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ANÁLISE DO DISCURSO | 51147

Período de Realização

Decorre de 6 a 13 de novembro de 2023

Data de Limite de Entrega

Dia 13 de novembro de 2023, até às 23h55 de Portugal Continental

Temática / Tema / Conteúdos

Linguagem inclusiva

Contextualização

“La langue - ce beau féminin préférable à idiome, triste


masculin - mérite les honneurs d'une analyse sans parti
pris.” (Charadeau 2018, p.4)
Leia com atenção esta crónica de Ricardo Araújo Pereira.

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Quem fala assim não é gago nem gaga

O ideal era termos um idioma em que as palavras não tivessem género,como alíngua
persa, falada no Irão, Tajiquistão e Afeganistão. Um facto que talvez explique os
notáveis progressos em matéria de igualdade de género que esses países registam

Ilustração: João Fazenda

Caros e caras leitores e leitoras,

Como todos aqueles e todas aquelas que têm estado empenhados e empenhadas
no uso de linguagem inclusiva bem sabem, há reaccionários e reaccionárias que
persistem em falar e escrever com evidente desrespeito pelo nosso esforço. Esses
e essas, é importante dizê-lo, não manifestam, com tal comportamento, uma
mera discordância linguística: são verdadeiros inimigos e verdadeiras inimigas da
igualdade de género. Aqueles e aquelas que são suficientemente teimosos e
teimosas para não se conformarem ao novo modelo bem podem alegar que isso
não faz deles e delas obstinados adversários e obstinadas adversárias de uma
sociedade mais igual. Não é verdade. Podem dizer que também sonham com uma
sociedade mais igual, mas menos ridícula. Não nos convencem. Bem sei que
alguns e algumas linguistas têm chamado a atenção para o facto de haver uma
diferença entre género gramatical e sexo biológico, mas estão errados e

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erradas. Quando afirmam que a gramática não é responsável pelo machismo não
estão a ser apenas ingénuos e ingénuas: estão a agir como criminosos e
criminosas. O nosso projecto, ao contrário do que dizem os mal-intencionados e
as mal-intencionadas, não é coisa de fanáticos e fanáticas. É uma tentativa de
endireitar o mundo, sintagma nominal a sintagma nominal, sintagma verbal a
sintagma verbal.

O ideal era termos um idioma em que as palavras não tivessem género, como a
língua persa, falada no Irão, Tajiquistão e Afeganistão. Um facto que talvez
explique os notáveis progressos em matéria de igualdade de género que esses
países registam. Por cá, teremos de ficar satisfeitos e satisfeitas com esta língua
enjeitada, que tem problemas difíceis de resolver. Por exemplo, como tornar
inclusiva a frase “O João e a Maria foram juntos ao cinema”? A palavra “juntos”,
no masculino, oprime obviamente a Maria. Mas a frase “O João e a Maria foram
junto e junta ao cinema” parece ser agramatical. Só vejo uma solução: que o João
e a Maria não vão ao cinema. Pelo menos até que estejamos habilitados e
habilitadas a encontrar uma forma de eles poderem assistir a filmes em liberdade
e segurança.

Os ingleses e as inglesas obtiveram há pouco tempo uma conquista importante: o


metro deixou de saudar os passageiros e as passageiras dizendo “Good morning,
ladies and gentleman”, ou seja, “Bom dia, senhoras e senhores”, e passou a dizer
“Good morning everyone”, isto é, “Bom dia a todos”, para não excluir as pessoas
que não se identificam como homem nem como mulher. O problema é que, em
português, a frase “Bom dia a todos” (que era, se bem estamos lembrados e
lembradas, a forma primitiva de “Bom dia a todos e todas”) exclui os mesmos
indivíduos. Para superar essa dificuldade, a filósofa brasileira Marcia Tiburi acaba
de editar o livro “Feminismo em comum para todas, todes e todos”. Percebendo
bem que a formulação “todos e todas” não era completamente inclusiva, Tiburi
acrescentou a forma “todes”.

Só dizendo “todes” conseguimos incluir toda a gente (por enquanto). O que


significa que os algarvios e as algarvias sempre foram inclusivos e inclusivas,
mesmo sem o saberem. Um abraço para esse povo. Quem fala assim não é gago.
Nem gaga.

(Crónica publicada na VISÃO 1302, de 15 de fevereiro de 2018)

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Objetivos

• Estimular a reflexão linguística;

• Identificar dois enunciados, extraídos de discursos políticos, de


mensagens em redes sociais (facebook, twitter, etc.) que
comprovadamente evidenciem o uso de linguagem inclusiva e que se
revistam de interesse para a análise do discurso;

• Os enunciados deverão ser datados dos dois últimos meses;


• Contextualizar, explicitando o contexto social, histórico e/ou
ideológico em que os enunciados surgem e indexar adequadamente os
excertos;
• Explicitar qual das correntes da análise do discurso será mais
apropriada para entender os exemplos;
• Justificar as razões da escolha, quer dos enunciados, quer da corrente
teórica;
• Mostrar, a partir dos exemplos recolhidos, a importância da análise
do discurso para o questionamento sobre este tópico, evidenciando
que, subjacente às escolhas lexicais e discursivas, podem estar
argumentos de ideologia, de manipulação na escolha de formas mais
dogmáticas, estereotipadas e conservadoras ou, ao invés, podemos
estar face a usos criativos e arrojados que visam defender a igualdade
de género.
• Expresse a sua posição relativamente a este tema de enorme
atualidade e sustente-a com argumentos linguísticos: o uso da
linguagem inclusiva será benéfico ou nefasto? Será possível criar
uma linguagem verdadeiramente inclusiva?

Competências:

No final deste trabalho, o estudante deverá:


§ Possuir capacidades de pesquisa e de análise linguístico-textual;
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§ Ter capacidade de recensear, de forma individual e criativa;
§ Aplicar os conhecimentos teóricos;

§ Reconhecer a importância da análise do discurso:

§ Posicionar-se perante uma questão da atualidade linguístico-discursiva.

Trabalho a desenvolver

Indicações importantes para a realização do e-fólio:

• Escolha, de forma original e criativa, dois enunciados que considere


interessantes para a temática abordada: “Linguagem inclusiva”. Pode recolhê-
los no seu quotidiano, em registo escrito, de discursos políticos, de textos
publicitários, de artigos de opinião, de mensagens nas redes sociais, etc.

• Documente-se sobre o contexto em que esses enunciados surgiram, quem os


proferiu ou escreveu, em que contexto, com que objetivo, em anotação
posposta aos enunciados recolhidos.

• Será valorizada naturalmente a pesquisa individual, original. Se possível,


transcreva fielmente os exemplos ou ilustre a partir de registos fotográficos
próprios ou outros fidedignos que consiga encontrar (scanner, por exemplo).

• Analise os enunciados e mostre por que razão estes são enunciados


inclusivos.

• Explicite de que forma a análise do discurso poderá ajudar à compreensão dos


motivos que subjazem ao seu uso.

• Posicione-se relativamente a esta temática: concorda com o uso de


linguagem inclusiva? Será possível criar uma linguagem inclusiva? Apresente
justificadamente os seus argumentos.

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Critérios de avaliação e cotação

A avaliação do e-fólio obedece aos seguintes critérios:


1. Rigor na escolha e criatividade na recolha dos materiais textuais. (10 pontos)
2. Pertinência e adequação desses materiais para o tema do e- fólio. (10 pontos)
3. Fundamentação dos argumentos expostos, decorrentes da reflexão teórica (10
pontos)
4. Posicionamento próprio, sustentado em argumentos credíveis. (10 pontos)
Total = 40 pontos = 4 valores

Normas a respeitar
Deve redigir o seu e-fólio na Folha de Resolução disponibilizada na turma e
preencher todos os dados do cabeçalho.

Todas as páginas do documento devem ser numeradas.

O e-fólio não deverá ultrapassar as duas páginas A4, escritas a letra Verdana ou
Arial 12.

Nomeie o ficheiro com o seu NOME de estudante, seguido da identificação


do E-fólio, segundo o exemplo apresentado Maria.Silva.efolioA.

Deve carregar o referido ficheiro para a plataforma no dispositivo E- fólio A até à data
e hora limite de entrega. Evite a entrega próximo da hora limite para se precaver
contra eventuais problemas.

O ficheiro a enviar não deve exceder 8 MB.

Votos de bom trabalho!

Isabel Roboredo Seara

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