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Resumos de Patologia Especial

Matérias:
Cárie dentária
Pulpopatias (alterações da polpa dentária)
Periapicopatias (alterações do periápice dentário)
Periodontopatias
Cistos da cavidade oral
Estudo dos tumores benignos e malignos da cavidade bucal
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Periodontopatias

Biologia do periodonto:
A mucosa oral consiste em três zonas:
1. A gengiva e o revestimento do palato duro, denominados de mucosa mastigatória.
2. O dorso da língua, revestido pela mucosa especializada.
3. A mucosa oral que reveste o restante da cavidade oral.

A gengiva é parte da mucosa oral que recobre o processo alveolar dos maxilares e circunda o colo
dos dentes.
Aspectos clínicos: Em um adulto, a gengiva normal recobre o osso alveolar e a raiz dental em um
nível coronal à junção cemento-esmalte. A gengiva é dividida anatomicamente em marginal,
inserida e área interdental.
Gengiva Marginal: a gengiva marginal, ou não inserida, é a porção terminal ou borda da gengiva
ao redor dos dentes em forma de colar. Em torno de 50% dos casos, ela é demarcada da gengiva
inserida adjacente por uma depressão linear rasa, o sulco gengival livre. Normalmente medindo
aproximadamente 1 mm de largura, a gengiva marginal forma a parede de tecido mole do sulco
gengival e pode ser separada da superfície dental com uma sonda periodontal.
Gengiva Inserida: a gengiva inserida é contínua com a gengiva marginal. Ela é firme, resiliente e
fortemente ligada ao periósteo do osso alveolar subjacente. O aspecto vestibular da gengiva
inserida se estende à mucosa alveolar relativamente frouxa e móvel e é demarcada pela junção
mucogengival.
Gengiva Interdental: ocupa a ameia gengival, que é o espaço interproximal abaixo da área de
contato dos dentes. Na região dos dentes anteriores possui formato piramidal (a ponta da papila
está localizada imediatamente abaixo do ponto de contato) e na região de pré-molar e molar são
mais achatadas no sentido vestíbulo lingual formando uma concavidade denominada área de col
(apresenta uma depressão em forma de vale que conecta a papila vestibular e lingual e em
conformidade com a forma do contato interproximal). O col é revestido por epitélio escamoso
estratificado não queratinizado.

Tecidos de inserção supracristais (tecidos que estão acima da crista óssea):


Compreendem sulco gengival, epitélio juncional e inserção conjuntiva.
Sulco Gengival: é um espaço raso ou fenda ao redor do dente delimitado pela superfície dental de
um lado e o epitélio de revestimento da gengiva marginal livre no outro. Sob condições
absolutamente normais e ideais, a profundidade do sulco é de zero ou próximo a zero milímetro.
Essas condições estritas de normalidade podem ser produzidas experimentalmente apenas em
animais livres de germes ou após intenso e prolongado controle do biofilme. Na gengiva humana
clinicamente normal, a profundidade deste sulco, como determinado em secções histológicas, foi
determinada em 1,8 mm, com variações de zero a seis milímetros; outros estudos relataram 1,5
mm e 0,69 mm. A avaliação clínica usada para determinar a profundidade do sulco envolve a
introdução de um instrumento metálico, a sonda periodontal, e a estimativa da distância que ela
penetra. A profundidade histológica de um sulco não precisa ser exatamente igual à profundidade
de penetração da sonda. A assim chamada profundidade de sondagem de um sulco gengival
clínico normal em humanos é de 2 a 3 mm.
Epitélio juncional: está firmemente aderido à superfície dental, formando uma barreira epitelial
contra o biofilme bacteriano. Ele permite acesso do fluido gengival, células inflamatórias e
componentes do sistema imunológico de defesa do hospedeiro à gengiva marginal, e suas células
apresentam uma rápida renovação, que contribui para o equilíbrio hospedeiro-parasita e permite
um rápido reparo do dano tecidual.
Inserção conjuntiva: é formada por fibras que se ligam ao dente. Em dentes irrompidos,
conceitualmente, corresponde ao espaço entre o término do esmalte e o início da crista óssea
alveolar.
O espaço biológico é constituído pelo epitélio juncional e inserção conjuntiva. Alguns autores
incluem o sulco gengival, mas não há consenso na literatura acerca desse conceito. A manipulação
clínica ou um procedimento que invada o espaço biológico, pode ter como consequência uma
resposta inflamatória, ou uma recessão. Isso acontece por se tratar de uma invasão do tecido
periodontal de proteção.

Na gengiva saudável, há a presença de neutrófilos, monócitos, macrófagos e linfócitos, ou seja, há


uma resposta inflamatória mínima local, considerada uma resposta padrão tecidual, dentro da
normalidade.
Doenças Gengivais Associadas ao Biofilme
Gengivite: A gengivite associada à formação da placa dental é a forma mais comum de doença
gengival, foi previamente caracterizada pela presença de sinais clínicos de inflamação confinados
à gengiva e associados aos dentes, como eritema (vermelhidão) e edema. Como sinais clínicos,
têm-se perda do aspecto pontilhado da gengiva, mudança de coloração e sangramento à sondagem
leve. A doença gengival induzida pela placa é o resultado de uma interação entre os
microrganismos encontrados na placa biofilme e os tecidos e células inflamatórias do hospedeiro.
O lipopolissacarídeo (LPS) é uma endotoxina bacteriana com alto poder inflamatório, principal
componente da membrana externa das bactérias Gram negativas, e pode causar dano tecidual.
Na gengivite inicial (lesão precoce) há apoptose de fibroblastos e degradação de colágeno (para
acomodar o infiltrado inflamatório). Há presença de neutrófilos, linfócitos, monócitos e
macrófagos. Entretanto, quase não há plasmócitos.
Na gengivite estabelecida há um aglomerado mais difuso das células inflamatórias.
Doenças Gengivais Modificadas por Fatores Sistêmicos
Os fatores sistêmicos que contribuem para a gengivite, como alterações endócrinas associadas à
puberdade, ciclo menstrual, gravidez e diabetes, podem ser exacerbados devido a alterações na
resposta inflamatória gengival à presença da placa. Esta resposta alterada parece resultar dos
efeitos das condições sistêmicas nas funções celulares e imunológicas do hospedeiro. Estas
mudanças são mais aparentes durante a gravidez, quando a prevalência e a gravidade da
inflamação gengival podem aumentar mesmo na presença de baixos níveis de placa. Discrasias
sanguíneas, como a leucemia, podem alterar a função imunológica por meio de um distúrbio no
equilíbrio normal dos leucócitos imunologicamente competentes que suprem o periodonto.
Aumento gengival e sangramento são achados comuns e podem estar associados a um tecido
gengival edemaciado e com aspecto esponjoso, causado pela excessiva infiltração de células
sanguíneas. O tabagismo e a má nutrição também são fatores modificadores. A deficiência de
vitamina c (ácido ascórbico), por exemplo, pode causar edema gengival generalizado.

Doenças Gengivais Modificadas por Medicamentos


As doenças gengivais modificadas por medicamentos são altamente prevalentes devido ao uso
aumentado de drogas, conhecidas por induzir aumento gengival, por exemplo: drogas
anticonvulsivantes, como a fenitoína; drogas imunossupressoras, como a ciclosporina; e
bloqueadores de canais de cálcio, como a nifedipina, verapamil, diltiazem e valproato de sódio. O
desenvolvimento e a gravidade do aumento gengival em resposta às medicações são específicos
para cada paciente e podem ser influenciados pelo acúmulo descontrolado de placa, bem como
pelos níveis hormonais elevados. O aumento na utilização de contraceptivos orais por mulheres na
pré-menopausa tem sido associado a uma maior incidência de inflamação gengival e
desenvolvimento de aumento gengival, que podem ser revertidos pela suspensão do contraceptivo
oral.
Doenças Gengivais de Origem Virótica - As doenças gengivais de origem virótica podem ser
causadas por uma variedade de vírus do ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico
(RNA), sendo o mais comum o herpesvírus. As lesões são frequentemente relacionadas a uma
reativação do vírus latente, especialmente como resultado de uma redução da função imune. São
tratadas com drogas antivirais tópicas e/ou sistêmicas.
Gengivite plasmocitária: O plasmócito é uma célula com núcleo excêntrico. Essa gengivite é
caracterizada como reações alérgicas a condimentos, como canela e pimentas, balas de menta, etc.
Periodontite: A periodontite é definida como uma doença inflamatória dos tecidos de suporte dos
dentes, causada por microrganismos específicos ou grupos de microrganismos específicos,
resultando em uma destruição progressiva do periodonto de inserção (ligamento periodontal e osso
alveolar), com formação de bolsa, retração ou ambas. A característica clínica que distingue a
periodontite da gengivite é a presença da perda de inserção clinicamente detectável. Isto
geralmente é acompanhado pela formação de bolsa periodontal e mudanças na densidade e altura
do osso alveolar subjacente. Pode haver hiperplasia ou recessão gengival, sangramento gengival
provocado, mobilidade e esfoliação dentária, progressão contínua ou em surtos.
Histologicamente, é possível observar o epitélio juncional proliferativo perdendo inserção. Sem
doença periodontal o epitélio fica adjacente ao esmalte. Na periodontite, é possível vê-lo adjacente
à dentina.
Saudável x Periodontite

Risco para a transição de gengivite para periodontite:


População normal: baixa susceptibilidade. 5%: alta susceptibilidade. Fatores de risco: genéticos
(ex. falha de resposta imune, neutropenia cíclica) ou adquiridos (ex. diabetes, tabagismo).
Biofilme dentário (virulência):
P. gingivalis: bactéria Gram negativa, bastonete, produz gingipaína, que são enzimas proteolíticas
que degradam fibrinogênio, imunoglobulinas.
Tannerella forsythia: bactéria que produz lipoproteína (BILP) que induz secreção de citocinas
como IL-6 e TNF-alfa, ou seja, agrava o processo inflamatório. Essas citocinas podem estimular a
reabsorção óssea.
T. dentícola: dentilisina (degrada citocinas, imunoglobulinas e proteínas da matriz)
(Esssas três primeiras fazem parte do complexo vermelho, ou seja, muito provavelmente em casos
de periodontite é provável achar essas espécies)
Aggregatibacter actinomycetemcomitans: produz leucotoxinas, pode exterminar o neutrófilo.
P. intermedia: deprimem mecanismos imunes.
Fusobacterium nucleatum: estruturação do biofilme, metabólitos tóxicos.
Microscopicamente, na periodontite, é possível observar epitélio juncional reativo, formando
projeções, presença muito grande de plasmócitos (>50% do total de células), trabéculas ósseas
geradas pela reabsorção.
Sobre a reabsorção óssea, temos estímulos pró inflamatórios que estimulam a osteoclastogênese,
como o TNF-alfa e IL-1. Esse processo pode ser potencializado pela presença de RANK ligante,
que é produzido por osteoblastos ou linfócitos, e em grande quantidade, se unem os receptores das
células progenitoras, que se transformam em osteoclastos ativos.
A osteoprotegenina consegue antagonizar o RANK ligante, estes, em pouca quantidade, não
conseguem se ligar e os osteoclastos entram em apoptose. A osteoprotegenina potencializa os
efeitos de reparo do TGF-beta (anti-inflamatório).
A periodontite pode não ser progressiva até a perda dos elementos dentários, pode ter picos e
momentos de estabilização, portanto, a orientação de higiene, de abandono ao tabaco, a raspagem
e profilaxia são essenciais para controlar a doença.
Periodontite de progressão rápida (agressiva): possível observar perda óssea na mesial, distal
dos elementos dentários (área radiolúcida)
Doenças Periodontais Necrosantes:
Gengivite ulcerativa necrosante ou gengivite de Vincent: Desencadeada por biofilme, estresse,
tabagismo. Provoca necrose interproximal, sangramento espontâneo, dor intensa. Linfadenopatia,
gosto metálico, odor bucal fétido, febre, mal-estar.
Tratamento: raspagem supragengival, antibioticoterapia, bochechos com clorexidina ou peróxido
de hidrogênio.
Abscesso periodontal em pacientes com periodontite: mais comum em pacientes diabéticos.
Odor fétido, doloroso e precisa ser drenado. Diferença entre abscesso periodontal e abscesso
periapical: no abscesso periodontal o teste de vitalidade pulpar será positivo.
Abscesso periodontal em pacientes sem periodontite: Corpo estranho no sulco gengival
(elástico, pipoca, espinho, etc), hábitos danosos (bruxismo, roer unhas, pode desestruturar o
colágeno gengival, favorece a entrada de microorganismos, causa retração, formando abscesso),
alterações anatômicas (pérolas de esmalte, retração, etc)
Pericoronarite: Dente em erupção parcial (comum: terceiros molares) incompleta, forma uma
capa tecidual que permite o acúmulo de biofilme, causando inflamação. Dor latejante,
sensibilidade, mau-hálito, linfadenopatia, febre, leucocitose, mal-estar.
Líquen Plano: é uma doença dermatológica crônica relativamente comum, que com frequência
afeta a mucosa bucal. As lesões de pele do líquen plano são classicamente descritas como pápulas
poligonais, púrpuras e pruriginosas. Em geral, afetam as superfícies flexoras das extremidades. As
escoriações podem não ser visíveis, apesar do fato de que as lesões são pruriginosas, podendo ferir
o paciente como resultado da coceira. Um exame cuidadoso da superfície das pápulas da pele
revela linhas brancas finas semelhantes a um rendilhado (estrias de Wickham).
Tratamento: uso tópico ou sistêmico de corticosteroides.

Histologicamente, graus variáveis de ortoceratose e paraceratose podem estar presentes na


superfície do epitélio, as cristas epiteliais podem estar ausentes ou hiperplásicas, mas
classicamente são pontiagudas ou têm forma de “dentes de serra”, A destruição da camada de
células basais do epitélio (degeneração hidrópica) também é evidente, sendo acompanhada por um
intenso infiltrado inflamatório semelhante a uma faixa, predominantemente de linfócitos T logo
abaixo do epitélio subjacente.
Pênfigo vulgar:
Doença auto imune. As bolhas que caracterizam essa doença ocorrem devido a uma produção
anormal, por razões desconhecidas, de autoanticorpos que são dirigidos contra glicoproteínas de
superfície da célula epidérmica. Os desmossomos são estruturas de adesão entre as células
epiteliais, e os autoanticorpos atacam esses componentes desmossomais, inibindo a interação
molecular que é responsável pela aderência. Como resultado desse ataque imunológico aos
desmossomos, uma fenda se desenvolve dentro do epitélio, causando a formação de uma bolha
intraepitelial. Os pacientes normalmente queixam-se de dor na mucosa bucal, e o exame clínico
exibe erosões superficiais e irregulares e ulcerações distribuídas aleatoriamente na mucosa bucal.
Essas lesões podem afetar quase qualquer local da mucosa bucal, embora o palato, a mucosa
labial, a mucosa jugal, o ventre de língua e a gengiva sejam envolvidos com maior frequência.
Teste de Nicholsky: consiste na fricção de uma superfície para verificar se há fragilidade da
adesão epitelial. Pode ser feito com uma seringa vazia, tocando na gengiva, fazendo uma pressão
negativa. Se o resultado do teste for positivo, haverá desprendimento da camada superficial fina,
deixando a pele rosa, úmida e geralmente muito sensível. Um resultado positivo é geralmente um
sinal de doença bolhosa da pele.
Tratamento: corticoide de uso local ou sistêmico, encaminhamento pro dermatologista.
Histopatologicamente, há uma separação intraepitelial característica, que ocorre logo acima da
camada de células basais do epitélio (fenda intraepitelial). As células da camada espinhosa do
epitélio de superfície apresentam-se tipicamente separadas, uma característica que tem sido
denominada acantólise, e as células soltas tendem a assumir uma forma arredondada. Essa
característica do pênfigo vulgar pode ser utilizada para realizar o diagnóstico baseado na
identificação dessas células arredondadas (células de Tzanck) no exame de citopatologia
exfoliativa. Um infiltrado leve a moderado de células inflamatórias crônicas normalmente é
observado no tecido conjuntivo subjacente.

Penfigoide das membranas mucosas:


Representa um grupo de doenças bolhosas mucocutâneas crônicas, de origem autoimune, no qual
autoanticorpos ligados aos tecidos são dirigidos contra um ou mais componentes da membrana
basal. As lesões bucais do penfigoide se iniciam como vesículas ou bolhas que ocasionalmente
podem ser identificadas clinicamente.
Histopatologicamente, exibe uma separação entre o epitélio de superfície e o tecido conjuntivo
subjacente na região da membrana basal. Um leve infiltrado inflamatório crônico está presente na
submucosa superficial.

Processos proliferativos não-neoplásicos:


Hiperplasia fibrosa inflamatória ou hiperplasia relacionada a prótese: também conhecida
como epúlide fissurada, é uma hiperplasia de tecido conjuntivo fibroso, semelhante a um tumor,
que se desenvolve em associação com as bordas de uma prótese total ou parcial mal adaptada.
Tipicamente, se apresenta como uma única prega ou múltiplas pregas de tecido hiperplásico no
vestíbulo alveolar. Mais frequentemente, duas pregas de tecido estão presentes, e as bordas da
prótese associada se encaixam perfeitamente dentro da fissura entre as pregas.
O exame microscópico da epúlide fissurada revela uma hiperplasia do tecido conjuntivo fibroso. O
epitélio de revestimento frequentemente é ortoparaceratinizado e demonstra hiperplasia irregular
das cristas epiteliais.
O tratamento para a epúlide fissurada ou para o pólipo fibroepitelial consiste na remoção cirúrgica,
com o exame microscópico do tecido removido.

Granuloma piogênico: O granuloma piogênico é um crescimento semelhante a tumor da


cavidade oral que, tradicionalmente, tem sido considerado como tendo natureza não-neoplásica. É
um aumento de volume com superfície lisa ou lobulada, que usualmente é pedunculada, embora
algumas lesões sejam sésseis. A superfície é caracteristicamente ulcerada e varia do rosa ao
vermelho ao roxo, dependendo da idade da lesão. Granulomas piogênicos jovens têm aparência
altamente vascular, enquanto lesões mais antigas tendem a se tornar mais colagenizadas e
apresentar coloração rosa. Seu tamanho pode variar de pequenos crescimentos com poucos
milímetros, a grandes lesões que podem medir vários centímetros de diâmetro. Tipicamente, o
crescimento é indolor, embora em geral sangre facilmente devido à sua extrema vascularização.
Os granulomas piogênicos podem exibir um crescimento rápido, o que pode alarmar tanto o
paciente quanto o clínico, que poderão temer uma lesão maligna. Os granulomas piogênicos orais
mostram uma marcante predileção pela gengiva, representando 75% dos casos. Em muitos
pacientes, a irritação e a inflamação gengivais resultantes da má higiene oral podem ser fatores
precipitadores. Os lábios, a língua e a mucosa jugal são as outras localizações mais comuns. Não é
incomum uma história de trauma antes do desenvolvimento da lesão, especialmente para os
granulomas piogênicos extragengivais.
O exame microscópico do granuloma piogênico mostra uma proliferação altamente vascular,
semelhante ao tecido de granulação. É paraqueratinizado e possui numerosos canais, pequenos e
grandes, delimitados por endotélio, são formados e apresentam-se obliterados por hemácias.
Algumas vezes esses vasos são organizados em agregados lobulares. É evidente um infiltrado
inflamatório misto de neutrófilos, plasmócitos e linfócitos. Os neutrófilos são mais prevalentes
próximo à superfície ulcerada, enquanto as células inflamatórias crônicas são encontradas
profundamente no espécime. Lesões antigas podem ter áreas com aparência mais fibrosa.
Hiperplasia fibrosa focal: O fibroma é o “tumor” mais comum da cavidade oral. Entretanto, é
questionado se, na maioria das situações, ele representa uma neoplasia verdadeira. Talvez ele
possa representar uma hiperplasia reacional do tecido conjuntivo fibroso em resposta à irritação ou
trauma local. Embora o fibroma de irritação possa ocorrer em qualquer lugar da boca, a
localização mais comum é a mucosa jugal, ao longo da linha de oclusão. Presumivelmente, isto é
uma consequência do trauma da mordida na bochecha. A mucosa labial, a língua e a gengiva
também são localizações comuns.

O exame microscópico do fibroma de irritação revela um aumento de volume nodular de tecido


conjuntivo fibroso, recoberto por epitélio escamoso estratificado. O epitélio de superfície
geralmente demonstra atrofia das cristas epiteliais devido ao aumento de volume do tecido
subjacente. Entretanto, a superfície pode exibir hiperceratose secundária a trauma (epitélio
ortoqueratinizado). Pode ser observada inflamação difusa, principalmente abaixo da superfície
epitelial. Usualmente, esta inflamação é crônica e consiste principalmente em linfócitos e
plasmócitos.

Lesão periférica de células gigantes: O granuloma periférico de células gigantes ocorre


exclusivamente na gengiva ou no rebordo alveolar edêntulo, apresentando-se como um aumento
de volume nodular de coloração que varia do vermelho ao vermelho-azulado. A maioria das lesões
têm menos que 2 cm de diâmetro, embora grandes lesões sejam vistas ocasionalmente. A lesão
pode ser séssil ou pedunculada, e pode ou não ser ulcerada. A aparência clínica é semelhante ao
mais comum granuloma piogênico da gengiva.

O exame microscópico do granuloma de células gigantes periférico mostra uma proliferação de


células gigantes multinucleadas permeadas por células mesenquimais volumosas ovoides e
fusiformes. As células gigantes podem conter somente poucos núcleos ou várias dúzias. Algumas
dessas células podem apresentar núcleos grandes e vesiculosos, enquanto outras demonstram
núcleos pequenos e picnóticos. A superfície da mucosa de revestimento encontra-se ulcerada em
50% dos casos. Geralmente uma zona de tecido conjuntivo denso separa a proliferação de células
gigantes da superfície da mucosa. Frequentemente, estão presentes células inflamatórias agudas e
crônicas. Áreas de formação de osso reacional ou de calcificações distróficas não são incomuns.

Fibroma ossificante periférico: O fibroma ossificante periférico ocorre exclusivamente na


gengiva. Apresenta-se como uma massa nodular, séssil ou pedunculada, que usualmente se origina
da papila interdental. A coloração varia do vermelho ao rosa, e a superfície é frequentemente, mas
nem sempre, ulcerada. O crescimento provavelmente se inicia como uma lesão ulcerada. As lesões
mais antigas comumente mostram a cicatrização da úlcera e uma superfície intacta. Lesões
vermelhas ulceradas geralmente são confundidas com os granulomas piogênicos, enquanto as
rosas, nãoulceradas, são clinicamente semelhantes aos fibromas de irritação. Muitas lesões medem
menos de 2 cm, embora ocasionalmente possam ocorrer grandes lesões. As lesões geralmente
estão presentes por muitas semanas ou meses antes do diagnóstico ser feito.
O padrão microscópico básico do fibroma ossificante periférico é de uma proliferação de
fibroblastos associada à formação de material mineralizado. Se o epitélio estiver ulcerado, a
superfície é coberta por uma membrana fibrinopurulenta com uma zona de tecido de granulação
subjacente. O tipo de componente mineralizado é variável, e pode consistir em osso, material
cementoide, ou calcificações distróficas. Frequentemente, observa-se uma combinação desses
materiais. As calcificações distróficas são caracterizadas por múltiplos grânulos, pequenos
glóbulos, ou grandes aumentos de volume irregulares de material basofílico mineralizado.

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Cistos da cavidade oral


1. Definição de cisto
Por definição, um cisto é uma cavidade patológica (muitas vezes preenchida por líquido) que é
revestida por epitélio. Uma variedade de cistos do desenvolvimento da cabeça e pescoço foi
descrita. Alguns deles foram historicamente considerados cistos “fissurais”, porque se acreditava
que se originavam do epitélio aprisionado ao longo das linhas de fusão dos processos
embrionários. Porém, uma origem fissural para muitos destes cistos tem sido questionado nos
últimos anos. Em vários casos, a patogênese exata destas lesões é ainda incerta.
Independentemente da sua origem, os cistos se desenvolvem na região oral e maxilofacial, tendem
a aumentar lentamente de tamanho, possivelmente em resposta a um ligeiro aumento da pressão
hidrostática luminal.
2. Definição de lume cístico, epitélio cístico e cápsula cística: critérios histológicos
fundamentais para diferenciar microscopicamente os cistos bucais
Lume cístico: é um espaço interno ou cavidade revestida por epitélio. O lume cístico é constituído
por material amorfo eosinofílico com alto teor protéico, grande número de cristais de colesterol,
células epiteliais descamadas e, casualmente, lâminas de ceratina. Colônias bacterianas podem
fazer parte do conteúdo cístico ou apenas ser detectadas na superfície apical do dente afetado
(Leonardo, 1998). (NETO M.M. et al. Contribuição ao estudo do cisto radicular: revisão da
literatura, v. 30, p. 90-99, 2004.)
Epitélio cístico: tecido epitelial que reveste a cavidade cística, remanescentes da lâmina dentária,
do órgão do esmalte e da bainha de Hertwig.
Cápsula cística: tecido conjuntivo fibroso localizado externamente ao epitélio cístico.
3. Cistos odontogênicos
a. Origem dos cistos odontogênicos
Com raras exceções, cistos revestidos por epitélio nos ossos do corpo são observados somente nos
ossos gnáticos. Ainda que alguns poucos cistos possam resultar da inclusão de epitélio ao longo
das linhas de fusão dos processos embrionários, a maioria dos cistos dos ossos gnáticos é
revestida por epitélio derivado de epitélio odontogênico. Eles são denominados cistos
odontogênicos. De acordo com sua origem, os cistos odontogênicos são subclassificados em cistos
de desenvolvimento ou inflamatórios. Os fatores precipitantes que iniciam a formação dos cistos
do desenvolvimento são desconhecidos, mas essas lesões não parecem surgir em consequência de
reação inflamatória. Os cistos inflamatórios resultam da inflamação da região.
Origem: proliferação de um componente epitelial originário de um remanescente odontogênico,
como por exemplo:
1) os restos epiteliais de Malassez, deixados no ligamento periodontal pela fragmentação do
epitélio da bainha de Hertwig;
2) restos do epitélio reduzido de esmalte, derivados do órgão de esmalte, que cobre a
totalidade da coroa dentária em dentes que ainda não erupcionaram;
3) os restos epiteliais de Serres, que persistem após a dissolução da lâmina dentária.

b. Cistos inflamatórios – Definição, características clínicas, radiográficas, histológicas


e tratamento:
Os cistos inflamatórios são cistos odontogênicos que resultam de um processo inflamatório prévio
da região.
 Cisto radicular
Também chamado de cisto periapical ou cisto periodontal apical.
- São caracterizados por uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso revestida por epitélio com um
lúmen contendo líquido e restos celulares.
- São formados pela estimulação do epitélio na região do ápice de um dente desvitalizado pela
inflamação, que parece aumentar a produção do fator de crescimento de queratinócitos pelo
estroma das células periodontais, levando ao aumento da proliferação de epitélio na região.
- A fonte epitelial é formada principalmente pelos restos epiteliais de Malassez. Teoricamente, à
medida que o epitélio se descama para o interior do lúmen, aumenta o conteúdo proteico. Ocorre a
entrada de fluido no lúmen, na tentativa de equilibrar a pressão osmótica, promovendo um
crescimento lento.
- A maioria dos cistos periapicais cresce lentamente e não atinge um tamanho grande.
- Duas variações de cistos periapicais foram descritas quando ocorre a total remoção do cisto e da
raiz. Os cistos periapicais baía têm como característica um revestimento epitelial incompleto
devido à extensão da porção apical do dente para o interior do lúmen do cisto. Os cistos
periapicais verdadeiros formam uma estrutura semelhante a um saco, com revestimento epitelial
completo, que se localiza adjacente ao ápice do dente, mas está separado deste.
- O desenvolvimento cístico é comum e a frequência relatada varia de 7% a 54% das imagens
radiolúcidas periapicais. Essa disparidade está relacionada, muito provavelmente, ao rigor dos
critérios de diagnóstico.
- Algumas vezes, um cisto semelhante, cisto radicular lateral, pode se desenvolver ao longo da
porção lateral da raiz.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
CISTO RADICULAR: Em geral, os pacientes não apresentam sintomas, a menos que exista uma
exacerbação inflamatória aguda.
- Se o cisto atingir um tamanho grande, podem ser observadas tumefação e sensibilidade leve.
Com o crescimento do cisto, podem ocorrer mobilidade e deslocamento dos dentes adjacentes.
- O dente de origem não responde ao teste pulpar térmico e elétrico.
- Os cistos periapicais também envolvem dentes decíduos.
- Estão mais associados aos molares.
- O padrão radiográfico é idêntico ao do granuloma periapical. Os cistos podem desenvolver-se
como imagens radiolúcidas periapicais pequenas (o tamanho e forma radiográficos da lesão não
podem ser utilizados para o diagnóstico definitivo).
- Observa-se: perda da lâmina dura ao longo da raiz adjacente, imagem radiolúcida arredondada
que circunda o ápice do dente acometido, e a reabsorção radicular é comum. Com o crescimento, a
imagem radiolúcida pode se tornar achatada conforme a lesão se aproxima dos dentes adjacentes.
É possível que ocorra um crescimento significativo e podem ser observadas lesões ocupando todo
um quadrante.
CISTO RADICULAR LATERAL: apresenta-se como uma imagem radiolúcida discreta ao longo
da porção lateral da raiz. A perda da lâmina dura e uma fonte de inflamação evidente podem não
ser detectadas sem um alto índice de suspeita. Antes da exploração cirúrgica de áreas radiolúcidas
posicionadas lateralmente, deve ser executada uma avaliação completa do estado periodontal e da
vitalidade dos dentes adjacentes.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
- As características histopatológicas de todos os três tipos de cistos inflamatórios são semelhantes.
- Epitélio: O cisto periapical é revestido por epitélio escamoso estratificado, o qual pode
apresentar exocitose (presença de leucócitos infiltrando o epitélio), espongiose (edema, aumento
de líquido) ou hiperplasia (aumento do número de células de um tecido). Células mucosas
dispersas ou áreas de epitélio colunar pseudoestratificado ciliado podem ser observados nos cistos
periapicais, mesmo na mandíbula. A habilidade de o epitélio odontogênico demonstrar tal
diferenciação especializada representa um exemplo de prosoplasia (metaplasia avançada – tipo de
tecido se transforma em outro) e enfatiza o potencial diverso do epitélio odontogênico. Algumas
vezes, o revestimento epitelial pode apresentar calcificações lineares ou em forma de arco,
conhecidas como corpúsculos de Rushton.
- Lúmen: pode ser preenchido por fluido e restos celulares. Calcificações, cristais de colesterol
com células gigantes multinucleadas, hemácias e áreas de pigmentação por hemossiderina podem
estar presentes no lúmen, na cápsula ou em ambos.
- Cápsula: consiste em tecido conjuntivo fibroso denso, muitas vezes com infiltrado inflamatório
contendo linfócitos variáveis, permeados por neutrófilos, plasmócitos, histiócitos e (raramente)
mastócitos e eosinófilos. Ocasionalmente, as cápsulas dos cistos inflamatórios podem conter
corpos hialinos dispersos, que se apresentam como pequenas poças de material eosinofílico que
exibe uma periferia de colágeno condensado muitas vezes circundado por linfócitos e células
gigantes multinucleadas. Esse material eosinofílico pode ser uniforme ou conter uma variável
mistura de linfócitos, plasmócitos, células gigantes multinucleadas, neutrófilos, restos necróticos e
calcificação distrófica. Inicialmente, estes focos foram considerados um processo vascular
degenerativo ou uma reação tipo corpo estranho a óleo industrial ou material vegetal.
Subsequentemente, esses corpos pareceram representar lagos de exsudato inflamatório que por fim
sofre fibrose e ocasionalmente calcificação distrófica.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
- O cisto radicular é tratado da mesma maneira que o granuloma periapical.
- Quando as características clínicas e radiográficas apontam para uma lesão inflamatória
periapical, a extração ou o tratamento endodôntico conservador não cirúrgico deve ser realizado.
- Lesões maiores associadas a dentes com possibilidade de restauração têm sido tratadas com
sucesso por meio de tratamento endodôntico conservador quando combinado à biópsia e
marsupialização (janela cirúrgica aberta comunicando com a cavidade bucal, suturada junto à
mucosa adjacente, para o esvaziamento progressivo do conteúdo interno da lesão), descompressão
ou fenestração.
- Assim como qualquer lesão inflamatória periapical, é fortemente aconselhado um
acompanhamento mínimo de 1 a 2 anos. Se a imagem radiolúcida não desaparecer, a lesão poderá
muitas vezes ser tratada com sucesso pelo retratamento endodôntico não cirúrgico.
- A cirurgia periapical é indicada para lesões que excedem 2,0 cm e para aquelas associadas a
dentes nos quais não é viável o tratamento endodôntico convencional.
- A biópsia é indicada para afastar outros possíveis processos patológicos.
- Os cistos de origem inflamatória não recidivam após um tratamento adequado. Podem ocorrer
cicatrizes fibrosas, especialmente quando ambas as tábuas corticais tiverem sido perdidas; uma
vez diagnosticados, não é indicado outro tratamento para as cicatrizes fibrosas.
- Em casos raros, relata-se o desenvolvimento de carcinoma de células escamosas nos cistos
periapicais; portanto, mesmo na ausência de sintomas, o tratamento é necessário para todas as
alterações intraósseas cujo exame histopatológico não tenha fornecido um diagnóstico definitivo.
- Cisto radicular lateral: Todos os focos inflamatórios na área de um cisto radicular lateral devem
ser eliminados e o paciente deve ser observado de maneira semelhante à descrita para o cisto
periapical. Em alguns casos, os cistos radiculares laterais são removidos antes da avaliação quanto
à vitalidade ou da avaliação periodontal para pesquisa de foco de infecção adjacente. Se o
diagnóstico for feito, a avaliação completa da fonte de inflamação será obrigatória.
 Cisto residual
- Originado do tecido inflamatório periapical que não foi curetado no momento da extração do
dente.
- Com o tempo, muitos destes cistos exibem uma redução no tamanho e pode ocorrer uma
resolução espontânea devido à ausência do estímulo inflamatório contínuo.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
- Apresenta-se como uma imagem radiolúcida de forma circular a oval, de tamanho variável,
localizada no processo alveolar em um sítio de uma extração dentária prévia. Com o
envelhecimento da lesão, a degeneração dos constituintes celulares no lúmen leva ocasionalmente
à calcificação distrófica e à radiopacidade central do lúmen.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
Em todos estes cistos deve ser realizada a excisão cirúrgica, pois grande parte dos cistos e tumores
odontogênicos e não odontogênicos pode imitar a aparência de um cisto periapical residual.
 Cisto paradentário
Cisto paradentário ou cisto da bifurcação vestibular é um cisto odontogênico inflamatório
incomum, que caracteristicamente se desenvolve na face vestibular do primeiro molar inferior
permanente parcialmente erupcionado com uma história de pericoronarite. Foi especulado que
quando o dente erupciona, uma resposta inflamatória pode ocorrer nos tecidos que circundam o
folículo e estimular a formação do cisto.
- A patogênese desse cisto é incerta.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
- Ocorre tipicamente em crianças de 5 a 13 anos de idade.
- O paciente apresenta sensibilidade leve à moderada na face vestibular do primeiro molar inferior,
que pode estar em processo de erupção. O paciente frequentemente nota inchaço clínico associado
à saída de secreção de gosto desagradável.
- A sondagem periodontal geralmente revela formação de bolsa na face vestibular do dente
envolvido.
- Relata-se que cerca de um terço dos pacientes apresenta envolvimento bilateral dos primeiros
molares.
- As radiografias tipicamente mostram uma lesão radiolúcida unilocular bem-circunscrita
envolvendo a bifurcação vestibular e a região da raiz do dente em questão. O tamanho médio do
defeito radiolúcido é de 1,2 cm, mas a lesão pode atingir até 2,5 cm de diâmetro. Uma radiografia
oclusal é mais útil para demonstrar a localização vestibular da lesão.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
As características microscópicas não são específicas e mostram um cisto que é revestido por
epitélio escamoso estratificado não queratinizado com áreas de hiperplasia. Um infiltrado
inflamatório crônico proeminente está presente na cápsula de tecido conjuntivo circunjacente.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
Geralmente é tratado através de enucleação; não é necessária a extração do dente associado. Após
1 ano da cirurgia, geralmente há cicatrização completa com normalização da profundidade de
sondagem periodontal e evidência radiográfica de reparo ósseo.
c. Cistos de desenvolvimento – Definição, características clínicas, radiográficas,
histológicas e tratamento das seguintes lesões:
Os fatores precipitantes que iniciam a formação dos cistos do desenvolvimento são desconhecidos,
mas essas lesões não parecem surgir em consequência de reação inflamatória.
 Cisto dentígero
O cisto dentígero ou folicular é definido como um cisto que se origina pela separação do folículo
que fica ao redor da coroa de um dente incluso.
- É o tipo mais comum de cisto de desenvolvimento, sendo responsável por 20% de todos os cistos
revestidos por epitélio nos ossos gnáticos.
- O cisto dentígero envolve a coroa de um dente impactado e se conecta ao dente pela junção
amelocementária. A patogênese desse cisto é incerta, mas aparentemente ele se desenvolve pelo
acúmulo de fluido entre o epitélio reduzido do esmalte e a coroa do dente.
- Apesar de a maioria dos cistos dentígeros ser considerada como de desenvolvimento em sua
origem, há alguns exemplos que parecem apresentar patogênese inflamatória. Por exemplo, foi
sugerido que, em algumas ocasiões, um cisto dentígero pode se desenvolver ao redor da coroa de
um dente permanente incluso como consequência da inflamação periapical de um dente decíduo
sobrejacente. Apesar de muitas dessas lesões provavelmente surgirem em decorrência da
inflamação associada a uma pericoronarite recidivante, elas são comumente diagnosticadas como
exemplos de cistos dentígeros, especialmente em razão da impossibilidade de determinar,
histopatologicamente, se o componente inflamatório é de natureza primária ou secundária.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
- Apesar de poder ocorrer em associação com qualquer dente impactado, envolve mais
frequentemente terceiros molares inferiores. Outros sítios relativamente frequentes incluem os
caninos e os terceiros molares superiores e os segundos pré-molares inferiores. Raramente
envolvem dentes decíduos inclusos. Ocasionalmente, podem estar associados a dentes
supranumerários ou a odontomas.
- Embora possa ser encontrado em pacientes com uma ampla variação de idade, eles são
descobertos mais frequentemente em pacientes entre 10 e 30 anos. Há uma leve predileção pelo
sexo masculino e maior prevalência em brancos do que em negros.
- Cistos dentígeros pequenos em geral são completamente assintomáticos e são descobertos
somente em exames radiográficos. Mas podem se tornar infectados e associados à dor e edema.
Tais infecções podem surgir em um cisto dentígero associado a um dente parcialmente
erupcionado ou por extensão de uma lesão periapical ou periodontal que afeta um dente adjacente.
- Podem atingir tamanho considerável e grandes cistos podem estar associados à expansão indolor
do osso na área envolvida. Lesões extensivas podem resultar em assimetria facial. Cistos
dentígeros de grandes dimensões são incomuns, e a maioria das lesões consideradas como
grandes, ao exame radiográfico revelarão ser ceratocistos odontogênicos ou ameloblastomas.
- Os cistos dentígeros podem deslocar o dente envolvido, alcançando distâncias consideráveis.
- Pode ocorrer a reabsorção radicular de um dente adjacente erupcionado.
- Raramente, um terceiro molar pode estar deslocado em direção à margem inferior da mandíbula
ou para região superior do ramo da mandíbula. Os dentes súpero-anteriores podem estar
deslocados para o assoalho da cavidade nasal e outros dentes superiores podem ser deslocados
através do seio maxilar para o soalho da órbita.
- Radiograficamente, mostra tipicamente uma área radiolúcida unilocular associada à coroa de um
dente incluso. A lesão radiolúcida geralmente apresenta uma margem bem definida e
frequentemente esclerótica, mas um cisto infectado pode mostrar margens pouco definidas. Um
cisto dentígero de grandes dimensões pode passar a impressão de um processo multilocular devido
à persistência de trabéculas ósseas dentro da lesão radiolúcida. Contudo, esses cistos são processos
macroscópico e histopatologicamente uniloculares e provavelmente nunca se apresentam como
lesões multiloculares verdadeiras.
- A relação cisto-coroa mostra diversas variações radiográficas. Na variante central, que é a mais
comum, o cisto envolve a coroa do dente e ela se projeta no cisto. A variante lateral geralmente
está associada a terceiros molares inferiores impactados com inclinação mesioangular e que estão
parcialmente erupcionados. O cisto cresce lateralmente ao longo da superfície radicular e envolve
parcialmente a coroa. Na variante circunferencial, o cisto circunda a coroa e se estende por alguma
distância ao longo da raiz, de forma que uma porção significativa da raiz parece estar dentro do
cisto.
- É difícil a distinção radiográfica entre um pequeno cisto dentígero e um folículo coronário
aumentado que está sobre a coroa de um dente incluso. Para ser considerado cisto dentígero,
alguns investigadores acreditam que o espaço radiolúcido que envolve a coroa do dente deve ser
de aproximadamente 3 a 4 mm de diâmetro. Contudo, os achados radiográficos não são
diagnósticos de um cisto dentígero, porque os ceratocistos odontogênicos, os ameloblastomas
uniloculares e muitos outros tumores odontogênicos e não odontogênicos podem apresentar
características radiográficas que são essencialmente idênticas àquelas do cisto dentígero.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
- As características histopatológicas do cisto dentígero variam, dependendo de se o cisto está
inflamado ou não.
- No cisto dentígero não inflamado:
Cápsula: está arranjada frouxamente e contém considerável substância fundamental amorfa
composta por glicosaminoglicanos. Pequenas ilhas e cordões de restos epiteliais odontogênicos de
aspecto inativo podem estar presentes na cápsula fibrosa.
Epitélio: consiste em duas a quatro camadas de células achatadas não ceratinizadas, e a interface
entre o epitélio e o tecido conjuntivo é plana.
- No cisto dentígero inflamado:
Cápsula: é mais colagenizada, com um infiltrado inflamatório crônico variável. Pequenos ninhos
de células sebáceas podem ser notados raramente dentro da parede cística. Acredita-se que esses
elementos mucosos, ciliados e sebáceos representem a multipotencialidade do revestimento
epitelial odontogênico em um cisto dentígero.
Epitélio: pode mostrar quantidades variáveis de hiperplasia com o desenvolvimento de cristas
epiteliais e características escamosas mais definidas. Uma superfície ceratinizada pode ser
observada em algumas ocasiões, mas essas alterações devem ser diferenciadas daquelas
observadas no ceratocisto odontogênico. Áreas focais de células mucosas podem ser encontradas.
Raramente, células colunares ciliadas estão presentes.
- Lúmen: O exame macroscópico da parede do cisto pode revelar uma ou muitas áreas de
espessamento na superfície do lúmen. Essas áreas devem ser examinadas microscopicamente para
excluir a presença de alteração neoplásica precoce.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
- O tratamento usual para um cisto dentígero é a cuidadosa enucleação (técnica cirúrgica para
remoção) do cisto juntamente com a remoção do dente não erupcionado. Se a erupção do dente
envolvido for considerada possível, então o dente pode ser deixado em seu local após a remoção
parcial da cápsula cística. Pode ser que os pacientes necessitem de tratamento ortodôntico para
auxiliar a erupção.
- Grandes cistos dentígeros também podem ser tratados por meio de marsupialização, que permite
a descompressão do cisto, com resultante redução no tamanho do defeito ósseo. O cisto pode então
ser excisado em um momento posterior, com um procedimento cirúrgico menos extenso.
- O prognóstico para a maioria dos cistos dentígeros é excelente, e raramente nota-se recidiva após
a remoção completa. Contudo, diversas complicações potenciais devem ser consideradas. Muito já
foi descrito sobre a possibilidade de o revestimento de um cisto dentígero sofrer transformação
neoplásica para um ameloblastoma. Raramente, um carcinoma de células escamosas pode surgir
no revestimento de um cisto dentígero. É provável que alguns carcinomas mucoepidermoides
intraósseos se desenvolvam a partir das células mucosas no revestimento de um cisto.
 Cisto de erupção
O cisto de erupção ou hematoma de erupção é o análogo, nos tecidos moles, do cisto dentígero.
- Se desenvolve como resultado da separação do folículo dentário da coroa de um dente em
erupção que já está posicionado nos tecidos moles que recobrem o osso alveolar.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
- Surge como um aumento de volume de consistência mole, frequentemente translúcido, na
mucosa gengival que recobre a coroa de um dente decíduo ou permanente em erupção.
- A maioria dos exemplos é observada em crianças com menos de 10 anos de idade.
- Apesar de poder ocorrer em qualquer dente em erupção, a lesão é mais comumente associada a
incisivos centrais decíduos inferiores, a primeiros molares permanentes e a incisivos decíduos
superiores.
- O trauma em sua superfície pode resultar em uma quantidade considerável de sangue no fluido
cístico, o que concede uma cor azul a marrom arroxeada ao cisto.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
- Cistos de erupção intactos raramente são enviados para o laboratório de patologia oral e a
maioria dos exemplos consiste no teto cístico que foi excisado para facilitar a erupção do dente.
- Exibem o epitélio oral de superfície na porção superior. A lâmina própria subjacente mostra
infiltrado inflamatório variável. A porção profunda do espécime, que representa o teto do cisto,
mostra uma fina camada de epitélio escamoso não queratinizado.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
Pode não haver necessidade de tratamento porque o cisto geralmente se rompe espontaneamente,
permitindo a erupção do dente. Se isso não acontecer, então a simples excisão do teto do cisto
geralmente permite a rápida erupção do dente.
 Cisto gengival do recém-nascido
Também chamados de cistos alveolares do recém-nascido.
- São cistos pequenos, superficiais e tem conteúdo de queratina, são encontrados na mucosa
alveolar de crianças.
- Se originam dos remanescentes da lâmina dental (restos de Serres).
- São muito comuns, descritos em até a metade de todos os recém-nascidos. Mas, como
desaparecem espontaneamente pela ruptura dentro da cavidade oral, raramente são notadas ou
examinadas por biópsia.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
- Surgem como pequenas pápulas esbranquiçadas, geralmente múltiplas, na mucosa que recobre o
processo alveolar dos neonatos. Individualmente, em geral, medem não mais do que 2 a 3 mm de
diâmetro. O rebordo alveolar superior é mais comumente acometido do que o inferior.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
O cisto gengival intacto do recém-nascido exibe um revestimento epitelial delgado e achatado,
com uma superfície paraqueratinizada. O lúmen contém fragmentos de queratina.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
Não se indica tratamento para os cistos gengivais do recém-nascido, pois as lesões involuem
espontaneamente. As lesões raramente são observadas após os 3 meses de idade.
 Cisto gengival do adulto
É uma lesão incomum. Considera-se que represente a contraparte em tecidos moles do cisto
periodontal lateral, pois as características histopatológicas são similares, além da predileção, que é
marcante para ocorrência na região de canino e pré-molares inferiores (60% a 75% dos casos).
.
- Derivado de restos da lâmina dental (restos de Serres).
- Em raras ocasiões, pode se desenvolver na gengiva, no local de um enxerto gengival; contudo,
tais lesões provavelmente representam cistos de inclusão epitelial, que são uma consequência do
procedimento cirúrgico.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
- Clinicamente, aparecem como um nódulo indolor, em forma de cúpula, em geral com menos de
0,5 cm de diâmetro.
- Estão, quase sempre, localizados na gengiva vestibular ou na mucosa alveolar. Na maxila,
geralmente são encontrados nas regiões de incisivo, caninos e pré-molares.
- Eles frequentemente são de cor azulada ou cinza-azulada.
Em alguns casos, o cisto pode causar uma “reabsorção em taça” superficial do osso alveolar, o que
geralmente não se detecta na radiografia, mas se torna aparente quando o cisto é excisado
(extraído). Se houver ausência de maior quantidade de osso, pode-se argumentar que a lesão pode
ser um cisto periodontal lateral que erodiu a cortical óssea, em vez de um cisto gengival que se
originou na mucosa. (Neste caso, pode ser um diagnóstico diferencial).
- São mais comumente encontrados em pacientes na quinta e sexta décadas de vida.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
São similares àquelas do cisto periodontal lateral.
- Tem revestimento epitelial delgado e achatado, com ou sem placas focais que contêm células
claras. Pequenos ninhos de células claras ricas em glicogênio, que representam restos de lâmina
dental, também podem ser observados no tecido conjuntivo circunjacente. Algumas vezes, o
revestimento cístico é tão delgado que é facilmente confundido com o revestimento endotelial de
vasos sanguíneos dilatados.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
O cisto gengival do adulto responde bem à simples excisão cirúrgica. O prognóstico é excelente.
 Cisto periodontal lateral
O cisto periodontal lateral ou cisto odontogênico botrioide é incomum e ocorre tipicamente ao
longo da superfície radicular lateral de um dente. Acredita-se que surja dos restos da lâmina dental
e represente a contraparte intra-óssea do cisto gengival do adulto.
- No passado, o termo cisto periodontal lateral era usado para descrever qualquer cisto que se
desenvolvia ao longo da superfície radicular lateral, incluindo os cistos radiculares laterais e os
ceratocistos odontogênicos. Contudo, ele apresenta características clínicas e microscópicas
distintivas que o diferem de outras lesões que algumas vezes se desenvolvem na mesma
localização.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
- O cisto periodontal lateral é mais frequentemente uma lesão assintomática que somente é
detectada durante um exame radiográfico.
- Ocorre com maior frequência em pacientes da quinta à sétima décadas de vida, raramente
ocorrendo em pessoas com menos de 30 anos de idade.
- Cerca de 75% a 80% dos casos ocorre na região de prémolares, canino e incisivo lateral
inferiores.
- Ocasionalmente, a lesão pode apresentar um aspecto policístico; denominados cistos
odontogênicos botrioides. Macro e microscopicamente, exibem um aspecto de cachos de uva.
Consideram-se tais lesões como uma variante do cisto periodontal lateral, possivelmente surgindo
como resultado de degeneração cística e subsequente fusão de focos adjacentes de restos da
lâmina dental.
- Radiograficamente, aparece como uma área radiolúcida localizada lateralmente à raiz ou raízes
de dentes com vitalidades (diferente dos cistos radiculares inflamatórios). A maioria desses cistos
possui menos de 1,0cm em seu maior diâmetro.
- As características radiográficas do cisto periodontal lateral não são suficientes para fechar o
diagnóstico; um ceratocisto odontogênico que se desenvolve entre as raízes de dentes adjacentes
pode exibir achados radiográficos idênticos. Um cisto radicular inflamatório que ocorre
lateralmente à raiz, em relação ao forame acessório, ou um cisto que surge a partir de uma
inflamação periodontal também podem simular radiograficamente um cisto periodontal lateral.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
Cápsula: fibrosa delgada, geralmente sem inflamação. Restos epiteliais dessas células algumas
vezes podem ser observados dentro da parede fibrosa.
Epitélio: possui, em sua maior parte, apenas de uma a três camadas de espessura e geralmente
consiste em células escamosas achatadas, mas podem ser cuboides. Focos de células claras ricas
em glicogênio podem estar espalhados entre as células do revestimento epitelial. Raramente, os
cistos odontogênicos botrioides exibem área focais que são histopatologicamente sugestivas de um
cisto odontogênico glandular.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
A enucleação conservadora do cisto periodontal lateral é o tratamento de escolha. Geralmente, isso
pode ser atingido sem danos aos dentes adjacentes. A recidiva não é comum, apesar de ter sido
relatada na variante botrioide, presumidamente devido a sua natureza policística.
 Queratocisto odontogênico
- O queratocisto odontogênico é uma forma diferente de cisto odontogênico, devido às suas
características histopatológicas e comportamento clínico específicos, apresentam um mecanismo
de crescimento e comportamento biológico diferentes daqueles do cisto dentígero e do cisto
radicular, que são mais comuns.
Por exemplo, não continuam a crescer como consequência do aumento da pressão osmótica dentro
do lúmen cístico. Seu crescimento pode estar relacionado a fatores desconhecidos, inerentes ao
próprio epitélio ou à atividade de enzimas na cápsula.
- Há uma concordância de que o ceratocisto odontogênico surge a partir dos restos celulares da
lâmina dental.
- Diversos investigadores sugerem que os ceratocistos odontogênicos sejam considerados uma
neoplasia cística benigna, em vez de como cistos, e foram até classificados pela OMS, como
“tumor odontogênico ceratocístico”, pois alguns estudos mostraram alterações genéticas
moleculares que estão também presentes em algumas neoplasias. Infelizmente, esses estudos não
examinaram outras lesões císticas; portanto, atualmente não se sabe se essas alterações são
exclusivas do ceratocisto odontogênico.
- Diversos estudos indicam que ele é responsável por 3% a 11% de todos os cistos odontogênicos.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
- Podem ser encontrados em pacientes com idade variável, desde a infância até a velhice. Há uma
leve preferência por homens.
- A mandíbula é acometida em 60% a 80% dos casos, com uma marcante tendência para o
envolvimento do corpo posterior e do ramo da mandíbula.
- Pequenos ceratocistos odontogênicos geralmente são assintomáticos e descobertos somente
durante exame radiográfico. Os de grandes dimensões podem estar associados a dor, edema ou
drenagem, mas também podem ser assintomáticos.
- Tendem a crescer em uma direção ântero-posterior, dentro da cavidade medular do osso, sem
causar expansão óssea óbvia. Essa característica pode ser útil para o diagnóstico diferencial clínico
e radiográfico, pois os cistos dentígeros e radiculares de tamanho comparável geralmente estão
associados à expansão óssea.
- Além disso, dente não erupcionado está envolvido na lesão em 25% a 40% dos casos; em tais
instâncias, as características radiográficas sugerem o diagnóstico de um cisto dentígero.
- A reabsorção das raízes dos dentes erupcionados adjacentes aos ceratocistos odontogênicos é
menos comum do que a notada com os cistos dentígero e radicular.
- Múltiplos ceratocistos odontogênicos podem estar presentes e tais pacientes devem ser avaliados
em busca de outras manifestações da síndrome do carcinoma nevoide basocelular (Gorlin),
particularmente se o paciente estiver na primeira ou segunda década de vida.
- Exibem uma área radiolúcida, com margens escleróticas frequentemente bem definidas.
- Lesões grandes, particularmente no corpo posterior e no ramo da mandíbula, podem se
apresentar multiloculadas.
- O diagnóstico baseia-se nas características histopatológicas, pois nos achados radiográficos,
apesar de serem frequentemente sugestivos, não são diagnósticos; em um ceratocisto
odontogênico podem simular aqueles de um cisto dentígero, de um cisto radicular, de um cisto
residual ou de um cisto periodontal lateral.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
Cápsula: delgada, friável (pode sofrer fragmentação), que muitas vezes provoca dificuldades em
ser enucleada do osso em um único pedaço. Microscopicamente, é essencialmente desprovida de
qualquer infiltrado inflamatório. Pequenas ilhas de epitélio odontogênico podem ser observados na
cápsula.
Lúmen: pode conter um líquido claro semelhante a transudato seroso ou um material caseoso que,
ao exame microscópico, consiste de restos em queratinócitos.
Epitélio: escamoso estratificado, geralmente com seis a oito células de espessura. O epitélio e a
ligação física com o tecido conjuntivo geralmente são planos, e a formação de cristas epiteliais é
discreta. Comum ocorrer destacamento de porções do revestimento epitelial da cápsula fibrosa do
cisto. A superfície é paraqueratinizado, com células achatadas, que exibem um aspecto ondulado
ou corrugado. A camada basal é em paliçada, de células epiteliais frequentemente hipercromáticas.
- Na presença de alterações inflamatórias, as características típicas do ceratocisto odontogênico
podem exibir alterações. A superfície paraceratinizada pode desaparecer e o epitélio pode
proliferar formando cristas epiteliais com perda da característica em paliçada da camada basal.
Quando essas alterações envolvem a maioria do revestimento cístico, o diagnóstico de ceratocisto
odontogênico não pode ser confirmado, a menos que outros cortes mostrem as típicas
características descritas previamente.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
- Apesar de poder haver suspeita da presença de um ceratocisto odontogênico a partir dos exames
clínicos e radiográficos, a confirmação histopatológica é requerida para o diagnóstico definitivo.
- A maioria dos ceratocistos odontogênicos são tratados com enucleação e curetagem. A remoção
completa de um cisto em uma única peça é difícil devido à natureza delgada e friável da cápsula.
- Em contraste com outros cistos odontogênicos, com frequência tendem a recorrer após o
tratamento. Ainda não se pode determinar com certeza se isso se deve a fragmentos do cisto
original que não foram removidos no momento da cirurgia, ou a “novos” cistos que se
desenvolveram a partir de restos da lâmina dental na área geral do cisto original.
- Muitos cirurgiões recomendam a osteotomia periférica da cavidade óssea com uma broca para
osso para reduzir a frequência de recidivas. Outros, uma cauterização química da cavidade óssea
com solução de Carnoy após a remoção do cisto. A injeção intraluminal de solução de Carnoy
também tem sido usada para liberar o cisto de sua parede óssea, permitindo, portanto, a facilitação
da excisão, com uma taxa menor de recidivas. Após cistectomia e biópsia incisional, alguns
cirurgiões têm tratado grandes ceratocistos odontogênicos através da inserção de um dreno de
polietileno para permitir a descompressão e a subsequente redução do tamanho da cavidade
cística. Esse tratamento descompressivo resulta em espessamento do revestimento cístico,
permitindo uma remoção mais fácil, com uma taxa de recidiva aparentemente mais baixa.
- Exceto a tendência para recidivas, o prognóstico geral para a maioria dos ceratocistos
odontogênicos é bom. Ocasionalmente, um ceratocisto odontogênico localmente agressivo não
pode ser controlado sem a ressecção local seguida de enxerto ósseo.
 Cisto odontogênico ortoqueratinizado
- A designação cisto odontogênico ortoceratinizado não denota um tipo clínico específico de cisto
odontogênico, mas apenas se refere a um cisto odontogênico que microscopicamente apresenta um
revestimento epitelial ortoceratinizado.
- Apesar de essas lesões terem sido originalmente denominadas como a variante ortoceratinizada
do ceratocisto odontogênico, é aceito, de forma geral, que eles são clinicopatologicamente
diferentes do ceratocisto odontogênico paraqueratinizado, que é mais comum, e devem ser
colocados em uma categoria diferente. Os cistos odontogênicos ortoceratinizados representam de
7% a 17% de todos os cistos ceratinizantes dos ossos gnáticos.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
Ocorrem predominantemente em adultos jovens e mostram uma razão de 2:1 entre homens e
mulheres.
- A lesão ocorre duas vezes mais frequentemente na mandíbula do que na maxila, com uma
tendência a envolver as regiões posteriores.
- Eles não apresentam características clínicas ou radiográficas que os diferenciem de outros
cistos odontogênicos inflamatórios ou do desenvolvimento.
- A lesão usualmente surge como uma imagem radiolúcida unilocular, mas podem ser
multiloculados. Cerca de dois terços são encontrados em uma lesão que parece representar clínica
e radiograficamente um cisto dentígero; eles envolvem mais frequentemente um terceiro molar
inferior não erupcionado. O tamanho pode variar de menos de 1cm até grandes lesões, maiores do
que 7cm de diâmetro.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
É composto por epitélio escamoso estratificado ortoceratinizado de espessura variada. Os grânulos
de cerato-hialina (precursores da queratina) podem estar na camada superficial do epitélio
subjacente à ortoqueratina. O revestimento epitelial pode ser delgado, e uma camada basal em
paliçada proeminente, característica do ceratocisto odontogênico, não está presente.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
A enucleação seguida de curetagem é o tratamento usual para os cistos odontogênicos
ortoceratinizados. As recidivas raramente têm sido observadas.
- Foi sugerido que os cistos com uma superfície ortoceratinizada podem apresentar um risco
levemente aumentado para transformação maligna, mas as evidências para esse fato são escassas.
Os cistos odontogênicos ortoceratinizados não estão associados à síndrome do carcinoma nevoide
basocelular.
 Cisto odontogênico calcificante
Lesão incomum que demonstra considerável diversidade histopatológica e comportamento clínico
variável.
- Alguns cistos odontogênicos calcificantes parecem representar cistos não neoplásicos; outros,
como tumores odontogênicos epiteliais de células fantasmas, não apresentam características
císticas, podem ser infiltrativos ou até mesmo malignos, e são considerados como neoplasias.
- Além disso, o cisto odontogênico calcificante pode estar associado a outros tumores
odontogênicos reconhecidos, como os odontomas. Contudo, os tumores odontogênicos
adenomatoides e os ameloblastomas também se apresentam em associação com os cistos
odontogênicos calcificantes.
- A OMS agrupa os cistos odontogênicos calcificantes, com todas as suas variantes, juntamente
com os tumores odontogênicos, em vez de com os cistos odontogênicos.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
- É predominantemente uma lesão intra-óssea, apesar de 13% a 30% dos casos nas séries relatadas
terem se apresentado como lesões periféricas (extraósseas). As duas formas ocorrem com
frequência aproximada na maxila e na mandíbula.
- Cerca de 65% dos casos são encontrados nas regiões de incisivos e caninos.
- Os pacientes podem ter idade variando da infância à velhice. A maioria dos casos é
diagnosticada na segunda e terceira décadas de vida. As raras variantes neoplásicas dele parecem
ocorrer em pacientes mais velhos; devido à escassez de casos relatados, contudo, isso pode não ser
significativo. Os cistos odontogênicos calcificantes que estão associados aos odontomas tendem a
ocorrer em pacientes mais jovens.
- O cisto odontogênico calcificante central geralmente se apresenta como uma lesão radiolúcida,
unilocular, bem definida, apesar de a lesão poder ser multilocular. Estruturas radiopacas dentro da
lesão, quer sejam calcificações irregulares ou de densidade semelhante ao osso, estão presentes em
cerca de um terço à metade dos casos.
- Em aproximadamente um terço dos casos, a lesão radiolúcida está associada a um dente não
erupcionado, com maior frequência o canino.
- A maioria dos cistos odontogênicos calcificantes mede entre 2 e 4 cm em seu maior diâmetro,
mas lesões com até 12 cm já foram observadas.
- A reabsorção radicular ou a divergência (afastamento) dos dentes adjacentes podem ser
observadas com alguma frequência.
- Os cistos odontogênicos calcificantes extraósseos se apresentam como massas gengivais sésseis
(sem base) ou pedunculadas (com base), sem características clínicas específicas. Eles podem se
assemelhar a fibromas gengivais comuns, cistos gengivais ou granulomas de células gigantes
periféricos.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
- As formas císticas (não neoplásicas) compreendem cerca de 86% a 98% dos cistos
odontogênicos calcificantes em diversas séries descritas. Eles podem ocorrer tanto na forma
intraóssea quanto na extraóssea.
Cápsula: fibrosa
Epitélio: de 4 a 10 células de espessura. As células basais do revestimento epitelial podem ser
cuboides ou colunares, semelhantes a ameloblastos. A camada sobrejacente de epitélio, arranjada
frouxamente, pode lembrar o retículo estrelado de um ameloblastoma.
- O aspecto histopatológico mais característico do cisto odontogênico calcificante é a presença de
um número variável de “células fantasmas” dentro do componente epitelial, que são células
epiteliais alteradas caracterizadas pela perda do núcleo com preservação do arcabouço básico da
célula. Alguns acreditam que essa alteração represente a necrose de coagulação ou o acúmulo de
proteína do esmalte; outros afirmam que é uma forma de ceratinização normal ou aberrante do
epitélio odontogênico.
- Massas de células fantasmas podem se fusionar, formando grandes lençóis de material amorfo e
acelular. Calcificações são comuns em meio às células fantasmas.
- Áreas de um material de matriz eosinofílica (dentinoide), também podem estar presentes
adjacentes ao componente epitelial. Acredita-se que surjam como consequência do efeito indutivo
do epitélio odontogênico sobre o tecido mesenquimal adjacente.
- Diversas variantes do tipo cístico do cisto odontogênico calcificante são observadas:
* Em alguns casos, o revestimento epitelial prolifera para o lúmen de forma que ele se apresenta,
em grande parte, preenchido por aumentos de volume de células fantasmas e calcificações
distróficas. Múltiplos cistos-filhos podem estar presentes na cápsula fibrosa, e uma reação de
corpo estranho às células fantasmas extravasadas pode ser conspícua.
* Em outra variante, a proliferação epitelial uni ou multifocal do revestimento do cisto em direção
ao lúmen pode lembrar o ameloblastoma. Essas proliferações são entremeadas por um número
variado de células fantasmas. Essas proliferações epiteliais lembram, mas não satisfazem, o
rigoroso critério histopatológico para o diagnóstico de ameloblastoma.
* Cerca de 20% dos cistos odontogênicos calcificantes císticos estão associados a odontomas.
Essa variante geralmente é uma lesão unicística, que mostra as características de um cisto
odontogênico calcificante juntamente com um pequeno odontoma complexo ou composto.
- Cistos odontogênicos calcificantes neoplásicos (sólidos) são incomuns, sendo responsáveis por
2% a 16% de todos os cistos odontogênicos calcificantes nas séries descritas. Eles podem ser intra
ou extraósseos.
- As formas extraósseas da variante sólida parecem ser mais comuns. Elas mostram ilhas de
epitélio odontogênico em um estroma fibroso. As ilhas epiteliais mostram células colunares em
paliçada periférica e um retículo estrelado central, que lembra o ameloblastoma. Contudo, ninhos
de células fantasmas estão presentes no epitélio e há, comumente, a presença de dentinoide
justaepitelial. Essas características diferenciam essa lesão do ameloblastoma periférico.
- A variante intraóssea rara é um tumor sólido que consiste em ilhas de epitélio odontogênico
semelhantes ao ameloblastoma dispersos em estroma de tecido conjuntivo fibroso. Estão
presentes, células fantasmas e material dentinoide justaepitelialmente. Um pequeno número de
tumores epiteliais odontogênicos de células fantasmas (carcinoma odontogênico de células
fantasmas) agressivos ou malignos foi relatado. Essas lesões apresentam pleomorfismo celular e
atividade mitótica com invasão dos tecidos adjacentes.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
- Tratamento: enucleação simples, sendo relatadas poucas recidivas.
- Quando um cisto odontogênico calcificante está associado a algum outro tumor odontogênico
reconhecido, tal como um ameloblastoma, o tratamento e o prognóstico serão os mesmos que os
do tumor associado.
- Apesar de poucos casos terem sido relatados, os carcinomas odontogênicos de células fantasmas
parecem apresentar um comportamento imprevisível. As recidivas são comuns, e alguns poucos
pacientes morreram ou devido à doença local incontrolada, ou devido a metástases. Uma taxa de
sobrevida total em 5 anos de 73% foi calculada com base nos casos relatados.
4. Cistos não odontogênicos – Definição, características clínicas, radiográficas, histológicas e
tratamento das seguintes lesões:
Os cistos são considerados não odontogênicos pois nem sempre tem origem de remanescentes
epiteliais odontogênicos.
a. Cisto linfoepitelial oral
- O cisto linfoepitelial oral é uma lesão rara da cavidade oral, que se desenvolve dentro do tecido
linfoide oral. É microscopicamente semelhante ao cisto da fenda branquial (cisto linfoepitelial
cervical), porém de tamanho menor.
- O tecido linfoide é normalmente encontrado na cavidade oral e faringe, consistindo,
principalmente, no anel de Waldeyer, o qual inclui as amígdalas linguais e palatinas e as adenoides
faringianas.
- Além disso, amígdalas orais acessórias e agregados linfoides podem ocorrer no soalho bucal,
superfície ventral de língua e palato mole.
- Origem:
O tecido linfoide oral tem uma estreita relação com o epitélio de revestimento da mucosa.
- Uma possível origem seria: este epitélio invagina para o tecido amigdaliano, resultando em
criptas amigdalianas que podem se tornar obstruídas ou estreitadas na superfície, produzindo um
cisto preenchido por queratina dentro do tecido linfoide, logo abaixo da superfície mucosa.
- Também é possível que os cistos linfoepiteliais orais se desenvolvam de epitélio da mucosa de
superfície ou do epitélio de glândula salivar que ficou retido no tecido linfoide durante a
embriogênese.
- Foi sugerido ainda que possam surgir de ductos excretores da glândula sublingual ou de
glândulas salivares menores, e que o tecido linfoide associado representa uma resposta
imunológica secundária.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
- O cisto linfoepitelial oral apresenta-se como uma massa submucosa pequena, geralmente menor
que 1 cm de diâmetro;
- Pode ser firme ou mole à palpação, e a mucosa de revestimento é macia e não ulcerada.
- Caracteristicamente, a lesão é branca ou amarela e muitas vezes contém em sua luz queratina
com aspecto caseoso ou cremoso.
- Geralmente é assintomático, embora, ocasionalmente, alguns pacientes queixem-se de tumefação
ou drenagem. A dor é rara, porém pode ocorrer secundariamente a um traumatismo.
- Podem se desenvolver em qualquer idade, porém são mais frequentes em adultos jovens.
- A localização mais comum é o soalho bucal, com pelo menos metade dos casos ocorrendo nesta
região. A superfície ventral e lateral da língua são as outras localizações comuns. Tais cistos
também podem se desenvolver na amígdala palatina ou no palato mole. Todas estas localizações
representam áreas de tecido linfoide oral normal ou acessório.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
Epitélio escamoso estratificado dentitinizado sem projeções para o conjuntivo. Em raras ocasiões,
pode, conter células mucosas no tecido epitelial. Pode haver células epiteliais descamadas no
lúmen. Ocasionalmente, os cistos podem comunicar-se com a mucosa de revestimento.
O achado mais notável é a presença de tecido linfoide na parede cística. Na maioria dos casos,
este tecido linfoide circunda o cisto, porém, algumas vezes, ocorre em apenas uma parte da parede
do cisto. Usualmente, mas nem sempre, os centros germinativos podem estar presentes.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
O cisto linfoepitelial oral é em geral tratado pela excisão cirúrgica e a recidiva geralmente não
ocorre.
- Pelo fato de a lesão ser assintomática e inócua, a biópsia nem sempre é necessária, desde que a
lesão seja característica o bastante para o diagnóstico ser feito com base na clínica.
b. Cisto nasolabial
O cisto nasolabial, cisto nasoalveolar ou ciso de Klestadt é um cisto do desenvolvimento raro que
ocorre no lábio superior, lateral à linha média.
- A sua patogênese é desconhecida, embora existam duas teorias principais:
- Uma teoria considera o cisto nasolabial um cisto “fissural” originado de remanescentes epiteliais
aprisionados ao longo da linha de fusão do processo maxilar, processo nasal mediano e processo
nasal lateral.
- Uma segunda teoria sugere que se desenvolvam pela deposição ectópica do epitélio do ducto
nasolacrimal, devido à sua localização e aspecto histológico semelhantes.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
O cisto nasolabial apresenta-se como um aumento de volume do lábio superior lateral à linha
média, resultando na elevação da asa do nariz. Muitas vezes, o aumento eleva a mucosa do
vestíbulo nasal e causa apagamento do fundo de vestíbulo. Esta expansão pode resultar em
obstrução nasal ou interferir na utilização de uma prótese.
- A dor é rara, exceto quando a lesão está infectada secundariamente.
- O cisto pode se romper espontaneamente e drenar para a cavidade oral ou nasal.
- São observados com maior frequência em adultos, com pico de prevalência na quarta e quinta
décadas de vida. Existe uma predileção significativa pelo gênero feminino, com relação mulheres-
homens de 3:1.
- Aproximadamente 10% dos casos relatados são bilaterais.
- Como o cisto nasolabial origina-se nos tecidos moles, na maioria dos casos não há alterações
radiográficas. Ocasionalmente, pode ocorrer reabsorção do osso subjacente pela pressão exercida
pelo cisto.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
Epitélio: caracteristicamente epitélio colunar pseudoestratificado, exibindo muitas vezes células
caliciformes e ciliadas. Áreas de epitélio cúbico e metaplasia escamosa não são raras. Alterações
apócrinas também foram relatadas.
- Cápparasula: composta de tecido conjuntivo fibroso com tecido muscular esquelético adjacente.
A inflamação pode ser observada quando a lesão está infectada secundariamente.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
O tratamento de eleição consiste na remoção cirúrgica total por acesso intraoral.
- Como a lesão geralmente está próxima ao soalho nasal, muitas vezes é necessário retirar uma
parte da mucosa nasal para garantir a remoção completa da lesão. A recidiva é rara. Recentemente
foi sugerida uma abordagem alternativa via cavidade nasal que permite a marsupialização
endoscópica da lesão.
c. Cisto do ducto nasopalatino
- O cisto do ducto nasopalatino ou cisto do canal incisivo é o cisto não odontogênico mais comum
da cavidade oral, ocorrendo em cerca de 1% da população.
- Acredita-se que ele se origine de remanescentes do ducto nasopalatino, uma estrutura
embrionária que liga a cavidade nasal e oral na região do canal incisivo.
- Nos mamíferos, os ductos nasopalatinos podem se comunicar com os órgãos de Jacobson vômer-
nasais, atuando como um órgão olfativo acessório. Entretanto, em humanos, o órgão de Jacobson
geralmente regride na vida intrauterina e se torna um órgão vestigial. Foi sugerido que o cisto do
ducto nasopalatino possa surgir do epitélio do órgão de Jacobson, porém isso parece pouco
provável.
- Outros possíveis fatores etiológicos sugeridos são: o trauma, infecção do ducto e retenção de
muco das glândulas salivares menores adjacentes.
- Embora a patogênese desta lesão ainda seja desconhecida, provavelmente ela representa uma
degeneração cística espontânea de remanescentes do ducto nasopalatino.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS
- O cisto do ducto nasopalatino pode se desenvolver praticamente em qualquer idade, porém ele é
mais comum na quarta a sexta décadas de vida. Apesar de ser um cisto do “desenvolvimento”, o
cisto do ducto nasopalatino é raramente observado durante a primeira década de vida. A maioria
dos estudos mostra uma preferência pelo gênero masculino.
- Os sinais e sintomas mais comuns incluem tumefação da região anterior do palato, drenagem e
dor. Contudo, muitas lesões são assintomáticas, sendo identificadas em radiografias de rotina.
Raramente, um cisto grande pode produzir uma expansão “completamente” flutuante, envolvendo
a região anterior do palato e a mucosa alveolar.
- As radiografias geralmente demonstram uma lesão radiolúcida bem-circunscrita próxima ou na
linha média da região anterior de maxila, entre os ápices dos incisivos centrais.
- A reabsorção radicular é raramente notada.
- A lesão em geral é redonda ou oval, com uma margem esclerótica.
- Alguns cistos podem ter um formato de pera invertida, possivelmente devido à resistência das
raízes dos dentes adjacentes. Outros casos podem exibir o formato clássico de cio, como resultado
da sobreposição da espinha nasal ou pelo chanframento causado pelo septo nasal. O diâmetro
radiográfico do cisto do ducto nasopalatino pode variar de lesões pequenas, menores que 6 mm, a
lesões grandes destrutivas com mais de 6 cm. Entretanto, a maioria dos cistos varia de 1 a 2,5 cm,
com diâmetro médio de 1,5 a 1,7 cm.
- Pode ser difícil distinguir um cisto do ducto nasopalatino pequeno de um forame incisivo grande.
Geralmente, considera-se que 6 mm é o limite máximo para o tamanho de um forame incisivo
normal. Logo, uma imagem radiolúcida com 6 mm ou menos nesta área é considerada um forame
normal, exceto quando outros sinais e sintomas estejam presentes.
- Em raras ocasiões, um cisto do ducto nasopalatino pode se desenvolver nos tecidos moles da
papila incisiva sem qualquer envolvimento ósseo. Estas lesões são frequentemente chamadas de
cistos da papila incisiva. Estes cistos usualmente exibem uma coloração azulada devido ao
conteúdo líquido na luz do cisto.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
Epitélio: variável. Frequentemente, mais de um tipo de epitélio é encontrado no mesmo cisto. O
epitélio escamoso estratificado é o mais comum. O epitélio colunar pseudoestratificado tem sido
relatado desde um terço até três quartos de todos os casos. O epitélio cúbico simples e o epitélio
colunar são observados mais raramente. Células caliciformes e cílios podem ser encontrados em
associação do epitélio colunar.
- O tipo de epitélio pode estar relacionado com a posição vertical do cisto dentro do canal incisivo.
Cistos que se desenvolvem mais superiormente no canal, próximos à cavidade nasal, tendem a
apresentar epitélio respiratório, enquanto que aqueles localizados próximos à cavidade oral
geralmente exibem epitélio escamoso.
Cápsula: os componentes da parede do cisto podem auxiliar no diagnóstico. Em virtude de o cisto
do ducto nasopalatino se originar do canal incisivo, nervos de tamanho moderado, artérias
musculares pequenas e veias são frequentemente encontrados na parede do cisto.
- Pequenas glândulas mucosas têm sido observadas em um terço dos casos.
- Às vezes, podem ser encontradas pequenas ilhas de cartilagem hialina.
- Frequentemente, uma resposta inflamatória é notada na parede cística e pode variar de suave a
intensa. Tal inflamação é de natureza crônica e composta por linfócitos, plasmócitos e histiócitos.
Algumas vezes, células inflamatórias agudas (neutrófilos) podem ser observadas.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
Os cistos do ducto nasopalatino são tratados por enucleação cirúrgica. A biópsia é recomendada,
porque a lesão não é diagnosticada por radiográfia e existem outras lesões benignas e malignas
semelhantes ao cisto do ducto nasopalatino. O melhor acesso cirúrgico é realizado com um retalho
palatino rebatido após uma incisão ao longo da margem gengival lingual dos dentes anteriores
superiores. A recidiva é rara. A transformação maligna tem sido relatada em alguns casos
escassos, mas esta é uma complicação rara.
d. Cistos palatinos do recém-nascido ou pérolas de Epstein ou nódulos de Bohn
Pequenos cistos de desenvolvimento são comuns no palato de crianças recém-nascidas.
- Pesquisadores especulam que estes cistos de “inclusão” podem originar-se de duas maneiras:
- Na primeira, quando os processos palatinos se encontram e se fusionam na linha média, durante
a vida embrionária para formar o palato secundário, pequenas ilhas epiteliais podem ficar
aprisionadas por baixo do tecido ao longo da rafe palatina e formar cistos. -> As pérolas de
Epstein ocorrem ao longo da rafe palatina mediana e provavelmente surgem de epitélio
aprisionado ao longo da linha de fusão.
- Na segunda, estes cistos poderiam surgir de remanescentes epiteliais oriundos do
desenvolvimento de glândulas salivares menores do palato. -> Os nódulos de Bohn estão
espalhados pelo palato duro, muitas vezes próximo à junção entre os palatos, e acredita-se que
sejam derivados de glândulas salivares menores.
Estes dois termos têm sido confundidos na literatura e também, muitas vezes, têm sido utilizados
para descrever os cistos gengivais do recém-nascido, lesões com aparência semelhante que se
originam da lâmina dentária. Portanto, o termo cistos palatinos do recém-nascido deve ser
preferido para ajudar a distingui-los dos cistos gengivais do recém-nascido.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Os cistos palatinos do recém-nascido são muito comuns e têm sido relatados em 65% a 85% dos
neonatos.
- Os cistos são pequenos, variando de 1 a 3 mm, apresentando-se na forma de pápulas brancas ou
branco-amareladas que aparecem preferencialmente ao longo da linha média, na junção do palato
duro e mole. Às vezes, podem ocorrer em uma localização mais anterior ao longo da rafe ou
posteriormente, lateral à linha média.
- É observado em um grupo de dois a seis cistos, embora as lesões também possam ocorrer
isoladamente.
CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS
O exame microscópico revela cistos preenchidos por queratina, revestidos por epitélio escamoso
estratificado. Algumas vezes, estes cistos mostram uma comunicação com a superfície mucosa.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
Os cistos palatinos do recém-nascido são lesões inócuas, e nenhum tratamento é necessário.
- Eles sofrem regressão espontânea e raramente são observados quando a criança apresenta várias
semanas de vida. Provavelmente, o epitélio degenera, ou o cisto se rompe para a superfície
mucosa e elimina a queratina contida.
Referências
NEVILLE, B.W. et al. Patologia oral e maxilofacial. Rio de Janeiro: Elsevier Saunders, 2009.

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