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METODOLOGIA
FILOSÓFICA
Rio de Janeiro
2024
ÍNDICE
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3
PROGRAMA DE METODOLOGIA
FILOSÓFICA
Objetivo
O curso levará o aluno a compreender e utilizar o método de
pesquisa filosófico, aprofundando suas virtudes e revelando seus
limites, além de orientar no aperfeiçoamento das técnicas de
estudo que facilitam a apreensão, armazenamento e resgate dos
conteúdos das disciplinas filosóficas.
Ementa
Introdução: O que é Método; Distinção entre Método Formal e
Método Material; Condições da Verdade. Aprofundando a
Metodologia: Por que ler textos filosóficos; Tipos de Leitura;
Rastros de Leitura; Via Analítica - Resolutio; Via Sintética -
Compositio. Críticas ao Método: Virtudes do Método; Limites
do Método.
Conteúdo Programático
1. Introdução
a. O que é Método?
b. Distinção entre Método Formal e Método Material
c. Condições da Verdade
i. Verdade, o que é?
ii. Natureza do Erro
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iii. Critério de Verdade
2. Aprofundando o Método
a. Por que ler textos filosóficos?
i. Relação necessária
ii. Relação original
iii. Relação difícil
b. Tipos de Leitura
i. Dinâmica
ii. Aprofundada
c. Rastros de Leitura
i. Fichamentos
ii. Vocabulário Filosófico
d. Via Analítica - Resolutio
e. Via Sintética - Compositio
3. Críticas ao Método
a. Virtudes do Método
i. Método evita apaixonados
ii. Método explicita o processo
iii. Método é remédio contra falácias
b. Limites do Método
i. Método não é regra
ii. Método não é universal
Bibliografia Básica
FOLSCHEID, Dominique; WUNENBURGER, Jean-Jacques.
Metodologia Filosófica. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
5
HÜHNE, Leda Miranda (org.). Metodologia Científica: caderno de
textose técnicos. Rio de Janeiro: Agir, 1995.
JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1972.
Bibliografia Complementar
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcinio. Metodologia
Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
REY, Luís. Planejar e redigir trabalhos científicos. São Paulo: Edgard
Blücher, 1998.
SALLES, S. S. Análise e Síntese em Tomás de Aquino. Petrópolis: UCP,
2009.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico.
São Paulo: Cortez, 2002.
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INTRODUÇÃO
1
Versão de adágio grego. Encontramos referências em Orácio, Agostinho de Hipona e
Bento de Núrcia: “Preserva a ordem e a ordem te preservará”.
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Do mesmo modo, a história do pensamento já testemunhou períodos
em que a forma de transmissão do conhecimento era mais importante que o
conteúdo transmitido2. Nestes momentos específicos, o interesse da filosofia
limitava-se a entender as regras do raciocínio correto, sem se ocupar com o
conteúdo veritativo do raciocínio. O mais importante era o modo de produzir
discursos atraentes, mas sem a necessidade destes discursos serem
verdadeiros. O retor representa concretamente aquele que se ocupa mais com
o discurso que com o conteúdo do discurso. Outros momentos foram
marcados pela preponderância do valor epistêmico a ser comunicado sobre a
forma por meio do qual esse conteúdo era veiculado 3. Nesta etapa da história
do pensamento, o conteúdo a ser comunicado era infinitamente mais
importante que o modo como ele era apresentado. O espectador não era
valorizado na recepção dos conteúdos comunicados. Pois bem, o “modo” de
apresentação destes conteúdos epistêmicos; o “modo” de produção de
discursos convincentes; o “modo” de averiguação da conveniência de certos
discursos tratam todos do mesmo tema.
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lição que a história deixa a todos é a impossibilidade da separação completa
entre a forma e o conteúdo do conhecimento. Antes, a escolha do modo de
apresentação do conhecimento indica já que aspecto do conteúdo pretende-se
destacar; e a natureza do conhecimento transmitido dá indicações sobre o
melhor modo de propagação dos seus conteúdos específicos. Para ciências
naturais, é de se esperar a utilização de experimentos e induções; para ciências
do espírito, deseja-se argumentos racionais, mais distantes da empiria.
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O QUE É MÉTODO?
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Divisão da Filosofia:
1- Divisão Sistemática ou Teorética.
a - [Pura]
1.1- Disciplinas especulativas: a busca do saber pelo saber.
Metafísica ou Ontologia: estudo do ente.
Cosmologia Filosófica: estudo do mundo.
Psicologia Filosófica: estudo da alma.
Teodicéia ou Teologia Natural: estudo de Deus.
Gnosiologia: estudo do conhecimento humano.
Antropologia Filosófica: estudo do homem.
1.2- Disciplinas Práticas: o saber para agir.
Lógica: estudo dos atos próprios da razão (verdade).
Lógica Formal
Metodologia Formal
Lógica Material
Metodologia Material
Ética: ciência normativa do comportamento humano
(bem).
Estética: estudo do belo artístico (belo).
b - [Aplicada] Aqui surgem as “Filosofias de”:
1.1 - Filosofia da Educação; Filosofia do Direito; Filosofia
da Religião; Filosofia da Matemática; Filosofia
Política; Filosofia da História; Filosofia da
Linguagem; Filosofia da Ciência dentre outras.
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EXCURSO
4
ARISTÓTELES. Metafísica, 980a 1.
5
DESCARTES, Renée. Discurso do Método. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 37.
6
Id. Ibid. p. 37.
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Por causa da naturalidade deste princípio, sua sustentação não resiste
às críticas que a ele podem ser levantadas, nem é tão evidente que consiga
resistir às falácias e sofismas que um interlocutor e o próprio problema
podem incitar. Por isso, mesmo reconhecendo o valor e importância do
“Senso Comum”, Descartes sustenta que o mais importante na busca do
conhecimento é o caminho (ovdov"), a via a ser tomada quando se utiliza o
pensamento. Esta preferência já indica bastante bem o espírito que anima a
filosofia de Descartes:
Tão ou mais importante que ter “Bom Senso”, tão ou mais importante
que usar o “Bom Senso” nas decisões cotidianas, é o modo de utilização da
razão humana. Segundo este autor, o método utilizado para tomar tais
decisões e utilizar o “Bom Senso” é imprescindível. E mais: em alguns
momentos e problemas, por mais que o talento e o “Bom Senso” sejam
abundantes, o método sobrepuja e eleva a razão a patamares que, sozinho, o
“Senso Comum” não alcançaria. É o caso, por exemplo, das Provas da
Existência de Deus, que só com muito custo o Senso Comum obteria, mas
com Método e orientação, ele rapidamente reconhece e acede.
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Id. Ibid. p. 37.
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DISTINÇÃO ENTRE MÉTODO MATERIAL E MÉTODO FORMAL
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ATO FRUTO
Juízo → Proposição
Raciocínio → Argumento
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que constituem a expressão deste mesmo conteúdo, das mesmas
argumentações, depois de terminados todos os tratamentos formais a estas
informações. Portanto, toda metodologia material supõe alguma abordagem
formal, mas nem toda metodologia formal se apoia em ferramentas materiais.
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CONDIÇÕES DA VERDADE
VERDADE, O QUE É?
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PLATÃO. Mênon, 70a -72b.
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tão diferentes entre si (no caso os muitos tipos de abelhas) e reuni-los em uma
unidade tal que todos sejam identificados como iguais? Enfim, a simples
enumeração dos tipos de virtude sequer se aproxima da questão maximamente
filosófica sobre a natureza da virtude. O mesmo acontece no afamado diálogo
Laques, onde o soldado homônimo, almejando responder a pergunta socrática
acerca da coragem, inicia por desfiar uma gama de atitudes corajosas. Sócrates
novamente adverte seu interlocutor que a mera citação de várias atitudes
corajosas não é apta para definir o que é a coragem. Pelo contrário, é
justamente o conhecimento do que é a coragem que proporciona a
identificação de atitudes as quais, ainda que sejam todas distintas umas das
outras, chamamo-las a todas corajosas.
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Antes de tudo, importa sublinhar que a verdade não é uma coisa, não é
um objeto. Há alguma confusão no que diz respeito ao uso do conceito de
verdade. De fato, existem muitos modos de se dizer a verdade. Detalharemos
dois deles. Há uma verdade que chamamos de ontológica e há, também, uma
verdade denominada lógica. Dizendo de outra maneira: há uma verdade que é
reconhecida na realidade e outra verdade que é proclamada pela inteligência.
Com efeito, dizemos muitas vezes “ouro verdadeiro”, “sentimento
verdadeiro”, “quadro genuíno”, “vinho original”; outras vezes dizemos “este
ouro é caro”, “aquele sentimento é vergonhoso”, “o quadro não é belo”, “este
vinho está saboroso”. E esses dois modos de descrever o que vemos dizem
respeito a dois tipos distintos de verdade.
Com efeito, a verdade pode dizer algo sobre a natureza da coisa e algo
sobre aspectos acidentais da coisa. A verdade ontológica afirma características
do objeto consigo mesmo; a verdade lógica assevera aspectos da inteligência
quando se adequa ao objeto.
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1. A verdade pode estar desconhecida para a inteligência: é a
ignorância.
2. A verdade pode estar apenas possível para a inteligência: é a
dúvida.
3. A verdade pode ser apenas provável para a inteligência: é a
opinião.
4. A verdade é atingida com evidência pela inteligência: é a
certeza.
5. A verdade não é atingida pela inteligência: é o erro.
1. IGNORÂNCIA 2. DÚVIDA
3. OPINIÃO 4. CERTEZA
5. ERRO
NATUREZA DO ERRO
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Erro Ontológico ou um Ente que seja maximamente Falso. Ora, sendo assim, e
recordando que a verdade pode ser ontológica ou lógica, deve-se concluir que
o erro é sempre de ordem lógica.
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são totalmente compatíveis entre si. O erro, por natureza, é a inadequação de
algum aspecto do objeto estudado. Assim, podemos resumir:
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isso, pela imensidão da Verdade e pela dificuldade que nasce da própria
natureza da compreensão humana, a inteligência se equivoca. No entanto,
ainda que esse fato explique grande parte dos erros, a limitação da inteligência
humana não é razão suficiente para justificar os erros. E o motivo é simples: o
erro não adere à realidade como a verdade. Ora, o erro consiste em afirmar o
que não é, ou em negar o que é. Para que a inteligência aceite tais juízos,
influências externas à razão precisam estar ativas para que a inteligência se
satisfaça com ele. Eis os motivos morais.
Com efeito, os erros são comuns por causa da elevada estima que
possuímos de nossa própria inteligência (vaidade); pelo cuidado demasiado
com nossos próprios negócios (interesse); ou pela ojeriza contumaz a qualquer
tipo de esforço (preguiça). De outro modo, produzimos erros porque não
buscamos a verdade com todo o esforço necessário; porque preferimos outros
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bens humanos, mas inferiores à verdade, como a reputação, o descanso, o
dinheiro; porque preferimos nossas próprias opiniões em detrimento do que é.
Para identificarmos os muitos tipos de erro, importa que tenhamos um critério
de verdade aplicável e que revele de que modo a verdade pode ser alcançada.
É o ponto a seguir.
CRITÉRIO DE VERDADE
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evidência do objeto verdadeiro denomina-se certeza. Portanto, a certeza é o
fruto da evidência objetiva, é o estado de espírito que afirma ou nega sem
temor de enganar-se por razão da clareza do objeto contemplado.
ATO FRUTO
Evidência → Certeza
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absurdo não admiti-la sem ferir os princípios básicos da racionalidade e,
portanto, sem abdicar daquilo que é próprio ao humano.
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engano é facilmente corrigido, pois a verdade se impõe corrigindo-o.
Enquanto há empenho em buscar a verdade, essas certezas e evidências falsas
encontram rápida correção pela verdade.
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APROFUNDANDO A METODOLOGIA
Santo Tomás de Aquino é sempre um luminar a nos guiar. No que concerne à
Metodologia, o Doutor Angélico nos deixou um precioso relato de como se deve estudar.
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Quia quaesisti a me, in Christo mihi charissime frater Já que me pediste, frei João - irmão, para mim,
Joannes, quomodo oportet incedere in thesauro caríssimo em Cristo -, que te indicasse o modo como
scientiae acquirendo, tale a me tibi super hoc traditur se deve proceder para ir adquirindo o tesouro do
consilium: ut per rivulos et non statim in mare, eligas conhecimento, devo dar-te a seguinte indicação: deves
introire, quia per facilia ad difficilia oportet devenire. optar pelos riachos e não por entrar imediatamente no
Huiusmodi est ergo monitio mea de vita tua: mar, pois o difícil deve ser atingido a partir do fácil. E,
1. Tardiloquum te esse iubeo, et tarde ad locutorium assim, eis o que te aconselho sobre como deve ser tua
accedentem. vida:
2. Conscientiae puritatem amplecti. 1. Exorto-te a ser tardo para falar e lento para ir ao
3. Orationi vacari non desinas. locutório.
4. Cellam frequenter diligas, si vis in cellam vinariam 2. Abraça a pureza de consciência.
introduci. 3. Não deixes de aplicar-te à oração.
5. Omnibus amabilem te exhibeas, vel exhibere 4. Ama frequentar tua cela, se queres ser conduzido à
studeas, sed nemini familiarem te multum ostendas; adega do vinho da sabedoria (Cant 2,4).
quia nimia familiaritas parit contemptum et 5. Mostra-te amável com todos, ou, pelo menos,
retardationis materiam a studio subministrat. esforça-te nesse sentido; mas, com ninguém permitas
6. Et de factis et verbis saecularium nullatenus te excesso de familiaridades, pois a excessiva
intromittas. familiaridade produz o desprezo e suscita ocasiões de
7. Discursum super omnia fugias. atraso no estudo.
8. Sanctorum et proborum virorum imitari vestigia non 6. Não te metas em questões e ditos mundanos.
omittas. 7. Evita, sobretudo, a dispersão intelectual.
9. Non respicias a quo audias, sed quidquid boni 8. Não descuides do seguimento do exemplo dos
dicatur, memoriae recommenda. homens santos e honrados.
10. Ea quae legis fac ut intelligas, de dubiis te 9. Não atentes a quem disse, mas ao que é dito com
certificans. razão e isto, confia-o à memória.
11. Et quidquid poteris, in armariolo mentis reponere 10. Faz por entender o que lês e por certificar-te do que
satage sicut cupiens vas implere. for duvidoso.
12. Altiora ne te quaeras. 11. Esforça-te por abastecer o depósito de tua mente,
13. Illius beati Dominici sequere vestigia, qui frondes, como quem anseia por encher o máximo possível um
flores et fructus, utiles ac mirabiles, in vinea Domini cântaro.
Sabaoth, dum vitam comitem habuit, protulit ac 12. Não busques o que está acima de teu alcance.
produxit. 13. Segue as pegadas daquele santo Domingos que,
Haec si sectatus fueris, ad id attingere poteris, quidquid enquanto teve vida, produziu folhas, flores e frutos na
affectas. Vale. vinha do Senhor dos exércitos.
Se seguires estes conselhos, poderás atingir o que
queres. Saudações.
Santo Tomás de Aquino indica ao confrade que se dedique, antes de
tudo, ao que é mais simples, visto que de posse do simples, alcançar-se-á mais
facilmente o que é composto. A metodologia ensina que o difícil deve ser
alcançado a partir do que é fácil. Assim, sob a iluminação do Doutor
Angélico, também tentar-se-á abordar o que é próprio do discurso da
metodologia filosófica, começando pelo que é mais facilmente compreensível.
TIPOS DE LEITURA
RASTROS DE LEITURA
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Fichamento: é o instrumento utilizado para registrar os
conteúdos relevantes dos livros e/ou artigos lidos. É feito,
ordinariamente, destacando ideias importantes e extratos de textos
do autor acerca de algum tema. É utilíssimo no caso de se
retornar ao tema no futuro.
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CRÍTICAS AO MÉTODO
“Ce n’est pás assez d’avoir l’esprit bon; le principal est de l’appliquer
bien”9.
VIRTUDES DO MÉTODO
LIMITES DO MÉTODO
9
Renée Descartes: “Não basta ter bom espírito; o principal é aplicá-lo bem”
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TIPOLOGIA TEXTUAL EM FILOSOFIA
Método Maiêutico:
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Dúvida Metódica:
Método Dedutivo-Experimental:
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Crítica: reduzir as inúmeras manifestações do real apenas
às acolhidas pela sensibilidade é no mínimo temeroso. Se o
método dedutivo-experimental possui validade absoluta, como
ficam as ciências que não têm tantos aspectos experimentais ou
dedutivos para refletir? Por exemplo, a História, a Psicologia, a
Estética?
Ora, isto nos leva à conclusão de que a cada objeto que se apresente,
uma nova Metodologia deverá ser aplicada a ele. A fonte de onde brotam as
metodologias até aqui estudadas é o objeto, não o intelecto do pesquisador.
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ÍNDICE ONOMÁSTICO
A D H N
Aquino, Tomás de...10 Descartes, Renée.6, 7, Hipona, Agostinho de Núrcia, Bento de.......5
Aristóteles.................6 10 ..............................5
O
Orácio..............5
38