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Pelo menos um elemento de cada um dos grupos advertiu Pedro Ramos de que,
provavelmente, a empresa jamais faria uso dos resultados que ele tinha descoberto.
Vários encarregados comentaram o facto de que, nos três últimos anos, já se tinham
efetuado dois inquéritos para analisar os problemas gerais da empresa e nada havia sido
feito de construtivo com os resultados. Pedro Ramos tranquilizou-os declarando que a
empresa parecia seriamente interessada na utilização dos resultados da sua análise.
Prometeu-lhes que recomendaria fortemente aos diretores que fosse dado “feedback” aos
participantes quanto aos resultados da análise organizacional e pressionaria a Direção
para tomar ações corretivas imediatas relativamente a alguns dos problemas mais
prementes.
Pedro Ramos conduziu duas sessões de análise organizacional em cada grupo às quintas-
feiras de manhã, durante cerca de 3h cada. A participação durante as reuniões foi aberta e
intensiva. Pedro Ramos estava otimista quanto ao facto dessas sessões de
“desenvolvimento das organizações” virem a ser uma força relativamente a uma mudança
construtiva da Divisão de Plásticos. Duas semanas depois da realização da última sessão,
Pedro Ramos enviou um relatório escrito à direção (aliás, como tinha sido pedido).
Apresenta-se, a seguir, uma copia desse relatório:
INTRODUÇÃO GERAL
AREAS DE PROBLEMAS
Rotação e Absentismo
Um problema importante que enfrentam os encarregados é a elevada taxa de rotação
(turnover) e absentismo entre o pessoal operacional com mais baixa qualificação. Por
exemplo, um encarregado referiu que “durante um ano, 110 trabalhadores deixaram a
secção de pintura”. Os encarregados possuem um sentimento de futilidade na sua luta
contra estes problemas. Muitos fatores fora do seu controlo - tais como salários baixos,
condições de trabalho difíceis e elevados subsídios de desemprego e outras regalias
encorajam a rotação. Foi referido que mesmo regulamentos oficiais, tais como as normas
OSI sobre a utilização de máscaras e de fatos de proteção, têm uma influência negativa
sobra a permanência e a assiduidade no trabalho.
Salário
Nenhuma outra área de problemas recebeu tanta atenção durante estas sessões. Os
encarregados consideraram que os seus salários eram mais baixos do que os auferidos
pelos encarregados de empresas semelhantes e mesmo quando comparados com os dos
seus próprios subordinados. Muitos encarregados realçaram o facto de um operário
ganhar mais do que a maioria dos encarregados, se tiver em atenção os rendimentos
provenientes dos prémios e das horas extraordinárias. O secretismo acerca da escala dos
salários é um campo de elevada preocupação, inclusive o desconhecimento da maneira
como se pode alcançar o salário máximo. Interrogados sobre o que seria um salário justo
para a chefia direta da empresa, foram expressas algumas opiniões de que mais uns euros
por hora já seria correto. Uma reclamação importante expressa foi a de que os
encarregados deveriam receber 1,5, em vez de 1,25 vezes, o salário normal pelas horas
extraordinárias.
Regalias Sociais
Algumas irritações menores foram manifestadas nesta área. Em geral, os encarregados
pensam que as suas regalias deveriam ser melhores do que as dos seus subordinados. Os
encarregados creem que as suas regalias apenas excedem a dos operários nas áreas do
subsídio de doença e no seguro de vida. Houve duas reclamações especificas: os
operários que trabalhem durante quatro sábados, auferem como prémio, o salário de um
dia, enquanto que os encarregados nada recebem; aos encarregados, ao contrário do que
acontece com os operários, é-lhes indicado qual o seu dia de folga aquando de um dia
feriado.
Prestígio
Os fatores responsáveis pelo baixo prestígio dos encarregados são múltiplos. O
sentimento de baixo prestígio observado pode ser ilustrado pelos comentários que se
seguem: “muito poucas pessoas aceitariam um trabalho de encarregado"; “o encarregado
é o bode expiatório que sofre o castigo das asneiras provocadas pelos outros"; “um
encarregado é o bombeiro que anda a apagar os incêndios”; “os encarregados sentem que
são moços de recados”; perante isto, o melhor é estabelecermo-nos por conta própria”; “o
pessoal da manutenção tem mais poder do que nós!”.
Segurança de Emprego
A segurança de emprego dos encarregados da Divisão de Plásticos está ameaçada.
Admirar-se-ão muito se a Divisão de Plásticos continuar a funcionar por muito mais
tempo. Reagem fortemente á reforma antecipada dos operários, sentindo que algumas
pessoas afastadas o foram por causa da sua idade cronológica e não por uma fraca
“performance” no trabalho. Também é evidente a preocupação que têm com a
possibilidade de virem a ser substituídos por empregados mais jovens e com mais elevada
instrução formal.
Gabinete de organização e Métodos
Existe um sério conflito entre o pessoal deste Gabinete e o grupo de encarregados. Do
ponto de vista destes últimos, muito desse pessoal é inexperiente relativamente à
produção e, consequentemente, estabelecem regras e processos não realistas. Consideram
que os engenheiros desta unidade utilizam as ideias dos encarregados e que mais tarde
são esses engenheiros quem recebe os benefícios provenientes dessa utilização.
Equipamento
Com algumas exceções, foi manifestada a opinião de que muito do equipamento da
Divisão de Plásticos era antiquado. Foram citados casos de equipamento que era obsoleto
porque era impossível adquirir peças para fazer reparações. ‘Esperam que com sucata nós
façamos milagres” é um sentimento típico. Foi sublinhado que os encarregados, e talvez
os operários, deveriam ser implicados na tomada de decisões acerca da compra de novo
equipamento. A falta de manutenção preventiva foi citada como uma das principais
razões para muitos dos problemas na área do equipamento.
Segurança
Os encarregados aceitariam muita bem um breve relembrar das coisas já aprendidas e
alguma informação nova neste tópico sempre atual. O responsável pela segurança neste
momento deverá ser o orientador do seminário porque é muito bem visto pelo pessoal.
Novos Encarregados
A formação destinada a novos encarregados deverá incluir uma orientação mais centrada
sobre o posto de trabalho. Talvez seja útil propiciar visitas a áreas de trabalho que não a
própria. Também se recomenda uma ação de aperfeiçoamento, cerca de seis meses a um
ano após terem assumido a função de encarregado.
“Horizonte” Industrial -.
Muitos encarregados sugeriram que seria interessante visitar fábricas de fornecedores e
de clientes. Entre outras vantagens, seriam úteis para os encarregados poderem explicar a
sua função.
4. Dar maior reconhecimento verbal e conceder louvores por uma boa “performance”.
10. Organizar uma sessão de “feedback” com o grupo acerca do relatório. O ideal
seriam duas reuniões, em cada uma delas um membro da Direção reunindo-se com
metade do grupo global. Discutiriam com os encarregados aquilo que os gestores da
produção pensam implantar para remediar alguns dos problemas indicados neste
relatório.
EFICIÊNCIA DO PROGRAMA
Sem a sessão de “feedback” destinada ao grupo mencionada acima e sem alguma ação
construtiva por parte da Direção em relação às áreas de problemas válidas, este programa
não alcançará o seu objetivo mais importante - a melhoria da eficiência organizacional.
Contudo, os objetivos de fornecer aos participantes uma melhoraria na comunicação entre
a supervisão da fábrica e a identificação das necessidades de formação, foram atingidos
(em minha opinião).
Pedro Ramos descreve a reação da direção a este relatório com as seguintes palavras:
“duas, três, quatro semanas, e ainda nenhuma reação da empresa. Telefonei-lhes e fui
informado pela secretária do Presidente de que o Sr. Jorge Martins (coordenador do
programa) enviar-me-ia uma curta resposta escrita. A carta chegou três dias depois e sofri
uma frustração chocante. Jorge Martins escreve uma breve nota onde diz que a empresa
tinha achado interessantes as minhas observações e que entrariam em contacto comigo se
surgisse essa necessidade. Tinham ignorado completamente os meus comentários acerca
da importância do “feedback’ e da ação da direção. O objetivo essencial do
desenvolvimento organizacional estava pervertido. Em vez de utilizar os meus resultados
para levar a cabo uma mudança construtiva, a empresa estava justamente a recolher
informação. O meu programa tinha abortado e a minha dignidade deontológica tinha sido
atingida. Senti-me ficar em dívida para com os participantes em algo que está para lá da
realização das sessões apoiadas pela empresa e dos cafés e bolos tomados em conjunto. O
trabalho de intervenção pode ser muito frustrante”.