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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE DIREITO

DIREITO

CADEIRA: DIREITOS FUNDAMENTAIS

2º Ano

Pós- Laboral

TEMA: Direitos fundamentais e Direitos tradicionais não-escritos em Moçambique

Da dignidade do juiz depende do


direito... O dia em que os juízes
tiverem medo, nenhum cidadão poderá
dormir tranquilo.

Eduardo J. Couture

UNIZAMBEZE
Beira,2023
UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE DIREITO

DIREITO

CADEIRA: DIREITOS FUNDAMENTAIS

2º Ano

IV GRUPO

Discente:

Alfredo Cumbe
Larissa Mayara
Regina sebastiana Tomo.
Ronaldo Fernandes Jemuce

Docente:

Mestre Stela Santos

UNIZAMBEZE
Beira,2023

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ÍNDICE
CAPITULO I.....................................................................................................................4

1.Introdução:......................................................................................................................4

2.OBJECTIVOS................................................................................................................5

2.1.Objectivos gerais:....................................................................................................5

2.2.Objectivos específicos:............................................................................................5

CAPITULO II....................................................................................................................6

3.Direitos Fundamentais E Direitos Tradicionais Não Escritos Em Moçambique...........6

3.1.Definição e importância dos direitos fundamentais:................................................6

3.2.Prevalência do grupo ou do individuo?...................................................................6

4.Reconhecimento Constitucional De Direito Tradicional...............................................7

4.1.A proteção dos direitos das minorias:......................................................................8

5.Direitos Tradicionais Não-Escritos Em Moçambique..................................................10

5.1.O Papel Dos Anciãos E Chefes Tradicionais Na Tomada De Decisões E Na


Resolução De Conflitos:..............................................................................................11

6.O Marco Legal Dos Direitos Fundamentais Em Moçambique....................................12

6.1.Entre Os Direitos Civis E Políticos Reconhecidos Estão:.....................................12

6.2.No Que Diz Respeito Aos Direitos Econômicos, Sociais E Culturais, A


Constituição Reconhece:..............................................................................................13

7.Avanços E Desafios Na Harmonização Dos Direitos Fundamentais E Os Direitos


Tradicionais Em Moçambique:.......................................................................................13

7.1.O Papel Dos Tribunais Na Conciliação Dos Sistemas Jurídicos:..........................15

7.2.Os Desafios Enfrentados Na Implementação E Proteção Dos Direitos


Fundamentais Em Comunidades Rurais E Isoladas:...................................................16

CAPITULO III................................................................................................................18

8.Conclusão:....................................................................................................................18

9.Bibliografia...................................................................................................................19

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CAPITULO I

1.Introdução:
Este trabalho aborda a questão dos direitos fundamentais e dos direitos tradicionais não-
escritos em Moçambique. Moçambique é um país situado na costa sudeste da África,
conhecido por sua diversidade cultural e história complexa. Desde sua independência
em 1975, o país tem buscado estabelecer um sistema jurídico que proteja os direitos
básicos e inalienáveis de seus cidadãos.

Os direitos fundamentais são aqueles considerados essenciais para a dignidade humana


e estão consagrados na Constituição da República de Moçambique, promulgada em
2004. Esses direitos abrangem uma ampla gama de áreas, incluindo direitos civis,
políticos, sociais, econômicos e culturais. Eles são fundamentais para a promoção da
justiça social, da igualdade perante a lei e da construção de uma sociedade democrática
e inclusiva.

Além dos direitos fundamentais, Moçambique reconhece a existência dos direitos


tradicionais não-escritos, que se baseiam nas práticas culturais e costumes das diversas
comunidades do país. Esses direitos são transmitidos oralmente de geração em geração
e são aplicados pelos líderes tradicionais e pelos tribunais locais. Eles abrangem
questões relacionadas à propriedade comunitária, gestão de recursos naturais, resolução
de conflitos e manutenção da ordem social.

Este trabalho busca explorar a interação entre os direitos fundamentais e os direitos


tradicionais não-escritos em Moçambique, considerando as tensões e os desafios que
podem surgir nesse contexto. Será discutido o papel da Constituição na proteção dos
direitos fundamentais, bem como a importância de garantir que os direitos tradicionais
não-escritos estejam em conformidade com os princípios e normas fundamentais
estabelecidos na Constituição.

Ao analisar essa dinâmica, pretende-se ressaltar a importância de um equilíbrio


adequado entre os direitos fundamentais e os direitos tradicionais não-escritos,
buscando promover a preservação da diversidade cultural e o respeito aos valores e
costumes das comunidades moçambicanas, sem comprometer os princípios universais
de justiça e igualdade.

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2.OBJECTIVOS
2.1.Objectivos gerais:
 Analisar a relação entre os direitos fundamentais e os direitos tradicionais não-
escritos em Moçambique.
 Compreender como esses sistemas coexistem e interagem dentro do contexto
jurídico e cultural do país.
 Investigar os desafios e conflitos que surgem na conciliação entre os direitos
fundamentais e os direitos tradicionais não-escritos em Moçambique.
 Avaliar os esforços realizados pelo Estado e pela sociedade civil para promover
a harmonização e a proteção dos direitos humanos, considerando os direitos
tradicionais não-escritos.

2.2.Objectivos específicos:
 Analisar a legislação constitucional de Moçambique que estabelece os direitos
fundamentais e sua relação com os direitos tradicionais não-escritos.
 Explorar os instrumentos internacionais de direitos humanos ratificados por
Moçambique e sua influência na proteção dos direitos fundamentais no país.
 Investigar os sistemas jurídicos tradicionais em Moçambique, como o costume e
a tradição, e examinar como esses sistemas são reconhecidos e integrados no
sistema legal formal.
 Avaliar as iniciativas adotadas pelo Estado moçambicano e pela sociedade civil
para garantir a harmonização e a proteção dos direitos fundamentais,
promovendo o diálogo intercultural e a valorização da diversidade cultural do
país.
 Propor recomendações e possíveis abordagens de reconciliação entre os sistemas
jurídicos e culturais em Moçambique, visando garantir a proteção e o exercício
pleno dos direitos humanos para todos os moçambicanos.

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CAPITULO II

3.DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS


TRADICIONAIS NÃO ESCRITOS EM MOÇAMBIQUE.
3.1.Definição e importância dos direitos fundamentais:
Os direitos fundamentais, também conhecidos como direitos humanos, são os direitos
inerentes a todas as pessoas, independentemente de sua raça, etnia, gênero, religião,
nacionalidade ou qualquer outra característica. Eles são considerados fundamentais
porque são essenciais para garantir a dignidade, a liberdade e o bem-estar dos
indivíduos.

A importância dos direitos fundamentais reside no fato de que eles são essenciais para
promover e proteger a dignidade humana. Eles fornecem um conjunto básico de padrões
que asseguram a igualdade, a justiça, a liberdade, a segurança e a participação de todos
os indivíduos na sociedade. Os direitos fundamentais incluem direitos civis e políticos,
como o direito à vida, à liberdade de expressão, à igualdade perante a lei, ao voto, à
privacidade, entre outros. Também abrangem direitos econômicos, sociais e culturais,
como o direito à educação, à saúde, ao trabalho digno, à moradia adequada e à cultura.

3.2.Prevalência do grupo ou do individuo?

O nosso ponto de partida para este tema e o seguinte;

Todos pertencemos necessariamente a diversos grupos-étnicos, religioso, políticos, etc.-


alguns deles são obviamente minoritários, vendo um conceito de minorias que e
contextual ou relacional e dinâmico. Daqui resulta uma natural tensão entre valores:
liberdade e igualdade; direito a igualdade e direito a diferença; interesses individuais e
interesses do grupo. Isso levanta diversas questões que podem abordadas nesse âmbito:
a) A liberdade deve ser garantida ao, indevido ou grupo em que esse se encere?

b) O livre desenvolvimento da personalidade, valor em que assenta a liberdade e


historicamente contingente e admite, por isso, modulações e favor dos grupos socias?

c) Reconhecida a liberdade do grupo, em que medida pode o seu exercício ser lesivo
para a liberdade individual dos seus membros?

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d) Em que medida pode a igualdade de oportunidades, postulada pelo estado social dos
nossos dias, em incindir nos condicionamentos derivados de uma cultura de grupo?

e) A igualdade implica a simulação ou pluralismo?

f) A sua garantia vem como a de igualdade de oportunidades podem coexistir com


descriminações ao nível social?

g) Caso negativo, como se concilia com liberdade da vida privada? Deve existir
descriminações positivas no sentido de o obter um certo equilíbrio?

4.RECONHECIMENTO CONSTITUCIONAL DE DIREITO


TRADICIONAL
A CRM no artigo 4 reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de conflitos
que coexiste na sociedade moçambicana, desde que não contrariem os valores e os
princípios fundamentas da constituição. Pontanto, através desse artigo se o estado em se
deixa o reconhecimento do direito tradicional, do direito costumeiro (consuetudinário).
Para alem deste artigo o estado vai alem ao colocar o direito tradicional como sendo um
dos objetivos fundamentais do estado moçambicano, mas concretamente no artigo 11/G,
designadamente a promoção de uma sociedade de pluralismo, tolerância e cultura de
paz, e linha E refere a afirmação da identidade moçambicana, das suas tradições e de
mais valores culturas.

Ainda manifesta-se também o direito tradicional no artigo 115/1 CRM que consagra a
promoção e do desenvolvimento da cultura e personalidade nacionais garante a livre
expressão das tradições e valores das sociedades moçambicana.

A CRM reconhece ainda as autoridades tradicionais quando refere no nr 118, que o


estado reconhece e valoriza a autoridade tradicional valorizada e legitimadas pelas
populações de acordo com direito consuetudinário.

E por fim, reconhece a CRM no seu artigo 9 a valorização das línguas nacionais como
património cultural e decacional e promove o seu desenvolvimento e sua utilização
crescente como línguas veiculares da nossa identidade.
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A CRM da tamanha importância ao direito consuetudinário que até colocou o mesmo
direito como um dos limites matérias para a revisão constitucional ao referir no artigo
300/1/G que as leis da revisão constitucional tem de respeitar o pluralismo de expressão.

Podemos afirmar que existe uma tutela objetiva da tradição pela relevância
constitucional que se da mesma em termos quantitativos e qualitativos, podendo esta ser
considerada um princípio fundamental da constituição moçambicana, o que não
significa como refere. VASCO PERREIRA DA SILVA. que esses direitos sejam
transferidos para órbitra estadual, muito por contrário, tento em atenção que esses
direitos pertencem a sociedade, cabendo ao estado apenas apoiar a sua consagração.

4.1.A proteção dos direitos das minorias:

A colocação deste problema da prevalência do individuo ou do grupo em que se integra


faz ressurgir a clássica contra posição entre as teorias liberais e as teorias conservadas
da constituição. Esta contra posição conduz a um verdadeiro beco sem saída: não evita
os riscos que, a liberdade real oferece uma ou outra posição.

A valorização do indevido conduz-nos, nesse caso, por um caminho de assimilação, a


assimilação totalitarista de que falava HERBERT MARCUSE, que ameace o individuo
da sociedade do consumo atual sendo os indevidos o suporte das tradições e identidades
e referência dos grupos diferenciados. A valorização dos grupos pode conduzir-nos a
opressão do indevido pela tradição.um dos debates suscitados pelo multiculturalismo
consiste no temor de um hipotético choque de civilizações e, em última estancia o
racismo.

Alcançado esse ponto, torna-se importante afirmar que não existe um verdadeira
contraposição entre o princípio da universalidade próprio dos direitos, liberdade e
garantias (artigo 35 CRM) e respeito pela diversidade social cultural e étnica. A
igualdade hoje, quando bem entediada, também o e na diversidade de facto, a
constituição não confunde a soberania popular com a maiorias. Consequentemente, não
existe contradição entre o estatuto da cidadania característico do modelo próprio da
legitimidade democrática e o pluralismo exigido pelo respeito pelas minorias.

Com tudo, uma coisa e o jogo das maiorias minorias, como regras de tomadas de
decisões coletivas e outra muito destinta é uma ordem constitucional que garanta a

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convivência pacífica entre as maiorias e as minorias; a ordem que regula o poder
constituído legitimamente com as minorias.

A resposta a esta questão devera obter-se, pois, pela afirmação da primazia dos direitos
individuais, independentemente do facto de pertencer ou não a uma minoria esta
posição a que parece mas adequada a ordem constitucional vigente, que consagra:

 A dignidade da pessoa humana (artigo 40 CRM)


 O livre desenvolvimento da personalidade;
 A proteção legal contra quaisquer formas de descriminação (artigo35
CRM),desde que interpretada numa perspetiva em que a pessoa não e o
individuo ensimesmado e abstrato, mas, antes, que forma, participa e vive numa
sociedade histórica concebida como plural e, portanto, aberta.

Sobre este ponto de vista, a ordem constitucional fornecemos os seguintes elementos


capazes de ser entendidos como operativos no sentido de proteção dos direitos das
minorias.

 Desde logo um direito geral de liberdade (artigo 35CRM) que devera ser
entendido como um princípio segundo o qual tudo o que não esta expressamente
proibida e lécito juridicamente principio que abre campo a afirmação do direito
da diferença.
 O direito fundamental a intimidade da vida privada (artigo 40 CRM),que
salvaguarda o âmbito ou o espaço próprio da vida privada, preservando-o de
interversões estranhas (publicas ou privadas),salvo a existência de bens
constitucionais justificativos.
 As liberdades de consciências e de expressão de pensamento, ideias e crenças
(artigo 48 e 54 CRM) em relação ao direito de comunicação (artigo 48/3 49/1 e
3 da CRM).
 Cabe ainda referir, na mesma linha, a liberdade de ensino (artigo 113/5 CRM);a
liberdade de formação religiosa e moral de acordo com as próprias convicções
(artigo 54/3 CRP) com efeito, estas liberdades podem ser entendidas como uma
projeção das liberdades ideológicas e de expressão do pensamento e ideias e
opiniões, cujo objeto consiste na transmissão de um determinado conjuntos de
conhecimento e valores.

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5.DIREITOS TRADICIONAIS NÃO-ESCRITOS EM
MOÇAMBIQUE
A diversidade cultural e étnica de Moçambique e seus reflexos nos direitos tradicionais

Moçambique é um país conhecido por sua rica diversidade cultural e étnica, abrigando
mais de 20 grupos étnicos distintos. Cada grupo étnico possui suas próprias tradições,
costumes, línguas e sistemas de governança, o que reflete na existência de uma
variedade de direitos tradicionais não-escritos.

A diversidade cultural e étnica de Moçambique desempenha um papel significativo na


forma como os direitos tradicionais são concebidos e praticados. Esses direitos são
transmitidos de geração em geração e enraizados nas tradições e valores das
comunidades locais. Eles são moldados pelas normas culturais, crenças espirituais,
práticas sociais e sistemas de governança tradicionais de cada grupo étnico.

Os direitos tradicionais não-escritos em Moçambique abrangem uma ampla gama de


aspectos da vida cotidiana, como direitos relacionados à terra, herança, casamento,
liderança comunitária, rituais religiosos, entre outros. Por exemplo, muitos grupos
étnicos em Moçambique têm sistemas de governança baseados na autoridade dos
anciãos e chefes tradicionais, que desempenham um papel central na tomada de
decisões, na resolução de conflitos e na preservação da cultura e tradição.

No contexto dos direitos à terra, as práticas tradicionais de posse e uso da terra são
valorizadas e reconhecidas. Em muitas comunidades, a terra é considerada um recurso
coletivo, com sistemas de gestão e distribuição baseados em costumes e tradições locais.
O acesso à terra e aos recursos naturais é regido por princípios comunitários, costumes
ancestrais e práticas de partilha que têm sido preservados ao longo dos séculos.

No âmbito do casamento, as diferentes culturas em Moçambique têm suas próprias


normas e rituais relacionados ao casamento, como o dote, as cerimônias tradicionais e
as responsabilidades conjugais. Essas práticas refletem os valores, as tradições e os
papéis de gênero específicos de cada grupo étnico.

No entanto, é importante notar que, embora os direitos tradicionais sejam valorizados e


respeitados, há também desafios e dilemas quando se trata de harmonizar esses direitos
com os direitos fundamentais universais reconhecidos pela Constituição de
Moçambique. Às vezes, podem surgir conflitos entre as normas e práticas tradicionais e

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os princípios dos direitos humanos, especialmente em relação à igualdade de gênero,
aos direitos das crianças e às práticas consideradas prejudiciais, como a mutilação
genital feminina.

Nesse sentido, Moçambique tem buscado um equilíbrio entre o respeito aos direitos
tradicionais e a garantia dos direitos fundamentais universalmente reconhecidos. A
legislação nacional tem sido promulgada para proteger os direitos humanos e combater
práticas discriminatórias ou prejudiciais. Além disso, programas de conscientização e
educação têm sido implementados para promover o diálogo intercultural e a
compreensão mútua entre os sistemas jurídicos tradicionais e o sistema legal formal.

5.1.O Papel Dos Anciãos E Chefes Tradicionais Na Tomada De Decisões E


Na Resolução De Conflitos:
O papel dos anciãos e chefes tradicionais na tomada de decisões e na resolução de
conflitos é uma característica proeminente em muitas sociedades ao redor do mundo.
Esses líderes tradicionais desempenham um papel vital na governança local,
transmitindo conhecimentos ancestrais, preservando a cultura e desempenhando funções
de liderança dentro de suas comunidades.

Na tomada de decisões, os anciãos e chefes tradicionais geralmente possuem um papel


consultivo e deliberativo. Sua experiência e sabedoria são valorizadas, e eles são
frequentemente chamados para compartilhar sua perspectiva e oferecer orientação sobre
assuntos importantes. Por causa de sua posição de autoridade moral e respeito, as
decisões dos anciãos e chefes tradicionais costumam ser acatadas e seguidas pelos
membros da comunidade.

Além disso, os anciãos e chefes tradicionais desempenham um papel fundamental na


resolução de conflitos. Eles são considerados mediadores neutros e imparciais, capazes
de facilitar o diálogo e a negociação entre as partes envolvidas. Com base em sua
compreensão profunda da cultura e dos valores da comunidade, eles buscam encontrar
soluções justas e equilibradas para os conflitos, promovendo a harmonia e a
reconciliação.

Os anciãos e chefes tradicionais também são responsáveis por manter a ordem social e a
coesão comunitária. Eles são encarregados de aplicar as normas culturais e resolver
disputas internas, garantindo que todos os membros da comunidade sejam tratados com
justiça e respeito. Além disso, eles desempenham um papel importante na preservação
11
da identidade cultural, transmitindo conhecimentos tradicionais, histórias e valores às
gerações mais jovens.

É importante ressaltar que o papel dos anciãos e chefes tradicionais pode variar de
acordo com a cultura e o contexto específicos de cada comunidade. Em algumas
sociedades, eles podem ter poderes decisórios mais amplos, enquanto em outras suas
funções podem ser mais cerimoniais. No entanto, em muitos casos, a presença e
influência desses líderes tradicionais são valorizadas como uma fonte de estabilidade,
sabedoria e coesão social.

6.O MARCO LEGAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


EM MOÇAMBIQUE
O marco legal dos direitos fundamentais em Moçambique está estabelecido
principalmente na Constituição da República de Moçambique, promulgada em 2004. A
Constituição é a lei fundamental do país e garante uma série de direitos e liberdades
fundamentais para todos os cidadãos moçambicanos.

A Constituição de Moçambique reconhece e protege uma ampla gama de direitos


fundamentais, incluindo direitos civis e políticos, direitos econômicos, sociais e
culturais, bem como direitos coletivos e ambientais. Esses direitos estão contidos em
diferentes seções da Constituição, como a Declaração de Direitos, o Capítulo sobre os
Direitos, Deveres e Garantias Fundamentais e o Capítulo sobre o Ambiente e o
Patrimônio Natural.

6.1.Entre Os Direitos Civis E Políticos Reconhecidos Estão:


 Direito à vida e à integridade pessoal: Proteção contra a pena de morte,
tortura, tratamento cruel, desumano ou degradante.
 Liberdade de expressão e opinião: Garantia da liberdade de expressar
opiniões, ideias e informações, bem como da liberdade de imprensa e mídia.
 Liberdade de associação e reunião: Direito de formar associações, sindicatos e
partidos políticos, bem como de participar de reuniões e manifestações pacíficas.
 Liberdade de religião e crença: Liberdade de exercer qualquer religião ou
crença, desde que não viole os direitos de terceiros.

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 Direito à igualdade e não discriminação: Proibição da discriminação com base
em raça, etnia, gênero, religião, origem social, entre outras características.

6.2.No Que Diz Respeito Aos Direitos Econômicos, Sociais E Culturais, A


Constituição Reconhece:
 Direito à educação: Garantia do direito à educação gratuita e de qualidade para
todos.
 Direito à saúde: Direito de acesso aos cuidados de saúde e a um ambiente
saudável.
 Direito ao trabalho: Proteção contra a exploração e garantia de condições
justas e seguras de trabalho.
 Direito à moradia adequada: Garantia do direito a uma habitação adequada e
acessível.

Além disso, a Constituição reconhece os direitos coletivos, incluindo o direito à cultura,


e estabelece princípios de proteção ambiental e conservação do patrimônio natural.

Além da Constituição, Moçambique também é signatário de tratados internacionais de


direitos humanos, como a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres, a Convenção sobre os Direitos da Criança e o Pacto
Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Esses tratados
complementam o marco legal dos direitos fundamentais em Moçambique.

7.AVANÇOS E DESAFIOS NA HARMONIZAÇÃO DOS


DIREITOS FUNDAMENTAIS E OS DIREITOS
TRADICIONAIS EM MOÇAMBIQUE:
A.Iniciativas para a integração e harmonização dos direitos tradicionais com a
legislação nacional

A integração e harmonização dos direitos tradicionais com a legislação nacional é um


desafio complexo, mas é importante buscar soluções que respeitem tanto as tradições
culturais quanto os princípios e valores dos direitos humanos consagrados na legislação

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nacional. Aqui estão algumas iniciativas que podem ser adotadas para promover essa
integração:

 Diálogo e consulta: O diálogo aberto e inclusivo entre os representantes das


comunidades tradicionais e os formuladores de políticas e legisladores é
essencial. Isso envolve ouvir as perspectivas, preocupações e necessidades das
comunidades tradicionais, levando em consideração suas tradições e costumes
ao desenvolver leis e políticas.
 Reconhecimento legal: É importante que a legislação nacional reconheça e
valorize os direitos tradicionais, garantindo que eles sejam levados em
consideração na tomada de decisões. Isso pode ser feito por meio do
reconhecimento legal das práticas, costumes e instituições tradicionais, desde
que estejam em conformidade com os princípios fundamentais dos direitos
humanos.
 Adaptação e modernização: Em alguns casos, pode ser necessário adaptar as
práticas tradicionais para garantir que estejam em conformidade com os direitos
humanos. Isso pode envolver a revisão e modernização de práticas que possam
entrar em conflito direto com os princípios dos direitos humanos, enquanto se
preserva a essência cultural e o significado das tradições.
 Educação e conscientização: A educação e conscientização são cruciais para
promover a compreensão mútua entre as comunidades tradicionais e a sociedade
em geral. Isso envolve a educação sobre os direitos humanos, a legislação
nacional e os valores universais de igualdade, dignidade e justiça, bem como a
valorização das tradições culturais e do conhecimento tradicional.
 Mecanismos de resolução de conflitos: É importante estabelecer mecanismos
de resolução de conflitos que considerem tanto os princípios dos direitos
humanos quanto as tradições culturais. Isso pode envolver a criação de tribunais
ou órgãos de justiça alternativa que tenham expertise tanto na legislação
nacional quanto nos sistemas de justiça tradicionais, buscando soluções justas e
equitativas para os conflitos.
 Capacitação e fortalecimento das comunidades tradicionais: Capacitar as
comunidades tradicionais para que possam compreender melhor seus direitos e
obrigações, bem como os princípios dos direitos humanos, é fundamental. Isso

14
pode ser feito por meio de programas de capacitação, fortalecimento
institucional e fornecendo acesso à informação relevante.

É importante ressaltar que a integração e harmonização dos direitos tradicionais com a


legislação nacional requer um equilíbrio cuidadoso, levando em consideração os direitos
fundamentais e a diversidade cultural. O objetivo é encontrar soluções que respeitem os
direitos humanos e as tradições culturais, promovendo a igualdade, a dignidade e a
justiça para todas as pessoas dentro de uma sociedade multicultural e diversificada.

7.1.O Papel Dos Tribunais Na Conciliação Dos Sistemas Jurídicos:


Os tribunais desempenham um papel fundamental na conciliação dos sistemas jurídicos,
especialmente quando há divergências entre o sistema legal estabelecido e os sistemas
jurídicos tradicionais. Aqui estão alguns aspectos importantes do papel dos tribunais
nesse contexto:

 Interpretação e aplicação da lei: Os tribunais têm a responsabilidade de


interpretar e aplicar a lei de forma imparcial e justa. Quando se trata de conflitos
entre o sistema legal e os sistemas jurídicos tradicionais, os tribunais
desempenham um papel essencial na interpretação das leis aplicáveis e na
tomada de decisões que promovam a harmonia entre os diferentes sistemas.
 Proteção dos direitos fundamentais: Os tribunais são encarregados de proteger
os direitos fundamentais dos indivíduos, conforme estabelecido na legislação
nacional e em tratados internacionais de direitos humanos. Isso significa que, ao
conciliar os sistemas jurídicos, os tribunais devem garantir que os direitos e
liberdades fundamentais sejam preservados, independentemente das tradições
culturais ou costumes.
 Abordagem equitativa e justa: Os tribunais devem adotar uma abordagem
equitativa e justa ao lidar com conflitos entre o sistema legal e os sistemas
jurídicos tradicionais. Isso significa que as partes envolvidas devem ter a
oportunidade de apresentar seus argumentos e evidências, e as decisões judiciais
devem ser baseadas em princípios de justiça, igualdade e imparcialidade.
 Diálogo intercultural: Os tribunais têm a capacidade de facilitar o diálogo
intercultural entre o sistema legal e os sistemas jurídicos tradicionais. Ao
considerar as perspectivas, valores e costumes das comunidades envolvidas, os
tribunais podem promover uma compreensão mais profunda e uma resolução

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mais adequada dos conflitos, buscando um equilíbrio entre a preservação da
diversidade cultural e a proteção dos direitos humanos.
 Desenvolvimento do direito: A conciliação dos sistemas jurídicos também
pode contribuir para o desenvolvimento do direito, especialmente em relação à
evolução das normas e práticas jurídicas. Os tribunais têm a oportunidade de
estabelecer precedentes e criar jurisprudência que leve em consideração as
complexidades e especificidades dos sistemas jurídicos tradicionais, ao mesmo
tempo em que promove os princípios fundamentais dos direitos humanos.

É importante que os tribunais sejam imparciais, competentes e sensíveis às questões


culturais envolvidas na conciliação dos sistemas jurídicos. Além disso, é essencial
promover a educação e a conscientização tanto entre os membros do sistema judiciário
quanto nas comunidades sobre os direitos humanos e a importância da conciliação entre
os diferentes sistemas jurídicos para uma sociedade justa e inclusiva.

7.2.Os Desafios Enfrentados Na Implementação E Proteção Dos Direitos


Fundamentais Em Comunidades Rurais E Isoladas:
A implementação e proteção dos direitos fundamentais em comunidades rurais e
isoladas enfrentam diversos desafios devido às características específicas dessas áreas.
Aqui estão alguns dos desafios comuns:

 Acesso limitado à informação: Comunidades rurais e isoladas muitas vezes


enfrentam dificuldades no acesso à informação sobre seus direitos fundamentais.
A falta de infraestrutura, como acesso à Internet e meios de comunicação, pode
impedir que essas comunidades estejam cientes de seus direitos e dos recursos
disponíveis para sua proteção.
 Falta de recursos e serviços básicos: Muitas comunidades rurais e isoladas
enfrentam a escassez de recursos e serviços básicos, como água potável, energia
elétrica, educação e serviços de saúde. A falta desses recursos essenciais pode
afetar negativamente o desfrute dos direitos fundamentais pelos membros dessas
comunidades.
 Barreiras geográficas e de transporte: A localização remota e as dificuldades
de transporte podem tornar difícil o acesso aos serviços governamentais,
instituições judiciais e outros mecanismos de proteção dos direitos
fundamentais. A distância e as condições precárias de transporte podem ser

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obstáculos significativos para as comunidades rurais e isoladas em busca de
justiça e reparação em caso de violações dos direitos fundamentais.
 Barreiras linguísticas e culturais: As comunidades rurais e isoladas muitas
vezes possuem línguas e culturas distintas, o que pode criar barreiras na
comunicação e compreensão dos direitos fundamentais e dos mecanismos legais
de proteção. A falta de tradução adequada e de sensibilidade cultural pode
dificultar o acesso à justiça e a outros serviços governamentais.
 Desigualdades de gênero e discriminação: As comunidades rurais e isoladas
podem ser afetadas por desigualdades de gênero e discriminação, tornando
certos grupos mais vulneráveis a violações dos direitos fundamentais. Mulheres,
crianças, idosos, pessoas com deficiência e minorias étnicas podem enfrentar
obstáculos adicionais no exercício de seus direitos e no acesso à justiça.
 Fragilidade do Estado de direito: Em algumas áreas rurais e isoladas, a
presença e a capacidade do Estado para fazer cumprir a lei e proteger os direitos
fundamentais podem ser limitadas. A falta de recursos, pessoal qualificado e
infraestrutura pode enfraquecer a implementação e proteção efetiva dos direitos
fundamentais nessas comunidades.

Para enfrentar esses desafios, é necessário adotar abordagens abrangentes e inclusivas


que envolvam a colaboração entre governos, organizações da sociedade civil e
comunidades locais. Isso inclui investir em infraestrutura básica, melhorar o acesso à
informação e aos serviços, capacitar as comunidades para conhecer e reivindicar seus
direitos, promover a igualdade de gênero e sensibilidade cultural, além de fortalecer as
instituições de governança e a aplicação do Estado de direito nessas áreas.

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CAPITULO III

8.Conclusão:
Neste trabalho, foi realizado um estudo sobre a relação entre os direitos fundamentais e
os direitos tradicionais não-escritos em Moçambique, com o objetivo de compreender
como esses sistemas coexistem e interagem dentro do contexto jurídico e cultural do
país.

Foi observado que Moçambique é caracterizado por uma diversidade cultural


significativa, com diferentes grupos étnicos e comunidades que possuem seus próprios
sistemas jurídicos tradicionais. Ao mesmo tempo, o país reconhece a importância dos
direitos fundamentais como um princípio fundamental em sua Constituição e na adesão
a instrumentos internacionais de direitos humanos.

A análise revelou que existem desafios na conciliação entre os direitos fundamentais e


os direitos tradicionais não-escritos em Moçambique. Em certos casos, ocorrem
conflitos entre esses dois sistemas, o que demanda uma reflexão cuidadosa e um
equilíbrio adequado para garantir a proteção dos direitos humanos sem desconsiderar as
tradições culturais e os sistemas de justiça locais.

No entanto, também foram identificados esforços tanto por parte do Estado quanto da
sociedade civil para promover a harmonização e a proteção dos direitos fundamentais,
levando em consideração os direitos tradicionais não-escritos. O diálogo intercultural e
a valorização da diversidade cultural foram destacados como elementos cruciais nesse
processo.

Este estudo contribui para ampliar o entendimento sobre a complexidade dessa relação
em Moçambique, fornecendo insights importantes para futuras reflexões e possíveis
abordagens de reconciliação entre os sistemas jurídicos. Reconhecer e respeitar tanto os
direitos fundamentais quanto os direitos tradicionais não-escritos é fundamental para

18
promover uma sociedade justa e inclusiva, que valorize a diversidade cultural e garanta
a proteção e o exercício pleno dos direitos humanos para todos os moçambicanos.

9.Bibliografia
Constituição da República de Moçambique - República de Moçambique

SANTOS, Stela, contratos de Adesão nos Serviços Públicos essenciais, w editora,


novembro de 2017,

VASCO PEREIRA DA SILVA, a cultura a que tenho direito, Direitos fundamentais e


cultura, Almedina, setembro de 2007, pág. 59-60

HERBERT MARCUSE, Eros e Civilização, 5 Edição Rio de Janeiro, Zahar, 1972

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