídico da maioria dos direitos reais deixa alguma margem de conformação do
conteúdododireitorealnadisponibilidadedosparticulares.


1. Oconteúdodosdireitosreaisdegozo
Osdireitosreaisdegozopermitemoaproveitamentodacoisaatravésdogozo.

Noseuconjuntoogozocompreendeospoderesde:uso,fruiçãoetransformaçãodacoisa.Estes
constituemonúcleodogozodacoisaquecaracterizaacategoriadosdireitosreaisdegozo.

Todososdireitosreaisdegozocombinamemmedidadiversaospoderesdegozo.

Écerto,queapropriedadecompreendetodosospoderesdegozo,nasuaextensãomáxima;
osrestantesdireitosreaisdegozo,cadaumdelestemoseuconteúdotípico.

Oconteúdodosdireitosdereaisdegozonãoestálimitadoaospoderesdegozo.Estesdireitos
tambémintegramafaculdadededisposiçãonoseuconteúdo.

Acategoriadosdireitosreaisdegozoautomatizasepelofactodeatribuirogozodacoisa,na
medidavariável,enãoporconteúdodessesdireitosselimitaraele.

II. OCONTÉUDONEGATIVODOSDIREITOSREAIS
Salteipág.288a291.


CAPÍTULOIV–ACOMUNHÃODEDIREITOSREAIS

I. Comunhãogeraleespecial
Aplica-se o regime da
compropriedade de forma direta (e
não por analogia) ao regime da Oregimejurídicodacomunhãoemgeralencontrasenosartigos1403ºess.
comunhão de dtos de propriedade.
Em dtos reais, a compropriedade Encontramos,todavia,regimesdacomunhãoemespecial,taiscomo:1370ºa1375º;1398ºa
constitui apenas a comunhão do dto
de propriedade, podendo existir 1492º;1420ºess.
comunhão de outros dtos reais, de
gozo, garantia e aquisição.

II. Aconstituiçãodacomunhãoemdireitosreais

20

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A comunhão pode resultar dos mesmos factos jurídicos que desencadeiam a constituição de
váriosdireitosreais.

Assim,acomunhãopodeconstituirse:

• Factojurídiconegocial,contratual(compraevenda,doação,permuta,etc.);
• Factojurídiconãonegocial(usucapião,acessão,ocupação);
• Porforçadalei;
• Pordeclaraçãojudicial.

A comunhão de direitos reais advém da existência do concurso de vários direitos reais da
mesma espécie sobre a uma mesma coisa, pelo que o facto que constitui a comunhão deve
determinaraaquisiçãododireitorealporumapluralidadedepessoas.

III. Oconteúdododireitodocomunheiro
Cadacomunheiroétitulardeumdireitoindependentedosdemais,comaparticularidades
destedireitopartilharoseuobjetocomoutrosdireitosreaisdamesmaespécie.

Assim,ocomproprietário,sendoumproprietário,temoconteúdododireitoquealeifixapara
apropriedadesingular(1305º).Eomesmosedigaquantoaocousufruto,àcosuperficie,eaos
demaisdireitossuscetíveisdecomunhão.

Portanto, o conteúdo do direito real do comunheiro corresponde ao aproveitamento
A comunhão trás especificidades ao
permitidopelotipolegaldedireitorealqueestiveremcomunhão. conteúdo do dto do comunheiro.

Mas,háalgumasespecificidadesrelativamenteaoconteúdododireitodocomunheiro:

 Quantificação da posição do comunheiro numa porção ideal ou abstrata da coisa
comum: a quota. A quota não faz variar o conteúdo do direito do comunheiro, mas
diferencia a posição dos comunheiros no exercício de alguns poderes e deveres que
fazempartedele.

 Comoconteúdonegativo:ocomproprietárionãopodeprivarosoutroscomunheiros
dousoaquetambémtemdireito(1406º).Todososcomunheirosquetenhamdireito
aousodacoisa,sejaqualforodireitodegozoconsiderado,sofremaincidênciadeste
dever,quelimitaaextensãodogozoadmitidapelotipodedireitorealemcomunhão.

IV. Aquotadocomunheiro
Asquotasdoscomunheirosresultamdotituloconstitutivo.Porém,seesteforomissoquantoa PIRES DE LIMA e ANTUNES
VARELA exemplificam com o diferente
elas,aleipresumequeasquotasdoscomunheirossãoiguais(1403º/2fim). preço pago pelos compradores num
contrato de compra e venda, que seria
indicstivo de uma quota proporcional ao
A indicação do valor das quotas não tem de ser expressa, podendo resultar do contexto do montante do preço suportado por cada
negóciooudeoutrascircunstanciasreveladasnotituloconstitutivo. um deles.

Aquotadocomunheironãotemdepermanecersempreamesma,podealterarse:

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• O valor da quota do comunheiro pode variar por força da eficácia de factos
supervenientes que tenham justamente o efeito de alterar o valor da mesma. O
comunheiropodedispor(vender,doar,trocar)detodaoupartedasuaquota(1408º/1).
 A posse da coisa nos termos de uma quota de valor superior - p.e. Por inversão do título da posse (art. 1406°, n°2
• Ausucapiãopodealteraraquota. no fim) - possibilita ao possuidor a usucapião do dto do comunheiro preterido na posse.

• Iusadcrescendi:foiexpressamenteprevistoparaarenuncialiberatória(1411º/3),mas
aregravaleigualmenteparaarenúnciaabdicativa.Seumcomunheirorenunciaoseu
direito,esteacresceaosoutrosnaporçãodasrespetivasquotas.

À quota estão associados efeitos importantes, tais como os dos art.º: 1405º/1; 1407º/1;
1409º/3;1411º.

V. Opoderdeusaracoisa
Oart.º1406/1regulaopoderdousodocomunheiro.Cadacomunheiropodeusarlivremente
acoisa,independentementedovalordasuaquotae,portanto,aindaqueestasejamínima.

A quota do comunheiro não tem projeção sobre o uso da coisa, que é igual para todos os
comunheiros,sejaqualforovalordasrespetivasquotas.O uso a que os comunheiros têm direito é o uso integral da coisa, de toda a coisa, e
todos eles podem usar a coisa simultaneamente, contando que tal seja possível.
Ousodocomunheiroestásujeitoadoislimites:

Art. 1406°, n°1 1. Nãoprivarosoutroscomunheirosdousointegraldacoisa;


 + o comunheiro deve comformar-se
com o statu quo da coisa e não
2. Nãoempregaracoisaparafimdiferentedoqueelasedestina:édadosomenteopoder introduzir nela quaisquer inovações
de utilizar a coisa tal como ela se encontra. Deve atenderse ao fim a que a coisa ou fazer reparações sem ter o
consentimento dos restantes
atualmenteseencontraafeta.Oquerevelaéousoconcretoquefoidadonacomunhão. comunheiros.
Seocomunheiroultrapassarousodacoisa,qualquerumdosoutroscomunheirospode
desencadearasuaoposiçãodevendorestituirasituaçãoanterior,semprejuízododever
deindeminizarcasoocaiba.

Aregradousointegralporcadaumdoscomunheirostemnaturezasupletiva.Deacordocom JAV sustenta que se assim não


fosse estava encontrado um
PIRES DE LIMA e ANTUNES JAVoacordosobreousodeveresultardoconsentimentodetodososcomunheirosenãoda expediente fácil para a maioria
VARELA opõem-se a JAV: determinar a seu belo prazer o uso
sustentam que a maioria pode imposição da maioria. Não havendo consenso e sendo o uso integral possível, o art.º 1406 da coisa comum, frustando o fim
deliberar sobre o uso da coisa, nos estabelecearegraaseguir. da regra estabelecida no art. 1406°,
mesmos termos em que decide sobre n°1, que é o de assegurar a todos
a administração dela, embora os os comunheiros o uso da coisa.
comunheiros não possam ser Havendo uma impossibilidade do uso integral, e na falta de consenso, não resta outra
privados do uso da coisa.
alternativasenãoorecursoàviajudicial.

Oregulamentodousodacoisacomumtemeficáciameramenteobrigacionalevinculaapenas
oscomunheirosqueohajamcelebrado,mesmoqueconstedoregistopredial.

Comefeito,talregulamentonãopodeenvolveraperdadefinitivaouso,sobpenadeviolação
doprincipiodatipicidade.
(Art. 1306°, n°1) se o tipo de dto real contempla o uso da coisa, a renúncia a este aspeto do conteúdo
do direito arrasta necessariamente a criação de um direito real atípico.

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ResumosExameDireitosReais

VI. Opoderdefruiredebeneficiardeoutroscréditosouvantagens
geradaspelacoisa
Opoderdefruiçãotemumaexpressãoquantificadaqueédadapelaquota.

Contandoqueodireitorealemcomunhãoatribuiopoderdefruir,cadacomunheirotemdireito
aosfrutosnaproporçãodasuaquota(1405º/12ªparte).Aregraéamesmaparaoscréditose
outrosproveitosdacoisa. O poder de fruição é de exercício individual

Opoderdefruiçãotemdeserconjugadocomopoderdeadministração.Senaadministração
estes concordarem um momento para a colheita dos frutos, o comunheiro deve respeitar o
momentodessadeliberação.

VII. Opoderdetransformaracoisa
Envolve ou pode envolver a alteração da substancia da coisa, o seu exercício cabe
conjuntamenteatodososcomunheiros.
A lei portuguesa é omissa quanto à falta de acordo dos comunheiros no exercício do poder de
Emcasodefaltadeacordodevemrecorreràviajudicial. transformação. Parece imperativo o recurso ao tribunal, para que este decida das pretensões
divergentes dos comunheiros.

Na comunhão por quotas importa VIII. Opoderdedispordoseudireito


deixar clara a diferença de regime
jurídico entre os atos de disposição do
direito do comunheiro e os atos de Deacordocomo1408º/1cabedistinguir:
disposição sobre a coisa comum, de
toda oi de parte dela. 


Regimejurídicodeatosdedisposiçãodo Atosdedisposiçãosobreacoisacomum,de
direitodocomunheiro:oprincipioéodalivre
 todaoupartedela:nãopode.–irpágina24.
disponibilidadedodireitodocomunheiro.Este

podealienaroseudireitoaterceiro,notodo
ouemparte,comopodeonerálo,constituindo
 
outrosdireitosreais.

Opoderdedisposiçãoenvolveigualmentearenunciaaodireito.Arenúnciapode,noentanto,
serabdicativaouliberatória.Sãoambasadmissíveis?


Nãohánenhumareferencianoregimeda Éadmissívelporviadoart.º1411.Arenuncia

comunhão.Éadmissível.Noentanto,aoabrigo nãodependedoconsentimentodosoutros.
dopoderdedisposiçãoincluídonodireitoreal,

ocomunheiropodevalidamenteeeficazmente

renunciaraoseudireito.Estarenuncianão
dependetambémnoconsentimentodos

restantescomunheiros.
23

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ResumosExameDireitosReais

Emcasoderenúncia,verificaseoacrescerdaposiçãodosoutroscomunheiroseosdireitosdos
outroscomunheirosexpandese,numamanifestaçãodeelasticidadedosdireitosreais.

IX. Opoderdepreferirnavendaounadaçãoemcumprimentoa
terceirosdodireitodocomunheiro
Oart.º1409confereaocomunheiroopoderdepreferência,masapenasnocasodevendaou
daçãoemcumprimento.

Cadaumexerceopoderdepreferirnaproporçãodasuaquota(1409º/3).

Caso algum dos comunheiros não queira preferir, a preferência cabe aos demais segundo as
regrasdaporporçãofixadano1409º/3.

Serestarapenasumdoscomunheirosapreferir,elepodepreferirpelatotalidade.


X. Opoderdeadministraracoisacomum
Cada comunheiro tem no conteúdo do seu direito o poder de administrar a coisa comum
(985º/1+1407º/1).Todososcomunheirostêmigualpoderparaadministraracoisacomum,
independentementedovalordecadaquota.

Tambémsepodemoporaatosdeadministração(985º/2+1407º/1).

Havendoconflitoentrecomunheirossobreadecisãoatomar,cabeàmaioriadecidir.Oart.º
1407º/12ªp.afirmaqualamaiorianecessária.

Oart.º985abreapossibilidadedeaadministraçãodacoisacomumserentregueaalgumou
algunsdoscomunheirosnostermosdeconvençãoacordadaentreeles.
Mas e se a oposição se gerar só após a
Nafaltadeacordodosadministradores,deveentendersequeasdeliberaçõessãotomadas prática do ato? — O poder de oposição
pode ser exercido pelo comunheiro mesmo
pelamaioriadeles,independentementedofactoderepresentaremounãometadedovalordas após a prática do ato jurídico de
administração por outro comunheiro. No
quotas,salvoseoregulamentodeadministraçãodispuserocontrário. entanto, se a maioria legal decide em
sentido contrário a ele, não é a sua
Osatosjurídicospraticadospelocomunheirocontraadecisãodamaioriadoscomunheiros validade que está em causa, uma vez que
essa é aferida no momemto da sua prática,
são anuláveis a requerimento de qualquer um dos comunheiros. Estes atos podem ser mas antes a respetiva eficácia jurídica. O
desfeitos, repondose a situação anterior. O comunheiro será civilmente responsável pelos ato jurídico será ineficaz perante os outros
comunheiros.
danoscausadosaosrestantescomunheiros(1407º/3).


XI. Opoderdedisposiçãodacoisacomum
Esteéopoderdedisposiçãodetodaoupartedacoisacomum.Comesteefeitodispõeoart.º
1408.

Ocomunheiropodedispordoseudireitocomoquiser,masselhefossepermitidofazeromesmo
quantoàcoisacomumoupartedela,eleestariaadisporsobreumacoisaquenãoésua,ounão
éapenassua.

24

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ResumosExameDireitosReais O poder de disposição da coisa ou de parte especificada dela é um poder de exercício conjunto com os
outros comunheiros e sujeito à regra da unanimidade.

Oatodedisposiçãodeparteespecificadadacoisaoudetodaeletemdesercelebradocomo
consentimentodetodososcomunheiros,anãoserquehajaconsentimentoprévio(prestado
namesmaformadoatodedisposição).

Afaltadeconsentimentoprovocaumvíciodeilegitimidade.Oatodedisposiçãoéhavidocomo
disposiçãodecoisaalheia(1408º/2).
Art. 892° e 939°
Onegóciocelebradosemoconsentimentoénuloeineficaz.

XII. Opoderdesuscitaradivisãodacoisacomum
Ocomunheirotemopoderpotestativodeaqualquermomento,pediradivisãodecoisacomum
(1412º).Essadivisãoéfeitanostermosdoacordoaquetodososcomunheiroscheguem,oqual
estásujeitoàformadacompraevenda(1312º/2).

Casooscomunheirosnãocheguemaacordoélicitoorecursoaotribunal(1413º/1).

Os comunheiros podem convencionar a indivisão da coisa no título constitutivo ou
posteriormente(1412º/1).

XIII. Opoderdereivindicação
Podeefetuaradefesacomrecursoatodososmeiosdetuteladoordenamento.

Iraoart.º1405/2.

XIV. O dever de pagar as despesas e de participar nos encargos
geradospelacoisa
Participanosencargosedespesasnaproporçãodasuaquota(1405º/1+1411º).Nadaimpede
ummétododiferenteacordadoentreoscomunheiros.

XV. Extinçãodacomunhão
Aextinçãodacomunhãoocorrequando:

1. Acoisaperece;
2. Osdireitosdoscomunheirosseextinguem:podeocorrercomarenuncia,expropriação,
decursodoprazo,usucapião;
3. Direitossãoadquiridosporumaúnicapessoa;
4. Quandoacoisajuridicamentedivisívelédividiapeloscomunheiros.

Aextinçãopodeterlugarjudicialmentecomoextrajudicialmente(1413º/1).

25

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ResumosExameDireitosReais

CAPÍTULOV–OSFACTOSJURÍDICOSCOMEFICÁCIAREAL

I. FACTOSCONSTITUTIVOSDODIREITOREAL
Existemapenastrêsfactosjurídicoscomeficáciaconstitutivaparatodasascategoriasdos
direitosreais:

1. Alei;
2. Adecisãojudicial;
3. Onegóciojurídico.

A. AUSUCAPIÃO

Ausucapiãosurgecomoumfactoconstitutivoquerespeitaunicamenteaosdireitosreaisde
gozo.

Ausucapiãosópermiteaaquisiçãodedireitosreaisdegozo.Nenhumoutrodireitorealoude
outranaturezaésuscetíveldeusucapião.

Todavia,nemtodososdireitosreaisdegozosãousucapiveis:nãosãosuscetíveisdeusucapião
o direito de uso, habitação, servidões prediais não aparentes (1293º CC) – não podem ser
aquiridosporusucapião.

Nada obsta à aquisição por usucapião dos direitos nus. Assim, a nua propriedade pode ser
adquiridapelopossuidorformalqueexerceumapossenostermosdapropriedadeoneradapor
usufrutoouporumasuperfície.

Ausucapiãotemaextensãodaposseexercida,apenaspermitindoaaquisiçãododireitoaque
elaserefere,asuaeficáciaocorrenosprecisostermosdaposse.Seestaseexteriorizacomo
umapropriedadeonerada,odireitoéusucapidonostermosdaposseexercida.


1. REQUISITOSGERAISDAUSUCAPIÃO:

a. Umaposseboaparausucapião:
b. Odecursodoprazolegaldaposse(duraçãodaposse);
c. Ainvocaçãodausucapiãopelopossuidor.


1.1. Aposseboaparaausucapião

26

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ResumosExameDireitosReais

Nem toda a posse serve para este efeito. A posse boa é a posse que tem de revestir
determinadoscaracteres,nomeadamenteserpublicaepacifica(coisasimoveis–1297º;coisas
móveis–1300º).

Seausucapiãoforadquiridadeformaviolenta,oprazosócomeçaacontarapartirdomomento
emqueelasetornarpacifica,destemodoaposseocultanãocontaparaausucapiãoatése
tornarpublica.

Háaquiumterceirorequisito:sercontinuaeinterrupta–apossesópodeservirparaausucapião
seopossuidoramanteveduranteoprazolegalparaoefeito,masnãosetratadeumrequisito
atenienteàposse,massimàduração,logonãotemosaquiumterceirorequisito.

Aposseboaéaverdadeiraposse.Adetençãoouposseprecárianãopodefundarusucapião
(1290º)–apenasosdetentoresquehajaminvertidootitulodapossee,sejamporconseguinte
possuidores,podembeneficiardausucapião,começandoacontaroprazonarespetivadatade
inversão.

1.2. Aduraçãodaposseparaefeitosdeusucapião:
O principal critério da lei para distribuir a duração, reside na distinção de coisas móveis e
imóveis.

a. Relativamenteàscoisasimóveis:
• Possuidores que tenham titulo aquisitivo + registo: 1294º  este artigo
estabelecedoisprazosdiferentes,queropossuidorestejadeboaféoumáfé:

 Havendoregistoeboafédopossuidoroprazosão10anos.Contando
seoprazoapartirdadatadoregisto(al.a);

 Havendoregistodetituloemáfédopossuidor,oprazoéde15anos.
Contaseoprazoapartirdadatadoregisto(al.b).

A existência de um titulo não se confunde com a existência de um titulo válido. Os títulos
podemserinválidos,desdequeainscriçãoregistaltenhasidofeitaemconformidadecomas
disposiçõesregistais.Existeaquitituloregistadoparaefeitosdausucapião,aindaqueofacto
jurídicosejainválidoeopossuidorpodeinvocarausucapiãonostermosdo1294º.

• Titulo aquisitivo, mas não têm registo: 1296º  também se aplica se o
possuidornãotivertitulonenhum.Aquialeitambémutilizaocritériodaboa
féoumáfédopossuidor.

 Nãohavendoregistodotituloesendoapossedeboafé,oprazoéde
15anos;
 Nãohavendoregistoesendoapossedemáféoprazoéde20anos.

Contudo,aleiportuguesaprevêummododeopossuidorsemtituloousemtituloregistável
poderobterumtitulojudicialeregistalo,beneficiandoassimdaaplicaçãodeprazosmenores.

Comefeito,oart.º1295/2prevêqueopossuidorpossadeclararjudicialmentequepossuiposse
publica e pacificamente uma coisa nos termos de um direito,desde que a posse tenha pelo
menos5anos.

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ResumosExameDireitosReais

Comoregistodadecisãojudicial(meraposse),oprazodausucapiãoserá:

• Cincoanoscontadosdadatadoregisto,seapossefordeboafé(1295/a);
• Dezanoscontadosdadatadoregisto,seapossefordemáfé(1295º/b).

b. No tocante à usucapião de direitos sobre coisas móveis, o critério assenta na
distinção entre coisas móveis sujeitas a registo e coisas móveis não sujeitas a
registo.

• Relativamente a coisas móveis sujeitas a registo, o prazo está no 1298º: aqui o
prazovariaconsoantehajaounãoregisto.

• Havendoregisto:

o Doisanosseopossuidorestiverdeboafé(1298º/a);
o Quatroanosseopossuidorestiverdemáfé(1298º/b).

• Nãohavendoregisto:aquioprazoéde10anos,independentementeda
boaféoumáfé(1298º/b).

• Coisasmóveisnãosujeitasaregisto:aquiháaindaumnovocritérioparaalémda
boaoumáfédopossuidor,sendoesteaexistênciadejustotitulo(1299º).Havendo
boaféejustotitulooprazodausucapiãoéde3anos;senãohouvertitulo,estando
opossuidordeboaféoumáféoprazosãode6anos(1299º).

Oart.º1300/2consagraumprazoexcecionalparaausucapiãodecoisasmóveis:quandoaposse
móvel houver sido adquirida às ocultas ou com violência e o adquirente da posse a tiver
transmitidoaterceirodeboafé,oprazoseráde4anosou7,consoanteapossedesteultima
tiversidotituladaounãotitulada.

Oprazodeduraçãodapossetemdesercontinuoenãopodeserinterrompido.

O art.º 1254/1 prevê uma importante presunção de posse com aplicação em matéria de
usucapião: se o possuidor atual possuiu em tempo mais remoto, presumese que possuiu
igualmenteemtermointermedio.Onº2afirmaquequandoaposseétitulada,presumeseque
hápossedesdeadataotitulo.

1.3. Duraçãodaposseeacessãodaposse:
Paracomputaroprazodapossenecessárioàusucapião,opossuidornãoficalimitadoaoseu
tempodeposse,podendojuntarasuaposseàpossedoseuantecessor.

Nestesentidodispõeoart.º1256/1:“aquelequehouversucedidonapossedeoutremportitulo
diversodasucessãopormortepodejuntarasuaposseàpossedoantecessor”.

28

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ResumosExameDireitosReais

Este preceito alude ao adquirente que recebeu a posse por transmissão: abrange os factos
translativosdaposse,ouseja,modospelosquaisapossepodesertransmitidaaterceiro.Dito
isto,atravésdosquaisapossepodesertransferida,ouseja,atradição(1263º/b)eoconstituto
possessório(1263º/c+1264º).

Ora,seoinstitutodaacessãovisafacilitarofuncionamentodausucapião,tendosidonoseu
contextoqueseencontrouaaplicação,nãofazsentidoexigirparaelamaisrequisitosdoque
aquelesquesecolocamàprópriausucapião.

Nestaordemdeideias,opossuidoratualpodejuntarasuaposseàpossedoantecessorcaso
tenha adquirido a posse deste por qualquer um dos modos de transmissão da posse que o
direitoportuguêsreconhece,independentementedavalidadedotitulodetransmissão.Otitulo
podemesmofaltardetodosemqueaacessãodapossesejaprejudicada.

Aacessãodaposseconstituiumpoderdopossuidorcujoexercícioéfacultativo.

Oelementoliteraldoart.º1256/1parececonfinaraacessãodepossesentreopossuidoratual
eopossuidordaqualaquelerecebeuaposse.

Mas,paraoJAVistonãofazsentido,dizendoqueopossuidoratualpodejuntaraspossesde
todososseusantecessores.

Éofactodeaposseseramesmaquepermitequeopossuidoratualbeneficiedetodootempo
dela, desde que começou. A acessão de posses com caracteres diferentes está sujeita ao
dispostonoart.º1256/2.

Assim,opossuídoatualapenaspoderárecorreràacessãodapossedoseutransmitentecasoa
usucapiãonãovenhaafuncionarcontraele.

Oart.º1256/2estabelecelimitesàacessãodaposse.

Possede“menorâmbito”significa,emprimeirolugar,posserelativaaumdireitorealmenor.A
somadasduas(oumaisposses)podeenvolverpossesexercidasnostermosdedireitosreaisde
gozodiferentes.Contudo,segundooart.º1256/2,ausucapiãosópodeocorrerrelativamente
aodireitorealmenor.

Posse de “menor âmbito” é, em segundo lugar, uma posse que tenha piores caracteres. Por
exemploapossedemáfééumapossedemenorâmbito.

A acessão da posse opera unicamente entre posses. Não pode haver acessão entre posse e
detenção.


2. SUSPENSÃOEINTERRUPÇÃODACONTAGEMDOPRAZODEPOSSE
PARAUSUCAPIÃO
Oprazodeduraçãodaposseparausucapiãopodeserinterrompido.Oart.º1292determinaa
aplicaçãoàusucapiãodoregimelegalprevistoparainterrupçãodaprescrição(323ºa327º).

A interrupção do prazo da usucapião determina a inutilização de todo o tempo de posse
decorridoatéaíeorecomeçodacontagemdoprazoapartirdoatointerruptivo(326º/1),exceto
nos casos em que a interrupção ocorre por força de citação ou notificação no âmbito de
processojudicial(327º/1).

29

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ResumosExameDireitosReais

Osfactosinterruptivosdoprazoparausucapiãosão:

• Acitaçãoounotificaçãojudicial(323º/1);
• 324º;
• 325º;
• A nova posse de outrem contra a vontade do possuidor mantida por um
prazo superior a um ano sem que o possuidor esbulhado haja intentado
duranteumanoaçãopossessóriaderestituiçãoparareaveracoisa(causa
deinterrupçãoespecifica).

O prazo da posse para a usucapião pode ser suspenso conforme determina o 1292º (318º a
322º).Asuspensãonãoinutilizaoprazodaposseparaausucapiãodecorridoatéàverificação
dofactosuspensivo,apenasobstandoaqueaquelecontinueadecorrer.

3. AINVOCAÇÃODAUSUCAPIÃOPELOPOSSUIDOR
Aeficáciadausucapiãonãoocorremeramentecomodecursodoprazodaposse.Paraquea
usucapião adquira eficácia o possuidor deve invocala, ou seja, manifestar a sua vontade em
usucapirodireitoaqueserefereaposse(1292º).

Passadooprazolegaleopossuidornadadisser,ausucapiãonãoproduzqualquerefeito.

Ainvocaçãodausucapiãopodeserfeitajudicialmenteouextrajudicialmente.

Sendoextrajudicialfazsemediantedeclaraçãocujafinalidadeéjustamenteoefeitoaquisitivo
dodireitoaquesereporta.Valeparaelaaregradaliberdadedeforma(219º).

Ainvocaçãodausucapiãotambémpodeserexpressaoutácita,valendoestanostermosgerais
(217º).

Ausucapiãotambémpodeserinvocadapeloscredoresinteressadosouporoutrosterceiroscom
interesselegitimonasuadeclaração(305º+1292º).


4. OMOMENTODAEFICÁCIADAUSUCAPIÃO
Invocadaausucapiãoaeficáciadamesmaretroageatéaomomentodoiniciodaposse(1288º).

5. AEFICÁCIADAUSUCAPIÃOEODIREITOUSUCAPIDO
O efeito primário da usucapião é o efeito aquisitivo (1287º). Pela usucapião o possuidor
usucapienteadquireodireitorealdegozoaqueasuapossesereportaesomenteeste.

Ausucapiãoconfereaousucapienteaaquisiçãododireitoexteriorizadopelaposse.Importa,no
entantoperguntaraamplitudedessaaquisiçãoquandoexistemoutrosdireitosreaismenores
constituídossobreamesmacoisapossuída?

 Ausucapiãosódeterminaasuaextinção(dosdireitosreaismenores)casoapossedo
usucapientehajasidomantidaemoposiçãoaestes.Ouseja,todososdireitosmenores
quesejamincompatíveiscomapossedousucapienteextinguemsecomausucapião;

30

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 Pelocontrário,seousucapienteexteriorizouasuaposseemconcorrênciacomasdos
titularesdedireitosreaismenores,ausucapiãonãoosafeta.

Concluiseassimqueausucapiãopodeteraindaoutraeficácia,nomeadamenteaextintiva.

A usucapião atua sempre contra o proprietário da coisa sobre o qual ocorre a aquisição do
direito.Noentantopoderánãoafetarsempreoproprietáriodamesmamaneira:

• Seausucapiãoserefereaodireitodepropriedade,apropriedadeanteriorextinguese.
Verificasesimultaneamenteumefeitoextintivoeaquisitivodausucapião.
• Quandoodireitousucapidoéumdireitorealmenor(usufruto,superfície,servidão),a
usucapião não determina a extinção do direito de propriedade, mas apenas a sua
oneração.

II. FACTOSTRANSLATIVOSDOSDIREITOSREAIS
Sendodireitos denatureza patrimonial, osdireitosreaissão,emregra,transmissíveisentre
vivosemortiscausa.

Emmatériadetransmissãodedireitosreais,oprincipiodaconsensualidadeconstituioprincipio
fundamental, devendo este ser conjugado com o principio da causalidade: a aquisição do
direitorealportransmissãosópoderesultardeumnegóciojurídicocausal.

Háexceçõesaoprincipiodalivretransmissibilidade:

 Usufruto:odireitodousufrutoextinguesecomamortedousufrutuário(1443º);
 Direitos de uso e habitação: a lei declara expressamente a sua intransmissibilidade
(1488º).

Osfactostranslativossão:osmesmosqueindicámosparaosconstitutivos,excetoausucapião.


III. OSFACTOSMODIFICATIVOSDOSDIREITOSREAIS
Saltei(pág.380a383).

Osfactosmodificativossãoosmesmosqueosconstitutivos.

CAPÍTULOVI–OSFACTOSEXTINTIVOSDOSDIREITOSREAIS

I. OSFACTOSEXTINTIVOSGERAIS
Aextinçãodeumdireitorealoperaporforçadoatojurídicoaoqualodireitoatribuieficácia.

31

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Comofactosextintivosgeraistemos:

• Aperdaoudestruiçãodacoisa;
• Arenuncia;
• Aprescrição;
• Acaducidade;
• Aconfusão;
• Aexpropriação;
• Aextinçãoporforçadaaquisiçãoouextinçãodeoutrosdireitosreais.

1. Aperdaoudestruiçãodacoisa
Osdireitosreaissãodireitosinerentesaumacoisacorpórea,seacoisapereceouédestruídao
direitorealextinguese.Éumadasconsequênciasdainerênciadosdireitosreais.

2. Arenúncia
Osdireitosreaissãonormalmentedireitospatrimoniaiseistosignificanormalmentequesão
livremente disponíveis. O poder de disposição do titular do direito real, muito variável em
funçãododireitoaquesetrata,asseguralheapossibilidadedeextinguirodireitoseforessaa
suaopção.

Inexistindoaproibiçãoderenunciaotitulardodireitorealpodefazelo.

A renuncia exteriorizase mediante declaração, que constitui um negócio jurídico unilateral,
estandoestesujeitoàformalegalparaonegóciojurídicoemquestão,sobpenadenulidade
(220º).

Aeficáciarealdarenunciaéinstantânea(224º).

Darenunciadevedistinguirseoabandono,respeitandoesteunicamenteàposse,originandoa
extinçãodaquela(1267º/1al.a).

Arenúncianãoapareceprevistaparatodososdireitosreais.

Nocampodosdireitosreaisdegozo,arenunciasurgeemsededecompropriedade(1411º),de
usufruto(4176º),direitodeusoehabitação(1485º+1472º/3)edeservidão(1569º+1567º).

Arenunciatambémpodeocorrernodireitodepropriedadeapesardenãoestarexpressamente
prevista, pois resultando de um ato de disposição, está compreendida no âmbito do poder
respetivo.

Arenunciasópodesereficazcomoconsentimentodoterceirotitulardeumoutrodireitoreal
sobreacoisaseelaacarretaraextinçãodesteúltimo.

Arenuncianãocarecedoconsentimentodosoutrostitularesdedireitosreaissenãoimplicara
suaextinção.

Háquedistinguirentre:

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• Renunciaabdicativa:constituiumnegóciojurídicodirigidounicamenteàextinçãodo
direitoreal.Delerevelaumpropósitopuroesimplesdeextinçãododireito.

• Renuncia liberatória: visa a exoneração das obrigações propter rem que recaem no
titulardodireitoreal.Assim,otitulardodireitorealquenãoquerounãopodecumprir
as obrigações propter rem conteúdo do seu direito real tem a alternativa de se
desvincularrenunciandoaeleafavordocredor.Estánosart.º1375/5;1411º;1472º/3;
1567/2e4.

3. Aprescrição
Pág.397e398

4. Caducidade
Osdireitosreaiscaducamsenãoforemexercidosdentrodoprazoestabelecido,porleioupor
negóciojurídico,ousedecorreroprazoparaoqualfoiestabelecido.

Pág.398e399.

5. Confusão

Aconfusãodesignaofactoextintivodecorrentedareuniãonamesmapessoadatitularidadedo
direitorealoneradoredodireitorealonerado.Emregra,estahipótesesucedequandosereúne
namesmapessoatitularidadedeumdireitorealmaiorededireitorealmenor.

Pode, no entanto, acontecer que se trate de dois direitos reais da mesma natureza, nas
hipótesesdecomunhãodedireitosreaisentrecontitulares.

Aconfusãoestápresentenosart.º:1476º/1al.b);1536º/1al.b);1569º/1.

Afirmase que não há confusão quando a reunião de dois direitos na mesma pessoa pode
envolveraextinçãodeumdireitodeterceiro(699º/3;1541º;871º/1).

6. Aexpropriação

7. Extinçãoporforçadaconstituiçãodeumdireitoincompatível

8. Aextinçãoporforçadaextinçãodeumdireitomaioronerado
Quando um direito real menor está constituído sobre um direito real maior (que não seja a
propriedade),aextinçãododireitooneradoimplicaaextinçãododireitorealmenor.

33

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II. FACTOSEXTINTIVOSDOSDIREITOSREAISDEGOZO
Osdireitosreaisdegozotêmfigurasextintivasespecificas:

• Onãouso
• Usucapiolibertatis

1. Onãouso
Osdireitosreaisdegozonãoestãosujeitosàprescrição.Oart.º298/3éexpressonessesentido.
Emcontrapartida,podemextinguirsepornãousonoscasosespecialmenteprevistosnalei.

Estescasossão:

• Usufruto:1476º/1al.c);
• Direitodeusoehabitação:1485º;
• Direitodesuperfície:1536º/1al.a);
• Servidão:1569º/1al.b).
• Propriedade:apenasnocasodoart.º1397.Emtodososoutroscasosapropriedadenão
estásujeitaaonãouso.

Onãousosópodeserinvocadoquandoaleioprevir.Portanto,oscasosemqueonãouso
provocaaextinçãododireitorealsãotípicos.Semprevisãolegalespecifica,odireitorealde
gozonãoseextinguepornãouso.

Osartigos1570ºa1573ºconstituemverdadeiramenteoregimegeraldonãouso,semprejuízo
destas especificidades, particularmente de prazo, que se encontra a propósito dos outros
direitosreaisdegozosujeitosaonãouso.

Oquedeveentendersepornãousoparaefeitosdaextinçãodosdireitosreaisdegozo?

Significaonãoexercíciododireito,sejaaníveldeatuaçãomaterialsobreacoisa,sejaatravés
doexercíciodopoderdedisposiçãododireito(exercíciojurídico).

Portanto, a extinção do direito real por não uso é uma extinção de todo o direito, não é
legalmente possível a extinção parcelar do direito real relativamente aos poderes e outras
situaçõesativasnãoexercidas.

Na hipótese de existirem vários comunheiros, basta o exercício de um deles para impedir a
extinçãodosdireitosdosrestantes.Éoqueresultadoart.º1570/3.

Oprazoparaaextinçãododireitorealdegozopornãousocontaseapartirdomomentoem
queoexercíciocessou(1570º/1).

Seotitulardodireitorealnuncachegouainiciaroexercíciodomesmo,oprazoparaonãouso
contasedadatadeconstituiçãododireito.Sechegouaexercelo,esseprazoécontadodadata
doultimoatodeexercício.

Oaproveitamentodacoisa,sejamaterialsejajurídico,impedesempreacontagemdoprazodo
nãouso.

O não uso está sujeito às regras da caducidade em tudo o que não se ache especificamente
reguladoapropósitodestefactoextintivo(298º/3).

34

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ResumosExameDireitosReais

2. Usucapiolibertatis
Art.º1574.Nadatemahavercomausucapião.

Aleimencionaaoposiçãodoproprietáriodopredioservientecontraotitulardaservidão,mas
nãoexistenenhumarazãoparalimitaraoposiçãoaoproprietário.

Destemodo,qualquertitulardeumdireitorealdegozomaiorquesatisfizerosrequisitoslegais
dousucapiolibertatispodeconseguiradesoneraçãodoseudireitoquantoàservidãoprediala
cujoexercícioseopôs.

DeacordocomoJAVestafigurapodeseraplicadaaqualquerumdosdireitosreaisdegozo
menores (o usufruto, o uso e habitação, servidão, superfície), desde que preencham os
requisitosdoart.º1574.Sendo,porisso,estafiguraumfactoextintivogeraldosdireitosreais
degozo.

Requisitoslegais:

a. Oposiçãodotitulardodireitorealmaior:significaaperdadocorpuspossessóriodo
direito real menor por ação do titular do direito real maior, implicando a quebra do
controlo material da coisa por aquele. O que importa acentuar é a privação do
aproveitamentodacoisaaonívelpossessório,comoafastamentodopossuidortitular
dodireitorealmenor.Deveserinterpretadarestritamente,abrangendoapenasaposse.

b. Decursodoprazolegal:oprazoestánoart.º1574/2.Masnãodizexatamentequalé,
porisso,temseentendidoqueesseprazoéocorrespondenteaoregimedausucapião.
Adatadecontagemdoprazoiniciasenadatadodesapossamentodopossuidornos
termosdodireitorealmenor.


c. Invocação pelo beneficiário: aplicamse aqui os art.º 303 e 1292 do CC. A invocação
pode ser feita judicialmente ou extrajudicialmente. Quando extrajudicial fazse por
declaração.Tambémpodeserinvocadapeloscredoresouporterceiros.

Estanãooperaapenasparaofuturo,retroageparaopassado.Aplicamseosart.º1288e1274º.

Aeficáciadausucapiolibertatiséextintiva.


CAPÍTULOVII–VIOLAÇÃOEDEFESADODIREITOREAL

I. AVIOLAÇÃODODIREITOREALEASAÇÕESREAIS
Há violação de um direito real quando um terceiro impede ou diminui de alguma forma o
aproveitamentodacoisacontraavontadedotitular.

Aviolaçãododireitorealpodesucederdemúltiplasformas.Nemtodaselasrequerem,porém,
umadefesapelotitulardeaçõesreais.

35

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ResumosExameDireitosReais

Nosdireitosreaisdegozo,podemhaverváriasformasdeviolaçãododireitoreal:Amaiscomum
consistenaprivaçãodaposseatravésdeesbulho.Éaperdadepossequelegitimaorecursoà
açãodereivindicação,emboraestapodeigualmenteterlugaremsituaçõesemquenemsequer
ocorreunenhumesbulho.

A ameaça da perturbação do aproveitamento da coisa também consiste, assim como a
perturbaçãoefetiva,mesmosemdesapossamentoconstituemsituaçõesdeviolaçãododireito
real.

Porultimo,oincumprimentodaprestaçãocorrespondenteàobrigaçãopropterremrepresenta
tambémaviolaçãododireitorealcorrespondente.

Aquiterceiroéonãotitulardodireitoreal.

II. VIOLAÇÃODODIREITOREAL,ILICITUDEEAÇÃOREAL
Énecessáriosepararaquiaviolaçãodailicitude.

A violação designa a situação objetiva que atinge o aproveitamento da coisa pelo titular do
direitorealeéindependentedequalquervaloraçãoqueodireitofaçaàcondutadealguém,
querdizeraocomportamentodaquelequeviolouodireitoreal.

A defesa do direito real supõe a violação do mesmo. É, contudo, irrelevante que o autor da
violaçãohajacometidoumfactoilícito.

A ação real tem por escopo propiciar ao titular do direito real o aproveitamento da coisa,
permitidopelodireito,pondofimàsuaviolação,sejalicitaounão.


III. ASAÇÕESREAIS
Quandoéquesepodedizerqueumaaçãoéreal?

As ações que promovem a devolução da coisa titular do direito real ou que previnem a
perturbaçãonapossesãoaçõesreais.Assim,açãorealéaaçãodereivindicação(1311ºe1315º),
açõespossessóriasdeprevenção,demanutençãoederestituição(1276ºess.).

Anaturezarealdeumaaçãonãoresultasomentedadiscussãopossessóriasobreacoisa.Por
maioria de razão, quando o pedido principal (ou um deles) da ação consiste na declaração
judicialdeexistênciaouinexistênciadeumdireitorealsobreacoisa,aaçãoéreal.

Paraalémdestescasos,aaçãotemnaturezarealquandooseuobjetosejaodefixarcontornar
físicosdoobjeto,ouaindadefixaraatuaçãodotitulardodireitorealsobreacoisa.

1. Açãodereivindicação
Segundo o art.º 1311 a ação de reivindicação pode ser intentada contra o possuidor ou o
detentorquetenhacoisaconsigo.

36

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ResumosExameDireitosReais

Aquele que tiver a coisa em seu poder pode ser demandado na ação de reivindicação, seja
possuidor,sejadetentor.

A ação de reivindicação não pode ser vista como uma ação de defesa de propriedade. Com
efeito,oart.º1315declaraaplicáveloregimedareivindicaçãoàdefesadetodoodireitoreal,o
quemostrabemqueareivindicaçãonãoéespecificadapropriedade,constituindoomeiode
defesadeumacategoriadosdireitosreais:osdireitosreaisdegozo.

Afinalidadedaaçãodereivindicaçãonãoseencontranaapreciaçãojudicialdaexistênciado
direitodoreivindicante,masnacondenaçãodoréunaentregadacoisa.

Ouseja,sãonecessáriodoispedidos:declaraçãodaexistênciadodireitodegozonatitularidade
doautor+condenaroreuaentregarlheacoisa.

(salteipág.426a429)

A procedência da ação de reivindicação encontrase, no entanto, sujeita à demonstração
cumulativade3condições:

• Oautorsejatitulardodireitorealdegozoinvocado;
• Oréutenhaacoisaemseupoder,comopossuidoroudetentor;
• Oréunãoprovesertitulardeumdireitoquelhepermitateracoisaconsigo.

(salteipág.429a435)

2. Açãonegatória
Aaçãonegatóriasurgiucomoumaaçãodedefesadepropriedade.Oseuespetroé,porém,bem
maior. Ela pode ser intentada pelo titular de um direito real maior, e não apenas pelo
proprietário,contraaquelequesearrogadatitularidadedodireitorealmenoretemporobjeto
principalademonstraçãodeumónusinvocadopeloréunãoexiste.

Comonegatóriaéaaçãoemqueoproprietáriopossuidorpedeaotribunalquedeclarequeo
réunãoéproprietário.

Tratasedeafastaralguémquesearrogadomesmodireitoqueoautor.

Ofundamentodaaçãonegatóriaéodireitorealdoautor;acausadepedir,ofactodoqual
emergeodireitorealinvocadopeloautornaaçãoeopedido,adeclaraçãodeinexistênciade
umdireitoreal(maior).

Comocondiçõesdeprecedênciatemos:

• Oautorsejaotitulardodireitorealqueinvoca;
• Oréunãoprovequeodireitorealmenorexiste.

Ononliquidfuncionasemprecontraoréunaaçãonegatória.

3. Açãoconfessória

37

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ResumosExameDireitosReais

Oautorpretendeafirmarcontraoréuaexistênciadeumdireitorealmenorqueesteultimonão
aceita.

O pedido é a declaração de existência de um direito real menor do réu. O autor alegando a
titularidadedeumdireitorealmenor,aduzofactodeaquisiçãododireitoqueinvocaededuz
aotribunaladeclaraçãodeexistênciadodireitodoréu.

Condiçõesdeprocedência:

• Oautorsejatitulardodireitorealinvocado.

Naaçãoconfessóriaoautorapenaspedeadeclaraçãodeexistênciadodireito.


CAPÍTULOVIII–APOSSE

I. NOÇÃOLEGALDEPOSSE
Oart.º1251defineaposse:“aposseéopoderquesemanifestaquandoalguématuaporforma
correspondenteaoexercíciododireitodepropriedadeoudeoutrodireitoreal”.

Oprof.JoséAlbertoVieiracriticaestadefinição:

1) Ao nível técnico jurídico, a utilização do termo “poder” acarreta ambiguidade. Na
dogmáticajurídica,poderconsistenumasituaçãojurídicaativamenosextensaqueum
direitosubjetivo,doqualsedistingue.Aposseenglobaváriopoderesenãosóum.
2) A posse não engloba apenas um comportamento ativo do possuidor, como afirma o
1251º, pois que no art.º 1257º/1 é certo que há posse desde que o possuidor possa
atuar materialmente sobre a coisa quando queira, por conseguinte mesmo que não
atue.
3) Apossepodetambémserreferenteaumdireitopessoaldegozo.


II. AAUTONOMIADAPOSSE
Aposseémuitasvezesconfundidacomapropriedade.Contudo,dentrodosdireitosreaisessa
confusãonãodeveserfeita.

Há que separar a posse da propriedade. Admitese um regime jurídico distinto para as duas
realidades, como também uma possibilidade de dissociação entre a propriedade e a posse
investidas em pessoas diferentes. Ou seja, uma pessoa pode ter a propriedade do bem X,
enquantoaoutratemapossedomesmobem.

Aautonomiadapossefaceàpropriedade,advémdofactodeapossesereferirtambémaoutros
direitos,paraalémdapropriedade.

A isto acresce que a posse pode existir sem eu o direito a que se refere esteja validamente
constituído,istoé,semquehajaumdireitoquelhecorresponda.

38

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Aposseformalnãodeixadeserumaverdadeiraposse.

III. FUNÇÃODAPOSSE
Oprof.JoséAlbertoVieiradiznosquenãoháapenasumaúnicafunçãodaposse.

Temosassimcomofunçõesdaposse:

1) Atribuiçãoprovisóriadeumdireitonostermosemqueéexercida:
Éafunçãodeatribuirprovisoriamenteumdireitoaquemtemocontrolomaterialdeuma
coisacorpórea.

Aatribuiçãodizseprovisóriaporqueseapresentaresolúvelemalgunsfactos.Ouseja,quando
aposseéformaleoproprietário(ououtrotitulardodireitorealdegozo)fazvaleroseudireito
contra o possuidor, nomeadamente através de uma ação de reivindicação, a posse cede no
confrontocomapropriedadeououtrodireitorealdegozoevemaextinguirse.Opossuidor
realperdeentãoasuaposiçãoparaotitulardodireitoreal.

Opossuidorformalsóconservaasuaposseenquantoatitularidadedodireitorealdegozonão
édemonstrada(1278º/1).Omesmoaconteceparaopossuidorcausalquenãoinvocaoseu
direitonoconfrontocomoutrotitulardodireitodegozo.

Havendoconflitoentreaposseeodireitoreal,apossecedesempreafavordodireitoreal.

Odireitorealconstituiumaafetaçãodefinitivadacoisaaoseutitular,enquantoqueaposse
confereapenasumaatribuiçãoprovisória.

Essaatribuiçãoprovisóriarepresentaemsiumdireitosubjetivoeimplicaumaproibiçãode
ingerência para terceiros, podendo o possuidor defender a sua posição com recurso aos
esquemasdetuteladeposse.

2) Garantiadapazsocial,atravésdaprevençãodaviolência:
Sabemosassimqueaposseconstituiumaafetaçãojurídicadacoisaaopossuidor,equeuma
ofensaaelaconstituiumaaçãoilícitaereprimidapelaordemjurídica.

Aatribuiçãoprovisóriadeumdireito(aposse)aquemtemocontrolomaterial,nostermosdesse
direito, fazse com total independência da titularidade desse direito. Daí falarse em posse
formal.Aproteçãopossessóriaocorremesmoquandoopossuidornãosejatitulardodireitoa
queserefereaposse(posseformal).

Ogozodacoisasupõequasesemprequeacoisaestejaempoderdotitulardodireito.Ora,éa
possedacoisaqueasseguraaotitulardodireitodegozoocontrolomaterialsobreela.Sem
posse,ficaopoderdedisposiçãojurídicadodireitoquandosejanormativamenteconsagrado,
masnãoousoeafruiçãodacoisa,quesóapossegarante.

Porisso,tambémotitulardodireitorealdegozocarecedaposseparaoexercerquantoauma
largafatiadoseuconteúdo.

39

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3) Publicidade:
Poroutrolado,ocontrolomaterialdacoisaarrastaconsigoumaaparênciadetitularidadede
umdireitosobreela.

Presumealeiportuguesaque,quemtemaposse,éotitulardodireitoaqueapossesereporte
(1268º/1).

Afunçãodepublicidadedaposseétransmitidapelapresunçãodetitularidadedodireitoreal
nostermosdosquaisaposseéexercida(1268º).

Desenvolvesesobretudoparacoisasmóveis,umavezquequantoaosimóveistemososistema
doregistopredial,queasseguraapublicidaderespetivaeasseguratambémumapresunçãode
titularidade(7ºCRP).


4) Conversação/consolidação:
Paraoprof.JAVestafunçãofundamentasenausucapião.Quandoopossuidornãoétitulardo
direito real de gozo exteriorizado pela posse, o ordenamento facultalhe, verificados os
requisitoslegais,aaquisiçãodessedireito,compreterição(emultimaanálise)doproprietário
dacoisa.

O ordenamento consegue assim que a exteriorização do direito coincida com a atribuição
jurídicadomesmoaopossuidor.

IV. APOSSECOMOEXTERIORIZAÇÃODEUMDIREITO
A posse exercese sempre nos termos do direito que exterioriza. Retirase isto de vários
preceitoslegaiscomooart.º1251,1263º/a,1257º.

Sealigaçãodaposseàexteriorizaçãodeumdireitovemaserquebrada,aposseextinguese.
Éistoqueresultadoart.º1253al.a).

A posse passa a detenção quando aquele que tem a coisa em seu poder esclarece para a
comunidadequenãoatuasobreacoisanostermosdeumdireitopróprio.

Assim,aposseconstituiaexteriorizaçãodeumdireitosobreumacoisa.Seaquelequetema
coisa em seu poder, deixar de atuar como titular de um direito, a ordem jurídica negalhe a
posse,atribuindolheoestatutodedetentor(1253º/a).

Oefeitopresuntivodatitularidadedodireito,atuteladaposse,apossibilidadedeusucapião,
etc.,repousamnopressupostoqueopossuidoragenostermosdeumdireito.Quandoaligação
da posse à exteriorização não existe, o ordenamento recusa a posse,qualificando a situação
comomeradetenção.

V. ELEMENTOSDAPOSSE
 

40

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Teoriasubjetivista: Teoriaobjetivista:

Apossedesdobraseemdoiselementos: 1) Corpuspossessório;
2) Intençãoinerenteàaçãodopossuidor.
• Corpus:elementofísicodarelaçãomaterial
entreosujeitoeacoisa; Havendocorpus,háemprincipioposse,anãoserque
• Animus:vontadedeatuarcomoproprietárioou descaracterizeasituaçãoparaameradetenção.Quemtem
vontadedeatuarcomotitulardeumdireitode ocorpuspossessórioterátambémvontadedeatuarcomo
gozo. titulardeumdireitoreal.

Faltandooanimusapossenãoexiste,apenashaveria Ninguémagesemtervontade.Porisso,quemtemocorpus
detenção. possessório,terávontadedeatuarcomotitulardodireito
real.
Temdeexistirumcontrolomaterialsobreacoisaeum
animusdeteracoisa,deserpossuidor.Temdeexistir Simplesmenteoanimusouavontadenãoserevelacomo
umelementointencional. umelementoautónomodaposse,eleintegraopróprio
corpuspossessório

1. Oordenamentojurídicoportuguês
O art.º 1251 apresenta uma noção de posse sem fazer nenhuma referencia à intenção ou
vontadedopossuidor.Dispõesimplesmentequeaposseéopoderquesemanifestaquando
alguématuaporformacorrespondenteaoexercíciodeumdireitoreal.

Nosartigosseguintes(1252ºe1253º/a)vemseafirmandoqueestepoderéumpoderdefacto:
ele pretende tradicionalmente traduzir o corpus possessório, ou seja, o controlo material da
coisapelosujeito.

Assim, a noção vertida no art.º 1251 faz coincidir a posse com o corpus possessório. Não
surgindooanimus.

O art.º 1253 elenca grupos de casos em que, não obstante de haver poder de facto, não é
atribuídaposse,massimmeradetenção.Aquiacolheusepartedateoriaobjetivistanavertente
que afirma que desde que houvesse corpus haveria sempre posse, exceto de alguma norma
jurídicapretendesequedasituaçãoseextraísseameradetenção.Éesteocasodoart.º1253.

Asal.b)ec)doart.º1253nãosupõequalqueranimussegundoJAV,ouseja,asuasoluçãonão
seiriaalterarqualquersejaoanimusdodetentor.Éodireitoquemdecidequemtemaposse,e
nãoavontadedosujeitoquetemacoisaemseupoder.

DeacordocomJAVaal.a)doart.º1253nãoconsagranenhumateoriasubjetivistaparaposse
noordenamentoportuguês,porvariadasrazões:

i) Porque não resulta deste artigo que a intenção é um elemento constitutivo da
posse.Aquiaintençãofuncionacomoumvetordeexclusãodaposseenãocomo
atribuiçãodamesma.Assimoartigopretendedefiniradetençãocomo:corpus–
animus.
Concluiseassim,quenoordenamentoportuguêsoanimuséumelementoque
serveparadescaracterizarumasituação,queàpartidaseriadeposse.

41

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Quandoéquesepodedizerqueaintençãoafastaapossesegundooart.º1253?

Aal.a)doart.º1253aplicaseaoscasosemqueaquelequetemocorpuspossessórioesclarece
socialmentequenãotemnenhumdireitosobreela.Porquantoaposseétuteladaenquanto
exteriorizaçãodeumdireito,quandoaquelequetemacoisaemseupodersecomportadecomo
aesclareceràcomunidadequenãosearrogadenenhumdireitosobreela,aordemjurídicatrata
asituaçãocomomeradetenção.

Aintençãodemonstradanaal.a)sópodeserumaintençãodeclarada.Adeclaraçãodopróprio
sujeitoquetemdomíniomaterialdacoisa,dequenãoatuasobreelanostermosdeumdireito,
éaproveitadapelodireitoparadescaracterizaraposse.

Emsuma,semexteriorizaçãodeumdireitonãoháposse.

Concluindo:

i) OCódigoCivilportuguêsrequerumelementoobjetivo:umadeclaração.Masnão
é qualquer intenção que revela, nomeadamente aquela que permanecer no
interior do sujeito não revela; apenas a intenção declarada tem relevância. A
intenção desempenha uma função de descaracterizar para a detenção uma
situação que à partida seria de posse. A posse permanece sempre como
exteriorizaçãodeumdireito.

ii) O CC é integralmente objetivista ao regular a posse. Ou seja, havendo corpus
possessório e não incidindo nenhuma norma jurídica que descaracterize a
situação para a mera detenção (nomeadamente qualquer das al. do artº 1253)
existiráposse.Oanimusnãoéassimumdoselementosdaposse.

2. Caracterizaçãodocorpuspossessório
Ocorpuspossessóriotraduzumasituaçãodesujeiçãodeumacoisaaumapessoa,implicando
porissoumcontrolomaterialsobreela.

Adecisãosobresedadasituaçãoconstituiocorpuspossessórioéoprodutodainterpretação
/aplicaçãoderegrasjurídicas,regrasquealudemaopoderdefacto.

Estasregrasconstamdosart.º1252,1253ºe1257º.Todosestespreceitostêmemvistaocorpus
possessório. Deles resulta que o poder de facto acarreta a pratica de atos que traduzem o
exercíciodeumdireitorealou,pelomenos,apraticadessesatos.

Ora, a atuação material sobre a coisa ou a possibilidade dessa atuação supõe o controlo
material dela, ou domínio da coisa. O corpus possessório protejase a um nível físico,
significando que alguém pode praticar atos de aproveitamento da coisa correspondentes ao
direitoqueelaexterioriza.

Porisso,ocorpuspossessórioaludesimplesmenteaoestadodefactoemqueumsujeitotem
ocontrolomaterialdacoisaepodeatuarsobreela,nostermosdeumdireito.

Umcontactotemporárionãoatribuiaosujeitoumasituaçãodeposse.

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O corpus possessório não requer uma ligação física constante do possuidor à coisa. Essa
ligaçãoéessencialnomomentodaaquisiçãodaposse,masapartirdessemomentoocorpus
subsistecomamerapossibilidadedeatuaçãomaterialsobreacoisa.

Oart.º1257deixaclaroqueapossesemantémenquantodurarapossibilidadedeatuação
correspondenteaoexercíciododireito.

Ocorpuspossessórioexistemesmoexistindooutraspossessobreamesmacoisa.Éoqueocorre
na:

• Composse: várias pessoas controlam materialmente a coisa nos termos do mesmo
direito;
• Sobreposição de posses: são exteriorizados diferentes direitos reais de gozo sobre a
coisaeasituaçãonormasécorresponderumaposseacadaumdeles.

Desdemodo,ocorpuspossessórionãotemdeserexclusivo,nosentidodesópoderexistirum
controlomaterialporumapessoaousónostermosdomesmodireito.

Ocontrolomaterialdopossuidornostermosdoseudireito,nãoprejudicaocontroloqueoutro
exerçasobraacoisaemrelaçãoaoutrodireitocompatível.

IMATERIALIZAÇÃO DA POSSE: é um fenómeno que tem uma das suas manifestações na
possibilidadedeapossesubsistirsemcorpuspossessório.Estahipótesevemprevistanoart.º
1267/1al.a).Emcasodeesbulho,apossemantémsenoprazodeumano.Oesbulhoconsiste
naperdadopoderdefactosobreacoisaporforçadaintervençãodeumterceironãoautorizado
pelopossuidor.Duranteumanoapossevemasermantidaenquantodireito,semasituaçãode
facto a ele correspondente, para permitir a recuperação da coisa pelo possuidor esbulhado.
Porquenãopodeexistirumapossesemocorpuspossessórioporumperíodoindeterminado,
emqueocontrolomaterialdacoisanãoéexercido.

VI. POSSEEDETENÇÃO
Nemtodoocontrolomaterial(poderdefactooucorpus)atribuiaposse.

Paraseafirmardaexistênciadepossenumdadocasoconcreto,paraalémdocorpus,deve
averiguarseaincidênciadeumanormajurídicaquequalifiqueasituaçãocomoumamera
detenção.

Havendocorpus,masnãocorrespondendoeleàposse,falaseemdetenção.

Odetentoéaquelequetemopoderdefacto(ocorpus)sobreacoisa,nãolhesendo,noentanto,
reconhecidaaposse.Tratasedeumapurasituaçãodefactoaqueodireitonãoassocianenhum
efeito.

Odetentornãorecebequalquerproteçãodoordenamento.

Adetençãoresultadaincidênciadeumanormajurídicaqueretiraaocorpusasuaconsequência
normaldeatribuiçãodaposse.Oart.º1253afastaaposseemtrêsgruposdecasos:

i) Os que exercem o poder de facto sem a intenção de agir como beneficiários do
direito;

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ii) Osquesimplesmenteseaproveitamdatolerânciadotitulardodireito;
iii) Os representantes ou mandatários do possuidor, e de modo geral, todos os que
possuememnomedeoutrem.

Emtodasestassituaçõesàcorpusmasnãoháposse.

Jáopossuidorbeneficiadosefeitosdaposse:

1) Presumesetitulardodireitoaqueserefere(1268º);
2) Recebetutelapossessória(1276ºess.);
3) Temodireitodeserindemnizadoemcasodeviolaçãodaposse(1284º);
4) Temdireitoaosfrutosseestiverdeboafé(1270º/1);
5) Ficasujeitoaoregimedebenfeitorias(1273ºa1275º);
6) Goza de um regime excecional de responsabilidade civil em caso de perda ou
deterioração(1269º).


VII. ÂMBITODAPOSSE
Existe posse em relação a todos os direitos que permitam a tutela possessória – ações
possessórias.Nomeadamente:

• Direitosreaisdegozo;
• Direitosreaisdegarantia:penhoredireitoderetenção;
• Direitosreaisdecredito:locação,comodato,parceria,depósito.

De acordo com JAV, se nos libertarmos do espartilho doutrinário do subjetivismo, não há
nenhuma razão para limitarmos o âmbito da posse aos direitos reais de gozo. Se a posse
repousanumaatuaçãomaterialsobreacoisacorpóreanostermosdeumdireito,elapodeser
referida a todos os direitos subjetivos que confiram poderes para essa atuação,
independentementedasuanatureza,realououtra,dodireitosubjetivoemquestão.Anãoser,
claro,quehajaumanormajurídicaquenegueapossenestescasos.

Emabstrato,aordemjurídicaportuguesapoderiarestringiraposseaosdireitosreaisdegozo.
Todavia,olegisladorportuguêsnãohesitouemconsagrarumatutelapossessórianoquadrode
direitosubjetivosquenãodireitosreais.Essatutelaestávertidanalocação,comodato,parceria
pecuniária,etc.

Poroutrolado,aprevisãodetutelapossessóriaparaunscasosenãoparaoutros,semquese
vislumbre qualquer razão de fundo para um tratamento diferenciado, atenta ao principio da
legalidade,poistratadedomodesigualsituaçõesiguaisousemelhantes.


VIII. POSSEIMEDIATAEPOSSECOMINTERMEDIAÇÃO


Opossuidoratuadiretamentesobreacoisaque Acoisaaparecedetidaporumterceiroqueageem
controlafisicamente;énistoemqueconsisteo nomedopossuidor.Opossuidorcontinuaatera

corpuspossessório.
 posse,umaposseexercidaporoutrem(1252º/1).
Aquelequeatuasobreacoisacorpóreaemnomede
outreméummerodetentor(1253º/c). 44

As i l ái é id d *

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*direitopessoaldegozoqueexterioriza(usufruto),masépossuidorquantoàpropriedade.

Omesmosediznarelaçãoenteopossuidornostermosdeumdireitorealmaioreopossuidor
nos termos de um direito real menor: o usufrutuário, que tem a coisa em seu poder para
exercer o direito, é possuidor nos termos do usufruto, mas detentor nos termos da
propriedade,atuandoemnomedoproprietárioquantoaessedireito.

Adetençãodacoisaporterceiropermiteacoexistênciadeváriaspossesnostermosdosdireitos
reaisdiferentes,semimpossibilitarasubsistênciadaposse,nostermosdodireitorealmaior,
quandoacoisadevaestarcomotitulardodireitorealmenorparaoefetivoexercício.


IX. CLASSIFICAÇÕESDAPOSSE
Presentesnoart.º1258.

1. PosseCausalePosseFormal


Quandoopossuidoré Quandoopossuidornãotema

simultaneamentetitulardodireito titularidadedodireitorealaquese
realaqueapossesereporta. reporta.

Afaltadetitularidadedodireitorealdegozoaquesereportanãorepresentenenhumobstáculo
àexistênciadaposseedasuatutela.

Emcasodeconflitopossessório,opossuidorformalapenaspodeinvocarasuapossecontra
aquelecomoqualtemoconflito.

Opossuidorcausalpodeinvocaroseudireitorealdegozoparavenceraoposiçãodopossuidor
formal(1278º/1).


2. PosseCivilePosseInterdictal


Aquelaqueseexercenostermos Aquelaquecorrespondeadireitos
dosdireitosreaisdegozo.
 reaisdegarantiaouadireitos
pessoaisdegozo.


3. PosseEfetivaePosseNãoEfetiva

Quandopermanececomomerodireito,desacompanhadodecorpus.
Quandoopossuidormantémo
Asituaçãopossessóriaresultaapenasdalei(1267º/d).Aquiaposse
controlomaterialdacoisaatravés 45
édesacompanhadadepoderdefacto.
do corpus possessório

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X. CLASSIFICAÇÕESLEGAIS

1. PosseTituladaePosseNãoTitulada
Nodireitoportuguêsatual,apossenãotemdesertitulada,quedizer,aausênciadeumtitulo
deaquisiçãododireitoexteriorizadoatravésdapossenãoprejudicaaexistênciadesta,embora
depoishajaaspetosdoregimeemqueadiferençaganharelevância.

• Possetitulada(1259º):apossetituladaéaquelaquesefundanummodolegitimode
adquirir a posse, independentemente do direito do transmitente ou da validade
substancialdonegóciojurídico.
Pressupõequeopossuidorafiraasuaatuaçãosobreacoisaaumfactoaquisitivodo
direito.Essefactojurídicoquetitulaaposserefereseàaquisiçãododireitonostermos
doqualaposseseexterioriza(propriedade,usufruto,etc.)enãoàprópriaposse.

Ofactojurídicoquetitulaaposserefereseàaquisiçãododireito,nostermosdoqualaposse
seexterioriza.

O facto jurídico que titula a posse deve ter eficácia real, para determinar a constituição ou
transmissão,paraopossuidordodireitoaqueserefere.Abstraisedavalidadesubstancialdo
factojurídicocomeficáciarealparaqualificarapossecomotitulada.

Aindaseacentuaqueofactojurídicodeveseridóneo,emabstrato,paraproduziraconstituição
outransmissãododireitorealemcausa,aindaqueemconcretosejaineficaz,porvirtudede
algum vício de natureza substancial, incluindo expressamente a falta de legitimidade do
disponente.

• Possenãotitulada:quandohávíciodeformadonegóciojurídico.

Apossetituladapresumesedeboafé.Otítulonãosepresume,asuaexistênciatemdeser
provada.

Havendotitulo,apossepresumesedesdeadatadotitulo(1254º/2).Nãohavendotitulo,ter
seádeprovaromomentodoseuinicio.

Emcasodeconflitodeposses,emquehajanecessidadedeatribuiracoisaaumdoslitigantes
pelamelhorposse(1278º/2),apossetituladalevavantagemsobreanãotitulada(1278º/3).

2. PossedeBoaféePossedeMáFé(1260º)

 Nãoseverificaaignorânciano
Opossuidordesconhecesemculpa,
momentodaaquisiçãodaposse.
queasuaposselesaosdireitos

alheios(boafésubjetivaética–
291/3).

Aferesenomomentodeaquisiçãodaposse.

46

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3. PossePacíficaePosseViolenta


Posseadquiriasemviolência.Uma Quandoéexercidacoaçãofísicaoupsicológicanos
posseadquiridasemviolênciaé
 termosdo255º,sobreopossuidor.Podedizer
pacificaparasempre,aindaque respeitoàpessoaouapatrimóniodopossuidorou

mantidacomviolência. deterceiros(255º/2).

JAV:aviolênciatemopossuidorcomodestinatárioenãoacoisa.Umaatuaçãosobreesta,
ainda que com recurso a meios violentos, só pode significar coação física ou psicológica se
dirigidaaopossuidor.

Aposseviolentaétidacomopossedemáfé,sempossibilidadedeconsiderarocontrário.

Oprazodeumanodoart.º1267/1al.a)nãoseiniciaatéaviolêncianãocessar.Enquanto
duraraviolênciaapossenãoéboaparausucapir.

4. PossePúblicaePosseOculta
Aferesenomomentoemqueéexercida.

• Posse pública (1262º): quando pode ser conhecida pelos interessados.


Cognoscibilidade: a posse pode ser conhecida. A posse é publica, mesmo que os
interessadosnãoaconheçam,desdequeapossamconhecer,normalmenteatravésde
umcomportamentodiligentedopossuidorsobreacoisa.

Osinteressadosemconhecerapossesãotodosaquelesquetiverempossesobreacoisa,mas
nãosó,tambémostitularesdosdireitosreaisdegozoquenãosejampossuidores.

• Posseoculta:quandonãosejapossíveloconhecimentopelosinteressados.Ocaracter
oculto da posse não a descaracteriza enquanto tal, pois existe corpus possessório
(controlomaterialsobreacoisa).

Diferençasdoregime:

 Quandoaposseéoculta,oprazodeumanoparaaperdadaposse(1267º/1al.d)e2)
sócomeçaacontarquandoestaforpublica;
 O prazo para usucapião não começa a contar enquanto a posse for oculta (1300º e
1297º);
 Aposseocultaéapossesemusucapião,massóenquantoforoculta;
 Apossepublicaémelhorqueaposseocultaeprevalecesobreestaemcasodeconflito.
 O possuidor só pode obter o titulo judicial para registo da posse desde que tenha
possuídopublicamenteepacificamenteportemponãoinferiracincoanos(1295º/2).

47

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XI. FACTOSCONSTITUTIVOSDAPOSSE
Nodireitoportuguêsexistemdoisfactosconstitutivosdaposse:oapossamentoeainversãodo
titulodaposse.

1. Oapossamento
Oapossamentodesignaaapreensãodocontrolomaterialdacoisaporaquelequeatéaínãoa
tinhaemseupoder.

Deacordocomoart.º1263al.a)sãonecessários3requisitosparahaverapossamento:

a. Umapráticadeatosmateriais;
b. Reiteraçãodapraticadeatosmateriais;
c. Publicidadedosatosmateriais.

a. Apraticadeatosmateriais:

Oapossamentoconstituiatomadadocontrolomaterialdacoisaeconcretizaseatravésdos
atos físicos necessários à sua apreensão. O agente tem de atuar de molde a ter o corpus
possessórioemseupoder.

Ex.:B,sabendoqueoprédioestádevoluto,arrombaafechaduraeinstalaselá.Cfurtaaschaves
doautomóveldeDnorestauranteefogecomele,escondendoonasuagaragem.

Oapossamentopressupõeumcomportamentoatravésdoqualoagenteganhaoseucontrolo
material.

Seoproprietáriooriginalcontinuaaatuarsobreacoisa,entãoquerdizerqueoapossamento
nãoseconcretizou.

O apossamento pode ocorrer nos termos de qualquer direito de gozo e não apenas na
propriedade.

b. Reiteraçãodapraticadeatosmateriais:

Decisivoseráassimnãoarepetiçãodaatuaçãomaterial,masaintensidadedeatuaçãosobrea
coisaparaconsumarocontrolodela.

Umcontroloepisódico,efémeroetransitórionãoésuficienteparaoapossamento.Esterequer
que o possuidor esteja em condições de atuar duradouramente sobre a coisa, ou seja, de a
conservaremseupoder.

O que interesse aqui é se o possuidor chegou a consumar a apreensão material e se tinha a
possibilidadedemanterocontrolodacoisa.

O tempo não é aqui relevante para o apossamento; o que conta é sempre a intensidade da
atuaçãoparacriarocontrolomaterialdacoisapelosujeito.

48

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c. Publicidadedosatosmateriais:

Sempre que a atuação material sobre a coisa corpórea permita criar o controlo sobre ela,
permitindo que o agente possa renovar a sua atuação sempre que queira, por si ou por
representante,háapossamentosemnecessidadedeaferiroanimusdaposse.

Ocaracterocultodaatuaçãomaterialdoagentenãoobstaàconstituiçãodeumaposseafavor
deste,porapossamento,semprequeesteenvolvaumcontrolomaterialdacoisa.

Notas:Oapossamentopodeterlugaratravésdealguémqueatueporcontadoadquirenteda
posse.Podetambémserlevadaacaboporumapessoacoletiva.

2. Ainversãodotítulodaposse
Oart.º1263/ddispõequeaposseseadquireporinversãodotitulodaposse,quevemaser
reguladanoart.º1265º.

Nainversãodotitulodaposseodetentordacoisapassaaexteriorizarumdireitoprópriosobre
ela,ouseja,aafirmaraposseemnomepróprio.

Aquelequeatéaíatuavaemnomealheiro,emnomedopossuidor,começaafazelonostermos
doprópriodireito.

Écompletamenteindiferentequenãosejaotitulardessedireito;ainversãodotitulodaposse
nãoéumfactoaquisitivodeumdireitoreal,massimdaposse.

Ainversãodotitulodaposseprovocaaaquisiçãodaposserelativaaqueodetentoparaa
referirasuaatuaçãosobreacoisa.

Ainversãodotitulodaposseoperasempreporumdetentor,istoé,alguémquetemocorpus
possesório,semqueodireitoreconheçaasuaposse(1253º).

Faltandoocorpusnãopodehaverinversãodotitulodaposse.

Ainversãonãopodeserconfundidacomoapossamento,porquenoapossamentonãohácorpus
possessórioprévio,enquantonainversãotemmesmodehavercorpuspossessório.

A inversão do titulo da posse opera também relativamente aos possuidores que sejam
simultaneamentepossuidoresdeumdireitopróprio.

Temlugarmesmocontraavontadedopossuidorcontraoqualeleatua.

Paraocorrerplenamenteainversãodotítulodapossetêmdeestarpreenchidosdoisrequisitos:

a. Oposiçãododetentorcontraaqueleemcujonomepossuía;
b. Atodeterceiro.

a. Oposiçãododetentor:

49

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Aoposiçãopodesermaterial,jurídicaourevestirasduasformas.Aoposiçãonãotemnatureza
jurídiconegocial. A conduta de oposição não tem de ter forçosamente um conteúdo de
comunicação.Trataseantesdeumatojurídico.

Podeserjudicialouextrajudicial.Odetentorquedemandaopossuidor,pedindoaotribunal
quedeclaresereleotitulardeumdireitoenãoopossuidorquepeçaaotribunalquedeclare
sereleotitulardeumdireitocontroopossuidorinverteotitulodaposse.

Ocomportamentodeoposiçãodeveserexteriormentereconhecívelpelopossuidorquandoa
oposição não lhe é comunicada e significar, inequivocamente, a afirmação de um direito
própriopelodetentor,diversodoexteriorizadoatéaí.

b. Oatodeterceiro:

Podeserumnegóciojurídicounilateraloumultilateral.

Deveter,emabstrato,eficáciarealparafundaraconstituiçãooutransmissãododireitoreal
emcausaafavordodetentor.

Dizse em abstrato, porque o art.º 1265 não supõe a validade do negócio, apenas a sua
idoneidadeparafundarapossenostermosdodireitorealpróprio.

Onegóciojurídicoquebeneficiaodetentorpermiteaesteexteriorizarumdireitorealqueaté
aínãoexercia.

Diferentementedoquesucedenaoposição,ocorreaquiaincidênciadeumnovotitulo,queé
constituídopelonegóciojurídicoquebeneficiaodetentor.

Aíodetentorpassaapossuidor.

Notas:

Ainversãodotitulodapossemudaasituaçãojurídicorealdacoisaapenasnoquerespeitaà
posse:odetentorpassaapossuidor.

Ainversãodotitulodaposseconfiguraumfactoconstitutivodaposse,ouseja,ummodode
aquisiçãoorigináriodaposse.Aposseadquiridaéumapossenova.

Aquelequeinverteotitulodaposseetemumapossepublicaepacificapodeadquirirodireito
realaqueserefere,contandoqueseverificamosoutrosrequisitos(1290º).

O prazo para usucapião contase desde a data da inversão do titulo, pois só a partir desse
momentoéqueháposse.

XII. OSFACTOSTRANSLATIVOSDAPOSSE
Sãodoisosfactostranslativosdaposse:

1) Atradição;
2) Oconstitutopossessório.

50

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1. Atradiçãodacoisa
Atradiçãoéofactodetransmissãodaposse.Elasignificaaperdavoluntáriadocontrolomaterial
dacoisapeloantigopossuidormedianteaentregadestaaonovopossuidor.

Atradiçãorequerapassagemdocontrolomaterialparaonovopossuidor,oqueéfeitoatravés
doatodeentrega.

Oart.º1263/bapenasdistingueentretradiçãomaterial(respeitaàentregadacoisamãoamão,
possivelmenteunicamenterespeitaàscoisasmóveis)eatradiçãosimbólica(abrangetodasas
formas pelas quais o possuidor renuncia voluntariamente ao seu senhorio sobre a coisa,
colocandoaàdisposiçãodoadquirente).

Atradiçãodeumacoisapodeterlugarporforçadeumatodeconstituiçãooutransmissãode
umdireitoreal(normalmenteéistoqueocorre).

Atradiçãopode,porém,operarporforçadeumcontratotranslativodoprópriaposseemesmo
quenãohajaacordo,seademissãodocorpusseprocessarvoluntariamenteafavordeoutra
pessoa,ouseja,seaentregadacoisaseconsumar.

Atradiçãoocorresimplesmentequandoficaconsumadaaentrega,materialousimbólica,da
coisaeocorpuspossessóriopassaparaoadquirente.

Atransmissãodaposseportradiçãonãovemaserafetadapelainvalidade(ouineficáciaem
sentidoamplo)donegóciojurídicoeulheserviudecausa,sehouver.

Fora dos casos de constituto possessório, a transmissão da posse supõe a tradição da coisa.
Faltandoesta,apossenãosetransmiteaindaqueodireitorealaqueelasereferesetransmita.


2. Constitutopossessório
No constituto possessório o possuidor passa a detentor, continuando embora a ter a coisa
consigo.

Hipótesespraticasdeconstitutopossessórioocorremquandooproprietáriovendeacoisa,mas
celebrasimultaneamentecomocompradorumarrendamento,comodato,umdeposito,oudoa
apropriedadeereservaousufrutoparasi.

Oconstitutopossessóriointegraumatransmissãodaposseporsimplesconsenso.

Oart.º1264estabelece3requisitos:

1) Umnegóciojurídicodetransmissãododireitorealdegozo:oconstitutosurgecomo
efeito jurídico de um contrato real quanto aos seus efeitos. A transmissão da posse
acompanhaatransmissãododireitorealaelarelativo;
2) Queotransmitentedodireitorealsejapossuidor:seotransmitentedodireitorealnão
épossuidor,nãopodetransmitirumapossequenãotem;
3) Umacausajurídicaparaadetençãodacoisa:oconstitutopossessóriorequerumacausa
jurídica. Esta causa é antes de mais um contrato. Pode, no entanto, ser uma mera
convençãonegocialdocontratodetransmissão.

51

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ResumosExameDireitosReais

Destemodo,oatodetransmissãododireitorealconstantenoart.º1264/1deveserentendido
comoumatojurídicoválido.

3. Asucessãonaposse
Art.º1255.

XIII. OSFACTOSEXTINTIVOSDAPOSSE
Oart.º1267/1estabeleceosfactosextintivos:

a) Oabandono;
b) Aperdaoudestruiçãodacoisa;
c) Acolocaçãodacoisaforadocomercio;
d) Oesbulho.

Estaenumeraçãonãoétaxativa,ouseja,apossepodeextinguirseporoutrosfactos,taiscomo
aexpropriaçãodacoisa.

Acedênciamencionadanaal.c)doart.º1267nãoconstituiumfactoextintivo,umavezquese
ligaàtransmissãodaposseaoutrem.–nãosepodeconsiderarfactoextintivo!

Oscasosdeextinçãodaposseretratamsituaçõesemqueocorpuspossessóriofoiperdidooua
leiinterveiodispondoaextinçãodaposse.

1. Oabandono
Oabandonoconsistenaperdavoluntáriadocorpuspelopossuidor.Noabandono,opossuidor
quebra o controlo material sobre a coisa, deixando de o exercer por opção própria. Como
consequênciaaposseextinguese(1267º/1al.a).

Oabandonosóextingueapossehavendoperdadocorpuspossessório.Nãobastaumíntimoe
escondidodesejodeabandonodopossuidorparaqueaposseseextinga;énecessárioquese
extingaocontrolomaterialdacoisa.

Aquiaintenção(animus)nãotemqualquerrelevância.

2. Aperdadacoisa
Existequandoinvoluntariamente,opossuidordeixadeestarnocontrolomaterialdela,semque
talsedevaaumatodeterceiro(contraposiçãocomoabandono).

Sóháextinçãoquandoopossuidorestiverimpossibilitadodedescobriracoisa.


3. Destruiçãomaterialdacoisa
Principiodainerência.

52

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ResumosExameDireitosReais

4. Acolocaçãodacoisaforadocomércio
Seumacoisaépostanodomíniopublico,extingueseapossequesobreelaincidia.

5. Oesbulho
Oesbulhoconsistenaprivaçãodacoisaporatodeterceirocontraavontadedopossuidor.O
corpuspossessóriofica,assim,destruídoe,comissoapossecessa.

Asformastípicasdeesbulhosão:oapossamentoeainversãodotitulodaposse.

Aleiportuguesa,porém,nãoprevêaextinçãodapossenomomentoemqueoesbulhofica
consumado.Comefeito,opossuidoresbulhadosóperdeaposseumanoapósoesbulhoe,com
isso,apossecessa.

Duranteesseano,oesbulhadopermanecepossuidorcoexistindoasuapossecomanovaposse
doesbulhador,adquiridapeloapossamentooupelainversãodotitulodaposse.

Esteprazodeveserarticuladocomadefesapossessória.


6. Pretensosfactosextintivosdaposse.Referenciaaonãousoeàaquisiçãopor
terceirodeboafé
O não uso nunca pode ser considerado um facto extintivo da posse, devido até à própria
definiçãodecorpuspossessórioconstruídapeladoutrinaportuguesa(1257º/1).Queristodizer,
queoqueinteressaéqueopossuidortenhaapossibilidadedeagirmaterialmentesobreacoisa,
masnãotemdeestarpermanentementeafazelo.Devidoaestajunçãodeideiasparecenos
controversoaextinçãodapossepornãouso.

7. Efeitosdaposse:
Oprincipalefeitodapossevemprevistonoart.º1268/1.Apossefazpresumiratitularidadedo
direito a que essa posse se reporta. Quem tem posse como proprietário presumese
proprietário,quemtemapossecomousufrutuário,presumeseusufrutuário,etc.

Apresunçãodetitularidadedodireitoprendesediretamentecomafunçãodepublicidadea
queapossesereporta.

IX.OSMEIOSDEDEFESADAPOSSE
Odireitoprovidenciaaospossuidoresmeiosdedefesadaposse.

Asaçõespossessóriassãotípicas,istoé,sóexistemaquelasquealeiprevê.AtualmenteoCC
consagratrêsaçõespossessóriaseumprocedimentocautelar.Aestesmeiosdedefesaàque
juntarosembargosdeterceiros(1285º).

Asaçõespossessóriassão:

53

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 Açãodeprevenção(1276º):destinaseapreveniratosdeperturbaçãoouesbulhode
terceiro, sejam eles judiciais ou extrajudiciais e, neste ultimo caso, materiais ou
jurídicos.Nãobastaosimplesreceio,massimojustoreceio.Nãopodehavernenhuma
condenação,poisaindanãohouveviolaçãodaposse,apenashaverãosanções;

 Açãodemanutençãodaposse(1278º):supõequeumterceiroconcretizouumaação
de violação da posse, através da pratica de atos de perturbação. São atos de
perturbação todos os atos materiais que não impliquem o esbulho, isto é,
desapossamento efetivo da coisa. Esta ação pressupõe que o possuidor mantenha a
coisa consigo, não tendo sido consumado o desapossamento. A reação contra a
tentativafalhadadeesbulhodeveserfeitapormeiodeaçãodemanutençãodaposse
enãopormeiodeaçãoderestituiçãodaposse;


 Açãoderestituiçãodaposse(1278º):temlugarquandoopossuidorforprivadodacoisa
pelo esbulho. Neste caso o corpus possessório é destruído pela intervenção de um
terceiro,queconcretizaodesapossamentodacoisa,retirandoadaesferadepoderdo
possuidor.

OPROCEDIMENTOCAUTELARéarestituiçãoprovisóriadaposseeencontrasenoart.º1279.
Nãosãoumaaçãopossessória,massãoummeiodedefesajudicialdaposseemprocessode
execução.

Paraestaaçãooart.º1279exige:

• Aexistênciadeumaposse;
• Umatodeesbulhodacoisa;
• Aviolênciadoesbulho.

A especificidade deste meio de tutela da posse advém da reação a um esbulho violento. De
acordocomoart.º1261/2oesbulhoéviolentosemprequeoesbulhadorempreguecoação
físicaoupsicológicasobreopossuidorparaobteracoisa.

Oprocedimentocautelarespecificoencontrasenosart.º393a395CC.

1. Legitimidadepassivaparaaçãoderestituiçãodaposse:ainoponibilidadeda
posseaterceirodeboafé
Oart.º1281dispõequeaaçãoderestituiçãopodeserinterpostacontraoesbulhador.

Podeacontecer,porém,queoesbulhadortransmitaacoisaaterceiro.Perguntasenessecaso,
seaaçãoderestituiçãopodesermovidacontraele?

Oart.º1281/1distingueoterceirodeboaféedemáfé.Ora,seoterceiroestiverdeboaféa
possenãolheéoponível.Nãosetrata,noentanto,deumproblemadelegitimidadepassiva
paraaaçãoderestituição,massimplesmentedeinoponibilidadedeumdireito(aposse)contra
terceiro.

54

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A ação de restituição, se movida contra terceiro de boa fé, será improcedente por falta de
oponibilidadedeterceiro.

(salteipág.550a573)

CAPÍTULOIX–APROPRIEDADE

I. NOÇÃODEPROPRIEDADE
Oart.º1305fixaoconteúdododireitodepropriedade.

Odireitodepropriedadeatribuiaotitulartodosospoderesoufaculdadesqueàcoisasepodem
referir.Oproprietáriopodefazerqualqueraproveitamentodacoisaquealeinãoproíba,oque
levaaconsiderarparaasuadelimitaçãosomenteasrestriçõesaesseaproveitamento(conteúdo
negativo).

Emrelaçãoàpropriedadeconsideramos:

• Opoderdeuso;
• Opoderdefruição;
• Opoderdetransformação;
• Opoderdereivindicação;
• Opoderdeexcluirterceirosnãoautorizadosdogozodacoisa;
• Opoderdedemarcação(decoisasimóveis);
• Afaculdadededisposição,incluindoopoderparaalienar,opoderparaonerareopoder
pararenunciar.

Estes são os poderes conferidos pedo ordenamento ao proprietário. A possibilidade do seu
exercícionãosurge,noentantoigualemtodasascoisas.

Oconteúdotípicodapropriedadepertenceàssituaçõesjurídicaspassivas(conteúdonegativo).
Estas delimitam a medida do aproveitamento da coisa concedido pelo conteúdo positivo do
direitoe,nessamedida,conformamaextensãodotipolegaldodireitodepropriedade.

Qualquerlimitaçãoconvencionalaodireitodepropriedadeencontrasesujeitoaoprincipioda
tipicidade,quevalenaturalmentetambémparaele.

Apenasaleipodecriaroconteúdonegativo(situaçõesjurídicaspassivas)paraapropriedade.
As restrições negociais da propriedade de que tenham este alcance violam o principio da
tipicidade,comoexpressamentedispõeoart.º1306egeramanulidadedonegóciojurídicoem
causa.

Em todo o caso, havendo uma limitação convencional ao aproveitamento da coisa, importa
distinguirconsoanteelatemnaturezarealouobrigacional.

O principio da tipicidade só é colocado em causa quando a convenção negocial respeita ao
contudo típico (injuntivo) do direito, ou seja, dito por outras palavras, quando altera a sua

55

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eficáciareal.Oquedeixadeforaaslimitaçõesaoaproveitamentodacoisaquetenhamnatureza
meramenteobrigacional.

Taisvinculaçõesdoproprietário,constituindomerasobrigações,nãoredundamemqualquer
violaçãodoprincipiodatipicidadeesão,porconseguinte,válidas.

II. FACTOSCONSTITUTIVOSDEPROPRIEDADE
Paraalémdosfactosaquisitivosgenéricos,existemfactosjurídicosespeciaisdapropriedade,
factosconstitutivosquesórespeitamaestedireito.Sãotrêsestesfactos:

• Aacessão;
• Aocupação;
• Oachamento.

1. Aacessão

a. Noçãoerequisitosdafigura:
OCCprevêaacessãocomoumfactoconstitutivododireitodepropriedadenoart.º1317/d.a
acessãovemdepoisaserdefinidanoart.º1325.

Deacordocomesteart.ºaacessãopressupõedoisrequisitos:

1) Auniãooumistura(confusão)deduas(oumais)coisas;
2) A inseparabilidade da coisa resultante da união ou mistura de duas ou mais coisas
autónomas.

1) Auniãooumisturadeduasoumaiscoisas:

Por virtude de uma qualquer causa, que pode ser natural ou provir da ação do homem,
intencional ou causal, duas ou mais coisas combinamse ou fundemse uma na outra. O
fenómenoédeordemmaterialoufísica.

Aacessãotemlugarquernauniãoquercomamistura,semqueoregimeportuguêsdiferencie
oregimeentreambas,comosepodevernosart.º1333,1334ºe1335º.

Auniãonãoérequeridaemtodasashipótesesdeacessão.Nãooé,nomeadamente,nahipótese
deavulsão(1329º).


2) Inseparabilidade da coisa resultante da união ou mistura de duas ou mais coisas
autónomas:

Se duas ou mais coisas se ligam entre si por qualquer facto, mantendose, no entanto, a
possibilidade de separação, a acessão não se dá e qualquer dos proprietários pode exigir a
separaçãoereivindicarasuacoisadequemativeremseupoder.

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Destemodo,auniãooumisturadecoisaséprecária,nãodefinitivaeelaspodemvoltaràsua
formaoriginalatravésdeumatodeseparação,logonãopoderáhaveraquiacessão.

Ainseparabilidadenãovemmencionadacomorequisitodaacessãonoart.º1325.Noentanto,
dispõeexplicitamenteoart.º1333/1sobreamesma.Tambémnosart.º1334ºe1335ºsefala
eminseparabilidade.

Ainseparabilidadeaplicaseatodasasformasdeacessão.

Ainseparabilidadedequefalamoscomorequisitodaacessãonãodeveservistaemsentido
material. Falase em sentido normativo, esse sentido está presente nos art.º 1333, 1334º e
1335º. Aqui evidenciase a inseparabilidade, não apenas se a separação das coisas não for
materialmentepossível,mastambémquandoqualquerdascoisasunidasoumisturadasnão
pudersepararsedaquelaquefoiunidaoumisturadasemsofrerprejuízo,istoé,semseperder
oudeteriorar.

Ocritérionormativoassenta,pois,napossibilidadedeascoisas,ambasouumadelas,poderem
voltaràsuaprimariaformasemsofreremdanoirreparável.

Ou seja, se houver detrimento de uma das coisas, mesmo havendo possibilidade técnica de
separação,háinseparabilidadeparaefeitosdeacessão.


b. Oâmbitodaacessão.Delimitaçãonegativa:
O regime da acessão só se aplica à hipótese de união ou mistura de coisas pertencentes a
proprietáriosdiferentesquandonãohajaoutroregimequereguleespecificamenteasituação.

Umauniãodecoisasrealizadaporumadaspartesdocontratocujasregrasaregulamouporum
possuidornãoéreguladopelasregrasdaacessão.

Assim,oregimedaacessãoésubsidiário.


c. Acessãoebenfeitorias:
Háumaverdadeiradificuldadenosistemaemdistinguiroregimejurídicodaacessãoeoregime
dasbenfeitorias.

Para JAV, fora dos casos em que a lei preveja especificamente a aplicação do regime de
benfeitorias,todaauniãooumisturadecoisaspertencentesaproprietáriosdiferentesestá
sujeitaaoregimedaacessão,mesmoqueoagentedaincorporaçãosejapossuidor.

d. Acessãoeboafé:
Oregimedaacessãodivergeconsoanteoautordauniãoestejadeboaféoudemáfé.

Aleiportuguesaestabeleceoquesedeveentenderporboafénoart.º1340.Oraesteartigo
parece darnos uma conceção subjetiva psicológica de boa fé. De acordo com o JAV, esta
conceçãonãocorrespondehojeàsexigênciasdotraficojurídico.

57

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ResumosExameDireitosReais

Aspessoasnãopodemficaràmercedainerciaedaignorânciadosoutrosnoconhecimentodos
seusdireitos,sujeitandoseaosdesígniosdacondutadaquelesquejustamentenãorevelaram
qualqueriniciativaparaosrespeitar.

Devidoaestafundamentaçãooprof.JAVafirmaquedevemosinterpretaraconceçãodaboafé
ética,ouseja,odesconhecimentonãoéasimplesignorância,temdeserumdesconhecimento
desculpáveldessedireito.

(salteipág.601à604).

e. Acessãoindustrialimobiliária:
Aarrumaçãodasmatériaséfeitaem4hipóteses:

1) Obras,sementeiraseplantaçõesemsoloprópriocommateriaisalheios(1339º):

Oproprietáriofazobrasnoseuterrenocommateriaisalheios(ouseja,semconsentimentodo
proprietáriodosmateriais).Havendoinseparabilidade,nosentidoanteriormentediscutido,o
proprietáriodoterrenobeneficiadaacessão,estandoobrigadoapagarovalordascoisasque
utilizou ao proprietário das mesmas, bem como indemnizar (sendo o caso) pelos danos
causados.

Aquioproprietáriodosoloadquiresempreapropriedadedascoisasqueincorporaqueresteja
deboaféoudemáfé.Aoproprietáriodascoisasnuncaésequerdadoodireitodeacessão,
apenasodireitoareceberopreçodascoisas.

2) Obras,sementeiraseplantaçõesfeitasemterrenoalheio,distinguindoseaboaféou
amáfédoautordaunião(1340ºe1341º):

Seauniãohouversidofeitadeboafé: Seauniãohouversidofeitademáfé:

O direito de acessão é feito depender do valor que a Aplicaseo1341º.Estedáumdireitoemalternativaao


obra,sementeirasouplantaçãotivertrazidoàtotalidade proprietáriodoprédio:
doprédio.

 Acessão:obedeceao
Reconstituiçãoda
Nocasodeaobra principiosuperfícies
Casoavalorizaçãotrazida Quandooimplantenão situaçãoexistente 
acrescentarao solocedit.Apenaso
peloimplanteaoprédio trásaoprédioumvalor prédioovalorexato paraoprédioantesda

formaiordoqueeletinha superioraovalorqueele proprietáriodoprédio
união:oproprietário
queeletinhaantes podeadquirira
antesdaimplantação,o
 tinhaantesdaunião,o doprédiopode
deelaocorrer,irá propriedadedo
direitodeacessão direitodeacessãoé destruiroimplante,
 haverumalicitação implante,nãooautor
pertenceaoautordaobra, atribuídoaoproprietário entreos recaindosobreoautor
emdetrimentodo dauniãoocustode daunião.Exercendoa
doprédio(1340º/3). proprietários
proprietáriodoprédio reposição,assimcomo acessão,oproprietário
58
(1340º/2+1333º). do prédio deve
(1340º/1) uma indeminização

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ResumosExameDireitosReais

*daunião.Aindeminizaçãosurge,porém,oregimedoenriquecimentosemcausa(1341ºno
fim).

3) Obras,sementeiraseplantaçõesfeitascommateriaisalheiosemterrenoalheio
(1343º):

Oautordauniãonãobeneficiadaacessão.Emcontrapartida,essedireitopertenceaodonodo
prédioouaodonodosmateriais,deacordocomoestabelecidonoart.º1340;nº1enº3seeste
ultimonãotiverculpanaatuaçãodoautordamistura(1342º/1e21ªp.).Estaregraaplicase
independentementedoautordauniãoestardeboaféoudemáfé.

Havendoculpadoproprietáriodosmateriaistemlugaraaplicaçãodoart.º1341,mesmoqueo
autordauniãoestejadeboafé.Seestiverdemáfé,aresponsabilidadeprevistanoart.º1341
paraoautordaincorporaçãoésolidariaentreesteeoproprietáriodosmateriais,cabendolhes
aindeminizaçãoporenriquecimentosemcausa(1342º/2nofim).

4) Prolongamentodoedifícioemterrenoalheio(1343º):

O art.º 1343 permite àquele que construiu parte de o edifício em terreno alheio adquirir a
parceladeterrenoocupadapelaconstrução.Opreceitoestabelecetrêsrequisitosparaoefeito:

• Aboafédoautordaconstrução:seesteestiverdemáféoproprietáriodoterrenopor
ondeseprolongouoedifíciopodeexigiradestruiçãodaparteerguidanoseuprédio,às
custasdoconstrutor,devendoaindaindemnizarpelosdanoscausados;

• O decurso de 3 meses sem oposição do proprietário do terreno ocupado:
independentementedaboafédoconstrutor,oproprietáriodosolopodesemprereagir
pedindoadestruição,casonãohajampassadoos3mesesdoiniciodaconstrução.Seo
fizer,tambémnãohaveráacessão;oprazocontaseapartirdomomentodaconstrução
emterrenoalheioenãodoapossamentodeste.Aoposiçãopodeserfeitaatravésde
qualquer modo que exprima o descontentamento e o prepósito de não autorizar a
feituradaobra.Podeserextrajudicialmenteoujudicialmente.

• O pagamento de uma indeminização pelo valor do terreno e por outros danos
causadosaoproprietárioeaosoutrostitularesdedireitosreais(1343º/2).

f. Direitoàacessãoedireitosreaismenores:
Tambémpodeacontecerqueumadascoisasunidasoumisturadassejaobjetodeumdireito
realmenor.

Perguntaseentãoseobeneficiáriodaacessãoésóoproprietárioouseumtitulardeoutro
direitorealdegozopodeigualmentebeneficiardesseregime?

Arespostadadapeladoutrinatemsidoafirmativa(MenezesCordeiroeOliveiraAscensão).A
ideiaésimples.Semprequeauniãooumisturasedánoâmbitodoconteúdododireitoreal
menor (de gozo), o titular desse direito beneficia da acessão. Esta é uma decorrência da

59

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ResumosExameDireitosReais

oneraçãododireitodepropriedade.Oproprietárionãopoderáexerceroseudireitonaparte
emqueodireitoestáonerado,podendoapenasousufrutuário(porexemplo)exercer.

(densificarcomaspáginas610e611)

g. Odireitoadquiridopelaacessãoésempreapropriedade:
Admitindose que o titular do direito menor pode beneficiar da acessão, levantase então a
questãodesaberqualodireitoqueeleadquire?

Oprof.MenezesCordeiroeOliveiraAscensãosustentamquesepodemconstituirporviada
acessãooutrosdireitosreais.

DeacordocomJAVistoéimpensável.Defenderqueumtitulardedireitorealdegozomenor
possa beneficiar da acessão não implica logicamente sustentar que o direito adquirido pelo
beneficiáriosejaomesmoquelhepermitiuaacessão.

Pelocontrário,pensamosqueodireitorealadquiridoporviadaacessãoésempreodireitode
propriedade,mesmoquandoodireitoquepermiteaacessãoéoutrodireitoreal.

Se por exemplo no regime do usufruto, o usufrutuário fizer obras (transformações na coisa
objetodousufruto),ficaproprietáriodestas,sendoindemnizadospeloproprietáriodacoisaa
nível de benfeitorias, porque razão seria diferente no regime da acessão? Não há nenhuma
razãológicaquejustifiqueaafirmaçãodoprof.MenezesCordeiro.

(salteipág.614a618)

h. Omomentodaaquisiçãodapropriedadeporacessão:
Oart.º1317al.d)estabelecequeomomentodaaquisiçãoporacessãoéodaverificaçãodo
factorespetivo.Mas,estaexpressãosuscitaduvidas.

Qualéentãoomomento,aqueserefereaal.d)doart.º1317?

De acordo com o Supremo Tribunal de Justiça o momento de aquisição da acessão é “o
momentodaincorporação”,segueaposiçãodoprof.AntunesVarela.

Mas,paraJAVestemomentocorrespondeaopagamentodaindeminizaçãocomaaquisiçãodo
direitorealpelobeneficiáriodaacessão,comoensinaoprof.OliveiraAscensão.

Não há qualquer retroatividade da acessão ao momento da união ou mistura; o pagamento
determinaomomentodaaquisiçãododireitodepropriedadepelobeneficiáriodaacessãoque
exerceodireitopotestativorespetivo.

Somentecomessepagamentoobeneficiáriodaacessãoadquireapropriedadedacoisaunida
oumisturada.

i. Acessãoeautonomiaprivada:
Seoproprietáriodoprédioacordarcomoconstrutoquebeneficiadaacessão,porforça
doart.º1340/3oudoart.º1341.Podeconvencionar.

60

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ResumosExameDireitosReais

(pág.619).

2. Ocupação

a. Noçãolegalerequisitos:
O CC (art.º 1318) limita a ocupação às coisas móveis e as animais nullius. Os imóveis são
insuscetíveisdeocupação.

Ascoisasmóveiseosanimaissãonulliusporquenuncativeramdonoouporque,tendotido,o
proprietáriorenunciouaoseudireito.Nesteultimocaso,éaindanecessárioqueoproprietário
deixedeserpossuidordacoisa,peloabandono,poisaocupaçãoprocessasepelaapreensão
materialdacoisa.

Osrequisitosapresentadosnoart.º1318parahaverocupaçãosão:

1) Queacoisamóvelouanimalsejanullius;
2) Aapreensãomaterialdacoisaouanimal.

1) Queacoisamóvelouanimalsejanullius:

Requersequeacoisanãotenhadono,sejanullius,porquenuncafoiatribuídaaninguémpelo
ordenamentoouporqueapropriedadeseextinguiusemquehajaconstituídonovodireitoa
favordeoutrapessoa(p.e.renunciadoanteriorproprietário).

2) Apreensãomaterialdacoisaouanimal:

Aocupaçãotemsubjacenteumatodeapossamento,quegeraigualmenteaconstituiçãoda
possepeloocupantesobreacoisaouanimal(1263º/a).Comoapossamentooagentenãose
limita a adquirir a posse, mas também adquire a propriedade. Este é o efeito especifico da
ocupação(1316ºe1318º).

Uma vez que a ocupação se processa através de um apossamento, a regra da capacidade a
entenderéaqueconstadoart.º1266.Qualquerpessoa,capazdeexercícioounão,podeocupar
coisasmóveiseanimaisnullius.

Nadaimpedequeaapreensãomaterialsejalevadaacaboporváriaspessoasetambémpor
pessoascoletivas(1252º/1).

b. Casosespeciais:
Pág.622a624.

c. Eficáciadaocupação:

61

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Aocupaçãoconstituiumfactoaquisitivododireitodepropriedade(1316ºe1317º/d).Edóestes
direitopodeseradquiridoatravésdela.Quemseapossadeumacoisaouanimalsemdonoé
seuproprietário.

Odireitodepropriedadequeseconstituicomaocupaçãoéumdireitonovo,mesmonocasode
coisaouanimalabandonado.

d. Momentodaaquisiçãodapropriedade:

Naocupaçãoomomentodaaquisiçãodapropriedadeéaapreensãomaterialdacoisaouanimal
nullius. A constituição da propriedade por ocupação ocorre no momento em que o agente
concluioapossamentodacoisaouanimalnullius.

3. Oachamento
Operarelativamenteacoisasmóveisouanimaisperdidos,portantocomdono.Englobatambém
coisasouanimaisescondidos.

Porinterpretaçãoextensivadoart.º1323/1aplicaseigualmenteàscoisasescondidasquesejam
encontradasporalguémenãopossamserqualificadascomotesourosnosentidodoart.º1324.

O efeito aquisitivo do achamento (constituição da propriedade) ocorre apenas se forem
cumpridaspeloachadorasformalidadesestabelecidasnoart.º1323/1eaindadecorridooprazo
fixadononº2domesmoartigo(umano).

Assim, o apossamento da coisa perdida ou escondida não tem um efeito automático de
aquisiçãodepropriedade.

Naverdade,doart.º1323resultaqueoachadordeve:

 Restituir o achado ao proprietário ou avisalo de que a sua coisa ou animal foi
encontrado,sesouberquemeleé;
 Anunciaroachado,tendoemcontaovalordacoisaouanimal,ouavisarasautoridades,
deacordocomosusosdaterraseoshouver,senãosouberqueméoproprietário.

Avisandooproprietário,feitooanunciooucomunicadoàsautoridades,oachadoradquirea
propriedade da coisa ou animal perdido ou escondido se o proprietário não reclamar a sua
devoluçãonoprazodeumano(1323º/2).

Aleiportuguesaaindaatribuiaoachadorodireitodeindeminizaçãonoscasosdoart.º1323/3.

Porultimo,aleiestabeleceumregimefavorávelparaoachadoremmatériaderesponsabilidade
civilpelaperdaoudeterioraçãodacoisa,determinandoqueessaresponsabilidadeexisteapenas
emcasodedoloouculpagraveenãoquandoexistaapenasmeranegligencia.

(salteipág.627a629).

III. APROPRIEDADEHORIZONTAL

62

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1. Otipolegaldepropriedadehorizontal

Asujeiçãodeumedifícioaoregimedapropriedadehorizontaltornapossívelquecadaumadas
fraçõesemquesedecompõemjuridicamenteomesmosejaobjetodeumaafetaçãojurídica
diferenciada das demais. Deixa de haver uma propriedade sobre todo o edifício e passam a
coexistirváriaspropriedadessobrecadaumadasfraçõesemqueoedifíciofoirepartido.

Aconstituiçãodapropriedadehorizontalnãoseesgotacomadivisãodoedifícioporfraçõesou,
dito por outras palavras, as frações autónomas não são o único objeto a considerar na
propriedadehorizontal.

Paraalémdasfraçõesautónomas,subsisteoproblemadaspartescomuns.

Oart.º1421/1estabeleceaspartesdoedifícioqueseconsideramimperativamentecomuns,ou
seja, cuja natureza comum não pode ser afastada do titulo constitutivo. O nº2 do mesmo
preceitoafirmaqueodireitodepropriedadehorizontalestendesesimultaneamenteàfração
autónomaeàspartescomuns.

Oconteúdotípicododireitodepropriedadehorizontalexprimeestaduplicidade.

No que toca à fração autónoma, o conteúdo do condómino tem a mesma feição do da
propriedade: o conteúdo positivo do tipo deste direito (1305º), que se aplica igualmente à
propriedadehorizontal.

Porconseguinte,ocondóminopodeusarefruirafraçãoeaspartescomunsdoedifício,assim
comodispordoseudireito.

O conteúdo do direito do condómino relativamente às partes comuns não está sujeito à
aplicaçãodiretadoregimedacompropriedade.Istoporquealeiprevêumregimeespecifico
paraacompropriedadedaspartescomuns,queestáespalhadonosart.º1423e1420ess.

Porém, em tudo o que não contrarie o regime da propriedade horizontal, pode aplicarse
subsidariamenteoregimedacompropriedade.

Em suma: o direito de propriedade horizontal é o direito do condómino sobre o edifício
constituído nesse regime. Dizer que se trata apenas de um direito sobre a fração autónoma
representaignoraraextensãododireitoàspartescomunsdoedifício.Poroutrolado,rejeitamos
atesedaexistênciadedoisdireitos(àfraçãoautónomaeàspartescomuns);existeapenasum
único direito: o direito de propriedade horizontal. O conteúdo desse direito exprime uma
duplicidadedoseuobjetoeoregimejurídicodecadapartedomesmoseencontrasujeito.

2. Adelimitaçãonegativadotipodepropriedadehorizontal
A delimitação negativa do direito de propriedade horizontal é a mesma do direito de
propriedade(1422º).

Mas, ainda assim à uma especificidade que conformam o conteúdo negativa deste mesmo
direito,estãopresentesnoart.º1422/2(irveroart.º).

Outrosdeveresespecíficossurgemdispersospeloregimejurídicodapropriedadehorizontal.

63

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ResumosExameDireitosReais

3. Adualidadedoobjetodapropriedadehorizontal
Podemosdizerqueoobjetodapropriedadehorizontalsecompõenasfraçõesautónomasenas
partescomuns.

Aspartescomunspodemvariarconsoanteotituloconstitutivodapropriedadehorizontal.Essa
variação respeita apenas às partes supletivamente comuns, não obstante disposição em
contráriodotituloconstitutivo.

Aspartesimperativamentecomunssãoasquesurgemenumeradasnoart.º1421/1.Seotitulo
constitutivoespecificaquealgumadelasintegraumafraçãoautónoma,eleénulo,porviolação
deumanormainjuntiva(280º/1e294º).

Aspartesdoedifícioindicadasnoart.º1241/2presumemseapenascomuns.Queristodizer
quenotituloconstitutivodapropriedadehorizontalpodeserdeterminadoquefazempartede
umadadafraçãoautónomaouqueconstituemmesmoumafraçãoautónoma.

Algumasdaspartesdoedifícioquealeiconsideraimperativamentecomunspodemserafetas
aousoexclusivodeumcondómino(1421º/3).

4. Requisitoscivisdeconstituiçãodapropriedadehorizontal.Otítuloconstitutivo
Osrequisitossãoosseguintes(1414º):

 Apropriedadehorizontalsópoderecairsobreumedifício,portanto,sobreumacoisa
imóvelcomdeterminadacaracterísticadeconstrução;
 Osedifícios,porsuavez,têmdeestardivididosemfraçõesautónomas;
 Asfraçõesautónomasdoedifíciotêmdeserindependentesentresi.

Noart.º1415afirmasequeseforemdistintaseisoladasentresicomasaídaprópriaparauma
partecomumdoprédioouparaaviapublica.

No art.º 1416 dispõese que a falta dos requisitos exigidos importa a nulidade do titulo
constitutivo.

Portanto, em caso de nulidade do titulo constitutivo, o edifício ficará sujeito ao regime da
propriedadesingularoudecompropriedadeconsoanteonumerodeadquirentesdas“frações
autónomas”.Sehouverapenasumcondóminooregimeficaempropriedadesingular.

Comosabemos,otituloconstitutivodeumdireitorealérepresentadopelofactoouconjunto
defactosjurídicosdoqualnasceasituaçãojurídica.Aleielencanoart.º1417quaisosfactos
suscetíveisdeconstituiroregimedepropriedadehorizontalsobreoedifíciocomosrequisitos
acimaelencados.

Importa,noentanto,realçarque,paraalémdosrequisitoscivisdapropriedadehorizontal,alei
estabeleceaindarequisitosdevalidadedoprópriotituloconstitutivo(1418º/1):

• Asfraçõesdevemserindividualizadas;
• Ovaloratribuídoacadafraçãodeveserexpressoempercentagemoupermilagemdo
valortotaldoprédio.

A falta de cumprimento destas especificidades do titulo acarreta a nulidade do mesmo
(1418º/3).

64

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ResumosExameDireitosReais

Paraalémdasindicaçõesobrigatóriasdotituloconstitutivo,oart.º1418/2preceituaaindaa
possibilidadedotituloconstitutivoconter:

 Mençãodofimaquesedestinacadafraçãooupartecomum(al.a);
 Regulamentodecondomínio;
 Previsãodecomportamentoarbitralparaaresoluçãodelitígiosemergentesdarelação
decondomínio.

Aindicaçãodofimaquesedestinacadafraçãooupartecomumémeramentesupletiva,mas,
nesse caso, ela tem de bater certo com o prepósito que foi aprovado pela entidade
administradoracompetente,sobpenadenulidadedotituloconstitutivo(1418º/3).

5. Otituloconstitutivoeaposiçãodocondómino
O titulo constitutivo deve especificar a percentagem ou permilagem de cada fração no valor
totaldoprédio,sobpenadenulidade(1418º/3).

Adeterminaçãodapercentagemoupermilagemdafraçãonovalortotaldoprédiorepercute
sediretamentenoexercíciododireitodepropriedadehorizontaldocondómino.

Assim:

 A cada condómino cabe a fruição nos rendimentos gerados pelas partes comuns do
edifíciodeacordocomovalordepercentagemoupermilagemdasuafração;
 As despesas e encargos gerados pelas partes comuns, assim como as despesas de
inovações devem ser suportadas pelos condóminos na proporção do valor das suas
frações(1424º/1e1426º/1);
 O voto do condomínio na assembleia de condóminos aferese pelo valor, em
percentagemoupermilagemdasuafraçãonoconjuntodovalortotaldoedifício.

O titulo constitutivo pode, no entanto, consagrar desvios a estas regras conforme se admite
expressamentenoart.º1424/1.

Emtodoocaso,enotocanteàfruição,otituloconstitutivonãopodeeliminardetodoopoder
de fruição do condómino, sob pena de violação do principio da tipicidade legal e
consequentementeanulidadedotituloconstitutivo(1306º/1).Nãohápropriedadesemfruição
(1305º).

Umavezassenteaposiçãodocondóminonotituloconstitutivo,elasópodeseralteradacoma
modificaçãodeste(1419º/1).

6. Efeitosdaconstituiçãodapropriedadehorizontal
Apenasoproprietáriosingulareoscomproprietários,voluntariamenteouemaçãodedivisão
decoisacomumpodemsubmeteroedifícioaoregimedapropriedadehorizontal.

Emcontrapartidadaconstituiçãodapropriedadehorizontal,odireitodepropriedadesingular
oucompropriedadesobreoimóvelextinguese.Deixadehaverumdireitodepropriedade(ou
vários de compropriedade) sobre todo o imóvel, para passar a haver tantos direitos de
propriedadehorizontalquantasasfraçõesautónomasindividualizadasnotituloconstitutivo.

65

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ResumosExameDireitosReais

7. Asfontesnormativasdotituloconstitutivo

1) Alei(art.º1218);
2) O titulo constitutivo: quer o regulamento quer as deliberações da assembleia devem
estaremconformidadecomeste,sobpenadenulidade;
3) O regulamento: a elaboração deste é obrigatória em edifícios com mais de 4 frações
autónomas(1429ºA/1);
4) Deliberações da assembleia de condóminos: devem somente incidir sobre a
administração das frações comuns do edifício, única matéria sobre a qual têm
competência.Doart.º1433retirasequeestasdevemestaremconformidadecomalei,
regulamentoetituloconstitutivo.


8. Competênciadosórgãosdocondomínio.Administraçãodaspartescomuns
Os órgãos do condomínio são a assembleia de condóminos, onde têm assento todos os
condóminos,eoadministrador,queéeleitoeexoneradopelaassembleia(1435º/1).

Existemunicamenteparaaadministraçãodaspartescomuns(1430º/1).

Nãotêmcompetênciadedeliberaçãoouexecuçãorelativamenteàsfraçõesautónomas.

Esta delimitação de competência dos órgãos de condomínio não se reflete somente nas
deliberações da assembleia, podendo repercutirse igualmente nas normas aprovadas no
regulamentodocondomínio.

Nocasodeviolaçãodeumdeverdevizinhançapeloproprietáriodeumafraçãoautónoma,cabe
aocondóminooucondóminosafetadosreagirnostermosgeraisdodireito,incluindoopedido
judicialdecondenaçãonacessaçãodaatividadeilícitaeindeminizaçãopelosdanossofridos.

9. Deliberaçõesdaassembleiadecondóminos
(pág.638a640)


10.Ovalorjurídicodasdeliberações
Asdeliberaçõesdaassembleiacontráriasàleiouaoregulamentoanteriormenteaprovadassão
anuláveisarequerimentodequalquercondóminoquenãoastenhaaprovado,dispõeoart.º
1433/1.

Estepreceitotemdeserinterpretadocomcuidado.

Esteart.ºabrangeapenasasdeliberaçõestomadassobrematériasparaasquaisaassembleia
temcompetência,ouseja,aadministraçãodaspartescomuns(1430º/1).Qualquerdeliberação
tomada fora do âmbito da competência da assembleia é juridicamente nula e não apenas
anulável.Ocondóminoafetadonãotem,pois,delhedaroseucumprimento,umavezqueela
nãoovincula.

66

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ResumosExameDireitosReais

Aimpugnaçãodasdeliberaçõesanuláveissegueatramitaçãoprevistanoart.º1433/2e3.

(salteidapág.641a645)

CAPÍTULOXXUSUFRUTO


I. OTIPOLEGALDOUSUFRUTO.DELIMITAÇÃOPOSITIVA
Oart.º1439dánosadefiniçãodousufruto.

Oaproveitamentocompreendidonotipolegaldeusufrutoabrange,assim,desdelogo:

• Ousoefruiçãodacoisa;
• Atransformaçãodacoisa,dentrodoslimitesnegativosdousufruto;
• Opoderdereivindicaracoisa.

Ousufrutoreservaparaousufrutuárioatotalidadedafruição,englobandoosfrutosnaturaise
civis. Porém, os créditos produzidos pela coisa que não sejam de qualificar como frutos
pertencemaoproprietário,salvoseoutracoisaresultardotituloconstitutivodousufruto.

Aadministraçãoordináriadacoisacabeaousufrutuárioenquantoduraroseudireito(1446º).
Asdespesascomaadministraçãoestãoacargodousufrutuário(1472º/1).

Ousufrutuáriotambémpodetransformaracoisa,emboraestásujeitoaoslimitesdorespeito
pelaformaousubstanciadacoisa.Comefeito,aleipermitearealizaçãodebenfeitoriasuteise
voluptuárias(1450º/1).

Oart.º1439ºnãomencionaadisposiçãododireito,masoart.º1444confereaousufrutuário
poderesealienareoneraroseudireito.

Opoderdedisposiçãonãopertenceaotipolegaldeusufruto.Podehaverusufrutoenãohaver
poder de disposição, porque a lei o proíbe ou porque o titulo constitutivo afasta devido à
vontadedaspartesapossibilidadedetodaequalquercedênciadogozodousufrutuário,sejaa
tituloobrigacionalsejaatítuloreal.

Quandootituloconstitutivosejaomissoealeinãoprevejaqualquerlimitação/proibição,o
usufrutuário pode livremente transmitir o usufruto a terceiro, constituir direitos pessoais de
gozoeoneraroseudireitocomoutrosdireitosreaisdegozooudegarantia(1444º).

Adisposiçãodousufrutofica,noentanto,sujeitaàlimitaçãoprovenientedoprazodeduração
dodireito.Oart.º1460afirmaquevaleaconstituiçãodequalquerdireitopelousufrutuário,seja
qualforanatureza(obrigacionalououtra).Nenhumdireitoconstituídopelousufrutuárioafavor
deterceiropodeterumaduraçãosuperioraousufruto,setalacontecer,ocontratoseránulo,
semprejuízodapossibilidadedereduçãonegocial(292º)paraoprazododireitodeusufruto.

Assim, os direitos constituídos pelo usufrutuário a favor de terceiro caducam no final do
usufruto.

67

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ResumosExameDireitosReais

O tipo legal do usufruto compreende, assim, o gozo da coisa, todo o uso, fruição e ainda a
transformaçãoquenãoatinjaoslimitesnegativosdorespeitopelaformaesubstanciadacoisa.

Assim,ousufrutuáriotemogozoplenodacoisa(1439º).Queristodizer,queenquantoduraro
proprietárioficainibidodeagozar.

Falaseentãoemnuapropriedadeouemnuproprietário.Onuproprietárioestáimpedidodea
gozaracoisaenquantodurarousufruto,restalheopoderdedisposiçãoeoaproveitamento
residualeoscréditosquenãoconstituamfrutos.

Porisso,aconcorrênciadapropriedaderelativamenteaousufrutocorrespondeaumaoneração
dodireitodepropriedade,resolvidaafavordodireitorealmenor.

Teremos agora de analisar a possibilidade de as partes, no titulo constitutivo, restringirem o
exercíciodealgunsdospoderesrelativosaogozoouaté,nolimite,suprimilo?

JAVdiscordaqueistosepossafazer.Oargumentoextraídodoart.º1445,segundooqual,o
usufrutoseriareguladonotituloconstitutivotemdeserarticuladocomatipicidadelegaldos
direitosreais.Aconformaçãolivredoconteúdodeumdireitorealcontendecomonumerus
clausus,permitindoacriaçãodedireitosreaiscomoaproveitamentopretendidopelaspartes.

Ora,oprincipiodatipicidadenãosebastacomameraobservanmciadonumerusjúrisdodireito
real,mascomorespeitopeloconteúdotípicoinjuntivododireito.

E pensamos que isso sucede com qualquer diminuição dos poderes o uso, fruição e
transformaçãoque,nãooseliminadodetodo,lhesintroduzimosrestrições.

Oqueficaentãoparaaregulaçãodotituloconstitutivo?Muitacoisa,nãoincluindoasnormas
deconteúdoinjuntivo.

Umultimoaspetoareferirprendesecomaadmissibilidadedeumadelimitaçãoconvencional
doconteúdodousufrutoquetenhameraeficáciaobrigacional.Aquioprincipiodatipicidade
nãofunciona,poisesteapenasrespeitaaoconteúdotípicododireitoreal.

II. OTIPOLEGALDEUSUFRUTO.DELIMITAÇÃONEGATIVA

Oart.º1439mencionaorespeitonãoapenasdasubstanciadacoisa,mastambémdasuaforma.
Eistointroduzumsentidocomplementarqueimportaesclarecer.

Paraalémdapreservaçãodaessênciadacoisa,sempreseentendeuqueousufrutuáriodevia
igualmente manter o estado económico da coisa como o proprietário havia definido. Isto
constituiumdeverdousufrutuário.

Comefeito,dispõesenospreceitosdosart.º1446e1450/1queusufrutuárioestáobrigadoa
respeitarodestinoeconómicodacoisa(1446º)eanãoalterara“suaformaesubstancia,nem
oseudestinoeconómico”(1450º/1).

Questionase se o respeito pelo destino económico da coisa tem caracter supletivo ou
imperativo e sobre a necessária articulação com o limite de respeito da forma e substancia
contidonoart.º1439.

68

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Paraoprof.MenezesCordeiroestespreceitostêmcaractersupletivo.

De acordo com JAV, os art.º 1446 a 1467 não comportam apenas normas supletivas, mas
tambémimperativas.

Afirmasequeosart.º1446e1450reiteramoslimitesnegativostípicosdousufruto(orespeito
pelaformaesubstanciadacoisa),coartandoaautonomiaprivadaquandoestaospõeemcausa.

Assim, no art.º 1446ª lei portuguesa sujeita ao uso, fruição e a administração da coisa a um
critério de diligencia: o bom pai de família. Apenas o critério é supletivo e as partes podem
consagrarumoutroqueentendammaisadequadoparaoefeito.Senãoofizerem,éobompai
defamíliaquevale.

Porém,sejaqualforocritérioquefixem,oexercíciodequalquerumdestespoderesnãopode
conduziraumaalteraçãoeconómicadodestinodacoisa.

Na economia do art.º 1446 a supletividade respeita unicamente ao critério do uso, fruição e
administraçãodacoisaenãoàpartefinal,aqualéumelementoconstitutivodotipolegaldo
usufruto (o respeito pela forma e destinação económica da coisa), tem assim natureza
imperativa,estandoforadodomíniodaautonomiaprivadadaspartes.

Noart.º1450/1estáemcausaopoderdetransformaçãoeéestequepodejustamentepôrem
causaasubsistênciadacoisa,oquenãosucedequandooqueestáemcausaémeramenteo
uso,fruiçãoeadministraçãodacoisa.

Aformuladoart.º1450/1temumsentidoadicional,queéanecessidadedeassegurarqueo
usufrutonãopode,emqualquermomento,colocaremcausaasubsistênciadacoisaouasua
preservação(1439º).

Querdizer,aspartespodemcolocarnotituloconstitutivoregularomododousufrutuáriolevar
a cabo benfeitorias que lhe são permitidas, mas a transformação não podem, em momento
algum,colocaremcausaasubsistênciadacoisacomoelaéeodestinoeconómicoexistenteà
datadaconstituiçãodousufruto.

Osart.º1446e1450ºapenasreiteramproibiçõesgeraisqueencerramoslimitesnegativosdo
usufrutoequeconstamdoart.º1439.

Odestinoeconómicodacoisaouasuaformanocontextodosentidodoart.º1439afereseà
datadaconstituiçãodousufruto,ouseja,partesedofimeconómicoqueoproprietáriodeuà
coisaequeexistianomomentodaconstituiçãodousufruto(critériosubjetivo).

Oproprietáriopodeautorizarposteriormenteoutrodestinoeconómicoparaacoisa?

DeacordocomJAVnãopode,poisiriaimplicarsempreumaalteraçãodotipolegaldeusufruto
e,nessamedidanãopodeseradmitidopelaleiportuguesa(1306/1–númerosclausus).


III. ADURAÇÃODOUSUFRUTOCOMOELEMENTODOTIPOLEGAL
Atemporalidadedousufrutorepresenta,destemodo,umelementodotipolegaldestedireito
(conteúdo injuntivo típico) que não pode ser afastado pelas partes, sob pena de violação do
principiodatipicidade(1306º).

Nousufrutoconstituídoafavordepessoasingularaspartestêmduasalternativas:

69

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ResumosExameDireitosReais

1) Constituirousufrutopelotempodevidadousufrutuário(usufrutovitalício);
2) Fixaroutrotermo;
3) Se não estabelecerem nenhum prazo, e na falta de indicação em contrário, deve
entendersequeoprazode30anosfuncionacomoprazosupletivo.

Seotitularorigináriododireitodeusufrutoporumapessoacoletiva,oart.º1443estabelece
queaduraçãodousufrutonãopodeexcederos30anos.


IV. OOBJETODOUSUFRUTO
Segundooart.º1439oobjetodousufrutopodeserumacoisaouumdireitoalheio.Acoisa
objetodousufrutopodesermóveleimóveleésempreumacoisacorpórea.

Adoutrinavaleparaquaisqueroutrosdireitosquepermitamoaproveitamentodeoutrascoisas
aoproprietáriodoprédioobjetodousufruto.

Doart.º1439parecedecorrerqueousufrutopodeterobjetodireitos(usufrutodecréditos,
usufrutodepenhor,etc.).

O JAV rejeita que haja direitos sobre direitos e que estes possam ser objeto de usufruto. O
usufrutosópoderáreferirseàcoisacorpóreaquesejaobjetododireito“usufrutuído”,nãoao
própriodireito.

V. OQUASEUSUFRUTO
O usufrutuário de coisas consumíveis adquiria a propriedade das coisas consumíveis e podia
consumilas,emsentidoprópriooujurídico,devendorestituiroutrastantascoisasemgéneroe
qualidade.

Ao usufruto sobre coisas consumíveis foi dada a designação de quase usufruto. A ligação ao
regime do usufruto é, todavia, circunstancial. O regime tem uma maior proximidade com o
regimedomútuo.

Estápresentenosart.º1451e1452º.


VI. OUSUFRUTOSIMULTANEOEOUSUFRUTOSUCESSIVO
Aleiportuguesadenominaosnoart.º1441.

Ousufrutosimultâneo:éaformadecomunhãodousufrutoeencontrasesujeitoaoregimeda
comunhão de direitos reais, que é o da compropriedade, coma as necessárias adaptações
(1404º).

Ousufrutosucessivo:designaumusufrutoconstituídoafavordeváriaspessoas,emque,na
ordemdispostanotituloconstitutivo,cadaumadelasvaisendoinvestidanodireitodeusufruto
logoqueousufrutodoanteriorusufrutuárioseextinga.

70

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ResumosExameDireitosReais

O usufruto simultâneo e o usufruto sucessivo apenas se constituem se todas as pessoas
existiremaotempoemqueoprimeirousufrutosetorneeficaz.

VII. OBRIGAÇÕESDOUSUFRUTUÁRIO
Asobrigaçõesdousufrutuárioconstamdosart.º1468a1475.

Nesse regime faltam, porém, duas obrigações principais do usufrutuário que respeitam à
delimitaçãonegativadotipolegaldousufruto.Sãoestas:

 Aobrigaçãoderespeitarasubstanciadacoisa(1439º+1450º);
 A obrigação de respeitar a forma e o destino económico da coisa determinado pelo
proprietário(1439º+1446º).

Comodissemos,ousufrutotemporobjetocoisasnãoconsumíveis,nãopodendoousufrutuário
destruiroudeterioraracoisa.

Ambasasobrigaçõesformamoconteúdonegativoenãoestãonadisponibilidadedaspartes,
sobpenadeviolaçãodoprincipiodatipicidade.

Aviolaçãoilícitaeculposadequalquerdestasobrigaçõesrepresentaaviolaçãododireitode
nuapropriedadeeconfereaoproprietárioodireitoaserindemnizadopelosdanossofridos,nos
termosgeraisdaresponsabilidadecivilextracontratual.

Paracomeçar,realçamosqueaameaçaouconsumaçãodedeterioraçãoouperdadacoisa,bem
comoaalteraçãododestinoeconómicoporseratuaçãovoluntáriadousufrutuário,constituem
umextravasardodireitodeusufrutoparaalémdosseuslimitespositivos.

Nestescasos,oproprietáriopode,deimediato,reivindicaracoisa,estandonaturalmenteaseu
disporosmeiosdeprocedimentoscautelares.

Opoderdereivindicaracoisaemcasodeviolaçãodequalquerdestasobrigaçõesnãosignifica
forçosamenteaextinçãodousufruto.Nocasodomauusodacoisaobjetodestedireito,oart.º
1482prevêopoderdousufrutuárioexigiraentregadacoisa,semquetalsignifiqueaextinção
dousufruto.Tambémemcasodeviolaçãodequalquerdasduasobrigaçõesreferidassepoderia
sustentaridênticasolução.

Estamosemcrerqueaextinçãodousufrutonassituaçõesmaisgravesdaviolaçãodeobrigações
derespeitodaformaesubstanciadacoisaseimpõepelaquebradaconfiançaquetemdeexistir
entreousufrutuárioeoproprietárioquantoaorespeitododireitodeste.

Sustentamosporisso,quenassituaçõesreferidas,deviolaçãogravedasobrigaçõesderespeito
da forma (económica) e substancia da coisa, o proprietário possa requerer a extinção do
usufruto.

Paraalémdasobrigaçõesreferidas,ousufrutuárioestásujeitoaoutrasobrigações,taiscomo:

• Relacionarascoisas;
• Prestarcaução;
• Administraracoisa;
• Suportarosencargosedespesascomacoisadeterminadospelalei;
• Conservaçãoordináriadacoisa;

71

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ResumosExameDireitosReais

• Informaçãodonuproprietário;
• Entregadacoisa.

Estasobrigaçõesencontramsenosart.º1468,1470º,1474º,1472º,1473º,1475º,1483º(irler
osartigos).

VIII. DIREITOSDONUPROPRIETÁRIO
Deummodogeral,oproprietárioconservaoexercíciodospoderesnãoafetadospeloconteúdo
dousufruto,dosquaissedestacaopoderdedisposição.

Podemoselencaralgunsdireitos:

1) Possibilidade de introduzir melhoramentos na coisa (1471º). Estas são obras de
conservação da coisa, embora a cargo do proprietário. Têm um limite: ele não pode
introduziradesvalorizaçãodousufruto(1471º/1fim).Seissoacontecerousufrutuário
poderáoporseaoexercíciodopoderdetransformaçãodoproprietário,inviabilizando
asobrasoumelhoramentospretendidosporeste.

2) Poder de constituir servidões prediais: apenas se não houver desvalorização do
usufruto (1460º/2). No que toca às servidões prediais ativas, e desde que não
repercutamnumadesvalorizaçãodousufruto,oproprietáriomantémointegropoder
dedisposição(1449º).

A realização de inovações na coisa pelo proprietário (1471º) ou de obras extraordinárias de
conservação(1473º)poderedundarnaretomadealgumpoderdefruiçãopelonuproprietário.

Oart.º1471/2aplicaseigualmentequandooproprietáriolevaacaboobrasdeconservação
extraordinárias(1473º/3).

Isto mostra que a propriedade onerada com o usufruto pode ainda render frutos ao nu
proprietário,quandoporforçadeintervençãodoproprietárionarealizaçãodeinovaçõesou
obrasextraordináriasdeinovação,acoisaaumenteorendimentoliquido.Afruiçãolimitase
nestescasosaoaumentodorendimentoliquidodacoisaobjetodousufruto.

IX. OBRIGAÇÕESDONUPROPRIETÁRIO
Oprincipaldeveréodeverderespeitodousufrutoeapossedousufrutuário.Senãorespeitar
odireitodousufrutuário,oproprietáriosujeitaseàresponsabilidadecivilpelosdanoscausados,
podendonaturalmenteserdemandadopelousufrutuárionumaaçãodereivindicação(1311º)
ouemaçãopossessóriadeprevenção,manutençãoourestituição).

Paraalémdesta,háaindaoutrasobrigações:

1) Odeverderealizarobrasextraordináriasdeconservaçãodacoisa(1473º);
2) O dever de indemnizar o usufrutuário pela realização de obras extraordinárias de
conservaçãodacoisaquenãocabemaousufrutuáriosuportar(1473º/2);
3) Odeverdeindemnizarousufrutuárioporbenfeitoriasfeitasnacoisa(1450º/2).

72

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X. AEXTINÇÃODOUSUFRUTOPELAMORTEDOUSUFRUTUÁRIO
Ousufrutovitalícioextinguesecomamortedousufrutuário(1476º/1al.a).Noentanto,deve
sedistinguirconsoanteamorteafetaousufrutuáriooriginalouotransmissáriodousufruto.

Seousufrutofoitransmitidoaterceiroeousufrutuáriooriginalcontinuavivo,ousufrutoentra
na sucessão do usufrutuário falecido, vindo a extinguirse apenas quando o primeiro
usufrutuáriofalecer.

XI. OMAUUSODOUSUFRUTUÁRIO
Aleiportuguesadispõeque“ousufrutonãoseextingueaindaqueousufrutuáriofaçaummau
usodacoisausufruída”.

Doâmbitodomauuso,devemexcluirseoscasosdeviolaçãodoslimitesnegativosdousufruto.
Mais do que o mau uso tratase aí de um ataque direito a direito do proprietário, um
comportamentoqueexcedeaatribuiçãodacoisafeitamedianteodireitodeusufruto.Daíque
noscasosdoart.º1482nãorecebaaplicação,podendoinclusivamenteocorreraextinçãodo
usufruto,seagravidadedocomportamentodousufrutuárioojustificar.

Com a tipificação de grupos de casos onde se regista um mau uso da coisa por parte do
usufrutuário. Parecenos desde já, poderem apontarse dois grandes grupos de casos,
consoante:

1) Oexercíciododireito,oufaltadele,porpartedousufrutuárioimpliqueumadiminuição
dovalordacoisa;
2) Daatuaçãodousufrutuárioresulteadeterioraçãodacoisa,desdequeestanãopossa
serqualificadacomoalteraçãodeformaousubstânciadacoisa.

(salteipág.670a672).

CAPÍTULOXI–OSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃO

I. AAUTONOMIADOSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃOFACEAO
USUFRUTO
Osdireitosdeusoehabitaçãosãotiposdedireitosreais(degozo)diversosdosrestantes,não
sereconduzindo,porconseguinte,aousufrutonavestedeumsubtipodeste.

II. OTIPOLEGALDODIREITODEUSOEDODIREITODE
HABITAÇÃO.DELIMITAÇÃOPOSITIVA

73

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1) Odireitodeuso:
Odireitodeusotemevidentementeumconteúdodeaproveitamentoqueintegrapoderesde
gozodacoisa.Onúcleofundamentaldessegozoéconstituídopordoispoderes:

• Opoderdeusodacoisa;
• Opoderdefruiçãodacoisanamedidadasnecessidadesdotitularedasuafamília.

A estes dois poderes (uso e fruição) acrescem um limitado (mas existente) o poder de
transformação,umpoderderenunciaeumpoderdereivindicação.

O poder de usar a coisa não está confinado a um fim especifico, como sucede no direito de
habitação.Ousuáriopodeusaracoisaparaqualquerfim,nomeadamente,nocontextodeuma
atividadeeconómica.

Ousadacoisaéumusoexclusivo:oproprietárioestáinibidodeausar,cabendoexclusivamente
aousuárioservirsedela.

Olimitenegativoconstantedapartefinaldoart.º1484/1referesesomenteàfruiçãoenãoao
uso.

Otipolegaldodireitodeusotambémincluiafruiçãodacoisa.

Ousuárionãotemafruiçãodacoisaplena,masapenaslimitadaàsnecessidadesdousuárioe
dasuafamília,oquepermiteconsiderarafruiçãodoproprietárioparaosfrutosrestantes.

Quanto ao poder de transformação, julgamos que não pode considerarse completamente
afastado.Oart.º1490determinaaaplicaçãodasregrasdoart.º1450,comoslimitesnegativos
aípresentes,sepodeigualmenteconsideraraplicávelaodireitodeuso,levandoaincluiropoder
detransformaçãonoconteúdodogozodousuário,apardonúcleofundamentalconstituído
pelospoderesdeusoefruição.


2) Odireitodehabitação:
Odireitorealdehabitaçãomoldaseemrelaçãoaoobjeto(casasdemoradadefamília)eaofim
do gozo: a habitação do morador usuário. O seu conteúdo típico, é no entanto o mesmo do
direitodeuso,incluindoospoderesdeusoefruição.

Quanto ao uso estamos convictos que ele se reveste de exclusividade, mesmo que as
necessidadesdomoradorusuáriooudasuafamíliaselimitemaumapartedela.

Alimitaçãopelasnecessidadesdotitularoudasuafamílialigamseunicamenteaopoderde
fruiçãoenãoaopoderdeusodacoisa.

Édesupor,noentanto,quetendoemcontaoescopodousoconsentido(habitação),limitação
doobjeto(casademoradadefamília)eaproibiçãodecessãodegozoaterceiros(1488º),tanto
ousocomoafruiçãotenhamumaextensãobemmaismodestadoqueaquelequeofereceo
direitodeuso.

3) Aplicaseaosdois:

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O poder de disposição não entrega o conteúdo típico dos direitos de uso e habitação. A
transmissãoeoneraçãododireitoencontramseexpressamenteproibidaspeloart.º1488.

Restaadestruiçãodacoisaconsumível,noscasosdequaseuso,eopoderderenunciaaodireito,
quesurgesalvaguardadapelaaplicaçãodaal.c)doart.º1476/1(1490º).

III. OTIPOLEGALDODIREITODEUSOEDODIREITODEHABITAÇÃO.
DELIMITAÇÃONEGATIVA
Osdireitosdeusoehabitaçãotêmdoislimitesnegativosimplícitoseumexplicito.

Oslimitesimplícitossão(osmesmosdousufruto):

 Respeitopelaforma(destinoeconómico);
 Respeitopelasubstanciadacoisa.

Olimiteexplicito:

• Está previsto no art.º 1484/1: a fruição consentida do usufrutuário medese pelas
necessidadesdeleedasuafamília.Paraalémdamedidadenecessidadedotitulareda
suafamília,osfrutosdacoisadadaemusoouemhabitaçãopertencemaoproprietário.


IV. OOBJETODOSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃO
Tantoascoisasmóveiscomoimóveispodemserobjetodeumdireitodeuso.Aoinvés,odireito
de habitação apenas pode ter como objeto coisas imóveis, e dentro dessas coisas, casa (de
habitação).

Umproblemaquesetemcolocadoquantoaodireitodeusoéodesaberseelepodeterpor
objeto coisas consumíveis. A ser afirmativa a resposta teríamos um quase uso, de modo
semelhanteaoquaseusufruto.

Odenominadoconsumojurídicoestávedadoaousuário,restandolheoconsumomaterialda
coisa.Istodeixadeforaousosobreodinheiro.

Porquanto,comoquaseusootitularobtémapropriedadedascoisasobjetododireito,ficando
com o dever de restituir o seu valor, se houverem sido estimadas, ou a entregar outras do
mesmogénero,qualidadeequantidade(1451º+1490º).

Nadaimpedequeodireitodeusotenhaporobjetoumapartedecoisaoucoisaemcomunhão.

V. ATITLARIDADEDOSDIREITOSDEUSOEHABITAÇÃO
Relativamenteaodireitodehabitação,nãorestadúvidasqueapenaspessoassingularespodem
sertitularesdele.

Quantoaodireitodeuso,discutesesepessoasjurídicaspodemsertitularesdele.Arespostaé
negativa,somentepodempessoassingulares.

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VI. AS VICISSITUDES DOS DIREITOS DE USO E HABITAÇÃO.


APLICAÇÃODOREGIMEDOUSUFRUTO

1. Constituição
Impossibilidadelegaldasuaconstituiçãoporviadeusucapião(1293º/b).oJAVdiscorda,mas
nãodizporque.

2. Proibiçãodetransmissãoeoneração
Nemousonemodireitodehabitaçãopermitemaoseutitulartransmitiroscorrespondentes
direitos(1488º).Sejaatitulogratuitosejaatitulooneroso.

Casoviolemestaproibição,onegóciojurídicoseránulo.Ovícioéduplo:faltadelegitimidade
dodisponente(892ºe939ºe956º)eviolaçãodanormalegalimperativa(294º).

3. Aplicaçãodasnormasdeusufrutoaodireitodeusoehabitação
Art.º1490,comanecessáriaponderaçãocomoconteúdodestesdireitosespecíficos.


CAPÍTULOXII–DIREITODESUPERFÍCIE

I. OTIPOLEGALDODIREITODESUPERFICIE.DELIMITAÇÃO
POSITIVA
Outorgaoconteúdotípicodeaproveitamentodeumacoisa,quenestecasoterádesersempre
umimóvel.

Osuperficiárionãotemoconteúdonormaldogozo,nomeadamenteousoeafruiçãodoimóvel.
Estespertencemaoproprietáriodosolo.

Emcontrapartida,ospoderestípicosdestesão:

 Opoderdeconstruiroufazeraplantaçãodoprédio(poderdetransformação);
 Opoderdemanteraobraouplantaçãosobreousobsoloalheioduranteotempode
duraçãododireito;
 Opoderdedisposição.

Opoderdetransformaçãointegrasempreoconteúdotípicododireitodesuperfície.

Oart.º1534proclamaatransmissibilidadedodireitodesuperfície.Tratandosedeumdireito
realmenorodireitodesuperfíciepodeseronerado(p.e.hipoteca)–art.º1534+688º.

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Oregimedasuperfícievisaimpediraaplicaçãodoregimedaacessão.

O direito de superfície enquanto direito real não requer que a obra ou plantação tenha
existência atual. Uma vez constituído, ele onera imediatamente a propriedade do prédio e
confereaosuperficiárioapossibilidadedetutelageral,contraoproprietárioecontraterceiros,
nomeadamenteatravésdeumaaçãodereivindicação.

Tratasedodireitodeconstruiroumanteraobraoufazerplantaçãoemprédioalheio.

O direito de superfície deve manterse separado do direito de propriedade sobra a obra ou
plantação.

Odireitodesuperfícieincidesobreosolo.Háentãodoisdireitosaconsiderar,ambostendoa
mesma como por objeto: a propriedade do solo (proprietário) e o direito de superfície
(superficiário).

Contudo,quandoaobraouplantaçãoexiste,asituaçãojurídicaémaiscomplexa.Aosdireitos
depropriedadeedesuperfíciesobreoprédioacresceagoraumdireitodepropriedadesobrea
obraouplantação,queestánatitularidadedosuperficiário.

Odireitorealdesuperfícietemoconteúdomoldadosobreacoisanaqualrecai.

Representaamaisforteoneraçãoaodireitodepropriedade.

(salteipág.294a296)

II. A CONSTITUIÇAO DA PROPRIEDADE HORIZONTAL EM EDIFICIO


ASSENTEEMSOLOALHEIO
Temsidodiscutidaaquestãodesaberseosuperficiáriopodeconstruirapropriedadehorizontal
sobreedifícioconstruídooumantidoemterrenoalheio.

Aconstituiçãodapropriedadehorizontalinseresenoexercíciododireitodedisposição.

Umavezconstruídaapropriedadehorizontaloscondóminosserãoproprietáriosdasuafração
autónoma, comproprietários nas partes comuns, com exceção do solo, em que serão
comunheirosdodireitodesuperfície.

Diversamente do regime jurídico da propriedade do solo, se a superfície for temporária a
propriedadedasfraçõesserátransferidaparaoproprietáriodosolocomextinçãodasuperfície
(1538º/1).


III. OOBJETODODIREITODESUPERFICIE
Odireitodesuperfícietemsempreporobjetoumacoisaimóvel,sendoessacoisaumterreno.

Destemodo,oobjetododireitodesuperfícienãopodeserconfundidocomaobraouplantação
eventualmente existente no solo (a propriedade desta é do superficiário – juridicamente
individualizadaeautónoma).

Osuperficiáriodetémassimdoisdireitos:

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• Odireitodesuperfície(quetemporobjetoosolo);
• Direitodepropriedade(oimplantematerialouvegetal).

Asuperfícienãopodeserconstituídavalidamenterelativamenteaqualquerobraouplantação:
acoisaaconstruirsobreoterrenodevesersuscetíveldecausarofuncionamentodaacessão.
Osrequisitosdeste,devemestarverificados.


IV. OBRIGAÇÕESDOSUPERFICIÁRIO
Asobrigaçõesdosuperficiárioresultamemregradotituloconstitutivo.

A lei portuguesa ocupase em particular do cânon superficiário (1530º): designa a prestação
anualemdinheiroqueosuperficiárioficaobrigadoapagar,porcertotempoouparasempre.

Comooutrasobrigaçõesdosuperficiáriotemos:

 Aobrigaçãodedarpreferênciaaoproprietáriodosolo,emcasodevendaoudaçãoem
cumprimentododireitodesuperfície(1535º/1);
 Aobrigaçãodeconservaraobraouplantaçãoapósaextinçãodasuperfície,sobpena
deresponsabilidadecivilperanteoproprietário(1538º/3);
 Aobrigaçãodecomunicaraoproprietáriodosoloosatosdeterceiroscapazesdelesar
oseudireito(1475ºporanalogia);
 Aobrigaçãoderestituiroterrenoobjetodasuperfície,bemcomoaobraouplantação,
quandooseudireitoseextinguir.

Nadaimpedequeosuperficiáriofiquevinculadoaconstruiraobraouarealizaraplantação.
Umatalconvenção,porém,apenaspodevalercomeficáciaobrigacional.


V. APOSIÇAOJURIDICAATIVADOPROPRIETÁRIODOSOLO
Oproprietáriodosolotemoconteúdoresidualdeaproveitamentodacoisa,quenãoéafetado
pelaconstituiçãododireitodesuperfície(1305º).

Porém,ousoeafruiçãodoprédiopertencemexclusivamenteaoproprietáriodosolo(1532º).
Porisso,enquantonãoseiniciaraconstruçãoouaplantaçãooproprietáriopodecontinuara
gozaracoisa.Estepodenãosóusalacomofruiladiretamente,comopodeconstituiroutros
direitos a favor de terceiros concedendolhes o gozo. Todavia tais direitos não podem ser
construídoscomumaduraçãosuperioraogozodoproprietáriodosolo,sobpenadenulidade.

Ogozodosubsolomanterseádurantetodootempopeloqualodireitodesuperfícieestiver
constituído, uma vez que a superfície não o afeta. A licitude desse gozo, cessa no entanto,
quando causa danos ao superficiário (1533º). Nesse caso, o proprietário do solo terá de
indemnizarosuperficiário.

Oiniciodaconstruçãoouplantaçãopõefimaogozodoproprietáriorelativamenteàporçãode
terrenoondefoicelebradaasuperfície.

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VI. OBRIGAÇÕES E OUTRAS SITUAÇÕES JURIDICAS DO


PROPRIETÁRIODOSOLO
Oproprietáriodosolo,estádesdelogo,obrigadoafacultarapossedacoisaaosuperficiário,
semprejuízodoquepossatersidoconvencionadonotituloconstitutivoquantoàentregada
coisa.

Osuperficiáriodeveestaratodootempoprontoparadesencadearaconstruçãodaobraou
plantação.

O proprietário do solo encontrase obrigado a não impedir ou a tornar mais dispendiosa a
construçãoouplantaçãodosuperficiário,sobpenaderesponsabilidadecivil.

Aoneraçãoresultantedaconstituiçãododireitodesuperfíciepodenãoseraúnicaquesofreo
direitodepropriedade.Comefeito,prevêseapossibilidadedeconstituiçãodeservidõesafavor
dosuperficiário,demodoaqueestepossagozardaobraouplantação(1529º/1).

Estasservidõespodemsercoercivamenteimpostas,casooproprietáriodosolonãoasconstitua
voluntariamente.

Existepois,umestadodesujeiçãodoproprietáriodosoloàconstituiçãodeservidõesquese
afiguremnecessáriasaogozodaobraouplantação(art.º1529).

O proprietário do solo terá de pagar ao superficiária uma indeminização pela aquisição da
propriedadedaobraouplantaçãoquandoasuperfícieseextinguir(1538º/2).

Asoluçãolegalésupletiva,ouseja,nadaimpedequeaspartesestabeleceremoutracoisa.


VII. ACONSTITUIÇAODODIREITODESUPERFICIEPELAALIENAÇÃO
DOSOLOSEPARADADAOBRAOUDAPLANTAÇÃO
Aconstituiçãododireitodesuperfíciepodeserfeitapelosfactoscomeficáciarealquedemos
conta.

Oproprietárioéaúnicapessoalegitimadaaconstituirodireitodesuperfície.Senesteexistejá
aobraouaplantação,aleiconferelheopoderdealienarapropriedadedaobraseparadamente
dapropriedadedosolo(1528º/1).

Aseparaçãodaobraoudaplantaçãodapropriedadedosolodesencadeiaautomaticamentea
constituiçãodeumdireitodesuperfícieafavordoadquirentedoimplante(1528º/1).Otitulo
datransmissãoseparadapropriedadedaobraéassimsuficienteparaoregistodaaquisiçãoda
superfície.

Estahipótesetemcomoobjetoaneutralizaçãodoregimejurídicodaacessão.

VIII. AQUISIÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE SOBRE A OBRA OU


PLANTAÇÃO
Quandoodireitodesuperfícieseconstituiparaaconstruçãodeobraourealizaçãodeplantação,
aúnicacoisaaconsideraréoterreno,simultaneamenteobjetodapropriedadeedasuperfície.

79

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ResumosExameDireitosReais

Seposteriormenteaobravieraserconstruídaouaplantaçãorealizada,eàmedidaqueissofor
feito, nasce uma nova coisa (imóvel), autónoma e individualizada relativamente ao tereno
objetodasuperfícieedapropriedadedosolo.

Sobreanovacoisaincideumdireitodepropriedade(propriedadesuperficiária).Éumdireito
novoadquiridooriginariamentepelotitulardodireitodesuperfície.

IX. DURAÇAODODIREITODESUPERFICIE
Podeserperpétuooutemporário.Sendoperpétuo,elerepresentaumaoneraçãoconstanteda
propriedade,quepode,noentanto,acabar,seocorreralgumfactoextintivo.

Aperpetuidadedasuperfícienãoatornaimuneaosfactosextintivosgeraisdosdireitosreais
(1536º/1).

A lei preceitua expressamente que a propriedade pode ser constituída a termo (1524º), não
estabelecendo,contudo,otempomínimodeduração,ficandoestenainteiradisponibilidade
daspartes.Odecursodomesmoprovocaaextinçãododireito(1536º/c).


X. EXTINÇÃODODIREITODESUPERFICIE.ODESTINODAOBRAOU
PLANTAÇÃO
Aincidênciadeumfactoextintivofazcessarodireitodesuperfície.

O art.º 1538 determina a aplicação da regra superfícies solo cedit. A obra passa a integrar o
prédioeodominussoliadquirearespetivapropriedade.

Opreceitoestendeseatodasashipótesesdeextinçãodasuperfície.

Aaquisiçãodaobraouplantaçãopeloproprietáriodosoloconstituiumefeitoautomáticode
extinçãododireitodesuperfícieenãocarecedenenhumadeclaraçãodosinteressados.

Oart.º1538/1temumanaturezasupletiva.

Casoaspartesnãotenhamafastadoodeverdeindemnizardoart.º1538/2,oproprietáriodo
soloficaobrigadoaindemnizarosuperficiário.


XI. EXTINÇÃODODIREITODESUPERFICIE.OUTROSEFEITOS
Aextinçãododireitodesuperfíciecolocaaquestãododestinodosdireitosreaismenoresque
oneravamapropriedadedosuperficiáriosobreaobraouplantação.

Oregimejurídicodosart.º1539a1541ºdistingueduashipóteses:

1) Odireitodesuperfície,temporário,extinguesenofinaldoprazo(art.º1539e1540):

80

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ResumosExameDireitosReais

Todososdireitosreaismenoresqueoneravamapropriedadedosuperficiário,sejamdireitos
reaisdegozo(usufruto,usoehabitação,servidões)sejamdireitosreaisdegarantiaextinguem
seigualmente(art.º1539/1).

Atransmissãododomíniodaobraouplantaçãoparaoproprietáriodosolo,fazse,assim,de
modoplenoeexclusivo,ouseja,semqualqueroneraçãodapropriedade.

Oart.º1539/2colocaocenáriodosuperficiárioterdireitoareceberalgumaindeminizaçãonos
termosdo1538º/2,dispondo,quenessecaso,ostitularesdosdireitosreaismenorespossam
valer os seus mecanismos de subrogação real, o que pode suceder com a hipoteca e com o
usufruto(1480º/2).

2) Odireitodesuperfície,temporário,extingueseantesofinaldoprazoouextinguese
odireitodesuperfícieperpétuo:

Aleiaquiatendeaosdireitosdaquelesquenãocontavamcomaextinçãodasuperfícieantesdo
finaldoprazo.Determinandoamanutençãodessesdireitoscomoseasuperfícienãohouvesse
extinguidoeoproprietáriodosoloadquiridoapropriedadedaobraouplantação.

Sendoasuperfícietemporária:osdireitosreaisdeterceirosextinguemsenamesmaaofinaldo
prazoprevistoparaaextinçãodasuperfície(1541ºfim)+1542º.

Salteipág.708a711

CAPÍTULOXIII–DIREITODESERVIDÃO
(saltei713à721)


I. OTIPOLEGALDODIREITODESERVIDÃO.ASERVIDÃOCOMO
TIPOABERTO
O art.º 1543 define servidão como o “encargo imposto num prédio em aproveitamento
exclusivodeoutroprédio,pertencenteadonodiferente”.

Arelaçãonãosedáentredoisprédios,processasenaturalmenteentreostitularesdosdireitos
reaissobreeles.

Oart.º1543pareceacolheroprincipioromanoneminiressuaservit.

Parecenos, no entanto, discutível que não possa haver uma servidão entre dois prédios
pertencentesaomesmotitular.

81

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ResumosExameDireitosReais

O direito de servidão encontrase numa relação de dependência ou acessoriedade a outro
direitoreal.Estaacessoriedadevemmuitasvezesaserexplicadaporreferenciaaoprincipioda
inseparabilidadedasservidões(1545º).

Amudançadetitularidadedodireitorealnoprédiodominanteouservientenãoserefletena
existência da servidão e, por conseguinte, tanto o novo proprietário do prédio serviente
continuarácomoseudireitooneradopelaservidão,comooproprietáriodoprédioserviente
beneficiarádela.

Ninguémpodesertitulardeumdireitodeservidãosenãofortitulardeumdireitorealdegozo
sobreumprédioeaextensãolegaldoseudireitopermitabeneficiardaservidão.Porisso,o
direitodeservidãoéacessóriodessedireitorealsobreoprédiodominante.

Aservidãosópodeconstituirsesobreoprédiovizinho.Oart.º1543nadaapontasobreisto,por
isso,temosdeiraosart.º1550,1557ºe1558º.

Deste modo, a fim de se encontrar um conteúdo típico que molda o tipo legal do direito de
servidão,ointerpretetemiraoart.º1544.

Deútilparaaconstruçãodotipolegaldodireitodeservidão,anoçãolegaldoart.º1543contém
trêsnotasdistintas:

• Confinaodireitodeservidãoàsservidõesprediais;
• Limitaasservidõesprediaisàsrelaçõesdevizinhança;
• Admiteaconstituiçãodeservidõessomenteentretitularesnãocoincidentesdedireitos
reaissobreosprédios.

Falta,noentanto,oconteúdodeaproveitamentoqueotiporealpropiciaaotribunal,quese
encontra,comodissemos,noart.º1544.

Segundo este preceito, podem pertencer ao conteúdo das servidões “quaisquer utilidades,
ainda que futuras ou eventuais, suscetíveis de ser gozadas por intermedio do prédio
dominante”.

Direito de servidão reside no aproveitamento de uma utilidade que o prédio serviente seja
suscetívelbeneficiaroprédiodominante.

Este conteúdo sugere um tipo aberto, com múltiplas possibilidades de concretização, tantas
quantasasutilidadesqueumimóvelpossafazerbeneficiaroutroesemquesejanecessárias
queaquelasestejamtodasdefinidasàpartidapelalei.

Autilidadedoprédiodominanteafereseobjetivamente,semconsideraçãopelasnecessidades
puramentesubjetivasdotitularcircunstancialdoprédiodominante.Autilidade,afereseassim,
nomeadamenteseaíéaptaasatisfazeralgumanecessidade.

Nadadistoseprendecomoaumentodovalordoprédiodominante.Autilidadenãopodeassim
seraferidaemfunçãodofactodetrazeroumaisvalorparaoprédiodominante.

Autilidadepodeserconcedidaemfunçãododestinoeconómicodoprédioaoqualesteainda
nãoseencontreafetoequepodeaténemviraestar.

82

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ResumosExameDireitosReais

Autilidadedoconteúdodeservidãotemdeserconcretamentedeterminada.Otipolegalde
servidão consagra um conceito indeterminado que abrange todas as utilidades em abstrato.
Porém, a servidão só será validamente constituída se individualizar a utilidade do prédio
servienteaaproveitarpeloprédiodominante(avista,opasto,apassagem,alenha,etc.).

Oconteúdotípicodaservidãotraduzseassimnopoderoupoderesjurídicosquepermitemao
titulardaservidãofazeroaproveitamentodautilidadeaqueserefereodireito.

Nasservidõesnegativas,oconteúdodaservidãolimitaseaopoderdeexigiraotitulardodireito
realoneradocomaservidãoouaqualquerpessoaononfacereemcausa(nãoconstruir,não
abrirportas,etc.).

Nasservidõespositivasoconteúdotípicodaservidãoenvolveumpatidostitularesdosdireitos
reaissobreoprédioserviente,quetemcomocontrapartidaapossibilidadedeatuaçãosobreo
prédioserviente.

Existemaindaoutrospoderesacessórios,quesãoaquelesquesedestinamatornarpossívelo
exercíciodaservidãoaolongodotempodeduraçãododireito.Estespertencemaoconteúdo
supletivo do direito de servidão, estando a sua existência dependente do que dispuser a
propósitodotituloconstitutivo(1564º+1565).

Opoderdefazerobrasnoprédioservienteéumpoderacessório,casonãosejaafastadopelo
tituloconstitutivo(1566ºe1567º).

Podemosassimdefinirodireitodeservidãocomoodireitodeumtitulardeumdireitorealsobre
umprédioaproveitarumadadautilidadedeoutroprédio.

II. OOBJETODODIREITODESERVIDÃO
Temporobjetooprédioserviente.Recaisobreacoisacujautilidadebeneficiaaqueleprédio.A
coisasobreaqualrecaiaservidãoéoprédioserviente.


III. MODALIDADESDASERVIDÃO
Art.º1547+1548+1460+1362

(salteipág.729a732)


IV. SERVIDÕESCOATIVAS.TIPOSLEGAIS.
Art.º1550+1553º+1551.

V. INDIVISIBILIDADEEINSEPARABILIDADEDASSERVIDÕES
Segundooart.º1545asservidõesnãopodemserseparadasdosprédiosaquepertencem.Sea
utilidadedaservidãoforrepostadaaoutroprédiotaldesencadeiaaconstituiçãodeumanova
servidão,comextinçãodaanterior.

83

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ResumosExameDireitosReais

O principio da inseparabilidade implica a permanência da servidão perante uma hipótese de
divisãodoprédiodominanteouserviente(1546º).Sefordivididooprédiodominante,osnovos
prédiosresultantesdadivisãocontinuamabeneficiarativamentedaservidãoanterior.

Seadivisãoincidirnoprédioserviente,osprédiosqueemergiramdelaficamsujeitosàservidão.

VI. LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA PARA A CONSTITUIÇÃO DO


DIREITODESERVIDÃO
Deacordocomosart.º1460e1448ºalegitimidadeativaparaaconstituiçãodeumaservidão
nãosurgeconfinadaaoproprietáriodoprédioserviente,podendooutrostitularesdedireitos
reaisdegozofazelos,contandoquenãohajaproibiçãolegal.

Háumlimiteaconsiderar:otitulardodireitorealmenorpodevalidamenteconstituirdireitos
deservidãoafavordeterceiros,masnãopodefazeremtermosqueexcedamaduraçãodoseu
direito. De outro modo, a oneração recairia no proprietário que não constituiu o direito de
servidão.

+1575.

Todosostitularesdedireitosreaisdegozo,excetoostitularesdedireitodeservidão,podemser
titularesdodireitodeservidãonotocanteaprédiosvizinhos.

Constituídaaservidão,qualquerumtemodireitogenéricodearespeitar.

VII. TITULARIDADE DA SERVIDÃO E APROVEITAMENTO DAS


UTILIDADESDESTA
Aservidãobeneficiaoprédioenãoapenasotitulardestaquandoexistamoutrosdireitosreais
sobreoprédiodominante.

Art.º1575.


VIII. CONSTITUIÇÃO DA SERVIDÃO POR DESTINAÇÃO DE PAI DE
FAMILIA
(salteipág.737e738)

IX. USUCAPIOLIBERATATIS
Remeteseparaocapitulodosfactosgenéricosextintivosdosdireitosreaisdegozo.

X. EXERCICIODASERVIDÃO

84

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ResumosExameDireitosReais

Art.º1564.Aregulaçãodoexercícioquecontendacomoconteúdotípicoinjuntivododireito
realnãoéadmitida,sobpenadenulidade(1306º).

A regra fundamental do exercício consiste no art.º 1565/2 parte final.  Assim, o direito de
servidão só pode ser exercido nos termos em que traga o menor prejuízo para o prédio
serviente.

XI. EXTINÇÃODASERVIDÃOPORDESNECISSIDADE
Estásujeitaaumfactoextintivoespecifico:desnecessidade.

Nãooperanasservidõesvoluntárias,masapenasparaasservidõesconstituídasporusucapião
(1569º/2)eparaasservidõeslegais,qualquersejaoseutituloconstitutivo(1569º/31ªp.).

Adesnecessidaderepresentaaperdatotaldautilidadedoprédiodominante.Essaperdaavalia
seobjetivamenteemfunçãodasnecessidadesdoprédiodominante.

(salteipág.740a742).


CAPÍTULOXIV–DIREITOÀHABITAÇÃOPERIÓDICA
Pág.743a749











85

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